Goa recordada por prisioneiros
Ana Trocado Marques
JN- Jornal de Notícias, 12/5/2008
É o dia 19 de Março de 1962, pelas 18.30 horas. Campo de prisioneiros de Pondá, Goa, Índia. Três prisioneiros tentaram a fuga. Denunciada por um furriel português, a ousada manobra falhou e o acto de indisciplina iria ser pago com o fuzilamento dos 1750 militares portugueses, prisioneiros, em Pondá, desde 17 de Dezembro de 1961. A coragem e a diplomacia do tenente-capelão Ferreira da Silva haveria de evitar o banho de sangue.
Quarenta e seis anos depois, Fausto Diabinho [, foto à direita, há 50 anos atrás,] ainda não consegue conter as lágrimas ao recordar o fatídico 19 de Março. Viu a morte à frente. Lembra os companheiros a desmaiar, as metralhadoras apontadas, o pelotão de fuzilamento e a voz que gritava "Quem se mexer será abatido". Lembra, sobretudo, o tenente-capelão que, num acto heróico, sai da formatura, arriscando a vida, e consegue negociar com o brigadeiro indiano o perdão dos portugueses, evitando o massacre.
(...) Quarenta e seis anos depois, o Ministério da Defesa reconhece, finalmente, o acto heróico de Joaquim Ferreira da Silva, a quem atribui, a 7 Dezembro do ano passado, a título póstumo, a Medalha Militar de Serviços Distintos, grau ouro.
"Se hoje estamos aqui, devemos-lhe a ele", garante o vice-presidente da Associação Nacional dos Prisioneiros de Guerra (ANPG), que, anteontem, prestou, na Póvoa de Varzim, homenagem a Ferreira da Silva."Se fosse vivo, faria 92 anos", recordou Fausto Diabinho, explicando a escolha do dia para homenagear o tenente-capelão, sepultado no cemitério poveiro.
Foi igualmente em Maio, em 2003, continuou a explicar, que o Governo reconheceu a condição de prisioneiros de guerra, condecorando todos os ex-militares presos na Índia, Timor, Angola, Moçambique e Guiné. Finalmente, foi também em Maio de 1962 que os mais de três mil portugueses presos na Índia começaram a ser libertados.
"O ministro da Defesa, na altura Castro Caldas, teve a ousadia de dizer que não houve prisioneiros de guerra na Índia porque simplesmente estavam à espera de transporte", lembrou Fausto Diabinho, que recorda, com tristeza, os mais de 40 anos necessários para que Portugal reconhecesse que, a defender a pátria, três mil militares portugueses foram feitos prisioneiros, durante seis meses, e 29 perderam a vida. Agora, os ex-prisioneiros na Índia festejam, finalmente, o reconhecimento justo de quem "serviu a pátria e perdeu a vida" em defesa dos territórios portugueses de Goa, Damão e Diu.
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Nota do editor:
Último poste da série > 24 de dezembro de 2012 > Guiné 67/74 - P10854: Recortes de imprensa (62): Um caso de sucesso: a proteção dos hipopótamos de água salgada da ilha de Orango, nos Bijagós (RTP África, 10/12/2012)
2 comentários:
Não encontro nenhum sítio, página ou blogue da Associação Nacional dos Prisioneiros de Guerra. O que dá uma ideia da fraca visibilidade mediática que estes nossos camaradas têm... É preciso por isso ajudá-los e divulgar iniciativas como a esta exposição patente no Padrão dos Descobrimentos.
No valioso e utilíssimo portal dos nossos amigos do Ultramar Terraweb, encontrei a seguinte informação:
Associação Nacional dos Prisioneiros de Guerra.
Contactos:
Rua João Pereira da Rosa, n.º 18, 1249-032 Lisboa
Telefone: 213 468 245 / 6
Fax: 213 463 394
E-mail: anpguerra@gmail.com
http://ultramar.terraweb.biz/Associacao_ANPG.htm
Mesmo tarde não me inibo de classificar esse tal Castro Caldas autor dessa e outras aleivosias e que infelizmente ocupou a cadeira do poder como um cretino anti patriota.
Carlos Martins pereira
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