Fotograma do filme "J'ai huit ans" (França, 1969, 10'). Cortesia de doclisboa2022
1. Aí está o nosso querido e aclamado doclisboa, na sua 20ª edição. Um slogan que já se tornou um ícone: "Em Outubro todo o mundo cabe em Lisboa"... É uma referência a nível mundial este festival do cinema (documental). Organização notável da Apordoc - Associação pelo Documentário. Palmas para eles e elas que fazem estas coisas acontecer na nossa terra. 20 edições é obra. E a continuidade sem quebra da qualidade...
Das diversas secções (são 12), destacamos, para os leitores do nosso blogue, a Retrospectiva > A Questão Colonial.
Vão passar, só nesta secção 35 filmes de curta, média e longa metragem. Todos os filmes são legendados em português. Com a devida vénia, selecionámos os filmes que vão ser exibidos hoje e amanhã, na Cinemateca Portuguesa e no Cinema São Jorge.
Vamos apresentando, ao longo dos dias, a programação relativa a esta secção. Destaque para o filme "Mortu Nega" do realizador Flora Gomes (Guiné Bissau, 1988, 93’), considerado o filme "fundacional" da cinematografia guineense. Passa hoje, dia 6 de outubro, às 15:30, na Cinemateca Portuguesa, Sala M. Félix Ribeiro.
Quem não puder vê-lo na sala de cinema, tem-no aqui, no You Tube. Falado em crioulo, com legendas em inglês e em português. Versão integral.
Flora Gomes nasceu em Cadique, em 1949. Ver aqui sinopse, enquadramento histórico, ficha artística e técnica do filme "Mortu Nega", que em português quer dizer "morte negada").
Parafraseando Sartre, algumas reflexões sobre a questão colonial… no cinema. No caso, cingimo-nos à história recente, ao continente africano e às antigas colónias portuguesas e francesas.
2. O texto e as imagens, a seguir, são extraídos do programa do doclisboa'22, incluindo as sinopses dos filmes que aqui se reproduzem para mera informação dos nossos leitores. Como não os vimos, a não ser alguns excertos do "Mortu Nega", não podemos ter opinião sobre eles:
O ponto de partida é o fim da Guerra da Argélia – simbolizando o fim das colónias francesas, habilmente mantidas sob o jugo neocolonial – que coincide com a decisão do Estado Novo de avançar para a guerra colonial.
Rapidamente, a revisitação dos materiais das “colecções coloniais” revela-se desajustada, condicionada à recontextualização, que reduz o cinema ao documento.
A viagem deriva, então, para os cineastas solidários e sobretudo o nascimento dos cinemas africanos. Resta saber se, como Ousmane perguntava a Rouch, quando houver muitos cineastas africanos, os cineastas europeus deixarão de fazer filmes sobre África.
Primeira produção de cineastas guineenses após a libertação do colonialismo português em 1974, O Regresso de Amílcar Cabral documenta a transferência dos restos de Amílcar Cabral de Conacri (onde foi assassinado em Janeiro de 1973) para Bissau em 1976. Uma cobertura intrigante do evento solene, gravações de canções guineenses e [...]
Mortu Nega
Mortu Nega
Flora Gomes
1988/Guiné Bissau/93’
Mortu Nega cobre o período entre Janeiro de 1973, durante os meses finais da guerra contra os portugueses, até à consolidação de uma Guiné-Bissau independente, em 1974 e 1975. O filme começa no mato com um transporte na rota de abastecimento de Conacri para a frente. A heroína, Diminga, e [...]
Africa on the Seine
Afrique sur Seine
Mamadou Sarr, Paulin Soumanou Vieyra
1955/Senegal/21’
De acordo com o Decreto Laval dos anos 1930, os projectos de filmes estavam sujeitos a censura prévia. Neste contexto, os realizadores não obtiveram autorização para filmar em África e, em vez disso, fizeram esta curta sobre as vidas de africanos em Paris. O filme revela questões de estudantes sobre [...]
