sábado, 13 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7278: Estórias avulsas (99): Flora e Fauna de Galomaro (António Tavares)

FLORA E FAUNA DE GALOMARO

Galomaro > Maio de 1970 > Vista aérea


1. Mensagem de António Tavares* (ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72), com data de 11 de Novembro de 2010:

Caro Carlos Vinhal,
Dentro do arame farpado de Galomaro houve colegas que tentaram fazer uma horta (semente que caísse à terra, bem trabalhada, germinava em pouco tempo), mas a bicharada tudo comia e nenhuma planta vingava apesar dos esforços de quem inclusive recebia sementes da Metrópole. Experiências não faltaram… só vingou mesmo uma alface… o nosso camarada de Évora, Joaquim J.P. Alface, que nos acompanhou de 01-05-1970 a 23-03-1972.

A fauna da CCS/BCAÇ 2912 tinha um Carneiro, um Pinto e dois Coelhos, sendo um bravo e outro manso, porém as matas do leste da Guiné - Galomaro - eram ricas em coelhos (verdadeiros) selvagens.

Os nossos camaradas, cada um com o seu estilo, não se importavam nada de assim serem tratados e todos os conheciam pelas alcunhas, que nada tinham de depreciativo mas sim de pura camaradagem de combatentes que foram obrigados a uma guerra de guerrilha, na Guiné.

Em 29-05-2004, na Curia, XI Convívio co-organizado pelo “Coelho Manso”, o Belarmino Coelho, que faleceu em 2009, assinou: “Coelho Bravo” no meu livro de recordações.

Paz à sua alma e à de todos os ex-colegas combatentes falecidos.

Na noite de 15-08-1970 foram apanhadas 14 lebres, a maior caçada de sempre. Durante umas refeições os Oficiais e Sargentos comeram bem em Galomaro.

O 2.º Sargento H. Nobre, Mecânico Auto do BCAÇ 2912, saía ao anoitecer de Unimog com 2 ou 3 homens e regressavam pouco tempo após a saída, porque era presa fácil toda a lebre que aparecesse à frente… as necessidades assim obrigava a estes disparates de caçadas nocturnas.

Um coelho ou lebre custava 10$00 Pesos… um frango, pouco maior do que um pintainho, tinha o preço de 20$00 Pesos… só com a intervenção dos chefes das Tabancas previamente presenteados conseguíamos comprar os frangos.

Também praticavam e conheciam a Lei da Oferta e da Procura!

O coelho é um dos signos da astrologia chinesa e fazia jus à condição de animal reprodutor naquela zona do leste da Guiné.

Com toda a certeza que não dava o nome às “coelhinhas” da Playboy, nem era o coelhinho da pilha que dura… dura…, nem o símbolo da Páscoa para uma População - Fulas - Islâmica que praticava o feiticismo nos anos setenta do século passado.

Outras Terras… outras Culturas.

A título de curiosidade refiro que os dentes dos coelhos crescem à medida que são limados pelo uso.

Um abraço,
António Tavares
Fur Mil SAM
Foz do Douro, 11-11-2010
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 9 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6355: Convívios (149): XVII Convívio da CCS do BCAÇ 2912, no dia 5 de Junho, em Pedrógão Grande (António Tavares)

Vd. último poste da série de 30 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7193: Estórias avulsas (98): Memórias de uma noite terrível em Canquelifá – 1971 (Francisco Palma)

2 comentários:

Unknown disse...

Obrigado Tavares pelo teu Post.
Por dois motivos, um pelo conteuodo sociológico que ele contém, na vivência dos militares entre si, e entre estes e as populações. Embora muito sucinto e merecia ser mais desenvolvido, penso que tens sensibilidade para o fazer.
Finalmente pela oportunidade que me deste através da foto aérea, de passear por aquele sitio, Galomaro, apezar de não "alcançar com a vista" outros destinos em que procurava outros encontros, para compreender melhor aquela guerra, depois de andar tres e mais km a pé e só o mato me assustava um pouco.

Alguém me escrevia em um coments, que eu não manifestava protagonismo. Mas porque o raio da foto mexeu comigo, transgredi nesta postura pessoal.

Um abraço especial para ti neste momento e tambem para todos.

Carlos Filipe
ex CCS BCAÇ3872 Galomaro

Juvenal Amado disse...

Caro Tavares

Bela foto de Galomaro.
Todos os riscos à saída da porta de armas nos levavam a destinos sobejamente meus conhecidos.
Uma pergunta. No bico direito ainda não está o abrigo do obus fingido com que vocês enganaram a piriquitagem. (Nós).
Mas havia um paiol ou estarei enganado?


Gostava de ter esta foto.

Um abraço

Juvenal Amado