quinta-feira, 16 de junho de 2011

Guiné 63/74 - P8429: As mulheres que, afinal, foram à guerra (16): Em dia de estreia do filme Quem Vai à Guerra, em Lisboa, Porto e Aveiro: Pequenas histórias da História com H grande (Marta Pessoa / Clementina Rebanda / José Martins)

1. Em dia de estreia do filme Quem Vai à Guerra, da realizadora Marta Pessoa, aproveitamos para divulgar o conselho que ela nos mandou, e publicar também algumas correcções a legendas (incorrectas) que acompanham fotos que retirámos do mural da página do Facebook (Quem vai à Guerra) e que publicámos no nosso blogue, com a devida vénia:

(i) O conselho é: que vejam o filme, quem está interessado, obviamente, "logo nos primeiros dias" (sic); a concorrência é feroz, e este tipo de cinema, documental, independente, português, não costuma aguentar-se no cartaz (leia-se: no circuito comercial), durante muitas semanas; infelizmente, o filme só poderão ser visto, para já, em Lisboa, Porto e Aveiro; mais tarde, será editado em DVD. como é habitual nos filmes produzidos pela Real Ficção;

(ii) Alguns reparados e pedidos de correcção, em comentário da Marta Pessoa (*), mas também da Clementina Rebanda e do José Martins: 

Conheci a Clementina Rebanda [, foto à direita], através da ADFA e não da APOIAR. O marido dela, Armando Sérgio Rebanda, ainda é vivo e encontra-se internado numa casa de saúde. Muito ficou por contar da história desta senhora tão corajosa cujo marido desenvolveu uma esquizofrenia e foi abandonado (não encontro expressão melhor) pelo Exército. Tal como ela conta no filme, já depois do marido ter tido crises e manifestar sintomas de problemas psiquiátricos, o Exército agiu como se nada se passasse e mobilizou-o para Angola!... 

Comentário da Clementina Rebanda (*): 

Senhor Luis Graça: O meu marido não me infernizou a vida. Quando conheci meu marido em Nova Lisboa, Angola, Armando Sérgio Rebanda, era uma pessoa educada e de respeito.Por isso, foi aceite na minha família. Se não tivesse sofrido um acidente no teatro de guerra,  em Tite, Guiné, 1967., não tinha sofrido traumatismo craniano e hoje seríamos um casal feliz . Que infernalizou a nossa vida foi o Exército Português que abandonou os Deficientes Militares, na saúde e na doença .E agora também o senhor Luís Graça. Tenha um pouco mais de respeito pelos seus camaradas. Espero sua correcção. Tenha uma boa tarde. Clementina Rebanda.
  
Continuação do comentário da Marta Pessoa (*):

Na foto 2 [à esquerda], Ana Maria Gomes acompanhou o marido, médico e Alferes Miliciano do Exército, a Macalage, Moçambique.
Na foto 3 [, à esquerda,] Rosa Redondo, acompanhou o marido à Guiné, como ela própria refere no filme: 

"E não foi uma África turística, porque foi para a Guiné que nós fomos!"


Na foto 4, Odete Barata [, à direita], não chegou a acompanhar o marido, pois nas vésperas de partir para Angola com os dois filhos recém-nascidos, quando já tinha as vacinas tomadas, o bilhete na mão e as malas despachadas, recebeu a notícia de que o marido havia morrido num acidente de avião.

Mais algumas informações e rectificações, por parte da realizadora do filme, Marta Pessoa (**):


As mulheres que aparecem no final do filme fazem parte da Associação APOIAR e integram um Grupo de Ajuda Mútua. Deste grupo, só a Isilda Alves [, foto à esquerda], é que é viúva. 

Logo, na foto 4 [, à direita, acima], a Anabela Oliveira não é viúva.


Na foto 8 [, à esquerda], posso acrescentar que Manuela Mendes acompanhou o marido, que era Alferes miliciano da Marinha, e médico, ao Lago Niassa, em Moçambique.





Na foto 9, a Maria de Lourdes Costa [, foto à direita, irmã do nosso José Martins, ]  não acompanhou o marido a Angola. Foi uma das namoradas que ficou à espera. Aliás o Cesário Costa tem publicado um livro muito bonito, intitulado "Morto Por Te Ver", com a correspondência dele para a Maria de Lourdes durante esse período.

[E, a este propósito, o próprio Zé Martins comentou (**):  O 'papel'  de Maria de Lourdes Costa no filme é a de namorada que aguardou o regresso do namorado.... É muita informação que o filme tem, pelo que é impraticavel conseguir 'digerir'  tudo no espaço de tempo de projecção  do filme. Daí, e noutro poste, eu ter sugerido a edição, em livro, dos depoimentos de todas as mulheres que fizeram a guerra. Assim será muito mais fácil apreender o texto e o contexto em que tudo aconteceu.]. (***)

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(***) Último poste da série > 12 de Junho de 2011 >Guiné 63/74 - P8409: As mulheres que, afinal, foram à guerra (15): Filme do dia: Quem Vai à Guerra (Diana Andringa)

8 comentários:

Luís Graça disse...

Sobre o último filme de Marta Pessoa (que é filha de um militar de carreira, que estava em Bissau no 25 de Abril), escreveu,ontem, em www.c7nema.net, João Miranda:

(...) "É um documentário teatral, com um cuidado e uma atenção prestados ao cenário que se aproxima da cenografia usada nesse meio, perante os quais as participantes vão relatando as suas experiências. Entrecortado com fotografias escolhidas por elas em interacção com a realizadora, o filme consegue invocar fantasmas de um tempo diferente, de um mundo diferente.

