sábado, 2 de março de 2019

Guiné 61/74 - P19545: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (São Domingos e Nova Lamego, 1967/69) - Parte LXIV: Memórias do Gabu (III)



Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > Dezembro de 1967 > Foto nº 7 > A ‘Porta de Armas’ das instalações do Quartel. Junto ao local de entrada, uma legenda da BCAÇ 1856 (Nova Lamego, 1965/67).  Junto de mim (oficial de dia) o alf.mil inf Carneiro. 


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > Dezembro de 1967 > Foto nº 7A  > A ‘Porta de Armas’  do Quartel. O oficial de dia, Virgílio Teixeira, e o alf mil inf Carneiros, sentados num monumento erigido à  memória  do BCAÇ 1856 (Nova Lamego, 1965/67). 


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > Janeiro de 1968 > Foto nº 10 > Uma casa nova e moderna com cobertura de telha. Como cidade em desenvolvimento, as casas faziam-se a bom ritmo, para o local.
Foto captada em Nova Lamego, em Janeiro de 1968.


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) >  Dezenbro de 1967 > Foto nº 2 >  Casa de pasto, tasca, um local de comer, ‘ O Geraldes’. Pode ver-se o Geraldes, da direita para a esquerda, o 3º de camisa aberta, ao meu lado.  Do outro meu lado, o Sargento Parracho (acho que era de Aveiro) e tinha chegado da Madina do Boé, era da CCAÇ 1589, e lá vinha com os seus ‘autos de destruição’ para serem aprovados.  Os outros comensais são civis, comerciantes.


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > Dezembro de 1967 > Foto nº 8 > Uma noite de festa da população local. Não me lembro que festa se trata, possivelmente por alturas do Natal, é noite e a foto foi feita sem o flash.


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > Outubro de 1967 > Foto nº 11 > Na esplanada do Clube do Gabu com o seu ‘Patrão’. Estamos ali num fim de tarde, o furriel Rocha, e um 1º cabo escriturário. O omem da camisa branca, cabo-verdiano, era o dono e patrão do estabelecimento, só não consigo lembrar-me do nome dele, era um gajo porreiro.


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > 4º trimestre de 1967 > Foto nº 5 > No cimo de um monte bagabaga com alguns camaradas. Era uma foto imprescindível, num local de milhares de montes bagabaga.  No cimo sou eu e o soldado condutor ‘O Ermesinde’. Em baixo o Furriel Carvalho e outros.


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > Dezembro de 1967 > Foto nº 6 > Rua principal num dia de chuva torrencial, um lamaçal.


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > Outubro de 1967 > Foto nº 12As nossas amigas e lavadeiras, na Fonte de Nova Lamego. Estas eram as nossas bajudas e as nossas lavadeiras, as melhores amigas, sem dúvidas.

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2019). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do nosso camarada Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, chefe do conselho administrativo, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69); é economismita e gestor, reformado; é natural do Porto; vive em Vila do Conde. (*)



CTIG/Guiné 1967/69 - Álbum de Temas:

T061 – IMAGENS DO GABU – NOVA LAMEGO

PARTE III (*)

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Nota do editor:

Último poste da série > 28 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19540: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (São Domingos e Nova Lamego, 1967/69) - Parte LXIV: Memórias do Gabu (II)

Guiné 61/74 - P19544: Os nossos seres, saberes e lazeres (310): Viagem à Holanda acima das águas (14) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Novembro de 2018:

Queridos amigos,
Deixo-vos as imagens da visita às coleções do Museu Municipal de Haia, o museu é riquíssimo, logo o edifício, caso ímpar da arquitetura Arte Deco, o arquiteto H. Berlage deixou aqui uma das suas obras-primas.
Depois o acervo de Mondrian, as coleções permanentes, as exposições apuradíssimas. E havia a paga de um domingo sombrio que aqui se viveu em 1978, logo a inquietação que deixou Piet Mondrian, do alto dos então 33 anos ele julgava que os grandes artífices e feiticeiros das Artes Plásticas do século XX tinham as suas coordenadas máximas em Picasso e Matisse, ver assim Mondrian provocou sério abalo que chegou aos tempos de hoje, pois Mondrian estende pontos para a arquitetura, gera mais sobressaltos no cruzamento das linhas, das formas e das cores.
Mas nisto das artes, os gostos não se discutem.
E a viagem vai continuar.

