quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Guiné 63/74 - P16564: Inquérito 'on line' (71): Os Filhos dos Ricos e Poderosos, incluindo os jogadores de futebol... (Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, Minas e Armadilhas, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)


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Foto: © Mário Gaspar (2016). Todos os direitos reservados


1. Mensagem de Mário Gaspar [ex-Fur Mil At Art, Minas e Armadilhas, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68]

Data: 5 de outubro de 2016 às 01:44
Assunto: Os Filhos dos Ricos e Poderosos


Caros camaradas


Sabem que regressei do Centro de Apoio Social de Runa – do Instituto Social das Forças Armas (IASFA), Ministério da Defesa Nacional. Em suma, regressei de um Lar de Idosos, no meu caso um Lar Militar das Forças Armadas Portuguesas. E "todos os Lares civis ou militares", não são os nossos lares, nestes em princípio, temos a Família presente.

Mas não vou falar de lares…

Discute-se um facto, e é a verdade que flui da minha boca, e os filhos dos ricos e poderosos e então – do nosso tempo de guerra, que não é nunca foi uma brincadeira de criança – falo por mim como Miliciano, esses filhos de ricos e poderosos que andaram na Escola da Câmara e mais tarde num Colégio Sousa Martins, em Vila Franca de Xira estiveram na Recruta na "minha tropa", mas na Especialidade de Atirador não vi nenhum.

Dei os meus primeiros passos no Serviço Militar no dia 3 de Maio de 1965 no Curso de Sargentos Milicianos (CSM), no RI 5, em Caldas da Rainha.

No mesmo Curso estiveram Rui Rodrigues e  Gervásio,  entre outros, jogadores da Académica de Coimbra. E Peres, este julgo também ser já jogador do Sporting Clube de Portugal, e o "famoso", "poderoso" de facto, Simões do Benfica, Campeão Europeu,  e que fez parte dos heróis do Futebol na Seleção Portuguesa, terceira classificada no Campeonato do Mundo de Futebol, em 1966.

Este acontecimento se dá quando eu – nunca fui voluntário – tive de "prestar provas para o Curso de Rangers, em Lamego".

Muitos os Milicianos recusaram frequentar o mesmo, ainda fiz parte da Equipa de Natação que representava o RI 14, em Viseu, no Campeonato da Região Militar, na Piscina, em Tomar. O Comandante deste Regimento que chefiava os nadadores era o conhecido também ex.futebolista da Académica de Coimbra, que venceu uma Taça de Portugal, o então Tenente-Coronel Faustino.

Nadei contra "nadadores civis federados", militares que representavam as suas Unidades. Julgo que também esses estavam no grupo dos "poderosos". Continuei por não ser voluntário, e por sorteio da vida, saiu-me ir frequentar o XX Curso de Minas e Armadilhas, na Escola Prática de Engenharia, em Tancos. 

Aí há a excepção, encontra-se o Aspirante Miliciano Oliveira Duarte, outro dos "poderosos". No meu conceito incluo estes que falei, nunca os culpando por estarem no grupo. Oliveira Duarte, jogador já do Sporting Clube de Portugal,  foi vítima de um jogo de "poderosos", estes sim "poderosos e «cunhas»", destes mesmos Militares que se livraram da guerra. 

Oliveira Duarte teve de partir para Angola, mas sendo "poderoso", frequentou o Curso de MA e lá foi para o grupo de futebol, livrou-se da guerra – perdeu, como nós todos,  tempo – e nós não só tempo – lembrar que nos ofertavam por estarmos em zonas de guerra. 

Ainda outros Desportistas, e não só do Futebol, caiu-lhes na sorte terem frequentado outras Especialidades, e atractivas e não foram à guerra.

Curioso, e é bom lembrar que os Milicianos na Guiné recebiam, julgo que ate fins de 1968 ou 1969 inclusive, menos verba mensal que os dos mesmos postos em Angola e Moçambique. Dizem estarmos mais junto à metrópole.

Estive na frente de um outro grupo que lutou para que o aumento de tempo que consta nas Cadernetas Militares ou Documentos que referissem o mesmo. E esse aumento é de 100%. Considerando que as horas de trabalho normal é de 8 horas, se nos encontrávamos de Serviço 24 horas, seriam 400%. Pois eu nem me contaram os 100%.

Nós somos, neste caso os não poderosos. Senhores com o nome de baptismo Cunha conheço… Mas esses "poderosos cunhas", vi por aí. Até na entrada em alguns "lares" e incluo todos, os "poderosos cunhas" estão presentes.

Quero lembrar um outro grupo que bem podia servir para dar a opinião, desconheço se foi ou não analisado: O Caso dos Nossos Capitães Milicianos que após terem cumprido o Serviço Militar e terem regressado a casa e frequentarem finais de Cursos Académicos são chamados e foram Camaradas não só, como nós na Guiné como noutras frentes de guerra.

Abraço a todos

Mário Vitorino Gaspar

NOTA: Em breve enviarei um texto - com fotos da minha autoria - sobre este Centro de Acção Social de Runa - CAS de Runa. Lembro, por curiosidade que fui chamado, e para entrar num outro "corredor da morte", este o "Centro de Acção Social do Porto", mas recusei, embora considere ter outras condições, muito embora numa zona dentro do Porto um pouco abandonada. Comércio fechado e casas abandonadas. Com outra qualidade de vida. Regressarei logo que tratar de uma infecção na boca.

