sábado, 8 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12807: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (21): Caldas da Rainha, RI 5, os autocarros de fim de semana que iam até ao Porto e o maior cagaço que eu apanhei na minha vida... (Henrique Cerqueira)

1. Mensagem do Henrique Cerqueira [ex-fur mil, 3.ª CCAÇ / BCAÇ 4610/72, Biambe e Bissorã, 1972/74, foto atual, à direita ]:

Data: 6 de março de 2014
Assunto: Os autocarros de fim de semana

Caro camarada Luís:
Ao ler o artigo do Tony Levezinho (*),  o qual adorei pela sua  maneira simples e bem descrita das nossas viagens de autocarro nos fins de semana da tropa, eu me lembrei de um acontecimento passado comigo quando estava na recruta nas Caldas da Rainha e que me provocou o meu primeiro e grande cagaço militar.


Pois, como era sabido por todos nós, a malta para conseguir ganhar o direito ao fim de semana tinha que dar à perna tanto na instrução como nos testes escritos. Até aí,  lá se ia conseguindo safar, mas o que nós não sabíamos era que, com bons testes ou não, era sempre necessário "recrutar" malta para as faxinas de fim de semana e aí qualquer situação de erro servia para sermos "recrutados".

Bom, eu como qualquer jovem normal da época cometi um erro, ou seja,  fui apanhado a urinar contra a parede da caserna durante um intervalo na instrução. Nesse momento caiu o Carmo e a Trindade e fui logo direitinho encaminhado ao oficial de dia que me sancionou, com uma carecada e corte do fim de semana.

Quero aqui lembrar que foi exatamente nessa semana que nasceu o meu filho Miguel, ou seja em 9 de Setembro de 1971. Para mim foi um drama dos diabos e tentei junto do comando falar ao coração,  a ver se pelo menos o fim de semana se salvava . Não senhor, o que eu fiz foi "gravíssimo", daí o castigo até tinha mais sentido, segundo o comandante, não é ?


Caldas da Raínha > c. 1970> Um típico autocarro de excursão, da época, pertencente à empresa Claras Transportes, uma das muitas empresas rodoviárias nacionalizadas em 1975... Fonte: Desconhecida.

Quando chegou o fim de semana, eu arranjei um esquema com um amigo e vizinho que estava comigo nas Caldas, já agora de seu nome Eusébio, e que mais tarde casou em Paço de Arcos e por lá ficou.
Então, ele como não vinha ao Porto de fim de semana, comprometeu-se ir a todas as formaturas por mim e creio que na altura também houve uma ajudinha dum cabo miliciano nesse esquema. E então tudo correu bem. Lá me desenfiei num dos tais autocarros que faziam os fins de semana e ala que se faz tarde para o Porto.

No regresso, saindo nós à meia noite da Cordoaria no Porto era para chegar às 7:00 horas às Caldas. Mais ao menos a metade do percurso o autocarro avariou (era um Volvo). Então o motorista, lá com muito sacrifício conseguiu ir até Coimbra para reparar a avaria na Volvo (daí eu me lembrar que era um Volvo) mas só seria visto às 8:00 horas.

Até aí estava tudo bem, íamos chegar tarde à "guerra" mas a culpa não era nossa, portanto até estava a ser divertido.

Então alguém se lembrou que era necessário telefonar para o quartel a avisar da situação. Como sabem, na altura não havia telemóveis. Há então que arranjar um voluntário para fazer o telefonema. Aqui o Henrique, que se tinha esquecido que estava desenfiado e pior ainda tinha-se esquecido que na tropa nem para comer se deve ser voluntário, resolve aceitar a tarefa de telefonar. Fui a um café, telefonei e quem me atende?... O oficial de dia que era um tenente do pior, militarista!

A primeira coisa que me diz interrompendo o meu discurso é :
- Ó militar, primeiro identifique-se e depois conte o que se passa.

Como fui apanhado de surpresa, eu me identifiquei direitinho como mandavam as normas e lá contei o sucedido.
- Tudo bem,  foi aceite e quando chegarem tudo se resolve.

Desliguei aliviado da tarefa, mas de imediato me dei conta da cavalada que tinha feito e pior ainda das pessoas que tinha envolvido no meu desenfianço.

Conclusão: andei todo acagaçado até chegar ao quartel, o  que veio a acontecer já no final da tarde desse dia devido ao atraso na reparação do autocarro, pois que este voltou a avariar pela segunda vez quase a chegar às Caldas.

Olhem, não sei se tinha uma santinha a velar por mim ou não, mas o meu amigo Eusébio lá se desenrascou durante o dia, o cabo miliciano deu uma grande ajuda mas aí também o meu alferes, comandante de grupo, foi um grande amigo. Ele era grande amigo de toda a malta, estava na tropa com contrato após já ter feito uma comissão. Lá me deu um raspanete e pelos vistos o tal tenente limitou-se a mandar um soldado avisar a companhia e, assim sendo,  lá me safei. Mas que apanhei o maior cagaço da minha vida, apanhei!..

Ah!,  também me safei da carecada.

Um abraço a todos e foi mais uma lembrança despoletada pelas estórias dos nossos camaradas do blogue, neste caso a do Tony Levezinho.
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1 comentário:

João Baptista Fernandes disse...

Boa tarde: procuro alguém que tenha estado na Guiné na (no) 2º(2ª)/Bcac 4610/72 e tenha conhecido pessoalmente o Furriel Miliciano Albino do Nascimento Afonso, que aí morreu em 8/07/74. Pretendemos homenageá-lo e dar o seu nome a uma rua da aldeia onde nasceu. O meu contacto: 965527660. Um abraço a todos os ex-combatentes e especialmente ao
Carlos Barros que conheci pessoalmente. João.