O barqueiro do Enxalé, celebrizado por Spínola, apanhava estes magníficos lagostins de rio, que depois o Zé Maria comprava e que a gente pagava a peso de ouro (50 pesos o quilo!)... O preço era justificado pelo risco... (50 pesos era o equivalente a dois dias de alimentação de um militar na Guiné, ou uma noite no Pilão ou a uma garrafa de uísque novo...).
Lembras-te, Humberto Reis ? Lembras-te, Tony Levezinho ? Ao Alferes Rodrigues já não posso perguntar, por que já não está entre nós (Paz à sua alma!, fizemos operações conjuntas, foi também vítima - tal como eu e o Marques - da mina A/C em Nhabijões, em 13 de Janeiro de 1971).
E a propósito, o que será feito do tuga Zé Maria, que tinha fama (e se calhar proveito) de rezar a Deus (as NT) e ao Diabo (o PAIGC) ? Ainda estará vivo ? Sei que era amigo do nosso alfero... que parava lá, para o último copo, antes de atacar a bolanha de Finete a caminho de Missirá (a partir de 19 de Outubro de 1970, trocara Fá Mandinga por Missirá...) (*).
O pobre do Zé Maria, que era tuga, tinha fama de ser turra... e fazia-nos pagar caro os lagostins, "pescados em zona de grande risco" (sic) ... entre o Enxalé e o Mato Cão, muito possivelmente pelo barqueiro do Enxalé que o Spínola, em visita ao Destacamento, em 19 de Dezembro de 1970, achava que "pescava em zona vermelha" , e que com isso o tornara famoso... (**).
Foto: © Humberto Reis (2006)
1. "Mas ainda melhor que as mulheres, é o vinho que faz esquecer as mulheres" (Luís Pacheco) ... E da água de Lisboa, camaradas ? Que me dizeis ? Muitos hectolitros de cerveja (bazuca), vinho verde (!), vinho a martelo, água do Poço do Bispo, surrapa, uísque escocês, uísque de Sacavém , cuba livre, água suja do imperialismo (coca-cola), a gente bebeu, do Cacheu ao Rio Grande Buba, passando pelo Geba e o Corubal !!!
Parafraseando esse poeta maldito, Luís Pacheco (que nos deixou há uns tempos), bem podíamos dizer que melhor que as bajudas, era a água de Lisboa que nos fazia esquecer as bajudas, todas as bajudas do mundo, as de Lisboa e as de Bafatá, Bolama, Barro, Bambadinca, Guileje, Bigene, Binta, Guidage, Xitole, Mansambo (não havia!!!), Candamã, Afiá, Satecuta, Xime, Fá, Missirá, Sare Gana, Geba, Banjara, Cantacunda, Contuboel, Olossato, Empada, Buba, Mampatá, Quebo, Cansissé, Canjadude, Cheche, Madina do Boé, e por aí fora...
Eu costumo lembrar aos filhos e aos meus amigos mais íntimos que fui para a Guiné com uma mala cheia de livros (à espera de umas férias tropicais!) e ao fim de seis meses havia dias que era capaz de beber uma garrafa de uísque por dia... com água de Perrier. (Bom, agora que já me confessei, espero que o meu fígado me perdõe)...
Na Guiné, em Mansambo ou em Madina, o que fazia mal ao fígado fazia bem à alma... Não sei o que teria sido a guerra sem a nosso uisquinho com duas pedras de gelo e um bocado de Perrier... O nosso bendito Scotch... "For the Portugese Armed Forces from Scotland with love"...
Lembras-te, Humberto Reis ? Lembras-te, Tony Levezinho ? Ao Alferes Rodrigues já não posso perguntar, por que já não está entre nós (Paz à sua alma!, fizemos operações conjuntas, foi também vítima - tal como eu e o Marques - da mina A/C em Nhabijões, em 13 de Janeiro de 1971).
E a propósito, o que será feito do tuga Zé Maria, que tinha fama (e se calhar proveito) de rezar a Deus (as NT) e ao Diabo (o PAIGC) ? Ainda estará vivo ? Sei que era amigo do nosso alfero... que parava lá, para o último copo, antes de atacar a bolanha de Finete a caminho de Missirá (a partir de 19 de Outubro de 1970, trocara Fá Mandinga por Missirá...) (*).
O pobre do Zé Maria, que era tuga, tinha fama de ser turra... e fazia-nos pagar caro os lagostins, "pescados em zona de grande risco" (sic) ... entre o Enxalé e o Mato Cão, muito possivelmente pelo barqueiro do Enxalé que o Spínola, em visita ao Destacamento, em 19 de Dezembro de 1970, achava que "pescava em zona vermelha" , e que com isso o tornara famoso... (**).
Foto: © Humberto Reis (2006)
1. "Mas ainda melhor que as mulheres, é o vinho que faz esquecer as mulheres" (Luís Pacheco) ... E da água de Lisboa, camaradas ? Que me dizeis ? Muitos hectolitros de cerveja (bazuca), vinho verde (!), vinho a martelo, água do Poço do Bispo, surrapa, uísque escocês, uísque de Sacavém , cuba livre, água suja do imperialismo (coca-cola), a gente bebeu, do Cacheu ao Rio Grande Buba, passando pelo Geba e o Corubal !!!
Parafraseando esse poeta maldito, Luís Pacheco (que nos deixou há uns tempos), bem podíamos dizer que melhor que as bajudas, era a água de Lisboa que nos fazia esquecer as bajudas, todas as bajudas do mundo, as de Lisboa e as de Bafatá, Bolama, Barro, Bambadinca, Guileje, Bigene, Binta, Guidage, Xitole, Mansambo (não havia!!!), Candamã, Afiá, Satecuta, Xime, Fá, Missirá, Sare Gana, Geba, Banjara, Cantacunda, Contuboel, Olossato, Empada, Buba, Mampatá, Quebo, Cansissé, Canjadude, Cheche, Madina do Boé, e por aí fora...
Eu costumo lembrar aos filhos e aos meus amigos mais íntimos que fui para a Guiné com uma mala cheia de livros (à espera de umas férias tropicais!) e ao fim de seis meses havia dias que era capaz de beber uma garrafa de uísque por dia... com água de Perrier. (Bom, agora que já me confessei, espero que o meu fígado me perdõe)...
Na Guiné, em Mansambo ou em Madina, o que fazia mal ao fígado fazia bem à alma... Não sei o que teria sido a guerra sem a nosso uisquinho com duas pedras de gelo e um bocado de Perrier... O nosso bendito Scotch... "For the Portugese Armed Forces from Scotland with love"...
Ainda diziam que não tínhamos amigos e aliados! Todos nos ajudavam. Até o Zé Maria1 Até o barqueiro do Enxalé! Até os camaradas do PAIGC que deixavam o barqueiro apanhar lagostins no Geba Estreito, antes da Foz do Corubal... e, claro, ao Zé Maria comprá-los ao barqueiro, cozê-los e servi-los, esplêndidos, vermelhos, bem temperados com um toque de jindungo q.b., na esplanada do seu bar com vista para o Rio... Ah!, a dolce vita de Bambadinca!...
_____________
Notas de L.G.:
18 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1534: Estórias cabralianas (19): O Zé Maria, o Filho, Madina/Belel e um tal Alferes Fanfarrão (Jorge Cabral)
(...) Bambadinca era então para o Alferes, feito nharro de Tabanca, a Cidade. Para lá ir, fazia a barba, aprumava o seu único camuflado apresentável, munia-se de alguns pesos e, acima de tudo, preparava o relim verbal sobre ficcionadas aventuras operacionais, que iriam impressionar o Comandante.
Antes de entrar no Quartel, habituara-se a abancar no Gambrinus local, o tasco do Zé Maria, bebendo, petiscando e conversando. Um dia encontrou o Senhor Zé Maria, muito preocupado. O filho adolescente que estudava em Lisboa, ia chumbar.
Claro, logo o Alferes, prometeu interceder.
- Como se chama o rapaz? Que colégio? E o nome dos Professores?
Apontadas as respostas, descansou-o.
– Amanhã mesmo já escrevo para Lisboa. (...)
(**) Vd. poste de 15 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6396: O Spínola que eu conheci (21): Fiquei com óptima impressão do subalterno Comandante do Destacamento do Enxalé (Benjamim Durães / Jorge Cabral / Luís Graça)
7 comentários:
Caros camaradas
Certamente que os nossos amigos que fizeram a guerra de Luanda e de Lourenço Marques se devem divertir com a alegria com que recordamos estes nossos pequenos luxos...
Mas a verdade é que nos sabiam 'pela vida' e ainda hoje haverá para muitos de nós a recordação de que o 'melhor bife',
os 'melhores lagostins', as 'melhores ostras' a 'melhor e mais saborosa cerveja', foram aquelas que comemos ou bebemos algures em algum lugar e em algum tempo dessa passagem pela Guiné.
É que sabiam mesmo bem, e eram merecidas, caramba!
Abraço
Hélder S.
Que aconteceu Luís Graça?
