Foto: © Helder Sousa (2007). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Comentário do nosso colaborador permanente Hélder Valério de Sousa (ex-fur mil trms TSF, Piche e Bissau, 1970/72, ribatejano a viver em Setúbal, com página pessoal no Facebook)
E pronto, também já votei!
Desta vez não me apercebi das habituais objecções/sugestões do nosso António José [Pereira da Costa] mas realmente fiquei um pouco sem saber exactamente como responder.
É que, como por aqui já foi referido, é possível ter todas as opiniões.
"Era seguro e rápido"....
Pois teria sido seguro a maior parte das vezes e para a maior parte das pessoas, nalgumas outras situações nem tanto. Quanto a rápido, pois também está visto que 'variou' embora, dadas as circunstâncias, também se possa considerar rápido.
"Era seguro mas não rápido"...
É tudo uma questão de relativização. A 'segurança' é a mesma da primeira questão, já a rapidez deve aqui entrar em linha de conta com o facto onde se estava. Em Bissau ou sede de Batalhão era seguramente mais rápido do que num Destacamento qualquer.
"Era rápido mas não seguro"...
Sobre a 'rapidez' os pontos acima mostram que o conceito depende então de onde se estava. Quanto à 'segurança' aqui podemos dividir em dois campos principais: o da violação da correspondência para verificação do conteúdo escrito, fosse lá motivado porque motivo fosse, ou para 'apropriação indevida' de qualquer conteúdo extra. Sobre isto acho que se pode considerar que, na generalidade, não houve assim tantas razões de queixa, pelo menos de extravio, embora isso não seja garantia de que a correspondência não tivesse sido lida por pessoas além do destinatário.
"Não era nem seguro nem rápido"....
Trata-se de considerar negativamente qualquer das situações e sobre isso a minha opinião é que "depende". Algumas vezes, sim, a maior parte das vezes, não.
"Não sei / já não me lembro"....
A questão mais fácil. Ao responder aqui, cumprimos o dever de participar no inquérito e descarregamos considerações.
Ora bem, a minha experiência foi de que não tive razões de queixa.
Escrevi e recebi aerogramas. Escrevi e recebi cartas. Com fotos. E chegaram todos e todas. Mais ou menos rápido, dependendo de estar em Bissau ou em Piche mas sem grandes razões de queixa.
Logo em Novembro, resolvi escrever um aerograma com uma série de observações que poderiam ser tomadas em conta como "subversão", dirigido a uma jovem "católica progressista" e chegou sem problemas.
De um modo geral também não me alongava em grandes considerandos, apenas a superficialidade das circunstâncias: calor, bom tempo, muita chuva, saúde... etc.
Nunca quis confirmar isto. Embora na altura me interrogasse pela ordem da escala de 'perigosidade'.
Hélder Sousa
Nota do editor:
(*) Vd. poste de 1 de julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17567: Inquérito 'on line' (121): O aerograma ?... "Era rápido mas não seguro" (José Brás)... "Acabou por justificar a existência do Movimento Nacioanal Feminino" (António J. Pereira da Costa)... "A malta chegava a solidarizar-se e fretar a avioneta civil para trazer o correio" (Henrique Cerqueira)
Desta vez não me apercebi das habituais objecções/sugestões do nosso António José [Pereira da Costa] mas realmente fiquei um pouco sem saber exactamente como responder.
É que, como por aqui já foi referido, é possível ter todas as opiniões.
"Era seguro e rápido"....
Pois teria sido seguro a maior parte das vezes e para a maior parte das pessoas, nalgumas outras situações nem tanto. Quanto a rápido, pois também está visto que 'variou' embora, dadas as circunstâncias, também se possa considerar rápido.
"Era seguro mas não rápido"...
É tudo uma questão de relativização. A 'segurança' é a mesma da primeira questão, já a rapidez deve aqui entrar em linha de conta com o facto onde se estava. Em Bissau ou sede de Batalhão era seguramente mais rápido do que num Destacamento qualquer.
"Era rápido mas não seguro"...
Sobre a 'rapidez' os pontos acima mostram que o conceito depende então de onde se estava. Quanto à 'segurança' aqui podemos dividir em dois campos principais: o da violação da correspondência para verificação do conteúdo escrito, fosse lá motivado porque motivo fosse, ou para 'apropriação indevida' de qualquer conteúdo extra. Sobre isto acho que se pode considerar que, na generalidade, não houve assim tantas razões de queixa, pelo menos de extravio, embora isso não seja garantia de que a correspondência não tivesse sido lida por pessoas além do destinatário.
"Não era nem seguro nem rápido"....
Trata-se de considerar negativamente qualquer das situações e sobre isso a minha opinião é que "depende". Algumas vezes, sim, a maior parte das vezes, não.
"Não sei / já não me lembro"....
A questão mais fácil. Ao responder aqui, cumprimos o dever de participar no inquérito e descarregamos considerações.
Ora bem, a minha experiência foi de que não tive razões de queixa.
Escrevi e recebi aerogramas. Escrevi e recebi cartas. Com fotos. E chegaram todos e todas. Mais ou menos rápido, dependendo de estar em Bissau ou em Piche mas sem grandes razões de queixa.
Logo em Novembro, resolvi escrever um aerograma com uma série de observações que poderiam ser tomadas em conta como "subversão", dirigido a uma jovem "católica progressista" e chegou sem problemas.
De um modo geral também não me alongava em grandes considerandos, apenas a superficialidade das circunstâncias: calor, bom tempo, muita chuva, saúde... etc.
Já agora.... sem querer alimentar qualquer tipo de polémica ou coisa parecida, tenho a ideia que um camarada que esteve comigo no CSM [, Curso de Sargentos Milicianos,] em Santarém e depois teve uma 'especialidade' diferente da minha, estava colocado na Repartição de Sargentos e Praças e na véspera da minha partida para a Guiné me esclareceu (vou 'vender' pelo mesmo preço, tanto quanto me recordo) que a "prestimosa polícia política" classificava os mancebos que tinha "debaixo de olho" como "suspeitos", "activistas", "comunistas" e "anarquistas" e que tinha visto a minha ficha de mobilização e lá figurava uma determinada 'categoria'.
Nunca quis confirmar isto. Embora na altura me interrogasse pela ordem da escala de 'perigosidade'.
Hélder Sousa
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(*) Vd. poste de 1 de julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17567: Inquérito 'on line' (121): O aerograma ?... "Era rápido mas não seguro" (José Brás)... "Acabou por justificar a existência do Movimento Nacioanal Feminino" (António J. Pereira da Costa)... "A malta chegava a solidarizar-se e fretar a avioneta civil para trazer o correio" (Henrique Cerqueira)
11 comentários:
Ó Hélder, e eu que deixei de pôr no correio uma série de cartas que escrevi para os amigos, falando da situação político-militar da Guiné do meu tempo ? No fundo, receava que as cartas pudessem ser interceptadas e eu e os meus amigos pudessem ter chatices... Por essa razão (idiota...) nunca escrevi aerogramas... nem mesmo para casa... (Não posso garantir em absoluito: em geral escrevia cartas para a família, com uma foto lá dentro, tranquilizadora, para fazer a indispensável "prova de vida"...).
Pelo que vejo, a PIDE/DGS andava a apanhar bonés... E eu até me interrogo hoje se ela alguma vez existiu... Já pedi à Torre do Tombo há seis meses a respetiva certidão, mas ainda não sei se tinha ficha na PIDE/DGS... Bolas, toda a gente importante que eu conheço tinha ficha na "PEVIDE", por que é que eu não devia de ter também, mesmo tendo conspirado pouco ou quase nada contra o Salazar ?
Hélder, aliás seria interessante que os nossos camaradas que têm cópias das suas fichas na "PEVIDE", as pudessem reproduzir aqui, no nosso blogue, com as devidas rasuras (para salvaguardar o sigilo e a confidência dos dados relativos a terceiros...).
Será que a PIDE/DGS seguia a correspondência de alguns de nós, militares, considerados suspeitos e potencialmente perigosos para a segurança da Nação ?
Fica aqui o desafio para os nossos corajosos antifascistas.
PS - Nunca percebi porque é que o meu amigo e camarada da CCAÇ 2590/CCAÇ 12, o 2º sargento de infantaria José Manuel Rosado Piça (, mais conhecido pela alcunha "Piça, minha senhora, para a servir") me chamava de "soviético", eu que sempre fui um gajo... antimilitarista mas apartidário...
Quem dispunha das informações da PIDE, sobre o pessoal, era o 2º Comandante, do Batalhão.Nos primeiros anos da guerra, todos os que cheirassem a comunismo, não iam combater, sendo mandados para Macau, Cabo-Verde, S.Tomé.. Creio que isto mudou radicalmente, aí por volts de 64/65 e os "fixados" passaram a ser mobilizados, principalmente, para a Guiné... ABRAÇO J.Cabral
Meu caro Hélder:
Como sabes, esta "funcionalidade" do Blogger, a "sondagem", como eles lhe chamam, só é boa para perguntas dicotómicas (sim/não), como aquelas que aparecem no jornal "A Bola", "on line", e que só servem para "encher chouriços" ou "aumentar as audiências"... Do tipo:
"Acha que Portugal vai ganhar a guerra (... do campeonato mundial de futebol, claro está, que é que conta) ?
Resposta: Sim ou não...
Ora nas guerras, em todas as guerras (incluindo as do futebol), há muitos "ses", muitas condicionantes, muita coisa a montante e a jusante... Nada é a preto e branco, e não é preciso ser sociólogo encartado para a gente saber que "a realidade não fala por si"... é preciso interrogá-la...
Uma das coisas que aprendi com os mestres é que para uma boa resposta nada melhor do que uma boa pergunta... Ora a dificuldade maior não é responder, é saber perguntar...
De qualquer modo, esta coisa do "inquérito online" é apenas um pretexto para tu e todos nós escrevermos "textos" (comentários, postes...) sobre um dado tema... Neste caso, o aerograma, o correio, o SPM... Um pretexto também para saires dessa coisa inócua e viciante que é o Facebook...
Quando a gente esgotar os assuntos da nossa guerra, prometo que fecho a porta e vou gozar a minha merecida (penso eu...) reforma!... Ou seja, o "dolce far niente" (que, traduzido em português, querer dizer "o doce prelúdio da morte"...).
E espero que lá no céu que me tocar em sorte, não me obriguem a responder a estas perguntas idiotas que só servem para massajar a tola... Agora que a guerra acabou (há 50 anos.... mas acabou mesmo ?), alguém está lá interessado nos gajos da "PEVIDE", ou nas senhoras gajas do MNF, ou dos sorjas carteiros do SPM que metiam a mão ao bolso?!... Ou ainda há ?
Ab, LG
Olá Camaradas
O processo que existia na PIDE em nome dos cidadãos portugueses era uma espécie de Proc. Ind. à semelhança do processo militar.
A possibilidade de a PIDE poder examinar milhões de aerogramas era muito residual. Se se justificasse "A Prestigiosa" interceptava a correspondência junto do destinatário - esse sim um perigosíssimo esquerdista e anti-patriota - e abria, lia metia para dentro do tal processo.
No SPM nunca soube a PIDE interviesse ou pudesse intervir.
O correio militar estava sujeito a tudo a que o CORREIO está sujeito: extravios, furtos, etc.
Nas companhias e batalhões nunca ouvi dizer que o correio fosse violado ou sequer "vigiado".
No "Ultramar" a acção da PIDE não estava particularmente virada para a vigilância dos militares de qualquer graduação. Não tenho memória de prisão directa de militares por motivos políticos e, no caso da Guiné é muito provável que nunca tenha havido qualquer situação similar.
Tenho para mim que ninguém foi molestado com base nas cartas que escreveu.
Um Ab.
António J. P. Costa
Amigos e camaradas-de-armas,
Julgo que devemos acrescentar aqui que muitos de nós, já professores e funcionários públicos antes do serviço militar, por mor disso, tinhamos um registo muito sumário com a PIDE e mais tarde com a DGS. Esse registo era quanto muito uma pro-forma preenchida pelos serviços de colocação e que não tinha mais efeito que isso.
Cumprimentos.
José Câmara
O que eu perdi, Tó Tozé!... As cartas que eu escrevi e que não cheguei a não meter no correio, com cagufa da "PEVIDE"... Eu é que fui tonto, parvo, palerma, ingénuo... Mas quem me manda a mim dar ares de importante, quando os gajos da "PEVIDE" se estavam cagando para um reles furriel de armas pesadas de uma companhia de pretos de 2ª classe!... Tinham muito mais que fazer do que vasculhar as minhas escritas...
Já com os capelães, a coisa piava mais fina: lembro-me do padre Mário de Oliveira (padre Mário da Lixa, como ficou conhecido mais tarde, que teve problemas com o exército e com a "PEVIDE"... por causa da sua pregação anticolonialista e pacifista)... o padre Puim, idem aspas, se bem que o carrasco do Puim tenha sido, além do capelão-mor, o segundo comandante do BART 2917, que deves ter conhecido, foi professor na Academia Militar... um dos poucos oficiais superiores que eu odiei na guerra...
E estou-me a lembrar também, assim de repente, do José Bação Leal (Lisboa, 1 de julho de 1942 - Nampula, 1 de setembro de 1965), alferes ,miliciano, poeta, contestatário da guerra colonial, morto aos 23 anos por uma mina no norte de Moçambique... Entrou em rota de colisão com a hierarquia militar e teria chatices com a PIDE, se tivesse sobrevivido...
Em 1971, a sua mãe promoveu a edição do livro "Poesias e Cartas", uma recolha de textos, salvos da incineradora ou do caixote do lixo, e que teve prefácio de Urbano Tavares Rodrigues. Proibido pela censura e apreendido pela PIDE na feira do livro de Lisboa em 1971, só seria reeditado no pós-25 de abril... aliás muito tardiamente, em 2014, numa edição facsimiladado jornal Público...
O que eu perdi, Tó Tozé!... As cartas que eu escrevi e que não cheguei a meter no correio, com cagufa da "PEVIDE"... Eu é que fui tonto, parvo, palerma, ingénuo... Mas quem me manda a mim dar ares de importante, quando os gajos da "PEVIDE" se estavam cagando para um reles furriel de armas pesadas de infantaria, integrado numa companhia de pretos de 2ª classe!... Tinham muito mais que fazer do que vasculhar as minhas escritas...
Já com os nossos capelães, a coisa piava mais fina: lembro-me do padre Mário de Oliveira (padre Mário da Lixa, como ficou conhecido mais tarde), que teve problemas com o exército e com a "PEVIDE"... por causa da sua pregação anticolonialista e pacifista... Lembro-me padre Puim, me contemporâneo em Bambadinca, em 1970...idem aspas, se bem que o carrasco do Puim tenha sido, além do capelão-mor (ou o senhor bispo de... Merdassuma, como lhe chamavam os próprios capelães), o segundo comandante do BART 2917, que deves ter conhecido, foi professor na Academia Militar... um dos poucos oficiais superiores que eu odiei na guerra... Odiei com asco...como odiei poucas pessoas na vida (e, no entanto, nunca tive nenhum conflito "pessoal" com ele...).
E estou-me a lembrar também, assim de repente, do José Bação Leal (Lisboa, 1 de julho de 1942 - Nampula, 1 de setembro de 1965), alferes miliciano, poeta, contestatário da guerra colonial, morto aos 23 anos por uma mina no norte de Moçambique... Entrou em rota de colisão com a hierarquia militar e teria chatices com a PIDE, se tivesse sobrevivido...
