sábado, 7 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5234: Estórias avulsas (55): O ar assustado de uma prisioneira de guerra (António Tavares)

1. Mensagem de António Tavres*, ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72, com data de 5 de Novembro de 2009:

Caro Vinhal,
Uma das riquezas das obras de arte está na interpretação individual.

Os artistas dizem que as fotos não devem ser legendadas, porém permito-me opinar
sobre a foto inclusa:

Passados 40 anos já não sei qual das companhias do BCA 2912 - com a divisa EXCELENTE E VALOROSO - aprisionou esta mulher**.

Em Galomaro foi bem tratada embora apresente um ar assustado…
Tinha razão!… Não deixava de ser uma prisioneira de guerra…

Quem não estava triste era o Comandante do Batalhão!…
Estaria a pensar nos seus próprios benefícios com a captura?



Com o sacrifício, fome, medo, dor e morte dos subalternos o seu medalhário ficava mais rico…

Em 02 de Outubro de 1971 o Comandante foi obrigado a alinhar numa Operação, após recusa de todo o pessoal para perseguir o IN que no dia anterior nos tinha emboscado em Bangacia/Duas Fontes.

Após formatura e palestra lá seguiu na operação, mas chegados ao local do destino disse ao Furriel Miliciano para dispor o pessoal conforme entendesse porque já não estava muito actualizado…

A vida dele também estava em perigo! … Estava na mata e na guerra de guerrilha!...
Os galões não o protegiam das balas do IN…
Naquele momento deixaria de ser um militar que só pensava nele próprio?
Era um ser humano igual a todos os outros que estavam sob as suas ordens!
Os outros eram números que facilmente podia substituir.

Para o final da comissão Janeiro/Fevereiro de 1972 era só louvores a sair em O.S. do Batalhão.

Eu fui um dos muitos contemplados.

O Comandante foi condecorado/louvado pelo General.

Esteve presente num dos nossos convívios quiçá com outro pensamento!

Esta é uma das histórias passadas na mata do Leste da Guiné, em 1970/72, numa guerra de guerrilha que nunca será ganha por nenhum dos intervenientes.

Cumprimentos do,
António Tavares
ex-Fur Mil SAM
Foz do Douro, 04-11-2009
_________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 7 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4654: Estórias avulsas (42): O whisky e a Coca-Cola do nosso contentamento (António Tavares)

(**) "Excelente e Valoroso" era a divisa do BCAÇ 2912

Vd. último poste da série de 7 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5226: Estórias avulsas (54): A noiva Mandinga (José Marques Ferreira)

2 comentários:

MANUEL MAIA disse...

CARO TAVARES,

VÁ LÁ QUE O HOMEM DOS CALÇÕES TEVE O BOM SENSO DE PEDIR AO FURRIEL. QUE TINHA O SABER DA EXPERIÊNCIA FEITO,PARA "COMANDAR", NA PRÁTICA,
A OPERAÇÃO UE LHE TRARIA MAIS UNS DIVIDENDOS...

é CERTO QUE NÃO GOSTAM DO VERBO PEDIR MAS SIM DO MANDAR, MAS HÁ SITUAÇÕES EM QUE SE ENGOLEM SAPOS VIVOS...

UM ABRAÇO

MANUEL MAIA

paulo santiago disse...

Olá Tavares
Desconhecia esta captura. Quanto à
emboscada, tenho uma ideia do que
se passou.Naquela data, estava
destacada em Galomaro, uma secção do PELCAÇNAT 53,comandada pelo Fur
Mil Martins, tendo ficado feridos,
entre outros,o 1ºCabo Mamadú Sanhá
e o Sold. Iero Seidi, pertencentes
aquele meu GrComb.Aquela acção IN
foi uma demonstração da incompetência desse tipo que aparece de calções,Octávio Pimentel
e do Cap da CCS (Santos,será?).Não
cabe na cabeça de ninguém ir numa
patrulha nocturna, a Bangacia/Duas
Fontes,utilizando VIATURAS,tinha de
acontecer merda.Podia ter sido uma
tragédia,parece que o pessoal reagiu bem,excepto o Cap.que cavou
quando dos primeiros tiros,um gaijo
que ostentava uma Cruz de Guerra
concedida em Moçambique.A desculpa
para o cobarde "cavanço"era ter ido
chamar reforços a Galomaro.
Não estou a ver o Pimentel a sair
numa operação,mas tu estavas lá e
essa cena nenhum dos meus camaradas
do 53 a contou.
Abraço
Santiago