Cartaz da mesa-redonda,Guiledje, Guiledje,Gadamael: 40 anos dos 3 G's da Guerra da Guiné, Coimbra, 23 de maio de 2013, 14h00
Data: segunda, 12/08(2019, 18:42
Assunto: Mesa Redonda em Coimbra (2013) - Intervenção de Osvaldo Lopes da Silva
Caro Amigo Luís
Há muito tempo que não contactamos. Estou na minha casa de Vila Fria, Concelho de Viana do Castelo; espero regressar a Lisboa no fim do mês.Nessa altura temos que nos encontrar, por exemplo no Restaurante Os Cunhados, para almoçar.
Entretanto junto envio em anexo, a intervenção do Comandante do PAIGC, Osvaldo Lopes da Silva (OLS), que penso que merece ser divulgado no nosso blogue. OLS foi encarregado por Amílcar Cabral, para preparar um ataque em força sobre Guileje.
O texto agora enviado, vai ser incluído no novo livro que estou a escrever.É minha opinião que se trata e um documento inédito, por ser da autoria de um conceituado Comandante do PAIGC.
Um Abraço Amigo
Coutinho e Lima
__________________
TEXTO QUE REPRODUZ A INTERVENÇÃO DO COMANDANTE OSVALDO LOPES DA SILVA NA MESA REDONDA REALIZADA, EM COIMBRA, NO DIA 23.05.2013. (**)
Esta Mesa Redonda, realizada sob o prestigioso patrocínio do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra, vem na sequência do Simpósio Internacional de Guileje, que teve lugar na Guiné, em 2008.
Ambos os eventos foram orientados no sentido de um debate desinibido entre representantes das Forças Armadas de Portugal e do PAIGC que se confrontaram em Maio de 1973 e que tiveram uma participação directa nas operações de Guidage, Guileje ou Gadamael.
Se, por razões de ordem pessoal, não me fora possível responder positivamente ao convite para participar do Simpósio de 2008, desta vez seria deselegante declinar o convite que me foi feito pelo Dr. Julião Sousa para dar, nesta Mesa Redonda, o meu testemunho, na medida do meu envolvimento nas operações de Guileje e de Gadamael.
Ao Dr. Julião Sousa quero manifestar quanto me sinto honrado pelo convite, aproveitando a ocasião para o felicitar pela boa organização da Mesa Redonda e pelo ambiente de amizade e de respeito mútuo que foi possível criar entre homens que estiveram, em dado momento das suas vidas, em lados opostos da barricada.
Seja-me permitido dirigir uma saudação muito particular ao Sr. Coronel Coutinho e Lima que, numa situação dramática, teve a coragem de tomar a decisão de abandonar o quartel de Guileje, ultrapassando ponderações sobre o futuro da sua carreira militar. No momento, o que importava era salvar vidas - dos soldados sob o seu comando, mas também das populações que se encontravam sob sua protecção - face à esmagadora desproporção de forças então em presença.
Amantes da paz, estamos aqui reunidos para falar da guerra, essa eterna companheira da humanidade, que Clausewitz definiu como a continuação da política por outros meios, ou ainda, como um conjunto de acções violentas entre dois beligerantes ou grupos de beligerantes, cada um deles visando impor ao outro a sua vontade política.
Assunto: Mesa Redonda em Coimbra (2013) - Intervenção de Osvaldo Lopes da Silva
Caro Amigo Luís
Há muito tempo que não contactamos. Estou na minha casa de Vila Fria, Concelho de Viana do Castelo; espero regressar a Lisboa no fim do mês.Nessa altura temos que nos encontrar, por exemplo no Restaurante Os Cunhados, para almoçar.
Entretanto junto envio em anexo, a intervenção do Comandante do PAIGC, Osvaldo Lopes da Silva (OLS), que penso que merece ser divulgado no nosso blogue. OLS foi encarregado por Amílcar Cabral, para preparar um ataque em força sobre Guileje.
O texto agora enviado, vai ser incluído no novo livro que estou a escrever.É minha opinião que se trata e um documento inédito, por ser da autoria de um conceituado Comandante do PAIGC.
Um Abraço Amigo
Coutinho e Lima
__________________
TEXTO QUE REPRODUZ A INTERVENÇÃO DO COMANDANTE OSVALDO LOPES DA SILVA NA MESA REDONDA REALIZADA, EM COIMBRA, NO DIA 23.05.2013. (**)
Osvaldo Lopes da Silva. Cortesia da RTC.CV (2018) |
Ambos os eventos foram orientados no sentido de um debate desinibido entre representantes das Forças Armadas de Portugal e do PAIGC que se confrontaram em Maio de 1973 e que tiveram uma participação directa nas operações de Guidage, Guileje ou Gadamael.
Se, por razões de ordem pessoal, não me fora possível responder positivamente ao convite para participar do Simpósio de 2008, desta vez seria deselegante declinar o convite que me foi feito pelo Dr. Julião Sousa para dar, nesta Mesa Redonda, o meu testemunho, na medida do meu envolvimento nas operações de Guileje e de Gadamael.
