terça-feira, 9 de junho de 2015

Guiné 63/74 - P14718: Inquérito online: "No TO da Guiné confesso que não tive relações com nenhuma mulher local"...Resultados preliminares (n=61 votantes): mais de metade (57%) diz que nunca "conheceu" (no sentido bíblico do termo) nenhuma guineense, fosse cristã, muçulmana ou animista



Guiné > Região do Óio > Canjambari > CCAÇ 2533 (1969/71) > Jovem mãe. (Foto inserida no documentário fotográfico anexo à brochura "Histórias da CCAÇ 2533" (*)


I. Mensagem enviada hoje a toda a Tabanca Grande, pelo correo interno

Assunto: Sondagem: "NO TO DA GUINÉ, CONFESSO QUE NÃO TIVE RELAÇÕES SEXUAIS COM NENHUMA MULHER LOCAL"

Amigos e camaradas:

1. É sempre tramado "falar com números" sobre realidades complexas e sensíveis sobre as quais não há (bem nunca chegará a haver) "investigação científica"...

O "olhómetro" pode dar  jeito, às vezes, mas não chega... 

Isto vem a propósito das "bocas" que ouvimos e que também mandamos acerca das relações (afetivas, sexuais, psicossociais...)  dos militares portugueses, metropolitanos, com as mulheres guineenses, durante a guerra colonial...(Grosso modo, de 1961 a 1974). (*)

Recordo aqui uma intervenção, recente, em 22 de maio último, do nosso camarada Jorge Cabral, no final da conferência sobre os "Filhos da Guerra", no Cinema São Jorge, em Lisboa:

"Defenderei até à morte a honra do soldado português na Guiné. Nós não eramos  nenhuns emprenhadores compulsivos. Mais: atrevo-me a dizer que 80% a 90% dos soldados portugueses na Guiné não tiveram quaisquer relações sexuais com mulheres africanas… E se querem falar de prostituição organizada (que no meu tempo praticamente se restringia a Bissau e, em pequena escala, a Bafatá), pois tenho a dizer que é muito maior hoje, só na capital da Guiné-Bissau, do que no meu tempo"…

2. Podemos falar, serena e honestamente, sobre este tema (que não deve ser tabu...), respondendo à sondagem em curso no nosso blogue  (votar diretamente no canto superior esquerdo) e mandando textos e comentários... 

Mais uma vez contamos com a participação ativa dos nossos camaradas que foram combatentes no TO da Guiné... Felizmente que ainda estamos vivos, ativos e saudáveis, para podermos ser nós, e não os outros,  a contar as nossas próprias histórias...

Um alfabravo fraterno. Luís Graça


II. Camarada: a "sondagem" admite teoricamente seis hipóteses de resposta... Deves escolher a que for mais apropriada ou adequda no teu caso. Responde com sinceridade. A resposta é anónima...

Sondagem: "NO TO DA GUINÉ, CONFESSO QUE NÃO TIVE RELAÇÕES SEXUAIS COM NENHUMA MULHER LOCAL"

1. Não, não tive

2. Sim, tive, pelo menos uma vez

3. Sim, tive mais do que uma vez

4. Sim, tive bastantes vezes

5. Sim, tive com muita frequência

6. Não sei, já não me recordo bem



III. No primeiro dia, responderam 61 camaradas... Eis os resultados preliminares, quando faltam 5 dias para encerrar a votação:

1. Não, não tive  > 35 (57%)

2. Sim, tive, pelo menos uma vez  > 4 (6%)

3. Sim, tive mais do que uma vez  > 13 (21%)

4. Sim, tive bastantes vezes  > 4 (6%)

5. Sim, tive com muita frequência  > 5 (8%)

6. Não sei, já não me recordo bem  > 0 (0%)


Votos apurados: 61
Dias que restam para votar: 5

IV. Alguns comentários que já nos chegaram, e que vamos manter anónimos, por razões de garantia de sigilio e confidencialidade:

(i) Não, não tive, o medo de qualquer problema de saúde foi mais forte que a vontade de dar umas quecas!!!

(ii) Não tive relações sexuais com nativas.

(iii) Não, não tive.

(iv) Não, não tive.

(v) Não tive.

(vi) Sim,  tive pelo menos uma vez.

(vii) Sim,  uma vez,  mas foi no Pilão,  em Bissau,  nas "mulheres da vida" que na altura havia,  na minha passagem já no regresso [à metrópole].
[
(viii) Resposta 3 [ . Sim, tive mais do que uma vez.]

(ix) Sobre tão íntima situação, devo informar que sim, senhor, tive várias vezes seguidas. É natural que isso faça desequilibrar a balança e, como tal, cá estou a responder, caso seja tido em conta.

(x) Resposta 5 [. Sim, tive com muita frequência.]


V. Apelo dos editores ao pessoal da Tabanca Grande:

Camarada: è importante que votes... Não só para animarmos o blogue neste fim, acolarado, de primavera, mas também para podermos ter uma razoável amostra...

No primeiro  dia, atingimos os 61 votantes. Podemos calmamente chegar aos 200, com um maior empenhamento de todos...

Não se trata de nenhum "estudo científico", é uma mera auscultação de opinião. Interessa-nos a tua opinião sincera e honesta... Imagina que estás a responder a uma pergunta dos teus filhos, ou até da tua companheira.

NÃO RESPONDAS POR EMAIL Insere o teu voto automaticamente no espaço criado para esse efeito, ao canto superior esquerdo do blogue. O voto é anónimo, queremos que te sintas inteiramente à vontade...

Um grande abraço. Os editores.

___________________


Nota do editor:

Vd postes de

8 de junho de  2015 > Guiné 63/74 - P14715: (Ex)citações (279): Sexo em tempo de guerra... Em Jumbembem, o pessoal da CCAV 488 entranhou a ideia de que as bajudas da tabanca eram da família... Tivemos um relacionamento com a população, baseado na sã convivência e no respeito mútuo, de tal modo que nos despedimos em lágrimas, sinceras (Armor Pires Mota, autor de "Estranha Noiva de Guerra", 2008, ex-alf mil, CCAV 488, 1963/65)

7 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14708: (Ex)citações (276): Sexo em tempo de guerra... De Ganturé ao Pilão (Mário Gaspar, ex-fur mil At Art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)

5 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14701: (Ex)citações (275): Hospitalidade, brejeirice e ... instinto de sobrevivência das mulheres e bajudas fulas de Nhala, na receção aos "periquitos", em 29/4/1973 (António Murta, ex-alf mil inf MA, 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513, Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74)


10 comentários:

Cherno AB disse...

Caros amigos,

Uma sondagem eh sempre uma sondagem, as vezes diz muito e outras vezes nao quer dizer nada. No caso em presenca, acho que nao refletiu a tendencia que seria de esperar ou seja a probabilidade de que os resultados obtidos quando extrapolados pudessem representar uma certa tendencia de comportamento do universo em estudo.

Nao obstante, nao eh desprovido de sentido, porque as pessoas, penso eu, foram honestas e confirmaram o que ja se sabia, mas aqui devemos ter cuidado com os numeros.

Uma informacao que gostaria de partilhar eh sobre o fenomeno dos filhos de militares portugueses e algumas das razoes basicas porque o fenomeno acontecia com alguma frequencia.

Primeiro porque a concepcao que a mulher guineense, e Africana em geral, tinha sobre a sexualidade e particularmente sobre a gravidez era completamente errada, pois partia-se do pressuposto de que seriam precisas muitas e frequentes copulacoes para se chegar a gravidez. Houve muitas mulheres casadas que, seja por simples curiosidade, seja por necessidade material ou puro desejo sexual e, as vezes, por violacao, tiveram filhos que, provavelmente, resultaram da primeira e unica relacao sexual tida com um branco. E, em segundo lugar, quase sempre so se sabia sobre a progenitura apos o nascimento do filho. E depois, o que fazer com o filho? Aqui as situacoes foram muito variadas e deram origem ao problema que houve estamos a debater.

Cherno AB


Carlos Vinhal disse...

O comentário anterior foi removido, primeiro por ser anónimo, segundo porque quando nos referimos a ser humanos, sejam eles brancos, mestiços ou pretos, o devemos fazer com respeito e elevação.
Carlos Vinhal
Co-editor

Anónimo disse...

António José Pereira da Costa
8 junho 2015 14:54


Ora bem, cá está o inquérito "à inglesa curta".

Sobre este pergunto:

Qual é a diferença entre "mais de uma vez" e "bastantes vezes" ?

O que entende por "bastantes vezes"? Sugiro religiosamente às 4ª feiras...

Qual a diferença entre "bastantes vezes" e "com muita frequência" ? Neste caso penso que às 2ª, 4ª e 6ª depois do café é uma boa frequância...

Esta última é deliciosa: "Não me lembro". Porquê ? Era tamanha a bubadêra...

Volto a sugerir as 4 ou 5 hipótese que o "Homem Grande de Gadamael" [Mário Gaspar] sugeriu.

São uma boa base de trabalho (científico).

Um Ab.

TZ [Tó Zé]
TZ

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas
Afinal os resultados provam que os jovens militares portugueses são como Zainal Bava: ou, "em sã consciência" não se lembram ou afinal eram muito recatados e não se dedicavam tanto como apregoavam, a essa actividades recreativas.
Perfilho esta hipótese, pois, como já disse, sempre foram mais as vozes do que as nozes e, como sabem, "os Portugueses também são muito mentirosos...
Mas aquela do não me recordo acho notável.
Um Ab.
António J. P. Costa

José Rodrigues disse...

Saúdo todos os camaradas combatentes,mas muito em especial os da Guiné.Acho o tema agora discutido e levado a votação bastante interessante.
Eu,não tenho qualquer problema em dizer que após a minha chegada a Bissau e depois de um jantar "bem disposto",fui arrastado para o Pilão,só para ver como era.Mas entusiasmado e embalado pelas companhias,fui dar asas à minha alegria.Dias depois fiu transferido para Bissorã e aí sim,entrei em total "abstinência".Não querendo duvidar e nem tal coisa me passa pela cabeça, acho muito difici que um jovem com 20/21 anos venha dizer"Ah e tal e coisa,Deus me livre,etc.Ou de facto é uma pessoa com um poder de controle muito grande,ou então e sem ofensa "não ser grande adepto"
A todos eles os que "sim" e os que "não",aqui deixo o meu abraço de camarada.

Luís Graça disse...

Estou preocupado com a saúde do nosso "alfero Cabral"... Falei com ele ao telefone, sobre o tema de momento...

Ambos concordamos em muitos pontos:

(i) as unidades de quadrícula estavam muitas vezes localizadas em povoações, com população que ficava sob a nossa proteção;

(ii) parte dessa população eram familiares dos nossos camaradas guineenses (soldados do recrutamento local e milícias);

(iii) o envolvimento de um militar com a mulher guineense da tabanca estava sob controlo social;

(iv) a guerra na Guiné tinha particularidades, comparativamente com outros teatros de operações;

(v) dificilmente a população via as NT como "ocupantes";

(vi) a generalidade do soldado português era de estrato rural com uma educação formatada por três instãncias de socialização fortes, conservadoras: a família, a escola e a igreja;

(vii) em meados da década de 60, Portugal é um país de "brandos costumes", em que rapazes e raparigas ainda se casam virgens...

(viii) as "casas de passe" são extintas em 1963, a prostituição ilegalizada;

(ix) muitos militares não sabia usar um preservativo;

(x) não havia cinema erótico, muito menos pornográfico...

Repare-se nalguns indicadores estatístico-demográficos:

- casamento não caolico entre pessoas de sexo oposto: 9,2% em 1960; 64,1% em 2014;

- idade média ao primeiro casamento por sexo: 26,9 anos (idade) (em 1960);
32,1 anos (idade) (em 2014); ele aos 26,9 anos, ela aos 24,8 (em 1960); ele aos 32,1 e ela aos 30,6 (em 2014);

. índice sintético de fecundidade (nº médio de filhos por mulher em idade fértil): 3,20 (em 1960), 1,21 (em 2013);

- divórcios por 100 casamentos: 1,1% em 1960; 70,4% em 2013

- nados-vivos fora do casamento (%): 9,5% (1960), 49,3% (2014)

- taxa de analfabetismo (%)/população residente com 10 e mais anos que não sabe ler nem escrever): 25,7 (em 1970), 5,2 (em 2011)

- população residente em lugares com 10.000 e mais habitantes: 2.009.319 (em 1960);
4.506.906 (em 2011)

... Digam lá se o país, sociologicamente falando, era o mesmo ? Os nossos filhos e netos terão dificulade em entender a década de 1960 em que quase todos nós fomos às sortes, fizemos a tropa e fomos mobilizados para a guerra...

Luís Graça disse...

É oportuno lembrar aqui a história (relativamente recente) do planeamento familiar en Portugal... Aqui vão uns excertos do sitio da APF - Associaçºão para o Planeamento da Família;

http://www.apf.pt/


(...) Durante a década de 60, profundamente marcada pelos anos da Ditadura, Portugal conhecia uma situação de extrema pobreza das populações, o que gerou uma forte corrente migratória para o estrangeiro bem como a deslocação das zonas rurais para as regiões metropolitanas de Lisboa e Porto (com a consequente limitação de nascimentos). Esta década ficou igualmente assinalada pelo início da guerra colonial e o despoletar dos movimentos contestatários, nomeadamente os estudantis…

- No que diz respeito à saúde materna e infantil, foram anos durante os quais se viveu uma situação extremamente grave – elevadas taxas de mortalidade infantil e de morte e morbilidade maternas, recurso frequente ao aborto clandestino, ausência de quaisquer métodos contraceptivos e inexistência de cuidados e de serviços de planeamento familiar.

