Diz o Albano que vai procurar nos seus arquivos a foto, "para oferecer ao Mário Dias", da "placa que existe em Madina de Boé sobre o Domingos Ramos" (morto em 1966).
O Domingos Ramos é uma herói da guerra de libertação. O Albano regressou à Guiné-Bissau em Novembro de 2000. Foi aqui que o PAIGC declarou a independência da Guiné-Bissau em 1973. Embora esta zona seja pouco habitada, o Xico Allen (ou os seus companheiros) encontrou e fotografou população civil quando lá esteve em 1998, com o Camilo, o algarvio, e outros camaradas (Neste momento o Camilo vai a caminho da Guiné-Bissau, por via terrestre, na sua expedição 2006: ontem ouvi uma entrevista dele na Antena 1 e vi uma reportagem na SIC sobre o assunto. O Camilo citou expressamente o Xitole como um dos sítios aonde tenciona levar material escolar) . Na época o grupo de portugueses que se deslocou ao Boé, partiu de Quebo (Aldeia Formosa), tomando uma picada existente sempre junto à fronteira com a Guiné- Conacri até Madina de Boé. No regresso vieram por Cheche onde atravessaram o Rio Corubal e seguiram Gabu.
Guiné-Bissau> Picada de Cheche - Gabu > 1998 > Restos de viaturas das NT abandonadas...
© Francisco Allen / Albano M. Costa (2006)
Faz hoje 37 anos que a Op Mabecos Bravios (destinada a cobrir a retirada das forças estacionadas em Madina do Boé) teve um desfecho trágico para 47 camaradas nossos, da CCAÇ 2405 (Galomaro) e da CCAÇ 1790 (Madina do Boé). Na história do BCAÇ 2852 (Bambadinca,19768/70), lê-se resumida e cruamente, no final:
"Na Op Mabecos Bravios, que durou 6 dias, interveio [o BCAÇ 2852] com a CCAÇ 2405 que constituiu o Dest F como força de segurança para a travessia do Rio Corubal (Cheche) de forças de Madina do Boé. Devido ao afundamento da jangada em que se fazia a travessia do último contingente militar foram dados como desaparecidos 17 militares desta Companhia".
Em Fevereiro de 1969, a CCAÇ 2405 estava sediada em Galomaro, com um pelotão em Samba Juli, outro em Dulombi e um terceiro em Samba Cumbera. Voltamos a transcrever o post de 2 de Agosto de 2005, com o relatório da Op Mabecos Bravios, o que se justifica não só pela efeméride (o 37º aniversário desse dia trágico de 6 de Fevereiro de 1969) como também por atingirmos o post nº 500 (CDC) e ainda devido ao facto de, no post original, haver alguns erros e omissões que se aproveita a ocasião para corrigir.
É também um pretexto para a nossa tertúlia prestar a sua sentida homenagem aos camaradas desaparecidos para sempre nas águas do temível Rio Corubal, quer os da CCAÇ 2405 quer os da unidade de quadrícula de Madina do Boé, a CCAÇ 1790 (2).
A evocação desse dia negro na história da guerra colonial da Guiné e a homenagem aos nossos mortos já aqui foram feitas, recentemente, pelo José Martins (ex-furriel miliciano de transmissões da CCAÇ 5, Canjadude, 1967/69: vd. post de 4 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCV: Madina do Boé: 37º aniversário do desastre de Cheche (José Martins).
Associam-se ainda à esta singela homenagem os nossos camaradas Francisco Allen e Albano Costa (este último acaba de mandar uma série de fotografias tiradas pelo Xico Allen, quando este esteve em Cheche e Madina do Boé, em 2003, creio eu: ou foi em 1998 ? ou em 20005 ?) (1),além do Humberto Reis (que me facilitou uma cópia mais legível da história do BCAÇ 2852). Aos três o meu/nosso muito obrigado.
Extractos de: Guiné 68-70. Bambadinca: Batalhão de Caçadores nº 2852. Documento policopiado. 30 de Abril de 1970. c. 200 pp. Classificação: Reservado. Cap. II. 36-38.
Op Mabecos Bravios (omiti os nºs mecanográficos dos nossos camaradas e fiz alguns correcções de erros óbvios como Cajadude, em vez de Canjadude)
Iniciada a Op Mabecos Bravios, em 1 [de Fevereiro de 1969], com a duração de 8 dias, para retirar as nossas tropas de Madina do Boé. Entre vários destacamentos, tomou parte no Dest F a CCAÇ 2405.
Desenrolar da acção:
O Destacamento F com o efectivo de 112 homens (4 oficiais, 10 sargentos e 98 praças - estão incluídos 1 secção de sapadores e 8 condutores auto), saiu de Galmaro em 1 de Fevereiro de 1969, pelas 9.30h, e chegou a Nova Lamego por volta das 13.00h do mesmo dia, sem qualquer novidade.
Guiné-Bissau> Picada de Cheche-Gabu > 1998 >. Trinta anos depois ainda continuam vísiveis os sinais das emboscadas e das minas...
© Francisco Allen / Albano M. Costa (2006)
Aqui fizeram-se os preparativos finais da organização da coluna que partiu às 5.30h do dia 2 [D]. Abre [o autor do relatório] um parêntesis para discordar do pormenor da organização da coluna: os meus condutores e mecânicos tiveram que conduzir e dar assistência técnica a viaturas que não lhe pertenciam e das quais desconheciam as mazelas. Daqui resultaram perdas de tempo inúteis e uma tremenda confusão resultante do facto de os atiradores terem guardado parte dos seus haveres e utensílios militares em viaturas que supunham pertencer às unidades e que, sem que se saiba porquê, foram trabalhar para unidades diferentes.
A coluna saiu de Nova Lamego para Canjadude com o pessoal totalmente embarcado e atingiu-se esta povoação por volta das 9.00h sem qualquer problema. A partir de Canjadude a coluna progrediu com guardas de flancos tendo o Dest F colaborado na guarda da rectaguarda da coluna fazendo uma progressão apeada que não estava prevista.
Atingiu-se o Cheche [entre Canjadude e Madina do Boé] por volta das 17.00h (sempre com uma cobertura aérea excelente). Imediatamente os Dest D e F fizeram a transposição do [Rio] Corubal e foram ocupar as posições estratégicas previstas. Já escurecia e o Dest D levava 1 minuto de avanço sobre o Dest F. Subitamente o 1º Pel[otão] revelou achar estranho algo que se passava à nossa direita, parecendo-lhes ter visto elementos estranhos. Por outro lado o guia assegurou tratar-se de turras pelo que a Companhia tomou posições de combate, lançando-se ao solo e imobilizando-se. Seguiram-se dois disparos rápidos de morteiro (os clarões foram facilmente visíveis quando as granadas saíram à boca da arma). Foram tiros curtos na direcção sudoeste, e os rebentamentos deram-se próximo do local que o Dest F iria ocupar daí a momentos.
O IN não voltou a manifestar-se mas obrigou-nos a uma vigilância nocturna permanente e a uma mudança de posição por volta das 23.00h. Às 20.00h ouviram-se na direcção oeste dois tiros que me pareceram de arma nossa, fazendo fogo de reconhecimento. Pelas 5.30h [do dia 3, D + 1] mandou-se um Pelotão a Cheche buscar um Pelotão do Dest E que fazia guarda imediata às viaturas e que eu devia levar até Madina.
Pelas 6.30h dirigi-me à zona do Dest E onde se organizou a coluna com o Dest F à frente e uma guarda de flanco avançada e o Dest D atrás igualmente com guarda de flanco. Iniciei o movimento guiado com carta e bússola porque a marcha foi feita a cerca de 200 metros (mínimo) da estrada. O meu objectivo era surpreender o IN pela rectaguarda tanto mais que os aviões me anunciaram haver possibilidade de sermos emboscados.
Cerca [ das 10.00h ] o Dest F sofreu um violento ataque de abelhas e teve que recuar cerca de um quilómetro para se reorganizar de novo. Um soldado, em consequência, ficou imediatamente fora de acção. Foi pedida a respectiva evacuação bem como a de outro soldado que apresentava sintomas de insolação. As evacuações fizeram-se para Nova Lamego dos 1ºs cabos (…) Carlos G. Machado, (…) Agostinho R. Sousa, e dos soldados (…) José A. M. S. Ferreira, (…) Manuel N. Parracho, (…) Benjamim D. Lopes, (…) Fernando A. Tavares, (…) Cândido F. S. Abreu, (…) SAntónio S. Moreira e, para Bissau, O 1º CABO (…) Adérito S. Loureiro. O héli desceu mais tarde para reabastecer o pessoal de água.
Guiné-Bissau> Rio Corubal > Cheche > 1998 > Praia fluvial com rampa de acesso. Foto tirada a meio do rio, na viagem de Quebo (Aldeia Formosa) - Madina do Boé - Cheche- Gabu (Nova Lamego) ....
© Francisco Allen / Albano M. Costa (2006)
Reiniciada a marcha, sofremos segundo ataque de abelhas que inutilizaram mais uma praça para quem teve de ser pedida mova evacuação. Entretanto, eram 14.30h, e mais 2 soldados, esgotada a sua provisão de água, apresentavam sintomas de insolação. Foram evacuados conjuntamente com 2 praças do Dest D que apresentavam sintomas semelhantes (vómitos, intensa palidez, olhos dilatados, respiração frenética).
O Dest D passou para a frente e reinicou-se a marcha, sempre fora da estrada até à recta que leva a Madina. Nada mais se passou além do sofrimento intenso das tropas por via do calor. O Det D foi reabastecido de água. Atingimos Madina por volta das 19.00h desligados do Dest D que prosseguiu a sua marcha quando F teve que parar para reajustar o dispositivo e tratar os mais debilitados (4 praças e 1 furriel).
Guiné-Bissau> Madina do Boé > 1998 > A famosa fonte da Colina do Boé, com ornamentação de azulejo português, pintado à mão, de 1945. Parece haver vestígios de impacto de balas de armas automáticas. É um sítio onde se concentra muita população da actual Madina.
© Francisco Allen / Albano M. Costa (2006)
Houve descanso em Madina e tomou-se uma refeição quente. No dia 4 (D + 2) o Dest F dirigiu-se para [... Cumbema ?, ilegível] ocupando a posição 3 que atingiu sem dificuldade por volta das 11.00h. Alternadamente ocupou-se as posições 3 e 4 de acordo com o plano.
Em D + 3 [5 de Fevereiro de 1969] por volta das 7.30h recebemos ordens do PCV [Posto de Comando Volante] para a abandonar a nossa posição e seguir ao encontro da coluna. Uma hora depois atingimos o campo de aviação de Madina onde fomos reabastecidos de água e r/c [rações de combate].
Pelas 9.00h a coluna pôs-se em movimento e meia hora depois 4 carros da rectaguarda tiveram um acidente. Não obstante, a coluna prosseguiu e o pessoal do Dest F mais os mecânicos resolveram a dificuldade. Entretanto, o final da coluna pôs-se em movimento acelerado para apanhar as viaturas da frente e deixaram a guarda da rectaguarda isolada no mato, num momento particularmente difícil em que precisávamos evacuar 2 soldados vencidos pelo esgotamento físico e nervoso (2 noites seguidas sem dormir, ataque de abelhas em D +1, intenso calor).
Guiné-Bissau> Picada Madina do Boé- Cheche - Gabu > 1998 > Fantasmas da guerra colonial que, de tempos a tempos, perturbam a paisagem e o viajante... Mais uma viatura dos tugas abandanada à beira da picada...
© Francisco Allen / Albano M. Costa (2006)
O Comandante da coluna ordenou que se fizesse a evacuação e o reabastecimento de água. Feitos estes, iniciou-se a marcha e abreve trecho tomámos contacto com a coluna e tudo correu normalmente até ao Cheche. A cobertura aérea pareceu-me impecável. Próximo de Cheche recebi ordens para ocupar a posição que ocupara que tivera em D / D+1 porque o Exmo. Comandante da Operação entendeu dever poupar alguns quilómetros ao Dest F e D, bastante atingidos pela dureza dos respectivos percursos. Essa foi a razão porque não transpus o [Rio] Corubal em D + 3 [ 5 de Fevereiro] só o vindo a fazer em D + 4 [6 de Fevereiro] por volta das 9.00h.
O IN continua sem se manifestar (ou sem se poder manifestar). Durante a transposição do Corubal a jangada em que seguiam 4 Gr Comb [da CCAÇ 2405 e da CCAÇ 1790], respectivos comandos e tripulação afundou-se espectacularmente acerca de um terço da largura do rio, provocando o desaparecimento de 17 militares do Dest F e grandes quantidades de material perdido.
Por voltas das 10.00h de D+ 4 [6 de Fevereiro] saímos de Cheche para Cajadude [vd. mapa local de Cheche] que atingimos por volta das 16.30h com o pessoal deste Dest embarcado. Descansou-se e em D + 5 [7 de Fevereiro] às primeiras horas a coluna pôs-se em movimento para Nova Lamego que foi atingida por volta das 11.00h. Às 12.00h as tropas ouviram uma mensagem do Exmo. Comandante-Chefe que se deslocou propositadamente para a fazer.
Permaneci em Nova Lamego para organizar a coluna do dia seguinte. Às primeiras horas de D + 6 [8 de Fevereiro] iniciei o movimento para Galomaro onde cheguei cerca das 10.30h.
___________
(1) Mensagem do Albano:
Caro amigo Luís Graça: Envio sete fotos sobre Madina de Boé, a picada onde foram destruídas várias viaturas durante a guerra colonial, a fonte da Colina de Medina e a população civil de Madina.
Luís, vou procurar nos meus arquivos para ofereceres essa imagem ao Mário Dias de uma placa que existe em Madina de Boé sobre o Domingos Ramos.
Estas fotos são do arquivo do Francisco Allen (ainda hoje estive com ele), fica contente em saber que são úteis, as fotos.
Um abraço, Albano Costa
(2) Sobre a CCAÇ 1790 (que teve 30 desaparecidos em Cheche), vd. post de 17 de Jukho de 2005 > Guiné 69/71 - CIX: Antologia (7): Os bravos de Madina do Boé (CCAÇ 1790)
" (...) Há cerca de três anos, a SIC passou um documentário sobre a guerra colonial. Nesse documentário, que relata um dos episódios mais tristes e violentos da guerra em África, participaram, entre outros antigos combatentes, Gustavo Pimenta, o tenente-coronel José Aparício, seu antigo comandante, e vários oficiais dos exércitos português e guineense.
"O filme conta a história da operação militar da retirada da Companhia 1790 do aquartelamento de Madina do Boé, durante a qual morreram 46 militares, 15 dos quais pertencentes ao pelotão comandado pelo ex-alferes miliciano Gustavo Pimenta. A tragédia, de incomensuráveis proporções, ocorreu quando a jangada que ligava as duas margens do rio Corubal, para o transporte dos homens e das viaturas, se virou inexplicavelmente. Muitos salvaram-se, muitos morreram. Vinham de Madina – essa região vasta e despovoada no leste do território, junto à fronteira com a República da Guiné-Conacri – onde a companhia de caçadores, de que fazia parte Gustavo Pimenta, estivera estacionada durante treze meses. E em treze meses, não contando com o número de ataques da forças do PAIGC de duração inferior a dez minutos, que em muitos casos só serviam para causar desestabilização e afectar psicologicamente os militares, o quartel foi bombardeado por 243 vezes" (...).
Aqui fizeram-se os preparativos finais da organização da coluna que partiu às 5.30h do dia 2 [D]. Abre [o autor do relatório] um parêntesis para discordar do pormenor da organização da coluna: os meus condutores e mecânicos tiveram que conduzir e dar assistência técnica a viaturas que não lhe pertenciam e das quais desconheciam as mazelas. Daqui resultaram perdas de tempo inúteis e uma tremenda confusão resultante do facto de os atiradores terem guardado parte dos seus haveres e utensílios militares em viaturas que supunham pertencer às unidades e que, sem que se saiba porquê, foram trabalhar para unidades diferentes.
A coluna saiu de Nova Lamego para Canjadude com o pessoal totalmente embarcado e atingiu-se esta povoação por volta das 9.00h sem qualquer problema. A partir de Canjadude a coluna progrediu com guardas de flancos tendo o Dest F colaborado na guarda da rectaguarda da coluna fazendo uma progressão apeada que não estava prevista.
Atingiu-se o Cheche [entre Canjadude e Madina do Boé] por volta das 17.00h (sempre com uma cobertura aérea excelente). Imediatamente os Dest D e F fizeram a transposição do [Rio] Corubal e foram ocupar as posições estratégicas previstas. Já escurecia e o Dest D levava 1 minuto de avanço sobre o Dest F. Subitamente o 1º Pel[otão] revelou achar estranho algo que se passava à nossa direita, parecendo-lhes ter visto elementos estranhos. Por outro lado o guia assegurou tratar-se de turras pelo que a Companhia tomou posições de combate, lançando-se ao solo e imobilizando-se. Seguiram-se dois disparos rápidos de morteiro (os clarões foram facilmente visíveis quando as granadas saíram à boca da arma). Foram tiros curtos na direcção sudoeste, e os rebentamentos deram-se próximo do local que o Dest F iria ocupar daí a momentos.
O IN não voltou a manifestar-se mas obrigou-nos a uma vigilância nocturna permanente e a uma mudança de posição por volta das 23.00h. Às 20.00h ouviram-se na direcção oeste dois tiros que me pareceram de arma nossa, fazendo fogo de reconhecimento. Pelas 5.30h [do dia 3, D + 1] mandou-se um Pelotão a Cheche buscar um Pelotão do Dest E que fazia guarda imediata às viaturas e que eu devia levar até Madina.
Pelas 6.30h dirigi-me à zona do Dest E onde se organizou a coluna com o Dest F à frente e uma guarda de flanco avançada e o Dest D atrás igualmente com guarda de flanco. Iniciei o movimento guiado com carta e bússola porque a marcha foi feita a cerca de 200 metros (mínimo) da estrada. O meu objectivo era surpreender o IN pela rectaguarda tanto mais que os aviões me anunciaram haver possibilidade de sermos emboscados.
Cerca [ das 10.00h ] o Dest F sofreu um violento ataque de abelhas e teve que recuar cerca de um quilómetro para se reorganizar de novo. Um soldado, em consequência, ficou imediatamente fora de acção. Foi pedida a respectiva evacuação bem como a de outro soldado que apresentava sintomas de insolação. As evacuações fizeram-se para Nova Lamego dos 1ºs cabos (…) Carlos G. Machado, (…) Agostinho R. Sousa, e dos soldados (…) José A. M. S. Ferreira, (…) Manuel N. Parracho, (…) Benjamim D. Lopes, (…) Fernando A. Tavares, (…) Cândido F. S. Abreu, (…) SAntónio S. Moreira e, para Bissau, O 1º CABO (…) Adérito S. Loureiro. O héli desceu mais tarde para reabastecer o pessoal de água.
Guiné-Bissau> Rio Corubal > Cheche > 1998 > Praia fluvial com rampa de acesso. Foto tirada a meio do rio, na viagem de Quebo (Aldeia Formosa) - Madina do Boé - Cheche- Gabu (Nova Lamego) ....
© Francisco Allen / Albano M. Costa (2006)
Reiniciada a marcha, sofremos segundo ataque de abelhas que inutilizaram mais uma praça para quem teve de ser pedida mova evacuação. Entretanto, eram 14.30h, e mais 2 soldados, esgotada a sua provisão de água, apresentavam sintomas de insolação. Foram evacuados conjuntamente com 2 praças do Dest D que apresentavam sintomas semelhantes (vómitos, intensa palidez, olhos dilatados, respiração frenética).
O Dest D passou para a frente e reinicou-se a marcha, sempre fora da estrada até à recta que leva a Madina. Nada mais se passou além do sofrimento intenso das tropas por via do calor. O Det D foi reabastecido de água. Atingimos Madina por volta das 19.00h desligados do Dest D que prosseguiu a sua marcha quando F teve que parar para reajustar o dispositivo e tratar os mais debilitados (4 praças e 1 furriel).
Guiné-Bissau> Madina do Boé > 1998 > A famosa fonte da Colina do Boé, com ornamentação de azulejo português, pintado à mão, de 1945. Parece haver vestígios de impacto de balas de armas automáticas. É um sítio onde se concentra muita população da actual Madina.
© Francisco Allen / Albano M. Costa (2006)
Houve descanso em Madina e tomou-se uma refeição quente. No dia 4 (D + 2) o Dest F dirigiu-se para [... Cumbema ?, ilegível] ocupando a posição 3 que atingiu sem dificuldade por volta das 11.00h. Alternadamente ocupou-se as posições 3 e 4 de acordo com o plano.
Em D + 3 [5 de Fevereiro de 1969] por volta das 7.30h recebemos ordens do PCV [Posto de Comando Volante] para a abandonar a nossa posição e seguir ao encontro da coluna. Uma hora depois atingimos o campo de aviação de Madina onde fomos reabastecidos de água e r/c [rações de combate].
Pelas 9.00h a coluna pôs-se em movimento e meia hora depois 4 carros da rectaguarda tiveram um acidente. Não obstante, a coluna prosseguiu e o pessoal do Dest F mais os mecânicos resolveram a dificuldade. Entretanto, o final da coluna pôs-se em movimento acelerado para apanhar as viaturas da frente e deixaram a guarda da rectaguarda isolada no mato, num momento particularmente difícil em que precisávamos evacuar 2 soldados vencidos pelo esgotamento físico e nervoso (2 noites seguidas sem dormir, ataque de abelhas em D +1, intenso calor).
Guiné-Bissau> Picada Madina do Boé- Cheche - Gabu > 1998 > Fantasmas da guerra colonial que, de tempos a tempos, perturbam a paisagem e o viajante... Mais uma viatura dos tugas abandanada à beira da picada...
© Francisco Allen / Albano M. Costa (2006)
O Comandante da coluna ordenou que se fizesse a evacuação e o reabastecimento de água. Feitos estes, iniciou-se a marcha e abreve trecho tomámos contacto com a coluna e tudo correu normalmente até ao Cheche. A cobertura aérea pareceu-me impecável. Próximo de Cheche recebi ordens para ocupar a posição que ocupara que tivera em D / D+1 porque o Exmo. Comandante da Operação entendeu dever poupar alguns quilómetros ao Dest F e D, bastante atingidos pela dureza dos respectivos percursos. Essa foi a razão porque não transpus o [Rio] Corubal em D + 3 [ 5 de Fevereiro] só o vindo a fazer em D + 4 [6 de Fevereiro] por volta das 9.00h.
O IN continua sem se manifestar (ou sem se poder manifestar). Durante a transposição do Corubal a jangada em que seguiam 4 Gr Comb [da CCAÇ 2405 e da CCAÇ 1790], respectivos comandos e tripulação afundou-se espectacularmente acerca de um terço da largura do rio, provocando o desaparecimento de 17 militares do Dest F e grandes quantidades de material perdido.
© Francisco Allen / Albano M. Costa (2006)
Por voltas das 10.00h de D+ 4 [6 de Fevereiro] saímos de Cheche para Cajadude [vd. mapa local de Cheche] que atingimos por volta das 16.30h com o pessoal deste Dest embarcado. Descansou-se e em D + 5 [7 de Fevereiro] às primeiras horas a coluna pôs-se em movimento para Nova Lamego que foi atingida por volta das 11.00h. Às 12.00h as tropas ouviram uma mensagem do Exmo. Comandante-Chefe que se deslocou propositadamente para a fazer.
Permaneci em Nova Lamego para organizar a coluna do dia seguinte. Às primeiras horas de D + 6 [8 de Fevereiro] iniciei o movimento para Galomaro onde cheguei cerca das 10.30h.
___________
(1) Mensagem do Albano:
Caro amigo Luís Graça: Envio sete fotos sobre Madina de Boé, a picada onde foram destruídas várias viaturas durante a guerra colonial, a fonte da Colina de Medina e a população civil de Madina.
Luís, vou procurar nos meus arquivos para ofereceres essa imagem ao Mário Dias de uma placa que existe em Madina de Boé sobre o Domingos Ramos.
Estas fotos são do arquivo do Francisco Allen (ainda hoje estive com ele), fica contente em saber que são úteis, as fotos.
Um abraço, Albano Costa
(2) Sobre a CCAÇ 1790 (que teve 30 desaparecidos em Cheche), vd. post de 17 de Jukho de 2005 > Guiné 69/71 - CIX: Antologia (7): Os bravos de Madina do Boé (CCAÇ 1790)
" (...) Há cerca de três anos, a SIC passou um documentário sobre a guerra colonial. Nesse documentário, que relata um dos episódios mais tristes e violentos da guerra em África, participaram, entre outros antigos combatentes, Gustavo Pimenta, o tenente-coronel José Aparício, seu antigo comandante, e vários oficiais dos exércitos português e guineense.
"O filme conta a história da operação militar da retirada da Companhia 1790 do aquartelamento de Madina do Boé, durante a qual morreram 46 militares, 15 dos quais pertencentes ao pelotão comandado pelo ex-alferes miliciano Gustavo Pimenta. A tragédia, de incomensuráveis proporções, ocorreu quando a jangada que ligava as duas margens do rio Corubal, para o transporte dos homens e das viaturas, se virou inexplicavelmente. Muitos salvaram-se, muitos morreram. Vinham de Madina – essa região vasta e despovoada no leste do território, junto à fronteira com a República da Guiné-Conacri – onde a companhia de caçadores, de que fazia parte Gustavo Pimenta, estivera estacionada durante treze meses. E em treze meses, não contando com o número de ataques da forças do PAIGC de duração inferior a dez minutos, que em muitos casos só serviam para causar desestabilização e afectar psicologicamente os militares, o quartel foi bombardeado por 243 vezes" (...).