Ao Dr. Julião Sousa quero manifestar quanto me sinto honrado pelo convite, aproveitando a ocasião para o felicitar pela boa organização da Mesa Redonda e pelo ambiente de amizade e de respeito mútuo que foi possível criar entre homens que estiveram, em dado momento das suas vidas, em lados opostos da barricada.
Seja-me permitido dirigir uma saudação muito particular ao Sr. Coronel Coutinho e Lima que, numa situação dramática, teve a coragem de tomar a decisão de abandonar o quartel de Guileje, ultrapassando ponderações sobre o futuro da sua carreira militar. No momento, o que importava era salvar vidas - dos soldados sob o seu comando, mas também das populações que se encontravam sob sua protecção - face à esmagadora desproporção de forças então em presença.
Amantes da paz, estamos aqui reunidos para falar da guerra, essa eterna companheira da humanidade, que Clausewitz definiu como a continuação da política por outros meios, ou ainda, como um conjunto de acções violentas entre dois beligerantes ou grupos de beligerantes, cada um deles visando impor ao outro a sua vontade política.
Maio de 1973, com o desfecho das grandes operações de Guidage, Guileje e Gadamael, marcou o ponto de ruptura do equilíbrio de forças em presença no teatro de operações da Guiné. Num quadro geral de grande supremacia das Forças Armadas Portuguesas no que se refere ao somatório dos efectivos e do armamento, o facto é que o desenrolar dessas operações evidenciou que as forças do PAIGC, dispondo de iniciativa, de grande mobilidade, de armamento moderno e de enquadramento qualificado, estavam aptas a concentrar contra qualquer quartel da Guiné uma supremacia esmagadora.
Isto face a um inimigo cujas reservas se encontravam exauridas, e que se encontrava diminuído na sua mobilidade em consequência da eficácia dos mísseis antiaéreos "Strela" utilizados pelas forças nacionalistas. Chegara o momento a partir do qual, nas palavras de Clausewitz, a continuação da guerra deixa de fazer sentido e deve intervir uma solução política: quando fica demonstrado que a continuação da guerra só pode conduzir ao esmagamento de uma das partes pela outra.
A luta dirigida por Cabral combinava acções em distintas frentes, sendo a militar apenas uma delas, e não a mais importante. Essa acção multiforme devia conduzir ao enfraquecimento do inimigo (no aspecto militar, moral da retaguarda, isolamento diplomático, agravamento das despesas com a guerra), a ponto de o levar à situação de ter de acatar a solução política que só podia ser a independência da Guiné e de Cabo Verde.
Estava longe dos propósitos de Cabral uma vitória militar, não apenas por considera-la incoerente com a doutrina da guerra, mas ainda pelo receio do protagonismo excessivo que tal desfecho conferiria à classe castrense guineense. Por alguma razão, Cabral sempre optou por falar de militantes armados do PAIGC e não de militares.
Na sequência dos graves reveses sofridos em Maio de 1973, o general Spínola encontrou-se em Lisboa com o Presidente do Conselho Marcelo Caetano. Sem rodeios, o general pôs a nu a gravidade da situação operacional na Guiné e apresentou duas alternativas como forma de conjurar a ameaça iminente de colapso militar: ou a atribuição de reforços substanciais ou a procura de uma solução política.
Caetano negou ao general Spínola uma coisa e a outra. Quanto a reforços, os poucos disponíveis estavam destinados a garantir a segurança das obras da gigantesca barragem de Cabora Bassa e à implantação, no norte de Moçambique, de um milhão de colonos. Perante essa realidade, a Guiné, que nunca fora colónia de implantação branca, nem apresentava os atractivos económicos de Moçambique, ficava a perder, no jogo delicado de atribuição das minguadas reservas disponíveis, que tinha que obedecer às prioridades económico-financeiras do momento.
A alternativa de solução política, vista por Caetano como sendo equivalente a negociar com terroristas, foi liminarmente rejeitada. Caetano declarou ao general Spínola que preferia uma derrota militar a negociar, pensando assim defender o sagrado princípio da intangibilidade das fronteiras imperiais, de Minho a Timor.
Os territórios de Goa, Damão e Diu, que, desde 1961, se encontravam sob jurisdição da União Indiana, continuavam a ser considerados, na propaganda salazarista, como constituindo uma província ultramarina sob ocupação estrangeira. Na lógica de Caetano, uma derrota militar na Guiné podia ser transfigurada em ocupação de uma província ultramarina por forças do comunismo internacional. Deixando intangível o princípio de não cedência de qualquer parcela do Ultramar, a classe dirigente portuguesa pensava poder continuar a usufruir das riquezas de Angola e de Moçambique, onde o equilíbrio das forças em presença parecia pender a seu favor.
Perguntar-se-á como foi possível que, no conjunto das três frentes de guerra de libertação nacional contra o exército colonial português, o primeiro sinal de ruptura do equilíbrio operacional tenha ocorrido na Guiné, a menor e menos populosa das três colónias em guerra (Guiné, Angola e Moçambique)?
