terça-feira, 30 de setembro de 2008

Guiné 63/74 - P3257: Convívios (87): Comandos do CTIG, 1964/66: 8 de Novembro, Restaurante Os Severianos, Torres Vedras (João Parreira)


O Grupo de Comandos que participaram na célebre Op Tridente (Ilha do Como, Janeiro-Março, 1964) junto à bandeira hasteada na tabanca de Cauane onde permaneceu cerca de 2 semanas. Entre outros, identificam-se ao centro, com um chapéu "recolhido" ao IN, o Alferes Saraiva, cmdt do Grupo. À sua direita, os Furriéis Artur Pires (morto por uma mina em Madina) e o Mário Dias e os soldados Duarte e Borrazeiro. À esquerda do Alf Saraiva, o 3º homem é o Fur Miranda (o mais alto, de quico à legionário). Em primeiro plano, de joelhos, da esquerda para a direita, Sold João Firmino, Alf Godinho, 1º cabo Abdulai Djamanca, Sold Cavaco, 1º cabo Marcelino da Mata, e Soldados Mamadú Djaló e António Gomes.
Foto de autor desconhecido (1º Cabo Raimundo, do Destacamento Foto-Cine do QG?).

Comandos do CTIG, 1964/66

Reunião/ Almoço

8/11/2008


Caros amigos e camaradas dos Velhos Comandos:

Após um interregno, vamos de novo reunirmo-nos no 2º almoço que será no Sábado, dia 8 Novembro de 2008 pelas 12H30 , no restaurante "Os Severianos”,

O retaurante “OS Severianos” localiza-se na Estrada Nacional nº 8-2, Torres Vedras-Lourinhã, ao km 12.

A ementa é de eleição e as vossas presenças e dos vossos familiares é bem-vinda, de modo a proporcionar uma jornada de sã e fraterna camaradagem.

Assim, esperamos que os Grupos do 1º Curso (Camaleões, Panteras e Fantasmas) e do 2º Curso (Apaches, Diabólicos, Centuriões e Vampiros) correspondam à chamada.

Tal como há 43 anos atrás, vamos reunir o maior número possível da Família Comando da Guiné, 1964/1966.

Nota: traz a tua boina, se assim o entenderes, fotos ou outras recordações que achares interessantes.

Para efeitos de inscrição/marcação deves contatar um dos telemóveis dos amigos comandos abaixo indicados:

Parreira: 91 7935169
Miranda: 96 0186181
Mário Dias: 93 3569440


ou enviar a tua inscrição pelo correio o mais tardar até ao dia 17 de Outubro para:

J.Parreira – Rua dos Lusíadas, 232 – Sassoeiros – 2775-520 Carcavelos

Guiné 63/74 - P3256: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (5): Lembrando o Ten Pil Av Bettencourt (Henrique Matos)


1. Mensagem do nosso camarada Henrique Matos, ex-Alf Mil, 1.º Comandante do Pel Caç Nat 52 (Enxalé, 1966/68), com data de 24 de Setembro de 2008.

Caro Luís e co-editores

Os últimos Postes sobre pilotos da Força Aérea fez-me recordar o meu amigo e conterrâneo da Ilha de S. Jorge, Açores, Ten Pil de Helis Bettencourt, o que poderá ser uma contribuição, embora fraca, para a série Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras.

Fui encontrá-lo em Agosto de 1966 em Bissalanca, logo no meu segundo dia de Guiné, enquanto esperava uma boleia de DO para Bolama. Outros encontros houve em Bissau e no mato quando havia evacuações.

Não me lembro de qualquer episódio especial ocorrido com ele a não ser voar rente à copa das árvores para dificultar a pontaria.

A recordação também é de tristeza porque este meu amigo de nome completo Orlando Manuel da Silveira Bettencourt, no dia 5 de Julho de 1978, já Ten Cor na BA4 das Lages, Terceira, quando voava no avião Casa Aviocar, juntamente com o Ten Cor Lavrador e o Sargento Mecânico, embateram contra a Serra de Santa Bárbara e ali acabaram as suas vidas.

Naquela data eu também estava naquela ilha pois trabalhava em Angra do Heroísmo, e até hoje não vi qualquer explicação para o sucedido, sabendo-se que ocorreu em pleno dia, de céu aberto, e eram dois pilotos com muita experiência e com várias comissões de serviço em África.

Anexo 4 fotos tiradas em Maio de 1967 no Enxalé, por ocasião de mais uma evacuação efectuada por ele no Alouette III.

Se der para aproveitar alguma coisa estás à vontade.

Abraço a todo o pessoal da Tabanca Grande
Henrique Matos


Pouco visível o Bettencourt no seu Alouette III, estando eu no meio com o Marchand, Comandante do Pel Caç Nat 54 e o Ribeiro (de óculos) da CCaç 1661.

De costas a olhar para a maca está o 1.º comandante da CCaç 1661, Cap Mil Namorado Rosa (arquitecto em Lisboa), na frente o Marchand e o Teles e ao fundo estou na conversa com o Bettencourt




Fotos: © Henrique Matos (2008). Direitos reservados

2. Comentário de CV

Caro Henrique

Prestaste uma homenagem muito bonita ao teu amigo Bettencourt, lembrando a sua memória no nosso Blogue. Ele é um dos Nossos Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras, a quem tanto devemos e que aplicavam a sua saudável maluquice, protegendo-nos nas horas complicadas e procedendo a evacuações nas situações mais difíceis, muitas vezes debaixo do fogo IN.

Considera esta homenagem extensiva a todos os nossos Pilotos que nos deixaram no cumprimento da sua missão ou já depois de terminada a vida militar.
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Nota de CV

Vd. último poste da série de 26 de Setembro de 2008 Guiné 63/74 - P3245: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (4): Honório, o cow-boy dos ares (José Nunes)

Guiné 63/74 - P3255: O Nosso Livro de Visitas (31): Rogério Ferreira, ex-Fur Mil Inf MA, CCAÇ 2658/BCAÇ 2905, Guiné (1970/71)

1. Mensagem do nosso camarada Rogério Ferreira, ex-Fur Mil Inf MA, da CCAÇ 2658/BCAÇ 2905 (*), com data de 27 de Setembro de 2008.

Em resposta ao Carlos Vinhal, aqui te mando mais alguma coisa do que não terá entrado na primeira mensagem.

Fui Fur Mil Inf e com a especialidade de Minas e Armadilhas. Pertenci a CCAÇ 2658/BCAÇ 2905. Estive em Teixeira Pinto, Bachile, Nhamate e manga de LDG para ir do Xime até Galomaro, Nova Lamego, Pirada, Paiama, Paunca, Sinchã Abdulai e Mareue, aí até aos 19 meses, vindo os restantes meses para Bissau para o AGRABIS (600), ainda Nhacra umas duas semanas até ao barco.

Em Mareue, aldeia só com população, calhou-me construir um quartel, mas dessas peripécias contarei outro dia.

Calcorreei muito chão, do manjaco ao fula, do balanta ao mandinga.

Estive em Bambadinca pelo menos uma vez a beber umas bazucas com malta conhecida de Santarém, de onde sou, que era o Vitor Alves, furriel e um soldado ou cabo Orlando Rodrigues, já falecido depois do regresso. Conheço de algum modo a zona. A estrada que ia do Xime para Bambadinca, quando cheguei, era só buracos pegados onde cabiam os unimogs mais pequenos e se deixavam de ver, demorando horas a atravessar. Quando vim para a LDG estava tudo alcatroado, demorámos a volta de 20 minutos, lembro-me que habia soldados africanos a fazer-nos a segurança na orla da mata quem sabe se algum dos colegas que fazem parte do site e que são do meu tempo lá estariam a comandá-los.

Para o camarada Vacas de Carvalho, da Tertúlia, fico sem saber se será o Vacas de Carvalho que esteve em Santarém, na EPC, ou será irmão, pois penso que tinha vários.

Até um destes dias, com mais vagar que hoje estou com um pouco de pressa.

Um abraço a todos os camaradas que calcorrearam aquelas bolanhas e picadas, comeram muita mancarra, muita vianda com estilhaços de carne de vaca, que sofreram e padeceram na pele, até as picadas dos mosquitos, mas que concerteza continuam a gostar daquela terra, como eu, que ainda não perdi a esperança de lá voltar um dia.

Um abraço
Rogério Ferreira

Brasão do BCAÇ 2905 - Cacheu (1970/71)

2. Mensagem do nosso camarada Vacas de Carvalho, com data de 29 de Setembro.

Especialmente para o caríssimo Tertuliano Rogério Ferreira, esclarecendo:

Foi o meu irmão João Manuel que esteve na EPC em Santarém. Foi furriel dos Comandos em Moçambique. Vive hoje em Montemor-o-Novo.

Eu também estive na EPC, mas em Lisboa. Também nos devemos ter encontrado no Xime, pois era rara a semana que não iamos lá.

Um abraço
Zé Luis


3. Comentário de CV

Caro Rogério
Quando tiveres então vagar, manda as fotos da praxe para a Tabanca e começa a contar as tuas histórias, acompanhadas de fotos que tens por aí com toda a certeza.

Para já recebe um abraço da Tertúlia e cá te esperamos em breve.
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Nota de CV

(*) - Podem e devem ver o Blog do BCAÇ 2905, de autoria do nosso camarada Júlio César, em http://www.cacheu.blogspot.com/

Guiné 63/74 - P3254: Convívios (86): Pessoal da CCAÇ 727 (Guiné 1964/66), dia 11 de Outubro na Gafanha da Encarnação, Aveiro.

1. Do nosso camarada, Miguel Oliveira, ex-combatente em Angola (*), e nosso leitor habitual, recebemos esta mensagem, com data de 29 de Setembro de 2008, dando notícia do Encontro Anual da CCAÇ 727 (Guiné, 1964/66).

Meu Caro Luís Graça

Não consegui entrar na Vossa Página, pois sou uma criança nestas coisas, mas tomei o gosto e por aqui ando vendo coisas lindas que são as memórias de muitos anos.

É bom ter alguém que não deixe cair no esquecimento aquilo que foi A GUERRA DO ULTRAMAR.

Felizmente há muitos jovens dessa idade, a trabalhar nesse sentido.

PARABÉNS e OBRIGADO

O pedido aí vai:

O Ex-Militares da CCAC 727, que esteve na Guiné entre 1964/66, têm o seu Encontro Anual no dia 11 de Outubro de 2008 na Gafanha da Encarnação.

Restaurante Estufa na Gafanha da Encarnação - Aveiro.

Os contactos:

Ex-Fur Mil Maia
Telef 234 797 765 - Móvel: 912 318 321

2. Comentário de CV

Aos nossos camaradas da CCAÇ 727, desejamos um bom dia de são convívio.
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Nota de CV

(*) - Em tempo:

Não podemos deixar de realçar o espírito de camaradagem do nosso camarada Miguel Oliveira que, fazendo um favor a um amigo combatente na Guiné, nos escreveu dando conta do Encontro Anual da CCAÇ 727.

Guiné 63/74 - P3253: Em busca de... (42): Maj Inf Abel Carvalho de Almeida, Mansabá, 1969 (2) (Jorge Félix)


1. Em mensagem do dia 27 de Setembro de 2008, o nosso camarada Jorge Félix, ex-Alf Mil Pil Av, traz-nos notícias dos resultados da sua busca (*).

Carlos Vinhal.

A minha procura do Maj Almeida está a ter resultados. As noticias não são as melhores, pelo que me contou o querido tertuliano, companheiro e amigo Pimentel.

Telefonou-me o Pimentel, e esclareceu o seguinte: Naquele dia, 8 de Abril de 1969, quem foi evacuado de Helicóptero foi o Maj Amílcar Martins, e não o Maj Abel Carvalho de Almeida. Ambos falecidos.

Mais me contou:... naquele dia o Maj Amílcar Martins que estava no Olossato, apanhou uma boleia numa Daimler, até ao local onde se deu o acidente.

"Cuidado que aí há minas!!" - terão sido as últimas palavras que o Maj Martins escutou antes de saltar da viatura. O rebentamento da mina atingiu vários companheiros, não com a mesma gravidade dos que foram evacuados, o Maj Martins e o Alf José Pereira de Sousa.

Se perdemos o Maj Almeida encontramos o Alferes. Raúl Albino não se recordava do nome dele, aqui fica: José Pereira de Sousa.

O Pimentel disse-me que o José Pereira de Sousa vive em Leiria.
Falta pouco para dar o abraço a um homem que transportei da Zona Operacional da Guiné.

Até lá
Jorge Félix
__________________

Nota de CV

(*) - Vd. poste de 21 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3221: Em busca de... (40): Major Inf Abel Carvalho de Almeida, Mansabá, 1969 (Jorge Félix)

Guiné 63/74 - P3252: Tabanca Grande (90): Henrique Martins de Castro, ex-Sold Cond Auto da CART 3521 (Piche, Bafatá e Safim, 1971/74)

Henrique Martins de Castro,
Soldado Condutor Auto,
CART 3521
Piche, Bafatá e Safim
1971/74


1. Apresenta-se o ex-Soldado Condutor n.º 10311971 Henrique Martins de Castro, residente em Bairro, V.N. de Famalicão.

Começo por contar uma pequena história da minha vida militar.

Assentei praça no ex-CICA1, no Porto, em 7 de Junho de 1971, e tirei a especialidade no RC6 do Porto.

Certo dia em instrução militar, sofri um acidente de que resultou 1 morto e oito feridos nos quais estava incluído. Prestaram-me os primeiros socorros no Hospital de S. João no Porto e passados poucos dias mandaram-me a conta. Como não fomos culpados no acidente e estávamos em instrução militar, competia ao Ministério do Exército pagar a conta, que eram 550 escudos. Como já estava mobilizado para a Guiné e nem sequer sabia se morria na guerra, não paguei a conta. Deixaram-me ir e vir da guerra e mandaram-me novamente a conta já com os respectivos juros de mora no valor de 850 escudos. Como não paguei, enviaram a conta para as finanças de V.N. de Famalicão para cobrança coerciva, mas como não queria pagar, perguntei o que me acontecia se não pagasse. A resposta foi:
- Vamos a sua casa e fazemos-lhe uma penhora.

Perguntei:
- O que é isso?

Resposta logo de pronto e, muito zangado perguntei:
- Vocês sabem o que eu precisava de ter quando vocês fossem lá a casa fazer a tal penhora?

Pergunta o funcionário em tom bastante agressivo:
- O que era?

Respondo eu ainda mais agressivo:
- Era uma p.... duma HK 21 carregada com uma fita de 500 balas, que eu dava-lhes a penhora!

... Mas lá acabei por pagar.

Fui mobilizado para a Guiné na ex-RAP2 de V.N. de Gaia. Depois de gozar os dez dias de mobilização, foi o BART 3873, juntamente com a CART 3521 num grande desfile, atravessando a ponte de D. Luís do Porto, ver ao Teatro Sá da Bandeira, gratuitamente a peça Uma Cama Para Toda a Gente, intrepetada pelo Camilo de Oliveira e pela Io Apoloni, salvo erro.

Depois seguimos para Lisboa, rumo a Santa Apolónia de comboio, embarcámos em 22 de Dezembro de 1971 no navio Niassa rumo à Guiné, onde chegámos a 29, passando a consoada e o dia de Natal no alto mar.

De seguida embarcámos numa LDG rumo a Bolama para tirar o IAO que durou mais ou menos um mês. Acabado este, fomos novamente de LDG rumo ao Xime onde havia uma escolta militar à nossa espera para nos levar até Piche.

Já em Piche, a malta da Companhia fazia colunas a Canquelifá, Buruntuma, Nova Lamego, Bambadinca, Bafatá, Galomaro, etc., operações, patrulhas e psíco - que para quem não sabe, era dar um certo apoio e levar medicamentos (mesinho).

Estivemos em Piche mais ou menos até Agosto de 1972, só o primeiro Gr Comb ficou em Piche adido ao BCAÇ 3883. A Companhia seguiu para Bafatá com o segundo, terceiro e quarto Gr Comb.

A Companhia ficou com terceiro e quarto Gr Comb adidos ao BCAÇ 3884 em Bafatá, o segundo foi reforçar para Galomaro o BCAÇ 3872.

O terceiro e quarto Gr Comb alternaram entre si, ficando um em Galomaro e outro em Cancolim até se juntarem à Companhia em Bafatá, em 24 de Dezembro de 1972. O quarto Gr Comb deixa Cancolim e o primeiro deixa Galomaro para irem reforçar a CCAV 3405 em Nova Lamego.

Em 8 de Março de 1973, a Companhia deixa Bafatá rumo ao Combis, perto de Bissau, ficando assim distribuída:
- um Gr Comb em Ponta Vicente da Mata,
- um Gr Comb e duas Secções em Safim e uma secção em João Landim, fazendo patrulhamentos apeados, fluviais, psicos, etc.

Em Piche no dia 28 de Fevereiro de 1972, faleceu, vítima de um acidente com arma de fogo, Joaquim Francisco Rodrigues que está sepultado em Passos-Pinho-S. Pedro do Sul (ver em Windows Internet Explorer em mortos na guerra do ultramar, pesquisa do Google).

Em 3 de Abril 1972, tambem em Piche, sofremos o segundo morto de nome: Agostinho Ferreira Mendes, vitima de um ataque de abelhas na Operação Topázio Maior que começou no 2 de Abril.

Em autêntico desespero com as abelhas, resolveu rebentar com as duas granadas de fumo que trazia para as abelhas fujirem, ficou com um joelho esfacelado e como se pode calcular mais desesperado, pegou na G3, disparou dois tiros, pondo fim à vida. Está sepultado no cemitério concelho de Castro Daire.

Estes dois mortos não constam, como já me apercebi, na placa invocativa dos mortos do Ultramar na ex-RAP2, em V.N. de Gaia. O nosso terceiro morto de nome Octávio José Horta, era Primeiro Sargento Sapador e foi destacado para para outra companhia, morrendo a desmontar uma mina em 17 de Abril de 1973, como consta na placa invocativa dos nossos mortos em Safim, na Guiné-Bissau e na da ex-RAP2 em Gaia.

Embarcámos para a Metrópole com 27 meses e meio de Guiné, depois de sermos sucessivas vezes enganados. Adiaram-nos muitas vezes o regresso. Éramos para vir embora com 18 meses, passamos para os 21, dos 21 para os 24 e dos 24 para os 27. Quando no dia 28 de Março de 1974, embarcámos no navio Niassa, até julgavamos que era mentira. Foi a última viagem que o Niassa fez, chegando a Lisboa a 4 de Abril de 1974. Só nos sentimos seguros quando vimos o Cristo-Rei, nunca mais ninguém dormiu tal era a alegria. De manhã a emoção e a alegria eram tão grandes que havia centenas de militares a chorar por ver os seus familiares à espera. Eu também chorei e não tinha lá ninguém. Ainda hoje me arrepio e me emociono passados 34 anos, só em me lembrar desse dia.

Passados alguns anos tivemos um convite de alguém do BART 3873 e lá fomos 14 ex-militares da CART 3521, a um convívio, salvo erro no dia 10 de Junho de 1987, na Quinta da Paradela, em V.N. de Gaia. Nesse convívio, depois de comermos e de conversarmos sobre a guerra, lá fomos bebendo mais uns copos, sendo, no fim, nos oferecida uma medalha do BART 3873, alusiva ao encontro. Medalha essa que ofereci depois ao meu amigo Antunes, da 3494, que esteve no Xime juntamente com o nosso tertuliano Sousa Castro que pretenceu à mesma Companhia.

Como gostei deste encontro, organizei lá o encontro dos 25 anos de regresso da CART 3521. A concentração foi na ex-RAP2, depois houve uma missa por alma dos que faleceram lá e cá, a deposição de uma coroa de flores, oferecida por mim, aos nossos mortos, numa pequena cerimónia militar, prestada por um piquete, autorizada pelo senhor comandante a meu pedido. Houve um minuto de silêncio e o hino nacional como consta num filme que eu próprio fiz.

Comecei a organizar os convívios depois de 23 anos do regresso, ou seja no ano 1997, depois de um longo trabalho de pesquisa nos arquivos da ex-RAP2, autorizada pelo senhor comandante. Descobrimos, eu, o Sousa, o Vieira e um ex-sargento na reserva, os nomes e as residências dos ex-militares da CART 3521 aquando o seu regresso. Depois foi comunicar através dos telefones e lá se foi arranjando as direcções actuais. Deve-se muito ao Magalhães, que por trabalhar na PT, arranjou mais de cem contactos.

Sendo o organizador de todos os convívios, estou um pouco triste, porque cada vez mais há menos malta a aparecer. Dá-me muito trabalho e eu não ganho nada com isso, faço-o pelo gosto de ver a malta divertida e por ter a certeza que mais ninguém os faz.

No convívio dos 25 anos do nosso regresso, ofereci a coroa de flores de homenagem aos nossos mortos, o Sousa ofereceu uma colcha com o emblema da Companhia, o Vieira ofereceu centenas de t-shirts bordadas alusivas e o Magalhães ofereceu as medalhas também alusivas aos 25 anos do nosso regresso.

Brevemente vou contar uma pequena história sobre a minha ida à Guiné-Bissau, acompanha de algumas fotos.

É tudo por hoje.

Um abraço para todos os que lutaram na Guiné em especial aos da CART 3521.


Postal de Natal


Ponte de Caium em meados de 1972 na estrada que liga Piche a Buruntuma.


Hotel da malandrice > Foto tirada em Piche no abrigo dos condutores.


Abrigo dos condutores: em cima eu, em baixo o Botelho e o Simão.


Foto tirada no primeiro Encontro da CART 3521, passados 23 anos do nosso regresso à Metrópole, em Cucujães, Oliveira de Azemeis, no dia 4 de Abril de 1997.

2.Comentário de CV

Caro Henrique, estás apresentado. Sei que gostas de escrever embora tenhas algumas dificuldades técnicas com o computador. Como me disseste por telefone, és periquito nestas coisas da informática. Não desistas e vai insistindo, porque todos os dias aprenderás algo de novo. Nós cá também daremos uma ajuda.

Já mandaste umas fotos e um texto com a tua apresentação. Nada mal.

Recebe, em nome da Tabanca Grande, um abraço de boas vindas e votos de muita saúde.
Carlos Vinhal
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Nota de CV

Vd. poste de 15 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2947: O Nosso Livro de Visitas (17): Henrique Martins de Castro, CART 3521 (Piche, Bafatá e Safim, 1971/74)

Guiné 63/74 - P3251: Em Busca de ... (41): Notícia sobre o ataque a Sedengal, em 21/12/1970 (Cor Carlos Matos Gomes)

Guiné-Bissau > Bissau > Fortaleza da Amura > 7 de Março de 2008 > Amura: um lugar repleto de história e de histórias... Visita no âmbito do Simpósio Internacional de Guiledje, no último dia do evento. Na foto, o Coronel e Cavalaria do Exército Português, Carlos Matos Gomes, na situação de reforma, um homem do MFA da Guiné e um celebrado autor de romances de guerra como Nó Cego, Soldadó ou Fala-me de África (que assina sob o pseudónimo literário de Carlos Vale Ferraz); a seu lado, o o catalão Josep Sánchez Cervelló, professor universitário, em Tarragona, especialista em história sobre o 25 de Abril e a descolonização portuguesa...

Por detrás, o edifício, em ruína, da antiga 2ª Rep do Comando-Chefe, a famosa Rep Apsico, onde trabalhou Otelo Saraiva de Carvalho e Ramalho Eanes. Matos Gomes, na altura capitão dos comandos, foi um dos protagonistas do 25 de Abril neste palco da história... Recorde-se que a Amura é hoje o panteão nacional da Guiné-Bissau, onde repousam os restos mortais de Amílcar Cabral e de outros heróis da pátria guineense, como Osvaldo Vieira, Domingos Ramos, Tina Silá, Pansau Na Isna, etc. (LG).

Foto e legenda: ©
Luís Graça (2008). Direitos reservados.





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FLVMP43GP

Guiné-Bissau > Bissau > Hotel Palace > Simpósio Internacional de Guileje (1 a 7 de Março de 2008) > Dia 4 de Março de 2008 > Painel 1 > Guiledje e a Guerra Colonial/Guerra de Libertação > Moderador: João José Monteiro (Universidade Colinas de Boé) > Comunicação > 10h00 - 10h30: Carlos Matos Gomes (Coronel do Exército Português) : Guiné 1973 – Quando os portugueses perceberam que chegara o fim.
Neste excerto, com o o início da sua intervenção, Matos Gomes saúda os organizadores do encontro e faz votos para que esta iniciativa frutifique. Muito a propósito, cita o grande poeta africano, o moçambicano, José Craveirinha (1922-2003), Prémio Camões 1991, que escreveu em 1955 o belíssimo poema Sementeira: Cresce a semente / lentamente / debaixo da terra escura. / Cresce a semente / enquanto a vida se curva no chicomo / e o grande sol de África / vem amaurecer tudo / com o seu enorme calor de revelação (...).
Vídeo (1' 13''): © Luís Graça (2008). Direitos reservados. Vídeo alojados em: You Tube >Nhabijoes


1. Mensagem do Cor na Ref Matos Gomes (*), com data de 21 de Setembro de 2008:

Assunto - Um pedido de ajuda (**)

Olá, Luís, mais uma vez parabéns pelo excelente local de convívio e memória que tu e os “camaradas” criaram. Aproveito-o para um pedido de ajuda.

Eu e o Aniceto Afonso estamos a ultimar uma colecção de livros sobre a história contemporânea de Portugal que se centra nos “Anos da Guerra”. Algo que contribua para conhecermos melhor este período recente da nossa vida colectiva. Vamos incluir os factos que consideramos mais importantes para a compreensão do que se passou em cada um dos territórios, em Portugal e no mundo e cheguei a uma dúvida: o nosso comum amigo Josep Cervelló, que é, mais uma vez, nosso colaborador, inclui um facto que não consigo confirmar.

Escreve o Josep Cervelló nos factos relevantes de 1970:

Dia 21 de Dezembro de 1970, ataque do PAIGC ao aquartelamento português de Sedengal, que causou onze mortos.

Alguém, entre os tertulianos, pode confirmar, ou dar alguma informação relativa a este ataque, ou a ataques a Sedengal? Ficaria muito grato por esta ajuda.

Entretanto, quando a obra tiver data de saída informarei a tertúlia. Recebam os melhores desejos de felicidades, de continuação de êxito e de sã camaradagem que tenho tido a oportunidade de verificar nas minhas frequentes e sempre proveitosas visitas ao site.

Carlos Matos Gomes

2. Comentário de L.G.:

Carlos: Obrigado pelas tuas palavras de apreço e de encorajamento que diriges ao nosso blogue e ao nosso projecto, que tem tido algum sucesso, de criar uma Tabanca Grande, virtual, plural, onde possam caber todos os amigos e camaradas da Guiné que queiram partilhar, uns com os outros, e com os demais falantes da língua portuguesa, as suas memórias da guerra colonial / guerra do ultramar / luta de libertação, naquele território, que tu de resto tão bem conheces e onde estivemos os dois juntos, ainda recentemente, numa semana inesquecível (de 29 de Fevereiro a 7 de Março de 2008)...

Quanto ao teu pedido de ajuda, desde já fica aqui registado: estou certo que haverá alguém, dentro ou fora da nossa Tabanca Grande (termo mais forte, simbólica e afectivamente, do que tertúlia) que poderá confirmar ou informar o alegado facto a que aludes, e que teria ocorrido em Sedengal, na fronteira norte, junto ao Senegal: ataque do PAIGC, em 21 de Dezembro de 1970, ao aquartelamento português, de que terão resultado 11 mortos (de ambos os lados ? do lado das NT ? do lado do PAIGC ?)...

Pessoalmente não tenho informação de todo para te confirmar ou informar a notícia. Desconheço a eventual fonte do nosso querido amigo comum, Josep Cervelló. Pode ser que, entretanto, apareça alguém que tenha estado nessa época em Sedengal ou por ali perto (Ingoré, por exemplo) ou noutra parte da região do Cacheu. Estou certo que os nossos camaradas vão tentar ajudar-te (e ajudar-nos) na elucidação desta questão. Temos poucas referências sobre Sedengal. Mas julgo que na época que referes deveria estar em Sedengal um pelotão da CCAÇ 2540 / BCAV 2876 (1969/71). Um dos nossos camaradas que passou por essa unidade foi o ex-Fur Mil SAM, João Manuel Félix Dias, que mora hoje em Alchochete. Boa sorte nas tuas (e nossas) pesquisas. Bom sucesso para o vosso, teu e do Aniceto, projecto editorial.

Um grande abraço. Luís

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Notas de L.G.

(*) Vd.
Curriculum Vitae do Carlos Matos Gomes:

(i) Nasceu a 24 de Julho de 1946 em Vila Nova da Barquinha.

(ii) Fez os estudos secundários no Colégio Nun’Alvares de Tomar e o curso de Cavalaria da Academia Militar.

(iii) Fez três comissões, em Moçambique, Angola e Guiné, nas tropas comando.

(iv) Foi ferido e condecorado, participou em grandes e pequenas operações de guerra um pouco por toda a parte.

(v) É actualmente coronel na situação de reserva.

(vi) Paralelamente à carreira militar tem desenvolvido desde 1983, data da edição do romance «Nó Cego», uma continuada actividade literária.

Como romancista, com o pseudónimo de Carlos Vale Ferraz, publicou, além do referido "Nó Cego", os romances «ASP - De Passo Trocado», «Soldadó», «Os Lobos Não Usam Coleira», adaptado ao cinema pelo realizador António-Pedro de Vasconcelos com o título «Os Imortais», «O Livro das Maravilhas» e «Flamingos Dourados». Tem prestes a ser editado um novo romance «Fala-me de África».

Tem sido editado pelas editoras Bertrand, Nova Nórdica, Circulo de Leitores, Editorial Notícias e Casa das Letras. A sua obra consta das antologias de literatura portuguesa organizadas por João de Melo e foi tema da tese de doutoramento do Professor Rui Teixeira na Universidade de Colónia.

(vii) No cinema foi autor do argumento do filme «Portugal SA» do realizador Ruy Guerra, foi colaborador de Maria de Medeiros no filme «Capitães de Abril» e de Joaquim Leitão nos filmes «Inferno» e «20.13 – Purgatório».

(viii) Escreveu para a RTP a série «Regresso a Sizalinda», baseada no romance «Fala-me de África», a exibir proximamente e que é a primeira co-produção entre as televisões públicas de Portugal e de Angola na área de ficção.

(ix) Participou ainda na área dos áudio visual na ficção «Conta-me Uma História» de João Botelho.

(x) No âmbito da história contemporânea é co-autor, com Aniceto Afonso, das obras «Guerra Colonial» e «Portugal e a I Grande Guerra» editadas em fascículos pelo Diário de Notícias.

(xi) É co-autor, com Fernando Farinha, da obra «Repórter de Guerra», da Editorial Notícias.

(xii) É autor da obra «Nó Górdio – Moçambique 1970», da Colecção Batalhas de Portugal editada pela Tribuna da História.

(xiii) É autor de textos para a História de Portugal dirigida por João Medina para o Ediclube e da História Militar Portuguesa, dirigida por Themudo Barata e Nuno Severiano Teixeira para o Circulo de Leitores.

(xiv) Foi consultor da série de três documentários para televisão «Isto Aconteceu» produzidos por Pedro Efe e da série a “Guerra” de Joaquim Furtado.

(xv) Participou nas séries documentais da SIC e da RTP sobre o Século XX.

Título da comunicação (no Simpósio Internacional de Guileje, Bissau, 1-7 de Março de 2008):

Guiné 1973: Quando os portugueses perceberam que chegara o fim > Sinopse da comunicação:

Em 1973 a situação das forças portuguesas na Guiné fê-los perceber que a guerra chegara ao fim.
Spínola perdera as ilusões quanto ao apoio de Marcelo Caetano para uma solução negociada e ouvira da boca do chefe do governo que preferia uma derrota militar a negociar, as forças armadas portuguesas perderam a supremacia aérea e, sem ela, a guerra estava perdida.

O estado-maior português considerava que as forças do PAIGC tinham capacidade militar para isolarem e ocuparem uma guarnição na fronteira de escalão Batalhão ou duas de companhia, sem que existisse capacidade para o impedir e, menos ainda para as reocupar.

O PAIGC declara a independência e obtivera uma importante vitória política.

A comunicação será uma tentativa de explicação de como haviam os portugueses e os guineenses chegado aqui.


