Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
segunda-feira, 13 de outubro de 2008
Guiné 63/74 - P3309: Em busca de... (44): Camaradas do BCAÇ 1861, Buba, 1965/67 (Boaventura Alves Videira)
1. Mensagem de Boaventura Alves Videira, Enf no BCAÇ 1861, Buba, 1965/67, com data de 9 de Outubro de 2008, enviada através do endereço do nosso camarada Júlio César.
Caros amigos
O meu nome é Boaventura Alves Videira, Enfermeiro do BCaç 1861, Buba, 1965/67.
Procuro ex-combatentes deste Batalhão de Caçadores para aumentar o número de camaradas nos nossos encontros anuais.
Se és do BCaç 1861, Buba 1965/67, entra em contacto comigo pelo seguinte endereço:
Boaventura Alves Videira
Praça da República, 26
4815-475 Vizela
Telemóvel 964 534 332
Junto uma foto daquele tempo para avivar algumas memórias.
2. Hoje, dia 13 de Outubro, foi enviada a seguinte mensagem à Tertúlia:
Caros camaradas e amigos tertulianos
O nosso camarada Boaventura Videira, procura companheiros do seu Batalhão (BCAÇ 1861) para participarem em futuros Encontros da Unidade.
Quem estiver em condições de dar pistas a este nosso amigo, poderá fazê-lo das formas solicitadas ou para o endereço do nosso tertuliano Júlio César. Como é natural, nós também podemos canalizar as vossas ajudas.
Votos de uma boa semana para todos.
Um abraço
Carlos
Guiné 63/74 - P3308: O ataque a Tite, em 23 de Janeiro de 1963 (Parte III) (Carlos Silva / Gabriel Moura)
6.3 - Saída dos Militares do Aquartelamento para capturar os terroristas
por Gabriel Moura
Eram grupos sem qualquer comando organizado e preparado, por vezes, sem armas. Só quando estavam já no mato em perseguição dos atacantes é que se lembravam: Esqueci-me da G3?!... Eram os furriéis, os sargentos, os alferes, os tenentes, os cabos, os soldados, de cuecas, de chinelos, com armas ou com o "mata mosquitos"; todos procuravam, à medida que o tempo ia permitindo, abrir mais a "pestaninha", contra atacar, correndo com os atacantes, indo até às tabancas próximas à caça de muitos que na fuga e dispersão se desorganizaram ou ficaram feridos, com parte dos pés desfeitos, braços meios amputados, rostos semi desfigurados, barriga com as tripas na mão, etc... pelas balas ou granadas.
Eram apanhados às dezenas, escondidos no capim ou na palhota. Foi uma caça que se prolongou até de manhã, onde o nascer do dia permitiu seguir rastos de sangue e localizar os atacantes feridos e outros que foram capturados e levados para a prisão de Tite, que "encheu até ao tecto", só aos poucos foram "despachados" para Bissau e outros destinos, ilha das galinhas [era o que constava lá por Tite] no Arquipélago de Bijagós ou, quem sabe, nem lá chegaram! [é a vida! quando há guerra!!!]
Foi uma desorganização que "organizou" o maior e mais eficaz "contra-ataque" jamais pensado e daí ter-se conseguido dar uma "reviravolta à situação inicial" [que se não fosse eu ter aguentado os atacantes durante aquele tempo todo, não permitindo a concretização dos seus intentos, até à reacção destempada de alguns meus colegas, nada disto era possível. Teríamos sido, na maior parte mortos ou capturados com a maior das facilidades do mundo. Disto não tenham dúvida, e podem "puxar" por qualquer fio da meada que irá dar ao mesmo... sorte ou intervenção divina? medo? coragem? heroísmo? penso eu que!...].
Durante toda a manhã, a confusão foi grande, onde o Major Pina, nas suas funções de Comandante, começava a amealhar os "louros", pois era esta a sua grande preocupação, preparar terreno para justificar e arranjar todo o conjunto de situações que lhe dessem dividendos [a ele e a seus pares: capitão Barreiros, capitão Morgado, alguns tenentes, alferes e sargentos, furriéis e alguns "pinga amores", soldados, que na ajuda a "vestir as calças dos superiores" - que estavam muito transtornados, iriam receber também algumas benesses].
