domingo, 22 de outubro de 2023

Guiné 61/74 - P24783: In Memoriam (487): António Eduardo Jerónimo Ferreira, (15/05/1950 - 21/10/2023), ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CART 3493 / BART 3873 (Mansambo e Fá Mandinga, 1972/74)

IN MEMORIAM

António Eduardo Jerónimo Ferreira (1951-2023)
Ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CART 3493 / BART 3873


Mais uma notícia que nos deixa triste, esta a do falecimento do nosso camarada António Eduardo Ferreira que há muito lutava contra um cancro.

O seu filho, Paulo Jerónimo, enviou-nos ontem esta mensagem através do Formulário de Contacto do Blogger:

Boa noite sou Paulo Jerónimo, filho do vosso camarada António Eduardo Jerónimo Ferreira.
É com enorme tristeza que venho comunicar-vos que o meu Pai deixou de estar entre nós, não terminou a sua luta contra o cancro que o atacava há 20 anos.

Um grande abraço a todos.
Cumprimentos,
Paulo


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O António Eduardo Ferreira apresentou-se à nossa tertúlia no dia 15 de Março de 2012 (Vd. P9608), tem 74 entradas na nossa página, e foi um colaborador muito activo, mesmo nos períodos em que a sua doença o debilitava mais.

Dizia-nos ele na sua mensagem de apresentação:

[...]
A primeira coisa que fiz mal comecei a mexer no computador ainda que timidamente, (ainda hoje) foi escrever o que foi o meu tempo de Guiné tendo em vista deixar para memória futura. Por essa altura ainda não conhecia o vosso blogue. Tudo que me lembrei escrevi pelo que te envio esse trabalho de onde podes retirar alguns excertos se assim o entenderes. Não será muito o tempo que tens para ver todo o trabalho, verás se, e quando for possível.
Dentro de poucos dias enviarei as fotos para poder (com muito gosto) fazer parte do vosso grupo.

[...]

Tem duas séries suas, O tempo que ninguém queria e Pedaços de um tempo, além de ter outras publicações integradas nas séries "Blogpoesia" e "Blogoterapia", entre outras.

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A propósito da sua morte, diz o nosso camarada António Duarte (ex-Fur Mil da CCAÇ 3493 e CCAÇ 12):

Boa tarde a todos os camaradas.

Mais um de nós que nos deixa.
Estive com o Ferreira em Mansambo até ir para a CCaç 12 em Janeiro de 1973. Lembro-me dele 
como um homem que se destinguia dos restantes, pela sua maturidade, apesar de sermos todos, ou quase todos da mesma idade.

Acompanhei sempre com atenção os seus escritos aqui no Blogue, destacando os relatos dos acontecimentos em Cobumba, local que não cheguei a conhecer.

Revelava uma humanidade no que escrevia, que comovia, fazendo de forma muito sentida a ligação das crianças de Mansambo e de Cobumba, que com ele conviviam, ao seu filho acabado de nascer dias antes, de se juntar à CArt 3493, já na Guiné.

Deixo um grande obrigado ao nosso camarada Ferreira, pelas recordações que com todos nós partilhou e à família apresento as minhas condolências, nesta hora de dor.

O Ferreira viverá em todos nós enquanto por cá permanecermos.

Um abraço a todos e um em particular ao filho.

António Duarte
CArt 3493 e CCaç 12


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Como diz António Ferreira no texto que reproduzimos abaixo, quando partiu para a Guiné, deixou a sua esposa com um filhote acabado de nascer, na Maternidade, por isso o seu estado de alma não seria o melhor quando lhe aconteceu este episódio:

A caminho de Mansambo com o pensamento na Nazaré

Lá longe, ouvia-se algo estranho... e eu sem saber que era normal… cada vez estava mais confuso, com o olhar fixado nas mulheres e nas crianças que estavam próximo de mim. Mas a minha mente estava muito longe dali, situação que eu tentava, mas não conseguia disfarçar.

Na véspera da minha partida para a Guiné também eu tinha deixado a minha esposa com o meu filho na metrópole, não a brincar, mas na maternidade do hospital no Sítio da Nazaré onde ele tinha nascido dois dias antes da minha ida para a guerra. A ânsia em que eu estava a ficar mergulhado, começou a tomar conta de mim e a tornar-se por demais evidente, foi então que uma das mulheres que ali estava me dirigiu umas palavras que eu não entendi, por isso nada lhe disse. Ela tinha uma oleaginosa na mão que partiu com os dentes, deu-me metade e comeu a outra metade. Mesmo sem saber o que era aceitei e comi.

Foi aquele tempo que ali estive junto daquelas mulheres e crianças, enquanto esperava transporte para Mansambo, um dos mais conturbados do meu tempo na Guiné. Ainda hoje não sei o nome daquilo que a senhora me ofereceu e que eu aceitei. Mas não mais esqueci a intenção e o apoio que aquela mulher, sem me conhecer, entendeu dar-me naquele momento tão confuso e triste que eu estava a viver.

Faço votos para que aquela Senhora e a família tenham tido e continuem a ter a felicidade possível, por companhia!... 

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Falando ainda de crianças, deixamos este texto que nos foi enviado pelo António Ferreira em 2021 e publicado no P22219:

As crianças de Mansambo e de Cobumba

Há dias, quando da passagem de mais um aniversário (já são 71) o amigo Cherno Baldé ao enviar-me os parabéns dizia que eu ainda não teria esquecido as crianças de Mansambo assim como de outros sítios por onde passei na Guiné. Se existe alguém que eu jamais esquecerei “enquanto a mente me permitir” são as crianças da Guiné daquele tempo.
Crianças de Mansambo, ao tempo da CART 2339 (1968/69)

Foto ©: Torcato Mendonça (Fotos Falantes IV) 2012. Direitos reservados

Começando pelas de Mansambo, a esta distância no tempo, basta, mentalmente olhar para lá e logo as vejo a brincar... com particular destaque para o tempo que eles passavam a jogar a bola, que era muito. Os condutores de que eu fazia parte, éramos oito no mesmo abrigo, tínhamos um menino que durante algum tempo trabalhava para nós... a quem chamávamos faxina, o primeiro foi o xerife (o nome porque era conhecido, não sei se era assim que se escrevia) o serviço que lhe estava destinado era ir à cozinha buscar a comida na hora das refeições para trazer para o abrigo... depois comia connosco e a seguir lavava a loiça. Ao fim do mês recebia algum dinheiro que todos lhe dávamos, já não me recordo qual era o valor. Passado alguns meses de lá estar vim de férias à metrópole, mas antes já lhe tinha prometido quando voltasse que lhe levava uns sapatos.

Passado o mês de férias quando regressei a Mansambo o xerife tinha sido substituído, não sei qual o motivo... o seu lugar passou a ser ocupado pelo António a quem assim que cheguei lhe pedi para ir à tabanca chamar o xerife para lhe entregar os sapatos conforme lhe tinha prometido, pedido por ele logo aceite. Assim que o xerife chegou ao nosso abrigo e lhe entreguei os sapatos novos foi grande a alegria que ele não conseguia disfarçar... e a minha não foi menor. No outro dia, logo pela manhã, o xerife apareceu lá no abrigo acompanhado por vários meninos da tabanca, todos muito alegres, e veio levar-me uma galinha. Passado algum tempo o António foi embora, (diziam que a sua partida tinha a ver com o fanado) sendo o seu lugar ocupado pelo Demba, um menino mais novo que os seus antecessores a quem prometi quando voltasse de novo à metrópole de férias, como tinha previsto, que lhe levava também uns sapatos novos. Mas as coisas alteraram-se e os sapatos para o Demba (com grande pena minha) não chegaram a ser entregues.

A nossa companhia foi transferida para Cobumba e foi já depois de lá estar que voltei de férias à Metrópole, não mais voltei a ver os meninos de Mansambo.

Em Cobumba também havia crianças, mas a distância entre eles e nós, pelo menos no início, era diferente, não estavam habituados a ter a companhia de tropa branca. Mas a alegria com que eles brincavam levava-me a pensar como era possível a viver num ambiente tão complicado como aquele que tinha lugar em Cobumba e eles sempre alegres passando muito tempo a brincar como se nada de anormal estivesse a acontecer. Certamente que os meninos da Guiné também choravam, mas durante o tempo que por lá estive nunca vi isso acontecer!... Algumas vezes, alguns atravessavam o rio Cumbijã a nado e riam-se quando sabiam que alguns de nós não sabíamos nadar. 

Já próximo do fim da permanência da nossa companhia naquele local, as minas na picada entre os três sítios em que se encontravam as nossas tropas, eram cada vez mais. Alguém decidiu que enquanto a viatura andasse em movimento (já só tínhamos uma pronta a andar, as outras três já tinham sido destruídas pelas minas) tinha que andar sempre alguém da população ao lado do condutor!... Os condutores éramos muitos, para uma só viatura, pelo que o nosso serviço de condução tinha um intervalo bastante grande. 

Só me recorda de ter de andar um dia em serviço acompanhado em que tive a companhia do José, um menino que era filho do chefe da tabanca. Foi um dia de muita conversa em que eu procurei saber como era a vida naquele local antes de nós lá chegarmos, das várias coisas que ele me falou, há uma que eu não mais esqueci, foi quando ele a rir me disse que daquilo que eles tinham mais medo antes de nós lá termos chegado, era do passarinho grande (o avião) quando andavam na bolanha. Assim que o viam deitavam-se ficando apenas com um olho fora da água enquanto ele andasse por ali.

Junto à tabamca onde se encontravam dois pelotões e quase toda a formação da nossa companhia, quando lá chegamos já eles tinham um abrigo junto a um mangueiro onde várias pessoas da tabanca, certos dias, passavam grande parte do tempo, o que nos causava alguma apreensão, talvez eles soubessem de alguma coisa que nós desconhecíamos.

A vida das crianças em Mansambo e Cobumba, sempre me causou bastante preocupação ainda que nem sempre a expressasse. Esse modo de eu as observar e sentir alguns dos problemas que elas tinham de enfrentar, talvez tivesse a ver com a situação difícil porque passei quando parti para a Guiné (a primeira vez) no dia 24 de janeiro de 1972 o meu filho tinha ficado com a mãe no hospital, onde tinha nascido há dois dias.

António Eduardo Ferreira


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Aqui fica esta pequena homenagem ao nosso camarada António Eduardo Ferreira,  um homem sensível e valente, com espírito de sofrimento e de privação, que soube vencer uma ausência forçada da família recém constituída, para cumprir uma comissão de serviço numa guerra para a qual não tinha contribuído, num território que lhe era de todo desconhecido e do qual eventualmente só tinha ouvido falar de relance. Contudo, terá visto nas famílias guineenses, que vivia entre dois fogos, o drama da sua.

Quis o destino que as suas provações não terminassem com o seu regresso da Guiné, já que a vida lhe destinou outro sofrimento, o de uma doença prolongada, que o vitimou depois de 20 anos de luta inglória.


Está finalmente a descansar este nosso guerreiro que tivemos o gosto de conhecer através da sua escrita.

A tertúlia e os editores deixam o seu mais sentido pesar ao seu filho Paulo Jerónimo, a quem agradecemos a consideração que teve ao nos comunicar o falecimento do seu pai, assim como a todos os restantes familiares e amigos.

É um lugar comum, mas uma triste realidade, cada camarada e amigo que nos deixa, vai engrossar o Batalhão celestial, onde hé-de haver um poilão para continuarmos a contar as nossas aventuras na Guiné.

C.V.

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Nota do editor

Último poste da série de 20 DE SETEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24678: In Memoriam (486): Fernando de Pinho Valente Magro (10/05/1936 - 18/09/2023), ex-Cap Mil Art do BENG 447 (Bissau, 1970/72) (Abílio Magro)

14 comentários:

antonio graça de abreu disse...

Descansa em paz, camarada de Cobumba, mesmo ao lado de Cufar, onde 73/74 também vivi dez dos meus 22 meses de Guiné.

Valdemar Silva disse...

Deixamos ter mais belos escritos do António Ferreira.

Sentidos pêsames à família

Valdemar Queiroz

Eduardo Estrela disse...

Para a família do António Ferreira o meu abraço solidário.
Que descanse em paz.
Eduardo Estrela

Anónimo disse...


O António Ferreira, morreu um bom homem, que gostava de todos, de toda a humanidade. Não o conheci pessoalmente e o retrato mental que guardo dele é o que está escrito pelo camarada Abílio Duarte, que fui fazendo pela leitura de postes dele e por alguma interacção que tivemos. Fico triste. Envio um grande abraço de pesames ao seu filho e a a toda a sua família.
Francisco Baptista

Hélder Valério disse...

À família enlutada, os meus pêsames.
Aos amigos que gostavam do António Ferreira, nos quais me incluo, a minha solidariedade na tristeza.
Estas notícias são sempre difíceis de digerir. Sabemos que é um "destino" qua a todos espera mas custa sempre.
O que se pode fazer é salvaguardar a sua memória e prolongá-la o mais possílve.

Hélder Sousa

José Botelho Colaço disse...

A vida é uma passagem rápida pelo planeta Terra, sentidos pêsames a toda a família.
Colaço.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

O Carlos Vinhal foi sempre ou quase sempre editor dos postes do António Eduardo Ferreira, e trocou com ele diversas mensagens... Acho que não o chegou a conhecê-lo pessoalmente, nem eu, não tenho a ceretza de ele ter ido a algum dos nossos 14 Encontros Naciuonais da Tabanca Grande, entre 2006 e 2019, Mss tinham uma relação empática. Eu, pessoalmenet, sempre gostei muito dos textos que o António nos enviava. Conheci bem o subsetor de Mansambo, onde a cpmapnhia dele, a CART 3493, foi inicialmente colocada. E comentei diveras vezes os seus postes. Era um homem de grande sensibilidade e maturidade, com uma visão equilibrada e refletida sobre as suas e as nossas vivências na Guiné. Sinto-me na obrigação de !"repescar" alguns dos seus melhores tecxtos e fazer aqui uma pequena antologia, até como forma de homenagem a um camarada que nos honrou, não só na guerra como na luta contra o cancro: foi um exemplo de coragem e de dignidade!... O meu abraço solid+ario para o Paulo e restante família.
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Ayuqi fica também cópia que o Cralos, em nome dos editores, mandou kao filho Paulo:



Carlos Esteves Vinhal
domingo, 22/10/2023, 23:00
para Paulo, mim

Boa noite Paulo,

Na qualidade de coeditor do Blogue e editor dos textos do senhor seu pai, venho agradecer-lhe a consideração que teve para connosco ao dar a triste notícia da morte do nosso querido camarada e amigo António Ferreira.

Estranhei por no último aniversário ele não ter reagido. Enviei-lhe o postalito mas ele também não me respondeu. A sua última mensagem, dele para mim, foi em Setembro passado. Malditas doenças que nos corroem antes de nos matar. Que esteja em paz.

Fiz-lhe uma singela homenagem no nosso Blogue que pode ver aqui:
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2023/10/guine-6174-p24783-in-memoriam-487.html

Deixo-lhe um forte abraço solidário e peço que transmita à família os nossos mais sentidos pêsames.

Com toda a consideração e estima
Carlos Vinhal (...)

José Marcelino Martins disse...

Condolências.

Zé Manel Cancela disse...

Descansa em paz,camarada.
Os meus pêsames á família,e amigos.....

António J. P. Costa disse...

Olá Camarada
Li vários posts teus. Sempre com apreço.
Não me lembro se "discutimos" a guerra e o que ela de pior continha. Tenho pena de não poder voltar a discutir, a divergir e a convergir contigo.
Foste do meu batalhão, mas não da minha companhia. Um abraço, o último.
António J. P. Costa

Anónimo disse...

Sousa de Castro (by emnail)
22 out 2023 12:48

Bom dia,

Pois é!... Estamos a desaparecer aos poucos, era da CART 3493/BART 3873 o meu batalhão.

Acompanhei de certa maneira os escritos que ele enviava para a “TABANCA GRANDE” da qual faço parte desde o início. O CANCRO doença que muitos de nós nos debatemos que nos tira qualidade de vida e por fim oferece-nos MORTE.