(**) Vd. último poste desta série > 12 de Setembro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3196: Em busca de...(39): Companhia Terminal (Bissau, 1973/74) (Daniel Vieira)

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Guiné 63/74 - P3250: Bibliografia de uma guerra (34): Diário da Guiné - Lama, Sangue e Água Pura, de António Graça de Abreu (José Martins)

A propósito da conferência do nosso camarada António Graça de Abreu, aqui vai uma pequena contribuição.

Um abraço
ex-Fur Mil Trms,
CCAÇ 5 - Os Gatos Pretos


Canjadude, 1968/70
__________

Bissau, 23 de Junho de 1972


Ruma à Guiné, o velho DC-6 ainda confortável e funcional, levantou da Portela de norte para sul e voou através da noite de Lisboa, as quatro hélices cortando o ar em cem milhões de pedaços. As luzes frias da cidade despedindo-se, o rio num abraço escuro, depois o vazio sobre rolos e rolos de nuvens.

Estas são as palavras por que começa o livro do António Graça de Abreu, Diário da Guiné – Lama, Sangue e Água Pura [publicado em 2007].

É um diário, e como tal seria um documento único e privado. Porém, há diários colectivos e que são, naturalmente, pertença de muitos. É o caso.

Mas o diário não se comenta. Lê-se, medita-se, recorda-se. Lê-se, muitas vezes através de uma ténue névoa que teima em chegar e manter-se, contra a nossa vontade, turvando-nos os olhos, apesar de tudo à volta estar claro. Quanto mais a queremos afastar, mais se adensa.

Medita-se, no que poderia ter sido o início e o fim desta aventura, ou desventura, secular a que foram sujeitos, no início dos anos sessenta do século XX, cerca de um milhão de homens, acabados de o ser.

Recorda-se, cada um dos que por lá passamos, aquilo que vivemos e sofremos, no dia-a-dia, desde a partida até à chegada. Recordamos, muito especialmente, com tristeza e saudade, aqueles que ao nosso lado viverem, sorriram e choraram e, por ironia do destino não tiveram regresso ou que chegaram, sem honra nem glória, “acomodados numa caixa de pinho” e desembarcados durante o silêncio da noite, quando tinham partido, à luz do dia, ao som de marchas triunfantes.

Mas não há sempre um regresso?<>
Bissau, 16 de Abril de 1974

Os papéis foram deferidos, a viagem está marcada para 20 de Abril, no voo dos TAM (Transportes Aéreos Militares), com chegada à Portela, ao Figo Maduro por volta das sete horas da tarde.

A Guiné acabou, mas só acredito quando o avião começar a descer sobre Lisboa.



São vinte e três meses de memórias, são muitos dias e muitos minutos, e cada um de nós viveu e sofreu, e agora recorda com alguma saudade (porque não com nostalgia) daquela que é a nossa segunda pátria?... Mas com a certeza do dever cumprido, e, sobretudo, com a esperança de que os nossos filhos e netos nunca tenham de pegar em armas

Bissau, 17 de Abril de 1974

Dividimos almas, afectos, o calor do sangue, ideias, desígnios, promessas de futuro.







Locais e coordenadas dos locais onde esteve o CAOP 1> Canchungo/Teixeira Pinto 12º 06’ N – 16º03 W; Mansoa 12º 03’ N – 15º 19’ W; Cufar 12º 01’ – 15º 18’ W
Fonte: Google Earth


Comando de Agrupamento Operacional

Comando de Agrupamento Operacional Oeste
Comando de Agrupamento Operacional nº 1
Identificação: CAOP / CAOP Oeste / CAOP 1


Comandantes:

Coronel Pára-quedista Alcino Pereira da Fonseca Ribeiro
Coronel de Artilharia Gaspar Pinto de Carvalho Freitas do Amaral
Coronel Pára-quedista Rafael Ferreira Durão
Tenente-coronel de Infantaria Pedro Henriques
Coronel Pára-quedista João José Curado Leitão

Chefes do Estado-Maior:

Major CEM Raul Ernesto Mesquita da Costa Passos Ramos
Major CEM Luís Alberto Santiago Inocentes
Major de Artilharia João António de Gusmão Pimentel da Fonseca
Major de Infantaria Carlos Diamantino Bacelar Pires
Major de Artilharia João Augusto Fernandes Bastos

Inicio: 08 de Janeiro de 1968
Extinção: 01 de Julho de 1974


Síntese da Actividade Operacional

O agrupamento foi organizado e constituído com carácter permanente e com pessoal de nomeação individual, sendo inicialmente orientada para intensificar esforço de aniquilamento sistemático dos grupos inimigos que exerciam pressão directa sobre o "Chão Manjaco", na região de Pecau-Churo-Coboiana-Pelundo-Jol. Para o efeito foram-lhe atribuídas todas as forças localizadas naquela zona de acção, nos sectores de Teixeira Pinto e Bula e outras forças de intervenção, fuzileiros especiais, pára-quedistas, comandos e um batalhão de cavalaria.

A partir de 27Jan69, o CAOP instalou-se em Teixeira pinto, iniciando a sua actividade em 06Fev69 com a série de operações “Aquiles” e desenvolvendo intensa actividade operacional de patrulhamentos, emboscadas, batidas e acções apeadas e helitransportadas, de que se destacam as operações “Jovem Zagal”, “Lobo Bravo”, “Giboia Verde”, “Com Taça”, “Grande Vela”, “Joeirada”, “Gavião Satélite” e “Bafo Quente”, entre outras.

A partir de 12Mar69, a sua zona de acção foi alargada ao subsector de Có e em 05Set69 ao subsector de Cacheu; em 01Jul69, após reformulação dos limites dos sectores, foi ainda criado p Sector 07, em Pelundo.

De 04Jun69 a 28Jun69, o CAOP estabeleceu um comando avançado em Buba e planeou, comandou e coordenou a operação “Grande Salto”, com vista à prossecução dos trabalhos da estrada Buba-Aldeia Formosa e ao aniquilamento dos grupos inimigos Nafo-Unal.

De 6Mar70 a 30Mar70, a sua responsabilidade foi alargada ao sector de Bissorã e de 20Mai71 a 29Jun71, cedeu os sectores de Bula e Bissorã ao Comando de Agrupamento Temporário (CAT), entretanto criado nesse período, para actuar naquela zona.

Em 01Ago70, com a criação de um segundo CAOP, tomou a designação de CAOP Oeste e, em 22Ago70, de CAOP 1.

Em 21Abr71, na sequência de tentativa para conversações de paz no “Chão Manjaco”, foram assassinados na região Pelundo-Jolmete três majores e outro pessoal do CAOP 1.


Em 28Jan71, assumiu o comando directo dos subsectores de Cacheu e Bachile, então retirados à responsabilidade do B.Caç. 2905.

Em 01Fev73, foi transferido para Mansoa, assumindo a responsabilidade de comando operacional dos sectores de Bissorã (O1), Mansoa (O4), Bula (O1-A) e Nhacra (COP 8), este só até 21Mar73, orientando o esforço de contenção da guerrilha para as regiões do Oio, Changalana e Sara, planeando e comandando várias operações, de que se destacam as operações “Empresa Titânica”, “Gente Valorosa” e “Jogada”, entre outras.

Em 21Mar73, destacou vários elementos para organização do CAOP 3, até que, rendido em Mansoa pelo COT 9, foi colocado em Cufar em 02Jan73, assumindo a responsabilidade dos sectores de Aldeia Formosa (S2), Catió (S2), Cadique (S4) e Gadamael COP %) e orientando o seu esforço para a contenção da luta armada na zona Sul e para os trabalhos de construção e asfaltagem de itinerários naquela região.

Em 01Jul74, já na fase de retracção do dispositivo, foi extinto e recolheu a Bissau.

José Martins

_____________

Nota de vb: artigo relacionado em

Guiné 63/74 - P3249: Bibliografia de uma guerra (33): Memórias literárias da Guerra Colonial: Na 5ª feira, todos com o nosso António Graça de Abreu

Guiné > Região do Oio > Mansoa > CAOP 1 > Março de 1973 > O Alf MIl Graça de Abreu junto ao obus 14.


No próximo dia 2 de Outubro, 5ª feira, às 19H00, na Biblioteca-Museu República e Resistência/Grandella , o António Graça de Abreu, membro da nossa Tabanca Grande e nosso querido camarada, apresenta o seu livro Diário da Guiné, Lama, Sangue e Água Pura.

O livro, publicado pela Guerra e Paz Editores, em 2007, foi escrito a partir das notas do seu diário e dos seus aerogramas.

O nosso blogue convida todos os amigos e camaradas da Guiné, e em especial os que residem na área da Grande Lisboa, a participar, festivamente, neste evento. É também um pretexto para nos encontrarmos e matarmos saudades.

O António Graça de Abreu foi Alf Mil, no CAOP 1 (Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74).

(i) Regressou a Portugal nas vésperas do 25 de Abril de 1974.

(ii) Viveu na China vários anos. Entre 1977 e 1983 leccionou Língua e Cultura Portuguesa nas Universidades de Pequim e Shanghai.

(iii) Natural do Porto, é casado com uma médica chinesa, de quem tem um filho.

(iv) É professor do ensino secundário em Mafra.

(v) Leccionou Sinologia na Faculdade de Ciências Sociais Universidade Nova de Lisboa (FCS/UNL) e no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCPS).

(vi) Vive no concelho de Cascais.

(vii) Tem uma dúzia de livros publicados na área da Sinologia, da poesia e dos estudos luso-chineses. É um reputado tradutor de chinês-português.


República Popular da China > Pequim > s/d > O António Graça de Abreu na praça Tianamen

Fotos: © António Graça de Abreu (2008). Direitos reservados.

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Notas de vb:


Artigo relacionado em:

24 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3235 Bibliografia de uma guerra (31): Memórias literárias da Guerra Colonial em Angola

Vd. alguns postes recenets do António Graça de Abreu, publicados no nosso blogue:

9 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3188: A guerra estava militarmente perdida ? (28): René Pélissier, uma crítica, uma adenda, um ponto final (António Graça de Abreu)

19 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2962: A guerra estava militarmente perdida? (20):Um Fraco Rei Faz Fraca a Forte Gente (António Graça de Abreu)

30 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2803: A guerra estava militarmente perdida ? (2): Não, não estava, nós é que estávamos fartos da guerra (António Graça de Abreu)

14 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2760: Notas de leitura (8): Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros... ou a guerra que não estava perdida (A.Graça de Abreu)

O António é membro da nossa Tabanca Grande e activo colaborador do nosso blogue desde Fevereiro de 2007:

5 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1498: Novo membro da nossa tertúlia: António Graça de Abreu... Da China com Amor

6 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1499: A guerra em directo em Cufar: 'Porra, estamos a embrulhar' (António Graça de Abreu)

12 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1517: Tertúlia: Com o António Graça de Abreu em Teixeira Pinto (Mário Bravo)

27 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1552: Lançamento do livro 'Diário da Guiné, sangue, lama e água pura' (António Graça de Abreu)

16 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1601: Dois anos depois: relembrando os três majores do CAOP 1, assassinados pelo PAIGC em 1970 (António Graça de Abreu)

17 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1668: In Memoriam do piloto aviador Baltazar da Silva e de outros portugueses com asas de pássaro (António da Graça Abreu / Luís Graça)

1 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1807: António Graça de Abreu na Feira do Livro para autografar o seu Diário: Porto, dia 2 de Junho; Lisboa, dia 10

7 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2414: Notas de leitura (5): Diário da Guiné, de António Graça de Abreu (Virgínio Briote)

domingo, 28 de setembro de 2008

Guiné 63/74 - P3248: Eu, capitão miliciano, me confesso (1): Engenheiro agrónomo, ilhavense, 32 anos, casado, pai de 4 filhos... (Jorge Picado)


Ílhavo > Costa Nova > 25 de Agosto de 2008 > Eu e o nosso ex-Cap Mil Jorge Picado (*), numa esplanada local. Falando naturalmente da nossa Guiné e das nossas desvairadas vidas. O Jorge, que já está reformado, há uns largos anos, da função pública (foi engenheiro agronómo dos Serviços Regionais do Ministério da Agricultura), sofreu há meses, em Novembro passado, um duro golpe com a morte, aos 69 anos, da sua companheira, esposa e mãe dos seus quatro filhos (Ana Constança, Jorge Manuel, João e José Senos da Fonseca Picado). Maria José de Senos da Fonseca Picado, carinhosamente conhecida na Costa Nova como D. Zeca, foi uma das fundadoras e a grande líder da mais importante instituição privada de solidariedade social da região, o CASCI - Centro de Acção Social do Concelho de Ílhavo, fundado em 1980. Figura ilhavense muito conhecida e respeitada, era "uma força da natureza" - dizem os seus amigos e admiradores. 

 O Jorge é uma figura afável e um grande conversador, um verdadeiro tertuliano. Neste texto, que dá início a uma nova série ("Eu, capitão miliciano, me confesso"), conta aqui as suas peripécias como capitão à força no TO da Guiné... Ilhavense, é um talvez dos raros da terra que não fez a "tropa do bacalhau"... 

Nesta esplanada, havia vários amigos dele e do meu amigo, Zé António, ligados ao mar e às marinhas (mercante e de guerra), incluindo o comandante na reforma e antigo professor da Escola Naval, José Armando Leite, por sinal compadre de outro amigo meu, ilhavense, o Dr. João Sena Vizinho, especialista em medicina do trabalho... Na Costa Nova, que pertence ao concelho de Ílhavo, o mar faz parte, de resto, do ADN de (quase) todo o mundo (**)... 

Leia-se, a propósito, o blogue de Ana Maria Lopes, Marintimidades. A Ana Maria Lopes é a antiga directora do notável Museu Marítimo de Ilhavo, que é de visita obrigatória, para quem passar por aquelas bandas... (Tive o privilégio de ter, este ano, um guia excepcional, na pessoa do Arq José António Paradela, que é um ilhavense de razão e coração, e que aos 16 anos passou pela duríssima experiência da pesca do bacalhau na Terra Nova).


Costa Nova > Ria de Aveiro > 25 de Agosto de 2008 > Um amigo comum, meu e do Jorge Picado, o Arquitecto José António Boia Paradela (pseudónimo literário, Ábio de Lápara).

Costa Nova > Ria de Aveiro > 25 de Agosto de 2008 > A Alice e o Zé António atolados no "tarrafo" da ria... De repente, vi-me transplantado para as margens do Geba Estreito, nas proximidades de Mato Cão, quarenta anos atrás...

Costa Nova > 26 de Agosto de 2008 > c. 8h50 > Caminho pedonal entre as dunas, que vem da Praia da Barra... Um magnífico passeio. Parabéns aos ilhavenses e à Câmara Municipal de Ílhavo pelo seu contributo para a defesa e preservação das dunas desta costa fabulosa, líndíssima...

Aveiro > 25 de Agosto de 2008 > Um tradicional barco moliceiro, hoje transformado em meio de transporte de turistas... Tradicionalmente, os moliceiro têm (ou tinham...) dois paineis de proa e dois de popa, de pintura naïve... Cada painel consta de um desenho policromado, com uma cena mais ou menos pícara, relacionada com o quotidiano dos pescadores ou dos camponeses da ria, enquadrada por cercaduras de flores ou figuras geométricas. Há sempre, na base, uma legenda-comentário, escrita às vezes em mau português, e com um segundo sentido (como no caso da imagem acima: "Mete as batatas no rego"...).

Costa Nova > Ria de Aveiro > Agosto de 2006 > A embarcação tradicional que fazia, até há pouco tempo, a travessia entre as duas margens, a Costa Nova e Ílhavo, cidade e sede do concelho... Parece que a carreira foi extinta... 

 Fotos (e legendas): © Luís Graça (2008). Direitos reservados.

 1. Mensagem do nosso amigo e camarada Jorge Picado (*) com data de 26 de Setembro último: 

 Assunto - CPC/QC 

 Caríssimos Luís e restantes editores: 

 Acordei depois de regressar da belíssima Praia da Costa Nova, onde voltarei hoje para passar o fim de semana da tradicional Festa da Sra da Saúde, apesar de já não se assemelhar ao que era antigamente, mas que por tradição encerrava a época [balnear] e lembrei-me de escrever umas coisas que, se julgarem de interesse e oportunas publiquem. Se as meterem no cesto de papeis, não fico ofendido, podem crer, porque ás vezes dá-me a maluqueira e sou um pouco inconveniente. Abraços do Jorge Picado 

2. Na última década (?) de Agosto, na maravilhosa praia da Costa Nova do Prado onde passava o período estival, tive o grato prazer de rever, infelizmente por pouco tempo, o nosso Chefe da Tabanca Luís Graça, acompanhado de sua Esposa. Só não foi uma surpresa, porque o meu conterrâneo e amigo comum – Arq Paradela – que ele iria visitar, na véspera à noite, tinha-me avisado da sua passagem, a caminho da sua “Quinta” no Douro para uns dias de férias. 

 Foi com grande satisfação que (falámos abordámos) troquei [impressões com ele], Conversámos talvez durante uma hora, se tanto, sobre várias coisas vários assuntos…a minha terra… a profissão - até porque a mulher também era do Ministério da Agricultura … E, como não podia deixar de ser, veio também à baila a temática da Guiné e a minha “repescagem” para o serviço militar. 

Ao contar-lhe, muito superficialmente como e quando as coisas se passaram, fiquei com a ideia que manifestava um certo espanto. Não sei se foi impressão minha ou se na verdade o Luís ainda não se tinha inteirado bem da situação de como “apareceram” certos Cap Mil já um tanto “entradotes” na idade. Isto levou-me a pensar se não seria de deixar o meu testemunho sobre tal facto, até para que muitos possam compreender e ajuizar de certas situações vividas nos TO por quem conviveu com alguns desses “militares”. 

 Evidentemente que sobre esse assunto falo apenas por mim, mas tenho a certeza que das muitas dezenas de camaradas que como eu foram “obrigados” a ser Capitães, não teriam sido poucos os que apenas queriam era ver o tempo passar rapidamente e tudo fazer para preservar as suas vidas se possível de boa saúde, sem carrearem problemas de consciência pela vida dos jovens (que não tinham culpa alguma) obrigados a servir sob as suas ordens. 

OS CURSOS DE PROMOÇÃO A CAPITÃO DO QUADRO COMPLEMENTAR 

 Não sei se antes (do início da Guerra Colonial) já existiam destes cursos, mas quero apenas referir-me àqueles que passaram a existir quando a falta de Oficiais Subalternos para comandarem Companhias (sim, porque a verdade nua e crua sobre muitas vocações militares evaporou-se quando esta profissão teve de enfrentar armas a sério!!!), colocou o Governo de então na situação de lançar mão do expediente de repescarem os Oficiais Milicianos dos anos anteriores ao início da Guerra Colonial e antes de atingirem os 35 anos de idade, interrompendo-lhes as suas actividades profissionais e “subtraindo-os” até aos seus compromissos familiares, independentemente da sua vocação… 

 Faço aqui um parênteses para dizer que houve igualmente o caso dos Médicos que, até com mais idade pois alguns foram como Majores, mas estes iam exercer a sua profissão-especialidade e não comandar jovens em operações militares. Por isso não iam para CPCs ou afins. Começaram por conseguinte a convocar pelos COM que englobavam “os mancebos” no limite daquela idade e foram prosseguindo… até que este “filão” esgotou… e tiveram que “inventar” aqueles que o muito prezado Tertuliano Cor Rui Alexandrino denomina de “Capitães Proveta”, ainda que eu, apesar da idade com que fui chamado, também me considere como “um proveta”, dada a nula vocação militar (se a tivesse, após o 7.º ano liceal teria ido para a Academia Militar, pois que até era bom desportista e a prova disso é que fui o 2.º classificado do meu COM de AAA, graças claro às boas notas dos testes e da parte física que nunca pelo chamado “brio militar” que deixava muito a desejar…) e os fracos conhecimentos militares entretanto adquiridos… 

 Aproveito esta oportunidade, não para me desculpar que nada me pesa na consciência para que o tenha de fazer. Cumpri sempre as ordens que me foram dadas militarmente – em tempo de paz e na guerra – seguindo no entanto sempre aquela velha máxima de caserna mais ou menos assim: “na tropa, voluntário nem para descascar batatas”. Mas faço-o um tanto ou quanto espicaçado pelas duras, e porque não dizê-lo oportunas “críticas”, que o citado Rui faz no seu Rumo a Fulacunda, que aqui aproveito para elogiar e dizer que li (e hei-de reler) com enorme satisfação, não só por relembrar terrenos que pisei (e alguns também calcorreei), mas sobretudo por terem ficado tão “seguros” para mim, graças ao seu (ainda que outros também tivessem colaborado) profícuo labor e enorme capacidade e competência militar. Para o Rui e todos os outros, o meu agradecimento. 

 Depois destas divagações, que considero úteis para que possam compreender e então ajuizar certas situações vividas nos TO por quem conviveu com alguns desses “militares”, acrescento mais alguns pressupostos. Argumentariam talvez os defensores daquela época: “O País estava em guerra…era um dever Nacional que todos tinham por obrigação cumprir…”. Mas a verdade é que nem todos os dos COM eram chamados para estes Cursos. Apenas os que permaneceram nas Armas de Artilharia, Cavalaria e Infantaria, o foram. Ou seja, uns tinham mais obrigações do que outros! “Os de Engenharia não eram precisos, porque as necessidades desta Arma não existiam. Afinal só precisavam de Caçadores”, dir-se-ia. Mas se os Artilheiros (de AA e Costa) foram transformados em Caçadores, porque não transformaram também os Engenheiros? E porque é que alguns que tinham feito os COM naquelas Armas, foram depois, uma vez obtido um Curso de Engenharia, reclassificados (a seu pedido?) precisamente para não serem “apanhados”? E porque nem todos os Cursos de Engenharia permitiam tal reclassificação? 

Enfim, questões que naquela época não podiam ser afloradas, mas que nunca digeri, dado o meu ressaiboamento com a instituição militar (ou talvez fosse mais correcto com o Governo de então) que se foi gerando a partir da passagem a Aspirante Miliciano. Mas antes de prosseguir, como agora é corrente dizer-se quando se apresentam certas ideias, vou fazer a minha declaração de interesses. 

 Não tenho nada contra: (i) a Instituição Militar em si; (ii) todos aqueles que optaram pela carreira militar por convicção; (iii) todos os combatentes que se bateram nos diversos TO e o tenham feito por convicção ou sem ela (como no meu caso). Sou um pacifista, não daqueles folclóricos que empunhavam os cartazes Make love, not war, pois não sou tão ingénuo que julgue possível a resolução de todos os conflitos pelo diálogo, daí admitir a existência de Forças Armadas, é bom que se entenda. Mas ir para a guerra, quando não se optou por essa carreira, é preciso ter razões para tal…para bom entendedor… 

 Por isso após esta declaração de interesses, vou prosseguir com o assunto que me propus expor, mas as minhas queixas contra “o meu serviço militar” não são só as já afloradas. Cheguemos então ao CPC/QC que me transformou em Capitão, não de qualquer navio como as dezenas de conterrâneos meus, mas do Exército. Aquilo porque esperava há mais de um ano, aconteceu nos finais de Junho de 1969, quando recebi a convocatória para “frequentar o CPC/QC-2.º T.º/69, com início em 25/8/69, na EPI, nos termos da nota n.º18211-P.ºHC, de 27/6/69, da 2.ªSec. da RO/DSP/ME”. 

 Tinha: (i) 32 anos; (ii) cumprido o serviço militar obrigatório há 9; (iii) feito o 5.º ano do ISA [ Instituto Superior de Agromomia] há 10; (iv) sido convocado para prestar novamente serviço militar de 30/8/61 a 6/2/62 e de 18/8/62 a 17/10/62 duas situações que me inutilizaram 2 anos de ensaios de campo necessários para o meu trabalho de final de curso tendo como consequência apenas ter defendido a minha Tese do Final de Curso em Julho de 1963 (então já sem arriscar mais ensaios de campo), quando todos os meus colegas de curso já tinham 1 ou 2 anos de exercício profissional; (v) casado (até este acto esteve quase para ser impedido pela Instituição Militar) há 8; (vi) 4 filhos e (vii) trabalhava na Direcção Geral dos Serviços Agrícolas [DGSA] , mais exactamente com sede em Aveiro.

 No meio desta “desgraça”, felizmente que, no início de 1968, quando duma deslocação a Lisboa para reuniões de trabalho nos serviços da especialidade, fui alertado que o Covas Lima – de que já falei em história anterior – tinha sido convocado (ou estaria já?) para o CPC, pois era de COM anterior e, que se aproximava a vez doutro e também a minha - que era de COM posterior - de sofrermos a mesma sorte, pelo que tínhamos de tratar da nossa vida profissional visto que ambos estávamos ligados aos Serviços Agrícolas por contrato que, uma vez interrompido, nos fazia perder o vínculo à Função Pública, mesmo que a interrupção fosse motivada por convocatória militar. 