Uma das tarefas, ordenadas pelo Pina e seus pares, foi: encher sacos e mais sacos com terra [pois eles estavam na arrecadação vazios e dobradinhos, só sendo utilizados depois do ataque, como se costuma dizer: "depois da casa roubada, trancas na porta"] para fazer trincheira na frente do aquartelamento, principalmente, em frente da caserna dos oficiais e serviços do comando, camarata, etc... onde eles poderiam levar com um balázio na noite seguinte, pois agora já estavam a perceber que a "sorte lhes tinha desviado as balas", mas quem sabia que na próxima noite seria assim?
Tudo ficou a trabalhar com um frenesim incalculável levados pela mola do medo. Nem sequer foram capazes de avaliar a medida do ataque e do contra-ataque, pois logo viam que era impossível na próxima noite eles [nacionalistas] reunirem elementos que lhe permitisse novo ataque [embora que, se eles soubessem da nossa verdadeira realidade - meia dúzia de "chicos espertos" com armas brancas, num ataque relâmpago, capturavam o Pina e meia dúzia de oficiais, obrigando o aquartelamento e render-se].
Mas, quem "tem cu, tem medo", ainda bem para nós que também tínhamos cu!
Por outro lado, era simples perceber de que, ao ser o primeiro ataque ao exército português, eles, certamente, o PAIGC teve maior cuidado de preparar todos os seus melhores seguidores e em maior quantidade dessas forças, provavelmente agora muito desfalcada.
Guiné > Região de Quinara > Sector de Tite > 1961 > 1963 > 1964 > Mascote do BCaç 237 – Contemporâneos do Gabriel durante algum tempo
Foto: © Gabriel Moura
Os tempos que vieram a seguir demonstraram, exactamente, este raciocínio e todo um conjunto de premissas que levou a desencadear a luta terrorista na Guiné até 1974 [que o digam os militares que foram e estiveram em combate em diversos pontos da Guiné, nos anos de 1963/4/5 ... até 1974. Evidentemente, com envolventes específicas, atendendo a cada momento e situação. Relevo aqui, o Batalhão 237-599 - Tite, que nos foram substituir, não só porque "conviveram" com a realidade de Tite, região sul da Guiné, mas também, porque são "testemunhas directas" do palco de guerra e guerrilha em Tite, durante e após a nossa saída da Guiné, [até à nossa desmobilização, passaram 2 anos e 5 meses de serviço cumprido no Ultramar, a juntar ao tempo militar antes de embarcarmos, não esqueçam, no caso dos militares rasos, soldados e cabos, eram das recrutas de 1958, 59 e 60, o que faz, em tempo de serviço obrigatório, de mais de 6 anos, nalguns casos, saúde perdida, famílias desfeitas, sem trabalho, sem dinheiro, sem qualquer apoio social, até hoje!].
Quem Ganhou
Poesia - Gabriel Moura,1961/2/3
Eu, não sabia porquê, tinha um pressentimento. Seria medo, seria a força de uma certeza, onde a hora e o dia de um ataque dos "Terroristas" teria que acontecer.
Tite era a prisão e comando operacional do sul da Guiné - Bissau no período de 1961/63.
Todo aquele ataque, naquela madrugada, em noite escura, onde eu representava o destino de uma força colonial imposta contra uma força e resistência de um grito lançado por entre o capim seco, onde as chamas que o devoravam queimavam aqueles corpos cobertos de suor "catinga" se lançavam numa luta que iria marcar a sua história, onde o povo guineense seria devorado e ainda mais martirizado até a independência final.
Se os tiros me tivessem morto, eu não teria dado o alarme e resistido (pois era o único militar que patrulhava aquele caminho em frente do aquartelamento, estupidamente iluminado por luzes, onde só eu era visto e nada via para o mato ).
Que ganhei, comendo pó, debaixo do fogo vindo do mato ou, passado cerca de meia hora da minha resistência já com os carregadores descarregados, o fogo dos meus camaradas que na confusão e ainda sob os efeitos do sono disparavam para tudo que mexia no chão.
Tite não caiu. Mas quem ganhou ? Os Mortos ?!..
Até a nossa saída Outubro de 1963, onde no nosso aquartelamento passou de cento e poucos homens para três vezes mais, com a vinda do Tenente Coronel Hipólito e seus pares, reforço das Companhias Açorianas que vieram para participar em campanhas militares no sul da Guiné. [ver relação de alguns militares da Guiné Bat Caç 237 e Bat Caç 599, em anexo motivada pelos "encontros" na metrópole].
Ninguém poderá dizer, em verdade, que não fomos "corajosos" ao penetrar pelo mato dentro sem qualquer estratégia, sem munições [ou quase] sem armas [ou quase] desconhecendo por completo em que medida os atacantes tinham preparado o ataque [não porque não existisse armamento adequado, mas porque o terreno das bolanhas não permitia e, por outro lado, com a mente dos "leaders", com relevância para alferes Caetano, o dito comandante do Pelotão de Morteiros 19, achavam sempre que podiam resolver aquilo "à vassourada"].
Mas, o que estava em causa, e na mente de cada um de nós era a "força da razão", empurrando-nos para uma aventura em que eles, sob o efeito causado pelo choque, nem sequer tiveram tempo para reflectir sobre os diferentes cenários de guerra que poderiam envolver-nos, quando começaram a sair grupos de militares penetrando no mato em várias direcções.
É claro que, alguns oficiais e sargentos procuraram "conduzir" os militares, não só porque se armavam em mais espertos e conhecedores das "tácticas" de guerra [pois não eram eles que davam a recruta aos militares, transmitindo aqueles superiores conhecimentos?] Como a rígida estrutura hierárquica impunha, o major manda no capitão, o capitão manda no tenente....o furriel manda no cabo, o cabo manda no soldado, os militares rasos só servem para " carne de canhão", dizíamos nós.
Temos contudo de admitir, que nalguns casos, foram capazes de proporcionar alguma "ordem" na desordem e na euforia que grassava em todos, após o efeito do medo, e que todos estavam convencidos que aquilo era mesmo, como quem "limpava cus a meninos".
Por isso, alguns corriam pelo capim fora atrás dos pretos como quem anda a apanhar galinhas lá nos logradouros ou quinteiros da casa lá da terra.
Parecerá que foi uma situação caricata [e foi mesmo!.] mas temos que enquadrar todo este cenário de guerra numa situação que era nova quer para nós quer para os nacionalistas, onde a surpresa criou nas pessoas atitudes e comportamentos desviantes do previamente montado ou no nosso caso, podemos dizer que foi uma espécie de "teste anárquico" aos conhecimentos adquiridos e interiorizados na recruta [que para alguns já lá iam mais de dois anos ... militares de 1958/59/60 e graduados que apenas se lembravam da teoria e pouco mais. ]. Para alguns, a arma tremia mais do que o cigarro na boca, outros que só tinham ido em comissão de serviço para subir de posto ou sacar as vantagens de vária ordem.
Se conjugarmos isto com o pânico originado pelo ataque e na "estrita medida do tempo", originou reacções as mais díspares que se possa imaginar.
Viam-se militares que, no dia a dia, nos fomos habituando a catalogar de "enrascados", "medricas", "não faz mal a uma mosca", etc, o que no decorrer destas situações eram os que se portavam com mais "bravura e arrojo", em contra partida, outros que tinham criado a imagem do "mata sete e enterra oito", "a onça", os maus, alguns deles nem do aquartelamento saíram, que apesar de tudo sempre tinha algumas "chapas de zinco" no telhado, enquanto no mato, as árvores podiam ser refúgio não só de macacos, mas também de terroristas e lá fora era um frio de rachar! estão a perceber o trocadilho? e, se não for bem um trocadilho, pode ser visto como o "trocadilho" enfim, muitos arranjaram mil e uma desculpas de se porem ao fresco para Bissau ou até uma ida à metrópole ver a "família"...
