quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Guiné 61/74 - P18149: In Memoriam (309): Alf inf QP Augusto Manuel Casimiro Gamboa, CCAÇ 1586 (Piche, Nova Lamego, Canjadude, Madina do Boé, Béli, Bajocunda, 1966/68), nascido em São Tomé , morto em combate, em 14/12/1967, em Uelingará, entre Canjadude e Nova Lamego (José Martins / Virgílio Teixeira / António J. Pereira da Costa / José Corceiro)


Foto nº 1 > O alf inf Augusto Manuel Casimiro Gamboa, morto em combate, em 14 de dezembro de 1967 - Pertencia à CCAÇ 1586.

Foto: cortesia de Academia Militar > Alunos Mortos ao Serviço da Pátria > Campanha do Ultramar (1961-1974) > Alferes de infantaria Augusrto Manuel Casimiro Gamboa


Foto nº 2 > Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  c. 1967 > Foto de grupo: vários miliatres e população. Na primeira fila, sentados, aparecem à esquerda  o alf inf Gamboa (X), seguido do alf mil SAM Virgílio Teixeira.

Foto (e legenda): © Virgílio Teixeira (2017). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar_ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]


Foto nº 3 > Guiné > Região de Gabu > Canjadude > CCAÇ 5, "Gatos Pretos" (1968/70) > Parada Alferes Gamboa, no aquartelamento de Canjadude, frente ao edifício do Comando. Na base do mastro da bandeira existia uma placa gravada, em madeira, com a referida indicação.  Na foto, parte da Secção de Transmissões, 2º semestre de 1968.

Foto (e legenda): © José Martins  (2017). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar_ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]


Juntámos aqui quatro textos e algumas fotos sobre o nosso camarada Augusto Manuel Casimiro Gamboa, um dos 75 alferes mortos no TO da Guiné, e sobre o qual até agora tínhamos escassas referências no nosso blogue. Agradecemos a pronta colaboração dos nossos camaradas José Martins, Virgílio Teixeira, António J. Pereira da Costa e José Corceiro. Connosco, aqui no blogue da Tabanca Grande, ninguém fica na "vala comum do esquecimento".


1.  José Martins (ex-fur mil trms, CCAÇ 5, "Gatos Pretos", Canjadude, 1968/70; nosso colaborador permanente), em mensagem de ontem:

O Alferes de Infantaria AUGUSTO MANUEL CASIMIRO GAMBOA, com o número 0741211 era natural da freguesia da Conceição, concelho de S. Tomé, em S. Tomé e Príncipe, filho de Augusto da Costa Gamboa e de Maria Isabel Casimiro Gamboa. [Foto nº 1 ]

Foi mobilizado no Regimento de Infantaria nº 2 (Abrantes) para a Companhia de Caçadores nº 1586, embarcando em 30 de julho de 1966.

Sob o comando do Capitão de Infantaria António Marouva Cera, foi colocado em Piche, Sector Leste, onde assumiu a responsabilidade do referido sector a 8 de agosto de 1966.

Cumulativamente passou a ter a função de subunidade de intervenção, tendo pelotões destacados em Nova Lamego de 10 de outubro a princípios de dezembro de 1966; Madina do Boé de 10 de fevereiro a 1 de maio de 1967; Béli de 25 de janeiro a 15 de abril de 1967.

A 6 de abril de 1967 foi transferido para assumir o subsector de Bajocunda.

O subsector temporário de Canjadude, criado em 28 de outubro de 1967 teve um pelotão da CCAÇ 1586 onde, oficialmente, se manteve até 4 de dezembro de 1967.

Deve ter sido aquando da retirada desta força de Canjadude, em direção a Nova Lamego que, cerca de 1 quilómetro a sul de Uelingará, a coluna foi emboscada, tendo sido morto o Alferes Gamboa, em 14 de dezembro de 1967. [Foto nº 3]

Foi inumado no cemitério do Alto de São João, em Lisboa.


