segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16451: Consultório militar do José Martins (19): Notícia da criação da "Agência de Leiria" da Liga dos Combatentes da Grande Guerra, em 12 de abril de 1924, sendo seu presidente o cor inf Francisco de Lacerda e Oliveira, comandante do RI 7









1. Mensagem de José Martins [, ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70, ,foto atual à direita,] com data de 25 de agosto último:

Boa tarde

Nas minhas idas aos ATL (leia-se: Arquivos, Bibliotecas, Etc), encontrei este "documento" que parece indicar que é um dos primeiros, senão o primeiro, da Agência de Leiria da Liga dos Combatentes da Grande Guerra. 


A Liga dos Combatentes, inicialmente designada por Liga dos Combatentes da Grande Guerra, foi fundada em 1923 e oficializada pela Portaria n.º 3888, de 29 de janeiro de 1924. Vd. aqui resenha histórica do Núcleo de Leiria

A primeira ata da Assembleia Geral foi redigida  aos dezoito dias do mês de fevereiro de 1925, na sala de Oficiais no Regimento de Infantaria nº 7, em que foram eleitos os primeiros corpos gerentes da Assembleia Geral e da Direcção. O presidente da Assembleia Geral era o então cor inf Francisco Lacerda e Oliveira (1874-1946) que assina o comunicado, de 12 de abril de 1924, acima reproduzido.

Fica para memória futura.

Abraço

Zé Martins


_________________

Nota do editor:

Último poste da série > 22 de fevereiro de  2016 >ência Forças Militares Portuguesas que passaram por Empada

Guiné 63/74 - P16450: Notas de leitura (877): Ida à Feira da Ladra, sábado, 27 de Agosto: a Guiné estava à minha espera, antes, durante e depois da guerra (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 29 de Agosto de 2016:

Queridos amigos,
Há largos anos que andava na peugada de "O descascar da pele", de Sérgio Matos Ferreira, um furriel artilheiro que andou por Buruntuma, Dara e Mansabá, entre 1972 e 1974. Trata-se de uma pesquisa na arquitetura literária com reminiscências acentuadas do novo romance, do surrealismo e do construtivismo. Foi processo literário de pouca dura, os escritores mais persistentes, entre as décadas de 1970 e 1980 viram-se forçados à reconversão.
Destino esta pesquisa a um ajuntamento o mais completo quanto possível de tudo quanto se escreveu sobre a guerra e a despeito da profunda deceção que a leitura me provocou sinto-me contente de constar no blogue mais esta referência.

Um abraço do
Mário


Ida à Feira da Ladra, sábado, 27 de Agosto: a Guiné estava à minha espera, antes, durante e depois da guerra (2)(*)

Beja Santos

“O descascar da pele”, por Sérgio Matos Ferreira, Coleção O Chão da Palavra, Veja, 1982, aparece referido em “Os anos da guerra”, de João de Melo, na obra se inclui o seguinte texto deste autor que foi furriel de artilharia de campanha, na Guiné, entre 1972 e 1974 e a assistiu à transmissão de poderes:
“A bandeira arpoada num falo direito, rijo, dedilhava palavras surdas auxiliada por um sorriso fraco de vento, que acordado em sobressaltos estrebuchava soluços de pano bicolor, murcho, à espera da estocada final. Num berro sem esforço o clarim tocou firme e um pulsar de cascata segredou no sangue que o colonialismo se dissolvia, o sopro de metal continuou pleno de satisfação vibrando nas lâminas quentes do dia o tom do sentido, e sentimos na mais escondida célula que a salada da guerra se fechava na caixa da memória. A bandeira escorregava lentamente pelo fio da história em pequenas convulsões, hesitando, agarrando-se em jeito de lapa à madeira inchada e sem resistência poisou suavemente numas mãos esburacadas, ansiosas de remendar essa prisão de mato com a sombra do seu país. Esticada, dobrada em guardanapo aconchegou-se, isolada, entre a camisa e as costelas da fome de um militar que num estilo impecável deu meia-volta, arrumando-se no seu lugar estudado há longos meses. Agora África subia sem dificuldade pelo poste de braços abertos, hélice de espigas doiradas a cuspirem sementes, catana vigorosa de carne a cortar o último nó do cordão umbilical. És independente, meu nervo, Guiné de todos”.

Intrigava-me o texto, chegara finalmente a ocasião de ler a obra na íntegra, ademais a Coleção O Chão da Palavra irrompera no início de 1980 com um conjunto de livros que fazem hoje parte da história da literatura, basta pensar em Memória de Elefante, Os Cus de Judas, Conhecimento do Inferno e Explicação dos Pássaros, de António Lobo Antunes e Contos da Sétima Esfera, de Mário de Carvalho.

A escrita de Sérgio Matos Ferreira é vibrátil, sensorial, dominada por laivos poéticos, tem uma arquitetura afim do novo romance, trata-se de uma sequência de textos encadeados, mas encontramos outras referências na obra como o surrealismo, o expressionismo e o construtivismo. Isto para significar que há uma inegável pesquisa laboratorial, hoje completamente datada e fora de uso. Procura exemplificar:
“Bissau, miscelânea de idiomas a saltitar e de carne saturada do protecionismo, saboreava o andar quente da mulher, destapava o homem a amarrotar o tempo encostado à maresia, rasgava o sorriso manchado do puto meio nu, a correr pelo chão amarelo com tiras de barro, esburacado, solto pelo vento húmido que borrifava as mudanças e ameaçava os músculos baratos na arquitetura pesada, colonial, enquadrada por ruas adobadas de saibro, cortadas em ângulos de fraco recorte ou espalhadas em tímidas películas de alcatrão. A avenida principal, larga, arejada, símbolo da presença portuguesa com o Palácio do Governador, escorregava de cafés sufocados de militares a devorar a sede, vendia distrações empacotadas em filmes pensados, medidos, tragados num cinema de idade insuspeita. Trituravam-se algumas ideias retrógradas auxiliadas no ambiente fresco, requintado, caro do melhor restaurante”.

O destino do artilheiro foi inicialmente Buruntuma, partiu de Nova Lamego e fez a quilometragem passando por Piche e Camajabá. Vai situar o espaço da sua primeira morada de combate:
“Cavalgando para poente, nascia a porta de armas, marco parado no tempo, ferida aberta na nossa imaginação. Nadando para Norte ou remando para Sul, espelho direto da mesma intenção, arame torcido para torcer a vida, espaço partido no intervalo da morte para conter os assaltos de África…"

Contempla o duche, descreve o abrigo, a vida na messe, os jogos de cartas, solta-se o jargão da caserna, não se esquecem os assaltos constantes dos mosquitos e a ansiedade pela chegada do fogo inimigo, como observa:
“Quando a tarde estava lançada e o sopro morno tateava as nossas emoções, o PAIGC penava e muito bem bater a zona com os potentosos morteiros 120 e 82 mm, ou dar um ar da sua graça mostrando a eficácia do canhão 85 mm”.

Deu aulas regimentais da primeira à quarta classe aos africanos que pertenciam ao pelotão. Não esquece o rebentamento de minas, as informações que circulam entre aquele ponto ermo separado por uma bolanha da República da Guiné Conacri. De Buruntuma segue para Dara, nova escala. Daqui ouvem-se os ataques a Canquelifá e Copá. Mais tarde, dão-lhe como destino Mansabá. E um dia chega o 25 de Abril, segue-se Bissau e um transporte aéreo para Lisboa. Foi aquela guerra que lhe descascou a pele, daí o sensorial de toda esta prosa poética, o retorcer e quase apedrejar as palavras, a cuidada escolha que faz em posicionar-se como observador, o vestir a farda do anti-herói, e o seu regresso à procura de apaziguamento, como ele desenha a sua chegada a casa:
“Fechei a porta, tirei a mala tuberculosa do porta-bagagens, subi nervosamente as escadas do prédio, desenrolhei as chaves e respirei as paredes numa só golfada. Liguei para a companheira, não estava, sentei-me no quarto e repousei a vista na janela, quadro aberto na recordação a salpicar cones de luz ainda frescos que estalavam nos ouvidos e saltavam para a minha frente em movimentos de som e imagens de cor”.