Em 1971, a sua mãe promoveu a edição do livro "Poesias e Cartas", uma recolha de textos, salvos da incineradora ou do caixote do lixo, e que teve prefácio de Urbano Tavares Rodrigues. Proibido pela censura e apreendido pela PIDE na feira do livro de Lisboa em 1971, só seria reeditado no pós-25 de abril... aliás muito, muito tardiamente, em 2014, numa edição facsimilada do jornal Público...
Em boa verdade, não terá havido muitos casos de "intromissão direta" da PIDE/DGS nas nossas "casernas"... Os problemas de "disciplina" que terão havido, por contestação direta da guerra colonial e do papel do exército, estão por apurar... Não serão muitos, o que poderá querer dizer que... "o povo era manso"...
De resto, em cerca de 1,3 milhões de homens em idade militar, teremos tido cerca de 20% de faltosos e refractáiros (c. 250 mil), e apenas menos de 1 por cento (0,8) de "desertores" (técnica e legalmente falando) (cerca de 8 mil homens num milhão, e a maior parte do recrutamento local...). (Ainda estou por descobrir como que é foram contabilizados estes 8 mil desertores) (Fonte: comunicação pessoal do historiador militar, cor cav ref, "comando", Carlos Matos Gomes, 2017).
Caros amigos e camaradas
Alguns esclarecimentos ou indicações complementares são devidos.
A foto em que apareço junto a um poster do "Che" foi tirada num quarto de outros Furriéis, embora na mesma vivenda onde morava, junto à "Escuta".
No meu quarto havia um poster do Frank Zappa, sentado numa sanita, e que foi colocado para 'alegoria' à situação....
Embora também tivesse alguma admiração pela prática 'romântica' do que o "Che" simbolizava nunca fui muito adepto de "exportação de revoluções". Achava (e ainda continuo a achar) que cada povo deve encontrar o seu caminho e percorrer a sua via, de modo que a foto junto ao "Che" foi não só para 'despistar observadores' como também para colocar dúvidas sobre as minhas preferências aos amigos que ficaram pela "Metrópole", como então se dizia.
Quanto à 'perigosidade', é tudo muito relativo....
A classificação de que o amigo me falou era a mais baixa, a de "suspeito".
Não sei, nunca perguntei, nunca quis saber (nunca consultei o meu processo para evitar ter alguns possíveis desgostos, como aconteceu com outros amigos que ao consultarem os seus processos descobriram o que não pensavam...).
E essa classificação viria, muito provavelmente, do facto de à data da incorporação no 3º Turno de 69 do 1º Ciclo do CSM ser membro duma Direcção duma Associação de Estudantes, mais concretamente da ADAIIL (Associação Desportiva dos Alunos do Instituto Industrial de Lisboa).
(vou 'cortar' aqui pois parece que ficou comprido demais)
O resto segue já a seguir...
Hélder Sousa
Ora aqui vai a continuação.....
Já que estou a escrever ao correr da pena isto fez-me recordar dois episódios relacionados entre si e com este tema, o da Associação de Estudantes.
A lista que incorporei foi a votos e ganhou, em Abril de 69.
Houve uma contestação pela lista derrotada com uma alegada irregularidade processual, pelo que houve uma repetição das eleições e a lista a que pertencia voltou a ganhar, agora em Maio e por maior margem de votos.
Os elementos eleitos foram depois apresentados ao MEN (Ministro da Educação Nacional), ao tempo o Professor José Hermano Saraiva.
Fiz parte dessa delegação que foi por ele recebida num dia particular, o dia da grande contestação estudantil em Coimbra, com a sua greve em 69. Estávamos a começar a reunião de apresentação quando o Sr. Ministro é interrompido por um assessor que lhe cochichou algo ao ouvido, pediu escusa por ter que se ausentar por alguns instantes e alguns minutos depois, quando regressou, disse, bastante incomodado, que "os seus colegas de Coimbra não querem estudar, querem é fazer política, espero que vocês não sejam como eles".