La Noire…
Ousmane Sembène
1966/França, Senegal/65’
J'ai huit ans
Guerre du peuple en Angola
[Seleção / revisão / fixação de texto / subtítulos / negritos / itálicos, para efeitos de edição deste poste: LG. ]
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Último poste da série > 5 de outubro de 2022 > Guiné 61/74 – P23675: Agenda cultural (816): "Despojos de Guerra", mini-série da SIC, a ir para o ar nos próximos dias 6; 13; 20 e 27 de Outubro, no fim do Jornal de Noite. No dia 20, o episódio é dedicado aos nossos camaradas Giselda e Miguel Pessoa, "o casal mais strelado do mundo"
Dois momentos fundacionais do cinema guineense e da colaboração de Flora Gomes e Sana na N’Hada, gestos híbridos entre ficção e reconstrução, em busca da imagem de um país e de um povo. O funeral de Amílcar Cabral, finalmente realizado com honras de Estado após a independência, simboliza o nascimento da nação e "Mortu Nega" o seu nascimento cinematográfico.
06 Out — 15:30 / 117’
Cinemateca Portuguesa Sala M. Félix Ribeiro
O Regresso de Amílcar Cabral
Djalma Fettermann, Flora Gomes, José Bolama, Josefina Crato, Sana na N'Hada
1976/Guiné Bissau, Suécia/32’
Djalma Fettermann, Flora Gomes, José Bolama, Josefina Crato, Sana na N'Hada
1976/Guiné Bissau, Suécia/32’
Primeira produção de cineastas guineenses após a libertação do colonialismo português em 1974, O Regresso de Amílcar Cabral documenta a transferência dos restos de Amílcar Cabral de Conacri (onde foi assassinado em Janeiro de 1973) para Bissau em 1976. Uma cobertura intrigante do evento solene, gravações de canções guineenses e [...]
Mortu Nega
Flora Gomes
1988/Guiné Bissau/93’
Mortu Nega cobre o período entre Janeiro de 1973, durante os meses finais da guerra contra os portugueses, até à consolidação de uma Guiné-Bissau independente, em 1974 e 1975. O filme começa no mato com um transporte na rota de abastecimento de Conacri para a frente. A heroína, Diminga, e [...]
06 Out — 19:00 / 86’
Cinemateca Portuguesa Sala M. Félix Ribeiro
Africa on the Seine
Afrique sur Seine
Mamadou Sarr, Paulin Soumanou Vieyra
1955/Senegal/21’
De acordo com o Decreto Laval dos anos 1930, os projectos de filmes estavam sujeitos a censura prévia. Neste contexto, os realizadores não obtiveram autorização para filmar em África e, em vez disso, fizeram esta curta sobre as vidas de africanos em Paris. O filme revela questões de estudantes sobre [...]
La Noire…
Ousmane Sembène
1966/França, Senegal/65’
Diouana, uma jovem de uma aldeia senegalesa, deambula por Dacar todos os dias à procura de trabalho. Apesar da enorme oferta de mulheres desempregadas, dada a sua subserviência, é “escolhida” para ama de uma família francesa rica. Quando tem autorização para se mudar para França para viver com eles, parece [...]
07 Out — 16:45 / 68’
Cinema São Jorge Sala 3
Nestes filmes, rodados por cineastas militantes e solidários que desafiaram a censura em França, condensam-se os anos de violência da Guerra da Argélia – vividos no presente e na frente de combate em Algérie en flammes ou nas imagens que dela trazem as crianças exiladas na vizinha Tunísia em J’ai huit ans – e a força de esperança do país no Ano Zero da independência.
J'ai huit ans
J'ai huit ans
Olga Baïdar-Poliakoff, Yann Le Masson
1962/França/10’
Crianças argelinas, sobreviventes da Guerra da Argélia e refugiadas em campos tunisinos, mostram os acontecimentos trágicos que viveram através de desenhos que elas próprias fizeram. Banido em França durante 12 anos e apreendido 17 vezes, o filme foi sobretudo exibido clandestinamente.
Algérie en flammes
Algérie en flammes
René Vautier
1958/França/23’
Algérie, année zéro
Algérie, année zéro
Jean-Pierre Sergent, Marceline Loridan-Ivens
1962/França/35’
Seis meses após o fim da guerra, o filme esboça um retrato comprometido de uma Argélia recém-independente a braços com a enorme tarefa de reconstrução social e económica. O país é retratado pelas suas vozes rurais e urbanas, carregando as cicatrizes do colonialismo e a ameaça do terrorismo da OAS [...]
Olga Baïdar-Poliakoff, Yann Le Masson
1962/França/10’
Crianças argelinas, sobreviventes da Guerra da Argélia e refugiadas em campos tunisinos, mostram os acontecimentos trágicos que viveram através de desenhos que elas próprias fizeram. Banido em França durante 12 anos e apreendido 17 vezes, o filme foi sobretudo exibido clandestinamente.
Algérie en flammes
Algérie en flammes
René Vautier
1958/França/23’
Primeiro filme rodado no maqui do Exército de Libertação Nacional em 1956-57. O objectivo destas imagens da guerra, filmadas na zona de Aurès-Nementcha, era manifestar apoio popular à organização armada e encorajar o diálogo para a paz. O filme circulou imediatamente pelo munto inteiro, excepto em França, onde foi exibido [...]
Algérie, année zéro
Jean-Pierre Sergent, Marceline Loridan-Ivens
1962/França/35’
Seis meses após o fim da guerra, o filme esboça um retrato comprometido de uma Argélia recém-independente a braços com a enorme tarefa de reconstrução social e económica. O país é retratado pelas suas vozes rurais e urbanas, carregando as cicatrizes do colonialismo e a ameaça do terrorismo da OAS [...]
07 Out — 19:30 / 68’
Cinemateca Portuguesa Sala Luís de Pina
Uma sessão no limiar da história de Angola, entre a independência duramente conquistada e a ameaça da guerra civil, num breve momento de esperança no futuro da jovem nação. A passagem da câmara das mãos dos camaradas cineastas europeus para os jovens cineastas angolanos acontece também neste momento que o futuro não concretizou.
Nascidos na Luta, vivendo na Vitória
Asdrúbal Rebelo
1978/Angola/18’
Asdrúbal Rebelo
1978/Angola/18’
Retrato das crianças nascidas ainda durante a guerra, membros dos Pioneiros – a organização juvenil do MPLA. Como o título prenuncia, o filme é feito num momento em que, no rescaldo do trauma da Guerra de Independência, se vive um momento de esperança no futuro de Angola e da revolução.
Guerre du peuple en Angola
Guerre du peuple en Angola
Antoine Bonfanti, Bruno Muel, Marcel Trillat
1975/França/51’´
O filme centra-se na situação vivida em Angola em Junho de 1975, quando a declaração de independência desencadeia uma guerra civil. Os cineastas, que aí se deslocaram para formar jovens angolanos, regressam com este filme, apresentando de forma inequívoca a guerra como a luta das pessoas e do seu movimento [...]
Antoine Bonfanti, Bruno Muel, Marcel Trillat
1975/França/51’´
O filme centra-se na situação vivida em Angola em Junho de 1975, quando a declaração de independência desencadeia uma guerra civil. Os cineastas, que aí se deslocaram para formar jovens angolanos, regressam com este filme, apresentando de forma inequívoca a guerra como a luta das pessoas e do seu movimento [...]
(Continua)
[Seleção / revisão / fixação de texto / subtítulos / negritos / itálicos, para efeitos de edição deste poste: LG. ]
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Notas do editor:
2 comentários:
Conheço de Flora Gomes dois filmes sobre a Guiné, este e Olhos azuis de Onta.
Muito interessantes.
Penso que já poderia ter produzido outros sobre a sua terra.
Na falta de mais comentários, vejo que só Rosinha é...cinéfilo, na nossa Tabanca Grande...
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