segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Guiné 61/74 - P21869: Notas de leitura (1339): “Henrique Galvão, Um Herói Português”, por Francisco Teixeira da Mota; Oficina do Livro, 2011 (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 30 de Maio de 2018:

Queridos amigos,
 
O nome de Henrique Galvão faz parte do rol dos malditos da oposição a Salazar, o seu nome, quando invocado, é automaticamente associado ao desvio do paquete de Santa Maria. Homem do 28 de maio, de 1926, deixou um legado impressionante: na literatura, na obra teatral, na narrativa de viagens, na etnografia; foi executante exímio de eventos ligados ao Império, nomeadamente em 1934 e 1940; o regime confiou-lhe a criação e a direção da Emissora Nacional, o seu amor a África era obsessivo, criou uma mística imperial que não se coadunava com o que ele irá ver enquanto inspetor superior de Administração Colonial. Encontrará uma oposição cerrada aos seus relatos crus em que desvela casos de escravatura e corrupção, em Angola. 

Nesse preciso instante, em 1947, ele que tantas juras de fidelidade dirige a Salazar, prepara a rutura.
Poucas figuras, fora da oposição comunista, darão tantas dores de cabeça a Salazar e ao seu regime. Mas o que será sempre incontestável e por todos reconhecido é o seu amor a África.

Um abraço do
Mário



Henrique Galvão, o feitiço do Império, a insubmissão a Salazar (1)

Beja Santos

Oficial do 28 de maio, mas antes sidonista, ginasta, publicista e epistológrafo compulsivo, exilado em África, depois do “Golpe dos Fifis”, aqui nasce uma paixão que o acompanha até ao túmulo, 

África será uma das tónicas dominantes da sua existência, Governador de Huíla, autor teatral, embaixador de feiras comerciais, figura pública após a coordenação da Exposição Colonial do Porto de 1934, deputado da União Nacional, Diretor da Emissora Nacional, Inspetor Colonial, galvanizador na Exposição dos Centenários, figura incómoda da Assembleia Nacional, caçador exímio… e a partir de 1947 uma das figuras mais incómodas do regime quando Galvão apresenta na Assembleia Nacional o “Relatório sobre o Trabalho dos Indígenas nas Colónias”, estava inoculado o vírus dos ódios que o elevado número de inimigos, dentro do próprio regime, de governantes à administração colonial. Inicia-se um processo que de afeiçoado indefetível de Salazar o leva ao completo repúdio, às prisões, ao assalto ao paquete de luxo Santa Maria, ao exílio e à solidão. 

Em “Henrique Galvão, Um Herói Português”, por Francisco Teixeira da Mota (foto à direita, acima), Oficina do Livro, 2011, temos os dados biográficos relevantes desta figura polémica de um enamorado de África que foi a primeira figura da oposição portuguesa a ser ouvida por uma Comissão das Nações Unidas, em Estados Gerais de Descolonização.

Henrique Galvão (1895-1970) levou uma vida gloriosa e trágica, publicista irreverente desde a juventude, adere entusiasticamente ao 28 de maio de 1926, é plumitivo feroz contra os republicanos, adere a um golpe do período da ditadura militar, é exilado em África, nomeado Governador do Distrito do Huíla, onde começa a ganhar notoriedade e o afeto das populações, quando é recambiado para Lisboa, a sua saída deu origem a numerosas manifestações de pesar. 

Escreve um livro polémico, “Em Terra de Pretos: Crónicas de Angola”, foi rejeitado no 4.º Concurso de Literatura Colonial, Armando Cortesão, Agente Geral das Colónias, pronunciou-se de forma arrasadora sobre a obra. 

Em 1931, acompanha o Ministro das Colónias, Armindo Monteiro, à Exposição Colonial de Paris, certamente que aqui tirou ideias para o que irá concretizar na Exposição do Porto, em 1934. Escreve o relato dos feitos do General João de Almeida na ocupação do Sul de Angola. Sempre ativo, o então Tenente Henrique Galvão ausenta-se para as colónias portuguesas na qualidade de Diretor de Feiras de Amostras Coloniais.

E chega o seu primeiro momento de glória, a Exposição Colonial do Porto. Com um orçamento extremamente reduzido, Galvão vai ser o mentor de um evento único que se espalhará pelos jardins e pelo Palácio de Cristal, com aldeias de indígenas das colónias e os seus habitantes expressamente trazidos para o Porto. 

Da Guiné virão 63 indígenas, predominam Fulas, Balantas e Bijagós, para os quais se irá construir uma aldeia lacustre. Artistas como Eduardo Malta e o fotógrafo Domingues Alvão deixam obra feita. Realiza-se o I Congresso Militar Colonial, entre outros eventos. Elege-se a Rainha das Colónias, Galvão preside ao júri composto por Amélia Rei Colaço, Aurora Jardim Aranha, Eduardo Malta e Mimoso Moreira.
 
Um jornal relata o acontecimento:

“A um sinal dado por mão forte, as concorrentes erguem-se, desnudando os bustos. Sobre o peito, em cores garridas, uma banda de cetim indicando a colónia a que pertenciam. A Guiné iluminava o maior número. Foi vencedora Maria, ‘a virgem quipungo’ que conseguiu 7 minutos de aplausos enquanto dava sucessivas voltas ao estrado”. 

O povo do Porto e do país inteiro adotara a Rosinha, uma jovem Balanta da Guiné, eleita como Dama de Honor e que provocava verdadeiras romarias à tabanca da Guiné. Relatava o Jornal de Notícias:

“Rosinha, a negra que entontece os brancos, tem sido muito visitada na sua aldeia e há, até, quem lhe leve pequenos presentes. Para todos os que a visitam revela uma pequena surpresa, um sorriso. Há quem se contente só com isso, mas outros, como um da sua cor, quis mais – e beijou-a. Hoje deve estar arrependido deste gesto – custou-lhe 800$00, e essa quantia por beijar uma negra é um pouco forte”.

Um triunfo não vem só, é eleito deputado, depois Duarte Pacheco, Ministro das Obras Públicas e de Comunicações convida-o para organizar e dirigir a Emissora Nacional, nesta época a sua correspondência com Salazar entrara na rotina. 

As suas relações com o sucessor de Armindo Monteiro nas Colónias, Francisco José Vieira Machado, serão desde logo conflituosas. Escritor incansável, não para de escrever. Abandonando a Emissora Nacional, vemo-lo em 1937 a fazer uma inspeção aos Serviços Administrativos de Angola. O que manda a Salazar é muito incómodo: 

"Tão facilmente se encontra o heroísmo que comove como a miséria que confrange como a patifaria que revolta”.

 Farta-se de caçar, e volta a Lisboa onde elabora quatro relatórios. No início de 1938 entrega, na sua qualidade de Inspector Superior de Administração Colonial, no gabinete do Ministro das Colónias, o seu relatório sobre a “Mão-de-obra de Angola para S. Tomé”. É explosivo à solta, leem-se coisas como esta: 

“Durante a minha permanência na Colónia, tive conhecimento de que pelo Governo da Província de Benguela se pensava enviar para S. Tomé um contingente de indígenas do Bailundo, com o pretexto de castigar uma presumida insubmissão dos mesmos. Não houve insubmissão de espécie alguma. Mas, ainda que a houvesse, o Código de Trabalho Indígena e o Estatuto dos Indígenas não admitem tais processos de punição, muito semelhantes a processos condenáveis de escravatura”

E refere o autor: 

“Apoiado em números, muitos deles obtidos com enorme dificuldade dos serviços da Curadoria dos Indígenas, Henrique Galvão descrevia a enorme tragédia que se abatera sobre os indígenas de Angola recrutados para S. Tomé desde o início do século XIX. Os contratos eram por dois ou três anos e, no entanto, em 1934, ainda havia um elevado número de serviçais que tinham sido levados para S. Tomé, entre 1909 e 1922, e que aí permaneciam. A política de repatriamento era uma tragédia”.