Comparemos os dois casos extremos de Angola e da Guiné. Em Angola, o início da guerra foi determinado pela sucessão de acontecimentos desencadeados pelo desvio do "Santa Maria" por Henrique Galvão, e que, de erro de apreciação em erro de apreciação, conduziu ao assalto às cadeias de Luanda, no dia 4 de Fevereiro de 1961, e a tudo o que se lhe seguiu.
Os "média" que se tinham concentrado em Luanda para darem cobertura condigna à anunciada proclamação por Henrique Galvão de um governo de oposição a Salazar são surpreendidos por acontecimentos que marcaram o início da luta armada em Angola. Isso de forma atabalhoada, numa altura em que nem a UPA, e muito menos o MPLA, estava em condições de assumir a liderança de uma acção coerente contra o exército colonial. Na verdade, o MPLA, quase desmantelado na sequência das numerosas detenções efectuadas pela PIDE em 1959 e 1960, encontrava-se, na altura, decapitado, com Agostinho Neto deportado em Cabo Verde e os demais membros da Direcção (Mário Pinto de Andrade, Lúcio Lara, Viriato da Cruz, Dr. Eduardo Macedo dos Santos) precariamente instalados em Conakry e sem contactos com Angola.
Quanto a Holden Roberto, por insistência de Franz Fanon, renunciara ao objectivo inicial de restauração do reino do Congo, compreendendo o norte de Angola e partes dos dois Congos e até do Gabão, estampado na sigla UPNA (União dos Povos do Norte de Angola). A passagem a UPA (União dos Povo de Angola) nada alterou do carácter tribal da organização, e Holden nada mais tinha a apresentar senão o terrorismo racista, não transpondo a sua acção os limites da sua tribo bacongo.
No caso da Guiné, a acção armada só teve início em 1963, quando o PAIGC já dispunha de um enquadramento assegurado por um primeiro grupo de jovens formados na China e das primeiras armas fornecidas pelo rei Hassan II de Marrocos.
Embora os primeiros chefes da guerrilha do PAIGC tenham sido formados na China, Cabral soube rejeitar rigorosamente todo o envolvimento no conflito ideológico sino-soviético. O facto de a União Soviética privilegiar a análise fria das capacidades das organizações nacionalistas, com abstracção das declarações desnecessariamente marxisantes das suas direcções políticas, criou condições para um bom entendimento e a um reforço qualitativo da ajuda soviética, à medida que, no terreno, os combatentes demonstravam capacidade para dar boa utilização às armas fornecidas.
As primeiras ajudas soviéticas só foram concedidas quando o PAIGC mostrou que estava no terreno, embora mal equipado. As primeiras armas soviéticas, saídas dos paióis da II Guerra Mundial, foram PPCh, morteiros 60 e 82, canhões B10, pistolas “Macarov”.
Isto bastou para que a guerrilha pudesse mostrar presença em toda a extensão do território, embora fugindo ao contacto com as forças inimigas, ainda mais fortes. Estava-se na fase primária de dispersão das forças inimigas, que correspondeu, do nosso lado, à interrupção das vias de comunicação, das redes de electricidade e de telefones, à mobilização da população para recusar o pagamento do imposto indígena, ao que o inimigo respondeu com a criação de uma densa rede de quartéis, ainda no consulado do general Schulz. Para nós, tornava-se evidente que quanto mais densa fosse a rede de quartéis, mais fraco ficava o inimigo em cada quartel, considerado isoladamente. Chegado a esse ponto, o inimigo podia ser atacado, em emboscadas, para o isolar nos quartéis.
Quando, em 1968, o general Spínola é nomeado governador da Guiné e comandante-chefe, vastas áreas do território e as populações que as habitavam tinham passado para o controlo directo do PAIGC, onde iam sendo lançadas as bases de um estado funcionando autonomamente em relação ao poder colonial. De tal modo que Cabral já podia anunciar, junto das chancelarias e das instâncias internacionais, que a Guiné se apresentava como um país dotado de uma administração autónoma, capaz de suprir as necessidades básicas da população, e onde eram exercidos os poderes de um estado soberano, com uma parte do seu território ainda ocupado por forças coloniais.
A nova política de “Guiné Melhor” do general Spínola, embora tenha causado alguma perturbação momentânea, não tinha fôlego para travar o ritmo acelerado da luta, tanto mais que o general Spínola não podia dispor dos muito avultados recursos que a sua política requeria.
Chega-se aos princípios de 1969 com um equilíbrio de forças que, na mesma medida, se tinham reforçado de um lado e do outro. Por essa altura, vem reforçar as hostes do PAIGC o grupo de cabo-verdianos, de nível académico elevado, que estivera em formação militar em Cuba e prosseguira a formação na União Soviética, em particular no ramo da artilharia. Foi significativo o salto qualitativo que a luta conheceu quando esse grupo assumiu o comando da artilharia.