É a procura do repouso do combatente, a memória precisa de ganhar alguma distância, a literatura virá depois. Tomou-se esta escrita de Sérgio Matos Ferreira como um anúncio de inovação literária. Não foi o que aconteceu, a porta que abriu este experimentalismo cedo se fechou. Há limites para a prosa poética e acontece que naquela década de 1980 parturejavam-se obras de inolvidável interesse, assinadas por Cristóvão de Aguiar, Álamo de Oliveira e José Brás, referências obrigatórias da literatura da guerra da Guiné. Nestas coisas da escrita, há uma regra implacável em que o que promete ser novo se torna em pouco tempo num irremediável tecido velho e imprestável. Li e reli este “O descascar da pele” e só encontrei um processo literário fora do mundo.

(Continua)
____________

Notas do editor:

(*) Poste anterior de 2 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16439: Notas de leitura (875): Ida à Feira da Ladra, sábado, 27 de Agosto: a Guiné estava à minha espera, antes, durante e depois da guerra (1) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 2 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16441: Notas de leitura (874): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos (1966-1969) - Parte IX: o caso do clínico geral Amado Alfonso Delgado (V): Finalmente o regresso a casa, depois do pesadelo do Fiofioli, na margem direita do Rio Corubal... Este homem, hoje professor universitário (?), tem histórias para contar aos netos...

Guiné 63/74 - P16449: Recortes de imprensa (81): " As pessoas não falavam da guerra na guerra. Foi das primeiras coisas que eu percebi. Nem hoje eles falam na guerra. Eles [, os ex-combatentes, ] fazem almoços todos os anos e não falam nisso uns com os outros": entrevista de Ivo M. Ferreira, realizador das "Cartas da Guerra", à Rádio Renascença, em 1 do corrente


Rádio Renascença > 1 de setembro de 2016 > Entrevista, à Renascença, do realizador de cinema Ivo M. Ferreira, cujo filme "Cartas da Guerra" está agora, finalmente, em exibilção nos cinemas portugueses (*)



1. Obrigado ao nosso camarada Carlos Pinheiro, por estar atento ao que se passa na comunicação social e pode interessar aos leitores do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné que há mais de 12 anos, e em contracorrente,  falam todos os dias, da e sobre a guerra colonial... Eis um excerto da entrevista do Ivo M. Ferreira, com a devida vénia à Rádio Renascença (**):



Capa do livro, editado em 2005
pela Dom Quixote
"As pessoas não falavam da guerra na guerra. Nem depois"


(...) Há muito que o realizador queria tratar o tema da Guerra Colonial, "mas nunca tinha encontrado uma forma". Até que tropeçou nas cartas que o jovem António Lobo Antunes escreveu à mulher durante uma comissão de serviço em Angola, entre 1971 e 1973 (tinham sido organizadas pelas filhas de ambos e publicadas no livro "Deste Viver Aqui Neste Papel Descripto: Cartas d[a] Guerra", em 2005).

Um dia ouviu a mulher (Margarida Vila-Nova, que interpreta a mulher de Lobo Antunes no filme) ler o livro para a barriga onde crescia o filho de ambos e a ideia plantou-se. "Em termos históricos, de documento de guerra, em termos biográficos e de uma história de amor fantástica, havia uma série de elementos que me permitiam pensar que daria um bom filme." Escreveu o argumento com Edgar Medina em pouco mais de quatro meses.

(...) A pesquisa para o filme passou não só por outros escritos e livros de Lobo Antunes, como "Os Cus de Judas" ou "Memória de Elefante", mas também por conversas com outros antigos combatentes. Ouviu muitas vezes reacções. Como esta: "Mas por que caraças é que tu queres falar nisto?".

"As pessoas não falavam da guerra na guerra. Foi das primeiras coisas que eu percebi. Nem hoje eles falam na guerra. Eles [ex-combatentes] fazem almoços todos os anos e não falam nisso uns com os outros", diz.

Ivo M. Ferreira percebeu que muita coisa que ficou enterrada, "atirada para o mesmo canto do fascismo" para nunca mais se revisitar. Todo um período de "anseios e medos que não eram revelados nem à família nem aos colegas", que criou "um aquartelamento de silêncio muito mais forte do que o que eles tinham enquanto lá estavam".

Por isto tudo, Ivo não podia ter ficado mais surpreendido com as reacções que tem tido. "Sinto que este filme tem funcionado para fazer um desfolhar da cebola que, se calhar, também só podia acontecer agora, quando as pessoas estão naturalmente a desaparecer."

Agora que o filme finalmente chega às salas, trouxe uma surpresa para Ivo M. Ferreira. "Pensei sempre que as mulheres, as filhas, os filhos é que iriam ver o filme. As pessoas que os viram voltar diferentes. Mas de repente sei que há excursões de ex-combatentes, que é uma coisa que eu nunca pensei." (...)


Fonte: A entrevista, conduzida por Catarina Santos,. pode ser lida na íntegra, aqui,  no sítio da Rádio Renascença

_____________

Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

31 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16433: Agenda cultural (489): Amanhã, dia de 1 setembro, estreia nos cinemas o filme, de Ivo M. Ferreira, "Cartas da Guerra", baseado nas cartas de amor e guerra de António Lobo Antunes, ex-alf mil médico, da CART 3313 (Angola, 1971/73). Descontos especiais para grupos de ex-combatentes e séniores

7 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16281: Agenda cultural (488): O filme "Cartas da Guerra", de Ivo M. Ferreira, baseado na obra de António Lobo Antunes, tem estreia comercial em 1 de setembro próximo


(**) Último poste da série > 27 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16423: Recortes de imprensa (80): Os "últimos tugas" de Bafatá: João e Célia Dinis, entrevistados pelo "Público", em 13/4/2013... O nosso camarada João Dinis, hoje empresário, vive na Guiné desde 1963. Pertenceu à CART 496 (Cacine e Cameconde, 1963/65)

Guiné 63/74 - P16448: Parabéns a você (1132): José Marcelino Martins, ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 5 (Guiné, 1968/70)

____________

Nota do editor

Último poste da série de 4 de setembro de  2016 > Guiné 63/74 P16443: Parabéns a você (1131): Armor Pires Mota, ex-Alf Mil Cav da CCAV 488 (Guiné, 1963/65); José Câmara, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56 (Guiné, 1971/73); e Torcato Mendonça, ex-Alf Mil Art da CART 2339 (Guiné, 1968/69)

domingo, 4 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16447: Efemérides (234): Cerimónia de imposição de Medalhas Comemorativas das Campanhas a Combatentes da Guerra do Ultramar, levada a efeito no passado dia 21 de Abril de 2016 no Regimento de Transmissões do Porto (José Firmino, ex-Soldaddo At da CCAÇ 2585)

Vista panorâmica do Regimento de Transmissões do Porto


1. Mensagem do nosso camarada José Firmino (ex-Soldado Atirador da CCAÇ 2585/BCAÇ 2884, Jolmete, 1969/71) com data de 22 de Agosto de 2016:

Teve lugar no passado dia 21 de Abril do ano 2016, no Regimento de Transmissões – Porto, a entrega tardia, mas diz o ditado que vale mais tarde que nunca, da entrega de diversas Medalhas Comemorativas de Campanha com Legenda, na qual eu também marquei presença para receber aquilo que há muito tinha direito.

Numa cerimónia bonita e bem conduzida, onde não faltou a presença do Exmo. Comandante da Unidade, acompanhado por diversos oficiais, sargentos e praças.

Depois de impostas as respetivas medalhas, seguiu-se o desfile das tropas em parada, com a fanfarra à frente, e ai senti como que um arrepio, lembrando outros tempos que já lá vão e em que gostei de ser militar, defender o meu País e honrar a nossa bandeira.

Finda a cerimónia, seguiu-se uma visita guiada ao Museu da Unidade. Sem dúvida, gostei de rever por lá algum material de transmissões que também usámos no cumprimento da nossa comissão de serviço.

Cumprimentos a todos os ex-Combatentes, familiares e amigos.
José Rodrigues Firmino.
Ex-Soldado Atirador da CCAÇ 2585/BCaç 2884
Jolmete, Guiné
1969/1971


Compasso de espera

Preparativos

Alinhados já em formatura

Comportamento à altura dos acontecimentos

Ponto mais alto

Já com as Medalhas impostas

O Comandante da Unidade, Senhor Coronel de Transmissões Carlos Jorge de Oliveira Ribeiro, a dirigir palavra aos medalhados

Foto de família


Equipamentos de Transmissões em exposição

************

2. Comentário do editor

Diz o camarada Firmino que recebeu tardiamente a sua Medalha, tem razão, mas não há alternativa se não fazer o requerimento para a receber, já que ninguém sabe se ainda somos vivos e onde moramos.
Há ainda a opção de a comprar nos estabelecimentos da especialidade, tendo para o efeito de ser apresentada a Caderneta Militar, onde consta a OS da atribuição da Medalha e da respectiva legenda.
____________

Nota do editor

Último poste da série de 15 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16305: Efemérides (233): 15 de novembro de 1970, às 11 da noite, o quartel e a vila de Nova Lamego são violentamente flagelados com fogo de 4 morteiros 82, durante 35 minutos... 3 mortos entre as NT, 4 feridos graves, 8 ligeiros; 8 mortos entre a população, 50 feridos graves, 30 ligeiros... Valeram-nos os Fiat G-91 estacionados em Bafatá... Spínola mandou construir um quartel novo, fora da vila, inaugurado em 31/1/1971 (Tino Neves, ex-1º cabo escriturário, CCS/BCAÇ 2893, 1969/71)

Guiné 63/74 - P16446: Banco do Afecto contra a Solidão (17): Regressei do Lar de Runa... Um lar é um lar, por muito bom que seja... Aquilo para mim era já Gadamael (Mário Vitorino Gaspar, ex-Fur Mil At Art, Minas e Armadilhas, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)


Instituto de Ação Social das Forças Armadas > Centro de Apoio Social de Runa (CASR), Runa, Torres Vedras


Foto: © Mário Gaspar  (2016). Todos os direitos reservados



1. Duas mensagens de hoje, do Mário Gaspra, enviadas às 3 e tal da manhã:

[foto à esquerda, Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, Minas e Armadilhas, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68]


(i) Assunto - Regressei do lar de Runa

Caros Camaradas

Mário Vitorino Gaspar regressou de Runa. Estou em Lisboa,  o Lar Militar em Runa fazia-me lembrar a Guiné.

Julgo estarem a confundir tudo. Sempre julguei que todos fossemos capazes de fazer um pouco de História – neste caso da guerra na Guiné – mas é mentira.

Cada um conta a sua verdade, parece mais que o Blogue não é necessário. Tenho a certeza que todos temos necessidade da importância do mesmo. Não pode ser um meio de se entreterem. Estive no Lar em Runa, sem computador e praticamente sem  contactos.

Quando uma parte se afasta há uma “história” ou “estória” mais, e cometem-se erros, para não dizer que se deturpa a verdade. O Camarada Coutinho e Lima tem razão, em Gadamael antes da CART 1659 tiveram a sua História a CART 494 e CCAÇ 798.

A CART 1659 era comandada pelo Capitão de Infantaria – e não de Artilharia, como alguém afirmou – Manuel F. F. de Mansilha.

A foto que consta do mesmo a cortar o bolo no Almoço de Confraternização na Batalha foi por mim enviada. Assim como o emblema da CART 1659 também fui eu que o fiz chegar ao Blogue.

Para saberem algo mais sobre o período de Janeiro de 1967 a Outubro de 1968, podem ler o meu livro “O Corredor da Morte”, estou a tratar de terminar uma 2.ª  edição, onde não vão existir omissões – omitir é mentir – não sou mentiroso…

Voltarei… Cumprimentos


(ii) Assunto: Um lar é... para além de tudo, um lar  – ou devia ser


Caros Camaradas e Amigos

Decerto não interessa a ninguém o que se passa num Lar. Eu estaria sempre interessado, sou curioso.

Podem crer ser pior um Lar – seja ele o melhor, tenha tudo aquilo que julgamos ser do melhor – só o sabemos quando lá estivemos.

O pessoal, todo ele compreensível, educado, trabalhador, simpático… Não tenho adjectivos para descrever, não existem palavras, mas é um Lar. Um Lar não pode ser isolado e afastado. Tem de possuir movimento de pessoas e movimentação.

Runa para mim já era Gadamael, na Guiné, no mato. Até os amigos se esquecem que existimos.

Falarei do assunto noutra altura.

Um abraço

Mário Vitorino Gaspar
_________________

Nota do editor: 

Guiné 63/74 - P16445: Blogpoesia (467): "Bom dia, Sol" e "O despertar do dia", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Belíssimos poemas do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66), dos que nos vai enviando ao longo da semana, e que nós publicamos com prazer:


Bom dia, Sol!

Bom dia, Sol apaziguador e vivificante desta Terra triste!
Te vejo a nascer em glória.
Que fulgor tem tua majestade poderosa.

Consegues dum só clarão iluminar o mundo.
Jorras força e alegria em labaredas.
Consegues serenar os mares em fúria
Com teu brando ceptro.

És meigo e terno como a brisa.
Semeias cores como um pintor divino.
São belas todas as tuas telas.
Te repartes igual por toda a parte.
Tudo fecundas de força e vida.

Derretes o gelo na devida conta.
Alimentas os mares e os rios
Como prados vivos.

Só te vais embora
Quando todo o mundo dorme…

Mafra, 4 de Setembro de 2016
7h43m

Vendo nascer o Sol

************

O despertar do dia

Fruto da luz, chegaram os traços e formas dos corpos.
Depois veio o movimento colorido que os pegou em carrossel.
Cada qual no seu papel, segue a marcha no seu caminho.

Travam-se confrontos e atropelos,
como se o espaço imenso lhes escasseie.

Se evitam os cruzamentos de dois sentidos.
Se ocultam, à cautela, nas sombras que os rodeiam.
Reina o medo e a vontade de sobreviver.

Só a gravidade firme lhes prende os pés ao chão.
Mesmo assim os alados se desprendem e vagueiam livres pelo ar.
Enquanto as árvores se despem das suas folhas secas que só pesam.
Os répteis ápodos e oblongos serpenteiam velozes sobre os folhedos.

Até as nuvens, em constante desassossego,
se afligem com as temíveis forças das ventanias.

É esta a paz da natureza.