O que se passou a seguir ao ataque ao aquartelamento de Tite foi como aquele ditado: " casa roubada, trancas à porta. ".
Foram uns dias carregados de uma forte emotividade, não só pelo nosso camarada morto e dos feridos mas, também, por tudo que envolvia as circunstâncias que estiveram na base deste desfecho e no que, de facto, representava em termos do perigo em que estivemos expostos.
É claro que, como de costume, o comandante e os outros oficiais mais responsáveis, ou não, "deram a volta ao texto", como se costuma dizer e passaram a actuar como se de facto tivessem sido eles os grandes "salvadores da pátria" e; por outro lado, aproveitaram-se para fazer com que os que não tinham culpa no cartório e foram os "únicos" a evitar um " massacre histórico ... " às tropas Portuguesas na Guiné-Bissau, ficassem comprometido e mais agradecidos, cegamente aos nossos superiores, por nos deixarem, pelo menos, trabalhar no arranjo e defesa do aquartelamento como "autênticos escravos", do medo e da ignorância.
Reforçaram-se as vedações, passou-se a patrulhar noite e dia, caminhos, tabancas, capim e tudo o que parecia suspeito [até debaixo da cama da Mariama, alguns procuraram encontrar o inimigo], foram montados pelos sapadores minas anti-pessoais e outras nos diversos pontos em volta do aquartelamento [que o diga o Jorge e todos que faziam parte dos sapadores].
Foram delineadas diversas estratégias de defesa e ataque e formas de actuar totalmente diferentes das que até ali se procediam. Os militares, em geral, como sempre não foram ouvidos nem achados sobre a forma, meios a utilizar no combate aos "terroristas".
A descrição do acto de despedida do corpo do Veríssimo para Bissau e a evacuação dos feridos, revestiu-se de carácter doloroso para todos, tendo sido, certamente, em particular para uns mais do que para outros, o que originou autênticos gestos de solidariedade e de revolta onde os extremos foram, de facto, sintomas de exagero no conceito de culpabilização sobre os "terroristas" que se tornaram para alguns ainda mais odiados do que a imagem incutida até aí.
É evidente que a relação destas emoções e reacções tenebrosas têm que ser entendidas no contexto, não só cultural das pessoas envolvidas mas, também, na formação e esclarecimento social e humano a que éramos excluídos. Por muito que se tente ver todo um conjunto de formas mais ou menos exageradas de procedimentos levados a cabo pelos militares contra os nacionalistas e populações autóctones, só pode ser vista à luz de todo um contexto de difícil discernimento, quer intencional, quer humano, quer circunstancial que nos envolveu.
Dizer que o militar A ou B tomou atitudes desumanas perante os Guineenses pode ser visto de forma a encontrar as explicações sobre esses comportamentos; quer no que já referi, quer no medo provocado pelos acontecimentos que de dia para dia iam aumentando o nível de guerrilha no mato.
A permanência em terras da Guiné era outro factor que nos arrastava para um stress, medo pelo não regresso à nossa pátria, à nossa família, etc ... Tudo isto conjugado com as reacções provocadas pelo dever e obrigação imposta pelos que detinham o poder e a conveniência da perpetuação das coisas e da "honra", fazia com que nos tornássemos ainda mais destituídos da "razão" [Movimento Nacional Feminino e outras acções que nos arrastavam como folhas secas caídas em capim].
Foram muitas as situações que se vão seguir até ao nosso embarque e saída no Paquete Índia, do Porto de Bissau com destino ao continente. A situação de guerra generalizada pelos nacionalistas Guineenses, tornou-se extremamente violenta, com emboscadas e ataques por todos os lados de norte a sul da Guiné ...
A vantagem que o Comando de Tite tinha sobre todas as outras tropas no terreno era o conhecimento que possuímos de muitas povoações, não só daquelas que fazia parte da quadrícula militar [a primeira conforme o Cor. Tavares de Pina refere, de todo o sul da Guiné] mas, também, outras povoações na Região Sul. Pois o Pina, como Comandante operacional da região Sul da Guiné e a sua "vocação psicossocial ", fez com que nós tivéssemos uma visão única no panorama da Guiné.
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Ataque ao Aquartelamento de Tite – 23-01-1963
Referências Bibliográficas
Sobre o começo das hostilidades ou início da luta armada pelo PAIGC em 23-01-1963 com o ataque ao Aquartelamento de Tite, situado no Centro-Sul da Guiné, por estranho que pareça, não encontramos qualquer narração escrita de forma desenvolvida sobre os factos que se passaram, quer do lado português, quer do lado do movimento nacionalista.
Da bibliografia aqui indicada, apenas se encontram breves referências alusivas a tão importante facto histórico no seguinte sentido:
1 - ".... Em Janeiro de 1963, foi a sede do Batalhão atacada com armas automáticas e de repetição e granadas de mão. Deste ataque resultou 1 morto e 1 ferido das NT e 8 mortos confirmados e vários feridos graves IN. Depois deste ataque foram intensificados os patrulhamentos de que resultou a morte do Papa Leite, elemento IN que actuava na área e que facultou a recolha de valiosíssimos elementos da Ordem de Batalha IN..."
In, Carta de 7-07-1981 do Ten. Cor. Manuel José Morgado, enviada ao Director do Arquivo Histórico Militar, em resposta ao assunto " História das Unidades ".
Resumo da Actividade do BCaç. nº 237/BCaç. nº 599 - Maio de 1963 a Maio de 1965 [Caixa nº 123 - 2ª Div/4ª Sec., do AHM]
2 - A propósito da detenção de alguns dirigentes do PAIGC em Conakry, por alegado contrabando de armas, diz Luís Cabral:
“... O Aristides respondeu em poucas palavras, justificando o nosso acto pelo interesse da luta comum e pedindo-lhe [ao Ministro da Defesa da República da Guiné-Conakry, Keita Fode] que transmitisse o nosso reconhecimento ao presidente pela sua fraterna compreensão. Quanto ao regresso do Amílcar, falando com toda a franqueza, não acreditávamos que ela pudesse ter lugar antes da nossa libertação, mesmo com a mensagem.
Era lógico que ele fosse aconselhado a reflectir muito sobre a questão pois, se havia razões para estarmos ainda detidos, essas razões seriam certamente mais válidas em relação a ele, como primeiro dirigente do Partido.
Entretanto, nas diferentes zonas do interior do país, ao tomarem conhecimento da nossa detenção, os combatentes decidiram juntar o pouco material de que dispunham e agir prontamente contra as posições colonialistas, onde isso fosse possível.
A 23 de Janeiro era realizado o primeiro ataque das forças nacionalistas do PAIGC, contra o quartel de Tite, sede administrativa da circunscrição de Fulacunda...”
In, Cabral, Luís – Crónica da Libertação, O jornal, 1ª edição 1984, pág. 144
3 - ".... 23 Janeiro de 1963 - O PAIGC assalta o quartel de Tite e inicia a guerra na Guiné.
Cabral tentou ainda fazer-se ouvir, com apelos ao diálogo, mas é pelo efeito das armas que a minúscula Guiné se torna a segunda frente de contra-ataque português...."
In Antunes, José Freire, A Guerra de África 1961-1974, volume 1, Temas & Debates, Outubro de 1996, pág. 34.
4 - António E. Duarte Silva, citando Amílcar Cabral " O Desenvolvimento..." Cit. Obras...Vol. II, pág.37, sobre este facto salienta:
"...b) O início da luta armada
A luta armada de libertação nacional começou efectivamente em 23 de Janeiro de 1963 com o ataque, por uma centena de guerrilheiros ao quartel de Tite, na margem sul do Rio Geba, onde estava instalado o comando de um batalhão português:
"vindos das florestas, das zonas pantanosas e das tabancas distantes surgiam então os combatentes do nosso partido. Não vinham mais com as mãos vazias. Vinham armados com material eficiente, com uma coragem e uma disciplina a toda a prova, assim como do conhecimento das condições concretas e dos objectivos da nossa luta e, como sempre, com o apoio incondicional do nosso povo. (...)
Em Julho de 1963 a guerra atingiu as florestas de Oio, a norte do Geba, de modo que, ao chegar-se ao final de Agosto de 1963, a situação na enorme região que abrange Bissorã, Binar, Encheia, Mansoa, Mansabá e Olassato, não era muito diferente da existente em grande parte do sul da Província: populações fugidas, tabancas abandonadas ou destruídas, estradas obstruídas, a vida administrativa e actividade comercial profundamente afectada..."
In Silva, António E. Duarte, A Independência da Guiné-Bissau e a Descolonização Portuguesa, Edições Afrontamento, Março de 1997, pág. 47
5 - "... Na Guiné, as acções de guerrilha foram iniciadas pelo PAIGC em Janeiro de 1963, com um ataque ao quartel de Tite, a Sul de Bissau, junto ao rio Corubal [1], embora outras pequenas acções tivessem ocorrido antes. As operações estenderam-se rapidamente a quase todo o território, em contínuo crescendo de intensidade, que exigiu o empenhamento de efectivos portugueses cada vez mais numerosos..."
In Afonso, Aniceto, Gomes, Carlos Matos, Guerra Colonial - Angola, Guiné, Moçambique - Ed. Diário de Notícias, em fascículos.
[1] - Lapso dos Autores, porquanto, Tite situa-se a poucos quilómetros da margem esquerda do rio Geba. Enquanto o rio Corubal é um afluente da margem esquerda do rio Geba e desagua próximo das povoações de Ganjaurá, Ganturé e Ponta do Inglês, situadas a Norte de Fulacunda.
6 - ".... O Partido procurou, deste modo, responder às reivindicações destes estratos, que pretendiam ascender a um patamar superior na hierarquia social. A mobilização dos camponeses iniciou-se após os acontecimentos do Pidjiguiti, altura em que foi decidida a preparação para a luta armada.
O primeiro ataque armado eclodiu a 23 de Janeiro de 1963, contra as instalações de um aquartelamento das Forças Armadas Portuguesas, em Tite...."
In Pinto, Jorge, Paulo, Manuel, Duarte, Paula - Guiné Nô Pintcha! - Para uma análise Socio-económica da Guiné-Bissau, Edições Universitárias Lusófonas, Outubro de 1999, pág. 33
7 - ".... Em 23 de Janeiro de 1963, o PAIGC desencadeia a luta armada na Guiné-Bissau. Três dias depois, o governo de Salazar fixa os vencimentos dos elementos das Forças Armadas em serviço nas Províncias Ultramarinas.....
23 de Janeiro de 1963 - Início da luta armada, com ataque ao Quartel de Tite, no Sul da Guiné-Bissau. Chegam a Conakry os primeiros recrutas a fim de receberem treino militar..."
In Cabral, Amílcar - Sou um simples africano, Fundação Mário Soares, 2000, págs. 32 e 83.
8 - “ ... A Guiné apresentava características diferentes. De acordo com o censo de 1960, a sua população era de aproximadamente 500.000 habitantes, cerca de dez vezes menos do que a de Angola, estando concentrada no delta costeiro ocidental e dividida em vinte e oito grupos etnolinguísticos distintos. O PAIGC [Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde], fundado em Lisboa em 1956, arrancou para a luta armada em 23 de Janeiro de 1963 com um ataque ao Quartel de Tite.
O seu líder era Amílcar Cabral, engenheiro agrónomo licenciado em Lisboa e aí convertido à doutrina marxista-leninista.
As condições topográficas da província e o apoio de Conakry aos terroristas do PAIGC fizeram da guerrilha da Guiné a mais dura de todas as que se travaram nas frentes do Ultramar. Afectado por convulsões internas [como as que originaram o assassínio de Cabral em 1973], sem nunca ter conseguido resolver o problema da rivalidade existente entre guinéus e cabo-verdianos, o PAIGC, em 1974 e ao invés do que proclama a versão oficial estava disposto a entender-se com os portugueses e a abandonar o mato....”
