domingo, 13 de março de 2022

Guiné 61/74 - P23074: Memória dos lugares (437): Rio Mansoa, destacamento de João Landim (Victor Costa, ex-fur mil at inf, CCAÇ 4541/72, Safim, 1974)


Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4


Foto nº 5

 Guiné > Região do Cacheu > Rio Mansoa >  Destacamento de  João Landim

Fotos (e legendas): © Viictor Costa (2022). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Região do Cacheu > Rio Mansoa > João Landim > 1965/66 > A famosa jangada que atravessava o Rio Mansoa em João Landim, ligando Bissau com a região do Cacheu

Foto (e legenda): © Virgínio Briote (2005). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região do Cacheu > Mapa de Bula (1953) > Escala 1/50 mil > Pormenor: Rio Mansoa e passagem em João Landim.

Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2016)


1. Mensagem do Victor Costa, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 4541/72 (Safim, 1974)

Data - 12 mar 2022 17:09 
Amigos e camaradas da Guiné,

Ao longo da História,  os Rios e os Portos tiveram sempre muita importância numa guerra e os rios da Guiné, como não podia deixar de ser, tiveram também aqui um papel de relevo.

Este tema que pretendo abordar prende-se com o facto das fotografias que pretendo ver publicadas se referirem ao Rio Mansoa, ao Porto de João Landim e daí até a Foz, às Jangadas que realizavam a travessia, à proteção das pessoas e bens que as utilizavam, à amplitude das marés e à segurança e riscos associados ao funcionamento da engrenagem e também aos acidentes que vitimaram muitos de nós.

Todas estas fotografias não incluem equipamento militar nem armas, apesar da maior parte delas serem tiradas de cima de uma jangada militar. Isto não foi devido a qualquer imposição do Comando ou dos meus superiores mas por opção minha e deve-se a uma tonteria dum puto 22 anos que não queria que quando o rolo fosse revelado em Bissau pudesse fornecer ao IN qualquer informação por mais pequena que fosse das NT. Também não foi com a ideia de prejudicar quem acima de mim mandava, até porque era uma pessoa de trato fácil, muito correta e se calhar não dava muita importância a estas questões por ser do interior. Mas acontece que eu nasci e vivo numa zona onde desde miúdo convivi com o Rio, o Mar, a amplitude das marés e os riscos aí associados.
 
Quando em meados de Maio de 1974 fui colocado no Destacamento de João Landim Norte a minha travessia do Rio Mansoa foi feita na praia-mar, foi muito fácil e decorreu sem incidentes.

Mas durante as operações de segurança que ali fiz constactei que, apesar do Porto de João Landim estar a mais de 40 Km da foz (Mar), a influência das marés fazia-se sentir fortemente, com um caudal também muito forte e ainda com uma amplitude de maré superior a 4 metros e onde naturalmente se passeava o tubarão negro.

As próximas 5 fotografias tiveram como objectivo captar:

1º O aluvião descoberto no leito do Rio na baixa-mar para poder calcular a altura entre o nível da maior e da menor maré.

2º O desnível da rampa de acesso à jangada a marca da maré na margem e as dificuldades associadas.

3º A entrada das pessoas para a Jangada civil e a Lancha da Marinha a executar a proteção.

4º A Jangada a navegar no Rio sem qualquer dificuldade.

5º A minha última travessia e despedida já ao longe do edifício do Porto de João Landim, felizmente mais uma vez sem qualquer problema.

Para concluir,na minha modesta opinião, durante o período da Lua, o risco de embarque e desembarque nas Jangadas fora do pico da maré era muito elevado.

Um abraço,
Victor Costa
Ex-Fur Mil At Inf
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Nota do editor:

Último poste da série > 8 de março de 2022 > Guiné 61/74 - P23058: Memória dos lugares (436): Safim, às portas de Bissau, e o terminal dos autocarros da A. Brites Palma (Victor Costa, ex-fur mil inf, CCAÇ 4541/72, Safim, 1974)

2 comentários:

João Rodrigues Lobo disse...

Jangada de João Landin.Ponto chave de passagem.Por ela passei várias vezes para levar viaturas e máquinas de Engenharia para as obras, nomeadamente para construção de estradas.Quase sempre com proteção das Companhias do outro lado.Mas na minha memória focou um "episódio " por ventura irresponsável, em que eu,outro alferes e um ilustre capitão, no tédio de uma noite de serviço,resolvemos ir ,no Austin do capitão,dar um passeio. Fomos andando até á jangada e, como estava tudo calmo,conseguimos convencer os fusos a deixarem-nos passar.Fomos nas calmas até Có. Aí fomos recebidos com "estupefacção ". Já não queriam deixar-nos regressar nessa noite. Depois de muitos argumentos lá conseguimos convencer o capitão da companhia a deixar-nos regressar. O nosso capitão vinha conduzindo muito devagar evitando alguns buracos da estrada. A certa altura eu que vinha no lugar ao lado vi sinais de luzes no cimo de uma árvore alta. Com gestos fiz sinal ao camarada do banco de trás que também os viu. Então começámos a dizer ao capitão para conduzir mais depressa para chegarmos mais cedo ao batalhão sem lhe referirmos os sinais. Ele lá acelerou um pouco e chegámos á jangada que chamámos com as luzes dos faróis e nos levou para a outra margem. Pela primeira vez conto este "episódio " e acho que a cena dos sinais ainda hoje o capitão não a sabe. Assim como no Beng ninguém soube da "aventura".
Segundo apurei mais tarde os sinais de luzes eram utilizados pelo IN para sinalizar movimentos nas estradas. Julgo que escapámos de ser apanhados á mão.
João Rodrigues Lobo.

Valdemar Silva disse...

Caro Victor Costa, belas fotografias.
A nº. 3, com uma "confusão" para embarque, faz-nos lembrar a confusão que não seria quando ocorreu o desastre no Rio Corubal na evacuação de Madina do Boé.
Evidentemente, esta jangada nada tem que se pareça com a que fazia a travessia fatídica, como podemos ver na última fotografia. E porque não havia uma destas na travessia do Corubal?
Um pormenor interessante é a tua preocupação de não fotografar posições militares sem autorização ou que pudessem cair nas mãos do IN. Essa é boa !!!
Então, só haveria fotografias de bajudas e paisagens.
Pese embora eu também achar haver fotografias no blogue que bem poderiam dar jeito ao IN, p.ex. as fotografias aéreas do Humberto Reis até parecem de espião, a grande maioria das fotografias que a rapaziada tirava eram sempre em ambiente militar a todos os níveis. E não podia ser outra coisa.
E como curiosidade, havia aquela de:
Um dia fui à praia
Estrear os meus calções.
Veio de lá uma onda
E molhou-me os .....
Não por estar maré baixa.
Quero com isto dizer que esta maré baixa é o baixa-mar e o contrário é maré alta ou praia-mar. Praia-mar é como popularmente se diz, mas o correcto é preia-mar como já dizia Gil Vicente.
Atira-nos com mais fotografias e mais estórias daqueles tempos que nunca mais esquecemos.

Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz