segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Guiné 63/74 - P13988: Notas de leitura (655): Apresentação do livro "O Concelho de Fafe e a Guerra Colonial (1961-1974)", dia 12 de Dezembro de 2014, pelas 21h30, na Sala Manoel de Olivera, em Fafe (Beja Santos)

CONVITE PARA O LANÇAMENTO DO LIVRO "O CONCELHO DE FAFE E A GUERRA COLONIAL (1961-1974), A LEVAR A EFEITO NO PRÓXIMO DIA 12 DE DEZEMBRO DE 2014, PELAS 21H30, NA SALA MANOEL DE OLIVEIRA, EM FAFE.
A APRESENTAÇÃO SERÁ FEITA PELO NOSSO CAMARADA MÁRIO BEJA SANTOS QUE TAMBÉM PREFACIOU A OBRA.





Fafe na luta contra o esquecimento

Prefácio de Mário Beja Santos

A obra “O concelho de Fafe e a guerra colonial (1961-1974)”, com a chancela do Núcleo de Artes e Letras de Fafe, é uma iniciativa exemplar: destas paragens partiram para três teatros da guerra africana mais de 1500 jovens, houve vidas ceifadas e vidas destroçadas, há mágoas insanáveis, há ainda memórias em carne viva, para muitos há uma guerra ou um tumulto que adormece com intermitências, sucedem-se, inopinadamente, rebentamentos e gritos de feridos que vão e vêm, e que deixam sofridos, stressados, não poucos desses combatentes, repercutindo-se esta dolorosa agitação nas suas famílias.

Fafe, ao longo destas últimas décadas, evoca-os com tocante dignidade, e mediante várias iniciativas ímpares. O documento agora à disposição do público, e de que fui cumulado com a honra de apresentar, congrega diferentes intervenções dentro de um curso livre de história local. O leitor passa a ter à sua disposição olhares de gente da terra que se irá debruçar sobre o contexto internacional em que fermentou, se preparou e desencadeou a guerra de guerrilhas em Angola, Guiné e Moçambique. O que aqui se escreve é fidedigno, probo, irrefutável. Esse mesmo leitor estremecerá quando vir partir estes jovens mal preparados e até profundamente desconhecedores dos lugares para onde são levados. Tudo fica sumariamente explicado desde os centros de instrução, a formação de batalhão, a existência de uma unidade mobilizadora, as rendições individuais, a chegada a África, o ponto de partida para a viragem de um jovem em adulto, porque todos aqueles teatros mexeram com a gente, mudaram a gente: na abnegação e na solidariedade; a cuidar da solidão e a gerir saudades; a descobrir a liderança e o sentido das responsabilidades com a vida dos outros em jogo; a ver a morte de perto e a engolir as lágrimas; por causa desta guerra se sulcaram dimensões imprevistas, desde a higiene e os cuidados com o corpo, até às novas dimensões do que é essencial e secundário nas nossas escolhas, e para todo o sempre.

O que prontamente me impressionou foi constatar que este minucioso estudo local tem foros de universalidade, há ali dimensões do país todo, aqueles testemunhos, aqueles relatos de operação são genuinamente portugueses, apesar de todos nós termos um apodo local: o Setúbal, o Xabregas, o Açoriano… Um estudo onde há mortes em combate e por acidente, heróis e desaparecidos, moribundos que não se deixam em terra de ninguém, há gente que se atira ao rio para salvar o camarada; há filhos nascidos de relações espúrias ou paixões assolapadas. Estão ali os fafenses, estão ali todos os portugueses que combateram em todas as paragens africanas. Igualmente interessante é o estudo da imprensa, uma análise cuidada, estão ali as mensagens de exaltação nacionalista, saídas de professos como houve em tanta imprensa nacional e regional daqueles tempos, como se vai ler noticiário de partidas e chegadas, com crónicas de militares e variadas peças literárias.

Alguns autores fazem depoimentos circunstanciados sobre as suas comissões, lendo-as, dei comigo a pensar sobre o que tenho refletido acerca de literatura da guerra colonial. E como há um estudo cativante neste livro sobre as memórias literárias na guerra colonial, convocando fafenses, permito-me dissertar sobre a importância desta literatura que procuro dedicadamente estudar há alguns a fio, vazando para este espaço o que penso sobre esta corrente nascida com o desencadear das hostilidades e que só desaparecerá quando se finar o último combatente da guerra colonial.

Primeiro, é um fenómeno literário irradiante, abarca romance e conto, memórias, ensaio, poesia, reportagem, história e diários. Nela debutaram e aprimoraram o seu talento escritores inesquecíveis como Álvaro Guerra, João de Melo, José Martins Garcia, Lídia Jorge ou António Lobo Antunes. Há centenas e centenas de títulos e agora, que estes plumitivos estão na reforma, estes ex-combatentes escrevem torrencialmente. De um modo geral, escreve-se uma vez e fica tudo dito, é o que eu chamo o primeiro e último regresso. Há casos excecionais de reincidência, como Armor Pires Mota que escreveu Tarrafo em 1965 e continua a escrever, parece que nunca mais deixou a Guiné.

Segundo, é um subgénero literário que possui uma marca própria, o que se escreve sobre a Guiné não é coadunável com Angola e Moçambique. É que as guerras não são só emoções, podem ter ficado nas memórias tiros e rebentamentos, o medo das minas, a fúria das emboscadas, mas os “inimigos” tinham localização e natureza diferenciadas, todos estes palcos de guerra eram intransitáveis. Tenho lido livros sobre Angola em que há caminhadas sobre montanhas, viagens de centenas de quilómetros, pode haver parecenças com Moçambique, absolutamente impossível com a Guiné. Transcrevo o que já escrevi: “Atenda-se ao relevo da Guiné, com os seus pântanos e onde cresce uma vegetação eriçada, um temível obstáculo para quem queria progredir a partir de uma lancha, para se internar rapidamente na mata; havia aquelas marés que até enganavam os profissionais, aquelas distâncias aparentemente curtas que se tornavam em infindáveis marchas onde até os guias se perdiam e os azimutes falhavam. Os palcos de guerra têm todos a sua identidade e a Guiné é este tarrafo, os poilões, os lagartos à espreita nas bermas das águas barrentas de cursos de água sem nascente; a Guiné tem o seu crioulo, os seus tornados, o seu macaréu, na Guiné se encontrava a lepra e as mais terríveis doenças tropicais. E, acredite-se ou não, o combatente do PAIGC tinha uma vontade indómita, era corajoso e com bravura enfrentava essoutros combatentes que não lhe voltava as costas”.

Terceiro, como em tudo na vida, este subgénero literário está marcado pelo tempo e o espaço. Nos anos 1960, era uma literatura de exaltação patriótica, de glorificação do esforço do soldado português; na década de 1970, com discrição antes do 25 de Abril e às escâncaras com a democracia, começaram os libelos acusatórios, apareceram peças ímpias ou truculentas; nos anos de 1980 e daí em diante a escrita parece que serenou, mesmo a ficção ganhou vincos memoriais. E escreveram-se memórias de toda a ordem e feitio, do punho de gente de todos os ramos das Forças Armadas. Um pouco à margem, publicaram-se documentos históricos como aqueles que foram assinados por João de Melo, Aniceto Afonso e Carlos de Matos Gomes, José Freire Antunes. Agora a escrita parece mais desinibida, parece que a memória está menos recatada, mas há uma extrema necessidade de pôr a pratos limpos a experiência avassaladora que se quer comunicar. Exemplifique-se com uma passagem de um livro importante, As Ausências de Deus – No Labirinto da Guerra Colonial, de António Loja (Âncora Editora, 2.ª edição, Abril de 2013):  
“Não teve tempo de dizer-me que havia uma mina na picada porque, na certeza enganosa de que o terreno que antes calcara estava livre, colocou o pé sobre outra, já tinha passado sem notar e que explodiu com violência. Mamadú ficou desfeito, literalmente, em pedaços espalhados pela picada e escorrendo derrames das árvores; e Abdulai, que vinha logo atrás, foi apanhado por um estilhaço que o atingiu na parte superior do tórax. Deu dois passos na minha direção, dizendo: 
- Ai, meu capitão! Meu capitão! - De um buraco abaixo da clavícula jorrava, a cada batida do coração, um repuxo de sangue que me atingiu a cara, os óculos e me escorreu para o nariz e para a boca. Sustentei-o debaixo dos braços e pousei-o devagar sobre as folhas das árvores, no meio da picada, enquanto toda a companhia assumia posições de defesa. Nunca consegui esquecer o sabor do sangue ainda quente e o cheiro adocicado e logo nauseabundo que me invadiu as narinas. Disse-lhe uma mentira piedosa:
- Vem aí o enfermeiro. Vais ficar bem! Já mandei vir o helicóptero…
Espero que ele tenha acreditado, nos breves segundos que levou a morrer. Só que na morte não há breves segundos. É um tempo sem relógio. É toda a eternidade de um fim que parece nunca chegar. Morreu a esvair-se em sangue que ninguém poderia estancar. O que recordo com horror é a minha reação seguinte: ainda ajoelhado junto dele, inclinei-me para o lado e vomitei, de um modo incontornável, ali a dois passos do cadáver do meu camarada”.

