quarta-feira, 1 de março de 2006

Guiné 63/74 - P578: A história do Cancioneiro de Canjadude (José Martins)

Guiné > Canjadude > O gato preto José Martins (em 1968 ou 1969)
© José Martins (2006)


Texto do José Martins (ex-furriel miliciano de transmissões da CCAÇ 5, Canjadude, 1968/70), com a seguinte nota: 

" Aqui vai mais um modesto contributo acerca do Cancioneiro de Canjadude. Em breve espero pôr NO AR a versão áudio.

Um abraço".


No blogue, com a data de 28 de Fevereiro de 2006, encontram-se composições que foram elaboradas a partir de músicas em voga nos finais da década de sessenta do pretérito século XX, e que tiveram como nome genérico o título acima.

Das seis apresentadas, não sei se existem mais e que ainda estão para ser divulgadas, todas elas têm uma estória subjacente, a saber:

HINO DOS GATOS PRETOS

A CCAÇ 5, com sede, comando e um grupo de combate em NOVA LAMEGO, tinha à sua responsabilidade os destacamentos de CANJADUDE, CHECHE e CABUCA

Em Agosto de 1968 o comando foi transferido para Canjadude, tendo sido reforçado pela CART 2338.

Em 6 de Fevereiro de 1969 com a retirada das tropas de Madina do Boé, o seu grupo de combate instalado no Cheche, veio para Canjadude, onde se lhe reuniu o grupo de combate estacionado em Cabuca e rendido por uma companhia metropolitana.

A CART 2338 retirou-se para Nova Lamego em Março de 1969.

Ficaram, assim, os Gatos Pretos com o destacamento mais avançado desde “o Gabú (Nova Lamego) ao Boé…”.

Esta foi a base que serviu de mote ao HINO, acrescentando que na versão original o refrão começa DESDE QUE ESTAMOS TODOS JUNTOS …

BINÓCULOS DE GUERRA
Canção muito em voga na metrópole a que bastou um pouco de imaginação para se transformar e que a rádio da Guiné também passava com frequência

Esta é contemporânea do HINO.

Guiné > Gabu (Nova Lamego) > Canjadude > 1973 > CCAÇ 5 (Gatos Pretos) >

Interior do Clube de Oficiais e Sargentos de Canjadude (o furriel miliciano Carvalho é o 2º a contar da direita... No mural, na pintura na parede, pode ler-se: [gato] preto agarra à mão grrr.... Percebe-se que estamos no Rio Corubal com o campo fortificado de Cheche do lado de cá (margem direita) e... a mítica Madina do Boé, do lado de lá (margem esquerda)... Em 24 de Setembro de 1973, em Madina do Boé, o PAIGC proclama a independência da nova República da Guiné-Bissau.

© João Carvalho (2005)


HINO DA VELHICE

Nasceu duma frase muito usada pelo Furriel Miliciano Carvalho, que sistematicamente gritava

EU NÃO ESTOU MALUCO!
TIREM-ME DAQUI1

Da frase ao HINO DA VELHICE, foi apenas escrever a letra adaptada ao Puppet on the string.

BALADA DE CANJADUDE

Nasceu depois de realizada a Operação LUTA realizada em 16 e 17 de Maio de 1969. Esta operação, em que participei, tinha por missão detectar e neutralizar as forças IN que se encontravam a norte do Rio Corubal, onde seria largada uma vaga de paraquedistas heli-transportados.

A guarnição do destacamento ficou a cargo de uma companhia de periquitos, dado que a CCAÇ 5 se devia apresentar com a máxima força.

Trocadas as voltas, o quartel foi atacado, os piras baptizados, e o resultado estava à vista quando regressamos.

O tuga sabe transformar e dar a volta por cima e ainda não esqueceu que, muito atrás no tempo, as notícias também corriam mundo em forma de canção e/ou poema.

FADO DA EMBOSCADA
Este fado, com música do Embouçado, faz referência à Operação LACOSTE, que foi uma patrulha de combate ocorrida em 27 e 28 de Junho de 1969, que tendo partido de Canjadude passou por Sare Andebe, Ponto Cota 70, BURMELEU, Samba Gano e regresso a Canjadude.

Houve contacto com o IN no final do dia 27, quando a patrulha se preparava montar a emboscada, foi detectado, na zona de Burmeleu, um grupo que nos atacou e ao qual foi iniciada a perseguição. No terreno ficaram armas e munições. Após o recontro retiramos para o Ponto Cota 70, que nos garantia protecção nocturna.

Durante a noite assistimos à passagem de guerrilheiros, que no dia seguinte, ao voltar a passar pela zona de BURMELEU, tínhamos “festa rija” á nossa espera.

GATO PIRA

Esta canção não fazia parte das minhas lembranças, até que a vi publicada no numero 7 do jornal GATO PRETO, editado em Abril de 1972, e que faz parte de uma colecção de 16 (?) números, que se encontram depositados na biblioteca do Estado Maior do Exército.

OUTROS SÍMBOLOS

A CCAÇ 5 tinha outros símbolos criados em 1968/69, [no meu tempo]:

- O Guião, que inicialmente não tinha a inscrição GATOS PRETOS;

- O ex-libris que, igual ao guião, era usado sobre o bolso esquerdo da camisa ou
dólmen;

- Guiões triangulares, de cores várias, para cada um grupo de combate e para o comando e serviços;

- O lenço preto, tipo cachecol, usado por debaixo do colarinho da camisa

- Cinzeiro, quase plano, de cor vermelha com um gato preto

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