terça-feira, 12 de dezembro de 2006

Guiné 63/74 - P1363: Questões politicamente (in)correctas (13): Combatentes e desertores não cabem no mesmo saco (Amaral Bernardo)

1. Mensagem enviada pelo nosso camarada Amaral Bernardo, ex-Alf Mil Médico do BCAÇ 2930, com data de 15 de Novembro de 2006:

Luís Graça (permita-me que o trate assim):

Sou ex-Alf Mil Médico na Guiné, Dezembro de 1970/Outubro de 1972, Catió, Cacine, Guileje, Gadamael, Bedanda (11 meses), Tite e Jabadá, Bolama (20 dias para descacimbar).

Sigo com atenção ... e emoção, diariamente, este bolgue.

Hoje de manhã ao abrir o correio, foi o choque e a dúvida. A minha pergunta é: neste blogue os desertores (o termo é vosso) são considerados ex-combatentes por quem esteve na guerra? Este não é um local de ex-combatentes ? (1)

Respeito todas as opções e todas as pessoas. Mas penso que os grupos são distintos e não têm lugar no mesmo saco. Penso ainda que não deveria ser um lugar de branqueamento de posturas. Perdoe, mas é a minha opinão. E vale só isso.

Um abraço
amaral bernardo

P.S. - Claro que o Medeiros Ferreira não tem culpa nenhuma disto. Fez uma opção que eu respeito, repito.

2. Comentário do editor do blogue:

Meu caro Professor Doutor Amaral Bernardo: Não tenho o prazer de o conhecer pessoalmente, mas já descobri que temos várias coisas em comum, nomeadamente, o facto de sermos professores universitários, estarmos ligados à saúde e termos sido combatentes na Guiné, sensivelmente na mesma altura, você, entre 1970/72, e eu entre 1969/71...

O nome do Medeiros Ferreira apareceu no nosso blogue, evocado pelo Raul Albino, seu camarada da CCAÇ 2402. O Raul seguiu para a Guiné, o Medeiros Ferreira desertou na véspera do embarque (2)... O termo não é do Raul Albino, foi usado por mim em nota de pé de página... Objectiva e legalmente, a figura é a do desertor, sem qualquer juízo político, ideológico, moral ou ético.

O Raul Albino, que por razões de preparação logística seguiu em primeiro lugar para a Guiné duas ou três semanas antes, constatou apenas que à chegada da CCAÇ 2402 a Bissau, havia duas baixas de vulto no quadro de oficiais (sic): o Beja Santos e o Medeiros Ferreira (que hoje são, ambos, figuras públicas, sendo o primeiro membro da nossa tertúlia e colaborador activo do nosso blogue, tal como o Raul Albino).

Não há, por parte do Raul Albino ou do editor do blogue, nada que indicie ou sugira a condenação ou a glorificação da figura do desertor... Este blogue é de amigos e camaradas da Guiné... As regras de inclusão e de exclusão não estão definidas de uma vez por todas... Estamos abertos, por exemplo, a acolher, na nossa tertúlia, os homens e as mulheres que nos combateram, até 1974, sob a bandeira do PAIGC... Sem dúvida, que este é um blogue sobretudo dos ex-combatentes da guerra da Guiné, mas interessam-nos também os pontos de vista, as experiências, os testemunhos, de todos aqueles que directa ou indirectamente trilharam os caminhos da guerra e da paz...

Eu sei que a palavra desertor ainda hoje tem uma certa carga emocional para muitos de nós que fomos mobilizados para o ultramar... Eu sei que esta pode ser mais uma questão fracturante no nosso blogue, mas não devemos ter medo de a evocar e de a discutir...

Dito isto, registo, sem mais comentários, a opinião do Amaral Bernardo e aproveito o ensejo para o convidar a participar, mais regular e activamente, no nosso blogue. Espero, no minímo, que continue a seguir-nos diariamente, com a mesma atenção e emoção com que o tem feito até aqui.

Saudações do L.G.
__________

Notas de L.G.:

(1) José Maria Ferreira do Amaral Bernardo é Professor Catedrático Convidado no ICBAS - Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar. Responsável do Departamento de Ensino Pré Graduado do HGSA - Hospital Geral de Santo António, Porto.

(2) Vd. post de 15 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1282: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (1): duas baixas de vulto, Beja Santos e Medeiros Ferreira

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