Tapada de Mafra, 26 de Agosto de 2016
9h40m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
____________

Nota do editor

Último poste da série de 21 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16410: Blogpoesia (466): "De negro a noite", "A revolta dos fragmentos" e "A Natureza", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 63/74 - P16444: Manuscrito(s) (Luís Graça) (95): Por aqui passou Mamadu Indjai, o terrível


Por aqui passou
Mamadu Indjai, o terrível



por Luís Graça


E de repente
tudo te é estranho,
o muro que corta, rente,
a brisa da manhã,
a fonte onde ainda ontem
os djubis tomavam banho,
o portentoso poilão aonde ias rezar,
à tua maneira, ao teu irã,
a ponta onde colhias a manga e o abacaxi,
o macaco-cão que chora e que ri…

D
e repente
não sabes donde vens,
não sabes o que és,
aqui de camuflado e de G-3,
nem a verdadeira razão para matar e morrer,
não sabes o que fazes neste lugar,

muito longe da tua terra,
abaixo do Trópico de Câncer,
a 11 graus e tal de latitude norte.

M
al reconheces, pobre periquito,  

os sinais da guerra,
o combate em noite de luar,
o cavalo de frisa esventrado,
os pássaros de morte,
os jagudis no alto da árvore descarnada,
a terra revolta, ensanguentada,
o arame farpado, 

aqui e acolá cortado,
o colmo das moranças, 

carbonizado,
o medo que não se vê mas se pressente, 

num olhar de relance, breve,
sobre a tabanca que quiseram riscar do mapa, 
as cápsulas de 12.7 da metralhadora pesada Degtyarev,
um par de chinelos,
os caracteres chineses dos invólucros, amarelos,
das granadas de RPG…


Um triste cão, vadio e louco, ladra
ao cacimbo fumegante
e o seu latido lancinante
ecoa pela bolanha fora.
A seu lado, a única velha,
que não se foi embora,
com a sua máscara impassível
de séculos de dor,
de seu nome, Satu.

Mais tarde, saberás tu,
saberão de cor,
os jovens pioneiros,
os "blufos", do PAIGC,
que por aqui passou Mamadu Indjai, o terrível,
hoje valoroso,
amanhã insidioso,
combatente da liberdade da pátria,
hoje herói,
amanhã traidor,
que nunca conhecerá a glória nem a honra
do Forte da Amura,
transformado em Panteão Nacional.

Diz-me tu, Satu, mãe e pitonisa,
onde estão as mulheres da tua tabanca,

com os balaios à cabeça
e os seus filhos às costas ?
Onde estão as tuas gentis bajudas,
de mama firme, 

cujo sorriso nos climatizava os nossos pesadelos ?
Onde estão o régulo e os suas valentes milícias ?
Para que lado corre o Rio Corubal
e donde vêm aqueles sons, ambivalentes, de bombolon?


Diz-me tu, homem grande, 
onde fica o Futa Djalon ?
E de que ponto cardeal
sopram os ventos da história, afinal ?


Dizes-me onde fica Meca, meu irmão ?
E, no seu conciliábulo,
os nossos deuses, o meu e o teu,
o que sobre nós decidirão, cinicamente ?


Diz-me onde está o velho cego, 
mandinga,
a quem demos boleia,
que tocava kora
e nos contava a história
de velhos e altivos senhores
agora servos no seu chão ?

P
assei na madrugada
de um final de mês de julho de 1969,
pela tua tabanca, abandonada,
do triste regulado do Corubal,
de que já não guardo o nome,
na memória:

Sinchã qualquer coisa,
Sinchã-a-ferro-e-fogo, 
Afiá ou Candamã ?
Que importa, minha irmã,
o topónimo para a história?!...

V
enho apenas em teu socorro,
meu irmãozinho,
quando as cinzas ainda estão quentes
no forno da tua morança,
da morança que fora também minha…

R
aiva, sim, meu camarada,
Abibo Jau, meu bom gigante,
que serás mais tarde fuzilado em Madina Colhido
com o teu comandante Jamanca,
como eu te compreendo!…
Mas vingança, para quê ?
De guerra em guerra se chega ao nada!



A um espelho partido me estou vendo,
e a mim mesmo me pergunto 

quem sou eu,
triste tuga entre tristes fulas, ai!,
para te dar lições de história ?!


Saberei apenas, 
muito anos depois,
que, julgado e condenado em Conacri,
fuzilaram o Mamadu Indjai,
no Boé, 

que diziam ser região libertada da Guiné…

O
mesmo Mamadu Indjai 
(*),
acrescente-se, 
fero e bravo comandante,
que ferimos gravemente
no decurso da operação Nada Consta,
o mesmo Mamadu Indjai,
que, três anos e meio depois,

chefe das "secretas",
será o Judas de Amílcar Cabral.


Versão 10, Lourinhã, 11  agosto de  2016 (**)

___________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 2 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16441: Notas de leitura (874): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos (1966-1969) - Parte IX: o caso do clínico geral Amado Alfonso Delgado (V): Finalmente o regresso a casa, depois do pesadelo do Fiofioli, na margem direita do Rio Corubal... Este homem, hoje professor universitário (?), tem histórias para
contar aos netos...

(...) Comentário de Tabanca Grande [LG]:

(...) Neste tempo /1968/70), no nosso setor L1 (Bambadinca), ao longo da margem direita do Rio Corubal, o PAIGC teria 5 bigrupos (Um bigrupo, eraconstituído por 40/50 guerrilheiros), em cinco zonas: Poidom/Ponta do Inglês/Baio Buruntoni, Ponta Luis Dias, Mina/Fiofioli (2), e Galo Corubal, ou seja entre 200 e 250 homens em armas, mais um 1 grupo de artilharia (morteiro 82, canhão s/r 75 e 82) + 1 grupo especial de bazuqueiros (RGP) (em Mangai). A principal "base" era Mina / Fiofioli, uma mata densa, de floresta-galeria... Não estava ao alcance da artilharia do Xime... Em 1969. o comandante era o Mamadu Indjai.

No meu tempo a mata do Fiofioli era vista como um "mito", infundindo muito respeito às NT... Nos últimos da guerra (e nomeadamente em 1973), o PAIGC retirou forças desta região...

Estranha-se que o médico cubano Amado Alfonso Delgado tenha omitido o importantre revés que foi para o PAIGC a baixa do comandante Mamadu Indjai, gravemente ferido pelas NT no decurso da Op Nada Consta, em agosto de 1969

Vd. poste de 7 de setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6948: A minha CCAÇ 12 (6): Agosto de 1969: As desventuras de Malan Mané e de Mamadu Indjai nas matas do Rio Biesse... (Luís Graça)

Este Mamadu Indjai é o mesmo que fez parte do complô contra Amílcar Cabral em 1973, em Conacri... Será julgado (?) e fuzilado... Era de etnia mandinga.

Temos dez referências no blogue sobre este homem...que pôs o lado meridional do chão fula a ferro e ferro.


(**) Último poste da série > 31 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16432: Manuscrito(s) (Luís Graça) (94): Salvé, minha safada, pequena, bela Helena, hiena, de Bafatá!

Guiné 63/74 P16443: Parabéns a você (1131): Armor Pires Mota, ex-Alf Mil Cav da CCAV 488 (Guiné, 1963/65); José Câmara, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56 (Guiné, 1971/73); e Torcato Mendonça, ex-Alf Mil Art da CART 2339 (Guiné, 1968/69)



____________

Nota do editor

Último poste da série de 3 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16442: Parabéns a você (1130): Luís Gonçalves Vaz, Amigo Grã-Tabanqueiro

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16441: Notas de leitura (876): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos (1966-1969) - Parte IX: o caso do clínico geral Amado Alfonso Delgado (V): Finalmente o regresso a casa, depois do pesadelo do Fiofioli, na margem direita do Rio Corubal... Este homem, hoje professor universitário (?), tem histórias para contar aos netos... (Jorge Araújo)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Mansambo > CART 2339 (1968/1969) – Agosto de 1969. Malan Mané a ser interrogado pelo ex-alf mil Torcato Mendonça [Vd. poste P6948] (*).

 A foto é do alf mil Cardoso, e chegou-nos à mão através do ex-fur mil Carlos Marques dos Santos, de Coimbra.

Foto: © Carlos Marques dos Santos (2006) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


Nona parte, enviada em 1  do corrente, das "notas de leitura" coligidas pelo nosso camarada e grã-tabanqueiro, Jorge Alves Araújo. Trata-se de um extenso documento, que está a ser publicado em diversas partes (*), tendo em conta o formato, a especificidade e as limitações do blogue.

Mensagem do Jorge Araújo com data de 1 do corrente:

Caro Luís: Bom dia. Segue mais um fragmento do nosso projecto «Médicos Cubanos», o último relacionado com a entrevista a Alfonso Delgado. No início de um novo ano académico, com a primeira reunião a ter lugar na próxima 2.ª feira, em Portimão, vou tentar cumprir com as rotinas anteriores.

Bom trabalho. Um abraço, Jorge Araújo.


Foto acima: O nosso grã-tabanqueiro Jorge Araújo: (i) nasceu em 1950, em Lisboa; (ii) foi fur mil op esp / ranger, CART 3494 / BART 3873 (Xime e Mansambo, 1972/1974); (iii) fez o doutoramento pela Universidade de León (Espanha), em 2009, em Ciências da Actividade Física e do Desporto, com a tese: «A prática Desportiva em Idade Escolar em Portugal – análise das influências nos itinerários entre a Escola e a Comunidade em Jovens até aos 11 anos»; (iv) é professor universitário, no ISMAT (Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes), Portimão, Grupo Lusófona; (v) para além de lecionar diversas Unidades Curriculares, coordena o ramo de Educação Física e Desporto, da Licenciatura em Educação Física e Desporto].


1. INTRODUÇÃO

Apresento ao colectivo da Tabanca Grande a nona parte deste meu projecto relacionado com a divulgação de algumas das memórias transmitidas por três médicos cubanos que estiveram na Guiné Portuguesa [hoje Guiné-Bissau] em missão de “ajuda humanitária” ao PAIGC, na sua luta pela independência, nos anos de 1966 a 1969.

Com esta narrativa [a quinta] dou por encerrada a entrevista ao médico Amado Alfonso Delgado, a segunda no alinhamento do livro escrito em castelhano pelo jornalista e investigador Hedelberto López Blanch, uma coletânea de memórias e experiências divulgadas pelos seus diferentes entrevistados, a que deu o título de «Histórias Secretas de Médicos Cubanos» [La Habana: Centro Cultural Pablo de la Torriente Brau, 2005, 248 pp.]  ou “on line” em formato pdf, em versão de pré-publicação.

Recordo que por ser uma tradução e adaptação do castelhano, onde procurei respeitar as ideias expressas nas respostas dadas a cada questão, entendi não fazer juízos de valor sobre o seu conteúdo, colocando entre parênteses rectos, quando possível, algumas notas avulsas de reforço histórico ou contextualização  ao que foi transmitido, com recurso ao vasto espólio disponível no nosso blogue. 

Esta minha decisão não quer dizer que não se possa acrescentar algo mais, em cada situação concreta, antes pelo contrário, uma vez que neste conflito bélico existiram dois lados, e daí o título com que baptizei este trabalho: “d(o) outro lado do combate – memórias de médicos cubanos”.


2. O CASO DO MÉDICO AMADO ALFONSO DELGADO [V]

Esta nona parte do projecto “memórias de médicos cubanos” corresponde ao quinto e último fragmento em que foi dividido a entrevista ao doutor Amado Alfonso Delgado, médico de clínica-geral, com experiência em cirurgia.

Nos quatro fragmentos anteriores [P16357; P16380; P16396 e P16420] (*), referentes às primeiras vinte e uma questões, encontramos um historial de dois anos (1967/1969), entre os antecedentes que influenciaram a sua decisão de cumprir uma "missão internacionalista", tendo-lhe surgido a hipótese de o fazer na Guiné Portuguesa (hoje Guiné-Bissau), que aceitou, até aos actos médicos realizados nas "bases" do PAIGC, em particular nas existentes na mata do Fiofioli (Sector L1 – Bambadinca).

Aí esteve cercado por diversas ocasiões, aonde viveu muitos sobressaltos, com muitas corridas em ziguezague, rastejanços e dores de barriga (com diarreias), que implicaram sucessivas trocas de acampamento, incluindo a destruição das suas "enfermarias" (de campanha), por quatro vezes. Por isso, julgou não ser possível sobreviver, pensando muito nos filhos, que iriam ficar sem pai… coitados, tão pequeninos.

Em função da intensa actividade operacional das NT e do PAIGC, entre 8 de março e 18 de junho de 1969, Alfonso Delgado acabaria por desempenhar o seu papel de profissional de saúde, certamente com elevado grau de dificuldade, prestando apoio aos guerrilheiros feridos em combate, incluindo a realização de algumas cirurgias e amputações, quase sempre durante a noite à luz de archotes de palha ardendo.

Recorda-se que o crescendo da actividade operacional na região da mata do Fiofioli, num cenário de guerra de guerrilha, tem o seu início com a “Op. Lança Afiada”, entre 8 e 19 de março de 1969, movimentando cerca de 1300 efectivos, seguida pela “Op. Baioneta Dourada” em 2 e 3 de abril, envolvendo um total de sete Gr Comb e a “Op. Espada Grande”, em 4 e 5 de abril, com nove Gr Comb.

A resposta do PAIGC surgiu treze dias depois, em 18 de abril, com a primeira acção, realizando uma emboscada na Ponta Coli, no troço da estrada entre Amedalai-Xime, esta liderada por Mário Mendes cmdt do bigrupo que aí actuou.

Seguiu-se, depois, na noite de 28 de maio de 1969, o ataque ao aquartelamento de Bambadinca (aquele que seria o primeiro e único), aonde estava instalado, à data, o comando do BCAÇ 2852 (1968/70) e a respetiva CCS. Durante o ataque, que durou cerca de quarenta minutos, participaram dois bigrupos (mais de cem elementos), tendo utilizado três canhões s/r, morteiros, RPG, metralhadoras ligeiras e pesadas e armas automáticas de assalto, sem grandes consequências.



Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Estrada Bambadinca-Xime > Ponte do Rio Udunduma > Destacamento da CCAÇ 12 > 2º Grupo de Combate > 1970  > Crianças ou adolescentes, provavelmente de Amedalai, a tabanca mais próxima da ponte, divertem-se, dando saltos para a água, sob a supervisão de um dos nosso militares.

Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]

Em simultâneo com este ataque, era dinamitada a ponte sobre o Rio Udunduma, ao tempo sem qualquer segurança, situada a quatro quilómetros, na estrada Bambadinca-Xime (imagem cima, retirada do poste P12626, com a devida vénia).





Guiné > 1969/71 > Croquis do Sector L1 / Zona Leste (Bambadinca)  > Vd. posição relativa da base do PAIGC em mina / Fiofioli, ma margem direita doRio Corubal a noroeste do Xitole  (vd. Sinais e legendas).

Fonte: História da CCAÇ 12: Guiné 69/71. Bambadinca: Companhia de Caçadores nº 12. 1971

Infogravura: © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné Luís Graça (2005). Todos os direitos reservados


No mês seguinte, em junho de 1969, foi realizado um vasto programa de acções contra diversos quartéis e destacamentos da frente Leste: Bambadinca, Gabú, Cabuca, Xime, Mansambo, Canjadude e várias tabancas com milícias e tropas portuguesas, sendo de admitir tratar-se do cumprimento de uma orientação superior transmitida em documento assinado por Amílcar Cabral (1924-1973), em 4 de junho desse ano, dando instruções para a realização de ataques, no dia 10 de junho, a diversos quartéis e destacamentos dessa frente, devendo nalguns casos ser repetido durante três dias.

Em resumo e no período em apreço, as principais operações das NT na mata do Fiofioli realizaram-se em março e abril de 1969, reagindo o PAIGC com ataques a aquartelamentos, destacamentos e emboscadas, em abril, maio e junho, nomeadamente a Sul da linha de circulação entre Xime e Bambadinca, incluindo Mansambo e Xitole (subunidades de quadricula), a saber: Xime, Ponta Coli, Amedalai, Ponte do Rio Udunduma, Bambadinca, Taibatá, Demba Taco, Moricanhe, Mansambo, Ponte dos Fulas e Xitole (estrelas cor magenta na infogravura).

 Eis, pois, os último excertos (em itálico)  da entrevista dada  pelo médico Amado Alfonso Delgado. (***)


Entrevista com 25 questões [Parte V, da 22.ª à 25.ª]

“Cirurgias com a ténue luz de fachos de palha ardendo” 
(Cap XI, pp. 136 e ss)


(xxii) Como é avisado para deixar 
a Guiné-Bissau?

Foi de forma casuística. [Em agosto], depois de sair de um cerco que nos fizeram as tropas helitransportadas [paraquedistas do BCP 12] fomos para um lugar perto do acampamento [provável  referência à “Op. Nada Consta”].



[A “Op. Nada Consta” realiza-se a 18 de agosto de 1969, envolvendo cerca de duas centenas e meia de militares, divididos por dez Gr Comb pertencentes à CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (3 Gr), CART 2339 (3 Gr), PEL CAÇ NAT 53 e BCP 12 (2 Gr da CCP 122 + 1 Gr da CCP 123, sedeados em Galomaro). Esta “operação especial” tem o seu início pelas 09h30, sempre sob mau tempo (estávamos na época das chuvas), e surge na sequência do ataque de mais de duas horas a Candamã, tabanca fula em autodefesa do regulado do Corubal, realizado ao amanhecer do dia 30 de julho de 1969, tendo o PAIGC utilizado um efectivo de bigrupo com recurso a armamento pesado (P6948)].

[Com o dispositivo das NT distribuído nas proximidades do Rio Biesse (a CCAÇ 12, a leste; o Pel Caç Nat 53, a norte, e a CART 2339, a oeste e na estrada Mansambo/ Xitole, junto à ponte do Rio Bissari), avança a primeira vaga de paraquedistas do BCP 12, colocados na ponta da bolanha, penetrando imediatamente na espessa mata que se estende para sul. Cinco minutos depois era capturado um elemento IN com o seu RPG-2, sucedendo-se mais duas vagas de hélis transportando os restantes páras, que passaram a percorrer a mata de norte para sul. Ouvem-se tiros de rajada, para além do matraquear do helicanhão, sendo feitos dois mortos e capturadas três armas automáticas. Um dos mortos era chefe de bigrupo, de apelido Sampunhe (P6953)].

[O interrogatório sumário que foi feito naquela ocasião ao guerrilheiro capturado pelos páras, este diz apenas chamar-se Malan Mané, pertencer a um bigrupo reforçado (oitenta elementos), comandado por Mamadu Indjai e disperso em pequenos grupos pela mata (P23 + P2683)].

[Passado o efeito de surpresa, os guerrilheiros, dispersos em pequenos grupos, conseguem fugir da zona de acção das NT, e retiram-se muito provavelmente na direcção da base de Biro. Em função das informações dadas pelo prisioneiro, Malan Mané, as tropas paraquedistas seguiram no dia seguinte em direcção daquela base, tendo capturado mais o seguinte material:

1 metralhadora ligeira “Degtyarev”; 1 espingarda automática “Kalashnikov”; 1 pistola-metralhadora “PPSH”; 1 LGFog RPG-2; granada para LG P-27 “Pancerovka”; 12 granadas para LG, RPG-7; 85 granadas para LG, 3 cunhetes com munições; 7 granadas de RPG-2; 9 granadas de morteiro 60; diversos bornais, marmitas, fardamento e botas novas, documentos de interesse, incluindo relatórios onde se refere a ocorrência de dois mortos e seis feridos, por parte do IN, no ataque a Candamã, a 30 de julho de 1969. Pela CART 2339, foram levantadas duas minas A/C (P6948)]. Estranha-se, uma vez mais, a não referência à captura de material de enfermagem e a medicamentos, sabendo-se da existência de enfermarias de colmo naquela zona.

[Quanto a Malan Mané, seguiu para Galomaro com os páras para novo interrogatório, sendo levado, depois, para Bambadinca, onde ficou preso. Esteve também em Mansambo, vindo a ficar gravemente ferido na “Op. Pato Rufia”, em 7 de setembro de 1969, no Xime, numa acção conjunta constituída pela CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (3 Gr); CART 2520 (2 Gr) e PEL. CAÇ. NAT. 53, 63 e 52. Malan Mané foi evacuado para o Hospital Militar, em Bissau (P146 + P2683), Mais detalhes sobre Malan Mané em P1011; P2683 e P6984.]

[A participação de Malan Mané nesta “Op.” aconteceu porque ele estivera lá, três meses antes, num destacamento avançado a escassas horas do Xime, composto por 5 cubatas paralelas à estrada Xime-Ponta do Inglês, do lado oeste, internadas na mata cento e cinquenta metros. Nessa altura os efectivos eram de cerca de quarenta elementos, incluindo um grupo especial de roqueteiros que todas as manhãs se deslocava para a Ponta Varela, afim de atacar as embarcações que circulavam no Rio Geba (P146)].

[Neste novo acampamento] o ajudante que andava comigo e, ao que me diziam, Arrebato piorou. Começou a manifestar um obsessivo delírio de perseguição. Dizia que os próprios guerrilheiros o queriam matar, e uma noite foi desarmado pois já estava bastante débil, e fugiu para a mata. 

Deu-se o alarme entre toda a população e ao fim de seis dias [final de agosto?] foi encontrado completamente depauperado, com os olhos inchados, cheio de furúnculos e pesando à volta de quarenta quilos. Falei com o chefe do acampamento, de nome Mamadu Indjai, e acordamos a sua saída da Frente, para a qual me indicou dois guerrilheiros. Isto foi em [início] setembro de 1969, quase no fim da missão.

[A ser verdade este acordo feito na presença de Mamadu Indjai nos últimos dias de agosto, ficando a zona sem apoio médico, estamos perante um “caso de divergência factual, logo histórica”, contraditada por outras informações aqui editadas. Ex.1: “Op. Nada Consta”, em 18 de agosto, (…) um grupo cairia numa emboscada que forças da CART 2339 tinham montado no itinerário Mansambo-Xitole, próximo da ponte sobre o Rio Bissari, e em resultado da qual ficaria gravemente ferido Mamadu Indjai (soube-se mais tarde) (P6948). Ex.2: Soube-se mais tarde que Mamadu Indjai (…) foi ferido com gravidade em trocas de tiros com as forças de Mansambo e evacuado [?] (P23). Ex.3: (…) Mamadu Indjai, gravemente ferido pelas NT (e mais concretamente pela CART 2339) na “Op. Anda Cá” (em 15 de agosto de 1969) (P9011)].

[Chegado o dia da saída da mata do Fiofioli na companhia de Arrebato], meti a sua arma e a minha ao ombro, calcei-lhe os sapatos e agarrei-o pelo cinto. Era uma pluma. Assim caminhei vários dias, numa distância aproximada entre Havana e Matanzas [noventa quilómetros], com muitos portugueses por perto e por caminhos inóspitos. 

Quando parávamos para descansar, ficava debaixo das minhas pernas e sempre agarrado pelo cinto, pois queria fugir. Assim, com este tremendo trabalho e sofrendo de uma entorse que me doía sobremaneira, o pude retirar da Frente.

Quando chegámos ao acampamento da fronteira [segunda semana de setembro?], deixei o Arrebato e dizem-me que dentro de quinze dias chegava um barco para nos levar, pois tinha terminado a missão. 


Durante a espera, um dia fui informado que o [João Bernardo] “Nino” Vieira (1939-2009) - um dos líderes do PAIGC [, comamdante da Frente Sul]- queria fazer uma incursão pelo território e queria que eu fosse com ele. Pensei que se me tinha salvado nas anteriores ocasiões, nesta não o iria conseguir. Na manhã do dia seguinte formamos para sair e quando estávamos prontos chegaram umas viaturas aonde estavam os novos médicos, pelo que fiquei mais aliviado. E, como é lógico, não saí de novo para a Frente.

Antes de sair da Frente fui a Boké e depois a Conacri, aonde cheguei em setembro de 1969 [terceira semana?]. Recordo-me que um membro da missão cubana me perguntou se queria comprar alguma coisa e mais tarde trouxe-me uns sapatos para a minha filha, uns calções para o meu filho e um corte de tecido para a minha mulher. Naquele momento tinha dois filhos e tinha-me casado em 1963, quando ainda era estudante.


Em Conacri embarcámos num navio e fomos até ao Congo Brazzaville, aonde estivemos cerca de duas semanas, tendo atracado em Ponta Negra [Pointe-Noire, em francês; é a segunda maior cidade e principal centro comercial da República do Congo]. 

Fizemos depois viagem de regresso, e em outubro desse ano desembarcámos em Mariel, aonde nos receberam vários chefes militares. Fizeram-nos exames médicos e regressei para minha casa.


(xxiii) Voltou a exercer 
como médico civil?


Não; informaram-me que o ministro queria que eu continuasse na vida militar porque tinha cumprido bem a missão e dei então início à especialidade de cirurgia no Hospital Dr. Carlos J. Finlay.


Periodicamente, faziam-nos exames, e no ano do regresso a casa todos os que tínhamos estado em Bissau tiveram resultados positivos de filária no sangue. Há vários tipos de filária produzida por parasitas, e o tipo Loa atravessa os órgãos vitais do olho até ficar cego. Isto era precisamente o que tínhamos. 

Quando lia sobre isto assustava-me um pouco porque diziam que até aquele momento não se poderia garantir a cura. Estivemos perto de dois meses em tratamento hospitalar até que saímos totalmente curados.


(xxiv) Continua como médico militar?

Não, no Hospital Dr. Carlos J. Finlay estive até 1977, quando me desmobilizei e me transferi para o Hospital em Covadonga [Hospital Docente Clínico-Quirúrgico Dr. Salvador Allende], que começava a ser uma instituição universitária. 

Desde então fiquei nesse centro de saúde como cirurgião e professor auxiliar.


(xxv) Cumpriu outras missões?

Em 1980, já como civil, convidaram-me se queria ir até à Tanzânia como professor e nessa nação africana estive dois anos.

Uma breve síntese das memórias relacionadas com a sua missão [, síntese de JA]:

A missão africana do dr. Amado Alfonso Delgado iniciou-se na véspera de Natal de 1967, voando de Havana até Conacri, na companhia de outro médico cubano.

Na Guiné-Conacri, durante o primeiro trimestre de 1968, tem a sua primeira experiência profissional, prestando serviço médico no Hospital de Boké, uma unidade de saúde de rectaguarda do PAIGC, juntando-se a mais quatro clínicos cubanos aí colocados.

Em abril de 1968 dá início à sua integração na guerrilha ao ser destacado para a Frente Leste para substituir o seu companheiro Daniel Salgado, médico-cirurgião militar que entretanto adoecera com paludismo.

Entra em território da Guiné-Bissau pela fronteira Sul, terminando a sua primeira caminhada na base de Kandiafara, aonde se encontravam vinte combatentes cubanos. Seguiram-se outras etapas ao longo de oito dias, com caminhadas cada vez mais duras, pois não estava preparado para esse desempenho. Nesse lapso de tempo passou por diversas aldeias onde se alimentava com farinha e carne, afirmando ter passado fome, habituando-se, desde então, a comer pouco.

Ao quarto dia disseram-lhe que tinha chegado à Mata do Unal, na região do Cumbijã. Continuada a “viagem” a pé, chegou à foz do Rio Corubal / Rio Geba (Xime) onde lhe foi transmitido que naquele lugar havia um problema mais perigoso que a tropa portuguesa, chamado “macaréu”.

Quando chegou à outra margem [direita], encontrou um homem branco em calções, com gorro na cabeça e uma camisa. Olhou-o com alguma indiferença, tendo-lhe perguntado: “tu pensas aguentar esta ratoeira? “Esquece, pois não duras nem três meses”. Perguntei-lhe porquê? Ao que me respondeu: “tu verás como isto é”.

Entre maio de 1968 e setembro de 1969 [dezassete meses], movimentou-se nas matas do Unal e do Fiofioli [Sector L1 - Bambadinca], com destaque para esta última Frente, aonde esteve os primeiros nove meses de 1969. Durante este período viveu muitos sobressaltos, com muitas corridas em ziguezague, rastejanços e dores de barriga (com diarreias), que implicaram sucessivas trocas de acampamento, incluindo a destruição das suas enfermarias, por quatro vezes.

Esteve cercado por várias vezes. Viu aviões bombardeiros, helicanhões, lanchas da marinha e militares descerem de helicóptero. Fez dezenas de cirurgias e amputações quase sempre durante a noite, tratando dos feridos em combate. Enviou para Boké as situações mais problemáticas. Foi dentista e tratou de mordeduras de animais e serpentes. Foi atacado por melgas e por centenas de abelhas. Teve paludismo por três vezes e automedicou-se.

Lavava-se no rio, mas não tinha nem toalha nem sabão, muito menos papel para escrever alguma mensagem. Bebeu vinho de palma para matar os micróbios, pois a água existente ao seu redor estava contaminada. Usou um par de ténis durante oito meses que se foram degradando por efeito das muitas caminhadas. Para colmatar a ausência de atacadores amarrava-os com folhas largas. Fez “pesca à granada” para se alimentar melhor.

Na mata do Fiofioli esteve em cinco lugares diferentes. Era informado do dia dos ataques onde estavam os portugueses (aquartelamentos, destacamentos, colunas de abastecimento, tabancas,…) quase sempre com armas pesadas. Ficava geralmente na rectaguarda a um quilómetro de distância. Muitas das vezes, nesses ataques programados, existia um guerrilheiro em cima de uma árvore, de modo a dar instruções na correcção do tiro.

Por tudo isto passou vários meses sem ter contacto com o mundo. Devido a estas dificuldades e ocorrências no seu contexto, e das tensões a elas associadas, por via da intervenção dos militares portugueses em diferentes acções naquela região, julgou não ser possível sobreviver, pensando muito nos filhos, que iriam ficar sem pai… coitados, tão pequeninos.

Consequência da actividade operacional das NT e do PAIGC durante um pouco mais de três meses (de 8 de março a 18 de junho de 1969), levou Alfonso Delgado a ficar sem sono, por efeito do muito trabalho e pelas enormes dificuldades sentidas no apoio médico aos guerrilheiros feridos em combate, realizando cerca de cinquenta cirurgias e amputações, de noite, à luz de archotes de palha ardendo.

Nos meses seguintes, julho e agosto, que seriam os últimos da sua missão, os episódios repetiram-se com a mesma dureza dos anteriores, com mais emoções e outras tantas tensões, saindo da mata do Fiofioli por um mero acaso, quando ficou acordado acompanhar a evacuação do seu ajudante e companheiro cubano Arrebato, por este se encontrar bastante debilitado, física e psicologicamente.

Em suma: o médico Amado Alfonso Delgado, em resposta à questão 18 [xviii] afirmou: “eu senti-me muito bem na Guiné e creio que foi uma das melhores épocas de trabalho da minha vida. Às vezes chegava a uma tabanca, e era para eles como um filme ao verem um branco. De repente ficava cercado por quarente/cinquenta crianças e logo me começavam a tocar nos pelos, na cara, nos braços. Era algo raro que nunca antes tinha visto”.

Continua… com nova entrevista, agora ao médico Virgílio Camacho Duverger.
_________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 7 de setemnbro de 2010 > Guiné 63/74 - P6948: A minha CCAÇ 12 (6): Agosto de 1969: As desventuras de Malan Mané e de Mamadu Indjai nas matas do Rio Biesse... (Luís Graça)

Vd. também poste de  24 de fevereiro de 2010 >  Guiné 63/74 - P5878: PAIGC: um curioso croquis do Sector 2, área do Xime, desenhado e legendado por Amílcar Cabral (c. 1968) (Luís Graça)

(.,..) Leitura e interpretação do documento (L G.):

Ao canto superior esquerdo, consegue ler-se o seguinte:

Educação - Mamadu Dembo;
Comandante de sector - Mamadu Indjai;
Comissário Político de FARP - Pedro Landim;
Comissário Político junto do Povo - Juvêncio Gomes;
Comis[sário] Abast [escimento] FARP - Mamdu Alfa Djaló;
Segurança Milícia - Sabino Mendonça;
Saúde - Benjamim Brito. (.,.)

(**) Vd. postes de

3 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16357: Notas de leitura (864): (D)o outrolado do combate: memórias de médicos cubanos (1966-1969) - Parte V: o caso doclínico geral Amado Alfonso Delgado (I): queria ir para o Vietname foi parar ao Fiofioli... (Jorge Araújo)

11 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16380: Notas de leitura (868): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos (1966-1969) - Parte VI: o caso do clínico geral Amado Alfonso Delgado (II): Na margem direita do rio Corubal, na mata do Fiofioli: «¿Tú piensas aguantar la mecha esta?, olvídate, que no duras ni tres meses" / "Tu pensas aguentar esta ratoeira? Esquece, pois não duras nem três meses”... (Jorge Araújo)

17 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16396: Notas de leitura (871): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos (1966-1969) - Parte VII: o caso do clínico geral Amado Alfonso Delgado (III): Na mata do Fiofioli, pensei que ia morrer, pensei nos meus filhos, que iriam ficar sem pai… coitados, tão pequenos (Jorge Araújo)

17 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16396: Notas de leitura (871): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos (1966-1969) - Parte VII: o caso do clínico geral Amado Alfonso Delgado (III): Na mata do Fiofioli, pensei que ia morrer, pensei nos meus filhos, que iriam ficar sem pai… coitados, tão pequenos (Jorge Araújo)

25 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16420: Notas de leitura (874): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos (1966-1969) - Parte VIII: o caso do clínico geral Amado Alfonso Delgado (IV): "Os guineenses são muito resistentes...Numa ocasião, uma bomba caiu perto de uma mulher e feriu-a no abdómen... Eu devia abrir-lhe o abdómen pois tinha peritonite. Coloquei-lhe anestesia local e, quando lhe ia dar a geral, um avião largou outra bomba que caiu perto. A mulher levantou-se, com a ferida meio aberta, e fugiu. Não a vi mais. Depois disseram-me que a tinham localizado, já morta, a cerca de quatro quilómetros dali." (Jorge Araújo)


(***) Último poste da série "Notas de leitura" > 22 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16412: Notas de leitura (873): "O que a Censura cortou": notícias da Guiné, por José Pedro Castanheira (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P16440: Contraponto (Alberto Branquinho) (54): Literatura da guerra colonial, o que é?

1. Comentário do dia 1 de Setembro de 2016, do nosso camarada Alberto Branquinho (ex-Alf Mil de Op Esp da CART 1689, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), deixado no Poste Guiné 63/74 - P16433: Agenda cultural (489): Amanhã, dia de 1 setembro, estreia nos cinemas o filme, de Ivo M. Ferreira, "Cartas da Guerra", baseado nas cartas de amor e guerra de António Lobo Antunes, ex-alf mil médico, da CART 3313 (Angola, 1971/73), inserido aqui na sua série Contraponto:


CONTRAPONTO

54 - LITERATURA DA GUERRA COLONIAL

A - Deixando de lado toda e qualquer postura política ou ideológica, o que é "literatura da guerra colonial"?

1 - É TODO E QUALQUER ESCRITO SOBRE A GUERRA?
2 - É aquela escrita feita por QUEM SOFREU A GUERRA À DISTÂNCIA?
3 - É aquela escrita feita por QUEM SOFREU A GUERRA NOS ESPAÇOS DE GUERRA?
4 - É aquela escrita feita por QUEM SOFREU COM A GUERRA LONGE DOS ESPAÇOS DE GUERRA?
5 - É aquela escrita feita SOMENTE POR QUEM FEZ A GUERRA?


B - Fazer a guerra

Deixando de lado toda e qualquer postura política ou ideológica

- Uma coisa é FAZER A GUERRA outra coisa é SOFRER COM A GUERRA. Daí que eu diga que as ÚNICAS MULHERES que FIZERAM A GUERRA foram as nossas Enfermeiras para-quedistas "(vide livro "NÓS, Enfermeiras para-quedistas", onde algumas delas relatam algumas das suas experiências de guerra)"; muitas outras mulheres (nesses tempos, mas não todas) sofreram com a guerra, mas não fizeram a guerra.


C - Das respostas às questões em A acima se poderão clarificar os EQUÍVOCOS em atribuir o epíteto de literatura de guerra colonial a uma literatura baseada no "consta que" ou no "ouvi dizer":

- No consultório médico ou no posto de socorros;
- Nas messes de oficiais e espaços anexos (incluindo piscinas);
- No cabeleireiro e em outros espaços civis ou militares;
- Etc. etc.

EVITEMOS, portanto, "modas" e atitudes de "Maria vai com as outras".


D - QUESTÃO FINAL

- Por que é que não se fala, escreve, filma sobre os livros do MELHOR escritor da guerra colonial - Carlos Vale Ferraz - que aborda desde a temática da guerra (vivida e sofrida) pura e simples, desde os riscos e os sofrimentos presentes ao planeamento operacional e, até, temática pícara e herói-cómica?

Saudações
Alberto Branquinho
____________

Nota do editor

Último poste da série de 5 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14119: Contraponto (Alberto Branquinho) (53): "A Malta das Trincheiras" de André Brun