Há muito que não escrevias assim. Talvez tenhas e eu não li. Não, nada disso, era impossível. Parece não haver impossíveis mas há. Nunca fui ao Zé Maria. Soube pelo blogue que havia um comerciante em Bambadinca com esse nome. Parece impossível. Passava pela estrada e não me lembro de ter, alguma vez, parado. Passava a caminho de Fá, do Mato de Cão, de Bafatá ou para onde o diabo me solicitava a presença.Tasca de branco em Bambadinca não. Em Bafatá sim, na Transmontana e por outros lados.Em Bambadinca só na Tabanca com encomenda a esperar. Vinha de Bafatá, a encomenda o,raramente de lá ...e eu bebia pelo gargalo, estalava a língua e ria...antes já tinha distribuído o patacão e os eteceteras.E pelo gargalo mais um gole do novo a 50 pesos...
Vidas de minuto ou de longo tempo.Bá. Depois vinha a noite em "amor" de sobressalto, mãos em corpo de mulher e sentidos repartidos...e as armas ali perto disfarçadas. Mas á Tasca do Zé Maria não e, menos ainda camarão.
Sempre de passagem em pressa para a missão, a outra margem ou alivio de tesão. Era novo e bruto. Talvez bruto não, só que me mandavam para tanto lado, tanto lado marafado e nem sabia que havia uma Tasca com camarão. Fui um dia á capela assistir ao fecho de um caixão de um camarada,sabia haver uma escola mas nada sabia da mestre escola Violante? ou chefe de posto que não recordo ver tal sacana que lixou o Tenente Coronel e mais gente. Ai, ai!!
Em Mansambo havia uma Bajuda, terna meiga doce. Olhos tristes a acenar a despedida e a rirem no regresso. Havia uma bajuda te digo eu camarada.
A noite cresceu e a saudade- ninguém mais diz saudade - ou sôdade da Cesária èvora, doente em Paris - a noite caminha e eu termino. Escreve mais porra, texto corrido e sentido. Gosto e fico com pena de não ter ido ao Tasco do Zé Maria...mas era militar maldito como o Luís Pacheco o homem do Crocodilo que Voa...leste? No Geba só jacarés e camarão...Um abraço, Torcato
O " Alfero" abancava à entrada
e à saída.Quanto ao nosso fígado,
creio Luís,que não foi mobilizado..
Ficou cá, à nossa espera...saudável
O Zé Maria já deve ter partido..
pois na altura teria uns cinquenta
anos..
Abraço
Jorge Cabral
Só tu, grande alfero, para transformares, pelo humor, a miséria em grandeza... Só tu te lembrarias de promover o tasco do Zé Maria à categoria do Gambrinus!... O Gambrinus de Bambadinca!... E a verdade é que, naquela buraco do mundo, o tasco do Zé Maria era (e foi), para nós, o melhor restaurante do mundo!... E a verdade é que nunca voltei a comer lagostins como aqueles apanhados na famosa "zona vermelha" do Rio Geba...
Luís Graça
Leio estas coisas e fico estarrecido: Olha o que eu perdi!
Em Bambadinca nunca "se me deu" para ir à Tabanca pelo que não conheci o Zé Maria, e sobretudo os lagostins do dito cujo!
Lembro-me no entanto dos de Bafatá que deviam ser iguais e que, se me não falha a memória, eram mais apetitosas as cabeças do que os "corpos" pequenitos e sem grande sabor.
Estarei errado??
E lembro-me de ter chegado a Luanda, à Restinga e ter pedido uma imperial e terem-me dado camarões a acompanhar!!! Os tremoços do Eusébio!!!
Quanto ao "uisquizinho" com Perrier era com certeza coisa indispensável!
Era assim a modos como mais um carregador de G3!!!
Um grande a camarigo abraço para todos
Joaquim: Não sei exactamente onde eram pescados os lagostins do Rio Geba, talvez para os lados do Mato Cão... Sei que o Zé Maria, que era um comerciante branco corpolento, na casa dos 45/50 anos, utilizava o argumento do "risco" para nos levar coiro e cabelo pelo petisco... Não te esqueças que 50 pesos eram equivalente a dois pratos de bife, com batatas fritas e ovo a cavalo a Transmontana,em Bafatá... ou a uma noite no Pilão!
Do lagostim tenha ideia que se comia tudo, da cabeça ao rabo... Eu, que adoro marisco e sou da terra dele, nunca mais voltei a comer lagostins como os do Rio Geba Estreito... Também nunca mais voltei a repetir a vida as circunstâncias em que passei os meus verdes anos, 22, 23 e 24...
Um abraço do camarigo
Luís Graça
Torcato, caríssimo
Leio o que escreves.
"Depois vinha a noite em "amor" de sobressalto, mãos em corpo de mulher e sentidos repartidos...e as armas ali perto disfarçadas".
Que maravilha!
Nós todos na Guiné em guerra, dilacerados amantes.
Fortíssimo abraço,
António Graça de Abreu
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