Foto: Sítio da 4ª Companhia de Caçadores Especiais (Angola, 1960/62) (com a devida vénia...)
Texto do Pedro Lauret, com data de 5 de Novembro de 2006:
Caro Luís,
Seguem algumas notas sobre o colóquio no ISCTE (1). Ontem não me foi possível estar presente pelo que a minha apreciação se refere apenas a 6ª feira [3 de Novembro de 2006].
Sem querer por em causa quer a qualidade quer o interesse das diversas comunicações gostaria de referir que, à excepção da intervenção do coronel Aniceto Afonso (2), todas as outras abordaram temas laterais à guerra e às forças armadas. Não que os temas não fossem conexos, mas na minha modesta opinião não enquadraram suficientemante o propósito do encontro 30 anos de fim do Império. Guerra, Revolução, Descolonização. Não é possível tratar aquelas matérias sem desenvolver os temas directamente ligados à Guerra Colonial e às Forças Armadas. O 25 de Abril e a Descolonização não são entendíveis sem ser à sua luz.
Tem-se verificado muito pouco interesse dos nossos historiadores na investigação do mais importante acontecimento da segunda metade do século XX, a Guerra Colonial. Os nossos arquivos, incluindo os militares, estão disponíveis à investigação e existe uma disponibilidade imensa de testemunhos de ex-combatentes, o que torna mais inexplicável este desinteresse.
O Aniceto Afonso (2) disponibilizou uma série de dados referentes à guerra, que vou fazer chegar à tertúlia.
Estes comentários não se reportam, obviamente, aos palestrantes da Guiné e Angola.
A comunicação do nosso companheiro Leopoldo Amado, de grande interesse, descreveu a luta do PAIGC com base na actividade e personalidade de Amílcar Cabral. As diversas etapas da luta, os apoios internacionais, a criação de estruturas de administração nas áreas libertadas, a evolução da situação militar, foram temáticas muito bem desenvolvidas. Como seria bom que pudessemos ir fazendo uma História da Guerra Colonial em paralelo com as Histórias das Guerras de Libertação.
João Milando fez uma intervenção muito interessante sobre as mudanças e não mudanças que se operaram em Angola. O que mudou e não mudou entre o Colonialismo e a Independência. Que roturas e que continuidades. Uma abordagem diferente em que ficamos cientes da complexidade dos fenómenos em presença e sobretudo que a continuidade prevalece sobre a rotura.
Um abraço
Pedro Lauret
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Notas de L.G.:
(1) Vd. post de 5 de Novembro de 2006 > 5 de Novembro de 2006> Guiné 63/74 - P1250: Os amigos são mesmo para as ocasiões, Leopoldo Amado!
(2) Aniceto Afonso, director do Arquivo Histórico-Militar, cargo que vai em breve deixar, com muita pena e apreensão por parte de todos aqueles que se interessam pela historiografia da guerra colonial e que admiram o trabalho daquele investigador.
Vd. blogue de Luís Alves de Fraga, Fio de Prumo > 29 de Outubro de 2006 > É tempo de homenagear
(...) Nas duas semanas que estive ausente do Fio de Prumo recebi muitos e-mails e chamadas telefónicas de camaradas de armas e de gente da cultura — em especial ligados à História — manifestando-me a justiça de se prestar uma homenagem pública ao Aniceto Afonso, agora que completa 65 anos de idade e abandona as funções que, com tanto brilho e empenho, tem vindo a exercer no Arquivo Histórico Militar, nos últimos catorze. Todos me dizem: — Lança a ideia no teu blog... Verás que tens aderentes. O Aniceto Afonso, como Homem de cultura e principalmente como cidadão e militar, é das raras figuras que merecem não ser esquecidas — como se eu não soubesse isso muito bem! — Não deixes passar a oportunidade.
Tenho meditado muito sobre o assunto.
"O Aniceto Afonso foi um de nós — os da geração militar do 25 de Abril — que muito tem trabalhado para, neste futuro que já vivemos, a memória dos melhores anos da nossa juventude não ser perdida nem vilipendiada por todos os que não respeitam — especialmente por ignorância — os esforços de quem lhes trouxe a paz, a democracia e as condições para Portugal merecer, como nação velha neste Velho Continente, o apreço e a admiração do mundo inteiro. Aniceto Afonso, escondido na sua natural modéstia — que não faz dele um Homem menos interventor, mas o posiciona na penumbra onde se resguardam os grandes espíritos — merece que nos juntemos à sua volta e que lhe digamos, olhos nos olhos, com a frontalidade que caracteriza quem não teme juízos malévolos, lhe digamos o quanto o estimamos e o quanto esperamos que continue a fazer excelente trabalho em prol da História recente deste martirizado Povo por séculos de sacrifícios, pois, correndo o risco de me repetir, como afirmava Alguém com justo atino, em Portugal ou se nasce por karma ou por missão.
"Fica aqui a minha parte no cumprimento das solicitações que me têm chegado; fica o apelo a todos — militares e civis, intelectuais ou meros cidadãos que se revêem na História recente de Portugal — para avançarmos para a homenagem pública ao Tenente-Coronel Aniceto Afonso, Homem de férrea vontade e indomável perseverança, Homem de uma coragem moral muito para além do comum, Homem que, avesso à luz da ribalta, com a generosidade do seu imenso coração, me vai perdoar o que lhe estou a fazer sem seu consentimento nem conhecimento.
"Aqui fica a ideia, cabe a todos nós dar-lhe corpo" (...).
Vd também post de 15 de Outubro de 2006 > A nossa História Militar: uma obra e um Amigo
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