Chegada de correio ao Olossato
Foto: © José Luís Gonçalves
1. Mensagem do nosso camarada José Luís Gonçalves (ex-Soldado Radiotelegrafista da 2.ª CCAV/BCAV 8320/73, Olossato, 1974), com data de 23 de Outubro de 2016:
Boa tarde meu caro Carlos Vinhal.
Só agora estou a responder, ao teu convite, porque muito embora acompanhe o blogue no Facebook, não tenho muito tempo livre. Posso aos poucos contar alguns episódios que se passaram durante o tempo que estivemos no Olossato e quando depois ficamos aquartelados na Amura.
Como deve ser do conhecimento de todos que na altura estavam ligados às transmissões, principalmente os radiotelegrafistas e os operadores de cripto, foram meses em que todos os dias recebíamos mensagens extensas a comunicar deserções de elementos de milícias, com armas e fardamento, para não falar das outras mensagens com ordens e outros assuntos.
No Olossato só tínhamos a trabalhar o rádio "STORNO" e os "Bananas" que utilizávamos para comunicar com os helis e as avionetas que nos levavam o correio da Metrópole.
Os outros radiotelefones Racal, e um da marca Marconi, que tinha uma série de relés, e que nunca conseguimos saber como funcionava, estavam avariados. Por isso não tínhamos hipóteses de utilizar telegrafia, porque só me lembro de ter visto um "AN-GRC9" em Bissorã, quando numa deslocação em serviço à CCS do Batalhão, para receber ordens de como devíamos preparar a entrega do nosso material de transmissões antes de fazermos a transferência do aquartelamento para o PAIGC.
Bom, isto tudo serve para contar um pequeno incidente que aconteceu no nosso posto de rádio.
O nosso furriel de transmissões, sportinguista dos quatro costados, quando saiu do avião deve ter tido um choque de calor que lhe deve ter "toldado" um pouco o juízo, e, apesar de ter conhecimento de que os Racal estavam avariados, vinha invariavelmente altas horas da noite, quando não tínhamos operador de serviço, (por não termos rádio), e começava a chamar por Bissorã em altos berros.
Até que um dia, aliás uma noite, fomos acordar o nosso Capitão para pôr fim àquele abuso.
O furriel acabou por ser enviado para Bissorã e nós ficamos sem chefe de transmissões na companhia.
Junto vou enviar uma foto, da chegada de uma avioneta, à nossa pista, onde estou eu e dois radiotelefonistas com os famosos "Bananas (AVP1)" a tiracolo.
Um grande abraço. e prometo não demorar a contar outra história.
José Luís da Silva Gonçalves
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Nota do editor
Último poste da série de 9 de junho de 2016 > Guiné 63/74 - P16183: Estórias avulsas (85): "Naja nigricollis" emboscada no Xime na cama de um furriel… teve um fim triste e dramático (Jorge Araújo, ex-fur mil op esp /Ranger, CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/74)
1 comentário:
Caamaradas, este testemunho do Zé Luís Gonçalves não deixa de ser eslcarecedor sobre o fenómeno do aumento das deserções no final da guerra...Milícias (e se calhar também militares do recrutamento local, companhias africanas, pelotões de caçadores nativos, destacamentos de fuzileiros especiais, etc.), no TO da Guiné, devem ter dado o seu quinhão para os tais 8 mil desertores, no final da guerra colonial, estimados pelos historiadiores
Miguel Cardina e Susana Martins... Num milhão de homens, que passaram pelos teatros de operações, é menos de 1 por cento. Muito menor do que noutars guerras...
(...) "Como deve ser do conhecimento de todos que na altura estavam ligados às transmissões, principalmente os radiotelegrafistas e os operadores de cripto, foram meses em que todos os dias recebíamos mensagens extensas a comunicar deserções de elementos de milícias, com armas e fardamento, para não falar das outras mensagens com ordens e outros assuntos." (...)
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