Além do mais, a presença desse grupo no terreno convenceu as autoridades soviéticas a elevar o nível qualitativo da ajuda que vinha concedendo ao PAIGC. É quando fornecem o “GRAD”, morteiro reactivo de 122 mm, com um alcance de um pouco mais de 10 km. Trata-se da adaptação da “CATIUCHA” da II Guerra Mundial às condições de guerrilha, ou seja, um lança mísseis de um só tubo, montado num tripé facilmente desmontável e transportável por um só homem. O próprio míssil divide-se em duas partes, a propulsora e a explosiva, cada uma delas facilmente transportável por um homem.
A vasta campanha contra os quartéis da frente sul, ao longo do segundo semestre de 1969, evidenciando uma significativa evolução das forças do PAIGC em qualidade de armamento e de utilização da artilharia, perturbou seriamente os planos do general Spínola de reconquistar todo o sul.
Em finais de 1969, a artilharia, que estivera concentrada na frente sul, é repartida pelas três frentes. Coube-me então o comando da artilharia da frente leste, com a missão de atacar todos os quartéis dessa vasta área: Buruntuma, Piche, Canquelifa, Pirada, Badjacunda, Gabu, Cabuca.
Tratando-se de uma área pouco habitada, com fraco valor estratégico do ponto de vista da política do general Spínola, e onde durante longo tempo as nossas forças tinham estado inactivas, havia a suspeita da intenção do inimigo de se retirar de alguns desses quartéis para encurtar o seu dispositivo e reforçar outras áreas mais ameaçadas. Para obstar tal intenção, não havia como mostrar que a ameaça estava no terreno. A exiguidade dos nossos efectivos de infantaria foi suprida pela acção da artilharia de longo alcance.
Não dispondo de mapas, socorria-me do ardil de provocar o inimigo com alguns disparos inócuos de morteiro 82, em noites de lua nova, quando o clarão da artilharia inimiga se podia distinguir a maior distância. Podíamos assim determinar não apenas a direcção, mas ainda a diferença de tempo entre o clarão e o som do disparo. Multiplicando esses segundos pela velocidade de propagação do som (360 m/s) tinha-se um valor muito aproximado da distância ao quartel.
Depois de uma ausência de quase dois anos, ocupados numa formação de marinha na União Soviética, cheguei, em Agosto de 1972, a Conakry, onde encontrei uma situação de grande tensão, criada pelos conspiradores que vieram a estar envolvidos no assassinato de Cabral, a 20 de Janeiro de 1973. Foi neste clima tenso que Cabral me lançou o desafio de preparar o ataque a Guileje, considerado o mais bem fortificado quartel da Guiné.
Ao desafio de Cabral respondi, sem hesitação, que podia destruir qualquer quartel da Guiné que ele determinasse, desde que dispusesse de meios e de tempo suficiente para a preparação de dados para a artilharia. Poucos dias depois, partia com destino a Kandiafara, onde me esperavam os 24 combatentes, cabo-verdianos e guineenses, que iam constituir o meu grupo de reconhecimento. Levava comigo fardas, mochilas, cantis, marmitas, abastecimento reforçado e tudo o mais necessário a equipar o meu grupo.
Para as necessidades da artilharia, levava várias bússolas artilheiras, bússolas de bolso, cronómetros, e até um sextante, as efemérides náuticas, bem como um frasco com mercúrio que me serviria para criar horizonte artificial para a determinação da altura do sol. O recurso à astronomia permitiu-me a determinação, com muita precisão, da declinação magnética e da longitude do lugar, por observação do sol no ponto de culminação. Menos precisa era a determinação da latitude, o que me levou a recorrer a métodos menos complicados para a preparação de dados para a artilharia.
A transposição para Guileje da experiência da frente leste não deu os resultados que eu esperava. O regime de fogo do inimigo (mais que uma peça a disparar em simultâneo) não permitia ligar o estampido ao clarão do disparo. Tive que me contentar com a determinação da direcção do fogo inimigo a partir de distâncias de 4 a 12 km, de acordo com o alcance das armas de que podia dispor: morteiros 120, GRAD e canhões 130.
Empreendi em seguida a operação delicada de ligar os pontos que me garantiam a direcção de fogo por levantamento topográfico. Com os dados das observações e do levantamento topográfico, e trabalhando sempre com referência ao norte magnético, só restava resolver um problema simples de geometria plana para ter dados precisos não apenas de direcção, mas a distância. Encontrava-me em posição de me oferecer o requinte de, com recurso a mais uma poligonal, situar a posição de fogo no meio da mata densa, fugindo das “lalas” que tinham servido para a observação do fogo inimigo.
A parte mais perigosa do reconhecimento consistiu na observação do quartel a partir do arame farpado, para termos a localização das suas instalações e as distâncias relativas às peças de artilharia. Neste trabalho, foi notável a contribuição de especialistas de reconhecimento cubanos. Foi nessas movimentações próximas do quartel que a Operação Amílcar Cabral registou as suas únicas baixas, vítimas de minas: dois mortos e um ferido, todos da infantaria que garantia a escola do grupo de reconhecimento.
