terça-feira, 29 de novembro de 2011

Guiné 63/74 - P9110: Se bem me lembro... O bau de memórias do Zé Ferraz (9): E aqui estou eu hoje vivo...

1. Texto do Zé Ferraz, português radicado nos EUA desde 1970 (vive atualmente em Austin, Texas), ex-Fur Mil Op Esp, CART 1746, Xime, 1969; CCS/QG, Bissau, 1969/70):   

Este Baú parece que não tem fundo... Outra memória suscitada por um comentário anterior [ respeitante à Op Lança Afiada, em que a CART 1746 foi comandada pelo Cap Neto na ausência do Cap Vaz] (*)...

Numa dessa operações de inflitração em território inimigo,  [ no subsector do Xime,] com o propósito de destruição dos seus meios de vida, entrámos por uma tabanca em que as cubatas eram de paredes redondas com um poste central que suportava o tecto, e à volta do qual havia uma parede cilíndrica que formava um silo para a bianda [, arroz]...

Descubri que,  se deitasse um granada para dentro desse silo quando explodia rebentava com o poste mestre do tecto e o peso deste,  sem suporte, arrazava a cubata. Tinha assim destruído várias cubatas, usando granadas ofensivas.

Entro nesta para fazer o mesmo e dei-me conta que só tinha granadas defensivas. Por outra parte,  do meu treino em Lamego [ no curso de operações especiais], estava bem vinculado  na minha cabeça o aviso "No caias em rotina, a rotina mata".

Ora uma explicação: o manual diz "ponha a granada na mão com a alavanca contra a chave da mão,  puxe o pino [ cavilha,] e lance a granada"... Nunca usei essa forma: agarrava na granada contra a palma da mão e a alavanca com os dedos,  puxava o pino e lançava-a então; desta forma atirava com muito mellhor direcção e efeito de foiçada.

Nessa particular altura decidi lançar essa granada defensiva como dizia o manual de instrução... Agarro na granada,  puxo o pino [ cavilha,] e,  quando abri a mão para a soltar dentro do silo,  a força da mola da alavanca contra a palma da mão fez com que a granada em vez de entrar no silo fosse bater contra a parede e cair-me aos pés...

Dizem que frente à morte [o filme da] nossa vida instantaneamente passa pela mente ... Recordo-me,  com plena claridade,  desse momento...3 segundos e morte!...

Voei,  aterrei fora de porta e, bumba,  explode a granada, e eu aqui estou hoje,  vivo!...

Acredito em milagres... Nunca falei disto com ninguém. Nesse dia nasci outra vez e nasci outra vez quando ingressei,  em 1991,  na mais antiga faternidade de homens de pensamento livre.

Um forte abraço. Zé
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Nota do editor:

Último poste da série >Guiné 63/74 - P9106: Se bem me lembro... O baú de memórias do Zé Ferraz (8): O meu colega do Liceu do Oeiras que fui encontrar em Mansambo e em Bambadinca...

4 comentários:

Henrique Cerqueira disse...

Caro Ferraz
Tenho lido os teus textos e este ultimo não foge à regra do meu pensamento quanto ao que tens retirado do teu "baú de memórias".
Quero pensar que nesse teu "baú"deve haver algumas boas memórias.
Nota bem que neste texto terminas escrevendo o seguinte:( ...ingressei em 1991,na mais antiga fraternidade de homens de pensamento livre...)Ora como penso estar integrado nessa Fraternidade ,tomei a liberdade de comentar alguns dos teus artigos "de baú"
Um abraço fraterno
Henrique Cerqueira

jdeferraz disse...

Caro Cerqueira:
Muito Obrigado pelas tuas palavras, desde que pedi para ingressar na Fraternidade e atraves das minhas viajems pelo mundo (136 paises) tenho encontrado sempre irmaos faternais de todos as racas e religioes, o facto de nos identificarmos ums com outros trancende tudo que antes dessa identificao podiaria trazer para esse encontro esta realidade por si so e uma potente demontracao do nosso entendimento faternal oxala assim fosse toda a humanidade....
Um abraco faternal-Ze:.

antonio graça de abreu disse...

Essa Fraternidade é a Maçonaria?

Abraço,

António Graça de Abreu

jdeferraz disse...

Para O Graca de Abreu:
Para seres tens que pedir....
Um abarco-ZE:.