Comentando o documento, o autor observa que para Galvão, a situação que se deparara era a negação do Império que queria construir. O Estado-Novo em África não existia e a realidade com que se confrontava eram os comportamentos mais aberrantes e a maior miséria.

Embora já muito incómodo para uma facção do regime, Salazar confia nele sem nenhuma hesitação, nomeia-o Diretor da Secção Colonial da Comissão dos Centenários, a Galvão caberá um conjunto de tarefas como a dos festejos, a Secção Colonial da Exposição do Mundo Português, as Festas de Guimarães, o Cortejo do Mundo Português. 

É um incontestável artífice do efémero. Começara, em finais de 1940, o afastamento de Galvão do regime, vira o suficiente para estar profundamente desiludido. A mudança decisiva irá ocorrer na Assembleia Nacional com o polémico “Relatório sobre o Trabalho dos Indígenas nas Colónias”.
Nada ficará como dantes.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 1 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21834: Notas de leitura (1338): "Voando sobre um ninho de STRELAS", por António Martins de Matos; Edições Ex Libris, 2020 (2) (Mário Beja Santos)

11 comentários:

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Por mais que se diga mal dele e por mais que apouque o que fez - mal ou bem - contra o salazarismo é uma figura incontornável e que, caso raro, vindo do regime teve a coragem de o criticar por dentro, em nome da verdade. Nos regimes ditatoriais é assim: quem diverge do leader é perseguido por ele e pelos amen-men que querem ficar bonitos na fotografia.
Numa sessão da AN, à "porta fechada" (no fundo o regime sabia que as coisas não corriam bem nas colónias) expôs a situação que se vivia em Angola e foi perseguido e desmentido por isso.
Depois, as coisas foram-se agudizando, e o resto já sabemos, por experiência nossa, como foi.
Se o "regime" tivesse sido mais honesto e corajoso do que foi...
Creio que foi ele quem disse que "tudo é obrigado a trabalhar, menos os mortos".

Um Ab.
António J. P. Costa

Cherno Baldé disse...

Caros amigos,

Sem deixar de ser "colonialista e supremacista branco do regime", este Henrique Galvão nos surpreende pela visão singular e de certo modo "progressista" que o inspirava. Não creio que fosse um benevolente ingénuo, porque era tão patriota como os outros ou mais e queria salvar o império, mas a diferença é que ele compreendia, mais que os outros, que a melhor via para salvar o império português residia na utilização racional dos recursos baseada em métodos mais suaves ou mais "humanos" vis-a-vis dos de baixo, em resumo um adepto do capitalismo mais refinado. Não foi compreendido, porque os que queriam aproveitar-se do regime eram mais numerosos que os que queriam servir na construção dos alicerces do império a longo prazo. No fundo, a administração de uma sociedade ou conjunto de nações não é muito diferente da administração de uma empresa. Usando a máxima de um nosso tertuliano: A médio e longo prazo "quem não é competente não se estabelece".

Com um abraço amigo,

Cherno Baldé

António J. P. Costa disse...

Olá Camarada

Concordo com o Cherno!
Temos que ver as coisas e o modo como decorreram, no seu "tempo". A situação política emergente da república era muito diferente e estava minada de contradições e insuficiências.
A maior parte dos deputados nomeados para a AN nem sabiam o que era África e todos tinham a ideia vaga de que "aquilo" era longe, mas que era "nosso" com base nas História que tinham aprendido nas escolas.
Por isso, se aparecesse alguém a contradizê-los ou a contradizer o querido leader... tinha de ser cilindrado. Era necessário que tudo se mantivesse na mesma.
A partir de então estava desencadeada a guerra política. Com a falta de apoio internacional das potencias democráticas europeias o que é que se poderia fazer para derrubar o fascismo?
Há quem se levante contra ele nomeadamente na acção do DRIL, mas tratou-se mais de uma acção de desespero ou de confrontar o "Ocidente" com as suas contradições.
Foi errado? Sinceramente não sei. Mas não tenho conhecimento de que outros tenham sequer pensado fazer melhor.

Um Ab.
António J. P. Costa

Valdemar Silva disse...

Aquela '.....-custou-lhe 800$00, e essa quantia por beijar uma negra é um pouco forte'.
Então pagou a multa por beijar uma mulher na via pública, e ao que parece o jornalista não concordava com o legislador. Qual racismo qual quê ....

Como nota curiosa, o irmão do Imediato(?) Nascimento Costa que morreu no assalto ao "Santa Maria" era meu colega de trabalho.

Valdemar Queiroz

Antº Rosinha disse...

Galvão era muito conhecido em Angola, principalmente no Sul, Huila e Moçâmedes, e deixou um livro sobre caça daquela região, muito célebre e muito comentado. Em 1958 ainda conheci um velho fiscal de caça, fiscal e guia, que acompanhou Galvão, apaixonado caçador.

Foi nessa região, bastante desertica, enorme, paisagens variadíssimas, onde foi governador, que ele se deve ter apaixonado por uma terra (que iria ser portuguesa por toda a vida, foi feita a escritura em 1880 em Berlim, e corroborada em Londres com a demarcação do mapa cor de rosa, pela Rainha Vitória), que levou o Tenente Galvão a dirigir a grande exposição do centenário.

Nesse tempo, principio dos anos 30 ninguem pensava naquilo que se passaria dali a 30 anos, 1961.

Eram todos fieis colonialistas, tal como era Norton de Matos, que fundou Nova Lisboa, como foi Delgado ao montar a TAP para ligar âs colónias, (TAP, que devia ter desaparecido como desapareceram as Companhias de navegação, a seguir ao 25 de Abril para nosso bem), enfim, tudo bons rapazes, mas que o maior "defeito", que os rapazes desse tempo encontravam na governação colonial de Salazar, era que este não deixava que as colónias se desenvolvessem, ou seja, fossem exploradas a sério, como faziam os belgas, os franceses e os ingleses e boeres.

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Quero recordar que o Cap. Galvão era português e a visão que tinha, antes da ida para a África, era a que lhe tinha sido inculcada durante os estudos e na vida diária da metrópole. A perspectiva com que ficou ao regressar era a do europeu que viu que "aquilo" era uma mina, só para alguns, os que lá estavam - quem não se lembra das caricatas "cartas de chamada" - e os da sua confiança.
Foram estes que, no seu dia-a-dia, foram criando condições para a explosão do fenómeno subversivo que estava latente, mas ninguém queria ver. Que não se fizessem ondas! Perspectiva provinciana de de grande desonestidade intelectual.
É provável que ele achasse que o país era só um, repartido por vários continentes, mas isso era a perspectiva de quem honestamente visse o que se passava.

Já vamos no Gen. Delgado e na TAP? Então não era natural que o Império estivesse ligado à metrópole por uma linha aérea? E continuamos com considerações económico-financeiras sobre a respectiva extinção. Como é que um comentário destes poderia ser inserido no blog, se não tivesse surgido o tema Henrique Galvão?
Então e o alto-comissário Norton de Matos que até queria passar a capital - do Império - para Angola? Todos uns colonialistas que se tornaram oposicionistas com raivinha de dentes contra o grande, o enorme, o GCC António de Oliveira Salazar. Invejojos era u que eles erem! Malanderes! Xe não forem eles a inda oge o Império era forte feio e faxanhudo.

Biba o Homme, carago! Bibóóóóó!

Um Ab
António J. P. Costa

Valdemar Silva disse...

Sobre as "cartas de chamada", há uns anos numa conversa em casa duns amigos que tinham estado em Angola coloquei essa questão.
A resposta, um pouco respingona, foi :
-Então apareciam por lá sem ninguém se responsabilizar, e depois sem modo de vida quem é que sustentava essa gente.

Abracelos
Valdemar Queiroz

Antº Rosinha disse...

Chamava-se "Carta de chamada" a um termo de responsabilidade de alguem que estivesse em condições de se responsabilizar por alguem que chegasse e sentisse problemas de adaptação.

Podia ser em geral alguem estabelecido ou um parente já radicado etc. que assumisse o sustento ou recambiamento do emigrante.

Não precisava de "carta de chamada", quem pagasse a viagem de ida e volta, ficando durante um ano, ou 6 meses, (este prazo não recordo perfeitamente), o dinheiro de regresso retido.

Quem conheceu emigrantes para o Brasil, Argentina, etc. que foram aos milhares a seguir à II grande guerra, tinham uma burocracia muito semelhante, a que o povo chamava exactamente "Carta de chamada".

Eu viajei com "carta de chamada" passada por um pequeno comerciante, para Luanda em 1957, viajei por aproximadamente 3 contos no porão do paquete Império.

Penso que internacionalmente era usual essa burocracia naqueles tempos.

Não sei pessoalmente quem ia para os EUA ou Canadá, se precisava dessa burocracia.

Penso que no antigamente, sem aviões, poucos meios de comunicação, era lógica essa precaução, para descanso de quem ia e de quem ficava.

Penso que nem Henrique Galvão seria contra essa medida que nem seria invenção de Salazar.

Valdemar, podes crer que quem chegava a África, sozinho, se não fosse bem recebido, e tivesse alguma dificuldade de se adaptar, ed caisse em ambientes muito estranhos a ele,o que era muito frequente, "retorcia-se"todo para não apanhar o vapor de regresso.

Conheci muitos cooperantes na Guiné (principalmente professores), que nos primeiros dias da chegada, entravam em parafuso: Mas isto é assim? como foi possível passar aqui 500 anos?

Os já adaptados deitavam-lhe a mão e animavam-nos brincando que em África, o mais difícil são os primeiros 10 anos.

Valdemar Silva disse...

Rosinha
Pois, evidentemente mal comparado, quem saísse de Monção para arranjar trabalho em Lisboa com certeza que procuraria alguém para arranjar emprego, mas o problema em Luanda era diferente por quem saísse daqui quereria emprego nos Serviços do Estado ou ser patrão.

Boa saúde
Valdemar Queiroz

Antº Rosinha disse...

Valdemar, penso que entendeste o que era uma "carta de chamada" para o desconhecido.

Se soubesses quanta gente deixou lá os ossos, porque nunca chegou a ganhar para pagar a viagem de regresso!

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Mais uma vez saímos do tema do post.
Recordo que estávamos a falar do Henrique Galvão. Tenente do 28MAI, mas participante no Golpe dos Fi-fis.

Já veio a terreiro a conferência de Berlim e só falta a CEI. As esclarecedoras considerações sobre a "Carta de Chamada" são de conservar para "mais tarde" apresentar. Nunca as tinha visto tão claramente expressas. E com tão boas intenções!... Humanitárias, diria mesmo.
Há um pequeno detalhe a acrescentar: é que quem ia para o estrangeiro (Brasil, Venezuela E. U. A., etc.) poderia ter uma "burocracia" especial, estabelecida pelo respectivo governo. Agora para viajar dentro do Império, uma "Carta de Chamada... e para não "se retorcer todo para apanhar o vapor de regresso". Estranho! Então emigrava-se para se ir retorcer?
Enfim, outros tempos, quando Portugal era GCC e os povos (pretos, brancos e mestiços) viviam em harmonia (uns mais do que outros, claro) à sombra da bandeira verde-rubra.

Então e os emigrantes que seguiam para França e Alemanha e nem "Bilhete Postal de Chamada" tinham. Coitados deviam ter grandes dificuldades por esse motivo. Quem é que responsabilizaria por eles?
Não lhes restava mais do que sujeitar-se à burocracia local.

Um Ab.
António J. P. Costa