Em finais de 1972, já dispunha de dados de artilharia suficientes para desencadear a operação contra Guileje, mas estavam por resolver os complicados problemas logísticos de movimentação dos efectivos que deviam vir das outras frentes, com o cuidado para que estas não ficassem demasiado desguarnecidas, transporte de armas, munições, alimentação, e até água, que foi transportada em camiões a partir de Kandiafara. Num grande raio à volta do quartel toda a água é salobra.
Depois de ter elaborado um croqui onde situava as posições de fogo, as “lalas” que podiam ser utilizadas pelos mísseis terra-ar STRELA, e para ocupar o tempo disponível, fiz o mesmo trabalho em Quebo (Aldeia Formosa).
Em Março de 1973, fez-se um teste ao comportamento dos nossos combatentes numa operação com ocupação do terreno em pleno dia, sob a protecção dos mísseis antiaéreos STRELA, que pela primeira vez entravam em cena. Foram disparados contra Guileje vários mísseis GRAD, o que deu lugar à vinda de aviões, dos quais um foi abatido e dois, atingidos, conseguiram regressar à base.
Sendo satisfatórios os resultados do teste, acelerou-se a preparação da Operação Amílcar Cabral, que teve início na manhã do dia 18 de Maio, quando o inimigo caiu num campo de minas na estrada Guileje-Gadamael.
À tarde, de uma posição a cerca de 4 km foram disparados 180 granadas de morteiro 120 (6 morteiros com 30 granadas cada), com vista a destruir os abrigos. Mais tarde, entrou em acção um canhão de 130 mm, a 12 km de distância, com um disparo de meia em meia hora, de modo a tornar impossível a vida no quartel.
Tínhamos mobilizado meios para uma operação prevista para durar um mês, mas, ao fim de dois dias, o grau de destruição causada pela artilharia era impressionante. De tal modo que a tropa e a população tiveram que passar a compartilhar em permanência a exiguidade dos abrigos, privadas de comida, água, e até de comunicações, depois que as antenas também foram destruídas.
Continuar no quartel, nessas condições, sem a menor capacidade de resposta, tornara-se inútil do ponto de vista militar. Uma nova salva de morteiros 120 por certo causaria um massacre. Por felicidade, o Sr. Coronel Coutinho e Lima, que conhecia muito bem o terreno, conseguiu encontrar uma vereda que escapara ao controlo da nossa infantaria para fazer passar, com destino a Gadamael, a tropa sob o seu comando e a população.
Por minha parte, à notícia da queda de Guileje, retirei-me, isolei-me, para descansar e reflectir. Nunca mais me aproximei de Guileje.
Passado um ou dois dias, fui informado de que devia seguir para Gadamael para a mesma missão de preparação de dados para a artilharia. Com o meu grupo de reconhecimento, fomos ver o que podíamos fazer no pouco tempo que nos era dado. Ainda conseguimos pôr em acção uma posição e GRAD, a 6 km de distância, e determinámos os dados para canhão 130, a uns 10 km. Mas não tive a oportunidade de observar de perto o quartel e a distribuição das suas instalações.
Entretanto, fui convocado a Conakry, para uma missão à Líbia. Pouco depois, a operação contra Gadamael foi interrompida. É que o Congresso do PAIGC, que devia analisar toda a situação que envolveu a morte de Cabral e designar o seu sucessor, estava a ser preparado dentro do maior secretismo. As forças empenhadas em Gadamael tinham que ser retiradas pois iam constituir o dispositivo de segurança do Congresso.
Na minha opinião, o ataque a Gadamael, na sequência da queda de Guileje, não foi a melhor opção. Melhor seria um ataque a Quebo (Aldeia Formosa) com forte pressão sobre Tombali. Com a queda de Guileje, Gadamael tornara-se uma inutilidade que não incomodava a ninguém. A sua guarnição devia ser deixada entregue aos mosquitos e ao tédio.
Praia, 13 de Junho de 2013
(*) Último poste da série > 25 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18675: Dossiê Guileje / Gadamael (31): A Retirada de Guileje foi há 45 anos (22MAI73). Poderia não ter acontecido? (Coutinho e Lima, ex-CMDT do COP 5)
15 comentários:
A falsificação da nossa História,lançar o opróbio sobre as NT, as Nossas Tropas,Exército, Marinha e Força Aérea, 40.000 homens "incapazes" de resistir à "superioridade" de 3000 guerrilheiros do PAIGC, em Maio de 1973, estes quase todos estacionados fora das fronteiras da Guiné.