- Introduzidos em Portugal em 1962, os primeiros métodos contraceptivos hormonais (Pílula) eram prescritos com fins estritamente terapêuticos.

- A década de 60 caracterizou-se igualmente pela acesa polémica no seio da Igreja Católica, despoletada pelos debates do Concílio Vaticano II e pela publicação da Encíclica Humanae Vitae. A Igreja acaba por reconhecer o direito de os casais regularem os nascimentos através dos métodos naturais mas opõe-se a outras formas de contracepção.

- A IPPF inicia contactos com Portugal com vista à criação da APF (1966/67), oficialmente fundada em Agosto de 1967 (Estatutos aprovados por Despacho do Ministro da Saúde e Assistência e publicados no Diário do Governo, III Série nº 191, de 17.08.1967)

- No ano da criação da APF é legalizada, em França, a informação e venda de contraceptivos.

- A partir de 1967/68, apesar da difícil conjuntura social e política do país e dos reflexos inerentes nas suas condições de trabalho, a APF inicia uma série de actividades que têm como objectivo principal a mudança de situação que se vive em Portugal – exerce pressão sobre o estado português para integrar o planeamento familiar (conceito que começa a despontar nas sociedades europeias) nos serviços de saúde estatais, promove conferências, participa em cursos no estrangeiro sobre planeamento familiar e cria, na sua Sede, em Lisboa, uma consulta de regulação da natalidade e infertilidade.

- Permanentemente olhada com desconfiança por parte do Governo e da Igreja, a APF consegue, ainda assim, mobilizar alguns sectores profissionais da saúde e também jornalistas e definir como principal objectivo a criação de consultas de planeamento familiar nos serviços de saúde estatais - hospitais e dispensários materno-infantis, estes últimos integrados no Instituto Maternal.
- Internacionalmente e através da realização da Conferência Internacional sobre Direitos Humanos, realizada em 1968, em Teerão, são dados os primeiros passos no sentido do Planeamento Familiar se tornar um direito que a todos deve assistir – “a protecção da família e da criança mantém-se como interesse da comunidade internacional. Os pais têm o direito humano básico a decidir livre e responsavelmente o número e espaçamento dos seus filhos”. É assim declarado, e pela primeira vez, o direito dos pais ao planeamento familiar. (...)

Luís Graça disse...

... Como diria o meu professor de religião e moral, naquele tempo, "casamento era o preço que o homem pagava para ter sexo; e sexo era o preço que a mulher pagava pelo casamento"...

https://cart3494guine.blogspot.com/ disse...

Camaradas, este inquérito vem demonstrar uma coisa que achava muito natural, pois sempre pensei que uma grande parte do pessoal experimentava de alguma forma relacionamento com as guinéus e cabo-verdianas, quem passava por Bissau sempre se falava em visitar o Pilão.Todavia fico abismado com tanta abstinência, só vem provar que quem tanto fala mais mente, o soldado português se calhar é um pouco isso, fala fala mais não faz nada. No Xime em 1972, de vez em quando apareciam uma ou outra mulher exactamente para os finalmente, quando sabiam que havia dinheiro fresco. Recordo-me numa altura de ver uma fila razoável para quem quisesse satisfazer as suas necessidades sexuais. Era uma só mulher... Nesse tempo pelo menos nas aldeias cá do burgo quem engravidasse a sua namorada resultava quase sempre em casamento. Outros tempos!...
A. Castro

Anónimo disse...

ok amigos...
já faz tempo que não participo em comentários, mas este acho que tem um significado diferente e pode ser importante, e como faz 45 anos que regressamos da GUINÉ-Bafatá, cagrup 2957, tenho afirmar que realmente tive relações sexuais com bajudas e não só, também as ditas lavadeiras e até tive tivemos 4 camaradas um situação um pouco estranha que a recordação veio avivar que foi num domingo depois duma festa nas tabancas em Bafatá, os dito 4 malandros fora com uma meninas para certo sitio e as coisas deram para aquilo que veio acontecer foi uma festa e festinha da boa, e quando se deu pela hora ninguém sabia de ninguém mas todos estavam meio capim a fazer aquilo que em principio não era de imaginar, mas aconteceu sexo e...
era costume os 4 ou cinco 5 nortenhos porto e arredores irem dar o seu passeio, dar a sua volta e por vezes um para cada lado com a sua lavadeira arranjar um petisco Bafatá, Bambadinca e...acho dei uma amostra daquilo que realmente vivi na Guiné Bafatá 68/70... como é bom recordar tempos de medo, e de receio mas valeu sempre a pena...
se acharem que este escrito não esta de acordo com o pedido podem corrigir, apagar e ou publicar...
1º cabo rodrigues