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sexta-feira, 2 de junho de 2023

Guiné 61/74 - P24361: FAP (126): A que altura (quantos pés) voava a DO-27 quando fazia de PCV (Posto de Comando Volante)? (Fernando de Sousa Ribeiro)



Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > Pista de Bambadinca... Ao fundo, o muro do cemitério... Uma DO-27 na pista... 

Era uma aeronave que  adorávamos  quando nos trazia de Bissau os frescos e a mala do correio ou, no regresso, nos dava boleia até Bissau, para apanharmos o avião da TAP e ir de férias... 

Era uma aeronave preciosa nas evacuações (dos nossos feridos ou doentes militares, bem como dos civis)... 

Era um "pássaro" lindo a voar nos céus da Guiné, quando ainda não havia o Strela...

Em contrapartida, tínhamos-lhe, nós, os infantes, um "ódio de morte" (sic) quando se transformava em PCV (posto de comando volante) e o tenente coronel, comandante do batalhão, ou o segundo comandante,  ou o major de operações,  ia ao lado do piloto, a "policiar" a nossa progressão no mato...  Quando nos "apanhavam" e ficavam à nossa vertical, era ver os infantes (incluindo os nossos "queridos nharros") a falar, grosso, à moda do Norte, com expressões que eram capazes de fazer corar a Maria Turra... "Cabr..., filhos da p..., vão lá gozar pró c..., daqui a um bocado estamos a embrulhar e a levar nos corn...".

Também os nossos comandantes operacionais (capitães QP ou milicianos) não gostavam nada do "abelhudo" do PCV, em operações no mato...

Foto do álbum de Arlindo T. Roda, ex-fur mil da CCAÇ 12 (1969/71).

Foto: © Arlindo T. Roda (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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Fernando de Sousa Ribeiro, ex-alf mil at inf, 
CCAÇ 3535 / BCAÇ 3880 ( Zemba e Ponte do Zádi, Angola, 1972/74);
 membro da Tabanca Grande desde 11 de novembro de 2018, com o nº 780


1. O nosso camarada Fernando de Sousa Ribeiro levantou uma questão que não é de lana caprina (*):

O que é de cabo-de-esquadra é o PCV, que eu tive que ir verificar do que se tratava, porque em Angola não havia disso.

É o cúmulo "comandar" uma operação a partir de um avião! Mas que diabo de ideia! Toda a gente que estivesse num raio de muitos quilómetros ficava a saber onde é que a tropa andava, o que destruía por completo uma das regras básicas da guerra de guerrilha, que é o fator surpresa. 

Os "brilhantes" cérebros militares não sabiam disso? Está visto que a guerra na Guiné era uma guerra rica, pois até majores e tenentes-coronéis passeavam-se em aviões, enquanto a carne-para-canhão morria ou ficava estropiada cá em baixo por culpa deles.

Para abater um DO-27 não eram precisos "strelas". Uns tiros de AK-47 bem apontados ao depósito de combustível ou à hélice do avião deitá-lo-iam abaixo, a menos que este voasse a mais de 300 ou 400 metros de altura, fora do alcance das espingardas, ou então que voasse muito baixinho, a roçar as copas das árvores. 

Portanto, aqui deixo a minha dúvida: a que altura é que os PCV costumavam voar?

2 de junho de 2023 às 02:04  (*)


2. Comentário do nosso editor LG:

Boa questão, Fernando... O "hino da CCAÇ 12", da época de 1971/72, que iremos publicar à parte, é uma paródia da cantiga do "tiro-liro-liro", mais uma bela peça do nosso humor de caserna  lá em cima o senhor major, no PCV ("posto de comando volante") e cá em baixo a "tropa-macaca"... 

Lá em cima anda o Heli-Canhão
Cá em baixo anda a 12 e anda o Xime. (...)

Juntaram-se os três numa operação
Lá para os lados do Poidão
Correu tudo que nem um mimo! (...)

Major... ó meu Major
Ora diga lá agora o que é que quer. (...)

Ora essa continuem cinco minutos,
não precisam que vos peça.
Continuem... ora essa! (...)

Comandante... ó meu Comandante
Estamos fritos, estamos agora a embrulhar! (...)

Tenham calma... tenham calma e não pensem
que eu daqui não vos estou a ajudar. (...)

Contra os canhões sem recuo...
VAI TU!

No sector L-1 o comando dos batalhões usavam e abusavam do PCV... "Para mostrar serviço" aos senhores de Bissau... Nunca dei conta que tenham sido úteis, bem pelo contrário..

Os pilotos de DO-27 podem dizer-nos a quantos pés costumavam voar em operações como PCV ? Vamos lá perguntar aos camaradas da  FAP. (**)
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Notas do editor:


quinta-feira, 1 de junho de 2023

Guiné 61/74 - P24360: (In)citações (244): "CONFISSÃO à Arte, minha velha amiga da onça", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)


CONFISSÃO à Arte, minha velha amiga da onça

adão cruz

Talvez tenhas dado por mim, mas não quiseste mostrar. Ajoelhei meus passos no teu caminho e tu não viste. Sempre tiveste duas pedras brancas nos olhos e cego foi o meu coração.

Sempre foi de mármore o teu rosto em todas as manhãs. Parte-me o peito a amargura, sempre que toda tu és apenas figura, retórica figura.

Afogado na tristeza, nunca uma boia me lançaste. Um fio de silêncio, de lágrimas molhado, foi o espaço vazio que criaste, o poema sem alma, a tela negra onde cravei os dedos e cuspi as cores sem brilho.

Desonrei o corpo das palavras e o seu mais alto dizer, para esmolar um verso, um rasgo de cor ou... morrer. Tu nada quiseste saber, em todas as plúmbeas manhãs derretidas em chuva.

Nasço e morro contigo todos os dias, amparado em versos que não têm mãos e logo se quebram aos primeiros raios de sol. Todas as minhas rugas faciais estão assinadas por um roteiro de ansiedades num calendário de esperanças, todos os meus nervos estão marcados pelos dedos vulcânicos da paixão. Em todas as manhãs perdidas no leito da angústia, só a ilusão foi minha amiga. Para ela me arrastaram as nuvens e com elas me confundi, com elas me perdi.

Sei que o meu lugar é aqui, ainda que eu não saiba o lugar que ocupo. Faço que rio, faço que choro, faço que canto, ao som ausente de um Quinteto para Clarinete. Mas não posso viver sem ti. Mais do que nunca, preciso de ti para viver o amor, a mais bela das frustrações.

O meu silêncio, de espada em riste, parte os teus olhos de pedra, e canta. Canta uma qualquer Chanson Romanesque a uma qualquer Dulcineia, perdida nos montes, algures, para lá do arco-íris.

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Nota do editor

Último poste da série de 30 DE MAIO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24352: (In)citações (243): "Pequena REFLEXÃO sobre a obra de Arte", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)

Guiné 61/74 - P24359: Tugas, pocos pero locos: algumas das nossas operações temerárias (3): Op Foguetão: mais uma dramática incursão à península de Madina/Belel, 27 e 28 de novembro de 1967, segundo a versão de Abel Rei (CART 1661, Fá, Enxalé, Bissá, Porto Gole, 1967/68).


Guiné > Região do Oio > Porto Gole > CART 1661 (1967/68) > O Abel Rei, que pertencia ao 3º Gr Comb, está aqui escrever algumas linhas do seu diário, mais transformado em livro. Sáo dele as palabras revelkadotras de uma gradne honestidade intelkectual: "A minha escassa formação primária não me proporcionou melhores ideias. Tudo o que ficou escrito, não se tratou senão de simples partes vividas, onde a realidade dava lugar a maiores esclarecimentos. E acabei por impor a mim próprio a chamada memória selectiva, e omitir factos tão ruins que eu nem os conseguia descrever, e com a sua omissão convencer-me de que nunca aconteceram."

 Foto (e legenda): © Luís Graça (2002). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Abel de Jesus Carreira Rei.  nascido em 1945, em Maceira, Leira, 
vive em Embra, Marinha Grande. É membro da Tabanca Grande desdce


Capa do livro de Abel de Jesus Carreira Rei – Entre o Paraíso e o Inferno: De Fá a Bissá: Memórias da Guiné, 1967/1968. Prefácio do Ten Gen Júlio Faria de Oliveira. Edição de autor. 2002. 171 pp. (Execução gráfica: Tipografia Lousanense, Lousã. 2002)


1. Tivemos ontem notícias do Abel Rei, ex-1º cabo at art, CART 1661 (Fá, Enxalé, Bissá, Porto Gole, 1967/68), através do formulário de contacto do Blogger... Há mais de  um ano que andávamos à sua procura e a pedir-lhe que fizesse "prova de vida"(*)

31 maio 2023 17:39

Quero desejar ao amigo Beja Santos muitos Parabéns e um dia feliz com saúde e um grande abraço com a sincera amizade deste amigo,Abel Rei, Ex-combatente, RT 1661.

Cumprimentos, Abel Rei | abel.rei@hotmail.com



2.   Hoje fomos revistar alguns dos seus postes, e nomeadamente as notas de leitura que fizemos do seu livro de memórias.  Um desses postes chamou-nos a atenção por nele se referir a Op Foguetão (**), mais uma dramática incursão à península de Madina / Belel. Ou seja, mais uma operação temerária que fica bem na série "Tugas pocos pero locos" (***) 


Op Foguetão: mais uma dramática incursão à península de  Madina/Belel, 27 e 28 de novembro de 1967

Depois de 73 dias em Bissá, o nosso 1º cabo Abel Rei regressa a Porto Gole, exausto e adoentado. Visto pelo médico, que lhe receitou “três injecções e comprimidos” (sic), voltou a estar apto, ele e os demais “companheiros de Bissá”, ao fim de três dias.

A 27 e 28 de novembro de  1967 vemo-lo a participar na Op Foguetão, para um golpe de mão uma acampamento da guerrilha na região de Madina / Belel. Tratou-se da repetição da Op Frango, envolvendo forças da CCAÇ 1646 (Fá Mandinga) e da CCAÇ 1749 (Mansoa), além da CART 1661 (Porto Gole).

A CCAÇ 1646 (que passou por Bissau, Fá Mandinga, Xitole, Fá Mandinga e Bissau, entre janeiro de 1967 e outubro de 1968) pertencia ao BART 1904 (Bambadinca), tendo por comandante o cap mil art Manuel José Meirinhos.

A CCAÇ 1749, por sua vez, passou por Mansoa, Mansabá e Quinhamel, entre julho de 1967 e junho de 1969. Era comandada pelo cap mil art Germano da Silva Domingos.

Na Op Frango, que se realizara uns dias antes,  a 16 de novembro de 1967, as NT não tinham atingido o objectivo, por se terem perdido e por haver falha nas ligações com o PCV. Diz a história da CCAÇ 1661, citada pelo Abel Rei (p. 120), que “o único guia que nos foi possível arranjar, informou não saber atingir o objectivo pelo itinerário determinado superiormente”.

 O filme dos acontecimentos da Op Foguetão, de acordo com o diário do Abel Rei (29/11/1967, Enxalé, pp. 120-122) (**),  volta a mostrar-nos a ocorrência de alguns erros e falhas recorrentes nestas incursões à península de Madina / Belel, onde as NT iam uma vez por ano,  erros e falhas já listados, a título exemplifiativo,  na série "Tugas pocos pero locos" (***):
  • erros de planeamento;
  • guias que se perdiam ou que procuravam ludibriar as NT;
  • itinerários mal escolhidos ou de difícil progressão, com cursos de água de difícil cambança, capim alto, etc.;
  • PCV (antes da época dos Strela...) que denunciavam a presença das NT;
  •  falhas no abastecimento de água (ou na escolha das rações de combate);
  • progressão para o objectivo a horas proibidas (sob sol escaldante);
  • confusão de (ou chegada tardia aos objetivos);
  • flagelações e/ou queimadas do IN;
  • tabancas que se encontram abandonadas e que depois são queimadas pelas NT;
  • casos graves de exaustão, insolação e desidratação;
  • indisciplina de fogo;
  • ataques de abelhas e/ou formigas;
  • debandada geral;
  •  perda de armas e munições, e até de homens e cadáveres  que são transportados às costas em macas improvisadas;
  • regresso dramático ao Enxalé com viaturas a sair até São Belchior para transportar os mais "desgraçados";
  • tentativa de recuperação, no dia seguinte, do material perdido… e até dos cadáveres;
  •  e, claro, relatórios por vezes fantasiosos, pouco rigorosos, etc....
Eis, em resumo, o filme dos acontecimentos em 10  pontos, seguindo o teor do diário do Abel Rei (29/11/1967):

(i) (,,,) “partimos à meia noite do dia 27, com um ração de combate para cada dois homens, e a caminho dum acampamento dos ‘turras’, situado em Madina, onde eles tinham bastante armas pesadas, entre elas um ou dois morteiros 82 e canhão sem recuo (?)" (…);

(ii) as NT chegam ao objectivo por  “volta das dez e meia da manhã”;

(iii) nessa altura começam a ser sobrevoadas uma avioneta com um ‘major de operações’ (sic), leia-se, PCV

(iv) sob um “sol escandante”, depois de mais de uma hora parados e, obviamente, já localizados pelo IN, “fomos obrigados a avançar para o objectivo", quando "nessa ocasião fazia-se a entrada numa bolanha cheia de água” (recorde-se que estamos no fim da época das chuvas);

(v) há quatro baixas por exaustão e desidratação; esses  militares são helievacuados. ficam 20 homens a fazer segurança ao helicóptero. enquanto os restantes continuam a avançar para o objectivo;

(vi) a progressão faz-se no meio do capim alto (com “mais de três metros de altura”); a  zona em que o helicóptero está pousado, começa a ser batida por tiro de morteiro; avança-se para o objectivo;

(vii) (...)  “o tiroteio sucedia-se cobrindo aqueles matos!;  (…) os homens que ficaram atrás comigo, contaram que foram obrigados a retirar para fugir ao fogo dos ‘turras’ que batiam a zona; perderam-se…”

(viii) os “outros, são obrigados pelo capitão (de nome Figueiredo) [referência que nos parece explícita, ao cap Dias Sousa Figueiredo, da CART 1661], “a irmos contra as trincheiras do inimigo – apontando-lhes a sua arma, com ameaça de disparos, se não avançassem” (p. 122);

(ix) as NT sofrem “dois mortos e três feridos”, não lhes sendo possível “trazer os mortos: um soldado nativo das milícias, e o próprio guia, pois o fogo era intenso”;

(x) concluindo, chegaram já de noite, divididos em dois grupos, aqui ao quartel [do Enxalé], tendo andado perdidos uns dos outros; vinham estafados”…

A história da unidade (CART 1661) diz, seca, cínica e sucintamente, que “o objectivo de Madina foi atingido e destruído, tendo sido mortos 9 elementos IN; as NT tiveram um milícia morto e três feridos” (p. 122)… 

Não há qualquer referência ao pobre diabo do guia cujo cadáver lá ficou, também, para os jagudis… (Não sabemos se o guia era um prisioneiro, embora provavelmente o fosse, já que não foi contabilizado como baixa das NT.);

Só quinze dias depois é que o Abel volta escrever, para nos dar conta da existência da ‘arma secreta’ da CART 1661, o famoso ‘granadeiro’, uma “viatura pesada blindada com chapas metálicas e areia”, que é utilizada numa coluna auto, de reabastecimento a Bissá… “Pela estrada, em que fomos sempre pé, picando a área em todo o percurso, ao longo da nossa deslocação foram encontrados jornais de propaganda subversiva terrorista” (14/12/1967, Enxalé) (***ª)…

No final do ano de 1967, o comando da CART 1661 muda-se para Porto Gole, passando o Enxalé a ser apenas um simples destacamento, depois na primeira daquelas localidades se terem construído as necessárias instalações para o pessoal, bem como o depósito de material. Foi também construído uma pista de aterragem para aeronaves tipo D0 27…

(Seleção / compilação / revisão e fixação de texto / negritos e itálicos:  LG)


3. Ficha de Unidade> Companhia de Artilharia nº  1661

Identificação:  CArt 1661
Unidade Mob: RAC - Oeiras
Crndt: Cap Mil Art Luís Vassalo Namorado Rosa (1935-2018) | Alf Mil Art Fernando António de Sá | Cap Art Manuel Jorge Dias de Sousa Figueiredo
Divisa: -
Partida: Embarque em 01Fev67; desembarque em 06Fev67 | Regresso: Embarque em 19Nov68

Síntese da Actividade Operacional

Em 06Fev67, deslocou-se para Fá Mandinga, a fim de substituir a CCaç 818 e realizar, inicialmente, um curto período de adaptação operacional, sob orientação do BCaç 1888 e actuar depois nas regiões de Xime, Enxalé e Xitole, até 08Mar67.

Após rotação, por fracções, com a CCaç 1439, assumiu em 03Abr67 a responsabilidade do subsector de Enxalé, com pelotões destacados em Missirá, Porto Gole e Bissá, mantendo-se integrada no dispositivo e manobra do BCaç 1888 e a partir de O1Jul67 do BCaç 1912, por alteração dos limites dos sectores daqueles batalhões.

Em 21Dez67, a sede da subunidade foi transferida para Porto Gole, com destacamentos em Enxalé e Bissá, mantendo-se no mesmo sector do BCaç 1912, onde a par de várias operações e acções efectuadas nas regiões de Mato Cão, Mantém, Malafo e Colicunda, orientou a sua actividade para a construção e desenvolvimento dos reordenamentos de Enxalé e Bissá, este a partir de Mar68.

Em 07Nov68, foi rendida no subsector de Porto Gole pela CArt 2411, tendo recolhido seguidamente a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.

Observações - Tem História da Unidade (Caixa n." 81 - 2.ª Div/4ª  Sec, do AHM).

Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pág. 450
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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 27 de janeiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22942: O que é feito de ti, camarada ? (15): Abel Rei, ex-1º cabo, CART 1661 (Fá, Enxalé, Bissá, Porto Gole, 1967/68), autor do livro, "Entre paraíso e inferno, de Fá a Bissá, memórias da Guiné, 1967/68... O João Crisóstomo manda-te um "hello", de Nova Iorque

`(**) Vd. pposte de 24 de agosto de 2009 > Guiné 1963/74 - P4858: Notas de leitura (16): Memórias do inferno de Abel Rei (Parte III) (Luís Graça)


30 de agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4882: Notas de leitura (18): As memórias do inferno de Abel Rei (Parte IV e última) (Luís Graça)

(***) Último poste da série > 25 de maio de 2023 > Guiné 61/74 - P24339: Tugas, pocos pero locos: algumas das nossas operações temerárias (2): Op Gavião (Madina / Belel, 4-6 de abril de 1968): 300 homens desbaratados pelas abelhas, armas extraviadas, um cadáver abandonado, um homem perdido, etc.

quarta-feira, 31 de maio de 2023

Guiné 61/74 - P24358: Convívios (964): Rescaldo do 24.º Encontro dos Tigres - CCAV 8351 (Cumbijã, 1972/74), levado a efeito no passado dia 29 de Abril em A-dos-Cunhados - Torres Vedras (Joaquim Costa, ex-Fur Mil)



24.º ENCONTRO DOS TIGRES

Após quatro anos de interregno devido à pandemia, Os Tigres reuniram-se de novo para conviver e relembrar aqueles dois anos que nos uniram como uma FAMÍLIA para toda a vida!

Devido a esta interrupção, a reunião só não correu mais brilhante porque houve muitas ausências relativamente aos que já era natural reunirem. Uns por motivos de doença, outros por outros compromissos já assumidos não puderam estar presentes.

Mesmo assim, juntámos 34 combatentes. Todos os ausentes foram por diversas vezes focados com saudade e com a certeza que para o ano seremos muitos mais!

A ausência mais sentida foi a do nosso Timoneiro e Capitão Vasco da Gama! Para o ano, Deus o permitindo nos reuniremos de novo!

Esteve também entre nós como convidado de honra, o nosso amigo Saido Baldé, filho da nossa Cumbijã e irmão do atual Chefe da Tabanca e Régulo de Cumbijã Sr Serifo Baldé.

Foi MUITO BOM estarmos juntos!

As mulheres dos Tigres
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Nota do editor

Último poste da série de 31 de Maio de 2023 > Guiné 61/74 - P24356: Convívios (963): Coimbra, 27mai2023, 50.º convívio da CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime 1971/74): "Balada de Despedida", voz: Firmino Ribeiro

Guiné 61/74 - P24357: Historiografia da presença portuguesa em África (370): Da CUF à Casa Gouveia, da Casa Gouveia à CUF: Uma viagem interminável (3) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 5 de Setembro de 2022:

Queridos amigos,
Caso se procure navegar com os céus brumosos, a documentação é rala e o que encontrei na Sociedade de Geografia de Lisboa não é muito abonatório para o senhor deputado nomeado pela Guiné e que vai aparecer em São Bento em 1911. O saudoso confrade Carlos Cordeiro encontrou o nome e intervenções de Gouveia (delas aqui se faz menção) agora há que ir procurar outras intervenções durante este mandato de 1911 a 1915. Permito-me voltar a pedir a todos que lerem este texto se souberem da existência de mais informações sobre a Casa Gouveia terem a amabilidade de me as transmitirem, a ambição era saber mais sobre Gouveia antes de vir para Guiné, o que fez em África, que benefícios lhe trouxe São Bento, como era o seu mundo de negócios até se criar o tandem Casa Gouveia/CUF, e posteriormente conhecer a evolução dos negócios, até à independência da Guiné. Quem pode ajudar?

Um abraço do
Mário



Da CUF à Casa Gouveia, da Casa Gouveia à CUF:
Uma viagem interminável (3)


Mário Beja Santos

Segundo nos é dado a perceber, não há uma biografia de António da Silva Gouveia, sabe-se que chegou a África no último quartel do século XIX, constituiu empresa e notoriedade nos negócios, será deputado na Assembleia Constituinte, estará em São Bento até 1915, o nosso confrade Carlos Cordeiro (infelizmente já falecido) deixou aqui no blogue intervenções dele, é um domínio que espero mais tarde explorar consultando a documentação online do Parlamento referente à I República (ver as seguintes publicações:
Guiné 63/74 - P7107: Historiografia da presença portuguesa em África (37): António Silva Gouveia, fundador da Casa Gouveia, republicano, representante da colónia na Câmara dos Deputados, na 1.ª legislatura (1911-1915) (Parte I) (Carlos Cordeiro), disponível em: https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2010/10/guine-6374-p7107-historiografia-da.html e ainda Guiné 63/74 - P7109: Historiografia da presença portuguesa em África (38): António Silva Gouveia, fundador da Casa Gouveia, republicano, representante da colónia na Câmara dos Deputados, na 1ª legislatura (1911-1915) (Parte II) (Carlos Cordeiro) disponível em: https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2010/10/guine-6374-p7109-historiografia-da.html.

Portanto, há que escavar até sair pepita. Na biblioteca da Sociedade de Geografia de Lisboa há dois documentos onde se fala de António da Silva Gouveia, deputado pela Guiné, há ali referências pouco elogiosas, como o leitor terá oportunidade de acompanhar.

Logo em "A Guiné nas Constituintes ou Misérias de Um Deputado", por Cândido Carlos de Medina, e a propósito em autos-crimes, extraio os seguintes parágrafos:
“Consta-me ouvir dizer a diferentes pessoas se têm praticado em Bolama os abusos e ilegalidades seguintes: para dar uma ideia geral do que era o Tribunal de Bolama, basta dizer que foi público e notório o ter sido denominado Tribunal da Baviera, pois que um dos compartimentos fora transformado em botequim ou cervejaria, onde se praticaram as maiores arbitrariedades tais como soltando criminosos sem mandado e desterrando para São Tomé dentro de três dias um criminoso que pediu recurso verbal.
A Fazenda Nacional foi enormemente desfalcada por assentimento dos magistrados capitão Costa Pereira, dr. Mourão, dr. Delgado de Carvalho e dr. Bernardo Nunes de Garcia a favor dos negociantes António da Silva Gouveia e António José Coelho de Mendonça nos inventários de António Pinto de Mesquita, ex-sócios destes últimos, e do tesoureiro da Província, Nicolau Carlos de Medina.
No inventário de António Pinto de Mesquita, cuja soma em dinheiro era calculada em cinquenta mil reis, foi apenas encontrada uma insignificância junta aos lucros que lhe deviam pertencer na Casa Gouveia & Cª. Este Mesquita tinha entrado para a Sociedade com sete contos e tantos em pesos e como não tinha herdeiros, se não se dessem as irregularidades, toda aquela fortuna entraria nos cofres da Fazenda Nacional. Como este processo envolvia sérias responsabilidades para a Casa Gouveia & Cª, desapareceu (segundo dizem) por combinação dos magistrados dr. Mourão e dr. Bernardo Garcia, que vindo de Cabo Verde para a Guiné, a fim de fazer uma sindicância prevaricou adquirindo grossas somas pela facilidade com que fazia desaparecer os processos no cartório a favor de alguns negociantes, de quem era advogado com procuração.”


Para não cansar o leitor com o relato destas traquibérnias, resta dizer que o nome da Casa Gouveia não aparece muito abonado, desapareceram grossas somas e aponta-se claramente o nome da Casa Gouveia e Mendonça. Mais adiante, Cândido de Medina refere uma escritura falsa feita por um escrivão interino da venda de uma casa de Francisco Rodrigues em Farim à Casa Gouveia & Cª por uma procuração falsa. Esta escritura é falsa, diz Medina, porque a procuração fora feita em papel muito sujo de moscas dois anos e meio depois da morte de Francisco Rodrigues e porque o dito Vasconcelos (o tal escrivão interino) já não estava em exercício quando a fez na Casa Gouveia. Os magistrados nesta denúncia, andam pelas ruas da amargura: “O dr. Mourão, indo a Bissau em serviço judicial, recebeu aí 537 mil reis dos rendimentos das propriedades do casal de Roberto Ribeiro da Cunha para serem depositados em Bolama no respetivo cofre. Pois esse dinheiro foi gasto em Bissau no jogo e em bebidas; e só mais tarde é que ele deu entrada no cofre, devido à amabilidade da Casa Gouveia & Cª que abonou essa quantia.”
E, mais adiante: “A Casa Gouveia & Cª pagou umas multas por infrações de lei dos selos nuns livros comerciais, multas que foram impostas por despacho do juiz Delgado de Carvalho que passou em julgado; pois essa Casa teve a facilidade de requerer e obter com pleno assentimento do representante da Fazenda Nacional a retribuição daquelas multas sem ser por meio de recurso algum.”

Muitas mais vezes António da Silva Gouveia aparece ligado a infrações, irregularidades e fraudes. Há a história de um arrolamento de bens, faz-se um inventário em março de 1896 e pode ler-se: “Havia mais dinheiro em cofre, mas penhorado, não constando que esse dinheiro fosse levantado. Havia uma dívida ao casal de 300 mil reis, devida por Francisco António Manuel Adolfo, conta que foi autorizada a respetiva execução; não consta que a quantia revertesse para o casal. Mais ainda. António da Silva Gouveia arrematou em hasta pública dois prédios do casal e veio a requerer que fosse dispensado de entrar no cofre com a quantia por que arrematou, visto ser credor de maior quantia. Foi-lhe indeferido o pedido e condenado nas custas do incidente.”

Passamos agora para a "Carta Aberta" assinada por Manoel António de Oliveira, dirigida ao deputado Silva Gouveia, ele acabara de receber o folheto de Cândido Carlos de Medina e diz, “prova-se que o senhor é pelo menos, se não o autor, cúmplice ou encobridor de fraudes e roubos feitos, uns à Fazenda Nacional, à Pátria, a nós o povo e outros, a viúvas e órfãos inocentes que hoje se encontram na miséria, enquanto o senhor deputado da Nação portuguesa, da nossa jovem República, negociante em grande escala e representante de bancos e companhias se banqueteia lautamente com o que pertencia a infelizes menores e que se encontram hoje a braços com a mais horrível miséria! E, neste constante subir, mercê de astúcias e embustes de toda a ordem, o senhor será elevado até às altas culminâncias do poder.
Sim, pelo que leio naquele folheto, as escada por onde tanto homem e órfãos remediados desceram à maior das desgraças, prestar-se-á hoje a dar subida ao homem que ontem, embora para fazer os seus arranjos, não tinha política definida e hoje se declara republicano da velha guarda, como se a República que tanto sangue custou, que tanta vida de homens sem mancha alguma engoliu, servisse para fazer subir ao mais alto pedestal criaturas que em público e com provas são acusadas de escândalos ou crimes desta ordem.”


É esta a única documentação existente sobre António da Silva Gouveia e a Casa Gouveia na Guiné no dealbar da I República, Gouveia foi eleito deputado, houve queixas da concorrência, há documentação de Graça Falcão que se julgava merecedor de ter sido escolhido, para este assunto a questão não é relevante, sabe-se que Gouveia em 1912 aderiu ao Partido Republicano Evolucionista, dirigido por António José de Almeida. Vamos continuar a procurar para se tirar o retrato de corpo inteiro deste Gouveia, na década de 1920 entra em negócios com a CUF, e assim aparecerá a mais importante empresa comercial e industrial da Guiné.

(continua)

Imagem de documentação em posse do Arquivo Histórico CUF-Alfredo da Silva
O vapor “Lisboa”, 1916
O rebocador “Estoril”, 1932
Navio a vapor “Costeiro”, 1922
Navio a vapor “Alferrarede”, 1927

Imagens de navios da Sociedade Geral, retiradas do blogue Restos de Colecção, com a devida vénia
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Nota do editor

Último poste da série de 24 DE MAIO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24338: Historiografia da presença portuguesa em África (369): Da CUF à Casa Gouveia, da Casa Gouveia à CUF: Uma viagem interminável (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P24356: Convívios (963): Coimbra, 27mai2023, 50.º convívio da CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime 1971/74): "Balada de Despedida", voz: Firmino Ribeiro


Coimbra > Claustros do antigo Colégio da Graça, hoje sede no núcleo local da Liga dos Combatentes, na Rua Sofia, 136 > 27 de maio de 2023 : 50.º convívio de confraternização da CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1971/74) (a chamada 2ª e 3ª geração de graduados e especialistas, de origem metropolitana) >  Na hora da despedida:  voz do Firmino Ribeiro, o segundo a contar da direita.



Coimbra > Claustros do antigo Colégio da Graça, hoje sede no núcleo local da Liga dos Combatentes, na Rua Sofia, 136 > 27 de maio de 2023 : 50.º convívio de confraternização da CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1971/74) (a chamada 2ª e 3ª geração de graduados e especialistas, de origem metropolitana) >  Na hora da despedida: "Eles e elas"... Poucos mas bons e afinados... Até para o ano!



Vídeo (1' 47'') > Luís Graça > You Tube (2023)

Vídeo gravado em Coimbra nos claustros do antigo Colégio da Graça, hoje sede o núcleo local da Liga dos Combatentes, Rua da Sofia, 136, em 27 de maio de 2023, por ocasião do 50.º almoço de confraternização dos graduados e especialistas, metropolitanos, da CCAÇ 12, da 2ª e 3ª geração, que esteve na antiga Guiné Portuguesa durante a guerra colonial (Bambadinca e Xime, 1971/74) (*). As praças eram do recrutamento local. Até à extinção da CCAÇ 12, em agosto de 1974, houve uma progressiva "africanização" dos especialistas e até dos graduados.

Voz: Firmino Ribeiro (natural de Braga, vive no Porto)

Fotos (e legenda): © Luís Graça (2023). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Balada da Despedida
Fernando Machado Soares


Letra:

Coimbra tem mais encanto
Na hora da despedida.
Coimbra tem mais encanto
Na hora da despedida.

Que as lágrimas do meu pranto
São a luz que lhe dá vida.

Coimbra tem mais encanto
Na hora da despedida.
Coimbra tem mais encanto
Na hora da despedida.

Quem me dera estar contente
Enganar minha dor
Mas a saudade não mente
Se é verdadeiro o amor.

Coimbra tem mais encanto
Na hora da despedida.
Coimbra tem mais encanto
Na hora da despedida.

Não me tentes enganar
Com a tua formosura
Que para além do luar
Há sempre uma noite escura.

Coimbra tem mais encanto
Na hora da despedida.
Coimbra tem mais encanto
Na hora da despedida.

Que as lágrimas do meu pranto
São a luz que lhe dá vida.

Coimbra tem mais encanto
Na hora da despedida.
Coimbra tem mais encanto
Na hora da despedida.

Coimbra tem mais encanto
Na hora da despedida.
Coimbra tem mais encanto
Na hora da despedida.

Fonte: cortesia de
https://www.letras.mus.br/fernando-machado-soares/balada-da-despedida/
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Guiné 61/74 - P24355: Parabéns a você (2176): Mário Beja Santos, ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52 (Missirá e Bambadinca, 1968/70)

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Nota do editor

Último poste da série de 30 DE MAIO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24351: Parabéns a você (2175): Fernando Andrade Sousa, ex-1.º Cabo Aux Enf da CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71) e Joaquim Pinto Carvalho, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 3398 / BCAÇ 3852 e CCAÇ 6 (Buba e Bedanda, 1971/73)

terça-feira, 30 de maio de 2023

Guiné 61/74 - P24354: Em busca de... (321): Rui António Gomes Figueiredo, ex-Fur Mil Sapador de Infantaria do BCAÇ 2929 (Guiné, 1970/72)


1. Mensagem de Carla Cardoso, filha de Carlos Cardoso, 1.º Cabo Radiotelegrafista n.º 01398770, BCAÇ 2929, com data de 27 de Maio de 2023:

Ao cuidado dos editores da Tabanca Grande,

Bom dia
Escrevo esta mensagem em nome dos elementos do BCAÇ 2929. Os camaradas procuram um dos seus, e ficávamos muito agradecidos se pudessem publicar a mensagem seguinte e a foto anexada, já que o vosso blog é bastante conhecido entre os antigos combatentes.

O Batalhão de Caçadores 2929 (Guiné 70-72) procura o Furriel Miliciano Sapador de Infantaria n.º 08228969, Rui António Gomes Figueiredo (visto aqui na foto em pé).
Residia na Covilhã.

Agradecemos se puderem compartilhar. Link do grupo: https://www.facebook.com/groups/bcac2929
Contacto:
José Dias da Cunha: mail - zequimcunha@hotmail.com; telefone - 937 824 745

Obrigada.
Carla Cardoso
filha de Carlos Cardoso, 1.º Cabo Radiotelegrafista n.º 01398770, BCAÇ 2929

Reprodução da pág. 149 do Tomo II - Guiné - 7.º Volume - Fichas das Unidades, Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África - Publicação do Estado-Maior do Exército (CECA 1961-1974)
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Nota do editor

Último poste da série de 22 DE MAIO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24332: Em busca de... (320): Camaradas da CART 527 (Teixeira Pinto, Bachile, Calequisse, Cacheu, Pelundo, Jolmete e Caió, 1963/65), que se vão reunir no dia 27 (Nora do camarada Alfredo Ramos de Almeida, que lhe quer fazer uma surpresa; email: lidiamisa@gmail.com)

Guiné 61/74 - P24353: Convívios (962): CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1971/74): Coimbra, sede do núcleo local da Liga dos Combatentes, 27/5/2023: poucos mas bons, ao fim de 50 anos...


Coimbra > Claustros do antigo Colégio da Graça, hoje sede no núcleo local da Liga dos Combatentes, na Rua Sofia, 136  > 27 de maio de 2023 : 50.º convívio de confraternização da CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1971/74) (a chamada 2ª e 3ª geração de graduados e especialistas, de origem metropolitana) > Um grupo de "coralistas": da esquerda  para a direita, José Sobral, Jorge  Lalalande, Manuel Lino e e António Duarte... Os dois camaradas da ponta direita, na primeira e segunda fila, não lhes fixei o nome


Coimbra > Claustros do antigo Colégio da Graça, hoje sede no núcleo local da Liga dos Combatentes, na Rua Sofia, 136  > 27 de maio de 2023 : 50.º convívio de confraternização da CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1971/74) (a chamada 2ª e 3ª geração de graduados e especialistas, de origem metropolitana) > Outro grupo de "coralistas": da esquerda para a direita, o  Florindo Gonçalves Costa, o  Firmino Ribeiro, o António Santos e o António Bonito. (O António Santos é de Guimarães ou vive em Guimarães; o Costa veio de Lisboa; o Ribeiro vive no Porto; e o Bonito é de Montemor-O-Velho,)


Coimbra > Claustros do antigo Colégio da Graça, hoje sede no núcleo local da Liga dos Combatentes, na Rua Sofia, 136  > 27 de maio de 2023 : 50.º convívio de confraternização da CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1971/74) (a chamada 2ª e 3ª geração de graduados e especialistas, de origem metropolitana) > Mais outro grupo de "coralistas": da esquerda para a direita, o Jaime Pereira,  a Ermelinda Sobral, o José Sobral, o Jorge Lalande e o Ferreira


Coimbra > Claustros do antigo Colégio da Graça, hoje sede no núcleo local da Liga dos Combatentes, na Rua Sofia, 136  > 27 de maio de 2023 >  50.º convívio de confraternização da CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1971/74) (a chamada 2ª e 3ª geração de graduados e especialistas, de origem metropolitana) > Um grupo de "coralistas", cantando uma paródia de uma canção tradicional, que a Amália Rodrigues imortalizou ("Tiro-Liro-Liro") ("Cá em cima está o tiro-liro-liro, / cá em baixo está o tiro-liro-ló / Juntaram-se os dois à esquina /  A tocar a concertina, a dançar o solidó"), transformada em cantiga de escárnio e maldizer, em que os visados seriam o comando do BART 2917 (major art Anjos de Carvalho, conhecido como o "major negra", e o ten cor inf Polidoro Monteiro) que "infernalizou" a vida da CAÇ 12... Uma peça a juntar ao Cancioneiro de Bambadicna, ou melhor, ao Cancioneiro da Nossa Guerra... Julgo que a letra é do médico e coimbrão José Sobral

Vídeo (1' 14''). Alojado em Luís Graça > You Tube (2023)

 

Coimbra, claustros do antigo Colégio da Graça, hoje sede no núcleo local da Liga dos Combatentes > 27 de maio de 2023 : 50.º convívio de confraternização da CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1971/74) (a chamada 2ª e 3ª geração de graduados e especialistas, de origem metropolitana) > O ex-fur mil mecânico António Jorge Lalande e a dra, Odete Cardoso, esposa do Jaime Pereira, ex-alf mil at inf.


Coimbra, claustros do antigo Colégio da Graça, hoje sede no núcleo local da Liga dos Combatentes > 27 de maio de 2023 : 50.º convívio de confraternização da CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1971/74) (a chamada 2ª e 3ª geração de graduados e especialistas, de origem metropolitana) > O ex-fur mil at inf António Bonito, que pertenceu à CART 3494 e ao Pel Caç Nat 52 (Xime e Mato Cão, 1971/74): é natural de Momntemor-O-Velho. É membro da nossa Tabanca Grande e tem 15 referèncias no nosso blogue.


Coimbra, claustros do antigo Colégio da Graça, hoje sede no núcleo local da Liga dos Combatentes > 27 de maio de 2023 : 50.º convívio de confraternização da CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1971/74) > Os nossos "coralistas": de costas,  o José Sobral, ex-alf mil at inf (1971/72), hoje médico estomatologista; natural de e residente em Coimbra, e organizador do encontro; ao centro, o ex-fur mil art, Manuel Lino (vive em Lisboa).


Coimbra > Claustros do antigo Colégio da Graça, hoje sede no núcleo local da Liga dos Combatentes, Rua Sofia, 136  > 27 de maio de 2023  > 50.º convívio de confraternização da CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1971/74) > Um camarada de quem eu, infelizmente não fixei o nome: percebi que era natural de Cabeceiras de Basto, mas vivia cá mais para baixo, talvez Vila do Conde...


Coimbra > Claustros do antigo Colégio da Graça, hoje sede no núcleo local da Liga dos Combatentes, Rua Sofia, 136  > 27 de maio de 2023  > 50.º convívio de confraternização da CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1971/74) >  O Carlos Alberto M. Simões, ex-1º cabo cripto (1971/72), que foi substituir o "nosso" GG - Gabriel Gonçalves, "grande baladeiro", também conhecido pelo "Joselito de Portugal"... Chegou tarde a Bambadinca, em maio de 1971, para desespero do "Arcanjo Gabriel" que já estava completamente passado dos carretos... Vive em Telheiras, Lisboa, e trabalhou nos seguros, tal como o GG... Disse-me que nunca saiu do seu buraco, em Bambadinca... Mas talvez um louvor do comando do BART 2917...


Coimbra > Claustros do antigo Colégio da Graça, hoje sede no núcleo local da Liga dos Combatentes, Rua Sofia, 136  > 27 de maio de 2023  > 50.º convívio de confraternização da CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1971/74) >  O João M. Folgado, e a esposa... Ex-fur mil op especiais, foi o "periquito" do Humberto Reis... Ainda pus os dois em contacto, por telemóvel, na outra ponta de Coimbra, no restaurante "Saudade do Mondego" estava decorrer o encontro (**). O casal vive em Vila Nogueira de Azeitão, terra que também foi do Zeca Afonso.
 

Coimbra > Claustros do antigo Colégio da Graça, hoje sede no núcleo local da Liga dos Combatentes, Rua Sofia, 136  > 27 de maio de 2023  > 50.º convívio de confraternização da CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1971/74) >  O Firmino Ferreira, do Porto, e o António Santos (não fixei a terra onde vive)... Julgo que os dois eram furriéis milicianos.


Coimbra > Claustros do antigo Colégio da Graça, hoje sede no núcleo local da Liga dos Combatentes, Rua Sofia, 136  > 27 de maio de 2023  > 50.º convívio de confraternização da CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1971/74) >  O Jaime Pereira e o Ferreira, dois antigos alferes milicianos da CCAÇ 12, Bambadinca, 1971/72, vivendo o Ferrreira em Felgueiras, professor do ensino básico aposentado... O Jaime Pereira o comandnte do 4º Gr Comb, tendo rendido o António Rodrigues.


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2023). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. No passado sábado, 27 de maio, apanhei uma boleia do António Duarte (ex-fur mil, CART 3493 / BART 3873, Mansambo, 1971/72, e CCAÇ 12, Bambadinca e Xime, 1972/74), que teve a gentileza (e sobretudo um grande gesto de solidariedade e camaradagem, que eu registo com gratidão!)  de passar pela Lourinhã, e levar-me, pela A8 e depois A1,  até Coimbra, para participar no 50º almoço de confraternização do pessoal da CCAÇ 12 e demais subunidades que passaram por Bambadinca entre 1971 e 1974 (*).

Acompanhou-nos também o camarada Manuel Lino, meu vizinho (é da Merceana, Torres Vedras, e vive ao pé do estádio de Alvalade, Lisboa, nas costas da Escola Nacional de Saúde Pública, onde trabalhei quase 40 anso).

O Lino foi fur mil art, do 2º Pel Art (obus 10,5 cm) que estava no Xime (foi na prática o seu comandante durante a maior parte do tempo). Eram poucos mas bons, a avaliar pela alegria, a saudade, a boa disposição e a irreverência com que evocaram os tempos de Bambadinca (março de 1971/março de 1973) e do Xime  (março de 1973/agosto de 1974). 

Dos elementos que não pertenciam à CCaç 12, tive o grato de prazer de reencontrar e abraçar o António Bonito (Pel Caç Nat 52, 1972/74) ) e o Zé Luís Vacas de Carvalho (Pel Rec Daimler 2206, 1969/71). Tive de pena de não ter podido dar um salto ao restaurante "Saudade do Mondego" onde decorria o encontro dos "velhinhos" de Bambadinca (CCS/BCAÇ 2852, CCAÇ 2590/CCAÇ 12 e outras subunidades adidas) (**).

Voltaremos ainda a falar deste convívio (***). (LG)
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Notas do editor:

(*) vd. poste de 15 de maio de 2023 > Guiné 61/74 - P24315: Convívios (960): 50.º almoço de confraternização da CCAÇ 12, Pelotões Daimler e Pel Caç Nat, Bambadinca e Xime, 1971/74: Coimbra, Claustros do antigo Colégio da Graça, 27 de maio de 2023 (José Sobral e Jaime Pereira)

Guiné 61/74 - P24352: (In)citações (243): "Pequena REFLEXÃO sobre a obra de Arte", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)


Pequena REFLEXÃO sobre a obra de Arte

adão cruz

A obra de arte, seja qual for a forma de expressão, em nossa opinião deve procurar libertar-se, tanto quanto possível, do meramente sensorial, por mais figurativa que seja. A sua intrínseca e mágica natureza confere-lhe, fundamentalmente, um delicado papel de estímulo, mais ou menos poderoso, que pode levar a pessoa que a lê, que a ouve ou contempla, a libertar-se da escuridão e da hibernação, a desnudar-se, a revelar-se a si própria e a conhecer-se melhor. Quem vive uma obra de arte, poderosa expressão da essência humana, está constantemente a aprender uma experiência vivencial que não faz parte dos nossos padrões habituais de reflexão. E pode, se o estímulo e a sensibilidade tiverem a força necessária, permitir a sorte de nos alcandorar a instâncias onde reside um prazer único da fruição estética.

O sentimento artístico e o sentimento poético fazem parte da essência e do sumo da vida. Se ambos estes sentimentos existissem de forma construída e profunda dentro de nós, o mundo não seria tão cruel, a racionalidade não seria truncada, a verdade não seria mentida, a consciência não seria vendida e o Homem não seria caminho para a destruição.

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Nota do editor

Último poste da série de 28 DE MAIO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24348: (In)citações (243): "REFLEXÃO sobre a matéria e a vida", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)

Guiné 61/74 - P24351: Parabéns a você (2175): Fernando Andrade Sousa, ex-1.º Cabo Aux Enf da CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71) e Joaquim Pinto Carvalho, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 3398 / BCAÇ 3852 e CCAÇ 6 (Buba e Bedanda, 1971/73)


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Nota do editor

Último poste da série de 28 de Maio de 2023 > Guiné 61/74 - P24347: Parabéns a você (2174): António Acílio Azevedo, ex-Cap Mil, CMDT da 1.ª CCAV/BCAV 8320/72 e CCAÇ 17 (Bula e Binar, 1973/74)

segunda-feira, 29 de maio de 2023

Guiné 61/74 - P24350: Notas de leitura (1586): Entre o melhor da literatura de viagens do século XV (1): As viagens na África Negra de Luís de Cadamosto (1455-1456) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 20 de Outubro de 2020:

Queridos amigos,
São duas belas traduções, acrescendo que a edição francesa, da categorizada Chandeigne, que tanto prestigia a cultura portuguesa vem acompanhada de comentários e notas de grande mérito, tornam ainda mais esclarecedoras as narrativas deste jovem veneziano que foi seduzido pela proposta do infante D. Henrique de ir até ao Senegal e à Gâmbia, acabará por fazer duas expedições, e sendo ainda assunto de grande polémica acabou por descobrir algumas das ilhas de Cabo Verde. Importa insistir que ele não era cronista, daí o colorido do seu estilo e a completa liberdade de expressão, que iremos depois ver nos seus diálogos com o rei Budomel e o seu neto. Poucas obras do século XV podem ombrear com Cadamosto, ele viajará até ao Casamansa e ao Rio Grande, irá mesmo descrever o fenómeno do macaréu. É um autor inesquecível, tenho grande satisfação em trazê-lo aqui numa revisitação.

Um abraço do
Mário



Entre o melhor da literatura de viagens do século XV (1):
As viagens na África Negra de Luís de Cadamosto (1455-1456)


Mário Beja Santos

Não é a primeira vez que o nome de Luís de Cadamosto é aqui referenciado, mas o facto de se ter encontrado uma tradução de 1944, do Instituto para a Alta Cultura e edição francesa de 1994, Edições UNESCO e Edições Chandeigne, obviamente com a riqueza de um tradutor italiano, por um lado e edição francesa cheia de pormenores, por outro, tudo concorre para voltarmos à fala com este jovem patrício veneziano que em 1455, no decurso de uma escala involuntária no Sul de Portugal, se deixou convencer pelo Infante D. Henrique para uma viagem a África. O que mais nos toca nestas narrativas é que o olhar de Cadamosto não é de um cronista oficial, ele era um mercador sem preconceitos, um jovem homem cheio de curiosidades a quem repugnava a efabulação, revela-se dotado de uma surpreendente abertura de espírito. A prova disso são os seus testemunhos: a descrição de paisagens e peripécias da navegação alterna com as da vida quotidiana dos berberes azenegues e os negros da Guiné, o que vai conferir à narrativa um grande interesse etnológico. Os seus diálogos com o rei Budomel e o seu neto Bisboror ficaram célebres do seu bom humor e da sua vivacidade. E importa não esquecer que as viagens de Cadamosto estão na primeira linha dos testemunhos ocidentais da África Negra.

Abre a descrição da primeira viagem com uma certa eloquência: “Fui eu, Luís de Cadamosto, o primeiro que saí da mui nobre cidade de Veneza para navegar o mar Oceano, fora do estreito de Gibraltar para as partes do meio-dia, nas terras dos negros da baixa da Etiópia”. Assume que vai falar de um outro mundo. Apresenta-nos o Infante D. Henrique e as explorações náuticas a que se dedicava, elogia as caravelas, não esconde que queria trabalhar para adquirir meios e situa o encontro com o Infante: “Embarquei nas nossas galés de Flandres, saímos de Veneza em 1454, navegámos por nossas jornadas até que nos encontrámos na Península Hispânica. E encontrando-me, pelo tempo contrário, no Cabo de S. Vicente, deu-se o caso de não muito longe dele estar o referido senhor Infante D. Henrique numa povoação vizinha chamada Raposeira”.

O Infante convoca-o, quem o procura leva amostras de açúcares da ilha da Madeira e de sangue de drago. Ocorre o encontro, o infante faz-lhe a proposta de partir à procura de novos mundos, apraza-se um contrato, arma-se uma caravela nova, era patrão um Vicente Dias, natural de Lagos, em 22 de março de 1455 rumam para a Madeira, passam por Porto Santo pois a ilha da Madeira onde ele descreve as coisas que aqui se produzem. Partem da Madeira para as ilhas Canárias, outra descrição preciosa e depois navegam para o Sul, como ele escreve na direção da Etiópia, chegam a Arguim, fala no deserto do Sara e diz: “É muito grande, a travessia demora 50 a 60 dias a cavalo. Este deserto vem beber no mar Oceano, na costa, que é toda arenosa, branca e seca; é terra baixa, toda igual e não mostra ser mais alta num lugar que no outro, até ao Cabo Branco”. Aproveita para falar dos peixes e de povoações por onde passam as caravanas que vêm de Tombuctu, quanto a quem ali vive eram maometanos que vagueiam pelos desertos e são homens que vão às terras dos negros. “São em grande número e têm grande abundância de camelos, nos quais levam o cobre e a prata da Berberia e outras coisas para Tombuctu e para as terras dos negros, e daí trazem oiro e malagueta que trazem para cá. São homens pardos, e vestem umas túnicas brancas sobre o corpo. Os homens trazem um lenço à mourisca na cabeça e andam sempre descalços”.

Cadamosto refere as operações da feitoria de Arguim, fala nos Azenegues que trata como homens mulatos e que habitam em alguns lugares da costa que fica para além do Cabo Branco. Ele refere o império Melli, seguramente o império Mali, dizendo que há muito calor, que não há no dito país animais quadrúpedes e que os Árabes e Azenegues adoecem e morrem devido ao grande calor. O sal era a mercadoria mais apreciada e descreve com enorme vivacidade os termos de um comércio mudo, os mercadores não se viam uns aos outros. “Visto o sal, põem uma quantidade de oiro na frente de cada monte e voltam para trás, deixando o oiro e o sal, e retiram-se. Voltam os negros do sal, e se a quantidade de oiro lhes não agrada, deixam o dito oiro com o sal, e voltam para trás, após o que vêm os outros negros do oiro, e levam o monte que encontram sem oiro; e aos outros montes de sal tornam a pôr mais oiro, se lhes parece, ou deixam o sal. E deste modo fazem o seu comércio sem se verem uns aos outros, nem falar-se, por um longo e antigo costume”.

Cadamosto quer saber mais sobre as gentes do império do Mali, outra descrição curiosa. Voltando aos Azenegues (pardos ou mauritanos), dá pormenores: “Nesta terra dos pardos não se bate moeda alguma, todo o comércio deles é trocar coisa por coisa, e duas por uma, e desta maneira vivem”. E assim chegamos à descrição do rio de Senegal, pensa-se que era o Níger, já tinham passado o Cabo Branco e assim chegaram à terra dos negros: “Cinco anos antes que eu fizesse esta viagem, este rio foi descoberto por três caravelas do dito Infante que entraram dentro dele, e fizeram paz com estes negros, de maneira que começaram a fazer comércio”. E prova da muita ignorância que ainda havia quanto à cartografia, veja-se o que ele escreve sobre o rio de Senegal: “Este rio, segundo dizem os sábios, é um ramo do rio Gion que vem do Paraíso Terreal, ramo que foi pelos antigos chamado Níger, e vai banhando toda a Etiópia e a aproximando-se ao mar Oceano, onde desagua e faz muitos outros braços e rios, além deste de Senegal. Outro ramo do dito Gion é o Nilo, que passa pelo Egito e desemboca no nosso mar Mediterrâneo. Esta é a opinião daqueles que têm dado a volta ao mundo”.

Chegou à terra dos Jalofos, conta como se elegem os reis do Senegal e como se vive:
“Este rei é semelhante ao dos Cristãos, porque o seu reino é de gente selvagem e pobríssima, e não há cidade alguma murada, senão aldeias com casas de palha, pois não as sabem fazer de paredes, por não terem cal nem pedras para as construir. O rei não tem rendimento certo de tributos, mas todos os anos os senhores da terra, para que se dê bem com eles, lhe fazem presentes de alguns cavalos, que são muito apreciados por haver falta deles, e fornecimentos de cavalos, e outros animais, como vacas e cabras, legumes, milho e coisas semelhantes. Mantém-se este rei também de roubos, que manda fazer a muitos escravos, quer no país, quer no dos vizinhos. Desses escravos se vale por muitos modos, sobretudo em cultivar certas possessões que lhe são reservadas e também vende muitos deles aos azenegues e mercadores árabes que aí chegam com cavalos e mais coisas; e vende outros também aos cristãos, depois que eles começaram a negociar mercadorias naqueles países”.

Diz que a religião destes negros é a maumetana, mas não estão muito firmes na fé. E dá-nos um texto vivacíssimo quanto a trajes e costumes dos negros: “Esta gente quase toda anda sempre nua, exceto um coiro de cabra posto em forma de braga, com que cobrem as suas vergonhas. Mas os senhores e os que podem um pouco vestem camisas de algodão, porque naqueles países nascem algodoeiros. As mulheres fiam e fazem panos de um palmo de largura, e não sabem fazê-los mais largos porque não sabem fazer os pentes para os tecer, de forma que cozem juntos quatro ou cinco daqueles panos de algodão, quando querem fazer algum trabalho largo”. Observa a natureza das guerras e do armamento usado, guerra entre vizinhos, não trazem couraças, só têm escudos redondos e largos, usam azagaias que são dardos ligeiros, dardos que têm um palmo de ferro lavrado com barbas miúdas e usam também alfanges mouriscos que fazem com o ferro da Gâmbia. “As guerras deles são muitíssimo mortíferas, por estarem desarmados; os seus golpes não falham, e matam-se tanto como feras, e são muito atrevidos e bestiais, pois que em qualquer perigo antes se deixam matar do que fugir, ainda que possam fazê-lo”.

E passa o rio Senegal e chega ao país do Budomel.

(continua)
Guerreiro guineense, gravura de Balthazar Springer, 1509
Mulher guineense e filhos, também gravura de Balthazar Springer, 1509
Guinéus, também gravura de Balthazar Springer, 1509
Carta da África Ocidental (pormenor), Paris, 1667
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Nota do editor

Último poste da série de 26 DE MAIO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24343: Notas de leitura (1585): "Os Manuscritos de R.", por Jaime Froufe Andrade, segunda edição de Novembro de 2019, um monumento literário aos antigos combatentes que Portugal esqueceu (Mário Beja Santos)