segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 - P9360: Operação Tridente, Ilha do Como, 1964: Terminada a operação, a luta e a labuta no Cachil continuam (CCAÇ 557): Parte II (José Colaço)



O nosso camarada José Colaço, (ex-Soldado Trms da CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), enviou-nos a continuação da narração iniciada no poste P9351.

Tridente terminada mas a luta e a labuta no Cachil continuam
Parte II 

Com a Operação Tridente dada como terminada,  o Cachil fica a ferro e fogo, a guerrilha reorganiza-se novamente na mata do Cassaca e em toda a zona de Cauane e Caiar, pois aquela zona tinha ficado livre de qualquer controle militar por parte das forças portuguesas. Como prova do que digo,  um dia de Abril que cito de memória, pois não registei a data, o comando chefe operacional da Guiné reorganiza uma batida, que chamava de limpeza à mata do Cassaca. 

A entrada na mata do Cassaca era feita através da orla da mata do Cachil, atravessando-se uma clareira, passagem esta onde as nossas forças durante a operação foram sempre repelidas, tornando-se este espaço uma passagem para a morte. 

Durante a noite os obuses de Catió bombardearam a mata e a seguir o avião bombardeiro P2V5 descarregou também ali as suas bombas, como fazia durante a Operação Rridente. De manhã, ao nascer do sol, vieram dois F86 e bombardearam, mais uma vez, a mata. 

Nota: No dia anterior um pelotão da CCaç 557 fez o reconhecimento a toda a mata do Cachil sem qualquer problema. Relembro que quando chegamos ao fim orla da mata do Cachil, à entrada da tal clareira para a mata do Cassaca, o alferes comandante do pelotão, no seu espírito jovem aventureiro, ter insistido junto do capitão vamos lá meu capitão não está lá ninguém. A resposta do capitão foi: “Amanhã dia da operação é que nós lá vamos.” 

Fica a interrogação o que nos teria acontecido se…? Mas as coisa são como acontecem e não se a opção tivesse sido outra. 

A seguir entraram em acção as tropas especiais terrestres, comandos, páras, fuzileiros e exército, apoiadas por 2 aviões T6, que passaram toda a mata do Cachil sem problemas. Mas, quando chegaram à clareira que dava acesso à passagem para a mata do Cassaca, foram atacadas com fogo de armas ligeiras, pesadas e fogo de morteiro, e tiveram que recuar resguardando-se na mata do Cachil. Deste confronto, as nossas forças sofreram doze feridos que foram evacuados de helicóptero. 

Resumo: Após esta limpeza (como foi chamada), as nossas forças especiais, à tarde, regressaram às suas unidades e foi feito o relatório para o comando-chefe. A partir desta data até 27/11/64, data em que eu e a CCaç 557 saímos do Cachil, não houve mais nenhuma ordem para ir à mata do Cassaca, nem pelo comandante-chefe militar, brigadeiro Fernando Louro de Sousa, nem pelo brigadeiro Arnaldo Schulz, que em Maio substitui o então polémico brigadeiro Fernando Louro de Sousa. 

Não dá para entender, porque razão se mantinha aquela força militar acantonada no Cachil e, para cúmulo, mais tarde, o comandante da CCaç 557 recebeu ordens do comandante de sector sediado em Catió em que desaconselhava batidas à mata do Cachil.  



Foto nº P1170599.jpg - Transporte de todos os mantimentos à força bruta do homem do cais para o quartel, que ficava a cerca de 1Km.

Foto nº P1170527. jpg - A maca do posto médico adaptada para padiola, no transporte dos géneros cedida pelo Dr. Rogério Leitão [ falecido em 28 de Outubro de 2010,], na condição de ser estimada porque não se sabia qual a hora em que ela podia ser precisa para o fim que se destinava: o transporte de doentes ou feridos.
Foto nº P1170565.jpg – A cozinha do quartel do Cachil.

Foto nº P1170537.jpg - O tenente-coronel Matias, de quico e óculos escuros, comandante de Sector de Catió - BCAÇ 619 - à conversa com o capitão Ares, comandante da CCaç 557, na única visita que fez ao Cachil, enquanto a CCaç 557 por lá permaneceu.
Foto nº 1170506.jpg - A lancha no cais do Cachil, responsável pelo transporte dos géneros de Catió para o Cachi

Foto nº 1170578.jpg - A contar da esquerda: O açoriano de Santa Bárbara - Ribeira Grande, ex- alferes miliciano Viriato Madeira - comandante do 1º pelotão; a seguir o também açoriano, picaroto, ex-alferes miliciano Mário Goulart - comandante do 3º pelotão que todos os anos faz questão de nos acompanhar no almoço de convívio da CCaç 557; pela mesma ordem,  o algarvio,  ex-alferes miliciano,  Ildefonso Leal - comandante do 2º pelotão – e, em baixo, o aveirense, ex-tenente miliciano médico,  Rogério Leitão [, já falecido,  em 2010].
Foto nº1170605.jpg - O paiol no quartel do Cachil.