Este foi o "Acto 1" que depois decorreu conforme a norma das coisas.
A Direcção foi aceite, foi registada (apenas os três elementos "Presidente", "Secretário" e "Tesoureiro", pois os restantes membros da Direcção eram cooptados) e continuou em funções mesmo quando um dos seus elementos foi assentar praça em Santarém, pois o Secretário e o Tesoureiro, faziam quorum suficiente para assegurar a legitimidade.
O "Acto 2" foi há já algum tempo atrás, aí há uns 6 ou 7 anos, no Jumbo de Setúbal, no balcão da "5àsec" (passem as publicidades).
No caso em apreço o professor Hermano Saraiva (faleceu em Julho de 2012) estava ao balcão para levantar um casaco e duas calças que tinha deixado a tratar mas não tinha com ele o talão correspondente.
Devem saber, certamente, que o Professor era de Leiria mas à data vivia em Palmela (sempre perto de castelos, sempre perto da História...) e era então bastante conhecido pelas suas intervenções (mais ou menos correctas, mais ou menos 'criativas' sobre a História de Portugal) e estava a ver se conseguia, mesmo sem o talão, recolher as suas roupas.
Quando cheguei ao pé dele cumprimentei-o e disse-lhe que a senhora da loja já estava a ver se identificava o que teria para levantar ao que ele explicou que era um casaco igual ao que tinha vestido e duas calças iguais às que também tinha, pois isso era decorrente do contrato com a Televisão que o obrigava a ter esses dois fatos e mais umas calças suplentes.
Enquanto esperávamos lá lhe fui dizendo que apreciava as suas preleções sobre História, embora não concordando com tudo, ao que ele retribui agradado pelo meu gosto mas dizendo que também quando não há muitas certezas se deve avançar com a hipótese mais credível e que depois venha 'alguém' contestar ou corrigir.
A parte engraçada veio a seguir quando disse: "sabe professor, nós já nos encontrámos antes, em 1969 quando eu fazia parte da Associação de Estudantes do...." sem me dar tempo de concluir o Professor, pensando talvez que eu poderia fazer algum confronto com o passado, atalhou dizendo peremptoriamente "vocês tinham razão! vocês tinham razão!".
Incomodado pela situação disse-lhe "Professor, o passado já lá vai, hoje temos novas realidades, tem que se ultrapassar esses tempos".
Depois de recolhidas as peças na lavandaria fomos beber uma 'aguinha' enquanto ele esperava pela esposa que andava às compras no supermercado (com o tal talão na mala...).
Mais tarde, numa tarde quentíssima de Julho, fui ao cemitério de Palmela acompanhar a sua última viagem.
E pensar que tudo isto veio de se tentar saber se os aerogramas eram ou não rápidos e seguros....
Hélder Sousa
Olá Camaradas
Tenho o tal livro do José Bação Leal. Li com atenção a cópia em fac-simile e vi que, mesmo a censura recuava um pouco sobre um texto escrito por um combatente. Fiquei com a ideia de que morreu de doença, provavelmente adquirida em serviço. Parece-me que estava só, isolado politicamente na unidade, o que acho difícil, como sabes por experiência própria.
Parece estar num certo pânico relativamente à "infernal máquina do fascismo". Tenho para mim que, se se tivesse aproximado dos soldados, das populações e de outros que vivessem um ideal próximo do seu, nunca teria chegado àquele estado de depressão.
Cada caso é um caso e cada homem é ele mesmo mais a sua circunstância.
Às vezes tenho a ideia de que o fascismo português pôde aguentar-se mais e ser aceite porque era o "fascismo de tromba humana", mas isso sou eu a pensar.
Um Ab. e fortes desejos de que possas lançar mais um dos tais inquéritos sobre a intervenção da "vigilância política" no terreno... com causas e efeitos, etc.
Mas não vale responder Não sei/Não me lembro. Senão podemos inventar outras hipóteses como: Toume nas tintas/Ká lá çaber/Ukékisto intereça?
António J. P. Costa
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