Quarto, esta literatura é tão ou mais importante que os relatos das operações, as histórias das unidades militares, os ensaios interpretativos de toda a índole. Constituída, em grande parte, por edições de autor, e sem grandes pretensões de chegar ao grande público, acolhe testemunhos soberbos de oficiais, sargentos e praças. Um dos autores do livro observará: “A guerra não acaba. Fica em nós até ao nosso fim. E fica a obrigação de nos reconstruirmos e ensinar o que aprendemos, de tentar encontrar uma virtude e um sentido para a vida”. E lendo os poemas dos combatentes de Fafe leio toda a poesia que chegou a esta metrópole por aerograma ou carta, enviada à mulher ou à noiva ou a familiares, e que parece ser fado militar, acima de qualquer patente, são homenagens aos mortos, lembranças à mãe que está longe, por vezes versos de desalento. São narrativas de circunstância, tal o choque daquela mina ou daquela emboscada. E há os reencontros, na justa medida em que estes militares teimam em ver-se, reúnem-se anualmente de Norte a Sul do país e em momentos mais solenes como o cinquentenário da CCAV n.º 587, que ficou inoperacional ao fim de um ano de combate, tantos foram os mortos e os feridos. E li com emoção neste documento o que escreveu Parcídio Summavielle, que não vejo há tanto tempo e de que guardo apreço e admiração, a propósito deste meio século daquela unidade militar devastada, algo que vai de Fafe para o país inteiro e que nos convida a continuar a trilhar a pesquisa, a acumulação de testemunhos e o render de homenagem a quem parece destinado ficar numa nota de rodapé na história de Portugal:
“Durante dois longos anos aprendemos a saber como e quanto é desgastante viver a incerteza e a incógnita do amanhã! A vida jogava-se numa roleta quase diária, numa angústia de nervos à flor da pele, numa esgotante luta contra o medo. Mas havia que resistir, que tudo fazer para, ao fim do dia, poder riscar mais um dia no calendário (…). Lá longe, aprendemos também o valor incomensurável da chegada do correio, do refúgio da sua leitura, da importância desse laço que, por instantes, nos unia ao mundo a que tínhamos sido arrancados. E, impotentes, aprendemos ainda a iniquidade, a irracionalidade e falta de sentido de tal conflito armado.
Por tudo isto, porque a memória não se deve varrer e muito menos apagar é que hoje aqui estamos (…)”.

E é por hoje aqui estarmos que estes testemunhos são valiosos. Fafe está de parabéns pela memória que conserva. Que todos os outros lugares de Portugal ponham os olhos nesta dedicação, nesta permanente lembrança em nome dos feridos e dos mortos, para que o porvir deles aproveite a lição.

Lisboa, 5 de Novembro de 2014
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Nota do editor

Último poste da série de 5 de Dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13977: Notas de leitura (654): Reimpressão do livro “Crónica dos [Des]Feitos da Guiné" da autoria de Francisco Henriques da Silva (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P13987: A minha máquina fotográfica (1): (i) da velhíssima Kodak do meu pai à minha Canonet; (ii) da Filmarte (Lisboa) à Foto Íris (Bissau); e (iii) das minhas fotos importantes, a preto e branco (Mário Gaspar, ex-fur mil at art minas e armadilhas, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)

Foto 1 – A muito antiga Kodak do meu pai


Foto 2 – A Minha Canon – Canonet, comprada em Ganturé, a um alf mil da CCAÇ 728.

Fotos: © Mário Gaspar (2014). Todos os direitos reservados [Edição: LG]



1. Texto, com data de 2 do corrente, do Mário Gaspar [ex-Fur Mil At Art e Minas e Armadilhas da CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68]



Sondagem: Máquinas (Fotográficas, Fotografia(s), há 50 anos Atrás...

por Mário Vitorino Gaspar


[, foto à esquerda, em Gadamael, no final da comissão]


Camaradas:

Queria adquirir uma Máquina Fotográfica para substituir a velhíssima Kodak do meu pai – que curiosamente fazia milagres, e sem quaisquer filtros – admirando-se o Fotógrafo que revelava os rolos da nitidez das fotos.

Tirei fantásticas imagens da natureza com a velhinha Kodak – ainda a possuo – e muito jovem tive esta paixão e recordo ainda uma a foto do Carnaval do Estoril; outra numa mesa repleta de copos e um maço de tabaco SG. E aquela de uma bateira do rio Tejo, embarcação usada pelos avieiros, os oriundos de Vieira de Leiria? Por último – e entre outras – a da chaminé da Fábrica do Cimento Tejo, com um fumo ténue (que foi bastante elogiada por fotógrafos amadores de Alhandra, devo-a ainda possuir). Hoje a cimenteira é a Cimpor. Devo ter escondido em qualquer canto a saborosa bateira do Tejo.

Mas sempre gostei das fotografias a preto e branco. Continuo a pensar o mesmo nos dias de hoje.

Quando parti para a Guiné, não levei a velhota Kodak, pensando comprar uma em Bissau – de preferência japonesa, trazida de Macau tal como como os relógios Seiko – que tinham muita procura. Não desembarquei em Bissau, indo logo com bagagem para uma LDM e Batelão BM­‑1. Ficámos espantados, visto julgarmos desembarcar na capital. Seria de esperar um desembarque em Bissau. Deram­‑nos uma maçã, um quarto de pão, uma laranja, um ovo e um destino incerto. Depois de encaixotados avançávamos por via fluvial estreita, o mato quase que nos tocava.

A compra da máquina fotográfica fora adiada. Entretanto em Ganturé comprei uma Canon – Canonet a um Alferes Miliciano de rendição individual da CCAÇ 798 que julgo chamar-se Santarém. O negócio foi efectuado como uma brincadeira. Pus uns patacões na minha mão bem fechada, e disse ao Camarada Alferes que lhe dava toda a "guita" escondida, em troca da dita máquina. Riu e aceitou o desafio. Respondi que nada estava resolvido porque tinha de pagar uma rodada para todos: 2 Alferes Milicianos (um era ele) e três Furriéis Milicianos. Ficou-ma a Canonet em 850 patacões [ pesos]. Possuía um erro de paralaxe, mas como verifiquei na prática o mesmo, não era problema.
A máquina fotográfica era mesmo uma dádiva divina – dos Oficiais e Sargentos – não me recordo de um Praça possuir esse luxo. Mas mesmo estes eram poucos os que as possuíam. Isto na CART 1659, penso não ser generalizado, até pela existência de inúmeras fotos espalhadas em todo o país que relatam a Guerra Colonial nas três frentes.

Enviava para a Metrópole, rolos e rolos para os Laboratórios Fotográficos da Filmarte, em Lisboa. Desapareceram-me dois rolos de 36 fotos cada, praticamente todos tirados no "corredor da morte" e julgo ter sido a PIDE, porque eram documentos que denunciavam uma guerra. Recebi dois rolos em branco. Em Outubro de 1995 vim a ver uma dessas fotos numa Exposição sobre a Guerra Colonial na Fundação Calouste Gulbenkian.

Comecei depois a mandar revelar as fotos em Bissau – Foto Íris ou Laboratórios Íris, em Bissau – não tinham a qualidade da Filmarte, em Lisboa. Sei da existência de Laboratórios improvisados por várias zonas da Guiné. Muita beleza existia naquela terra no "cu do mundo".

Para a Família – fotos enganadoras – calção de banho e sempre vestido para família ver que vivia num paraíso – como se dissesse "Cá tudo bem!"

Pelo Natal de 1967 uma foto tirada a abranger Gadamael Porto entre azevinhos e o emblema da CART 1659, surge escrito: – "Boas Festas e Ano Novo e Muito Feliz". O maravilhoso nascer e pôr de sol; os imponentes embondeiros; as bajudas e aquela mata mortífera que no inferno ampliava de multicores o belo.

A cultura; a diversidade de etnias, o enorme e sonoro batuque e a dança ritmada de mulheres e crianças. A música, sua nostalgia e o seu movimento rítmico, nasceu em África. A máquina fotográfica não cria movimento.

Mas a fotografia possui o dom de mostrar a cor, antes da seca da flor na floresta, é perpétua. A flor seca, a floresta se consome, arde e morre, não é perpétua. O que se passa com a pintura do pincel do artista e a escultura do cinzel, eternos

Em suma: Guiné é África, sinónimo da grandeza de Deus. Sem guerra, bem diferente seria. Iniciei um trabalho na fotografia, mas depois de me roubarem 2 rolos de 36 fotos na Filmarte, perdi o interesse, e foi pena…

Tinha muitas fotos, mas emprestei-as, mas nunca tive apetência pelos slides.


FOTOS IMPORTANTES


Foto 3 – Abandono de Sangonhá e Cacoca a 27 de Julho de 1968

Foto: © Mário Gaspar (2014). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


Existe o abandono de Sangonhá e Cacoca e portanto da População Civil a 27 de Julho de 1968. O Brigadeiro António Sebastião Ribeiro de Spínola, que desembarcara em Bissau a 20 de Maio de 1968,  dera ordens para o desmantelamento daquela zona, o que vinha prejudicar profundamente as defesas de Gadamael Porto e Ganturé.

Posteriormente em Gadamael Porto – na hora do almoço – fortes explosões vêm de Sangonhá. Após ter sido chamado ao Comando, chefiei um Grupo de Combate, constituído um Pelotão, Praças "U" e Caçadores Nativos para verificar o que se passara realmente. Fizemos uma batida no aquartelamento abandonado, picámos minuciosamente, existindo fortes possibi­lidades de estar tudo armadilhado, pensei até terem montado um campo de minas. Verificámos o estado em que o mesmo se encontrava. Tudo destruído. O PAIGC destruiu completamente Sangonhá. Mas esperava pior.

A CART 1659 estava no fim da comis­são.



Foto 4 – Apoiámos Guileje – e no Cruzamento de Guileje o PAIGC desandou

Fotos: © Mário Gaspar (2014). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


De 08 a 14 de Abril de 1968 a CART 1659 entrou na Operação Bola de Fogo – Implementação de um aquartelamento no "corredor da morte", "corredor de Guileje". A CART 1659 colaborou promovendo as descargas de todos os rea­bastecimentos e material destinados às forças empenhadas na operação e à montagem do novo aquartelamento. Procedeu ao transporte dos mesmos até Guileje e colaborou, com viaturas e respectivos condutores, em todas as colunas que, de Guileje, se efectuaram para o aquartelamento de Gandembel, cuja localização era impensável, visto estar localizado na fronteira. Estavam quase 24 horas debaixo de fogo.

A CART 1659 apoiou Guileje, quando chamada a colaborar, visto estes estarem a ser atacados em força e quando a Companhia chega ao Cruzamento de Guileje, o PAIGC desandou – deixando para trás – porta granadas metálicas de CAN S/R e granadas de Lança Granadas Foguete, armamento que não tiveram oportunidade de levar. Recolhemos todo o material de guerra e continuámos a segurança.

Entretanto sobrevoam três aviões. Mig ? Ainda hoje não sei…

O abandono de Sangonhá e Cacoca em 1968. A montagem do novo Aquartelamento de Gandembel – o Inferno de Gandembel – em pleno "corredor da morte" ou "corredor de Guileje" em 1968. Em 1969 a desactivação de Mejo e Ganturé, e o fim previsível de Gandembel – que deu os sinais claros da política errada de Spínola – deixou Guileje e Gadamael Porto sós.

Há quem esteja desarticulado de todos estes acontecimentos. O nosso Camarada Coutinho e Lima ordenou a retirada e com razão. Os meus agradecimentos pela atitude do Camarada.


Um Abraço

Mário Vitorino Gaspar
[Ex-Furriel Miliciano Atirador de Artilharia,
Especialidade de Minas e Armadilhas
CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68]

[Autor de O corredor da morte, edição de autor, Lisboa, 2014. Para adquirir a obra contactar:
mariovitorinogaspar@gmail.com ]


Fotos nºs 3 e 4 – Reservados todos os Direitos de Autor |
Registo no IGAC n.º 807/2014 | Depósito Legal: 368452/13 |
ISBN: 978-989-20-4220-6


Guiné 63/74 - P13986: Parabéns a você (825): Jorge Teixeira, ex-Fur Mil do Pel Canh S/R 2054 (Guiné, 1968/70)

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Nota do editor

Último poste da série de 5 de Dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13975: Parabéns a você (824): Manuel Carvalho, ex-Fur Mil Armas Pesadas da CCAÇ 2366 (Guiné, 1968/70)

domingo, 7 de dezembro de 2014

Guiné 63/74 - P13985: A propósito de paludismo... Foram estes alguns dos comprimidos tomados por milhares de jovens combatentes nos idos anos da Guerra Colonial (António Tavares)

1. Ainda a propósito do tema paludismo, recebemos esta mensagem do nosso camarada António Tavares (ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72), com data de 20 de Novembro de 2014:

Camarigos,
É costume dizer-se que “esta imagem fala por si ou que vale por mil”.
Estas têm um valor simbólico. Foram estes alguns dos comprimidos tomados por milhares de jovens nos idos anos da Guerra Colonial, no CTIGuiné de 1963 a 1974.

No meu caso em 1970/72. Na disponibilidade, o “Quinino” durante uns tempos acompanhou-me na matança do paludismo.

Das minhas lembranças começo com a imagem do CERTIFICADO INTERNACIONAL DE VACINAÇÃO OU DE REVACINAÇÃO CONTRA A FEBRE- AMARELA: 


Uma caderneta que todo o militar teve no dia da vacinação. É de notar que a vacina era dada quase no fim da recruta talvez por hipotéticas reacções negativas do organismo dos militares. Recruta dispendiosa para a Fazenda Pública e a necessidade, maior ou menor, consoante a época do ano, do “despacho” dos Homens para a guerra. Assim, uma recruta não podia ser perdida nem repetida. Seria tempo perdido para os militares. Os governantes da época pensavam nos “Prós e Contras”.

Aos meus camaradas (tratamento entre militares) do 2.º Turno/69 do Curso de Sargentos Milicianos, de Abril a Julho, no CISMI, em Tavira, recordo que a nossa “dose cavalar” foi tomada em 23 de Junho de 1969.
As dores que suportamos com a injecção, tomada na parada do quartel em fila indiana a aguardar cada um a sua vez, valeram a pena sobretudo aos Combatentes do Ultramar.

Os comprimidos:

LM de cor branca, sem invólucro, com 10 mm de diâmetro:

Havia comprimidos LM com outros diâmetros.
O célebre comprimido receitado para todas as doenças.


"Daraprim" - Trade Mark - "B.W. & CO."

O Daraprim (nome comercial da pirimetamina) é usado no combate de infecções por protozoários. É comumente usado no tratamento e prevenção da malária.


LM – Pirimetamina 25 mg

A pirimetamina está descrita em posts da Tabanca Grande.


Fanasil 0,5 g – Roche

Sulfonamida usada no tratamento de infecções da pele e na Lepra.
As sulfonamidas são um grupo de antibióticos sintéticos usados no tratamento de doenças infecciosas devidas a micro-organismos.

Seria interessante que algum camarada versado no tema completasse ou corrigisse estas linhas baseadas na memória e pesquisas que fiz num Prontuário Médico.

(Texto escrito de acordo com a antiga ortografia)

Abraço António Tavares
Foz do Douro, 20 de Novembro de 2014
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Nota do editor

Último poste da série de 27 de Outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13807: A propósito de paludismo... Ou melhor, do sezonismo, que era o termo que tradicionalmente se usava entre nós, na metrópole, até finais dos anos 60 (Parte II) (Luís Graça)... Relembrando aqui o papel do Instituto de Malariologia e do prof Francisco Cambournac (1903-1994), um português do mundo, que foi diretor da OMS - África, entre 1954 e 1964

Guiné 63/74 - P13984: Agenda cultural (363): Apresentação do livro "Angola, Terra d'Uanga", de autoria do Comandante Luís Vieira da Silva, dia 11 de Dezembro de 2014, pelas 15h00, na Messe de Oficiais, Praça da Batalha, Porto (Manuel Barão da Cunha)

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Nota do editor

Último poste da série de 1 de Dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13964: Agenda cultural (366): Apresentação do livro "Os caminhos de Gadamael Porto - Guiné, 1970/72", da autoria do nosso camarada Manuel da Silva Fernandes, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 2796 - Gaviões de Gadamael, dia 7 de Dezembro de 2014, pelas 15h00, no edifício sede da Junta de Freguesia de Arcozelo, Ponte de Lima

Guiné 63/74 - P13983: Fotos à procura de... uma legenda (48): Restos das máquinas da destilaria de cana de açúcar do Pereira do Enxalé, abandonadas em 1962 e fotografadas, 10 anos depois, pelo Jorge Araújo, fur mil op esp, CART 3494 (Xime e Mansambo, 1972/74)


Foto nº 1 > Guiné  > Zona Leste > Setor L1 (Bambadinca) > Xime > Enxalé > O Jorge Araújo, fur mil op esp, CART 3494 (Xime, 1972/74),  no Enxalé, em 21/22 de julho de 1972,  junto a uma máquina da destilaria de cana de açucar do Pereira do Enxalé, abandonada em 1962 (1) (*)


Foto nº 2 > Guiné  > Zona Leste > Setor L1 (Bambadinca) > Xime > Enxalé > O Jorge Araújo, fur mil op esp, CART 3494 (Xime, 1972/74),  no Enxalé, em 21/22 de julho de 1972,  junto a uma máquina da destilaria de cana de açucar do Pereira do Enxalé, abandonada em 1962 (2)


Foto nº 3 > Guiné  > Zona Leste > Setor L1 (Bambadinca) > Xime >  s/d  > O Jorge Araújo, fur mil op esp, CART 3494 (Xime, 1972/74),   junto a um obus 10.5 apontado para a direita do Rio Geba, onde ficava, em frente, a tabanca e o destacamento do Enxalé.