 Devo confessar que na “parvónia”, i. e. fora de Lisboa, estava completamente a leste destes conhecimentos e só por esta coincidência é que não fui apanhado desprevenido tendo, conjuntamente com essoutro colega, dado os passos necessários para que os Responsáveis da então DGSA salvaguardassem a nossa situação de forma a assegurarem-nos os postos de trabalho no caso de sobrevivermos. 

 Desculpem mais este à parte (ainda poderia acrescentar pelo menos outro), mas esta era a forma como nos tratavam então. Apresentámo-nos na EPI em Mafra no dia 25 de Agosto pelas 8H(?), devidamente fardados como constava das normas e de imediato, num dos corredores do Claustro bem perto da Porta de Armas(?), procedeu-se à formatura onde foi feita a chamada – para conhecimento dos possíveis desertores, que creio não ter havido – tendo sido dada a voz – pelo Ten do QP que nos comandava – de “apresentação a doentes(?)”, com a respectivamente formatura uns passos em frente. Para meu espanto – não sei qual foi a reacção dos restantes – logo se adiantaram alguns que, creio, seguiram quase de imediato para a consulta externa em Lisboa. 

Não sei quantos se safaram ou quantos regressaram, mas sempre guardei a imagem dum, que deve ter sido um bom actor – pelo menos amador no teatro da Academia de Coimbra – cuja face mais parecia ter sido revestida por “uma máscara de desvairado”. Uma coisa é certa, obteve os resultados que queria na Psiquiatria, pois livrou-se de tais sacrifícios pela Pátria. Estou a falar dum tal… oriundo da Figueira da Foz e mais não digo… Não posso precisar se fui o único – logo o 1.º – do meu COM de ART, mas creio que sim e apenas citarei os nomes daqueles de que me lembro. 

 Começarei logicamente pelos 3 colegas Agrónomos, que tivemos o mesmo TO por destino:

- O Ilídio Moreira, do curso de agronomia anterior ao meu, foi Cmdt duma CCaç (Geba) dum BCaç sedeado em Babadinca de 1970-72; 

 - O José Maria Queiroga (o tal que estava nas mesmas condições quanto ao emprego), do meu curso, foi chefiar a EAFB (Serviços Agrícolas) de 1970-72;

 - O António Clemente da Costa Santos, igualmente do meu curso, na REPACAP do COMCHEFE de 1970-72; 

 - O João Cupido, de Mira, e que passou a ser meu colega nas viagens a casa aos fins-de-semana, deixando-o à sua porta e apanhando-o lá ao Domingo à noite no regresso a Mafra, cujo destino também foi a Guiné como Cmdt da CCaç 2753 , onde teve um brilhante Alf Mil que conheci nas margens do RCacheu e não mais me esqueci (mesmo desconhecendo o seu nome, até ao encontro de Monte Real. Gratas recordações, podes crer, Victor Junqueiro); 

 - Tenho uma vaga ideia de que havia um Morais, assim para o gordinho e ar e espírito bonacheirão que teria desertado já em Moçambique (?). 

 - Um Ten MIL que tinha continuado na vida militar e vinha do Quartel da GNR que existia perto das Janelas Verdes, cujo destino desconheci; 

 - Os 3 jovens Alf Mil (ou graduados em Ten?) já com uma comissão e voluntários para seguir a carreira, respectivamente Fernandes (o Cap da famosa expressão do “Verão Quente”, “as armas estão em boas mãos”), Caimoto que também foi para a Guiné e um 3º de que não sei o nome; - Havia ainda um Nascimento que, creio, usava óculos. 

 Pronto, são estas as minhas recordações concretizáveis dos camaradas do CPC. A esta distância, sem qualquer elemento de referência, nem sei quantos éramos, mas o sentimento que guardo sobre a disposição, o (des)interesse, a resistência manifestada à execução da preparação militar que nos era ministrada (analisado agora até me parece que era ou foi um contra-senso) e a quezilência para com os instrutores, posso afirmar que era maioritária. 

Quanto aos instrutores: 

 - Havia um Major, mais para o baixo do que alto, talvez o Cmdt do curso e que nos ministrava uma das disciplinas teóricas, mas já nem sem qual. 

 - Um Cap ou ainda Ten do QC, com uma comissão pelo menos em Angola, que nos ministrava assuntos de Manutenção Militar, de que recordo conscientemente as vezes com que nos chamava a atenção para o cuidado e atenção que devíamos dispensar ao controlo administrativo da Companhia, para que no final da comissão não sofrêssemos qualquer dissabor. Repetiu-nos estes conselhos vezes sem conta, dando-nos exemplos concretos de camaradas “apanhados”, no final das comissões, nas malhas “de outras guerras” que a maioria das pessoas, e com certeza até muitos dos camaradas, desconhecem. 

 Devo confessar que na altura achava toda aquela conversa um tanto ou quanto estranha. Afinal estavam-nos a preparar para comandar soldados numa guerra ou para chefiar uma qualquer repartição administrativa (até uns mapas impressos numas folhas muito compridas me faziam lembrar os existentes nas Repartições de Finanças, que conhecia fruto do meu contacto por ter pertencido à Comissão de Avaliação dos Prédios Rústicos de Ilhavo)? A verdade é que também ia sendo “tramado” nessa outra guerra da MM. Se tiver disposição ainda contarei esse episódio. 

 Não sei quantos Ten do QP nos ministravam outras matérias incluindo as propriamente militares, desde a ordem unida, passando pela aplicação militar, tácticas, provas de campo, etc. Os últimos dias foram considerados como estágio complementar que constou dumas visitas a outras Forças com quem poderíamos ter de actuar, tais como: Fuzileiros; Força Aérea em Tancos e Operações Especiais em Lamego, onde terminámos no CIOE o estágio complementar do CPC no dia 20DEZ, data em que garbosamente fomos promovidos automaticamente a Capitães! E era assim que em 118 dias (não úteis), se transformavam simples paisanos (a maioria, pelo menos, sem motivação e naqueles anos já não apoiantes de tal guerra) de 32-33 anos em “brilhantes” Capitães, que eram dados como aptos para comandar tropas numa guerra daquela natureza? Por isso caros camaradas pergunto. Ainda se admiram de situações menos correctas de certos Cmdt de Companhia? Era assim que queriam ganhar a Guerra? 

 Desculpem, mas tenho por mim que muito fizeram eles. E com estas condições até me admiro como não houve mais mortos devido à sua inexperiência militar. No dia 21 de Dezembro passámos à situação de licença registada, ficando a aguardar (mesmo que tivessem perdido o emprego) o resultado, não do totoloto ou do euro milhões que ainda não existiam, mas do “bilhete premiado” na lotaria dos TO e Unidades. 

 _________ 

 Nota de L.G.: 







Guiné 63/74 - P3247: O Nosso Livro de Visitas (30): José Augusto de Araújo, 1.º Cabo At Cav, CCav 2639, Binar, Bula...(1970/73)

Apresenta-se o José Augusto de Araújo, ex-1º Cabo Cav, CCAÇ 2639




Caros amigos ex-combatentes, daqui vos envio as minhas saudações para todos quantos fazem parte desta Tabanca Grande, e não só! Mas passemos ao que interessa.

Eu gostaria de fazer parte da vossa já longa lista de ex-combatentes, motivo pelo qual vos estou a contactar! Passo portanto a apresentar-me:



Nome: José Augusto de Araújo

Posto/especialidade: 1º cabo Atirador de Cavalaria

Unidade mobilizadora: Reg. de Cav. 7

Companhia Cav 2639

Grupo de combate: 4º pelotão

Local: Guiné

Zonas de acção: Binar, Bula, destacamentos de Pete, Ponta Consolação, Capunga,e Bissum-Naga.


Junto as duas fotos necessárias para o vosso ficheiro/arquivo:





Com os meus agradecimentos

José Augusto de Araújo

__________


Notas:


1. Caro Camarada José Augusto:

Estás apresentado com as honras que te são devidas. Ficamos agora a aguardar a tua Memória.

vb

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