Foto nº 1
Foto nº 2
Guiné > Região de Cacheu > Teixeira Pinto > CAOP1 > 35ª CCmds (1972/74) > O Ramiro Jesus e o Marcelino da Mata (1940-2021) (Foto nº 1) e o grupo "Os Vimngadores" (Foto nº 2)
Marcelino da Mata (Ponta Nova, Guiné, 1940 - Amadora, 2021) |
1. Mensagem de Ramiro Jesus [ex-fur mil 'comando', 35ª CCmds (Teixeira Pibto, Bula e Bissau, 1071/73); mora em Aveiro e é membro da nossa Tabanca Grande desde 9/12/2012]
Data - 11 fev 2021 18:24
Assunto - Marcelino da Mata
Boa-tarde, Luís.
Acabo de ler nos jornais a notícia da morte - que lamento profundamente - do lendário guerrilheiro Marcelino da Mata.
Mais um que passou mil tormentas (até cá) e escapou de tantos e difíceis embrulhanços para agora ser vítima desta malvada praga [, a Covid-19].
Como não conheço ninguém da família, queria pedir-te o favor de, para lhe prestar a minha homenagem e agradecer por todos a quem protegeu com a sua acção ao comando do famoso grupo Os Vingadores, publicares a minha mensagem no nosso blogue e ilustrá-la com as duas fotos que envio em anexo, tiradas na pista de Teixeira Pinto (hoje Canchungo) em 1972.
Paz à alma do Marcelino, o militar português mais condecorado!
Para vós, continuação de boa saúde.
Obrigado!
Ramiro
PS - Acabei de copiar uma foto do Marcelino da Mata, publicada pelo Observador, que envio em anexo, para o caso de entenderem publicar também, já que é de muito melhor qualidade que as minhas e o mostra fardado como verdadeiro herói.
Fonte: Xavier Figueiredo - Na morte de Marcelino da Mata, o mais graduado oficial do Exército. Obaservador, 11 fev 2021, 17:48 [Foto repoduzida com a devida vénia]
Caros Magníficos, é com tristeza que vos comunico o falecimento do nosso amigo e Magnífico Marcelino da Mata. Faleceu no Hospital Amadora-Sintra com COVID.
A seguir farei um post com fotos das suas participações nos nossos convívios, e que foram muitos.
Sentidas condolências à sua família e paz à sua alma. Descansa em paz, amigo.
3. Comentário do editor LG:
Obrigado, Ramiro,pelo teu testemunho, mesmo em cima do acontecimento. Antes de ti, já me tinha chegado a triste notícia da morte deste nosso camarada guineense por telefonema do Manuel Resende, régulo da Magnífica Tabanca da Linha, que também publicou uma primeira nota necrológica no seu blogue.A única vez que estive com o Marcelino foi justamente num convívio na Tabanca Linha. Ficámos frente a frente, à mesa. E conversámos ainda um bocado. Mas fiquei com a ideia de que ele era melhor operacional do que conversador. Na altura insisti com ele para escrever e publicar as suas memórias em vida, sob pena de nunca se chegar a saber exatamente onde começava a lenda e acabava a história. Disse-me que tinha um jornalista encarregue dessa tarefa. Pareceu-me um homem com mais admiradores do que amigos do peito.
A esta hora da noite, o meu primeiro pensamento vai para a sua família, a quem envio os meus sentimentos de pesar. Como escreveu aqui há 15 anos atrás, o Mário Dias,que participou com o Marcelino da Mata na Op Tridente, ele tinha orgulho em dizer que nascera português e queria morrer português. Infelizmente, ingloriamente, morto pelo tiro traiçoeiro da Covid-19.
Era de facto um lenda viva, se bem que muito controversa, da guerra colonial na Guiné (1961/74). Compete à História, e não a nós, e muito menos a quem conheceu, superficialmente, no pós-guerra, fazer o seu retrato a corpo inteiro, como luso-guineense, homem, cidadão e militar.
Também não conheço a família. Fui contactado, em 2006, por email, por uma filha, Irene Rodrigues da Mata, que estava em Inglaterra a estudar, e que pretendia recolher testemunhos sobre ele, por alguns dos seus antigos camaradas de armas. Publicámos na altura cinco postes com depoimentos de quem o conheceu nos anos de 1964, 1965 e 1966 (*).