Coutinho e Lima a utilizar o texto do comandante do PAIGC Osvaldo Lopes da Silva para justificar o seu abandono do aquartelamento de Guileje. Ficamos a saber, segundo Osvaldo Lopes da Silva que "as forças do PAIGC, dispondo de iniciativa, de grande mobilidade, de armamento moderno e enquadramento qualificado, estavam aptas a concentrar contra qualquer quartel da Guiné uma supremacia esmagadora". Acontece, aconteceu -- e a realidade sobrepõe-se à fantasia e à aldrabice - que essa "supremacia esmagadora" jamais se concretizou, em parte alguma. Em onze anos de guerra, nenhum aquartelamento ou destacamento português na Guiné foi conquistado pelo PAIGC ou abandonado pelas tropas portuguesas,por pressão do IN, exceptuando Guileje comandado pelo valente major Coutinho e Lima. Repito, a guerra estava difícil, não iria ser ganha,porque a solução era política e não militar,mas nenhum aquartelamento,ou destacamento foi conquistado ou abandonado na Guiné, até ao fim da guerra em 1974, pelas tropas portuguesas e pelos guineenses que combatiam a nosso lado. Onde estava a "supremacia esmagadora?" Tudo aldrabices, falsificações e patranhas para enganar os ingénuos da nossa História comum.
Curiosa também a afirmação de Osvaldo Lopes da Silva que fala "na implantação, no norte de Moçambique de um milhão de colonos portugueses", ou seja, um milhão, mais de dez por cento da população do Portugal, a emigrar para Moçambique, em 1974.
Há pessoas que continuam a acreditar nestas extraordinárias mentiras, que continuam a levar tudo isto a sério.
Abraço,
António Graça de Abreu
Graça Abreu
'mas nenhum aquartelamento ou destacamento....ou abandonado na Guiné...por pressão do IN,.... até ao fim da guerra em 1974...'
Madina, Cheche e Beli, estes de triste memória, como deve ser considerada a retirada?
Há pessoas que ainda continuam a lembrar-se de tudo isto.
Mas, houve mais.
(como diria o outro, é só fazer as contas/contar pelos dedos)
Ab
Valdemar Queiroz
... Ponta Varela, Ponta do Inglês (no subsetor do Xime), Sangonhá, Cacoca (no subsetor de Cacine), Madina Xaquili (no subsetor do Galomaro)... São apenas alguns exemplos que me ocorrem de aquartelamentos e destacamentos que as NT retiraram...
Não gosto do termo "abandonar"... A retirada resultou de decisões de cima... E foi ordenada... Resultaram da retração do dispositivo por razões estratégicas, tácticas, operacionais, logísticas, populacionais... Não vale a pena usar "eufemismos"... A guerra é um jogo de xadrez...
Na Guiné, perdeu-se, logo início da guerra, muitas tabancas: bastava ver os mapas ou as cartas militares, que eram anteriores à guerra: no setor L1 (Bambadinca), Samba Silate, Poindom, Ponta Varela, Ponta do Inglês é muitas outras povoações, nomeadamente na margem direita do rio Corubal, só existiam no mapa ou na carta... quando eu andei lá (1969/71),
Abraço, LG
Dizia-se, em 2008, por ocasião do Simpósio Internacional de Guiledje, uma iniciativa memorável devida ao génio organizativo do nosso grã-tabanqueiro Pepito, que o Osvaldo Lopes da Silva não tinha vindo a Bissau pela simples razão de que não se queria encontrar com o 'Nino' Veira: os dois teriam uma relação de ódio mortal...
Nesta comunicação de 2013, o Osvaldo Lopes da Silva fala em "razões de ordem pessoal" para justificar a sua "injustificável" ausência do Simpósio... onde não faltaram os cubanos...
O próprio Pepito também tinha, em relação ao 'Nino' Vieira, um enorme desprezo. E, embora o 'Nino' Vieira fizesse parte da "comissão de honra" do Simpósio, na qualidade de presidente da República, ele e o Pepito nunca se encontraram, nem oficial nem oficiosamente... Pelo menos que eu me tenha apercebido...
De resto, o 'Nino' só apareceu à última hora, no penúltimo dia, rodeado de seguranças... E no último dia, 7 de março de 2008, o 'Nino« recebeu uma delegação de 20 congressistas, estrangeiros, incluindo portugueses (como eu, que não o cumprimentei)...
Nessa ocasião, Pepito mandou um dos seus colaboradores, o Roberto Quessangue, cofundador e presidente da assembleia geral da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, especialista em questões agrícolas e ambientais, para nos levar até à presidência... (Infelizmente, já morreram os 3, o Pepito, o 'Nino' e o Roberto.)
Na Guiné, a inimizade política torna-se rapidamente em inimizade pessoal... E o Pepito tinha muitas razões para temer as prepotências do 'Nino'... Com o Osvaldo Lopes da Silva e outros cabo-verdianos do PAIGC terá acontecido o mesmo... LG
RTC - Radio Televisão Caboverdiana
SHOW DA MANHÃ DE 12 SET 2018
publicado em: 12 Set 2018
Show da Manhã - Conversa com Osvaldo Lopes da Silva, da Fundação Amílcar Cabral
Neste de vídeo de mais de 14 minutos, o Osvaldo Lopes da Silva fala sobre as suas memórias de Amílcar Cabral, de quem era amigo, e de cuja família era vizinho e próximo...
