domingo, 17 de maio de 2020

Guiné 61/74 - P20982: Blogpoesia (677): "Se a vida fosse um mar...", "Tardes suaves" e "Fugir da terra...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante a semana:


Se a vida fosse um mar…

Seria azul a vida, se a vida fosse um mar.
Seria um céu.
Com sol, aceso, de manhã à noite.
Haveria baile a toda a hora.
Com as ondas a bailar.

Haveria lendas e caravelas.
Velas pandas. Nautas perdidos.
Buscando estrelas.
Na solidão da noite.

Brotariam sonhos.
Paixões a arder.
Morreria a dor.
Não haveria fim
E o mal também.

Se calhar, tudo seria eterno.
Haveria paz…

Ouvindo Peaceful Music, Relaxing Music, Instrumental Music "Beautiful Norway" By Tim Janis
Mafra, 13 de Maio de 2020
17h20m
Jlmg

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Tardes suaves

Horas suaves à mesa
Na esplanada do café
Nesta praça de Évora.
Década de sessenta.
Cumprindo a tropa.
RI-16.
Juventude em pujança.
O futuro era a esperança e o sonho.
As tardes eram escaldantes.
Por bosques e montados.
Calcorreando veredas.
De "mauser" ao ombro.
De fato zuarte,
Suando as estopas,
Robustecendo pernas e braços,
Conquistando moinhos.
Ao cabo de meses,
Partíamos para África.
Não mercenários.
Na defesa da Pátria.
Entregues à sorte.
Os anos passaram.
Dezenas.
Favor do destino.
Hoje eu relembro as tardes de Évora.
Emoção e saudade...

Mafra, 14 de Maio de 2020
10h55m
Jlmg

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Fugir da terra...

Fugir da terra para o refúgio do mar
Há ventania e tempestade na terra.
Tornou-se impossível viver.
Rugem ferozes elementos mortíferos.
Sem distinção, atacam indefesos,
Desarmam pobres e ricos,
poderosos e fracos.

Só dá para fugir.
Ficar é morrer.
A não ser que a clemência divina
nos venha valer...

Mafra, 12 de Maio de 2020
10h46m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 10 de Maio de 2020 > Guiné 61/74 - P20959: Blogpoesia (676): "Não matem a lagartixa", "Um raio de sol" e "Oração à sabedoria", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

2 comentários:

Valdemar Silva disse...

Mendes Gomes
A tropa em Évora aguentava-se, em Vendas Novas era uma chatice.
Nunca consegui perceber a necessidade de haver quartéis militares em quase todas as cidades e em nalgumas vilas do país, parece que o medo aos espanhóis não nos saía da memória. Pelo menos com a ocupação de militares, deu para conservar antigos conventos e palácios reais de cair em ruína.

Ab. e saúde da boa
Valdemar Queiroz

Fernando Ribeiro disse...

Valdemar Queiroz

Por acaso, o edifício em que RI 16 esteve alojado, no Largo dos Castelos em Évora, não tinha sido convento nem palácio. Foi construído propositadamente para ser quartel, seguindo todas as regras da engenharia militar do séc. XVIII. Foi lá que se formou o meu batalhão. Já o RAL 3 esteve num antigo convento, também em Évora.

Mas já que fala em medo aos espanhóis, o que dizer de Elvas, que tinha mais militares e respetivas famílias do que civis? Ainda por cima, as portas da cidade eram fechadas à noite, como se estivéssemos na Idade Média! É claro que quem quisesse entrar ou sair de Elvas à noite, podia fazê-lo, mas tinha que pedir aos militares para abrirem a porta... Dei uma recruta em Elvas, no BC 8, que também estava num antigo convento.

Fernando de Sousa Ribeiro