Como escrevi há tempos, em comentário a um poste do José Saúde (**), no nosso blogue há certos vocábulos e expressões que, por serem insultuosos , ou implicarem juízes de valor (sobre o comportamento dos nossos camaradas, humano, militar, operacional, disciplinar, ético...), nós não usamos: por exemplo, "vilões"... Como fazemos questão de dizer, "não diabolizamos nem santificamos" os camaradas que combateram ao nosso lado, independentemente da sua "história de vida"... Mesmo o termo "herói" deve ser usado com "reserva" e "parcimónia"... Não somos advogados em causa própria...
Devemos preservar, isso sim, a memória dos ex-combatentes, de preferências através dos testemunhos ou depoimentos na 1ª primeira pessoal do singular ou do plural: eu vivi, eu estive lá, eu vi, nós estivemos lá, nós vivemos, etc.
Vejo muita gente a falar de cor, nas redes sociais, sobre pessoas e situações que mal conheceram ou não conheceram de todo. Quem podia (e devia) falar sobre o Marcelino da Mata é/era ele próprio e os camaradas que o conheceram, de mais perto, por terem combatido e/ou convivido com ele no TO da Guiné...
Como escrevi há tempos, em comentário a um poste do José Saúde (**), no nosso blogue há certos vocábulos e expressões que, por serem insultuosos , ou implicarem juízes de valor (sobre o comportamento dos nossos camaradas, humano, militar, operacional, disciplinar, ético...), nós não usamos: por exemplo, "vilões"... Como fazemos questão de dizer, "não diabolizamos nem santificamos" os camaradas que combateram ao nosso lado, independentemente da sua "história de vida"... Mesmo o termo "herói" deve ser usado com "reserva" e "parcimónia"... Não somos advogados em causa própria...
Devemos preservar, isso sim, a memória dos ex-combatentes, de preferências através dos testemunhos ou depoimentos na 1ª primeira pessoal do singular ou do plural: eu vivi, eu estive lá, eu vi, nós estivemos lá, nós vivemos, etc.
Vejo muita gente a falar de cor, nas redes sociais, sobre pessoas e situações que mal conheceram ou não conheceram de todo. Quem podia (e devia) falar sobre o Marcelino da Mata é/era ele próprio e os camaradas que o conheceram, de mais perto, por terem combatido e/ou convivido com ele no TO da Guiné...
O nosso camarada Marcelino da Mata, nascido por volta de 1940, costumava frequentar a Tabanca da Linha, mas deixei de o ver, nos últimos anos... Tem cerca de meia centena de referências no nosso blogue (que eu não sei se ele conhecia).
Há diversos camaradas que o conheceram bem, como o nosso editor jubiladoVirgínio Briote, que foi seu comandante no Grupo Diabólicos (a que o 1º cabo Marcelino da Mata pertenceu inicialmente)...
Há diversos camaradas que o conheceram bem, como o nosso editor jubiladoVirgínio Briote, que foi seu comandante no Grupo Diabólicos (a que o 1º cabo Marcelino da Mata pertenceu inicialmente)...
Recorde-se que os Diabólicos faziam parte dos Comandos do CTIG, que estiveram sedeados em Brá, de 1965 a 1967, e de que foi primeiro comandante outro membro da nossa Tabanca Grande, o então capitão 'comando' Nuno Rubim (, hoje cor art ref). Mas há mais: desse tempo, o Mário Dias, o João Parreira, o Luís Rainha, e outros.
Como diziam os romanos, Requiescat in Pace, velho combatente!
________________
Notas do editor:
(*) Vd. postes de:
10 de dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1354: Testemunhos sobre o Marcelino da Mata, a pedido de sua filha Irene (1): De 1º Cabo Comando a Torre e Espada (Virgínio Briote)
10 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1355: Testemunhos sobre o Marcelino da Mata a pedido de sua filha Irene (2): Orgulho-me de o ter conhecido em Guileje (José Carvalho)
10 de dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1357: Testemunhos sobre o Marcelino da Mata, a pedido de sua filha Irene (3): Nem a cruz nem o altar (Mário Dias / Luís Graça)
10 de dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1357: Testemunhos sobre o Marcelino da Mata, a pedido de sua filha Irene (3): Nem a cruz nem o altar (Mário Dias / Luís Graça)
(**) Vd. poste de 24 de dezembro de 2015 > Guiné 61/74 - P19330: Memórias de Gabú (José Saúde) (75): Marcelino da Mata, um homem que deu o corpo às balas (José Saúde)
(***) Último poste da série > 10 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21884: In Memoriam (392): João Manuel Vacas de Carvalho (Montemor-O-Novo, 1944 - Évora, 2021), referência da tauromaquia alentejana, antigo fur mil 'comando' em Moçambique, e irmão do nosso camarada José Luís Vacas de Carvalho (ex-alf mil cav, Pel Rec Daimler 2206, Bambadinca, 1969/71)
11 comentários:
Teve a oportunidade de escolher o seu lado na barricada.
Dedicou a sua vida ,esforços, e não menos uma coragem pessoal muito acima do normal,ao serviço dos valores das forças políticas do Portugal de então.
Dentro desta perspectiva cumpriu com inegável heroicidade.
Muitos militares portugueses combatentes na Guiné lhe ficaram,em inúmeras e graves ocasiões, a dever-lhe a vida.
Se só por isso,haverá toda um compreensível dívida colectiva para com ele,independentemente de posturas políticas.
Com uma maior distância ,no tempo e gerações,que juízo histórico lhe será feito é algo difícil de hoje se conjecturar.
J.Belo
Paz à sua alma. Eterno descanso para um guerreiro que não conseguiu "ver o inimigo" e a sociedade não foi capaz de lhe indicar "um abrigo" de defesa.
Vasconcelos
Mais um tombado pelo vírus chinês (perdoem-me a frase mas não me apetece usar o termo técnico).Paz à sua alma e condolências à família.
Um Heroi que não vergou enquanto operacional, nem perante as vicissitudes da vida.Mal tratado em PORTUGAL nos primeiros anos, nomeadamente no "prec".
Não esquecer que foi torturado e humilhado no Ralis, no período em que reinava a confusão e a indisciplina fruto da época.
Carlos Gaspar
O COMANDO
Marcelino da Mata o ponto mais alto da nossas tropas especiais.
A alguma distância João Bacar Jaló.
Nos meus anos de Guiné 72/74 não havia nas tropa de elite, e aqui penso desculpa a quem discorde, quem se comparace aos Comandos Africanos de quem o Marcelino era o expoente máximo. Estavam noutro patamar.
Em termos de capacidade operacional o destaque total eram os Comandos Africanos, a grande distância estavam as Companhia Africanas, depois o resto das outra forças operacionais.
Para trás, com a debandada, ficaram alguns seguidores das pegadas de Marcelino que não tiveram a sorte ou previlegio de lhes ser reconhecido o que fizeram por Portugal, como o Tenente Jamanca.
Se formos um país com história o Marcelino terá o seu lugar
mesmo com a oposição dos que o bajularam no To e depois tentaram, na secretaria, a todo o custo bloquear a sua ascensão de capitão a major.
Paz à sua alma.
Será uma referência para todos os que tiveram o previlegio de o conhecer.
Que alguém com capacidade e conhecimento dê a conhecer esta figura ímpar e incontrolável na guerra da Guiné.
Se não for a nossa geração a fazê-lo quem o fará?
Os apologistas do politicamente correcto querem e tentam manter no baú estes homens que combateram ao nosso lado e do nosso lado até hoje, infelizmente, com sucesso.
Talvez algum estrangeiro assuma esse desígnio.
João Silva Guiné 72 / 74
Caros amigos,
Ontem dia 11 de Fevereiro, morreu um grande homem, um Portugués apanhado nas malhas do império, feito de grande coragem e abnegaçao. Nao é preciso ter sido seu companheiro no Batalhao dos Comandos africanos ou da sua exigua e descontraida equipa de tropas especiais e pau para toda a obra, para o reconhecer, esse reconhecimento é publico e inconfundivel, mesmo nas fileiras dos que estavam do outro lado das trincheiras de uma guerra fratricida.
Quem nunca ouviu falar do Marcelino da Mata ou simplesmente "Da Mata" como nos diziamos ainda crianças imberbes sonhando um dia ter o privilegio absurdo de um dia vir a sentir o cheiro da polvora, o odor natural dos homens de guerra?
O Marcelino da Mata era um dos nossos idolos maiores e o seu nome perdurara no tempo, pese a vontade dos vencedores, enquanto os ecos daquela guerra ainda permanecerem vivos no espirito das gentes que dela participaram como actores ou simplesmente como vitimas nas linhas da frente.
