terça-feira, 24 de outubro de 2023

Guiné 61/74 - P24790: Efemérides (408): Já lá vão 55 anos! (Carlos Pinheiro, ex-1.º Cabo TRMS, Op MSG, STM/QG/CTIG)

1. Mensagem do nosso camarada Carlos Pinheiro (ex-1.º Cabo TRMS Op MSG, Centro de Mensagens do STM/QG/CTIG, 1968/70), com data de 23 de Outubro de 2023:

Já lá vão 55 anos!

Como recordar é viver, há dias que nunca esqueceremos, e o dia 23 de Outubro de 1968 é um desses dias.
Era meio-dia em ponto quando o UÍGE silvou várias vezes a querer dizer que estava pronto para mais uma viagem.
O pessoal já tinha embarcado ao som de marchas militares. Os cumprimentos oficiais, da praxe, já tinham sido feitos. As escadas já tinham sido retiradas. O cordame também já tinha sido recolhido. E os dois rebocadores que o haviam de levar até ao meio do Tejo já estavam a postos.
No cais a multidão ainda era imensa. Os lenços acenavam das varandas da gare a corresponder aos lenços que das amuradas do barco também acenavam. Eram as despedidas.

Navio Uíge - Com a devida vénia a http://navios.no.sapo.pt/

A banda militar estava a acabar os seus acordes e o UÍGE lá se encaminhou para o melhor local do Tejo para iniciar mais uma viagem de 5 dias até às terras da Guiné. Depois foi o passar sobre a Ponte Salazar a caminho do Oceano e tudo isso pareceu muito rápido. Depois foram cinco dias de mar e céu, com mais ou menos acompanhamento dos chamados peixes voadores, a passagem relativamente perto das Canárias e a chegada ao largo de Bissau a 28 de Outubro.
A Ponte Salazar em 1966 - Com a devida vénia a http://www.skyscrapercity.com/

Foram só cinco dias, mas dias inesquecíveis. E como a maioria viajou nos porões, nessas grandes caves fechadas de onde só se via a luz do dia pela buraco por onde entrávamos, nem vale a pena dizer nada sobre essas “maravilhosas” acomodações.

Foi um bom princípio, sem dúvida, para o que nos estava guardado. Depois, bem depois, foram vinte e cinco meses e dez dias, passados todos naquela terra quente que, ao fim deste tempo todo, nunca mais consegue encontrar a paz a que tem direito e de que tanto precisa.

Carlos Pinheiro
23.10.2012

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Nota do editor

Último poste da série de 6 DE SETEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24624: Efemérides (407): Rescaldo da homenagem aos Antigos Combatentes da Guerra do Ultramar naturais da União das Freguesias de Felgueiras e Feirão, Concelho de Resende, levada a efeito no passado dia 2 de Setembro de 2023 (Fátima Soledade / Fátima Silva)

3 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Carlos, por que é que ninguém esquece esse "cruzeiro", no Uíge ou no Niassa ou no Ana Rita ou outros, a que eu chamo "o cruzeiro das nossas vidas" ?...

De facto, de avião (a partir de finais de 1971, não? !) não era a mesma coisa...

Carlos Vinhal disse...

Luís o navio Ana Rita será o resultado do cruzamento dos navios Ana Mafalda e Rita Maria?
Carlos Vinhal

Hélder Valério disse...

Meus caros

Em termos de "viagens marítimas" é bem verdade que aquelas foram, para muitos dos que delas "beneficiaram" as primeiras e talvez as únicas das suas vidas.
Claro que alguns teriam feito travessias do Tejo, do Sado, do Guadiana e do Douro, mas para distâncias tão grandes e assim em mar aberto, foi "outra coisa".
Também, em função do tipo de transporte utilizado e das "companhias", a viagem foi mais ou menos apreciada e recordada.
O que o Carlos nos conta não é muito diferente do que alguns já aqui relataram, tanto pelas condições em que seguiram ou que puderam ser observadas.
Pela parte que me tocou, sinto que fui bafejado pela sorte. Um cargueiro com 6 cabinas para passageiros, direito a ter as refeições com o Comandante do navio. Muito bom.

Quanto à observação do Vinhal, pois parece que ele tem razão! Só pode!

Hélder Sousa