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14 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Oliveira Duarte, de seu nome completo Joaquim António Oliveira Duarte (nascido em Lisboa, em 19 de Março de 1943), foi um antigo jogador de futebol que representou o SCP e a selecção portuguesa. Era avançado.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Oliveira_Duarte

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Vasco Manuel Vieira Pereira Gervásio (1943-2009)

/guedelhudos.blogspot.pt/2009/07/morreu-gervasio-da-academica.html

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Rui de Gouveia Pinto Rodrigues nasceu em 17 de maio de 1943, em Lourenço Marques, Moçambique.

http://gloriasdopassado.blogspot.pt/2009/02/rui-rodrigues.html

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Fernando Peres da Silva, mais conhecido como Peres (Algés, 8 de janeiro de 1943) é um ex-futebolista português que atuava como médio.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Fernando_Peres_da_Silva

Tabanca Grande Luís Graça disse...

O António Simões também de 1943...


https://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B3nio_Sim%C3%B5es

Carlos Vinhal disse...

Em Vendas Novas (EPA), fazendo o COM, quando eu fazia o CSM (3.º turno 1969), estava uma personalidade do nosso futebol, pessoa influente, não poderosa, chamada Artur Jorge. Julgo na altura em que se transferiu da Académica para o Benfica. Julgo também que foi o primeiro classificado do Curso e que nunca chegou a ser mobilizado. Se alguém souber confirmar estes meus "julgamentos", esteja à vontade.
Carlos Vinhal
Leça da Palmeira

Tabanca Grande Luís Graça disse...

O Artur Jorge nasceu no Porto em 1946...


https://pt.wikipedia.org/wiki/Artur_Jorge

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Excerto sobre o Artur Jorge:

Blogue Estrelas do FCP

http://estrelas-do-fcp.blogspot.pt/2009/09/artur-jorge.html


(...= Artur Jorge Braga de Melo Teixeira nasceu no dia 13 de Fevereiro de 1946 na cidade do Porto.

Começou a jogar futebol nas camadas jovens do Futebol Clube do Porto, sendo Campeão Nacional em 1962/63 pelos juniores.

Na temporada de 1964/65 estreou-se na equipa principal dos Dragões mas uma grave lesão afastou-o durante um grande período de tempo dos relvados.

Na temporada seguinte mudou-se para Coimbra onde viria a representar a Académica durante 4 temporadas.

Depois em 1969/70 transferiu-se para o S.L. Benfica, onde foi por 4 vezes Campeão Nacional, venceu 2 Taças de Portugal e foi por 2 vezes o melhor marcador do campeonato. (...)

alma disse...

Carlos! Eu era Aspirante em Vendas Novas,na época do Artur Jorge, cadete.Pertenceu ao 2ºTurno do C.O.M. de 1969. Ele e outro jogador do Belenenses.Era um bocado antipático ou então não gostava de Aspirantes...Irritava-me que ele fosse dispensado de algumas provas físicas.por causa de eventuais lesões...Não quero comentar o tema em análise,pois tenho amigos que usufruíram de tratamento especial. Mas quero lembrar o meu grande amigo Alf. Mil. Médico, Miguel Silvério Marques, que foi morto em Angola.Era filho do General- Governador Abraço. Jorge Cabral

Carlos Vinhal disse...

Jorge, deves lembrar-te que ele deu baixa ao hospital na tentativa de se safar, era o que constava, mas como foi precisamente nessa altura que se transferiu da Académica para o Benfica, o Exército deu-o como apto, voltando ele a Vendas Novas, para repetir a Especialidade, entre Julho e Setembro de 1969. Lembro-me perfeitamente de o ver marchar no respectivo pelotão.
Abraço
Carlos

Tabanca Grande Luís Graça disse...

A morte do filho gen Silvino Silvério Marques, no enclave de Cabinda, Angola:


3ª feira, 08 de Agosto de 1972 - saída de Chimbete, Operação Mundo Novo, rumo a Sanga Mongo (junto à fronteira médio-noroeste do enclave de Cabinda com o Congo-Brazza): emboscada lançada pelo MPLA, 3 mortos e 3 feridos graves.

Mortos:

– António Alberto Rita Bexiga (natural da Bordeira, freguesia de Santa Bárbara de Nexe, concelho de Faro), Capitão de Infantaria, comandante da Companhia de Caçadores 3408 / BII19 - Funchal (a meio da comissão);

– Miguel Barroso Silvério Marques (natural da freguesia de Santa Maria de Belém. Lapa, concelho de Lisboa)¹, Alferes Miliciano Médico, recém-transferido do Hospital Militar 124-Luanda para a CCS/BCac2919;

– Silvério Jesus Verdial Caldeira (nascido em 29Ago49 em Portalegre), Furriel Miliciano de Cavalaria, da Companhia de Caçadores 3408 (a meio da comissão). Tinha 22 anos de idade

Feridos graves:
– um Alferes Miliciano e dois Soldados, todos da Companhia de Caçadores 3408 (a meio da comissão).

Fonte: Cortesia do portal UTW - Ultramar TerraWeb

http://ultramar.terraweb.biz/Noticia_EnclaveCabinda_08AGO1972.htm

alma disse...

Obrigado Carlos!Não sabia que o Artur Jorge, tinha repetido a Especialidade.Quanto à morte do meu amigo, Miguel Silvério Marques, chocou-me muito na altura. Deixou uma jovem viúva e um filho bebé.Deve ter sido o único médico a morrer em combate. Abraço. J.Cabral

alma disse...

Tiveste sorte Carlos, por dois meses não me apanhaste. Eu era um instrutor muito duro...Abraço J.Cabral

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas
Venho só lembrar que os"ricos e poderosos" eram figuras da finança e do regime.
Futebolistas e quejandos eram desenrascados que á custa de "representarem o país" a correr em cuecas atrás da bola se baldavam heroicamente.
Um Ab.~
António J. P. Costa