Foto nº 4 > Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > 14 de dezembro de 1967 > O cadáver do guerrilheiro do pAIGC, morto na emboscada que vitimou o alf inf Augusto Manuel Casimiro Gamboa.

Foto (e legenda): © Virgílio Teixeira (2017). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar_ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]


2. Virgílio Ferreira, ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69), em mensagem de ontem:

Olá a todos,

Em relação ao Alferes Gamboa, eu tive vários contactos com ele, quer em Nova Lamego, ou até Piche, e possivelmente em Canjadude onde fui algumas vezes.

Aqui vai uma foto que tirei com ele, a última antes de ele morrer, agora me relembro, barbaramente assassinado [Foto nº2] . Foi por isso que o turra que apanharam no seguimento desse ataque, também foi maltratado, já depois de morto. Tenho a foto, uma delas, vou enviá-la para memória futura.
Foi o pessoal do pelotão de AML Daimler 1143, que 'trataram' dele. [Foto nº 4]

Eu tenho uma ideia de estar envolvido nessas viagens, e isso foi precisamente por volta de 14 de dezembro de 1967, estava lá há pouco tempo. Isto marcou-me, como é óbvio. Na foto aparece mais pessoal. O Gamboa está de chapéu de abas largas enroladas, eu estou ao lado dele.

Não sabia que era do QP, era um gajo porreiro a falar e conversar, levava tudo a brincar.


3. António José Pereira da Costa [, cor art ref, ex-alf art, CART 1692 / BART 1914, Cacine, 1968/69; ex-cap art e cmdt  das CART 3494 / BART 3873, Xime e Mansambo, e CART 3567, Mansabá, 1972/74):

Mensagem de ontem, às 22:01:



Olá, Camaradas

O Alf Gamboa era um ano mais antigo do que eu.

Sai da Academia Militar em outubro de 1967 e terá embarcado ou ainda em dezembro de 1967  ou no início de janeiro de 1968.

Na altura a morte dele foi muito falada. Soube-se que foi brutalizado, esperemos que depois de morto, e que lhe deixaram um galão em cima do peito.

Soubemos que foi numa emboscada, mas não soube mais pormenores.

Um Abraço
António J. P. Costa


4. Excerto de texto de Virgílio Teixeira, publicado  no poste P 18145 (**)

(...) Há uma história triste com o alferes inf Gamboa, da CCAÇ 1589, que também estava subordinada ao nosso comando. Num certo dia de dezembro eu estava para ir numa coluna a Piche, estivemos a conversar debaixo duma enorme árvore, e tenho uma foto desse momento, com ele e outros militares que seguiram mais logo. Depois por qualquer razão que desconheço, não me deixaram ir, e a coluna partiu para Piche.

Uma ou duas horas depois vem uma informação de uma emboscada com minas e a noticia que um dos mortos era o alf Gamboa. Foi um choque. Apanharam um turra que fez parte dessa emboscada e trouxeram-no para Nova Lamego já morto, foram os elementos do pelotão AML 1143 e foi exposto na praça pública. Tenho fotos dessa exposição pública, não sei se interessa mostrar isto. Sei que depois se fizeram algumas barbaridades e eu, apesar de fotografar alguma coisa, não participei nesse baile.

Nessa noite fizemos o velório do Gamboa, ele usava um chapéu de cowboy americano com as abas para cima [, Foto nº 2]. Foi uma grande perda, pois falamos algumas vezes. (...)


5. Excerto do poste de 8 de julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6698: José Corceiro na CCAÇ 5 (14): Emissor receptor AN/PRC-10

(...) Em Canjadude, em 1971, pode-se testemunhar o seguinte: Durante uma flagelação do inimigo ao Aquartelamento, no dia 21 de Julho de 1971 ao escurecer, o fogo do IN danificou as duas antenas horizontais existentes do AN/GRC-9, que estavam instaladas e suportadas pelos ramos do embondeiro grande, que estava ao lado do campo de futebol e de uma mangueira que estava junto da Parada Alferes Gamboa.