Foto nº 4 > Guiné  > Zona Leste > Setor L1 (Bambadinca) > Xime > Enxalé > O Jorge Araújo, fur mil op esp, CART 3494 (Xime, 1972/74), posando, no Enxalé, em 21/22 de julho de 1972,  junto a  um típica casa colonial que deverá ter pertencido ao Pereira do Enxalé e agora ocupadas pelas NT. (**)

Fotos: ©  Jorge Araújo (2014). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: LG]


1. Há fotos que falam por si e outras que que pedem legenda...  Estas (fotos nº 1 e 2) que publicamos  acima, não precisariam de legenda... Mas é necessário falar do contexto (**)...

Abandonadas pelo Pereira do Enxalé, em 1962, as suas máquinas ainda resistiam á fúria da natureza e da guerra, dez anos depois... Acho que merecem uma boa legenda!... Obrigado, Jorge. E, se alguém puder e quiser, que contacte a Maria Helena Carvalho,  filha do empresário Amadeu Abrantes Pereira,  que nasceu e cresceu no Enxalé, até antes do início das guerra. Vive e trabalha hoje nas Caldas da Rainha (Telef.262 842 990). Estas fotos também lhe pertencem... (***)  (LG)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 3 de dezembro de  2014 > Guiné 63/734 - P13970: História da CART 3494 (3): A ACTIVIDADE OPERACIONAL DA CART 3494 (XIME / ENXALÉ–[N]AS DUAS MARGENS DO GEBA) - A única presença no Enxalé (Jorge Araújo)

6 de abril de 2010 >  Guiné 63/74 - P6116: O Nosso Livro de Visitas (85): Maria Helena Carvalho, filha do Pereira do Enxalé, localidade onde nasceu há 60 anos, hoje residente nas Caldas da Rainha (Luís Graça)

(...) Na sequência do [19º] encontro [nacional] da CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole, Missirá, 1965/67) , em Coruche [], em 6 de março de 2010,] contactou-me, por telefone, a Maria Helena Carvalho, nascida no Enxalé, e atualmente casada, residente nas Caldas da Rainha, onde tem um um estabelecimento comercial (Telef. 262 842 990).

Seu pai, Amadeu Abrantes Pereira, natural de Seia, era um conhecido comerciante, o Pereira do Enxalé. Era dono de uma importante destilaria de aguardente de cana, bem como de outras instalações e casas, que ainda hoje estão de pé. A família era muito estimada pela população local.

A Maria Helena nasceu no Enxalé em 1950, se não erro. Saiu cedo de lá, creio que com sete ou oito anos, por volta de 1958, para ir estudar em Bissau e depois na Metrópole. Mas regressava nas férias grandes. As suas memórias de infância (e os seus amigos de infância) estão indelevelmente ligados a esse tempo e a esse lugar.

Os pais acabaram por sair do Enxalé, fixando-se em Bissau, em 1962. Já havia nuvens negras que prenunciavam a chegada da borrasca da guerra. A matéria-prima (a cana de açúcar) que abastecia a destilaria começou a escassear. Os caminhos tornavam-se perigosos. O PAIGC fazia o seu trabalho de sapa. Entretanto, a mãe morreu e a Maria Helena ficou definitivamente entregue aos cuidados dos padrinhos, das Caldas da Rainha.

O património da família ainda lá está, no Enxalé, arruinado. Também tinham prédios em Bissau. Em 1989, a Maria Helena voltou aos lugares da sua infância. Ainda encontrou, no Enxalé, gente que trabalhara para o seu pai bem como amigos de infância.

Ela ainda fala do Enxalé e da Guiné com emoção (...).

Infelizmente não temos muitas imagens nem histórias passadas no Enxalé (teremos cerca de 30 referências)… No final dos anos 60 e princípios de 70, o Enxalé, na margem direita do Rio Geba, em frente ao Xime, tinha um heliporto e um cais acostável (só utilizado na época seca). A própria Maria Helena tem poucas fotos desse tempo.

Do ponto de vista do dispositivo militar, o Enxalé passou a pertencer ao Setor L1 (com sede em Bambadinca, Zona Leste), a partir do último trimestre de 1969, se não me engano: nessa época, só havia duas destilarias de cana de açúcar no sector, uma em Bambadinca e outra em Ponta Brandão ( a escassos 5 quilómetros de Bambadinca, à esquerda da estrada para Bafatá). Por outro lado, a sua extensa e rica bolanha continuava a ser cultivada. A localidade pertencia ao regulado do Enxalé, onde a população recenseada, sob controlo das NT , era de 400 balantas e 350 mandingas e beafadas. Na localidade do Enxalé, onde existia uma loja comercial, a população residente (cerca de 300) era considerada "colaborante na defesa".

O Enxalé era frequentemente alvo de ataques e flagelações do PAIGC. O destacamento era apoiado pelo fogo de artilharia do Xime, aquartelamento que ficava na outra margem do rio Geba.

Em Junho de 1970, quando o BART 2917 substitui o BCAÇ 2852 no Setor L1, no destacamento do Enxalé havia um Grupo de Combate da CART 2715 (a unidade de quadrícula do Xime) bem como um esquadrão do Pelotão de Morteiros 2106. A partir de Outubro de 1971, passou a ter o GEMIL 309 e, em Dezembro de 1971, o GEMIL 310 (ambos pertencentes à Companhia de Milícias de Porto Gole).

Fizemos (nós, a CCAÇ 12 e outras forças que integravam o dispositivo militar do Setor L1) várias operações na região compreendida pelos regulados do Enxalé e do Cuor, algumas bem duras e dramáticas, com terminus no Enxalé,como aOp Tigre Vadio (Março de 1970). (...)


(***) Último poste da série > 7 de dezsembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13982: Fotos à procura de... uma legenda (47): Os primeiros combatentes do Xime, colocados lá a partir de 1/7/1963, a nível de pelotão (Libério Lopes, ex-2º sgrt mil inf, CCAÇ 526, Bambadinca e Xime, 1963/65)

Guiné 63/74 - P13982: Fotos à procura de... uma legenda (47): Os primeiros combatentes do Xime, colocados lá a partir de 1/7/1963, a nível de pelotão (Libério Lopes, ex-2º sgrt mil inf, CCAÇ 526, Bambadinca e Xime, 1963/65)




Foto nº 7  > Nesta estou com um chapéu colonial.




Foto nº 8 >  Nesta estou com um chapéu colonial.


Guiné > Zona Leste > Xime > CCAÇ 536 (Xime e Bambadinca, 1963/65) >  Mais duas fotos do álbum do Libério Lopes (*).

Fotos (e legendas): © Libério Candeias Lopes (2014). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


1. O Libério Lopes, ex-srgt mil inf, pertenceu à CCAÇ 526 (Bambadinca e Xime, 1963/65) e é um dos nossos veteraníssimos camaradas, do tempo do caqui amarelo e do chapéu colonial... Professor primário reformado, é de Aranhas, Penamacor, E, é justo referi-lo, foi o principal impulsionador do monumento aos combatentes da guerra do ultramar existente em Penamacor.

Também terá sido um dos primeiros "tugas" a andar pelo regulado Xime, no início da guerra, em 1963. Terá sido inclusive o primeiro professor do Xime, quando lá esteve, em 1963/64, com um pelotão.

Onde estarão estes camaradas que, com uma só pelotão, aguentaram o início da guerra no subsetor dao Xime que, por sua vez, pertencia ao subsetor de Bambadinca, mais tarde, setor L1 que correspondia ao triângulo Bambadinca-Xime-Xitole, uma vasta região de 1500 km2, duas vezes superior à superfície da Ilha da Madeira. (***).




Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca ) >  Xime > CCAÇ 526 (Bambadinca e Xime, 1963/65) > Aquartelamento do Xime, onde estava destacado o pelotão do Libério Lopes > Da esquerda para a direita, fur mil Virgílio e Tibério (falecido), allf mil Correia Pinto (falecido) e fur mil Libério Lopes. Em primeiro palnos, "meninos do Xime". (**)

Foto (e legenda): © Libério Candeias Lopes (2014). Todos os direitos reservados [Edição: LG]

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 3 de junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4457: Memória dos lugares (27): Álbum fotográfico do Xime, CCAÇ 526, 1963/65 (Libério Lopes)


(**) Vd. postes de:

3 de outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8852 Recortes de imprensa (50): Medalha de mérito militar chega 43 anos depois... A história do 2º Srgt Mil Libério Candeias Lopes, de Penamacor (CCAÇ 526, Bambadinca e Xime, 1963/65)

11 de fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3869: CCAÇ 526 (Bambadinca e Xime, 1963/65), História da Unidade (Libério Lopes)


(...) Resumo da actividade operacional da CCAÇ 526 (Bambadinca e Xime, 1963/65):


(i) Mobilizada pelo RI 7;

(ii)  embarcou, a 2 de maio de 1963, a bordo do paquete «India», juntamente com o Comando dos BCAÇ n.º 506, 507, 599, e 600;

(iii) comandante da subunidade: Cap Inf Luís Francisco Soares de Albergaria Carreiro da Câmara;

(iv) até 30 de junho de 1963, a Companhia ficou aquartelada em Brá; 

(v) ainda neste período, de a 28/6/63, partiu um pelotão para Catió, tendo tomado parte em operações que aí se realizavam;

(vi) a  1/7/63, partiu a Companhia para a Zona Leste ficando a depender do Batalhão de Bafatá;

(vii) foi-lhe atribuído um subsetor com a área aproximada de 1500 km2 constituída pelos Regulados de Badora, Xime, Cossé, Cabomba e Corubal (parte Norte);

(viii) o Comando da Companhia ficou instalado em Bambadinca, tendo sido destacado um pelotão para Xime, nesse mesmo dia 1 de julho de 1963;

(ix) A 15/7/63, outro pelotão da Companhia seguiu para o Xitole, em reforço das tropas ali aquarteladas, donde regressou a 5/8/63;

(x) em 26/8/63, assumiu o Comando da Companhia o Capitão Hleder José François Sarmento;

(xi) no subsetor, tomou parte nas seguintes operações de conjunto:

8 de julho de 1963 e 12 de julho 63 na margem direita do Rio Corubal;
Op Inglês  - janeiro de 1964; 
Op Marte - fevereiro de 1964;
Op Bala . março de 1964;
Op Vai à Toca - novembro de 1964
Op Brinco - dezembro de 1965
e Op Farol -  janeiro de 1965.

(xii) Fora do subsetor, atuou nas seguintes operações:

Op Verde - novembro de 1963;
Estrada do Xitole - Agosto - Outubro - Novembro de 1963
Mato Madeira - Chicri - janeiro de 1964;
Paton - agosto de 1964.

(xiii) No sector à sua responsabilidade,  o IN que já actuara a Oeste e Sul de Xime até ao Rio Corubal, levando para os matos uma parte da população e fazendo fugir a restante, tentou expandir a sua acção para Leste para o que atacou tabancas e quartéis, roubou culturas, emboscou as NT e procurou tornar intransitáveis as estradas;

(xiv) A Companhia, por uma permanente atividade operacional à base de pequenas acções de combate, emboscadas, constantes patrulhamentos de estradas e caminhos e protecção às populações, permanecendo nas tabancas e locais de trabalho, conseguiu manter em completa normalidade a zona a Leste de Xime e levar a guerrilha a acantonar-se no mato;

(xv) Durante os 21 meses de permanência no subsetor, a Companhia teve 108 acções de fogo em contactos com o IN;

(xvi) Em resultado dessas ações, o IN sofreu 48 baixas confirmadas pelas NT, havendo contudo um número muitíssimo superior de mortos e feridos referido por prisioneiros;

(xvii) Foram apreendidas 5 espingardas, 5 pistolas-metralhadoras, 1 pistola, grande número de granadas de mão de diversos modelos e vários milhares de cartuchos;

(xviii) Na tentativa de cortar os itinerários, o IN utilizou 15 engenhos A/C e 3 minas A/P. Um fornilho A/C destruiu um jipe e os restantes 14 engenhos A/C foram detectados e levantados; as 3 minas A/P funcionaram, causando dois feridos: um às NT e outro à população;

(xix) A Companhia só teve duas baixas por acidente e nove feridos em combate, um dos quais evacuado para a Metrópole.

Quartel em Bissau, 2 de Abril de 1965. Adaptado de História da unidade,  CCAÇ 526 (Bambadinca e Xime, 1963/65).
(Para saber mais, clicar aqui)


(***) Último poste da série > 5 de dezembro de 2014 > Guiné 53/74 - P13978: Fotos à procura de... uma legenda (46): Portugueses do Xime, posando com a bandeira portuguesa (Libério Lopes, ex-sgrt mil inf, CCAÇ 526, Bambadinca e Xime, 1963/65)

Guiné 63/74 - P13981: (Ex)citações (255): Fomos pioneiros numa série de coisas: (i) a colorir fotos a preto e branco para matar o tempo; (ii) a recliclar garrafas de cerveja; (iii) a fazer cadeiras de baloiço com as aduelas dos barris ... (José Nunes, ex-1º cabo eletricista, BENG 447, Brá, 1968-70)



Uma foto, a preto e branco, "colorida"...


Foto: © José Nunes (2014). Todos os direitos reservados

1. Mensagem de José [Correia] Nunes [ex-1º cabo eletricista, BENG 447, Brá, 15 jan 68 - 15 jan 70]


Data: 5 de dezembro de 2014 às 12:27
Assunto: Fotos


Camarada Luis Graça

Junto anexo uma foto,  colorida nos tempos vagos e para matar o tempo.

Fomos pioneiros numa série de coisas:  a reciclagem começou por nós, reciclávamos garrafas para fazer copos, e também as utilizávamos no sistema  de alarme e como luminárias...

Por outro lado, das aduelas dos barris faziam-mos confortáveis cadeira de baloiço...

Enfim a malta tinha engenho & arte...

Abraço

José Nunes
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Nota do editor:

Último poste da série > 29 de novembro de  2014 > Guiné 63/74 - P13958:(Ex)citações (254): quando Spínola viajou, com mais 300 homens, na BOR, em 17/3/1969, no decurso da Op Lança Afiada, em pleno Rio Corubal, da Ponta Luís Dias à Ponta do Inglês

sábado, 6 de dezembro de 2014

Guiné 63/74 - P13980: Inquérito online: "Tinhas máquina fotográfica no TO da Guiné ?" (Resposta múltipla) > Resultados preliminares (n=102), quando faltam 3 dias para fechar: mais de metade do pessoal (n=55) comprou lá uma máquina...

A velhinha Olympus Pen comprada pelo José Saúde,
 em 1973, na loja dos libaneses, em Nova Lamego
A. Resultados preliminares da nossa sondagem a três dias de fechar... Até às 19h20 de hoje, tínhamos 102 respostas.

1. Nunca tive máquina no CTIG > 23 (22%)


2. Já levei uma, da metrópole  > 22 (21%)


3. Comprei lá uma  > 55 (53%)


4. Às vezes emprestavam-me uma máquina ou tiravam-me fotos  > 11 (10%)


5. Tínhamos um "fotógrafo de serviço"  > 20 (19%)


6. Tenho bastantes fotos a preto e branco  > 36 (35%)


7. Tenho bastantes “slides”  > 14 (13%)


8. Tenho algumas fotos e/ou "slides"  > 46 (45%)


9. Não tenho fotos e/ou "slides"  > 0 (0%)


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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P13979: Bom ou mau tempo na bolanha (78): Da Florida ao Alaska, num Jeep, em caravana (18) (Tony Borié)

Septuagésimo sétimo episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGRU 16, Mansoa, 1964/66.




Companheiros, antes de iniciar o resumo do próximo dia, queria dizer-vos que nada mais nos move, além de retirar o vosso pensamento, por alguns minutos, das lembranças horríveis daquela maldita guerra, que nós todos vivemos, dos tiros, ataques ao aquartelamento, emboscadas, aquartelamentos com lama, pó, terra vermelha, abrigos improvisados, fome, arroz e peixe da bolanha sete dias por semana, esperas que o tempo passasse, com muita amargura e sofrimento, o catra-pum-pum-pum, da metralhadora mais próxima, companheiros feridos, camuflados rotos e sujos de sangue, isolados, sem notícias do exterior, onde um simples sorriso de uma simpática “bajuda”, nos fazia, pelo menos no nosso pensamento, o mais refinado “Don Juan” e, aquele sorriso daquela “bajuda”, não era “guerra”, era outra coisa, talvez uma “lofada de ar fresco”, talvez uma pequenina esperança em continuar a viver, tal como eu quero dar aos meus companheiros, quando me lêm e viajam comigo.

Cá vai o resumo do vigésimo dia

Depois de arrumar toda a “tralha”, que eram os nossos utensílios de casa, próprios para viver com alguma facilidade na nossa caravana, eis-nos de novo na estrada número 287, com um cenário de mais montanhas que planícies, rumo ao sul, parando no cruzamento com a estrada número 90, que vem do oceano Pacífico e nos leva ao Atlântico, aqui existe uma pequenina povoação de cruzamentos de estrada, com estação de serviço, loja de conveniência e, uma famosa padaria com produtos de trigo, milho ou centeio, toda a qualidade de pão e seus variados, também lá tinha pão tipo “português”, onde comprámos muito pão, que armazenámos para os próximos dias. Neste cruzamento, vêem-se muitas pessoas, mesmo casais, alguns com crianças, “à boleia”, são simpáticos. Quando comprávamos gasolina, falámos com um casal, que nos pediu boleia, todavia, não tínhamos espaço, disseram-nos que andam na estrada há cerca de um ano e, não tinham nenhuma pressa em chegar de novo ao estado do Alabama, de onde eram oriundos.




Seguimos rumo ao sul, parando por algum tempo na pequena, mas acolhedora povoação de Ennis, onde dizem que por volta do ano de 1863, um tal William Ennis se estabeleceu ao longo do rio Madison, quando se descobriu ouro na região e, talvez sem saber, deu o nome ao que hoje é uma pequena povoação. Aqui, fizemos algumas compras, continuando rumo à aventura do “Yellowstone National Park”, onde passado umas horas chegámos à povoação de “West Entrance”, pois era assim que era assinalada nos diversos anúncios de estrada que constantemente apareciam.


Aqui, antes de entrar no Parque, visitámos o Centro de Turismo e algumas lojas de recordações, onde se vende quase de tudo e, em algumas lojas, até se pode “regatear”, ou seja oferecer diferente preço do que está marcado na mercadoria. Entrámos num restaurante onde nos serviram sandes de churrasco de carne de búfalo, era diferente, gostámos.

Toda esta povoação ainda está no estado de Montana. Pouco depois de entrarmos no parque, atravessamos para o estado Wyoming e, foi surgindo pela frente o parque nacional mais antigo do mundo, pois foi inaugurado no ano de 1872, cobrindo uma área de mais de 9000 quilómetros quadrados, que se divide pelos estados de Wyoming, Montana e Idaho. Este parque é famoso por, entre outras atrações, ter os seus “Geysers”, que são umas fontes termais, que entram em erupção periodicamente, lançando uma coluna de água quente e vapor para o ar, que nós podemos observar, caminhando por umas “passadeiras”, em madeira que nos dão acesso, mesmo em frente às colunas de água quente e vapor, que se perdem na atmosfera.



O centro do grande ecossistema de Yellowstone, é um dos maiores ecossistemas de clima temperado ainda restantes no planeta. O “Geyser” mais famoso do mundo, denominado “Old Faithful”, do qual nos aproximámos, encontra-se neste parque.

Muito antes de haver presença humana em Yellowstone, pois dizem que essa presença remonta mais ou menos a 11.000 anos, uma grande erupção vulcânica ejectou um volume imenso de cinza vulcânica que cobriu todo o oeste dos USA, a maioria do centro-oeste, o norte do México e, algumas áreas da costa leste do Oceano Pacífico, deixando uma enorme caldeira vulcânica, (70 por 30 km) assentada sobre uma câmara magmática.

Felizmente não, durante a nossa visita, mas Yellowstone já registou três grandes eventos eruptivos nos últimos 2,2 milhões de anos, o último dos quais ocorreu há 640.000 anos. Estas erupções são as de maiores proporções ocorridas no planeta a que chamamos Terra, durante esse período de tempo, provocando alterações no clima em períodos posteriores à sua ocorrência. Percorremos o parque em quase todo o lugar em podíamos ter acesso, vimos os “Geysers”, com as suas diferentes cores, que correspondem aos diferentes minerais que brotam do seu interior, cascatas de água pura saindo das montanhas e rios de água quente. Atravessámos o “Continental Divide”, que é o nome dado ao conjunto de linhas formado por uma série de cumes, (vulgarmente diz-se, cumeada), na América do Norte, que separam as bacias hidrográficas que drenam para o oceano Pacífico, oceano Atlântico, incluindo o Golfo do México e mesmo até o oceano Ártico, onde uma das suas linhas divisórias passa aqui no Parque de Yellowstone, também vimos alguns animais, dos quais dizem haver no parque uma grande variedade de vida selvagem, na qual se incluem ursos castanhos, lobos, búfalos, alces e outros animais.



Ainda era dia quando tentávamos sair do parque, cumprindo o nosso programa, mesmo a poucas milhas da “South Entrance”, ou seja, da saída sul, pois estava no nosso programa seguir para outras paragens, quando surge um aparatoso acidente envolvendo um autocarro, onde segundo nos disseram seguiam crianças, ficando a estrada intransitável, mesmo fechada por um período que se prolongou por mais de 6 horas.

Esperámos mais ou menos uma hora, continuando a estrada fechada, tentámos voltar ao ponto da “West Entrance”, no caminho de regresso os veículos passavam por nós, em direcção ao sul, perguntámos, diziam que a estrada já estava aberta, voltámos ao sul, ao local do acidente, onde havia uma enorme fila de viaturas paradas, pois a estrada continuava fechada, desviámonos para um local entre árvores, embora já fosse quase noite, estando no meio da montanha, se ouvissem alguns sons de animais uivando. Estávamos decididos a passar ali a noite, quando a estrada abre, começando o tráfico a andar, voltámos à estrada, conseguimos sair do parque, mas com todo este atraso, o adiantado da noite, todos os parques de campismo lotados, pois todos procuravam lugar onde dormir, não tivemos outra alternativa, senão ocupar um lugar numa cabana, com o Jeep e a caravana estacionados numa “ribanceira”, parecendo um precipício, onde um luar divino nos iluminava.

Neste dia percorremos 339 milhas, com o preço da gasolina a variar entre $3.67 e $3.68 o galão, que são aproximadamente 4 litros.

Tony Borie, Agosto de 2014.
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Nota do editor

Último poste da série de 29 de Novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13957: Bom ou mau tempo na bolanha (76): Da Florida ao Alaska, num Jeep, em caravana (17) (Tony Borié)

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Guiné 53/74 - P13978: Fotos à procura de... uma legenda (46): Portugueses do Xime, posando com a bandeira portuguesa (Libério Lopes, ex-sgrt mil inf, CCAÇ 526, Bambadinca e Xime, 1963/65)






Guiné > Zona Leste > Xime > CCAÇ 536 (Xime e Bambadinca, 1963/65) > "Foto 9 - O homem do chapéu colonial era nosso guia e morava junto ao quartel. O mais alto, acho que era o chefe da tabanca. Ia connosco para o mato e, devido á sua altura, salvou-me de morrer afogado numa bolanha perto do Xime, num dia para esquecer." (*)

Foto (e legenda): © Libério Candeias Lopes (2014). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


1. O Libério Lopes, ex-srgt mil inf, pertenceu à CCAÇ 526 (Bambadinca e Xime, 1963/65) e é um dos nossos veteraníssimos camaradas, do tempo do caqui amarelo e do chapéu colonial... Professor primário reformado, é de Aranhas, Penamacor, E, é justop referir, foi  "o principal impulsionador do monumento aos combatentes da guerra do ultramar existente em Penamacor" (, segundo informação do nosso camarada C. Caria).

Também sido um dos primeiros "tugas" a andar pelo regulado Xime, no início da guerra, em 1963. Terá sido inclusive o primeiro professor do Xime, quando lá esteve, em 1963/64, com um pelotão. Sobre a população do Xime, escreveu (*):

(...) "A maioria da população do Xime era simpática connosco, e de vez em quando juntávamo-nos para umas danças africanas, nas quais eu gostava de participar.

Além disso os putos conheciam-me porque ainda os juntei para lhe dar umas aulas. Foi uma tentativa que não resultou, devido a não me ter sido concedido o tempo necessário para isso.

No Xime estava só um pelotão e éramos poucos para a missão militar que tínhamos em mãos. Foi pena porque a minha profissão era professor e, certamente, teria feito um trabalho mais útil. " (...).

A foto, editada por nós e publicada em em cima, com quatros enquadramentos diferentes, merece uma legenda, um comentário, um pequeno texto (**)....

Quem seria o guia nas NT em 1963/64 ? Pela estatura, parece-me ser o malogrado Seco Camará, morto em 26/11/1970, na Op Abencerragem Candente. (Morto à roquetada, fizemos uma trouxa, com os seus poucos restos mortais; vieram embrulhados numa capa impermeável; guia e picador das NT, era assalariado da CCS/BART 2917,  tendo passado a viver em Bambadinca; dizia-se que era hostilizado pelos outros mandingas do Xime).

