segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3862: As Grandes Operações da CART 2339 (Carlos Marques Santos) (1): Operação "Grão Mongol", a primeira

1. Mensagem, com data de 6 de Fevereiro de 2009, de Carlos Marques Santos (*), ex-Fur Mil da CART 2339, Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69, a quem saudamos especialmente (É um dos membros da nossa Tabanca Grande da primeira hora, e presença constante tanto na I Série do nosso blogue, como nos nossos três encontros nacionais, em 2006, 2007 e 2008):

Amigo Carlos:

Hoje mando um texto, simples, sobre a 1.ª operação da minha CART 2339, Fá Mandinga e Mansambo 68/69. Pretendo recordar a operação que nos iniciou na guerra a sério.

Um abraço,
CMSantos



Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Mansambo > 1970 > Vista aérea do aquartelamento. Ao fundo, da esquerda para a direita, a estrada Bambadinca-Xitole.

Foto do arquivo de Humberto Reis (ex-furriel miliciano de operações especiais, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)


2. Em 1968 e a recordar pelo louvor do BART 1904

Operação Grão Mongol – 1.ª OP. da CART 2339

Iniciada em 25 de Fevereiro de 1968, às 05.00, com a duração de três dias e com a finalidade de executar em duas fases uma acção ofensiva sobre os acampamentos IN do GALO CORUBAL, SATECUTÁ, PONTA JAI e SILI BALDÉ.

Nota: A CART 2339 tinha um mês de Guiné e estava aquartelada em FÁ MANDINGA. PERIQUITOS.

Tomaram parte na Operraçã9o:

O CMD do BART 1904

Dest A – CART 2339 (a 4 Gr Comb) e 1 Secção de Pel/Mil

Dest B – CART 1646 + 1 Gr Comb

Dest. B – CART 2338 + 4 Gr Comb

Dest. B – Pel Caç Nat - Xitole

Desenrolar das acções:

O Destacamento A saiu de Fá em 24/17.30h em direcção a Mansambo (que era um lugar algures no mapa da Guiné, e que viria a ser a sua sede futura como aquartelamento construído de raiz a partir de Abril), onde pernoitou (???).

Cerca das 06.00 do dia 25, saiu de Mansambo para atingir o ponto determinado, recebendo um guia – DEMBO – no ponto cota 25 antes de atravessar a bolanha.

Na madrugada do dia 26, cerca das 04.30h iniciou-se a corta mato (!!!) a marcha para o objectivo.

Ao aproximar-se do acampamento do GALO CORUBAL, o Dest foi detectado por uma sentinela.

Ao entrar na referida mata o IN resistiu fortemente com Morteiro 82, MP, LGF e armas automáticas.

Dada a impossibilidade de manobra, foi dada ordem para a instalação fora da mata e pedido APAR (apoio aéreo).

Nota: A cada bomba largada o salto de cada um de nós, instalados no terreno, era de pelo menos meio metro.

Depois da actuação dada pelo APAR, a CART 2339 iniciou a progressão sobre o objectivo, que atingiu e destruiu, sendo, mesmo assim, flagelada durante o movimento.

Nota: A mata era impenetrável. Eu estava lá e confirmo. A minha Secção era a da bazuca e fui dos primeiros a entrar. Tiros por cima da minha cabeça foram muitos.

Também fui dos últimos a sair. Lançámos fogo a tudo com granadas incendiárias.

O acampamento era grande (100 casas). Apreenderam-se documentos.

2 Gr Comb seguiram para DANDO, onde efectuaram fogo de morteiro sobre Satecutà e PONTA JAI.

Ao iniciar a retirada fomos brindados com 2 tiros de Morteiro 82 provenientes de Gã Júlio.

Pernoitámos em Mansambo e regressámos a 27 a Fá Mandinga.

O regresso a casa é sempre BOM.

Mal sabíamos que a nossa casa seria, no futuro, MANSAMBO por nós edificada.

25 de Fevereiro, 41 anos depois, dia de anos do meu pai, ainda vivo (91 anos).
__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 26 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2887: Em busca de...(27): José Alberto Machado, Alf Mil Médico (Carlos Marques Santos)

3 comentários:

Anónimo disse...

Carlos:
Primeiro os meus parabéns a teu pai e a ti claro.

Depois:
Parece que foi o nosso baptismo de fogo e logo num dia de Carnaval.Foi? Quase que jurava.
O cabrão do sentinela atirou uma granada. Felizmente bateu numa árvore primeiro. Sempre, ou quase sempre, fomos uma CART feliz...
Os T6 mandavam umas bombas que pareciam barris de cerveja. Lembras-te? A malta dizia: aquilo ainda cai em cima de nós. Eu, que nunca tinha visto semelhante merda a voar pelos ares Dizia: É mesmo assim! E pensava para mim - querem ver...estou fodido...os eticistas que me perdoem...Foi bom ler-te e "ver" aquilo através de outro que lá esteve.Meteste-me num sarilho com o blogue...digo que páro um pouco...mas...agradeço-te e digo ser este um espaço de Gente Boa. Um abraço do Torcato

Luís Graça disse...

Carlos:

E depois de ti, e depois de mim, e depois dos periquitos, que vieram depois de mim... Why, my friend ? Tudo isto para quê ? Quantos quilómetros não batemos nós, ao longo daqueles anos todos, no triângulo Xime, Bambadinca, Xitole ? Quantas trocas de mimos (minas, obuses, roquetadas, bazucadas, granadas incendiárias, insultos, tiros de G3 e de Kalash...) não fizémos, nós e eles ?

GALO CORUBAL, SATECUTÁ, PONTA JAI, SILI BALDÉ, GÃ JÚLIO, MANSAMBO, XITOLE... Vamos morrer com estes topónimos na nossa base de dados neuronais...

Foi bom saber que estás em forma, ao ponto de voltares à escrita... É bom saber que este coraçãozinho bate fore e bem...

No dia 25 de Fevereiro, dá um abraço apertado e comprido, do tamanho do Corubal, ao teu velhote. Ele te dirá com certeza:
- Tenho orgulho em ti, Carlos!

Um bj para a tua Teresa. Até ao próximo encontro (que ainda não tem data nem local nem comissão organizadora)...

Luís

Unknown disse...

Caros Camaradas
Estou um bocado espantado pois em todas as referências a Fá Mandinga,
dá a ideia de que só existia lá um
quartel. Estive lá de Dezembro de 66 a Fevereiro\Março 67. Nessa altura existia Fá de Cima e Fá de Baixo. Em Fá de Baixo era onde o Amilcar Cabral tinha armazenado o Material que ia utilizar na sua fazenda piloto. Portanto havia duas
companhias que fizeram parte do Batalhão que durante dez dias esteve na mata do Saraoul onde destruiu a acampamento IN.
Armandino Alves
Ex 1º Cabo Enfº
C Caç 1589