Um abraço do
Mário


Viagem à Holanda acima das águas (14)

Beja Santos

Continua a visita ao Museu Municipal de Haia, desta feita a um núcleo expositivo que fala do passado nas praias do Mar do Norte. O viandante não resistiu a captar esta fotografia, é a espontaneidade e a alegria lavar pernas e pés, a moral não permitia mais, tempos depois viriam os fatos de banho da cabeça aos pés, mesmo os homens taparão o tronco. Mas naquele exato momento as mentalidades só autorizavam esta felicidade que a fotografia regista.





O que chama a atenção? São obras eivadas de naturalismo, são cores nórdicas, um tanto soturnas, mesmo no verão a claridade é caprichosa e arredia, veja-se aqueles céus no belíssimo quadro centrado no veleiro, vejam-se as crianças a brincar e tome-se em consideração a nesga de mar sombrio, no fundo do horizonte.


O átrio do museu é uma obra-prima de azulejaria, tem tanto de espaçoso como repousante, aqui os visitantes amesendam, lêem livros e jornais, preparam-se para novas acometidas, ver exposições, rejubilar com as coleções de valor extraordinário ou, pura e simplesmente, deleitar-se com estes pormenores da Arte Nova, olhem só para esta fonte um tanto espampanante mas de um cromatismo tão equilibrado, tão ajustado.


Como resistir a estes aracnídeos da Louise Bourgeois, uma escultura que nada tem de terrificante, pelo contrário são pernas elegantíssimas, contempla-se e venera-se o espantoso talento de uma grande escultora da nossa contemporaneidade.


Quando aqui esteve em 1978 o viandante apreciou imenso a reconstituição de um espaço desse estilo decorativo que só virá a ser substituído pela Arte Deco. Belíssima composição, uma integração de leitura acessível, há reconstituições de ambientes que nos lavam a alma. Esta é uma delas.





Primeiro, temos uma obra de Constant Permeke, um artista um tanto inclassificável, um espantoso alterador de formas, parece trabalhar em paralelo com a Arte Naif. E depois, estes espantosos quadros de Francis Bacon, uma espantosa figura que reformatou o figurativismo, há sempre figuras que se torcem e retorcem, por vezes rostos convulsivos, troncos e membros que parecem estar submetidos a jogos de espelhos, e muitas vezes cores sanguinárias contrastando com o cor-de-rosa onírico. Aqui esteve o viandante especado, não tem pejo em dizer que esta arte o deixa estarrecido, estas torções que parecem tão brutais para que a evidência salte à vista.


Estávamos num tempo em que o museu que se prezasse no Norte da Europa tinha que exibir Monet, Gauguin ou Matisse, e este museu de Haia não faltou à regra. O viandante vinha encadeado pelo Francis Bacon, saudou esta dança e despediu-se da bela coleção do museu de Haia.


E mesmo à saída não resistiu a mostrar estas formas revolucionárias, de alto a baixo, luz por todos os lados, linha e profundidade, uma genial simplicidade esquemática que tornou este museu um paradigma da interligação de todas as artes. Por isso é que Piet Mondrian tem aqui a sua casa-mãe.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 23 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19521: Os nossos seres, saberes e lazeres (309): Viagem à Holanda acima das águas (13) (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 1 de março de 2019

Guiné 61/74 - P19543: Notas de leitura (1154): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (75) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Junho de 2018:

