domingo, 18 de fevereiro de 2007

Guiné 63/74 - P1534: Estórias cabralianas (19): O Zé Maria, o Filho, Madina/Belel e um tal Alferes Fanfarrão (Jorge Cabral)



Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > 1970 > Vista aérea da tabanca de Bambadinca, tirada no sentido sul-norte. A tabanca de Bambadinca foi cortada ao meio pela antiga estrada com acesso (muito íngreme) ao aquartelamento (entrada principal, de leste). Foi aberta a uma nova estrada que contornava o aquartelamento pelo lado da tabanca (a leste) e da bolanha (a sul).
Do lado direito são vísíveis casas comerciais, de estilo colonial, a última das quais era a do Zé Maria (onde comíamos os famosos camarões do Rio Geba, ao fundo). São também visíveis, junto ao ancoradouro do Rio Geba, as instalações do Pelotão de Intendência. Os barcos, de pequeno calado, e nomeadamente civis (da Casa Gouveia e outros), chegavam facilmente aqui, transportando víveres e outras mercadorias, ao serviço da intendência militar. Era a partir de Bambadinca que se fazia o abastecimento de grande parte das NT instaladas na Zona Leste (Bafatá e Gabu).
No foto, pode ver-se, em primeiro plano, a saída (nordeste) do aquartelamento, a ligação (B) à estrada (alcatroada) Bambadinca-Bafatá (C), paralela à antiga estrada (A) que cortava a tabanca ao meio. Ao fundo, o Rio Geba Estreito (E). Junto ao rio, as instalações do Pelotão de Intendência (D). A casa comercial do Zé Maria ficava em C. (LG).

Foto: © Humberto Reis (2006). Direitos reservados.

Zé Maria, o Filho, Madina / Belel e um tal Alferes Fanfarrão


(Ex-Alf Mil Art Pel Caç Nat 63, Fá Mandinga e Missirá, 1969/71)

Bambadinca era então para o Alferes, feito nharro de Tabanca, a Cidade. Para lá ir, fazia a barba, aprumava o seu único camuflado apresentável, munia-se de alguns pesos e, acima de tudo, preparava o relim verbal sobre ficcionadas aventuras operacionais, que iriam impressionar o Comandante.

Antes de entrar no Quartel, habituara-se a abancar no Gambrinus local, o tasco do Zé Maria, bebendo, petiscando e conversando. Um dia encontrou o Senhor Zé Maria, muito preocupado. O filho adolescente que estudava em Lisboa, ia chumbar.
Claro, logo o Alferes, prometeu interceder.
- Como se chama o rapaz? Que colégio? E o nome dos Professores?
Apontadas as respostas, descansou-o.

– Amanhã mesmo já escrevo para Lisboa.

E foi à vida, sem pensar mais no assunto… Três semanas passadas, assim que o Alferes pôs o pé no cais, correu para ele o senhor Zé Maria eufórico, aos gritos:

- Senhor Alferes! Senhor Alferes! Muito obrigado! Conseguiu! O rapaz passou!


Disfarçando a surpresa, e quase amachucado com o valente abraço, o Alferes apenas comentou.

-Então não lhe disse? Eu sou assim! Promessa feita é promessa cumprida.

E lá foram os dois comemorar. A partir desse dia, nunca mais o Alferes pagou, nem de comer, nem muito principalmente de beber… passando a lá parar, não só à chegada, mas também à partida. Mas o senhor Zé Maria não oferecia só de comer e de beber, dava-lhe também preciosas informações e conselhos.
- Se quiser fazer um grande ronco... - e indicava locais, trilhos, passagens.


Porém o Alferes, não queria ronco nenhum, e tanto conhecimento fazia-o desconfiar. No início de Abril, estava o Alferes no seu quarto whisky, disse-lhe o senhor Zé Maria:

- O Senhor Alferes também lá vai? É perigoso!

Lá e perigoso, só podia ser Madina, pensou o Alferes, que imediatamente debandou para o Quartel, entrando de rompante no Gabinete do Polidoro, onde Fanfarrão, atirou:
- Como é meu Comandante? Será possível entrar em Madina, sem o Alferes Cabral?

Não tugiu, nem mugiu o Polidoro, dando o devido desconto, à visível excitação etílica.
Porém, nessa noite, já em Missirá, o Alferes decifrou a simpática mensagem: “Alferes Cabral, anfitrião no Cuor, amanhã, acompanha Comp Paras".


No dia seguinte conheceu Madina / Belel, mas desde então nunca mais bebeu antes de falar com o Polidoro. Só depois…

Jorge Cabral


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Nota de L.G.:


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