sexta-feira, 5 de março de 2021

Guiné 61/74 - P21973: Blogues da nossa blogosfera (152): "Sempre renas", de JB [, José Belo]: o melhor blogue de fotopoesia da Lapónia sueca


"É uma casa... portuguesa ? /  Sim, dizem uns, outros, não, / Não se tem bem a certeza, / O dono é luso-lapão"... 

"È Belo, não Ruy, José / E de renas, criador, / E agora blogador /, Mas fala pouco... da Guiné"... 

"Diz que o mar o despejou. / E não é nenhuma facécia, / Neste reino da Suécia, / E  só por amor ficou"...

Foto: J. Belo (2020) (Com devida vénia...). Legenda: LG (2021)


1. Blogue Sempre renas, editado por JB desde fevereiro de 2021. 

O seu "perfil"! no Blogger traz poucas informações sobre o blogador Género: Male [, Masculino];  Indústria: Direito / Lei. Localização: Lappland / Sweden  - Key West / Florida / USA. 

Administrou em tempos o blogue "Lappland to Key West" [ ,Da Lapónia a Key West], que já não está "on line" ou em linha (*)... O mesmo aconteceu com o blogue "Merely... Lapland" [, Simplesmente... Lapónia]... 

Afinal, o régulo da Lapónia de vez em quando "desaparece", mas nunca se perde, tal como as suas renas e os seus cães... A última vez foi no ano de 2016... Andou um ano inteiro "desenfiado".... por razões que todos respeitamos (e temos que respeitar). (**)

Como em tempos escrevi, a presença aqui, na Tabanca Grande, de antigos camaradas como o José Belo, que representam  de algum modo a figura do marginal-secante  (o que intersecta dois mundos ou dois sistemas), é extremanete valiosa  e importante para todos nós, porque tem o mérito de nos alertar para (e, logo, ajudar a prevenir) o risco da criação, no nosso blogue, de um pensamento de grupo (em inglês, groupthink)... Ou, como se diz hoje em dia, "pensamento único"... 

Este fenómeno (grupal) tem sido estudado pelos cientistas sociais, incluindo os politólogos. Basicamente, ocorre em grupos demasiado homogéneos e coesos (como são por exemplo, os "homens do Presidente", o "comité central" de certos partidos políticos,  os grupos de combate de forças especiais, e até os ex-combatentes, de um lado e do outro das guerras, como a guerra do ultramar / guerra colonial )... 

Os membros do grupo tendem a minimizar os conflitos interpessoais, a existência de diferentes perspectivas e opiniões, valorizando o consenso a todo o custo, forçando o unanimismo, passando por cima, escamoteando, branqueando, ignorando, criticando  e, em última análise, proibindo e eliminando as saudáveis divergências individuais, ou seja, a necessária e desejável pluralidade de opiniões, valores, percepções, experiências, vvências, informações,  conhecimentos...

Em situações-limite, como a frente de batalha, a coesão grupal e o "espírito de corpo" são fundamentais. Mas o pensamento de grupo pode ter (e tem) consequências disruptuvas e negativas, a nível psicossocial e cognitivo: a pressão para a conformidade e o alinhamento ideológico e comportamental levam, muitas vezes ou quase sempre, à perda de criatividade individual, ca capacidade crítica, da idiossincrasia de cada um, da autonomia, da liberdade de pensamento e de expressão, e infelizmente também à radicalização do discurso e à violência verbal contra o "outro" que não pensa como "nós"... Veja-se como as "igrejas" (religiosas ou laicas) lidam com o fenómeno da "dissidência"...

Tem-se visto isso mais recentemente, seja a propósito da morte de um bravo mas controverso combatente, seja a propósito de  símbolos (como as estátuas e outros signos) das nossas cidades, relacionados  com a colonização/descolonização.

Em suma, muitas decisões (políticas, militares, económicas...) acaba(ra)m em "desastre" devido possivelmente a este fenómeno do "pensamento de grupo". 



2. Dito isto, saudo o regresso do blogue da Tabanca da Lapónia, agora rebatizado "Sempre renas"... 

http://semprerenas.blogspot.com/

O nosso régulo da tabanca de um homem só (, tendencialmente aristocrática, mas "agora aberta ao povo" (**) , que se protege  dso efeitos letais  da solidão com o melhor da natureza da Lapónia sueca e da literatura em português e em sueco...  

Não esconde quais são alguns dos seus preferidos, poetas, escritores, pensadores: Fernando Pessoa, Ruy Belo, Augusto Strindberg, Nils Ferlin e o próprio J. Belo ... Autores por onde perpassa a alegria e o absurdo da vida, sob a "pele" do humor,  do sarcasmo  e da auto-ironia... mas também a procura das suas raízes existenciais mais fundas, sem esquecer a pátria / mátria / fátria, afinal lá tão perto e cá tão longe... e com quem mantém uma relação de amor-ódio, como qualquer bom português da diáspora, desde há séculos (de Camões a Jorge de Sena, do Padre António Veira ao Marquês de Pombal, de Sanches Ribeiro a Fernando Pessoa, de Amadeu Sousa Cardoso a Paula Rego, só para falar de alguns "estrangeirados")...

Citando Ruy Belo (, não são primos, não senhor...), o J. Belo escreve: 

"O meu país ?... O meu país é o que o mar não quer".