Em meu nome pessoal e também da CART 3494 envio um abraço amigo para toda a família, acompanhado dos meus pêsames sentidos. Espero que o tempo possa trazer alguma paz para os seus corações. Minhas condolências e votos de muita força para todos nesta hora difícil.

Sousa de Castro

https://cart3494guine.blogspot.com/

Cherno Baldé disse...

Caros amigos,

E com uma grande tristeza que tomei conhecimento, hoje, do falecimento do amigo Antonio Eduardo Ferreira, ex-Condutor-auto. O Antonio Ferreira tinha conquistado a minha atençao e simpatia pela forma carinhosa como falava das crianças que tinha conhecido por onde tinha passado, durante a guerra na Guiné, desde Mansambo a Chugue ou Cabomba.

A familia enlutada e a todos os seus amigos os meus profundos sentimentos e que a sua alma descanse em paz.

Cherno Baldé

Anónimo disse...

É a vida!
Em muito jovem, nas férias grandes, passava as duas últimas semanas de Setembro, perto da Apúlia, Esposende. Os meus avós paternos tinham uma casa e algumas leiras dispersas por ali. Não havia muito que fazer quando o tempo não estava de feição para a praia e não tinha amigos da minha idade para as brincadeiras. Havia uma loja junto a um cruzeiro e uma oficina de alfaiate muito perto. Um dia, eu devia ter 12/13 anos, abri a porta do alfaiate e vi duas pessoas a trabalhar, um numa máquina de costura e outro com um giz branco a fazer riscos num tecido. Em frente a eles, encostados à parede três velhotes, para cima dos 70, talvez. Um sorriu quando me viu entrar os outros fixaram os olhos nos meus. Boa tarde, resmungou um ou outro.
Então, Gino, tens brincado muito, perguntou um dos alfaiates. Sentei-me noutro banco e eles continuaram na conversa, um tipo de conversa que vi uns anos depois. na Guiné, em Cuntima. Um sussurava qualquer coisa, ninguém dava troco, minutos depois outro murmurava uns sons, etc., um tipo de conversa que se prolongava até se fazerem outras horas.
Voltando ao homem dos riscos. Virou-se para mim e perguntou-me se eu sabia que eram aqueles homens. Que não, nunca os tinha visto. Olha, aquele senhor baixinho, de chapéu, é um combatente da Grande Guerra e esteve na batalha de La Lys e o do meio, que é raro falar também por lá anou e veio gazeado, coitado. Olhei para os senhores, um olhar bem respeitoso. Mas a curiosidade saltou. Não contaram grande coisa, um deles nem abriu a boca, o outro sorria mais do que falava. O alfaiate, de vez em quando, ia acrescentando alguma coisa, devia conhecer a história dos dois ex-combatentes melhor que eles. Que tinham sido maltratados, muita fome, viram camaradas morrer, muitos feridos...é guerra, não é, disse o combatente sorridente. Depois, despejaram-nos em Braga e que tratassem de vida. Aqui do concelho foram muitos, agora não chegam a meia dúzia. É vida! Quando eu era novo, bem antes de ir para a França, um tio meu disse-me, é rapaz quando vires tropa, trota...

Passei lá há dias. Vi um pequeno monumento junto ao cruzeiro com os nomes de todos os Combatentes das Guerras de África. Os meus companheiros daquele bocado de tarde passado na tarde da alfaataria já morreram todos há mais de meio século.

Perdoem-me esta recordação de quase 70 anos.

Que não esqueçamos o António Ferreira, pelo menos, enquanto por cá andarmos.

Anónimo disse...

Caros Camaradas,

Não assinei o texto anterior, escrito a correr. Sou o Briote e escrevi-o porque vejo muito paralelismo da forma como a nossa Pátria tem tratado quem combate por ela. Repare-se na situação crítica em apoio médico dos DFA, em especial os residentes fora de Lisboa e Porto. Isto não é possível numa sociedade que se quer solidária. Não termino sem reafiramar o que aquele combatente de La Lys disse da tropa: quando alguém te falar de tropa, trota...

V. Briote