Talvez o "menino do Xime", o José Carlos Mussá Biai nos possa ajudar a identificar estes dois homens, um deles, o mais alto, acompanhado da esposa e filha ou das duas esposas...  A jovem, com ar envergonhado, segura uma das pontas da bandeira; o homem de chapéu colonial (o Seco Camará?) segura a outra ponta... Pareece ser um clara manifestação de apoio à causa nacional, num regulado em que grande parte da população "fugiu para o mato" no início da guerra (Samba Silate, Poindom...).

Por outro lado, a lealdade dos mandingas do Xime, ou de um parte deles, era sempre posta em causa pelos sucessivos batalhões que passaram por Bambadinca, sede do setor L1... Pelo menos até ao BART 2917 (Bambadinca, 1970/72). Leia-se o que eles escreveram,  nas respetivas histórias da unidade (Cito dois batalhões do meu tempo):


(i) BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70),Cap II:

(...) "No Sector L1 podemos considerar duas raças (sic) distintas: para Leste da estrada Bambadinca-Xitole onde predomina a raça Fula, e para Oeste da mesma estrada onde predominam as raças Balanta e Beafada.

"A população Fula de um modo geral é nos favorável, sendo de destacar o regulado de Badora, que tem como Chefe / Régulo um homem de valor e considerado pela população como um Deus. Esse homem é o Tenente Mamadu, já conhecido do meio militar pelos seus feitos valorosos e dignos de exemplo. Da outra população, fortes dúvidas se tem, especialmente as dos Nhabijões, Xime e Mero.

"Com o início do reordenamento da população em auto-defessa, num futuro próximo o IN se verá com sérias dificuldades, pois deixará de ter apopio e de ter a possibilçidade de roubar para deste modo poder sobreviver" (...)


(ii) BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), Cap II:

(...) 2 – Os ”Mandingas”

(...) A sua atitude perante o terrorismo deve ser interpretada com todo o bom senso, eles viram no PAIGC a oportunidade de reaver a sua independência política, em face aos Fulas, e vingar um Século de prepotências a que estiveram sujeitos pelos Fulas; depois, nos primeiros anos de terrorismo, Mandingas era sinónimo de terrorista e temos de ter a coragem para admitir os erros de procedimento que as NT e Autoridades tiveram perante os indivíduos que eram rotulados de “terroristas”.

Hoje os Mandingas estão convictos de que não é mais possível, no Sector, ser-se acusado pelas Autoridades de “terrorista” apenas porque se pertence a esta etnia ou, se denunciam erros de indivíduos ligados às Autoridades, Militares ou Civis, Europeus ou Africanos (embora ainda existem no Sector alguns residentes Europeus a assimilados que, por convicção ou interesse, propalam, especialmente a quem chega de novo, que todos os Mandingas são “terroristas”).

Tal convicção associada ao seu desencantamento em relação ao PAIGC onde “calcinhas e oportunistas” ocupam lugares de mando que os Mandingas julgam deveriam ser concedidos aos seus Chefes, criou uma brecha que, a curto prazo, pode levar, se bem explorada pelas NT ao divórcio total desta etnia com o PAIGC." (...)

(...) Zona controlada pelo IN

- Todos os dados de que se dispõe são estimados e as notícias contraditórias, podemos contudo, sem grande margem de erro, avaliar em cerca de 5400 pessoas na sua maioria de etnia Balanta, Beafada ou Mandinga, a população controlada pelo IN no Sectir L-1 dividida pelos seguintes núcleos:

- A NW do Sector espalhada pelos Regulados do Enxalé e Cuor – 1900 Pessoas.

- No Regulado do Xime, ao longo do Rio Corubal e a Sul da Ponta do Inglês – 2000 pessoas.

- No Regulado do CorubalL ao longo deste rio e para jusante da foz do Rio Pulom – 1500 pessoas.



 Pessoalmente, tinha a ideia de haver mais mandingas no Xime [, presumo que haja um erro na história do BART 2917: de um total de 872 habitantes recenseado no regulado do Xime  (Xime, Amedalai, Taibatá e Demba Tacó),    745  eram fulas e os restantes, 127, mandingas, concentrados no Xime; apenas 22 mandingas, como vem no documento, parece-me um erro grosseiro; só a famíla, alargada, do José Carlos Mussá Biai deveria ser bem superior a 22...]. (LG)


(iii) BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), Cap II:

(...) 1 – Na Zona controlada pelas NT

- É a seguinte a distribuição de população recenseada por grupos éticos e por Regulados:

Cuor: Mandingas:  221 pessoas;

Enxalé:  Balantas:  400 pessoas; Mandingas e Beafadas: 350 pessoas;

Xime: Fulas:745 pessoas; Mandingas 127 [e não 22]  pessoas; [ nº de habitantes: Xime: 250; Amedalai: 160; Taibatá, sede de Regulado do Xime: 228; Demba Tacó: 234];

Corubal:  Fulas: 1460 pessoas; Mandingas; 85 pessoas; Beafadas; 6 pessoas; Outros; 17 pessoas;

Badora; Fulas: 5934 pessoas; Mandingas: 2551 pessoas; Balantas; 2418 pessoas; Mansoancas: 403 pessoas; Beafadas; 52 pessoas; Outros: 540 pessoas (...)  
(LG)


2. Comentário de L.G.:

Não, não é o Seco Camará... Fui dar uma volta aos arquivos, e tenho aqui aqui uma mensagem do "menino Xime", o José Carlos Mussá Biai, de 3 de junho de 2009, a dizer o seguinte:

(...) Caro Luís: Fico sempre com muita emoção quando vejo fotos, sejam elas de paisagens ou gentes da minha terra natal. Por isso deste vez não foi excepção.


Quanto as pessoas que estão nas fotografias, apenas a foto 9 é que tem duas caras que me são familiares. Trata-se de um primo e um tio.

Mas de qualquer maneira por alguns bons minutos voltei a Xime.

Um abraço e muita saúde,

José C. Mussá Biai (...)

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Guiné 63/74 - P13977: Notas de leitura (654): Reimpressão do livro “Crónica dos [Des]Feitos da Guiné" da autoria de Francisco Henriques da Silva (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 1 de Dezembro de 2014:

Queridos amigos,
O nosso confrade Francisco Henriques da Silva tem a singularidade de ter combatido na Guiné entre 1968 e 1970 e foi embaixador da Guiné-Bissau entre 1997 e 1999, viveu o aceso da guerra civil em condições absolutamente dramáticas, enquanto os seus pares da diplomacia logo se puseram em segurança via barco ou helicóptero, ele e a mulher e alguns colaboradores aguentaram a pé firme a borrasca, tudo fizeram para que as evacuações dos refugiados corressem bem, como correram, a bandeira portuguesa nunca deixou de tremular na nossa embaixada. O que é um motivo de orgulho para todos nós e para mim, sou seu amigo há mais de 50 anos.

Um abraço do
Mário


Crónica dos [Des]feitos da Guiné

Beja Santos

Em boa hora as Edições Almedina acabam de proceder à reimpressão do livro do nosso confrade Francisco Henriques da Silva cuja edição de Setembro de 2012 estava esgotada. O acento tónico da obra é a guerra civil de 1998-1999, era a sua primeira experiência como embaixador, a Guiné caíra-lhe na rifa, a Guiné onde combatera entre Setembro de 1968 e Abril de 1970. Dá-nos um relato esclarecedor e singelo do que foi a vida da CCAÇ 2402, primeiro em Có, onde tiveram batismo de fogo em 29 de Agosto, e aí viveu a experiência de proteção aos trabalhos de construção e asfaltamento da estrada Bula-Có-Pelundo, e depois em Mansabá, onde protegeram a construção da estrada Mansabá-K-3-Farim. Feito este trabalho de cantoneiros, foram lançados no Olossato, na região do Oio, mais um destacamento Ponte Maqué, que ele apresenta da seguinte forma:
“A 7 km do Olossato e a uns 11 ou 12 de Bissorã encontrava-se o destacamento de Ponte Maqué, um bunker em forma de quadrilátero, com um pátio central, na orla de uma bolanha, junto a um riacho, a maior parte do tempo seco ou quase, que albergava um grupo de combate. A ponte que, em tempos idos, foi de cimento e alvenaria, tinha sido dinamitada logo no início da guerra e havia sido reconstruída com toros de madeira, o que permitia a passagem de veículos pesados. Esta ponte era verdadeiramente vital pois permitia a conexão por estrada de Olossato com Bissorã e daí a Mansoa, Bissau e ao resto do território, por outras palavras, era a única ligação terrestre possível, porquanto as conexões com Mansabá e Farim estavam cortadas”.
E descreve seguidamente a vida em Ponte Maqué: 
“Sem energia elétrica, a proteção era-nos dada por umas duas ou três fiadas de arame-farpado, e por um campo de minas e armadilhas, delimitado pelas linhas de arame. A estrada nos dois sentidos, na direção de Bissorã e de Olossato era sempre armadilhada ao pôr-do-sol, sendo as granadas retiradas ao raiar de aurora, antes da população local se deslocar para a faina agrícola nas bolanhas vizinhas. Volta meia-volta os macacos saltitavam pelos campos de minas e rebentavam-nas, sendo invariavelmente saudados por rajadas de metralhadora e pelas imprecações dos soldados que acordavam estremunhados com os rebentamentos. Como oficial com a especialidade de explosivos, competia-me montar e desmontar as armadilhas em torno do destacamento de Ponte Maqué, bem como participar, juntamente com outros membros da minha equipa, na desminagem das picadas”.