Daí os títulos dos postes, ou as legendas das fotografias,... São pedaços de versos, verdadeiras pérolas do pensamento sincrético,  que ele vai buscar ao seu poemário... 

Daí eu chamar-lhe um blogue de fotopoesia, em português, do melhor que há na Lapónia, editado por um luso-lapão que faz gala em dizer, sem nunca se queixar ou reclamar, que o vizinho mais próximo está a escassas 3 centenas de quilómetros:

"As casas vestem os silências das noites".......Home sweet home !


"No meu País ? No meu País não acontece nada... Todos temos uma janela para o mar voltada"  


"Amo infinitamente o finito"


Enfim, um blogue que faz muita falta à nossa blogosfera e... à nossa "higiene mental". (***).

PS - Curiosamente, o José Belo é autor de uma série a que eu dei o título, que ele provavelmente detesta desde o início, mas ficou assim grafado: "Da Suécia com saudade"... Acontece que eu nunca lhe vi, escrita, a palavra "saudade", demasiado "lamechas" para o seu gosto "assuecado"...(Afinal, 40 anos de diáspora, ou de auto-exílio,  em cima do lombo de um português é muito ano...).
_______________


(...) A ideia inicial (e como tal funcionou até aqui) da Tabanca da Lapónia,foi a de dar notícias sobre a Guiné aos inúmeros ex-cooperantes Suecos, Noruegueses e Dinamarqueses, que continuavam interessados, e nostálgicos, quanto à sociedade guineense, como nós, ex-combatentes, ainda e sempre ( tão estranhamente, pelas condições subjacentes) ligados, e amigos sinceros da Guiné-Bissau e dos seus Povos.

A evolucao político-social no país, com um sempre crescente domínio militar, falta de liberdades reais, aliados a uma corrupção galopante, a somar-se à crescente influência dos cartéis internacionais da droga, cada vez mais infiltrados em todos os níveis do poder local, têm criado imagens muito negativas nos meios informativos escandinavos. Criou-se grande desilusão e desinteresse entre muitos, mesmo os que vinham a auxiliar a Guiné desde o início dos anos 60.

Perante tudo isto, e tendo em conta inúmeros E-mails locais por mim recebidos, foi decidido modificar o rumo "editorial" da http://www.lapplandkeywest.com/, voltando-se agora para um diálogo mais prioritário para com o nosso querido Portugal. (...)

(**) Vd. poste de 21 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16860: O nosso querido mês de Natal de 2016 e Ano Novo de 2017 (11): Joseph Josephsson, aliás J. Belo, o régulo (e único tabanqueiro) da Tabanca da Lapónia...

(****) Último poste da série > 28 de fevereiro de  2021 >Guiné 61/74 - P21957: Blogues da nossa blogosfera (151): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (61): Palavras e poesia

7 comentários:

Anónimo disse...

Que introdução a um simples bilhete postal turístico enviado a Amigos.
Que introdução Senhor Professor!

E vamos lá tentar continuar a “Absurdar” esta viagem involuntária que é a vida.

Um grande abraço do J.Belo

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Essa do "absurdo" da vida descobri-a, na adolescência, com a leitura dos existencialistas que estavam na moda: Sartre, Camus, Beauvoir, Malraux, Kierkegaard, Virgílio Ferreira...

A introdução é merecida. Depois pagas-me em géneros (pode ser um um copo do teu famoso vodca a mais de 90º).

Mas te recomendei: tens que pôr um letreiro à porta da Tabanca com os dizeres, para prevenir abusos: "O hóspede e o peixe ao fim de três dias fedem"...

Quando a saúde e a pandemia mo permitirem, ainda te hei de bater à porta... Aceitas reservas ? Vem aí o desconfinamento e, na pior das hipóteses, a 4ª vaga...que a malta agora vai é "desbundar" (, como dizem os primos brasileiros)...

Há quem diga (, a pitonisa de Delphos...) que vamos ter uma década tipo "os loucos vinte anos" do século passado... Eu sei que "a História não se repete", mas eu não gosto do cenário...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

(Ab)surdos mas não cegos e mudos...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Ah, todo o cais é uma saudade pedra. (Ode Maritima, Álvaro de Campos).

Obrigatório ler antes de bater a bota..
.

Anónimo disse...



Os nossos escritores e poetas , que viveram lá fora, estrangeirados ou não, Sá de Miranda, Luís de Camões, Luís António Verney, padre António Vieira, Fernando Pessoa, Camilo Pessanha, Manuel Alegre, Jorge de Sena, Eduardo Lourenço e tantos outros, sempre enriqueceram muito a nossa literatura, filosofia e cosmopolitismo.
O Joseph Belo, é um herdeiro de todos eles, pela sua prosa poética, pelo seu amor à Pátria e pela sua identificação planetária, com todas as comunidades.
Grande abraço.
Francisco Baptista

Anónimo disse...

Meu Caro Amigo Francisco Baptista.

Palavras amigas que chegam para aquecer o gelo do Ártico.
De todas elas, não merecidas, é o amor à Pátria que sempre sentirei orgulho de assumir.

O nosso profundo relacionamento com a ideia de “Pátria” tem uma boa análise em pensamento de famoso humanista, creio que sueco:
“Para sentirmos verdadeiramente a falta de uma coisa temos que perdê-la primeiro “.

Um grande abraço do J,Belo

Fernando Ribeiro disse...

Então o blog "Sempre Renas" já acabou?!...