Queridos amigos,
Caminhamos para o último punhado de documentação avulsa do Arquivo Histórico do BNU.
Hoje passa-se em revista as decisões tomadas quanto às propriedades do BNU na Circunscrição de Fulacunda, mais de 1% do território guineense, todas elas encravadas num Quínara em efervescente guerra, a Casa Gouveia doou o que tinha para uma cooperativa agropecuária, a governação do BNU, no final de 1973, quis fazer uma cessão a 15 anos. A guerra não parecia abrandar o ritmo dos negócios, o Governo criou o Hotel Nuno Tristão em Bissau, constituíra-se a CICER - Companhia Industrial de Cervejas e Refrigerantes da Guiné e a Companhia de Pesca e Conservas da Guiné em fevereiro de 1974 já estava completamente paralisada, apareceu e desapareceu.
Veremos seguidamente um pouco da história da Sociedade Comercial Ultramarina, constituída em 19 de fevereiro de 1923 e que paulatinamente se transformara numa das jóias da coroa do Banco.

Um abraço do
Mário


Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (75)

Beja Santos

Desde muito cedo que o BNU na Guiné passou a ser detentor de dezenas de milhares de hectares, tornou-se um banqueiro com assinaláveis propriedades rústicas, centradas na região de S. João, Tite, Fulacunda e Buba, mais de 1% do território. Num documento de indiscutível importância histórica, os apontamentos de António Júlio de Castro Fernandes, administrador do BNU e um dos próceres do Estado Novo, elaborados depois da viagem que fez à Guiné de março a abril de 1957, é levantada a questão e preconizada uma gama de soluções para a rentabilização destas propriedades, refere Castro Fernandes nas suas notas a natureza dos solos, fala na organização de seis blocos de propriedades, invoca mesmo um estudo elaborado pelo engenheiro José Teles Ribeiro.
Este, a propósito da valorização das propriedades do BNU, escreveu o seguinte:
“Os terrenos do BNU integram-se na designação de ‘Propriedades Perfeitas’ o que, segundo os termos do regulamento de concessões, garante ao proprietário o domínio directo, o domínio útil e a faculdade de venda; em contraste com a concessão por aforamento em que o foreiro tem exclusivo direito ao domínio útil, pertencendo o directo ao Estado e revertendo o terreno a este desde que não esteja devidamente aproveitado no prazo de tempo para tal afixado. Daqui resulta o alto interesse e valor das propriedades do BNU e a necessidade de os valorizar ao longo dos anos, mediante uma ocupação agrícola gradual em vez de a deixar ir desvalorizando pelo abandono das mesmas à acção devastadora do indígena.
Essa desvalorização terá de assentar necessariamente na ocupação das melhores parcelas dos terrenos por culturas de carácter arbóreo, não só por serem as que permitem uma maior extensão ocupada com o mínimo de investimentos, mas também porque, ao contrário das culturas arvenses de cultura anual, se traduzem por uma ocupação quase definitiva.

Com base no conhecimento das condições ecológicas locais, consideramos preferenciais as seguintes culturas:
Caju – árvore bastante rústica, podendo ser semeada directamente no terreno definitivo, é a que se traduz numa ocupação mais económica, dada a inexistência de granjeios.
Coleira – Com elevados rendimentos por árvore, poderia ser usada na ocupação dos terrenos mais ao Sul.
Coqueiro e palmeira – Viável nos terrenos baixos e húmidos, onde seja possível a obtenção de água superficial ou subterrânea.
Cafeeiro – Embora ainda não definitivamente estudado, parece admitir-se como provável uma boa adaptação da variedade ‘robusta’.”

Anteriormente, o BNU encarregara um perito alemão, E. W. Boesser, a quem Castro Fernandes também alude, a fazer um estudo sobre as possibilidades económicas destes terrenos, mormente na região de Quínara. O seu relatório debruça-se sobre a natureza dos terrenos e o que eles podem produzir.
O que escreve tem bom recorte literário, ele procura enquadrar e pôr em consonância os dados naturais de solo, clima e planta:
“A ciência que se ocupa com estes factores, com as suas interdependências e influências mútuas é a fitogeografia, no seu ramo da ecologia vegetal; e quando se respeitam propositadamente as condições especiais que se constituem e põem, quando as actividades e finalidades económicas do Homem terão de ser relacionadas com aqueles factores básicos da vida vegetal, com os quais querem ser postas em harmonia e produtiva efectuação recíproca, é de falar em fitogeografia aplicada.”