O Osvado aparece como um tipo calmo, ponderado, de fala pausada, com boa memória, reflexivo... Tem o perfil do bom artilheiro... Não era o típico guerrilheiro, o homem do mato... Era um senhor... Naturalmente, partilha de algumas ideias feitas, na altura muito propagandeadas pelo PAIGC, que não têm fundamento empírico nenhum: como, por exemplo, a iminência da derrota militar do exército português em 1973, a paralisação da força aérea por ação do Strela, etc.
Toda a gente tem "ideias feitas": por exemplo, muitos de nós fomos para o "ultramar" com a "ideia feita" da "bondade" da nossa ação civilizadora e cristianizadora... Eu pessoalmente fiquei muito "dececionsado" por não encontrar na Guiné os missionários católicos, brancos, de sotaina e barbas brancas, que imaginava, desde os tempos de catequese, a converter e a batizar os "pretinhos da Guiné"...
Coisas, enfim, que faziam parte do meu "inocente" imaginário de "menino de coro"... Em boa verdade, em 22 meses de "comissão de serviço" não vi nenhum... E brancos, muito poucos... E E fiz a guerra com muçulmanos que não falavam português...
Para esclarecimento do sr.Osvaldo,só um avião foi abatido,tendo o respectivo piloto,o Pessoa(Kurika) se ejectado e foi recolhido cerca de 16 a 17h depois, os outros dois aviões foram alvejados,não atingidos,e permaneceram na zona de buscas,retaliaram para a zona dos disparos, até terem regressado à Base por pouco combustível.Até à noite várias aeronaves permaneceram na zona sem mais algum disparo de Strellas.
A narrativa artilheira deste senhor é uma salgalhada sem ponta por onde pegar. "Calcula" coordenadas geográficas de que locais? Das posições? Para quê se não as tem do objectivo pois procurou obter orientação azimutal via clarões das bocas de fogo de Guilege?! Ligou as posições com uma poligonal?! Como assim? Como define azimutes sem linha de vista? Como calcula distâncias? A passo, a corta-mato?! E como orienta a caminhada? Ou também calculou latitudes e longitudes? Apurou a posição relativa das bocas de fogo de Guilege! Para quê? Fazer de cada uma um objectivo?!
Enfim, basófia muita, ciência pouca e assistência benévola ou ignorante.
O que certamente aconteceu foi ajustar fogos com observação avançada consentida pelo "recolhimento" das NT. Assim aconteceu em Fevereiro de 72, em Gadamael, mas felizemente os intervenientes na observação e no cálculo eram analfabetos na direcção do tiro. Tomadas medidas de interdição nunca mais o conseguiram fazer passando a executar fogos escalonados em alcance (tiro rolante).
Na Guiné, as artilharias das NT e do IN eram baratas tontas que actuavam por "intuição" a partir do som e do conhecimento do terreno (quem o conhecia a palmo). Muitas vezes pedi ao meu Cmdt-Chefe que me arranjasse um radar contra-morteiro e o problema da artilharia IN era assunto arrumado. Infelizmente nunca recebi o "presente".
Morais da Silva
Coronel de Artilharia
Professor de tiro de Artilharia na EPA e na Academia Militar
Vamos ver se nos entendemos. Houve aquartelamentos que, por condicionamento da luta, foi considerado que, devido a razões de logística militar, seria melhor acabar com esses estacionamentos. Houve alguma vitória militar do PAIGC, tipo Guileje e Coutinho e Lima, no Mejo, Cheche, Madina do Boé, Cacoca? Uma coisa é uma retirada estratégica de um aquartelamento, outra coisa é a fuga, a debandada face ao inimigo. Isso só aconteceu uma vez, na Guiné, em onze anos de guerra. Isso nunca aconteceu em Angola e Moçambique. Coutinho e Lima sabe.
Abraço.
António Graça de Abreu
Graça de Abreu
OK.
O abandono/retirada de localidades e zonas do território (ex.Boé)) foi tudo por razões de logística militar.
Provavelmente, se o conflito durasse mais tempo, por razões de logística militar 'recuaríamos' até Bissau e, quem sabe, até Lisboa e acabava a guerra sem que
houvesse alguma vitória militar do PAIGC.
Ab.
Valdemar Queiroz
Caro amigo Luis Graça,
Retenho a seguinte frase do teu comentario:
"Coisas, enfim, que faziam parte do meu "inocente" imaginário de "menino de coro"... Em boa verdade, em 22 meses de "comissão de serviço" não vi nenhum... E brancos, muito poucos... E E fiz a guerra com muçulmanos que não falavam português…"
E acrescento que este foi o paradoxo da colonizaçao na Guiné (Portuguesa) e sempre tinha sido assim no decurso dos seculos XIX/XIX: "Fazer a Guerra com muçulmanos que nao falavam portugués" para de seguida manda-los de volta para as suas savanas do Leste porque eram precisos para dominar os povos rebeldes e insubmissos do litoral, mas a sua religiao que fazia lembrar os velhos inimigos mouros do Norte de Africa, nao convinha de forma alguma. Foi assim com o administrador de Geba Calvet de Magalhaes, o Ten. Marques Geraldes, o Graça Falcao, o Cap. Teixeira Pinto e todos os outros Governadores e chefes militares que por la passaram. No fim (1974), acabam inexoravelmente por entregar o territorio aos mesmos "bandidos vs turras", rebeldes e insubmissos e depois estavam a espera que acontecesse o milagre de ver a Guiné na senda do desenvolvimento e do progresso ? Acho tudo isso de uma incoerencia e de fanatismo religioso incompreensivel.