"É, pela própria definição, um filme feminista, mas a sua força está na forma como evita posições polémicas ou ideológicas (para além da óbvia posição anti-guerra) e se foca na força e na experiência destas mulheres, que se devem espelhar em muitas outras da mesma geração. Um filme que poderá ressoar em muitas pessoas que, directa ou indirectamente, já passaram por guerras e especialmente da geração que sobreviveu à Guerra Colonial, a quem é dedicado o filme.

"O Melhor: A estrutura do filme, os cenários, as enfermeiras pára-quedistas. O Pior: A iluminação nem sempre é a melhor". (...)

Artigo retirado do site www.c7nema.net

(Excerto reproduzido com a devida vénia...)

Anónimo disse...

... pergunta: seria o «militar de carreira, que estava em Bissau no 25 de Abril», o maj pq Mascarenhas Pessoa?

JCAS

https://cart3494guine.blogspot.com/ disse...

Sabemos perfeitamente, principalmente quem esteve na Guiné, quem acompanhava os seus maridos e onde se instalavam, também não era qualquer mulher de um soldadozeco que ia para lá, principalmente na minha zona, que era no Xime e muitas outras zonas não podiam aceitar mulher de ninguém, não havia condições!... Era impossível! Era acima de tudo zona de guerra 100%.
SC

Carlos Vinhal disse...

Fui à primeira sessão da tarde de hoje ao Mar Shopping, que coincidiu com a estreia do filme em Leça da Palmeira.
Aconselho vivamente. Apesar de ser uma sucessão de monólogos, tem ritmo e prende o espectador interessado.
Os depoimentos saem naturalmente, não havendo lugar a lágrimas e sessões de histerismos. Pena que as mulheres que ficaram na retaguarda tivessem tão pouca projecção, em detrimento das que acompanharam os maridos. Não posso deixar de falar sobre uma senhora que afirma ter acompanhado o marido porque o amava. E as que igualmente amavam seus maridos e ficaram por serem pobres e/ou eles estarem, por exemplo, em Guileje, Pirada, Gadamael, Cutia, etc, etc, algures nos matos profundos da Guiné?
Os depoimentos das esposas dos camaradas com stress pós-traumático de guerra demonstram o quão difícil é a convivência com estes doentes. São umas verdadeiras heroínas.
Por falar em heroínas, as nossas Enfermeiras Paraquedistas falaram da sua actividade, e algumas delas se comovem ao falar do que viram em acções de evacuação ou na sala de operações.
Parabéns à realizadora Marta Pessoa pelo trabalho final. Parabéns, também, às senhoras que se expuseram falando de seus maridos, das suas dores e temores e da partida precoce de alguns deles.
Carlos Vinhal

Anónimo disse...

Obrigada mais uma vez pela divulgação.
Em resposta a uma pergunta, aqui vai:
O meu pai estudou nos Pupilos e saiu de lá já sargento e com o bacharelato (como era regra da instituição) em engenharia. Inevitavelmente foi mobilizado para a Guiné em 1971 (onde esteve até 1973 - regressou a Portugal e casou com a minha mãe em Julho do mesmo ano). Era da arma de Transmissões- 2º Sargento Rádio-Montador. Esteve o tempo todo em Bissau (só ocasionalmente saía da oficina). Chama-se José Carlos Alves Pessoa.
Eu nasci em Março de 1974.
Em 1975 ainda foi um ano para Angola (como 1ª Sargento Rádio- Montador)
Está reformado.
Marta Pessoa

Anónimo disse...

sou uma das mulheres que ficaram ca a espera dos seus maridos em 1970 fiquei com 2 filhos.hoje tenho o meu marido com setrs apos guerra coisa que nunca pensei que viese acontecer .mais uma vez es
tou pronta para o ajudar.
nestes momento tenho uma neta no exercito da qual me sinto muito orgolhosa

JC Abreu dos Santos disse...

... no MNF, desde a sua fundação em 25Jan61 até à sua extinção pós-25Abr74, prestaram incontáveis e incontestáveis meritórios serviços de voluntariado, tanto na retaguarda metropolitana como nos teatros-de-operações ultramarinos, cerca de 82000 (oitenta e duas mil... !) mulheres Portuguesas: casadas, solteiras, viúvas.
Por que critérios, não terão sido incluídas no documentário?!
Seriam interessantes, a par da publicidade que tem vindo a ser oferecida, algumas explicações e alguns comentários.

Cpts,
Abreu dos Santos

Mariana Lemos disse...

Encontrei este blog a fazer uma pesquisa no google sobre o filme "Quem vai à guerra" e as enfermeiras pára-quedistas. Já que aqui chegeui, gostaria de vos deixar opinião de uma leiga, isto é, de alguém que não foi à guerra, nem é militar, nem é da geração da guerra, embora se interesse por estes assuntos... Ao contrário de muitos de vós, eu achei que uma das virtudes do filme é justamente não nos sobrecarregar com exemplos a mais e com essas coisas "obrigatórias" (como o MNF) que geralmente aparecem nas reportagens e artigos sobre o tema, e em vez de ser uma lista de operações e nomes de pessoas e lugares, como aquele grande documentário do Joaquim Furtado, consegue dar-nos uma ideia forte do que era ser-se mulher naquele tempo e mulher "em tempo de guerra". Gostei muito do filme e aconselho-o.
Mariana Lemos