O nome desta Parada, era uma homenagem ao Alferes Augusto Manuel Casimiro Gamboa que,  segundo se dizia, já após o término da sua comissão de serviço na Guiné, perdeu a vida numa emboscada do IN, no dia 14 de Dezembro 1967, quando a coluna que o transportava de Canjadude para Nova Lamego sofreu um ataque, em Uelingará, entre Canjadude e Nova Lamego. 

Contava-se em Canjadude, que foi todo esquartejado no tórax para lhe arrancarem o coração, assim como o despojaram de todos os seus haveres). (...)
_______________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 7 de novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17942: In Memoriam (308): Nelson Batalha (1948-2017), um dos 15 "ilustres TSF" do meu curso, meu padrinho de casamento, meu grande amigo e camarada...Natural de Setúbal, ferido em Catió, e depois de 10 anos a lutar contra o Alzheimer, acaba de cambar o Rio Caronte... A título póstumo, passa a integrar a nossa Tabanca Grande, sob o lugar nº 759 (Hélder Sousa, régulo da Tabanca de Setúbal)

11 comentários:

Anónimo disse...

António José Pereira da Costa

28 dez 2017 11:22

Tenho dúvidas sobre estes elementos.

Vou tentar contactar o Cor Infª António Marouva Cera de quem sou amigo.

Pelas minhas contas, como já disse, Gamboa era um ano mais antigo que eu na AM , portanto deve ter sido colocado na CCaç do Cap, Cera em JAN67.

E regressaria promovido ou a promover a tenente em JAN68.

Voltarei à antena quando tiver novidades.
Um Ab.
TZ

Anónimo disse...


josesmmartins@sapo.pt
28 dez 2018 11:28

Os elementos enviados foram recolhidos nos volumes 7 e 8 do CECA.

Bom ano novo.

José Martins

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Obrigado, camaradas, pela vossa pronta e generosa colaboração... Connosco ninguém fica na "vala comum do esquecimento"...

Tó Zé, é para isso é que serve o blogue... Para apurar a "verdade dos factos"...Acredito que há erros factuais que se vão repetindo sucessivamente... Mas o nosso José Martins é meticuloso e cauteloso nas consultas que faz... Por outro, o Virgílio Teixeira é "contemporâneo" do Gamboa...

Ab., Luis

Anónimo disse...

Virgílio Teixeira
28dez2017 12:34


Olám Camarada Costa,

O Alf Gamboa estava lá em Nova Lamego na data em que tirei as fotos, em meados de Dezembro de 67. Eu cheguei a Nova Lamego em 24SET67, e na primeira viagem a Piche já o conheci lá.

Ele foi antes, bastante antes do que Dez 67, talvez no ano de 67 a meio ou coisa parecida, mas não sei. As datas das fotos são certas, a morte dele a 14DEZ também, os pormenores estamos agora a saber...

Um abraço
Virgilio Teixeira

Anónimo disse...

Virgílio Teixeira

28 dez 2017 12:22

Bom dia a todos,

É assim que aos poucos se vai conhecendo esta história e como outras que nunca se vão saber. Já vi que aqui há muita gente para dar o seu parecer. Acho que o Coronel Cera deve saber com mais pormenores, eu era um Piriquito nessa altura, mas convivi várias vezes com ele. Ainda tenho mais uma foto com ele em Piche, que depois de digitalizar vou anexar.

A barbaridade do acto chocou a todos, mas não vou entrar em mais comentários para não ferir outras sensibilidades.
Bem hajam a todos.

Virgilio Teixeira

Anónimo disse...

Virgílio Teixeira

28 dez 2017 12:28


Olá José Martins,

Obrigado pela descrição deste nosso camarada, não sabia nada da vida dele, nem que era de S. Tomé, sei que era uma pessoa que dava gosto conversar, e estava à espera de ser promovido a Tenente. A foto dele da Academia não me dá ares nenhuns dele, mas é isso mesmo.