Com um abraço amigo,
Cherno Baldé
O Coronel Coutinho e Lima continua activista em defesa da sua honra, por ter decidido - em desobediência, o que não será displicente - a retirada de Guileje. Como sei, por experiência própria, o que é a viver horas, dias, semanas e meses sob as ameaças em permanências das granadas vindas do céu pelas armas de tiro curvo, estou convencido e respeito a sua honestidade.
A retirada de Guileje é facto acontecimental, como a caixa de Pandora do colapso militar de Portugal na Guiné.
E não me escuso ao reparo de que o Coronel Campos Costa procedeu em Guileje exactamente ao contrário de Coutinho e Lima- o que faz outras ilações...
O virtuoso "militante armado" do PAIGC dr. Osvaldo Lopes da Silva, patrono do aeroporto internacional do Sal, sempre falou com sobranceria, pelos seus talentos militares, ante o Nino Vieira, os seus pares e ante a oficialidade portuguesa politicante correcta.
Não obstante o reconhecimento de "olho e ouvido" junto ao arame farpado dos alvos da sua poderosa e destruidora artilharia ter sido feito por cubano, ele foi tão derrotado em Guileje quanto o Manecas dos Santos em Guidaje.
A infantaria do PAIGC não conquistou nem uma nem outra posição.
A Artilharia não ganha batalhas; todas as guerras são ganhas pela Infantaria - a arma mais viril de todos os exércitos (ainda não havia a "igualdade do género").
OLS diz que a transferência dos bombardeamentos de Guileje para Gadamael foi um erro (do seu par Pedro Pires), que deveria ser sobre Aldeia Formosa (Quebo). Pois, pois. Ele mandaria as bujardas lá de longe, mas o Nino recusaria investir a sua infantaria a essa distância da fronteira.
Com a não ocupação de Guileje e o fracasso de Gadamael, o PAIGC trouxe à evidência a fragilidade concepcional táctico-estratégica da Spinolândia.
Se o General Spínola, quando foi e fugiu de Gadamael no seu helicóptero, empurrado pelo Coronel Rafael Durão, tivesse pegado naquela briosa e valente malta e fosse reocupar Guileje - talvez a história e a situação da Guiné tivesse sido outra.
O texto de OLS é bem elaborado. Entre outras falácias, respigo esta.
Se o poderio do PAIGC e da sua artilharia era capaz de conquistar qualquer ponto da Guiné, por que a operação Amílcar Cabral incidiu apenas sobre guarnições ofensivas? Onde estava a sua ocupação do terreno?
Ab.
Manuel Luís Lomba
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Corrijo o último parágrafo: em vez de ofensivas eu queria dizer fronteirças.
Ab
E também deveria ter escrito Coronel Correia de Campos..
Ab
Manuel Luís Lomba
Calma Cherno, pode ser que os papeis de Bissau e Biombo ainda se venham a adaptar à governação e governem bem, e ate a frequentar a Mesquita em vez da Sé ou o animismo,assim como a gente de Mansoa e ou de Cacheu etc.
Mas não foi com esses nem com os mussulmanos que os homens do MFA e o Mário Soares negociaram após o 25 de Abril.
O Mário Soares nem falava crioulo quando fez as negociações, foi em português puro que as negociações foram feitas, foi com doutores e ex-funcionários portugueses, os braços direitos de Amílcar, Pedro Pires, Aristides...e mais uns tantos berdianos.
Mário Soares, Vasco Gonçalves e Almeida Santos, nem conheciam Nino Vieira nem Saturnino...e talvez nem soubessem bem qual o papel dos papeis e balantas...nem de Teixeira Pinto.
Com Angola e Moçambique foi a mesma coisa,o povo também não foi ouvido, só foram ouvidos uns tantos bem aventurados.
Com aqueles negociadores (tugas) foi acelerador afundo e quem cá fica que se desenrasque.
Cherno, achas incoerência nisso?
Depende de quem olha.
Não me perguntes a mim que sou retornado.
Virgílio Teixeira
29 de agosto de 2018 11:25
Pela minha parte nunca vou renegar a minha pequena colaboração na nossa guerra da Guiné.
Estimo, aprecio e dou grande valor aos nossos combatentes, há 50 anos que vivo com este trauma.
Mas não dou qualquer importância aos nossos Inimigos de sempre, muito menos quero saber nada do que dizem ou escrevem, ou as suas motivações.
Fui para a guerra em nome da Pátria, e Ponto.
Abraços,
Virgilio Teixeira
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