quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Guiné 63/74 - P13974: Álbum fotográfico do alf mil art João Calado Lopes (BAC1, 1967/69): Bambadinca, vista do alto da antena de comunicações (Parte III)



Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > Foto nº 29 >  CC/S/ BCAÇ 2852 (1968/70) > c. 2º semestre de 1968 >  Vista (parcil) do quartel de Bambadinca, do alto da antena das comunicações (*), na direção norte-sul: em primeiro plano, as casernas das praças, depois o campo de campo, a rede de arame farpado, o heliporto e a pista de aviação.  Ao fundo, as estradas que davam para Nhabijões e Xime (lado direito), e Bambadincazinho, Mansambo, Xitole e Saltinho (à esquerda).



Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > Foto nº 29 > >  CC/S/ BCAÇ 2852 (1968/70) > c. 2º semestre de 1968 >  O campo de futebol, que era paralelo à pista de aviação. (Com a ampliação, por volta de 1972, passou a poder receber caças-bombardeiros T 6, em 1972).



Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > Foto nº 29 B > >  CC/S/ BCAÇ 2852 (1968/70) > c. 2º semestre de 1968 >   Lado sul, a rede de arame farpado, o heliporto e a pista de aviação, em terra batida.  (Com a ampliação, por volta de 1972, passou a poder receber caças-bombardeiros T 6, em 1972).


Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > Foto nº 29 C >   CC/S/ BCAÇ 2852 (1968/70) > c. 2º semestre de 1968 >  Do lado esquerdo, a estrada para sul (Bambadincazinho, Mansambo, Xitole e Saltinho).  Era uma estrada frondosa, coberta de bissilões e poilões, tal como a ourtra, à direita, que seguia para Nhabijões, Rio Udunduma, Xime e Rio Geba.


Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > Foto nº 29 D >  CC/S/ BCAÇ 2852 (1968/70) > c. 2º semestre de 1968 >   Os núcleos populacionais  que ficavaam a sul da pista e do aquartelamento, acompanhando a estrada para Mansambio, Xitole e Saltinho... A cerca de 1 km, ficava o importante reordenamento de Bambadincazinho.

Foto: © João Calado Lopes (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: LG]


1. A foto é  do alf mil art João Calado Lopes, BAC 1, 1967/69... Foi tirada (esat e outras), segundo ele, no 2º semestre de 1968, quando em trânsito para Piche. ("Em Bambadinca comandei um pelotão de obuses 10,5. Não sei exactamente quando estive lá, mas foi no 2º semestre de 1968. Para saber com rigor tenho que ir ver a correspondência que troquei com a família. Não estive lá muito tempo pois o meu pelotão foi logo destacado para Piche.").(*) 

O João Calado Lopes foi colega do liceu do João Martins e foram artilheiros. Aguarde-se a entrada solene, com pompa e circunstância, na Tabanca Grande, do nosso temerário fotógrafo que subiu a mais de 50/60 metros, ao alto da antena de comunicações de Bambadinca, para bater estas chapas....

Conferir estas imagens com as vistas aéreas de Bambadinca que temos publicado, nomeadamente as do álbum do Humberto Reis. Praticamente a totalidade das instalações e edifícios de Bambadinca da época de 1969/70 estão identificados. Conferir aqui.




Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > Carta de Bambadina (1955) > Pormenor > Escala 1/50 mil >   Já em 1955, Bambadinca era uma importante povoação do leste, posto administrativo da circunscrição (concelho) de Bafatá, com campo de aviação, posto sanitário, correio, telégrafo e telefone, escola pública, casas comerciais e porto fluvial... Ficava no regulado de Badora, e tinha importantes núcleos populacionais de fulas, balantas e mandingas. 

A 12 km do Xime (que ficava a sudoeste), Bambadinca era o principal porto do Rio Geba Estreito. Era também um importante nó rodoviário, placa giratória para o coração do leste (Bafatá, Nova Lamego e fronteira com o Senegal e com a Guiné-Conacri, na altura - em 1955 - ainda não indepedentes, sendo "chão de francês"...). Para o sul, partia a estrada que ia até ao limite sul da região de Bafatá, o Saltinho, na margem direita do Rio Corubal). Do outro lado, já era a região de Quínara e depois a região de Tombali...  Antes da guerra, tinha se vinha por terra, de Bissau a Bambadinca, através de Porto Gole. Já no final da guerra, havia uma estrada alcatroada, quase pronta, ligando, Bissau a Bambadinca, via Jugudul

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.
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Nota do editor:

(*`) Postes anteriores da série > 

Guiné 63/74 - P13973: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (91): Uma foto velhinha, com mais de meio século, do ferryboat BOR, navegando ao longo da margem direita do Rio Geba, junto ao Enxalé, a caminho de Bambadinca (Libério Lopes, sgrt mil inf, CCAÇ 526, Xime e Bambadinca, 1963/65)



Guiné > Zona Leste > Xime > CCAÇ  536 (Xime e Bambadinca, 1963/65) >  O Bor navegando junto à margem direita do Rio Geba, junto ao Enxalé e ao Xime, a caminho de Bambadinca. (*)

Foto (e legenda): © Libério Candeias Lopes (2014). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


Libério Candeias Lopes
1. O Libério Lopes, 2º Sarg Mil Inf,  pertenceu à CCAÇ 526 (Bambadinca e Xime, 1963/65) e  é um dos nossos veteraníssimos camaradas, do tempo do caqui amarelo e do chapéu colonial... Professor primário reformado, é de Penamacor. Terá sido o primeiro professor do Xime, quando lá esteve, em 1963/64, com um pelotão. Mandou-nos ontem mais uma foto (velhinha) do seu álbum. com a seguinte mensagem:

Caro Luís

Depois de consultar o meu álbum fotográfico, encontrei esta foto da embarcação BOR a navegar no Rio Geba, em frente ao Xime e em direcção a Bambadinca. Navegava sempre do lado do Enxalé, talvez com o receio de algum ataque do lado da Ponte do Inglês.

Já vi uma foto no blog, mas não quis deixar de dar também o meu testemunho.

Viajei na Bor três vezes: duas de Bambadinca para Bissau e uma no sentido inverso. A minha companhia regressou a Bissau nela. Para a época, a Bor era considerada um autêntico paquete.

A foto já perdeu qualidade (tem 51 anos) e as máquinas da altura não eram como as de hoje.

Aproveito para responder ao inquérito. Na altura havia muito poucas máquinas e eu, certamente não a teria se a não tivesse ganho no jogo da lerpa.(**)

Um abraço
Libério Lopes 





Guiné > Zona Leste > Xime > CCAÇ  536 (Xime e Bambadinca, 1963/65) > Foto nº 1 >  O Libério Lopes com um grupo de mulheres, mandingas,  do Xime. Foto do álbum do Libério Candeias Lopes (*).

Fotos (e legendas): © Libério Candeias Lopes (2009). Todos os direitos reservados [Edição: LG]
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 3 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13969: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (90): Foto do ferryboat BOR que levou a CART 730, de Bissau para Bolama, um dia depois de desembaracar do T/T Niassa (João Parreira, ex-fur mil op esp e cmd, CART 730 / BART 733, Bissorã, 1964/65; Gr Cmds Fantasmas, CTIG, Brá, 1965/66)

Guiné 63/74 - P13972: Memórias de Gabú (José Saúde) (46): A minha máquina fotográfica Olympus. Obrigado pelas tuas imagens


1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos mis uma mensagem desta sua fabulosa série.

As minhas memórias de Gabu 

A minha máquina fotográfica Olympus
Obrigado pelas tuas imagens 

Camaradas,

Olho, hoje, para ti e relembro os momentos em que foste, para mim, uma insofismável companheira! Comprei-te numa loja de libaneses, em Nova Lamego. A aquisição baseou-se, essencialmente, sobre uma carência pressupostamente sentida quando ostentava, ainda, a alcunha de piriquito. Optei, no ato da compra, pela marca que já conhecia e fiz menção que o seu manuseamento fosse o mais simples possível. Vislumbrava no horizonte que poderias, em momentos crucias, debitares imagens capitais para mais tarde recordar.

Seguias viagem no bolso do camuflado e a tua humilde ação apresentou-se, a espaços, importante para a reposição de reproduções que nos leva a viajar nas asas do vento e trazer à memória pedaços de indeléveis recordações. O seu aspeto simples, e de mecânica sumária, jamais me deu o mínimo de problemas ou/e de preocupações. Ou seja, a minha Olympus era uma máquina divinal. Não recordo o seu custo exato. Talvez uns quinhentos ou setecentos e cinquenta pesos.

Afirmo, por outro lado, que a generalidade dos documentos visualizados nesta obra, tiveram como base aquele pequeno brinquedo que teimosamente acostou junto a este antigo combatente - sem nome - que prestou serviço militar em território da Guiné.

O clique não obedecia a cuidados antecipados. A visualização do objetivo não apresentava dificuldades pré concebidas. Colocava a máquina na posição de automática e saía, normalmente, uma imagem de se lhe tirar o chapéu. Com ela, a minha Olympus, recolhi pormenores de gentes que viviam no meio de duas frentes de guerra que impunham leis horrendas no terreno.

Recolhi imagens de crianças que muito cedo se habituaram a ouvir os sons horripilantes das armas de fogo que serviam simplesmente para matar outros homens considerados inimigos. Imagens de homens e de mulheres grandes que serviam, por vezes, de fúteis objetos. Em prol da sobrevivência tudo se aceitavam.

A guerra, a tal maldita guerra, traçava horizontes deveras débeis. Melhor, medonhos. Gentes que caminhavam para o campo com uma aparente ligeireza. Pareciam conhecer, e bem, os trilhos do medo. E tudo se conjugava numa irreverente certeza: a população era um alvo apetecível para as duas frentes de guerra. E o povo sabia que eram seres importantes num xadrez de incertezas. 

A minha Olympus acumulava, pausadamente, registos que nos fazem recuar no tempo e trazer à estampa nacos de memórias inesquecíveis. Fomos combatentes na Guiné. Convivemos, no meu caso, com a guerra e a paz. Conhecemos o odor da desgraça.

Vimos companheiros perderem a vida em plena juventude em defesa de interesses alheios. Estropiados que sempre reclamaram uma maior justiça social. Outros que ainda coabitam com traumas psíquicos de um conflito que lhes quebrou uma vida saudável. Outros que tentam passar imunes a problemas mentais que sistematicamente lhes causam problemas no seio familiar ou na comunidade.

Enfim, um rol de aromas nauseabundas de um tempo sem tempo que desafiou gerações transversais e que nos obrigou a combater num conflito sem rumo. 

Para a minha Olympus, que continuo a guardar devotamente no baú da saudade, vai o meu muito obrigado. 


Um abraço, camaradas 
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em: 

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Guiné 63/74 - P13971: Inquérito online: as primeiras respostas: Máquinas fotográficas e fotografia; prova de vida; votos de boas festas 2014/15




Guiné > Região de Tombali > Setor S2 (Aldeia Formosa) >  CCAÇ 18  > c. 1973/74 > Uma saída para o mato.. Foto de Antero Santos , que têm lá mais 300, (que já mandou digitalizar, para partilhar com a Tabanca Grande... Eis uma bela prenda de Natal!).


Foto: © Antero Santos  (2014).Todos os direitos reservados [Edição: LG]


As primeiras respostas à nossa sondagem, envaidas ontem, e também provas de vinda e votos de bopas festas 2014/15 (*)...


(i) Rui Santos [ex-alf mil, 4.ª CCAÇ, Bedanda e Bolama, 1963/65]

 Luis, meu amigo

Máquina fotografica ?? Que é isso ?? Nunca usei ... granadas defensivas, ofensivas, incendiárias, de morteiro,  de bazuca ... isso sim mas nunca atirei com essa ... máquina, apenas fui "atingido" por máquinas de outrèm.

Mas acho piada a quem foi para o mato ... fotografar.

Bom Natal, mas antes encontramo-nos na "Gala dos galos" [, dia 18 de dezembro, na ADFA].

Abraço, Rui Santos (o verborreico)


(ii) João Lourenço [, vive em Matosinhos; ex-alf mil, PINT 9288, Cufar, 1973/74]

Meu caro Luís,

Foi na Guiné que comecei a fotografar, por causa do comércio de máquinas de boa qualidade a preços razoáveis. A minha foi comprada,  salvo erro,  no TAUFIK SAAD,  em Bissau;   era uma Canon FTb, se não erro.

Tenho algumas fotos a preto e branco, mas poucas,  porque vinham revelar a Lisboa, e nem sempre havia portador do mato para a metrópole.

São memórias que guardo com carinho, dos bons e maus momentos

Um alfabravo, João Lourenço



(iii) Rui Vieira Coelho

[médico reformado, ex-alf mil médico BCAÇ 3872 e BCAÇ 4518 (Galomaro, 1973/74, e subdelegado de saúde da zona de Galomaro-Cossé [, foto à esquerda, em 1973, em Galomaro, da autoria de Juvenal Amado]

Tinha máquina fotográfica comprada nos Açores onde estive a fazer inspecções militares,  e era uma Aza Pentax Spontamatic II,  semi- profissional

Tenho fotografias a preto e branco. Tenho a cores. Tenho slides a cores

Um abraço do
Rui Vieira Coelho





(iv) Armando Fonseca 


[, ex-Soldado Condutor, Pel Rec Fox 42, Guileje e Aldeia Formosa, 1962/64]



Levei da metrópole uma máquina tipo caixote que era minha e de mais dois camaradas, e que no final foi sorteada e não me calhou a mim, mas na altura , como hoje, o dinheiro era pouco e não dava para investir em muitas fotografias, mas hoje tenho pena de não ter feito mais

Armando Fonseca

(v)  José Manuel [de Melo Alves] Lopes [Josema]

[vitivinicultor, duriense, poeta, ex-fur mil, CART 6250/72, "Os Unidos de Mampatá, Mampatá, 1972/74]


Sim, tinha uma Kodak, prenda de meu pai no natal de 1971. A Kodak, um lápis e um caderno me acompanhavam para todo o lado. Os rolos eram revelados em Aldeia Formosa, eté o batalhão ser rendido em 73. Havia lá um "habilidoso" que percebia da poda. Depois, passaram a ser revelados em Bissau, quando havia portador.


josema


(vi) Ricardo Almeida 

[, ex-1.ºcabo, CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Farim, K3 / Saliquinhedim, Cuntima e Jumbembem, 1969/71]

Respondi:

1. Nunca tive máquina no CTIG

4.  Às vezes emprestavam-me uma máquina ou tiravam-me fotos

7.  Tenho bastantes “slides”

(vii) Guilherme Ganança


 [ex-Alf Mil da CCAÇ 1788/BCAÇ 1932,
 CabedúCatió eFarim
1967/69]

Olá, Luís Graça

Em relação à sondagem sobre fotografias: eis as minhas respostas:

1 - Nunca tive máquina fotográfica no TO da Guiné.
5 - Havia um «fotógrafo de serviço».
8 - Tenho algumas fotos a preto e branco.

Desejo-te, desde já, um Bom Natal, bem como a todos os camaradas da Tabanca Grande.

Eu estou recuperado e sinto-me bem. Só tenho de cumprir as «ordens de serviço» emenadas do IPO, atarvés da médica que me acompanha.

Alfa-bravo. Guilherme Costa Ganança


(viii) João [José de Lima Alves] Martins

[ex-alf mil art, BAC1, Bissum, Piche, 
Bedanda, Gadamael e Guileje, 1967/69 ]


Respostas:


3. Comprei uma máquina na Guiné


7. Tenho bastantes “slides” [, que partilhei no Facebook e no blogue].


(ix) Antero Santos [ex-Fur Mil Atirador/Minas e Armadilhas da CCAÇ 3566 e da CCAÇ 18 - Empada e Aldeia Formosa -, 1972/74]


 Caros Amigos Luís Graça e demais editores

Relativamente a máquinas fotográficas informo que:

2 - quando parti para a Guiné levei uma máquina da marca Kodak, das mais baratas, toda em plástico.
3 - Comprei depois a um gila, em Empada, uma melhor, da marca Halina, ainda em 72. Em 73, já em Aldeia Formosa, vendi a Halina e comprei ao 1º sargento Pires (da CCAÇ 18, a minha unidade) uma Canon QL 17 (ou 19); esta Canon "foi-se" no Aeroporto Sá Carneiro por volta de 1994; deixei-a numa cabine telefónica e desapareceu. Em 73, numa das idas a Bissau, comprei um projector de slides (que ainda tenho);

6 - tenho algumas fotoa a preto e branco (40 a 50);

7 - tenho slides (cerca de 300) que já mandei digitalizar.

Em 73 comprei em Bissau um projector de slides (que ainda tenho).

Junto uma foto (transferida de um slide) do meu grupo de combate; como sempre saíamos do quartel mais ou menos a granel e quando chegávamos ao posto avançado antes do arame há que agrupar e sair - "vamos a eles antes que eles venham a nós" - frase que eu dizia sempre imediatamente antes de passar o arame farpado. Nos 18 meses que estive em Aldeia Formosa, comandei o grupo de combate por não ter Alferes,

Um abraço

(x) Martins Julião [, empresário, Oliveira de Azxemeis; ex-alf mil inf, CCAÇ 2701, Saltimnho, 1970/72]

Camarada,

Comprei uma no Saltinho, sob encomenda aos gilas, uma Canon,  formidável; no meio da confusão cheguei a Portugal sem ela.

Um furriel da CCaç 2701 era o fotografo de serviço: Furriel Mil Alves.

Uma saudação cheia de tempos idos.

Martins Julião


(xi) Fernando Chapouto 

[ex-fur mil op esp, CCAÇ 1426, Geba, Camamudo, Banjara e Cantacunda, 1965/67]


Quando entrei no Niassa,  a primeira coisa a comprar foi uma garrafa de whisky só para saber como era, não me dei mal com ele, só um bocadinho mais forte do que a minha aguardente de bagaço.

No mesmo dia comprei a máquina fotográfica e foi tirar fotografias sem fim até chegar a Bissau.
Como era fracota quando cheguei ao sector de Bafatá,  comprei uma melhor por dois contos no meu amigo e conterrâneo Eduardo Teixeira, que era o dono da drogaria ao, lado onde se comiam uns bons petiscos e em frente à porta de entrada  do quartel, que passou a revelar-me os rolos, por isso ainda ganhei algum patacon com as fotografias.

È esta a história da máquina fotográfica.

Ficaste elucidado quanto à BOR?

Um forte abraço
Fernando Chapouto

Guiné 63/734 - P13970: História da CART 3494 (3): A ACTIVIDADE OPERACIONAL DA CART 3494 (XIME / ENXALÉ–[N]AS DUAS MARGENS DO GEBA) - A única presença no Enxalé (Jorge Araújo)

 1. Mensagem do nosso camarada Jorge Araújo (ex-Fur Mil Op Esp / Ranger, CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/1974), com data de 4 de Novembro de 2014: 


Caríssimos Camaradas Luís Graça e restantes Tabanqueiros,

Os meus melhores cumprimentos.

Durante treze meses, espaço temporal em que a CART 3494 marcou a sua presença no Aquartelamento do Xime [margem esquerda do Geba], muitas foram as flagelações que sofreu, quase todas elas com armas pesadas e, maioritariamente, à noite, período que era aproveitado para escrever algumas linhas, nos aerogramas ou cartas, para enviar para a “Metrópole”… muitas vezes como prova de vida.

O primeiro ataque de armas pesadas ocorreu num domingo [19MAR1972], cinco dias após concluída a sobreposição com a CART 2715, e o seu início verificou-se por volta das 23 horas, com uma duração superior a meia hora.

A narrativa que hoje vos trago ao conhecimento é uma dupla efeméride, por um lado está relacionada com o primeiro e único ataque ao Enxalé [margem direita] onde se encontrava instalado o 2.º GComb e, por outro, relata com imagens aquela que acabou por ser a minha primeira e única passagem por esse Destacamento.

Obrigado.

A ACTIVIDADE OPERACIONAL DA CART 3494
(XIME / ENXALÉ–[N]AS DUAS MARGENS DO GEBA)
-A única presença no Enxalé-

I– O DESTINO DA CART 3494 EM 1972

I.1–XIME E ENXALÉ

ACompanhia de Artilharia 3494, a terceirae última unidade operacional do contingente do BART 3873, chegouà localidade do Ximeno dia 28JAN1972, 6.ª feira. Na margem esquerda do Rio Geba, sede do Aquartelamento, ficaram instalados três GComb [1.º, 3.º e 4.º] e na margem direita, para se fixarem no Destacamento do Enxalé, seguiu o 2.º GComb, sob o comando do Alf. Mil. Art. José Henriques Fernando Araújo [1946-2012], coadjuvado pelos furriéis: Luciano José Jesus, Manuel Benjamim Dias e António Sousa Bonito e mais vinte e duas praças.