É muito expressivo em tudo quanto escreve, está muito atento aos “rios” e à sua importância nas explorações, pensa logo na cultura do arroz e nas formas de mangal de alto fuste e equaciona as quatro entidades naturais da paisagem, falando das áreas marinas dos rios comenta os solos lodosos que podem ser transformados em terras de arroz.

É técnico, e tudo quanto redige tem essa matriz, mas a sua escrita é muito elegante, falando de rios, mangais, lalas, população vegetal, a organização da selva, solo dos matos secundários, linhosas secundárias, rematando: “Um facto muito remarcável é que em todas essas variantes de vegetação, desde a espessa floresta secundária, de aspecto quase virgem, até à mais clara savana arborizada, se encontram sempre ora numerosamente ora de modo mais disperso, em todo o caso porém em aparente prosperidade, palmeiras de óleo”.

E tece um enquadramento entre essa paisagem e o habitat:
“Embutidas naquela paisagem, variada em si, de floresta, bosque e parque, acham-se as pequenas roças dos indígenas de data recente que no decurso de poucos anos já serão reconquistadas pela savana e pelo mato. Somente nas proximidades das aldeias ou tabancas e especialmente nas penínsulas dos arredores de S. João de Bolama observam-se extensas áreas de cultura, continuadamente exploradas e por isso quase completamente desnudadas”. E em jeito de conclusão dirá que aqueles terrenos colinosos oferecem condições para a vida vegetal, não haverá qualquer impedimento essencial à concentração desejável das produções.

Atenda-se que nas reuniões do Conselho Geral do BNU ocorridas em 10 e 16 de maio de 1957, Castro Fernandes lembrou estes terrenos, que em conversações havidas com a Sociedade Nacional de Sabões, esta chegara à conclusão não estar interessada em tal compra, comentou detalhadamente o documento elaborado em 1954 pelo fitogeógrafo E. W. Boesserg, referiu que a Casa Gouveia estava a fazer em Bolama uma exploração agrícola e que o próprio Governador fazia constantemente apelos ao desenvolvimento. Fez comentários ao punhado de notas que enviara a todos os membros do Conselho, enfatizou a situação cambial da Província, manteve a sua enorme expetativa no florescimento da Sociedade Comercial Ultramarina e por fim versou assuntos sociais do BNU na Guiné como as moradias para os empregados, beneficiações no edifício da sede e a compra de dois bungalows destinados aos empregados do Banco na Praia de Varela.

A agricultura associada ao comércio passou a ser uma tónica dominante da presença do BNU na Guiné, em qualquer relatório ela virá a ser tratada com realço.
Veja-se o relatório da visita de inspeção à Filial de Bissau em 13 de dezembro de 1968, estamos no auge da luta armada:
“A agricultura, outrora a base da economia da Guiné, não pode hoje ser considerada como elemento efectivo do desenvolvimento desta Província. A situação criada à região levou o agricultor a concentrar-se nos grandes centros comerciais ou em tabancas onde efectivamente encontra a protecção das Forças Armadas mas, em contrapartida, depara com solos fracos, sem grandes possibilidades.
E ao natural afrouxamento das culturas tradicionais – milho, mandioca, sorgo e arroz – também não será completamente alheio o facto de, por razões de defesa, haverem sido chamadas largas centenas de homens para as milícias e que deixaram assim de prestar o seu contributo braçal à agricultura.
Não se torna por isso difícil explicar a necessidade em que se viu nos últimos anos a Província de, tradicionalmente exportadora de arroz, embora de quantidades reduzidas, passar a importar grandes quantidades deste cereal para sustento das populações.
As indústrias existentes, reflexamente, têm também na actual conjuntura uma muito menor influência na economia da região se atendermos a que a matéria-prima – a mancarra, o coconote e o próprio arroz – escasseou pelos mesmos motivos apontados.
Se dantes dizíamos que a economia assentava basicamente na agricultura, hoje podemos afirmar que a Guiné encontra relativo equilíbrio orçamental no comércio importador, que passou a desfrutar de grande prosperidade – melhor diríamos, a viver uma fase de autêntica euforia – na medida em que se lhe proporciona um maior poder de compra trazido pela presença dos grandes efectivos militares, de 1963 a esta parte. Esta situação, como não podia deixar de ser, provoca um desnível muito acentuado na sua balança comercial”.

O BNU, tal como a Casa Gouveia, vão gradualmente perdendo esperanças de pôr a agricultura dos seus terrenos a funcionar. E tomar-se-ão decisões drásticas, em 1973, ambos os empórios oferecem aqueles prédios rústicos para cooperativas.

No Arquivo Histórico do BNU encontra-se uma informação que tem a data de 9 de julho de 1973 em que toda a questão é repertoriada: a posse daqueles cerca de 44 mil hectares na Circunscrição de Fulacunda, propriedade do BNU desde 1927, por efeito de execução hipotecária; a tentativa de criar uma sociedade em Bissau, à qual seriam vendidas as propriedades, para devida exploração agropecuária, que, afinal, não chegou a constituir-se; a ocupação e controlo das propriedades por parte dos terroristas; em situação análoga se encontravam na Guiné cerca de 15 mil hectares de terrenos pertencentes ao grupo CUF que vieram a ser doados à Província em abril de 1973, para serem explorados pelas populações, em regime comunitário; o General Spínola conversara com a administração do BNU tendo ficado verbalmente assente que o Banco faria a doação dos terrenos; o General Spínola enviara agora uma minuta de escritura onde se sugeria uma doação ao Governo da Província com uma importância destinada à instalação da cooperativa agropecuária, que teria a designação de Cooperativa do Quínara; quem assinava a informação dava o parecer que apenas se deveria doar os terrenos e não conceder qualquer subsídio ou, quando muito, conceder um subsídio simbólico de 100 ou 200 contos e se a Cooperativa precisasse de auxílio do Banco, estabelecer-se-ia um crédito.

Em 8 de fevereiro de 1974 temos uma última referência a estas propriedades, numa documentação avulsa onde também se fala da CICER, da Companhia de Pesca e Conservas da Guiné e do Hotel Nuno Tristão em Bissau. Quanto às propriedades de Fulacunda, escrevia-se que o Conselho do Banco considerara, em 10 de outubro de 1973, ser preferível fazer uma cedência gratuita do direito de uso pelo prazo de 15 anos, atribuindo um subsídio de 10 mil contos. Quanto à CICER, aqui temos a primeira referência a esta sociedade fundada em 21 de dezembro de 1971, tendo como principais acionistas a Sociedade Central de Cerveja, a Companhia União Fabril Portuense, a Cuca de Angola e a Fábrica de Cervejas Reunidas de Moçambique, Lda. Para satisfazer diversos encargos com a construção da sua fábrica em Bandim, a CICER solicitou, em julho de 1973, créditos, o apoio do BNU no final desse ano de 1973 somava 54 mil contos. A Companhia de Pesca e Conservas da Guiné, dizia-se já em fevereiro de 1974, era um empreendimento que não ultrapassara a fase de arranque, a sociedade estava paralisada e sem meios para funcionar, o crédito concedido pelo BNU era de cerca de 8 mil contos. Quanto ao Hotel Nuno Tristão, era um empreendimento que o Governo da Província chamara a si, o previsto hotel constaria de um edifício de três andares, com 53 quartos e 7 suites, cujo custo estava orçado em 26 mil contos. Para cobertura da parte financeira, o Governo solicitara ao BNU um empréstimo de 20 mil contos a liquidar em 15 anuidades. O BNU concedia o empréstimo a liquidar em 24 semestralidades.

Caminhamos para o final da documentação avulsa, temos ainda pela frente o grande dossiê da Sociedade Comercial Ultramarina, dela se falará já a seguir.

(Continua)

Navegação à vela nos rios. Imagem extraída do livro Guiné – Alvorada do Império, 1953, trata-se de uma homenagem ao Governador Raimundo Serrão.

Tocadores de “Mutaro”. Imagem extraída do livro Guiné – Alvorada do Império, 1953, trata-se de uma homenagem ao Governador Raimundo Serrão.

Farol do canal de Pedro Álvares, Bijagós. Fotografia de Francisco Nogueira, retirada do livro “Bijagós Património Arquitetónico”, Edições Tinta-da-China, 2016, com a devida vénia.
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Notas do editor

Poste anterior de 22 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19516: Notas de leitura (1152): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (74) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 25 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19526: Notas de leitura (1153): Guinea-Bissau, Micro-State to ‘Narco-State’, por Patrick Chabal e Toby Green; Hurst & Company, London, 2016 (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19542: In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-75) (cor art ref António Carlos Morais da Silva) - Parte XVI: Cirilo Bismarck Freitas Soares (Matosinhos, 1918 - Piri, Angola, 1965)






1. Continuação da publicação da série respeitante à biografia (breve) de cada um dos 47 Oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar que morreram em combate no período 1961-1975, na guerra do ultramar ou guerra colonial (em África e na Ásia).

Trabalho de pesquisa do cor art ref António Carlos Morais da Silva, instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá, adjunto do COP 6, em Mansabá, e comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre 1970 e 1972. Foi cadete-aluno nº 45/63, do corpo de alunos da Academia Militar

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Guiné 61/74 - P19541: Agenda cultural (673): Entrudo Chocalheiro, Podence, Macedo de Cavaleiros, 2-5 de março de 2019... Porque A Vida São Dois Dias, e o Carnaval São Três... E Portugal Não é Só Lisboa ... E Eu Vou Lá Estar!... (Luís Graça)




Página dos Caretos de Podence






Programa do Entrudo Chocalheiro, Podence, Macedo de Cavaleiros, Trás-os-Montes, Portugal
Com a devida vénia (*)... 



A vida é um entrudo chocalheiro

por Luís Graça

A vida é um teatro,
A vida é um anfiteatro grego antigo,
A vida é um jogo de máscaras,
A vida é ora tragédia, ora drama, ora comédia,

A vida é um jogo onde não há "final feliz",
A vida é representação, subversão e transgressão...
... Mas nunca digas que a vida é uma merda, 
amigo, companheiro, camarada!


Representas múltiplos papéis no teu palco,
enquanto a vida flui, do nascer ao morrer.
Papéis que tu escolhes, uns,
e outros que te impõem.
Quem é o encenador ?
Quem escreve o guião ?

Quem é o dono do palco ? 
Quem te faz a máscara, a tira e a põe?
E o chocalho, para não te perderes 

no teu mundo imaginário ?
Às vezes és ator, canastrão,
e vaidoso dono da ribalta 

e do proscénio e do cenário,
outras, mero e reles figurante.

Representas diversos papéis, 
bem ou mal mascarado,
ora emboscador, ora emboscado,

ora embrulho, ora embrulhado,
ora presa, ora predador,
ora herói, ora vilão,
ora sedutor, ora apanhado,
ou simples gato e rato.

Muitas máscaras chegaram-te 
até aos dias de hoje:
a "toga" do senhor doutor juiz, 

que,"cego, surdo e mudo",
decide da tua vida e da tua morte;
o "capuz" do carrasco, que te enforca;
o "traje académico", na universidade,
separando o sabichão do mestre 
e o pobre do aprendiz;
o "camuflado" do combatente na Guiné, 

que também te servia de mortalha,
a "farda" militar, que te impõe 
a unidade de comando-controlo
e a hierarquia na tropa e na guerra;
os "paramentos" do celebrante da missa cristã, o sacerdote,
as "vestes" do feiticeiro,
ambos fazendo a ponte entre dois mundos
que, só por magia, ou pela fé, se tocam,
a terra e o céu,
o sagrado e o profano,

o corpo e a alma; 
ou ainda a "bata branca" do médico ou da enfermeira,
que não é apenas uma simples peça 
de vestuário de trabalho;
ou o "título de chefia" 

que te eleva até ao trono ou ao altar,
mostrando a tua cabeça alguns centímetros acima da multidão.