RESUMO > Partida para a ilha do Como

Foto nº P1170500.jpf - O capitão Ares encostado ao jipe, ao lado o nosso tenente miliciano médico Dr. Rogério Leitão, momentos antes da partida para o Como. A partir daqui não há fotos a não ser do Cachil, como já referi o rolo levou sumiço quando foi para revelar.
Foto nº P1170519.jpg - Os trabalhos na construção da paliçada.
Foto nº P1170516.jpg - O pessoal na labuta e transporte dos toros para serem colocados na construção da paliçada.
Foto nº P1170518.jpg - Aqui uma construção menos sofisticada, possivelmente uma qualquer arrecadação.
Foto nº P1170521.jpg - Uma pausa nos trabalhos para tomar água.

Foto nº P1170523.jpg - O primeiro da esquerda é o tenente-coronel Fernando Cavaleiro, de quico e barbas, no Cachil em 21 de Março de 1964, quando atravessou a pé através da mata do Cassaca toda a Ilha desde Cauane ao Cachil, anunciando nessa altura a vitória da operação e por consequência disso o fim da operação tridente.

Nota: As fotos, todas elas, são de fraca qualidade devido aos meios que havia naquele tempo e, além disso, foram reproduzidas de slides de um DVD que tenho da estada, na Guiné, da Companhia de Caçadores 557.

José Colaço
Soldado Trms da CCAÇ 557

Fotos: © José Colaço (2011). Todos os direitos reservados.
___________

Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

6 comentários:

Anónimo disse...

Caro Colaço,

Por informação recebida de Carlos Cordeiro, o AlfMil. Viriato Madeira faleceu o ano passado.

Segundo a mesma fonte, o Viriato mantinha grande actividade cívica. Por isso mesmo granjeou grande simpatia entre a população da Ribeira Grande, Ilha de São Miguel.

Um abraço amigo,
José Câmara

Juvenal Amado disse...

Caro Colaço

Pata além do descreves ficam as fotos bem elucidativas do esforço que foi necessário para edificarem o destacamento do Cachil.
Bem rudimentar a forma de construção nesse tempo. Praticamente sete anos depois já tive a sorte de beneficiar da Era do cimento e dos blocos embora muitos pequenos destacamentos entre Galomaro e Dulombi e Canculim ainda tivessem esse tipo de « arquitectura» No caso Cansamba e Sangue Cabomba. Também em Canculim havia muita falta de alguma «comodidade». Por exemplo no inicio de 1972 os sanitários eram buracos sem paredes junto ao arame, com uma tampa em madeira e tinha-se que avisar a sentinela que íamos aliviarmos-nos.
Atrevo-me a constatar que nessa matéria eram bem mais difícil em 1964.

Um abraço

Anónimo disse...

Caros amigos,
De facto, Viriato Madeira foi uma pessoa de notável intervenção cívica. A Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores aprovou, por unanimidade, um voto de pesar pelo seu falecimento:
http://base.alra.pt:82/Doc_Voto/IXvoto354_11.pdf

Um abraço,
Carlos Cordeiro

José Botelho Colaço disse...

O ex-alferes Viriato Madeira era um grande comunicador sempre bem disposto,ultimamente os nossos contactos eram menos assíduos devido ao seu estado de saúde segundo me dizia era do foro pancreático.
Estive nos Açores não o visitei porque o programa não contemplava a visita à Ribeira Grande.
A sua deslocação aos almoços da C.caç 557 só uma vez esteve presente, primeiro por motivos de trabalho e ultimamente pelo seu estado de saúde não o permitir, iam ficando sempre adiado para o próximo ano.
O Viriato dizia-me sempre quando eu me deslocasse à Ribeira Grande que não me preocupasse com hotel porque punha a casa dele à minha ordem.
E assim é aqueles que da lei da vida se vão libertando, a roda da vida não pára.


Um abraço.
Colaço

João Carlos Abreu dos Santos disse...

... aos meus amigos, José Colaço (autor) e Magalhães Ribeiro (editor), felicito e agradeço a partilha dos registos históricos agora publicados.
Venham mais!

Abraço,
Abreu dos Santos

José Botelho Colaço disse...

Ao ver a partilha não posso passar sem fazer um pequeno comentário: Por enquanto ainda me encontro por cá com vida para poder de viva vós afirmar arrealidade do mau que por lá passei, as fotos como disse de fraca qualidade referem-se aos momentos bons passados por nós, porque os momentos maus impossível fotografar. Abraço.