O tema relativamente às barbaridades do PAIGC devem ser exploradas até dizer chega!

Um Abraço

Virgilio Teixeira

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Caros camaradas,

cometem-se em todas as guerras "barbaridades"... gratuitas, desnecessárias... como mutilar cadáveres, ou ... Não basta matar, "a sangue quente", muitas vezes a "raiva cega" leva(va)-nos a actos como aqueles que foram vítimas tanto o alf Gamboa como o "turra" cujo cadáver terá sido levado para Nova Lamego...

Temos pudor em falar destes casos que... presenciámos!...Mas devemos falar deles até para podermos confirmar que foram exceções à regra...De parte a parte, diga-se de passagem... Da nossa parte e da parte do PAIGC...

Não temos evidência empírica de que estes casos se tenham passado. sistematicamente, regularmente, ao longo da guerra, em todos ou quase todas as unidades... Não o eram no meu tempo, embora tenha "assistido" a uma ou barbaridade "gratuita"... De parte a parte... Refiro-me a violência praticada "a sangue quenet", no calor da batalha... Não da violência "a sangue frio", como armadilhar, pôr minas e fornilhos, etc., que tanto matam militares como civis...

A maior barbaridade de todas é/foi a guerra...

José Marcelino Martins disse...

No volume 7º da CECA, tem a indicação de que não existe "História da Unidade".
Se houvesse, a minha resposta não tinha sido tão rápida, pois iria validar os dados com os elementos que constassem no AHM.

Anónimo disse...

Camaradas,

Ainda que esteja longe da minha residência, não é possível deixar de acompanhar a publicação dos postes no blogue e os diferentes comentários, utilizando apenas o equipamento informático disponível.

Sobre o tema relacionado com a morte do alf Gamboa, apresento a versão publicitada no "Libertação", órgão informativo do PAIGC, n. 85, de Dezembro de 1967, onde se pode ler nas (p.3), o seguinte: [...] no dia 14 de Dezembro, numa emboscada entre Canjadude e Gabú, a 5 km desta cidade, uma unidade do nosso Exército Popular infligiu ao inimigo uma perda de 24 mortos e várias dezenas de feridos. Entre os mortos inimigos, os nossos combatentes identificaram um tenente é um alferes. [...]

Para mais detalhes consultar Casa.Comum.org, disponível http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_44342 (2017-12-30).

Bom Ano de 2018.

Ab. Jorge Araújo.

Anónimo disse...

Qual é a credibilidade dessa gente do PAIGC?
Onde estão os 24 mortos?

Porque é que se publicam coisas destas?
Virgilio Teixeira

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Vírgílio; o nosso camarada Jorge Araújo, colaborador permanente do nosso blogue,´é um profundo conhecedor do Arquivo Amílcar Cabral... É importante termos acesso, hoje, ao que se dizia ontem a nosso respeito, mesmo sabendo da falta de credibilidade dessas fontes...

Ele limitou-se a disponibilizar a "informação" que vinha no "Libertação", órgão informativo do PAIGC, n. 85, de Dezembro de 1967, a respeito da emboscada que vitimou o nosso camarada Gamboa...

Compete-nos a nós saber "ler" (filtrando...) essa fonte: o jornal "Libertação" era um um órgão de propaganda, não podemos esperar que fosse uma fonte de informação, objetiva, isenta, imparcial... A propaganda fazia parte da própria essência da guerra de guerrilha... Para o PAIGC matar numa emboscada dois oficiais portuguesas era um grande "ronco", e logo um tenente e um alferes... Ora sabemos que o alf Gamboa tinha com ele as divisas de tenente, posto a que ia ser promovido, depois da partida de Canjadude... Em Conacri, a "inteligência" do PAIGC contou dois oficiais...