Camarada Luís
Venho pedir com humildade que me aceitem para fazer parte do vosso blogue pois ando há cerca de dois anos a lê-lo e nunca tive coragem para me alistar neste batalhão.
Hoje, depois de ler o comunicado do dia 1 de abril fiz um comentário ao mesmo. Tinha quase a certeza de que era mentira mas mesmo assim fi-lo. Agora que fui descoberto pelos amigos,
Camarada Luís, não cumpro com todos os requisitos para poder ingressar no blogue porque de momento não tenho scaner para poder mandar as fotos, mas prometo que no mais breve espaço de tempo cumprirei a dívida e para que não haja dúvidas a meu respeito aqui vai a minha identificação e alguns pormenores das minhas férias na Guiné.
Sou António Augusto Vieira de Melo, ex-1.º Cabo Rec Inf
Pertenci ao BCAÇ 2930 e estive em Catió.
Fui de rendição individual substituir o 1.º Cabo Coelho que foi apanhado num golpe de mão na pista de Catió.
Fui para a Guiné em 26 de fevereiro de 1972 e regressei a 16 de março de 1974.
Como disse antes, fui para Catió e quando o Batalhão regressou à metrópole fiquei em Brá nos Adidos, sendo posteriormente colocado no Quartel General. na 1.ª Repartição - Secção de colocação de oficiais, onde estava o Major Mota Freitas e o Alferes Moutinho de quem guardo muitas e boas recordações e de quem não mais voltei a saber nada. Também estavam lá o Primeiro Sargento Martins, o Furriel Freitas, o Cabo Castanheira (desenhador) e um fascina, o Soldado Montoia, bom amigo também.
Camarada, contarei mais coisas porque a minha vida na Guiné foi fértil. Posso adiantar que estava ao mesmo tempo que eu na Guiné o meu irmão Jaime, que é mais velho do que eu um ano. Dele falarei noutra oportunidade assim como da minha mulher que mandei ir para lá quando fui colocado no QG, tinha ela apenas 17 anitos. Enviarei fotos como prova, pois vivíamos ao lado do Bar Arganilense, em frente ao edifício do Sindicato.
Camarada como te disse antes, a minha vida na Guiné foi muito fértil e haverá tempo para contar-te. Por hoje vou cumprir com parte do que tenho que pagar que é uma pequena historia.
No ano de 1972, pelo Natal, estando eu colocado no QG, o Chefe de Repartição era o Major Mota Freitas que estava incumbido de preparar a festa de natal para os oficiais e familiares.
Ao chegar à Repartição chamou ao 1.º Cabo desenhador Castanheira e pediu-lhe para fazer de Pai Natal para os filhos dos oficiais, ao que este respondeu que não. De seguida chamou o soldado fascina Montoia e recebeu a mesma resposta. Quando chegou a minha vez respondi afirmativamente. Seguidamente chamou o Castanheira e o Montoia e ordenou que naquela tarde estariam os dois de castigo de serviço na repartição os dois castigados. Eu pensei para comigo que daquela me tinha livrado.
Perguntei ao Major Mota Freitas se podia levar a minha mulher comigo uma vez que ela estava em Bissau. Ele sabia, mas eu por diferença de estatuto nunca havia tido essa conversa com ele. Respondeu que sim, que levasse a minha mulher e que fosse vestido à civil que ele logo me arranjaria uma farda, mas de Pai Natal. Verdade se diga que a minha mulher e o Alferes Moutinho me mascararam muito bem, estava irreconhecível. Gostei da experiência e foi para mim um gosto pois passei uma tarde linda, diferente e irrepetível. A dada altura dirigiu-se a mim o Chefe do Estado Maior, Cor Henrique Gonçalves Vaz, com muita cordialidade e educação, estando eu vestido de Pai Natal, me perguntou quem era eu, e eu fazendo que não havia percebido a pergunta, lhe respondi que era o Pai Natal. Ele sorriu e disse-me:
- Não essa a resposta que eu quero, quem és tu na vida militar?
Então com a mesma educação com que se havia dirigido a mim, mas sem qualquer vénia militar lhe respondi correctamente quem era, o que ele me agradeceu. Fez-me mais algumas perguntas e desejou-me um Feliz Natal.
Depois foi a saída para junto da piscina e a entrega das prendas aos filhos dos oficiais, que correu como eu pude. Era a primeira vez que estava diante de um microfone mas como se diz na tropa, desenrasquei-me.
Terminada a entrega de prendas foi a vez de ir para a mesa, mas como eu como estava à civil, quero dizer, mascarado de novo, ninguém me conhecia a não ser o Major Mota Freitas e o Alferes Moutinho que muito me apoiou para eu me integrar no convívio. Comemos alguma coisa sem restrições, mas quando vi que era a hora apropriada, retirei-me pela calada com a minha mulher.
É esta a minha historia.
2. Comentário de CV:
Caro camarada António Melo, sê bem-vindo à Tabanca Grande. Recebe desde já um abraço de boas-vindas em nome da tertúlia e dos editores.
Começaste a narrar as tuas memórias com uma história passada em Bissau e num tempo que noutras circunstâncias seria de paz, a quadra natalícia. No papel de Pai Natal fizeste feliz algumas crianças que até certo ponto viviam a tensão de uma guerra, porque Bissau ficava quase à porta do conflito que se fazia sentir naquela província. Outras terás, como por exemplo os encontros programados ou ocasionais com os teus conterrâneos que, vindos da metrópole, passavam por Bissau a caminho do mato ou o contrário.
Pelas minhas contas deves ter estado cerca de 10 meses em Catió, espaço de tempo em que terás vivido algumas situações que poderás contar neste Blogue.
Quando tiveres digitalizador manda as tuas fotos para publicarmos, algumas das quais poderão servir para ilustrar as tuas histórias.
Termino desejando para ti e para os teus uma boa Páscoa com saúde e em família.
O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 3 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 – P9694: Tabanca Grande (327): José Carlos Santos Pimentel, ex-Soldado de Transmissões da CCAÇ 2401/BCAÇ 2851 (Guiné, 1968/70)
1 comentário:
Caro António Melo,
Sê bem-.
Ficaremos à espera dos teus escritos e das tuas histórias sobre a Guiné que amamos
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