Estamos em Outubro de 1997, [Francisco Henriques da Silva] chega a Bissau, apresenta credenciais ao presidente Nino Vieira e logo o Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação inicia uma viagem oficial à Guiné-Bissau, Henriques da Silva regista com humor e muita coloquialidade a aparição de Kumba Ialá num jantar na embaixada em que está o secretário de Estado português e os ministros dos Estrangeiros e da Justiça, é uma descrição memorável:
 “- Meu caro embaixador, desculpa lá eu vir tarde, já passa das dez, mas não tenho fome. Ena, pá, tanta gente! Alguns eu conheço… 
- Oh, dr. Kumba, isso não tem a menor importância – disse ele, sem desmanchar, perante os olhares meio sorridentes dos dois Ministros presentes – Diga lá, o que é que quer tomar? 
- Um sun-sun (aguardente de caju) – retorquiu. 
- Bom, isso não há mas tenho algo de parecido. - Lá pedi ao Augusto que lhe servisse um conhaque ou um brandy e deixei-me ficar por perto, pois temia o que pudesse vir a passar-se e com Kumba Ialá o imprevisível era quase sempre o prato do dia – tudo podia acontecer. Entretanto, José Lamego aproximou-se também. 
- Ora cá está o Secretário! Sabe quem é este gajo? – e aponta com um dedo esticado para Delfim da Silva, enquanto emborcava o conhaque – este foi um dos que roubou os meus votos, por isso é que eu perdi as eleições. 
Sorriso amarelo por parte do visado e dos circunstantes que se entreolharam um tanto embaraçados. 
- Mas este ainda é pior – e vira-se, então, para o ministro da Justiça, Daniel Ferreira – este é que é um dos responsáveis pelos 20 mil votos que eu perdi nos Bijagós. Este agora é ministro da Justiça, secretário! Ouça o que eu lhe digo, esta gente do Governo não é séria! Mas vocês dão-lhes confiança…
Comecei a ver a vida a andar para trás. O primeiro jantar oficial que oferecia na residência a ministros locais e ao meu secretário de Estado, redundava num fiasco completo…”.

Henriques da Silva passa a escrito as impressões de Bissau, mas também as incongruências da cooperação, os sinais de instabilidade das Forças Armadas guineenses, o oportunismo da sua política externa, os equívocos do relacionamento luso-guineense, o caldeiro da questão Casamansa e em que medida a insurreição ali existente veio a contribuir para o detonar do levantamento militar chefiado por Ansumane Mané. O país está em polvorosa, abatido pelo défice e pelo gradual empobrecimento, onde chegara a hora de os combatentes da liberdade da pátria redigirem uma carta-panfleto, a pretexto do tráfico ilegal de armas, ali vinham acusações a Nino, o caderno reivindicativo apelando à dignidade dos antigos combatentes que beneficiavam de pensões miseráveis. Estão ali repertoriados dados significativos que nos vão fazer compreender a explosão desencadeada em 7 de Junho, o VI Congresso do PAIGC, realizado em Maio revelava que Nino era um senhor todo-poderoso e era apoiado por uma corte incondicional que não queria perder as suas regalias, aquele congresso saldou-se no impasse que deixava a ala renovadora do PAIGC desalentada. Tudo isto é descrito com episódios burlescos, situações por demais caricatas, pedinchice infindável.

E veio o levantamento militar que Henriques da Silva irá viver em toda a sua intensidade. Não existirá relato tão minucioso e esclarecedor dos acontecimentos, ali vêm as peripécias dos media, a Bissau bombardeada e as populações em fuga, gente a acorrer à embaixada, tudo em estado caótico:
“Alojados pelos corredores, nos sofás, nas banheiras, no chão, enfim, por tudo quanto era sítio, onde quer que houvesse espaço disponível, ali foram recebidos os nossos compatriotas, nos parâmetros típicos do nosso consabido desenrascanço lusitano”. O cargueiro “Ponta de Sagres” chega ao cais do Pidjiquiti e leva os refugiados enquanto troam os canhões, Henriques da Silva acompanha tudo, ocorre o milagre, a operação saldou-se num êxito. E a guerra continua por Junho fora, os senegaleses comportam-se como bárbaros e ocupantes, destroem património valioso. O êxodo continua, as populações de Bissau fogem para o interior. O alferes que vivera uma guerra contra o PAIGC assiste agora ao ódio dos guineenses favoráveis à Junta Militar a infligir perdas às tropas senegalesas e da Guiné Conacri, a nação dava a sua prova de vida humilhando os exércitos estrangeiros bem equipados. A guerra prossegue com Nino Vieira e os seus amigos circunscritos à península de Bissau e a algumas ilhas dos Bijagós. Há negociações, consegue-se um acordo mas a situação permanece explosiva. Em Maio seguinte, a Junta Militar entra em Bissau, Nino Vieira refugia-se na embaixada de Portugal. Renovava-se a esperança, mas foi tempo de pouca dura, os problemas de fundo iriam subsistir com novos equívocos nas Forças Armadas a querer decidir em nome do poder político. Equívocos atrás de equívocos que o autor comenta. Em Maio de 2000, o presidente Jorge Sampaio, por tudo o que se passou na Guiné-Bissau condecorou-o com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo.

Para quem quer conhecer os dramas da Guiné-Bissau de todo este tempo, a leitura deste livro é indispensável, pela vivacidade dos estilo e pela quantidade de documentação trabalhada.
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Nota do editor

Último poste da série de 24 de Novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13937: Notas de leitura (653): “Navios com o nome Guiné”, da autoria do Capitão-de-Mar-e-Guerra Carlos Gomes de Amorim Loureiro (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P13976: Manuscrito(s) (Luís Graça) (54): O Mundo é Pequeno e o Alentejo... é Grande: viva o cante... e a nossa companhia de bandeira,a TAP Porugal


Vídeo  (3' 28''), produzido pela serviços de Marketing, Gestão de Conteúdos e Media,  Comunicação e Relações Pública, TAP  Portugal (2014). Alojado em You Tube > TAP Portugal (Reproduzido aqui com a devida vénia...)


"A TAP trouxe de volta a casa a delegação promotora da candidatura do Cante Alentejano a Património Cultural Imaterial da Humanidade, que esteve em Paris para receber da UNESCO o importante reconhecimento universal.

O “voo do Cante Alentejano”, o TP449, trouxe a bordo os representantes das principais entidades impulsionadoras da candidatura (Câmara Municipal de Serpa, Casa do Cante, Confraria do Cante e Casa do Alentejo), e o Cante, ele próprio" [Lisboa, 28 de novembro de 2014].



Obrigado ao Jorge Picado, ilhavense, por nos ter feito chegar este vídeo.  Está disponível no canal TAP Portugal, no You Tube, no Facebook e noutras redes sociais... Merece ser divulgado também pelo nosso blogue que acompanhou de perto esta nomeação que nos honra a todos (*). Viva o Cante e viva a TAP Portugal, a nossa companhia de bandeira... Foi nela que muitos de nós, ex-combatentes da Guiné, fizemos o nosso batismo de voo. (Muitos de nós... Refiro-me ao pessoal do quadro, e aos alferes e furrieis milicianos: o pré-que era pago aos nossos camaradas 1ºs cabos e soldados não lhes permitia, na maior parte dos casos, ó luxo de vir à metrópole de férias...).

E é na TAP  que muitos de nós gostam de viajar, em negócios ou turismo. É nela que eu gosto de viajar. Porque me sinto em casa.  E espero poder fazê-lo ainda por muitos e bons anos. Viajar na TAP e sentir-me em casa. Por que a TAP é Portugal a viajar pelo céu... (LG)

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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 27 de novembro de  2014 > Guiné 63/74 - P13949: Manuscrito(s) (Luís Graça) (53): O Mundo é Pequeno e o Alentejo... é Grande: pois que viva o Cante, que já cá canta... e agora para todo o mundo!