Das máscaras do terror do passado
às máscaras de hoje
que te ajudam a exorcizar o medo de viver e morrer,
ou a virar o medo do avesso,
como diria o poeta Miguel Torga,
o medo que é inerente à condição humana,
a do "homem sapiens sapiens",
no terror do tsunami,
no absurdo da guerra,

no dignóstico e prognóstico do cancro fatal,
no estertor da morte...

Mas a máscara também está associada 
à festa, 
à terra,
aos tambores, 
à gaita de foles, 
aos chocalhos,
ao pão, ao queijo de ovelha e de cabra,
aos enchidos, ao vinho...
Porque não há festa sem o pão
e o vinho, a música, a folia,
a transgressão, 

a subversão dos papéis,
o entrudo,
o carnaval,
o terreiro,
esse fantástico chão português
que foi e ainda é o teu chão,
de Trás-os-Montes ao Algarve,
e os caretos de Podence (**), Grijó e Lazarim...
Sim, a vida é um entrudo chocalheiro,
a vida são dois dias,
e o carnaval são três.

... E eu quero lá estar!

Luís Graça, 14/2/2018,

revisto, 1/3/2019 (***)
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(**) Vd. também poste de 9 de maio de 2016 > Guiné 63/74 - P16067: Manuscrito(s) (Luís Graça) (83): As nossas máscaras, ontem e hoje... Apontamentos sobre o XI Festival Internacional da Máscara Ibérica (Lisboa, 6-8 de maio de 2016)

(***) Vd. poste de 14 de fevereiro de  2018 > Guiné 61/74 - P18316: Manuscrito(s) (Luís Graça) (138): a vida são dois dias e o carnaval são três

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Guiné 61/74 - P19540: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (São Domingos e Nova Lamego, 1967/69) - Parte LXIV: Memórias do Gabu (II)


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > Foto nº 1A > 4º trimestre de 1967 > Edifício do comando e do Conselho Administrativo.


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > Foto nº 1 > 4º trimestre de 1967 > Edifício do comando e do Conselho Administrativo, de estilo colonial, tal como encontramos, com paliçadas e bidões de protecção, ruas esburacadas e em terra batida, com pó ou lama. Foto tirada a partir dos CTT da outra esquina.


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > Foto nº 3A > 4º trimestre de 1967 > Rua Principal da vila


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > Foto nº 3 > 4º trimestre de 1967 > Rua Principal, cheia de gente, mas sem carros. Verifica-se um movimento de pessoas locais e não só, com as suas bicicletas, a maioria a pé, com os seus bebés às costas, e não se vê aqui no centro, mulheres despidas.


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > Foto nº 4A > 4º trimestre de 1967 > Passeio de bicicleta em dia de domingo.



Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > Foto nº 4 > 4º trimestre de 1967 > Um passeio de Bikla no Domingo, numa rua bem arranjada. São pequenas vivendas, moranças,  para a população local, numa época de criar melhores condições de alojamento e habitação.


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > Foto nº 9 >  Janeiro de 1968  > O Posto de abastecimento da velhinha ‘SACOR’. Sendo uma vila  já importante [, cidade só era Bissau...]  tinha a bomba de gasolina, só não sei se era para os civis, ou a ‘bomba’ da tropa. Devo ter abastecido lá a minha motorizada.


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > Foto nº 15A >  c. Janeiro / fevereiro de 1968  > A  cerimónia  do hastear da  Bandeira Nacional. 


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > Foto nº 15 >  c. Janeiro / fevereiro de 1968  > A  cerimónia cheia de significado da continência à Bandeira Nacional. Trata-se do hastear da bandeira, pela manhã, depois o arrear era às 18 horas, já quase noite. Hoje onde se vê disto? Em Bissau, por exemplo, toda a gente em sentido, até na Estrada principal, paravam os carros e saiam as pessoas com destino ou vindas de Bissau, a passar em Brá.


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > Foto nº 14 A >  4º trimestre de 1967 > Vista aérea da cidade e quartel de Nova Lamego.  O avião – Dakota – a fazer-se à pista à sua frente, não se conseguem ver bem os contornos nem da cidade nem das ruas, nem casas nem quartel, só a pista.

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2019). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do nosso camarada Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) (*)



(**) Vd. poste anterior > 18 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19503: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (São Domingos e Nova Lamego, 1967/69) - Parte LXII: Memórias do Gabu (I)

Guiné 61/74 - P19539: Álbum fotográfico de João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como, Cachil, 1964/66) e cmdt da TAP, reformado - Parte IV: Catió: as primeiras impressões



Guiné > Região de Tombali  >  CCAÇ 617  (1964/66) >    O quartel


Guiné > Região de Tombali  >  Catió > CCAÇ 617  (1964/66) >   O "largo" da vila, visto do campanário da igreja


 Guiné > s/l > CCAÇ 617  (1964/66) >  A bordo de uma LDM [, Lancha de Desembraque Média,], o cap inf  [António Marques]Alexandre e eu, alf mil Sacôto...


 Guiné > Bolama >  CCAÇ 617  (1964/66) >  Viagem de Bolama a Catió, em LDM.


 Guiné > Região de Tombali > Catió >  CCAÇ 617  (1964/66) >  O mercado local


Guiné > Região de Tombali > Catió >  CCAÇ 617  (1964/66) >  A igreja de Catió.



Guiné > Região de Tombali > Catió >  CCAÇ 617  (1964/66) >  O alf mil Sacôto, na "avenida principal" de Catiô, tendo ao fundo o edifício da administração e a casa do administrador da circuncrição (equivalente a concelho).


Fotos (e legendas): © João Sacôto (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. João Gabriel Sacôto Martins Fernandes, de seu nome completo... Foi alf mil da CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66). Trabalhou depois como Oficial de Circulação Aérea (OCA) na DGAC [Direção Geral de Aeronáutica Civil]. Foi piloto e comandante na TAP, tendo-se reformado em 1998.



Lema: "Vis non visa movet"... Uma expressão de
difícil tradução: movimenta-te,
se não qureres ser visto
Estudou no Instituto Superior de Ciencias Económicas e Financeiras (ISCEF, hoje, ISEG) . Andou no Liceu Camões em 1948 e antes no Liceu Gil Vicente. É natural de Lisboa. É casado. Tem página no Facebook (a que aderiu em julho de 2009, sendo seguido por mais de 8 dezenas de pessoas). É membro da nossa Tabanca Grande desde 20/12/2011.

2. Continuação da publicação do seu álbum fotográfico: no poste anterior publicámos algumas fotos do seu cão, Toby, um   "boxer", que foi a mascote da CCAÇ 617, participou nalgumas operações, foi ferido em combate e regressou a casa como um herói...

Recorde-se que a CCAÇ 617 esteve em Bissau esteve cerca de mês e meio,  na dependência do BCAÇ 600. Em 1 de março de 1964, partiou para Catió, substituindo a CCAÇ 414, e sendo integrada no dispositivo de manobra do seu batalhão, o BCAÇ 619.
 A parelha Toby - Sacôto

Efetua operações nas regiões de Ganjola, Cobumba, Cufar Nalu, Calobol e Catunco. 

Em 22 de setembro de 1965, assume a responsabilidade do susector do Cachil, por troca com a CCAÇ 728. Será rendida pela CCAÇ 1424, em 16 de janeiro de 1966. Regressa a Bissau, aguardando embarque para a metrópole.
 Neste poste mostram-se algumas fotos das "primeiras impressões" de Catió.[As fotos, parcialmente legendadas pelo autor, não têm datas...]