II – A ACTIVIDADE OPERACIONAL DA CART 3494

II.1 – XIME / ENXALÉ – [N]AS DUAS MARGENS DO GEBA

Em 19 de Julho de 1972 – uma quarta-feira – já lá vão quarenta e dois anos, encontrava-me em trânsito de Bissau para o Xime, viagem realizada à boleia em barco civil, na sequência de me ter deslocado ao Hospital Militar Principal [HM241] para extracção[cavalar: - método utilizado sem anestesia; porque esta cá tem] de um molar que, volta e meia, me tirava o sono e alguma tranquilidade.

A opção pelavia marítima era, com efeito, a única alternativa que dispunha para chegar ao Leste de forma expedita e, consequentemente, à minha Unidade e à minha Tabanca – o Xime.

Depois de algumas horas sulcando as águas do Geba passadas à torreira do sol, resistindo ao ruído dos motores da embarcação e lutando com os mosquitos que, tal como nós, aproveitaram esta oportunidade de viagem, avistámos, na margem direita, o Aquartelamento de Porto Gole onde “residiam”, à época, os camaradas da CCAÇ 3303. Faltava, então, percorrer uma dúzia de milhas marítimas [22 kms.] para o final da prova.

À medida que íamos avançando na navegação, a intensidade do sol ia diminuindo, e do nosso lado direito [margem esquerda] começámos por avistar Gampará, as águas do Corubal a fundirem-se com as do Geba e a orla mítica da Ponta Varela até ao Xime.

Estávamos com o pontão do cais no horizonte visual, por isso quase a chegar ao destino. Até lá… chamou-nos à atenção a quantidade de canoas que se deslocava no Corubal em direcção ao Xime, seguindo depois em direcção ao Enxalé. Havia mais mulheres que homens e a maioria delas transportavam à cabeça, cobertos com panos tradicionais, recipientes redondos tipo cabaças. O que tinham no seu interior?… Não dava para ver… mas levantou-me muitas dúvidas. Será que esta movimentação tinha/teve alguma relação com o narrado no ponto seguinte? Talvez…, pois ocorrera entre uma hora e uma hora e meia antes.

Chegado a “casa emprestada” [quartel], e logo a seguir a ter dado sinais de vida distribuindo as naturais saudações por quem surgia no meu itinerário, impunha-se tomar um merecido duche com água[escura] do poço, antecedendo o normal jantar de “arroz de estilhaços”,na messe.

Logo… logo… quase em simultâneo… começou o arraial. Os camaradas do 2.º GComb, no Enxalé, estavam a embrulhar… e de que maneira… com armas pesadas e ligeiras… a coisa estava/esteve mesmo muito assanhada.

II.2 – ATAQUE AO ENXALÉ COM ARMAS PESADAS E LIGEIRAS

- 19 DE JULHO DE 1972 -

Eram aproximadamente vinte horas e trinta minutos quando se iniciou o combate, em que a adrenalina subia a cada batimento cardíaco, mesmo para quem não estava a viver deperto aquela situação.

Como apenas fomos testemunhas oculares… da outra margem; a esquerda,socorremo-nos, neste contexto, do documento dactilografado da História da Unidade [BART 3873], no 4.º fascículo; Julho de 1972, ponto 31. «INIMIGO»; alínea d) Subsector do Xime; em que se refere o seguinte [P13488]:

- “Em 192030, o Destacamento do ENXALÉ foi intensamente atacado e durante 20 minutos. A nossa reacção surgiu pronta e ajustada. Sofremos 1 morto [Milícia] e 2 feridos [Milícias]. O inimigo: 4 mortos, 7 feridos e 1 prisioneiro. Salienta-se o tiro acertado de Artilharia do XIME em apoio às forças atacadas.Em 241130, 1 elemento da população, recém-apresentado, quando se dirigia a MADINA para trazer a família sob controlo IN, accionou 1 mina A/P reforçada, em [Xime 3A2-83] que lhe provocou morte imediata” (p.22).

No mesmo documento, ponto 33. «NOSSAS TROPAS», alínea b); conclui-se que a acção contra o ENXALÉ foi uma retaliação à Operação «AGARRA CABRITOS», realizada de 10 a 12 de Julho pelos GEMIL’S 309 e 310, mais uma Sec do COE, com percurso ENXALÉ-MADINA, em que os resultados foram 1 morto e 3 feridos IN e capturada 1 «Kalashnicov», sem consequências para as NT.


Foto 3 – Enxalé [Julho/1972] – Panorâmica exterior do Destacamento após o ataque.

II.3 – A MINHA ÚNICA PRESENÇA NO ENXALÉ

- 21/22 DE JULHO DE 1972 -

Já não sei precisar as razões que levaram a deslocar-me ao Destacamento do Enxalé dois dias após o ataque sobredito. Talvez para substituir alguém provisoriamente… ou…?O que é facto, é que por lá passei uma única vez e onde dormi uma noite. Esta primeira e única travessia do Gebafoi uma experiência marcante pois foi feita em canoa [bailarina], como as imagens abaixo documentam.

Navegar naquele tronco de árvore “desventrado”, em que tudo podia acontecer nomeadamente por influência do fenómeno da natureza designado por «macaréu», só deve ser comparável com a sensação de um funambula quando se movimenta no cimo de um fino arame, particularmente na actividade circense.

É que vinte dias depois desta primeira experiência no Geba, outra ocorreu como foi o caso do «Naufrágio no Rio Geba - 10AGO1972», esta mais dolorosa e violenta, e que já tive a oportunidade de narrar [P10246 + P13482 + P13494].

Eis algumas imagens da única viagem e estadia no Enxalé em JUL/1972.


Foto 4 – Rio Geba [Julho/1972] – Travessia em canoa entre o Xime e o Enxalé. Ao fundo é a margem esquerda, observando-se a embarcação “Bubaque”, antiga LP4 [Lancha Patrulha 4 – 1963/1964], antiga traineira de pesca algarvia…comprada como sucata à Marinha [P13914, com a devida vénia], em direcção a Bambadinca. Esta embarcação, depois de abatida ao efectivo, foi comprada pelo pai de Manuel Amante da Rosa, hoje embaixador da República de Cabo Verde, em Roma. 


Foto 5 – Enxalé [Julho/1972] – Margem direita do Geba… agora em terra firme.


Foto 6 – Enxalé [Julho/1972] – Na companhia do Furriel Benjamim Dias e dois elementos da população, que desconheço, em visita de cortesia. 


Foto 7 – Enxalé [Julho/1972] – Tabanca… com o Furriel Benjamim Dias em amena cavaqueira com alguns elementos da população.


Foto 8 – Enxalé [Julho/1972] – Tabanca... elementos da população em interacção com os camaradas militares do 2.º GComb.


Foto 9 – Enxalé [Julho/1972] – Ruínas de uma destilaria de aguardente de cana que foi pertença de um português, de nome Pereira, natural de Seia, e que ali funcionou até 1962. 


Foto 10 – Enxalé [Julho/1972] – Imagem das ruínas de uma destilaria de aguardente de cana que funcionou no Enxalé até 1962.


Foto 11 – Região do Oio (Mansoa) > Jugudul > Abril de 2006 > O antigo aquartelamento das NT, em Jugudul, cujas instalações foram cedidas, a seguir à independência, ao Sr. Manuel Simões, guineense branco de Bolama, para a sua fábrica de aguardente de cana [P6116-LG com a devida vénia].
Foto 12 – Enxalé [Julho/1972] – Imagem de despedida daquela que foi a primeira [e única] passagem pelo Enxalé.

Agora que cheguei ao fim de mais uma viagem pelas memórias do Xime e do Enxalé, nos idos anos de 1972/1973, espero que tenham gostado de as recordar, não só os camaradas membros da CART 3494, como todos aqueles que por lá passaram.

No nosso caso, foram treze meses em que, aqui,nas duas margens do Rio Geba, se contabilizaram um número significativo de grandes emoções e tensões, nomeadamente pela perda de vidas humanas – quatro: três no Geba e um na Ponta Coli.

Um abraço,
Jorge Araújo.
Fur Mil Op Esp / Ranger, CART 3494
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Nota de M.R.: