quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Guiné 61/74 - P18007: Historiografia da presença portuguesa em África (103): António Estácio: O Contributo Chinês para a Orizicultura Guineense - V (e última) Parte: (viI) conclusão, agradecimentos, bibliografia e fotos









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[Fotos, pp. 461-464]




Leiria > Monte Real > 2010 > V Encontro Nacional da Tabanca Grande, Leiria, Monte Real > António Estácio, 

1. Continuação da publicação da comunicação do António Estácio, sobre o contributo da comunidade chinesa na Guiné, para o desenvolvimento da cultura do arroz, nas primeiras décadas do séc. XX.

Temos a autorização expressa do autor, o nosso amigo e camarada António [Júlio Emerenciano ] Estácio, que tem 45 referências no nosso blogue. Eis aqui uma breve nota curriucular sobre ele:

(i) é luso-guineense, nascido em 1947, e criado no chão de Papel, em Bissau, com raízes transmontanas, tendo vivido também em Bolama;

(ii) formou-se como engenheiro técnico agrário (Coimbra, 1964-1967, Escola de Regentes Agrícolas, onde foi condiscípulo do Paulo Santiago), depois de frequentar o Liceu Honório Barreto;

(iii) fez a tropa (e a guerra) em Angola, como alferes miliciano (1970/72);

(iv) trabalhou depois em Macau (de 1972 a 1998);

(v) vive há quase duas décadas em Portugal, no concelho de Sintra;

(vi) é membro da nossa Tabanca Grande desde maio de 2010;

(viii) tem-se dedicado à escrita, dois dos seus livros mais recentes narram as histórias de vida de duas "Mulheres Grandes" da Guiné, a cabo-verdiana Nha Carlota (1889-1970) e a guineense Nha Bijagó (1871-1959);

(ix) o seu livro mais recente (2016, 491 pp.), de temática guineense, tem como título "Bolama, a saudosa", edição de autor;

(x) a comunicação que agora se reproduz foi feita no âmbito da V Semana Cultural da China, de 21 a 26 de janeiro de 2002;



Contracapa. Separata do livro Estudos sobre a China V


In: Estácio, António J.E. (2002) – O Contributo Chinês para a Orizicultura Guineense, in: Actas, V. Semana Cultural da China, Centro de Estudos Orientais, ISCSP/UTL: 431‑66


2. O Contributo Chinês para a Orizicultura Guineense - V (e última) Parte: (vii)   conclusão, agradecimentos, bibliografia, fotos [pp.  459-466]






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Nota do editor

Vd. postes anteriores da série:

15 de novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17974: Historiografia da presença portuguesa em África (99): António Estácio: O Contributo Chinês para a Orizicultura Guineense - Parte I: (i) preâmbulo: (ii) generalidades

Guiné 61/74 - P18006 José Matos: As negociações secretas do acordo dos Açores em 1974: o caso da central nuclear. "Revista Militar", nºs 2581/2582, fevereiro / março 2017

I. Mensagem do nosso amigo Jose Matos, com data de ontem:

Olá,  Luís

Pedia-te para divulgares no blogue o artigo que envio em anexo com link para a Revista Militar, pois tem uma parte sobre a Guiné.

https://www.revistamilitar.pt/artigo/1226

Ab

José Matos

[Investigador independente em História Militar. Tem feito investigação sobre as operações da Força Aérea na Guerra Colonial, principalmente na Guiné. É colaborador da Revista Mais Alto, da Força Aérea Portuguesa, e tem publicado também o seu trabalho em revistas europeias de aviação militar, em França, Inglaterra e Itália. É membro da nossa Tabanca Grande desde 7 de setembro de 2015. Tem cerca de 25 referências no nosso blogue]


II.  AS NEGOCIAÇÕES SECRETAS DO ACORDO DOS AÇORES EM 1974: O CASO DA CENTRAL NUCLEAR

por José Matos 

Revistas Militar, nºs 2581/2582 - Fevereiro/Março 2017


1. Introdução

Nas vésperas do 25 de Abril de 1974, o ministro português dos Negócios Estrangeiros português, Rui Patrício, estava muito próximo de negociar com o Departamento de Estado norte-americano um programa de cooperação na área da energia nuclear, que levaria no espaço de pouco anos à instalação da primeira central nuclear em território nacional. Dois dias antes da queda do regime, o ministro tinha já em mãos um plano português com uma previsão dos investimentos a realizar, a sua discriminação e o seu escalonamento no tempo. 

Patrício pretendia enviar este plano ao embaixador português nos EUA, João Hall Themido, com a indicação de que, nesta área, Themido devia começar por pedir o máximo possível nas negociações em curso, “isto é, a entrega gratuita de todo o equipamento de engineering e combustível que puder ser fornecido pelos americanos e o financiamento, nas melhores condições possíveis, na parte que puder ser produzida pela indústria portuguesa”  (1).

 O programa de execução apontava para 1981, como o ano previsto para a entrada em funcionamento da primeira central nuclear portuguesa. Porém, com o colapso do regime marcelista, o plano nunca chegaria ao seu destinatário e as negociações do acordo dos Açores tomariam um rumo completamente diferente nos anos seguintes.


2. Um país cada vez mais isolado

Antes de mais nada, importa contextualizar as negociações de 1974, que decorreram num clima difícil para Portugal, que estava principalmente interessado no fornecimento de equipamento militar para usar na Guiné, onde a situação militar era desfavorável para as forças portuguesas. Todavia, no contexto internacional, o regime português estava cada vez mais isolado e enfrentava dois problemas na aquisição de novos armamentos: (i) não tinha dinheiro para grandes aquisições de equipamento militar; (ii)  não tinha muitos aliados que pudessem fornecer o armamento necessário. 

Para resolver o problema do dinheiro, Portugal vai valer-se de Pretória, o seu grande aliado na África Austral, que não hesita em conceder-lhe um avultado empréstimo de 6 milhões de contos (150 milhões de rands) para suportar o esforço de guerra e permitir a aquisição de novas armas (2). 

Quanto ao problema dos fornecedores, vai valer-se principalmente das alianças que tem com os EUA e com a França para obter o que precisa. No caso americano, usa o acordo das Lajes como moeda de troca para obter armamento de forma encoberta. As negociações não são fáceis, mas, como veremos mais à frente, o Governo de Marcello Caetano consegue obter as armas mais desejadas (mísseis terra-ar) e ainda a possibilidade de uma central nuclear de oferta.


3. A ameaça aérea na Guiné

Há vários anos que pairava sobre a Guiné a ameaça de um ataque aéreo proveniente da Guiné-Conakry. O país vizinho, governado por Sékou Touré, tinha caças MiG no seu inventário e podia facilmente apoiar com meios aéreos acções da guerrilha contra as forças portuguesas (3). 

Na fase final da guerra, começam também a surgir rumores de que a guerrilha do PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde) está a treinar pilotos na União Soviética para usar aviões MiG a partir de Conakry. Um jornal que publica esta informação é o inglês Daily Telegraph que, a 2 de Agosto de 1973, traz um artigo da autoria do correspondente em Lisboa, o jornalista Bruce Loudon, em que diz que a guerrilha “está apenas a seis meses de atingir uma capacidade de ataque aéreo com caças MiG russos”. O jornalista escreve ainda que cerca de 40 guerrilheiros estão a receber cursos de pilotagem na Rússia (4). 

Começam, assim, a circular notícias sobre o possível uso de meios aéreos por parte da guerrilha ou do envolvimento da própria Força Aérea da Guiné-Conakry (FAG) em acções contra as tropas portuguesas. Do outro lado da fronteira, os MiG-17F da FAG estão praticamente inoperacionais, mas, com ajuda de militares cubanos, começam a aumentar o seu grau de operacionalidade. Pilotos e técnicos cubanos chegam a Conakry nos primeiros meses de 1973 e incrementam os voos de patrulha na zona de fronteira, de forma a precaver incursões portuguesas em território guineano, embora os caças da FAG nunca constituam qualquer ameaça para as forças portuguesas (5).

No entanto, preocupado com a situação militar na Guiné, Marcello Caetano dá ordens para que a pequena colónia seja dotada de novos meios de defesa aérea (6), usando para esse efeito o empréstimo sul-africano. 

Por essa altura, os militares portugueses já sabiam que o único país ocidental que tinha mísseis terra-ar portáteis à venda era os EUA. De facto, os americanos fabricavam um pequeno míssil portátil, o famoso FIM-43A Redeye, que podia ser disparado a partir do ombro, tal e qual como o Strela-2 (SA-7) soviético, que tinha aparecido, na Guiné, nas mãos dos guerrilheiros. 

Se o Exército Português nas colónias tivesse acesso ao míssil americano podia fazer face a qualquer ameaça aérea vinda dos países vizinhos. Só que, devido ao embargo de armas, Washington não podia vender o míssil directamente a Portugal, sendo preciso encontrar uma solução que contornasse o embargo, algo que o governo americano não mostrava grande interesse em fazer. É aqui que o regime de Caetano joga o seu maior trunfo: a base das Lajes.


4. As Lajes como moeda de troca

Durante a guerra do Yom Kippur, em Outubro de 1973, entre Israel e os seus vizinhos árabes, Portugal tinha sido o único país europeu a conceder facilidades a Washington no apoio a Telavive. Embora sob coacção americana, Lisboa tinha permitido que a base das Lajes, nos Açores, fosse utilizada intensamente pelos aviões americanos no apoio a Israel e Marcello Caetano esperava agora obter dividendos de tal cedência (7). 

O Governo Português tenta assim que a posição americana seja mais flexível em relação à política colonial portuguesa e que Washington autorize a venda de algum armamento a Portugal (8). A intenção portuguesa era comprar os famosos mísseis portáteis Redeye e também mísseis terra-ar Hawk, montando desta forma um sistema de defesa antiaérea na Guiné (9). 

O próprio Henry Kissinger, que estava à frente do Departamento de Estado, acompanha esta questão de perto e, a 9 de Dezembro de 1973, encontra-se com o ministro português dos Estrangeiros, Rui Patrício, em Bruxelas, à margem de uma reunião da OTAN. Kissinger agradece a ajuda portuguesa durante o conflito no Médio Oriente e refere também que os EUA continuam a precisar da base das Lajes e mostra-se compreensivo em relação às necessidades portuguesas de adquirir mísseis terra-ar para a defesa das colónias, mas salienta que o Congresso americano jamais aprovaria uma venda directa a Portugal, sendo necessário encontrar uma forma encoberta para fornecer os mísseis. 

Do lado português, Patrício declara que a situação militar na Guiné podia tornar-se crítica com a utilização de aviação por parte do inimigo e que poderia mesmo evoluir para ataques aéreos contra Bissau, não tendo as forças portuguesas meios eficazes para se defenderem deste tipo de ataques, daí a necessidade dos mísseis. Patrício explicou ainda que “um eventual desastre na Guiné poderia ter no plano interno consequências imprevisíveis”, podendo levar, inclusivamente, à queda do império colonial português e à substituição do Governo de Caetano por um governo esquerdista defensor de uma outra política ultramarina e da saída de Portugal da OTAN. 

Na opinião do governante português, uma derrota militar na Guiné não significaria apenas a perda para o Ocidente da Guiné e de Cabo Verde com o respectivo valor estratégico associado, “mas também dos próprios Açores” e da contribuição do continente português para a OTAN, o que seria negativo para os interesses americanos. Kissinger aludiu então a um encontro recente do embaixador português nos EUA, João Hall Themido, com o Presidente Nixon e às dificuldades em procurar encontrar-se uma fórmula de auxílio por intermédio de países terceiros, para evitar a oposição do Congresso.

A ideia de Kissinger era a de que os mísseis fossem fornecidos por um outro país de forma indirecta, sem envolver os EUA. Israel era uma possibilidade e o governante americano mostra estar a par dos contactos que o Departamento de Estado tinha feito em Washington, para o embaixador português João Hall Themido se encontrar com o seu homólogo israelita, daí a pouco tempo, de forma a discutir o assunto (10). Patrício termina a conversa dizendo que para Portugal “se tratava de uma questão de vida ou de morte e da maior urgência”, enquanto Kissinger replica “insistindo que o problema estava em como fazer os fornecimentos, pois havia a certeza de os fornecimentos directos serem proibidos”. 

Dois dias depois desta reunião, Themido encontra-se com o seu colega israelita na capital americana, seguindo uma indicação dada, alguns dias antes, por William Porter, subsecretário de Estado para Assuntos Políticos (11). O embaixador israelita, Simcha Dinitz, agradece a Themido a ajuda portuguesa prestada durante a guerra contra os árabes, mas é pouco esclarecedor quanto ao fornecimento de mísseis dizendo ao diplomata português que lhe parece que os únicos mísseis que Israel dispõe são os Hawk e que não sabe se Telavive os pode vender a Portugal, pois trata-se de material militar fornecido pelos americanos, mas que vai procurar saber junto do seu Governo (12). 

Pouco tempo depois deste encontro, Themido fala com o encarregado de negócios da embaixada israelita, que lhe confirma que Israel tem mísseis Redeye e Hawk, mas que os mesmos não podem ser fornecidos sem o consentimento americano e que a única coisa que Telavive pode fazer é vender material de origem israelita, caso isso seja considerado útil (13). Themido fica desapontado com a resposta israelita e da capital portuguesa recebe instruções para esclarecer o assunto junto de William Porter, que tinha sugerido o encontro (14).

 A 15 de Dezembro, o diplomata português dirige-se então ao Departamento de Estado para falar com Porter, que lhe diz que tinha apenas sugerido ao embaixador israelita que, em contacto com Themido, averiguasse da disponibilidade de material de guerra e da possibilidade de fornecimento, mas nada mais do que isso. Mais tarde, num telefonema para a embaixada portuguesa, Porter chega mesmo a dizer que nos contactos que tinha tido com Dinitz apenas lhe tinha dito que Portugal estava interessado em adquirir mísseis terra-ar, não admitindo que tivesse sugerido a entrega a Portugal de mísseis americanos, o que deixa Themido decepcionado com a atitude de Porter (15). A diplomacia portuguesa começa então a perceber o desinteresse americano em fornecer os mísseis.


5. A ameaça de ruptura da parte portuguesa

Este desinteresse vai atingir o seu ponto culminante a 8 de Fevereiro de 1974, quando o secretário de Estado Adjunto, Kenneth Rush, chama o embaixador português para lhe comunicar que os EUA não podiam fornecer os mísseis Redeye, por duas ordens de razão: em primeiro lugar, eram contra a proliferação desse tipo de armamento, estando mesmo em conversações com Moscovo para limitar a difusão de armas MANPADS (“Man-Portable Air Defense Systems”) e, em segundo lugar, os mísseis “seriam usados no plano interno na luta contra as guerrilhas, o que era inaceitável”. Em relação aos Hawk teriam de consultar o Congresso, caso Portugal concordasse com essa consulta (16). 

A posição de Rush leva o Ministério dos Negócios Estrangeiros em Lisboa a tomar uma medida drástica: Portugal rompe as negociações com os EUA para a renovação do acordo das Lajes, deixando Washington de usar a base açoriana. Esta tomada de posição é comunicada por Themido a Rush, a 18 de Março, deixando o governante americano estupefacto com tal intento! Apanhado de surpresa, Rush considera a decisão portuguesa extemporânea e promete ajudar Portugal fora do campo militar, pois se, “na parte militar, os auxílios dos Estados Unidos eram necessariamente limitados, na parte económica e técnica certamente haveria possibilidades ainda não exploradas” (17).

É neste encontro com Themido que surge a oferta de cooperação no domínio das centrais nucleares. Esta informação é transmitida a Lisboa, que rapidamente elabora um plano para a instalação de uma central nuclear em Portugal. O plano português previa uma central nuclear com uma potência na casa dos 2100-2300 Mwe brutos e com um valor de custo estimado em 6,75 milhões de contos (270 milhões de dólares) (18). O plano previa ainda a participação da indústria portuguesa na fabricação de uma “parte do equipamento do primeiro grupo nuclear e igualmente uma intervenção de gabinetes nacionais de engenharia no respectivo projecto executivo” (19). O combustível nuclear para os reactores seria enriquecido nos EUA e fornecido depois a Portugal.


6. As vias tortuosas de Kissinger

Como já foi dito, Rui Patrício deu grande prioridade a este projecto, embora não se tenha esquecido da questão dos mísseis, porém, a estratégia portuguesa de romper as negociações surte o seu efeito. A 11 de Abril, o próprio Kissinger escreve ao ministro português reforçando as palavras de Rush quanto a uma cooperação em áreas não militares e pedindo a Patrício sugestões a esse nível e mantendo o interesse americano em continuar a usar as Lajes, o que terá motivado certamente Patrício a dar primazia ao projecto da central nuclear (20).

Embora não faça qualquer referência na carta à questão dos mísseis Redeye, a verdade é que o Secretário de Estado americano cumpre o que prometeu e encontra uma forma de fornecer os mísseis por canais tortuosos. Em finais de Abril, um lote de 500 mísseis Redeye chega à Alemanha Ocidental com destino a Portugal (21).  Os mísseis são fornecidos por Israel através de um intermediário alemão e com a anuência americana (22).  O número de mísseis encomendado mostra que os Redeye não se destinavam apenas à Guiné, onde as forças portuguesas necessitavam de cerca de 200 mísseis, mas também a outros pontos das colónias portuguesas. 

Os mísseis custam 209 mil contos, mas não há qualquer informação de que este valor seja coberto pelo empréstimo sul-africano (23). Rui Patrício tem conhecimento deste desfecho, pois na carta que escreve a João Hall Themido, a 23 de Abril, dá conta dos contactos estabelecidos “por uma entidade privada com o Departamento de Defesa Nacional que se revestem da maior importância”, embora admita que “não temos ainda elementos suficientes para avaliar a origem verdadeira desta iniciativa e a sua efectiva possibilidade de concretização.”

Ainda que seja omisso quanto ao verdadeiro teor da dita iniciativa, tudo indica que se tratam dos mísseis, dado que o ministro dá instruções ao diplomata português para que retome as negociações do acordo das Lajes com o Departamento de Estado, um sinal de que as discordâncias que levaram à suspensão das negociações foram ultrapassadas, embora aconselhe Themido a não fazer qualquer referência aos mísseis nos contactos que venha a fazer. 

Para Patrício, o elemento fulcral das negociações deverá ser a central nuclear e o respectivo plano de investimento, dado não ser possível obter formalmente dos EUA equipamento militar que possa ser usado em África. Mesmo assim, o ministro português considera que Themido deve insistir no fornecimento de quatro aviões de transporte C-130, que devido ao seu raio de alcance podiam facilmente ser usados para transportar tropas e carga para África, embora nada garanta que os EUA concordem com tal pedido. 

Além dos C-130, é também referido o interesse português em quatro aviões de patrulhamento marítimo P-3 Orion, ainda que Patrício considere que os mesmos não são uma prioridade no contexto da guerra colonial (24). 

Dois dias depois desta carta, o regime marcelista desaparecia com a Revolução de Abril e a oferta da central nuclear não voltaria a ser mencionada em futuras negociações do acordo das Lajes.

José Matos

[Revisão / fixação de texto para edição no blogue: LG]
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Notas do autor:

(1) Carta do Ministério dos Negócios Estrangeiros para o Embaixador de Portugal em Washington, Lisboa, 23 de Abril de 1974, ADN/F3/14/29/4.

(2) Memorial sobre o acordo do empréstimo de 150 milhões de rands firmado com a República da África do Sul. Estado-Maior General das Forças Armadas (EMGFA), 18 de Setembro de 1975, ADN/F3/20/48/64.

(3) MATOS, José – “La Psychose des MiG dans la Guerre de Guinée”, in Airmagazine. Bagnolet. N.º 61, 2014, pp. 58-74.

(4) LOUDON, Bruce – “Portuguese rebels to get Russian MiGs”, in Daily Telegraph. Londres, 2 de Agosto de 1973, ADN, SGDN Cx. 3500.

(5) HERNÁNDEZ, Humberto Trujillo – El Grito del Baobab. 1ª Edição. Havana: Editorial de Ciencias Sociales, 2008, pp. 110-111.

(6) CAETANO, Marcello – Depoimento. 1ª Edição. Rio de Janeiro: Record, 1974, p. 180.

(7) THEMIDO, João Hall – “Dez anos em Washington 1971-1981”. 1ª Edição. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1995, pp. 100-102.

(8) THEMIDO, op. cit., pp. 128-129.

(9) Telegrama do Ministério dos Negócios Estrangeiros para Embaixada de Portugal em Washington, Secção de Cifra, 13 de Dezembro de 1973, ADN/F3/14/29/4.

(10) Apontamento do Ministério dos Negócios Estrangeiros sobre a conversa do Ministro com o Secretário de Estado Americano, Dr. Kissinger, em 9 de Dezembro de 1973, Lisboa, 10 de Dezembro de 1973, ADN/F3/14/29/4.

(11) Telegrama da Embaixada de Portugal em Washington para o Ministério dos Negócios Estrangeiros, Secção de Cifra do MNE, 4 de Dezembro de 1973, ADN/F3/14/29/4.

(12) Telegrama da Embaixada de Portugal em Washington para o Ministério dos Negócios Estrangeiros, Secção de Cifra do MNE, 11 de Dezembro de 1973, ADN/F3/14/29/4.

(13) Telegrama da Embaixada de Portugal em Washington para o Ministério dos Negócios Estrangeiros, Secção de Cifra do MNE, 13 de Dezembro de 1973, ADN/F3/14/29/4.

(14) Telegrama do Ministério dos Negócios Estrangeiros para Embaixada de Portugal em Washington, Secção de Cifra do MNE, 14 de Dezembro de 1973, ADN/F3/14/29/4.

(15) Telegrama da Embaixada de Portugal em Washington para o Ministério dos Negócios Estrangeiros, Secção de Cifra do MNE, 15 de Dezembro de 1973, ADN/F3/14/29/4.

(16) Telegrama nº 95 da Embaixada de Portugal em Washington para o Ministério dos Negócios Estrangeiros, Secção de Cifra do MNE, 8 de Fevereiro de 1974, ADN/F3/14/29/4.

(17) Nota secreta da Embaixada de Portugal em Washington sobre as negociações para a renovação do Acordo dos Açores, Sessão de 18 de Março de 1974, ADN/F3/14/29/4.

(18) Anexo à carta do Ministério dos Negócios Estrangeiros para o Embaixador de Portugal em Washington, Lisboa, 23 de Abril de 1974, ADN/F3/14/29/4.

(19) Ibidem.

(20) Carta de Henry Kissinger para o Ministro dos Negócios Estrangeiros português, 11 de Abril de 1974, ADN/F3/14/29/4.

(21) THEMIDO, op. cit., p. 164.

(22) THEMIDO, op. cit., p. 146.

(23) Nota nº 1229/AF/74 do Estado-Maior General das Forças Armadas para o Director-Geral da Contabilidade Pública, Assunto: Aquisição de conjuntos míssil-lançador “REDEYE”, 31 de Julho de 1974, ADN Fundo Geral Cx. 833/9.

(24) Carta do Ministério dos Negócios Estrangeiros para o Embaixador de Portugal em Washington, Lisboa, 23 de Abril de 1974, ADN/F3/14/29/4.

Guiné 61/74 - P18005: Parabéns a você (1345): José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp do BART 6523 (Guiné, 1973/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 19 de novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17986: Parabéns a você (1344): Mário Migueis da Silva, ex-Fur Mil Rec Inf (Guiné, 1970/72)

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Guiné 61/74 - P18004: Convívios (833): novo recorde de presenças na Tabanca da Linha: 73 amigos e camaradas marcaram presença, em 16 do corrente, no "Caravela de Ouro", em Algés - Fotos de Manuel Resende: IV (e última) parte



Foto nº 1 > Da esquerda para a direita,Ana Leite, José Manuel Louro e José Leite



Foto nº 2 > Da esquerda para a direita, José António Chaves, José Mamuel Rodrigues e António Duque Marques


Foto nº 4 > Da esquerda para a direita, José Inácio Leão Varela (, grã-tabanqueiro), César Pacheco e  Carlos António Rodrigues


Foto no 5 > Da esquerda para a direita, Hugo Moura Ferreira (, grã-tabanqueiro), Paraíso Pinto e Jorge Ferreira (, grã-tabanqueiro)


Foto nº 6 > Da esquerda para a direita: o  João Pereira da Costa, nosso grã-tabanqueio, ten gen pilav ref José Nico e o  cor inf ref Fernando José Estrela Soares (ex-comandante da CCAÇ 2445, Cacine, Cameconde e Có, julho de 1968 / dezembro de 1970).



Foto nº 7 > Manuela Carronda e Isaura Resende


Foto nº 8 > A Germana, esposa do Carlos Silva e a Alice Carneiro, nossa grã-tabanqueira. Em segundo plano, a Irene, esposa do Luís R. Moreira e a Helena Fitas (por detrás a Germana)


Foto nº 9 > Da esquerda para a direita, Estrela Soares, Manuel Lema Santos e António Duque Marques


Foto nº 10 > Luís Graça (fundador e editor do blogue da Tabanca Grande( e Joaquim Nunes Sequeira (de costas, também grã-tabanqueiro.


Foto nº 11 > Da esquerda para a direita, Jorge Pinto, António Fernando Marques e Gina Marques... O Jorge e o António são membros da Tabanca Grande. A Gina, essa, devia estar no nosso quadro de honra há muitos anos!


Foto nº 12 > Da esquerda para a direita, José Inácio Leão Varela (, grã-tabanqueiro),  César Pacheco e Carlos António Rodrigues


Foto nº 13 > Fernando Chapouto  e José Colaço, dois grão-tabanqueiros.



Foto nº 14 > O José Jesus e o casal Carronda, Carlos e Manuela. O Carlos Carronda Rodrigues é  cor ref, vive em Algueirão.




Foto nº 15 > O Zé Carioca (grã-tabanqueiro) e José Horta Bastos, um dos veterano da Magnifica Tabanca da Linha



Foto nº 16 > O Jorge Ferreira e o Mário Magalhães, dois membros recentes da Tabanca Grande, mas dos nossos mais veteranos de guerra,,,


Tabanca da Linha > 34º Almoço-convívio > Algés > Restaurante "Caravela de Ouro" > 16 de novembro de 2017 > 73 camaradas e amigos/as compareceram à chamada e desta vez bateu-se o recorde de inscrições e presenças... A localização do restaurante (Algés) e a ementa (cabrito no forno...) também ajudaram.


Fotos (e legendas): © Manuel Resende (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Quarta (e última) parte da publicação da reportagem fotográfica do último almoço-convívio da Tabanca da Linha, no passado dia 16, em Algés, feita pelo régulo adjunto, secretário e fotógrafo, Manuel Resende [, ex-alf mil da CCaç 2585 / BCaç 2884, Jolmete, Pelundo e Teixeira Pinto, 1969/71].

Faltavam três ou quatro camaradas por identificar, e desta vez esforçámo-nos, nós e o Manuel Resende,  por não deixar ninguém de fora (*).

Já agora acrescente-se que nem todos os membros da Tabanca da Linha são membros da Tabanca Grande, que é a "mãe de todas as tabancas". Claro que todos os camaradas da Guiné são elegíveis: a Tabanca Grande está sempre de portas abertas para todos eles... Não é preciso perguntar: posso entrar ? É só dizer: eu quero entrar!.. (E depois mandar as duas  fotos da praxe  e duas de linha de apresentação, à laia de legendas: sou o fulano de tal, estive no TO da Guiné, no sítio tal, pertencia à unidade tal... Quem não tiver endereço de email, pede a um filho, ou a um neto...).

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Notas do editor:

Postes anteriores da série:

(*) Vd. postes anteriores da série:

Guiné 61/74 - P18003: Agenda cultural (611): O nosso camarada José Ferreira da Silva, autor dos Volumes I e II de "Memórias Boas da Minha Guerra", vai apresentar os seus livros na sua terra natal, Fiães, concelho de Santa Maria da Feira, no próximo dia 2 de Dezembro


C O N V I T E


O nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), autor dos Volumes I e II de "Memórias Boas da Minha Guerra", vai apresentar os seu livros na sua terra natal, Fiães, concelho de Santa Maria da Feira, no próximo dia 2 de Dezembro.




P R O G R A M A

"Memórias Boas da Minha Guerra"

Apresentação do 1.º e 2.º Volumes

Dia 02 de Dezembro de 2017, às 16,00 horas

Salão Nobre da Junta de Fiães

Organização - CDPAC - Círculo Defesa Património Acção Cultural 

Autor - José Ferreira da Silva 

Apoio - Junta Freguesia de Fiães 


Intervenientes 

Coordenador - Manuel Sá Bastos - Membro do CDPAC 
Organizador - Filipe Cálix - Presidente do CDPAC 
Anfitrião - Valdemar Fontes - Presidente da Junta de Fiães 
Editor do Blogue Luís Graça - Carlos Esteves Vinhal - Ligação ao Blogue
Testemunho - Gen. Manuel Maia (ex-Capitão da Cart 1689) 
Apresentador - Bernardino H. Ribeiro - Amigo desde infância do autor 
Testemunho - Ricardo Figueiredo - Museu Vivo dos Combatentes 
Testemunho - CMD Dionísio Cunha - Protagonista da História “É Guerra, é Guerra (Será?)”. Pág -119 - I Volume 
Testemunho - Carlos Fontes - Dados biográficos sobre o autor 
Testemunho - Jorge Pedro - Comentário sobre vivência no mesmo teatro de guerra (Catió e Cabedu) 
Testemunho - Jorge Teixeira - Em representação do Bando dos Melros 
Autor - José Ferreira - Agradecimentos 
Encerramento - Emídio Sousa - Presidente da C. M. Feira
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Nota do editor

Último poste da série de 21 de novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17999: Agenda cultural (610): O livro "Guiné - Crónicas de Guerra e Amor", da autoria de Paulo Cordeiro Salgado, foi apresentado no passado dia 16 de Novembro, na Messe de Oficiais, no Porto (Paulo Salgado / Amaral Bernardo)

Guiné 61/74 - P18002: Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capºs 7 e 8: O Cumeré, os mosquitos, o patacão, a correspondência, os preservativos...

Ontem (à esquerda) e hoje (à direita, em baixo): o José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74.

Nascido em Penafiel, em 1950, criado pela avó materna, reside hoje em Amarante. Está reformado como bate-chapas. Tem o 12º ano de escolaridade. Foi um "homem que se fez a si próprio", sendo hoje autor, com dois livros publicados (um de poesia e outro de ficção). Senta-se debaixo do poilão da Tabanca Grande no lugar nº 756. (*)

Fotos e texto: © José Claudino da Silva (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Prosseguimos a pré-publicação do próximo livro (na versão manuscrita, "Em Nome da Pátria") do nosso camarada José Claudino Silva:

Sinopse (*):

(i) foi à inspeção em 27 de junho de 1970, e começou a fazer a recruta, no dia 3 de janeiro de 1972, no CICA 1 [Centro de Instrução de Condutores Auto-rodas], no Porto, junto ao palácio de Cristal;

(ii) escreveu a sua primeira carta em 4 de janeiro de 1972, na recruta, no Porto; foi guia ocasional, para os camaradas que vinham de fora e queriam conhecer a cidade, da Via Norte à Rua Escura.

(iii) passou pelo Regimento de Cavalaria 6, depois da recruta; promovido a 1º cabo condutor autorrodas, será colocado em Penafiel, e daqui é mobilizado para a Guiné, fazendo parte da 3ª CART / BART 6250 (Fulacunda, 1972/74);

(iv) chegada à Bissalanca, em 26/6/1972, a bordo de um Boeing dos  TAM - Transportes Aéreos Militares; faz a IAO no quartel do Cumeré.


2. Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capºs 7 (A estada no Cumeré) e 8 (Raios dos mosquitos)


[O autor faz questão de não corrigir as transcrições das cartas e aerogramas que começou a escrever na tropa e depois no CTIG à sua futura esposa. Esses excertos vêm a negrito. O livro, que tinha originalmente como título "Em Nome da Pátria", passa a chamar-se "Ai, Dino, o que te fizeram!", frase dita pela avó materna do autor, quando o viu fardado pela primeira vez. Foi ela, de resto, que o criou. ]


7º Capítulo > ESTADA NO CUMERÉ


Posso afirmar perentoriamente que 90% dos soldados que “Em Nome da Pátria” estiveram nas ex-províncias ultramarinas, passaram pelo mesmo ritual que acabei de descrever. Geralmente, com uma instrução básica, éramos despejados nos locais de conflito e, somente aí, adquiríamos os conhecimentos necessários para sobreviver, se tivéssemos a sorte de aguentar os primeiros meses.

Foi estudando a batalha de Aljubarrota, mais precisamente, a famosa “Ala dos Namorados”, que tive a noção do quanto é ridículo o que os senhores da guerra fazem com os jovens. Incutem-lhes um fervor patriótico, ou religioso, que os torna, na naioria das vezes e sem se aperceberem, “carne para canhão”. Na referida batalha de Aljubarrota, os primeiros a avançar e como tal, os primeiros a morrer, foram os mais novos.

Estou agora a lembrar-me que fui sempre um pouco medricas e mesmo que, ao chegar a Bissau, tivesse sido separado dos meus camaradas da 3ª companhia porquanto eles foram para Bolama e eu fui para Cumeré. O que é certo, por aquilo que escrevi, logo no primeiro dia que pisei solo africano, não tive um receio por aí além. Dizia eu!

“Em Cumeré estamos a tirar o I. A. O. (Creio que a sigla significa: Instrução de Aperfeiçoamento Operacional) Aqui não há guerra mas as pessoas parecem-me todas hostis. Neste quartel estão cerca de 600 homens. O calor é sufocante e não há bebidas frescas, nem grande comida e se eu achava caro uma refeição no Porto custar7$50, já me avisaram que fora do quartel custa 70$00. Vê bem que ladrões. Acho que são brancos que vivem a explorar os “Periquitos” como nós”. (Periquitos, era o nome pejorativo, usado para descrever os soldados recém-chegados da metrópole). (**)

Pelos vistos, a minha preocupação prendia-se com a comida e bebida. Também havia outra preocupação, a que me referia na mesma carta - a correspondência. Pois é! Eu podia escrever, como o fiz todos os dias. A namorada, família e amigos podiam responder-me. Eles saberiam de mim, e eu, só um mês mais tarde, teria notícias deles.

Meus amigos! Isto passou-se há 45 anos. Hoje contactamos, com qualquer parte do mundo, em segundos. A guerra também me deixou sem amor dos meus, mesmo por palavras escritas; por muitos dias, por muitas semanas. É uma das coisas mais difíceis de suportar, após a partida. Não sabermos se alguém sabe da nossa chegada! Imaginem o que aconteceu com todos aqueles que,  para a guerra nas ex-colónias, viajaram de barco.



8º Capítulo > RAIOS PARTAM OS MOSQUITOS


Os mosquitos guineenses rapidamente perceberam que a minha pele branquinha era um convite a picar-me e não tardou que o meu corpo estivesse repleto de pequenas manchas avermelhadas. Sem nada para me proteger, pois o repelente antimosquito estava, há muito, esgotado, a comichão era insuportável; somente debaixo do chuveiro conseguia acalmar essa sensação dolorosa. Mas até isso era difícil, porque a água era escassa e só podíamos tomar duche uma vez por dia. Fiquei a saber que o mosquito se chama “Anófele” e que as fêmeas são o ser vivo mais perigoso para o ser humano, devido às infecções que provoca, ao introduzir o parasita no nosso organismo.

Decerto, compreendem que com tantas picadelas, rapidamente me convenci, quando me começou a doer a cabeça, um pouco de febre e falta de apetite, que já tinha Paludismo. Já me doía tudo. O médico, porém, receitou-me uns comprimidos e o certo é que, dias depois, já me sentia melhor. Juro que até pensei que se adoecesse gravemente me mandavam para casa. Quanto errado estava pois, meses mais tarde, mesmo estando muito doente, continuaram a dar-me os mesmos comprimidos. Que eu tivesse conhecimento, nesse pequeno período, em que estive no Cumeré, só regressou à Metrópole um militar que fora atingido pelo rebentamento de uma granada na instrução e ficara muito ferido.

Felizmente, dia 2 de julho de 1972 foi a um domingo. O comandante do aquartelamento do Cumeré autorizou a nossa ida a Bissau. Já poderia comprar o que me fizesse mais falta, estando no topo das prioridades, mesmo sem saber se iriam ser necessários, preservativos. O comandante alertara com muita ênfase, que se morria mais com paludismo e doenças venéreas do que em batalha. Mais valia prevenir.

(Continua)




Guiné > Mapa geral da província (1961) > Escala 1/ 500 mil > Posição relativa do Cumeré, a nordeste de Bissau, abaixo de Nhacra, na margem direita do estuário do Rio Geba.

Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2016)

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Notas do editor:

(*) Postes anteriores da série:

11 de novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17961: Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capº 1: Aprovado para todo o serviço militar


16 de novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17976: Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capºs 3 e 4: Promovido a 1º cabo condutor autorrodas e colocado no RAL 5, em Penafiel

18 de novembro de  2017 > Guiné 61/74 - P17983: Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capºs 5 e 6: Partida nos TAM, com destino ao inferno:

(**) Usando o conversor da Pordata, verificamos que 7$50 e 70$00 em 1972 valeriam hoje, 1,74 € e  16,27 €, respetivamente. Ao escudo ("peso") da Guiné, temos que abater 10%...Se uma refeição no Porto custava, a preços de hoje, 1,74 €, em 1972, em Bissau, custaria 14,643 € (90% de 16,27 €, o equivalente a 70 escudos da metrópole).

Em 1969, uma refeição (bife com ovo a cavalo + cerveja) em Bafatá, no restaurante "Transmontana", custava 20 "pesos", o equivalente, hoje, a  5,328 € (=5,98 € x 0,90).

Como se vê, de 1969 para 1972, a inflação (ou a especulação, típica da economia de guerra) deu cabo do patacão dos desgraçados dos combatentes que íam parar com os quatro costados à Guiné!

Vd. os nossos postes sobre o patacão.

Guiné 61/74 - P18001: Os nossos seres, saberes e lazeres (241): As aldeias serranas da Serra da Lousã (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 23 de Agosto de 2017:

Queridos amigos,
No meu cardápio de tesouros avultam as aldeias serranas da Serra da Lousã, aqui passei férias inesquecíveis, juntei família e amigos, foi sempre um agrado geral a singularidade destes cenários, há estradas sombreadas que evocam Sintra ou o Buçaco, os declives metem respeito e ciranda-se por estas aldeias percebendo como foi duríssima a vida serrana, não foi por casualidade que todos os habitantes daqui fugiram antes do 25 de Abril, era uma vida rudimentar, em estrita sobrevivência, transacionando lenha e objetos artesanais no mercado da Lousã.
É com grande alegria que vos deixo o convite, para quem não conhece estas paisagens edénicas, de experimentar esta descoberta que a ninguém dececiona.

Um abraço do
Mário


As aldeias serranas da Serra da Lousã

Beja Santos 

O viandante, com o concurso do seu amigo Teles Grilo, desenhou uma viagem que passava por Coja, Avô, Aldeia dos Dez, ensaiou-se pousar em Arganil e Góis, era a semana entre o Natal e o Ano Novo, não se encontrou onde dormir, em desespero de causa, ao anoitecer, tomou-se a decisão de avançar para a Lousã, aqui houve acolhimento, nesse final de 1995. Na manhã seguinte, procedeu-se ao reconhecimento da vila, marcada por pequenas indústrias, algumas casas nobres e sobretudo um entorno florestal magnífico. A jeito de descoberta, avançou-se para um local chamado Cacilhas, subiu-se até às Hortas e aqui se fazia menção das aldeias serranas, algumas delas fazem parte na atualidade do conjunto das aldeias de xisto. Caminho horrível, saibro escorregadio, com declive profundo e panoramas de cortar a respiração. E chegou-se à primeira aldeia, Casal Novo, desceu-se a escadaria em Xisto, aliás por ali é a pedra e o xisto que pontificam, e parou-se na contemplação do Alto do Trevim, houve quem suspirasse por ali fazer férias. Pela mesma estrada tortuosa e escalavrada avançou-se para outro povoado que à distância parecia uma aldeia medieval perdida, Talasnal, também aqui o enamoramento foi espontâneo. Encurtando razões, no regresso à Lousã encontrou-se um proprietário de Casal Novo, o senhor Pedro Gomes Santiago, e apalavrou-se uma casa para as férias do Carnaval. Sucesso completo, quem veio quis repetir, assim nasceu a institucionalização das férias nas aldeias serranas, vieram famílias e amigos, ficaram quilómetros de recordações e memórias que não se apagam. Daqui, um dia, se partiu em passeio para Castanheira de Pera e se seguiu por caminhos ínvios até Casal dos Matos, em Pedrógão Grande, onde se reconstruiu uma casa de proprietários agrícolas, foram dois anos a aformosear o local, houve a seguir uma troca por uma casa em Tomar, mas ficaram recordações incandescentes, tão ou mais incandescentes quanto o cataclismo de 17 de Junho de 2017 tudo derruiu, restam paredes calcinadas. Voltou-se em romagem às aldeias serranas, num dia quente de Agosto. Aqui ficam as impressões.



Há muita casa reconstruida, mas dá-se logo nas primeiras impressões pela ausência de presença humana, tal como se sentiu naquele final do ano de 1955. São pessoas que se entusiasmam, que reedificam, que têm hoje a facilidade do piso alcatroado, mas aqui não há discotecas, só o silêncio da montanha, os mais novos não apreciam tanta e tal quietude. É preciso descer uma encosta íngreme até chegar à praia fluvial da Lousã, junto de um castelinho único no país, e de onde se avista, sempre coberta por uma aura de misticismo, a ermida da Piedade. Por aqui se cirandou, em pleno Agosto eram escassos os veraneantes. Mas sabe muito bem ter vindo reviver o passado.



Esta escadaria foi sempre o quebra-cabeças dos mais velhos, naqueles saudosos tempos fazia-se a lista de compras ao pormenor, situações houve em que por esquecimento se teve que regressar à Lousã para comprar caixas de fósforos ou pacotes de leite. Tomava-se o pequeno-almoço e subia-se esta lauta escadaria, descia-se a montanha, mercadejava-se na Lousã, tomava-se café na Túlipa Negra, às vezes a companha exigia ir para a praia fluvial, nestes casos comia-se ligeiro e voltava-se a meio da tarde. No regresso, ninguém se lamuriava a descer todos estes degraus.



Falou-se acima que depois de Casal Novo, naquela manhã de descoberta das aldeias serranas, em 1995, se avançou para Talasnal. O panorama era tão inacreditável que se saiu do carro, questionando que mundo parado era aquele. Muitos anos mais tarde, o viandante leu uma tese de mestrado intitulada “Terra que já foi terra” sobre a vida dos serranos que aqui levaram vida tão mortificada, daqui fugiram, o último habitante das aldeias serranas aqui se suicidou no dia 25 de Abril de 1974, quando chegara um progresso a estas alturas, a eletricidade. Fugiram todos da miséria, da má memória, muitíssimos poucos regressaram. Agora é um paraíso turístico e mesmo residencial. Há alternativos alemães e suíços a viver noutras aldeias, como Chiqueiro e Vaqueirinho. Talasnal tornou-se uma aldeia flamejante, tem comércio, casas para alugar, sente-se que lateja a regeneração permanente.



O viandante e companha vezes a fio desceram uma encosta íngreme, cuja subida fazia suar a estopinhas, à procura do bálsamo desta água corrente, sempre murmurante, circundada por cenários edénicos. Não poucas vezes e fizeram passeios pedestres a caminho da velha estação elétrica e depois tudo se palmilhava até Talasnal. O viandante já não tem pernas e sofre de maleitas na coluna para saborear tal aventura. Preferiu reviver Talasnal, encontrar o senhor Jorge que em 1997 ali montou bar, e que tem sido um sucesso, dedica-se também ao negócio de velharias, o viandante comprou mil páginas dos romances de Italo Svevo, edição de Gallimard, em estado novo, por um euro, há horas de sorte. E também chegou a hora de regressar.


Em jeito de despedida, aqui se mostra a aldeia de Candal, vindo da estrada de Castanheira de Pera a caminho da Lousã é a primeira aldeia de Xisto a visitar, antes de Cerdeira, já em 1995 estava composta e bem mantida. Olhando a imagem, a penúltima casa era um aprazível tasquinho onde se procurava uma bebida fresca e uma sombra. É assunto do passado, o negócio fechou. E assim se viveu um dia magnífico que dá para perceber que a palavra saudade é intraduzível em qualquer idioma.
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Nota do editor

Último poste da série de 15 de novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17973: Os nossos seres, saberes e lazeres (240): De Manchester para Lisboa, ficam as saudades (9) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P18000: O nosso blogue em números (43): Eu registei a visualização nº 8200000, ontem, às 18h47, e portanto o nosso recorde dos 10 milhões!... Aqui fica para memória futura... E parabéns, conseguimos! (Jorge Araújo)



1. Mensagem do nosso colaborador permanente, Jorge Araújo:

Data: 21 de novembro de 2017 às 19:25
Assunto: VISUALIZAÇÃO - 8.200.000

Caro Camarada Luís,

Tal como previas esta manhã no P17997 (*), "hoje, 21 de novembro, logo mais ao fim da tarde, atingimos os 8,2 milhões" de visualizações. Adicionado o registo anterior dará, então, a soma de 10 milhões.

Eram 18h47 quando o marcador atingiu esse número. Aqui deixo o competente registo de prova para memória futura.

Seria interessante, caso aceites a ideia, que a sua divulgação correspondesse ao próximo poste - o 18.000.

PARABÉNS... conseguiste/conseguimos!

Boa semana

Um forte abraço para o colectivo de editores.