Morreu o Marcelino da Mata um bravo combatente portugués e guineense, amado e ao mesmo tempo odiado cuja (des)aventura nunca conseguiu reunir consenso a sua volta, como foram todos os herois da sua (des)dita patria que tao alto o elevou e, tao baixo o renegou.
Da muita pena o Marcelino nao ter sabido interpretar devidamente o proverbio tao vulgar na sua terra de origem que diz assim: "Por mais que um pau fique na agua a boiar, nunca se transformara em crocodilo".
Que a sua alma possa (finalmente) repousar em paz com Deus e com os sagrados Iras da sua terra de origem. Amen.
Com um abraço amigo,
Cherno Baldé
PS: Fiquei pasmado nao ter ouvido ontem a noticia durante as noticias da RTP. Mas...
João Silva de acordo com o seu poste, o problema é que os portugueses (falando no geral claro) têm vergonha ou timidez em falar e estudar a nossa história.Mesmo nas instituições militares.
Não deixa de ser curioso que os filhos e filhas de militares que nos combateram em Africa (falo do caso que conheço por exemplo os angolanos) que estudaram e estudam nas nossas instituições militares, manifestem um interesse sobre a nossa história neste cantinho tão pequenino face ao país deles.
Há um estrangeiro (americano) que há muito se debruça sobre a nossa presença militar em Africa, John P.Can.Inclusive já publicou no estrangeiro (e penso que já há alguma coisa em português).
Publicou sobre a Marinha (e os fuzileiros) a Força Aérea, os para-quedistas(que então pertenciam à Força Aérea e esssa soberba tropa que são os Comandos.
Abraço
Carlos Gaspar
Cherno Baldé
Aprecio a tua sensibilidade sinceridade e a homenagem que fazes a um homem da Guiné a tua pátria, pese as suas desventuras.
Desventuras que outros homens (como os mais velhos) dos quais o nome que recordo melhor é o de Ansumane Mané!Que tiveram de voltar a pegar em armas para fazer valer a sua dignidade, inclusive para combater o exército senegalês cinicamente e despudoradamente apoiado pela França, já para não falar de Conakri.E que "coça" lhes deram apesar da diferença em homens e armas.Até eu me senti guineense.
Quanto à RTP não te preocupes.A RTP só se preocupa com o que está a dar;política e propaganda etc...etc...Não é só a morte do Marcelino da Mata, também acontece com outras figuras.
Um abraço amigo
Carlos Gaspar
Subscrevo tudo o que Carlos Gaspar escreve na sequencia da morte de este homem, o mais medalhado de todos os militares, por isso, a tal inveja de muitos.
Vi este homem uma vez, no Rossio, nem sabia nesse tempo o valor dele.
Não é só a RTP, são todas, não ouvi até agora um único comentário nas televisões, que pegam em casos que até cheiram mal de tanto falarem do mesmo. Não vale a pena citar nomes, eles até enjoam.
Tratamos mal um homem que tanto nos ajudou.
Malhas que o Império tece!
Paz à sua alma e condolências à sua família que deve ter um grande orgulho deste ente querido.
Virgilio Teixeira
Conheci e falei algumas vezes com o Marcelino no Quartel dos Comandos . Quando soube que eu era Caboverdeano, nao teve pejo em me dizer que odiava os Caboverdeanos porque nos fomos uns opressores do Povo da Guine. Por uma questao de respeito, nao lhe disse o que pensava dele. Despedi-me e fui ver os meus amigos Ziky Saiegh,o Justo, o Barbosa, o Cicri Vieira e o Major Folques e outros que nao odiavam os Caboverdeanos.RIP
Jose Macedo, DFE 21
Guine Bissau
Cacheu, Bolama 73-74
Morreu Marcelino da Mata o militar mais condecorado do Exército Português.
O seu apelido coincidia com os cenários dos seus muitos combates, que só na violência das acções de combate da guerra da Guiné poderia aparecer um Marcelino da Mata.
Tal como diz Cherno Baldé sobre as crianças quererem ser o Da Mata, julgo que também entre nós tropa metropolitana haveria muitos a falar dele e sempre arranjavam uma estória para contar no Café Bento, em Bissau.
Hoje o Telejornal da RTP deu notícia da sua morte com COVID no Hospital Amadora-Sintra, que eu bem conheço, e desta vez a valentia em combate de nada serviu ao simples soldado guineense que por grandes feitos em combate na guerra da Guiné morreu como Tenente Coronel.
Valdemar Queiroz
Vi a noticia na televisão identificando bem este heroi nacional.
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