In, Santos, Bruno Oliveira – Histórias Secretas da PIDE/DGS, Nova Arrancada, 2ª edi. 2000, pág. 93
9 - ".... O primeiro ataque armado eclodiu a 23 de Janeiro de 1963, contra as instalações de um aquartelamento das Forças Armadas Portuguesa, em Tite..."
In Atlas da Lusofonia, 1º Vol. – Guiné-Bissau, Ed. Instituto Português da Conjuntura Estratégica e do Instituto Geográfico do Exército, Maio 2001, pág. 25
10 - "....Bat. Caç. nº 237 - Síntese da Actividade Operacional
Após o início das primeiras acções contra as NT, com o ataque ao aquartelamento de Tite, em 23 Janeiro de 1963, comandou e coordenou a actividade operacional das suas forças numa série de acções ofensivas nas áreas do Quitifane, Cantanhez, Quinara e Jabadá - Gã Chiquinho."
In Estado-Maior do Exército - Comissão para o Estudo das Campanhas de África - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África [1961-1974] - 7º Volume - Fichas das Unidades - Tomo II - Guiné, 1ª edição, Lisboa 2002 - p. 40
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Nota de CV
Vd. postes de:
11 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3294: O ataque a Tite, em 23 de Janeiro de 1963 (Parte I) (Carlos Silva / Gabriel Moura )
12 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3298: O ataque a Tite, em 23 de Janeiro de 1963 (Parte II) (Carlos Silva / Gabriel Moura)
Guiné 63/74 - P3307: Convívios (89): Encontro anual dos Combatentes da Guiné da freguesia de Guifões, Matosinhos (Albano Costa)
Caros tertulianos
O 5 de Outubro é sempre a data em que os guineenses de Guifões se juntam para celebrarem a sua passagem pela Guiné-Bissau. Este ano fizeram o seu XIII Encontro-Convívio e mais uma vez tiveram a companhia do Sr. Presidente da Junta de Freguesia, Carmin do Cabo, que fez a sua comissão em Angola, acompanhado de sua esposa.
Os ex-combatentes e respectivas famílias deslocaram-se, como já vem sendo hábito, em dois autocarros, num passeio agradável, para manter a coluna sempre bem unida, não fosse o IN obrigar ao teste do balão. (Nestes dias vai sempre mais um copo e não queriamos que a festa fosse estragada).
O almoço-convívio é sempre o ponto mais alto da confraternização e deu para sentir como todos desfrutaram das iguarias, assim como de um bom pé de conversa. O resto da tarde foi passada em franco convívio e ao final do dia foi distribuída uma lembrança pelo Sr. Presidente da Junta de Freguesia de Guifões a cada ex-combatente e uma rosa a cada senhora presente. Antes do regresso à base, foi servido um arroz de feijão vermelho com pataniscas de bacalhau e caldo verde. Para terminar, foi cantado o Hino Nacional, seguido do bolo e do respectivo champanhe.
Com a garantia de até para o ano.
Albano Costa
Foto 1 > O Joaquim D'Assunção Machado, ex-Pára-quedista da CCP 123, que fez parte da Operação Mar Verde, à conversa com o Presidente da Junta de Guifões, Sr. Carmin do Cabo
Foto 2 > O Joaquim Almeida (mais conhecido pelo Custóias) com o seu neto, que quis sentir de perto o que tem levado o avô a participar nestes encontros da Guiné. Ambos estiveram presentes no III Encontro Anual do Blogue, em Monte Real (2008). O Custóias é um frequentador assíduo dos encontros semanais da Tabanca de Matosinhos.
Foto 4 > Já a meio da tarde não podia faltar uma jogatana de cartas, em que participam, da esquerda: Laurindo (Sangonhá), D'Assunção Machado (ex-Pára-quedista, CCP123), Filipe (Bissau), Brás (Mansabá) e Vitor Alho (Jumbembem) que esteve no conflito de Maio de 1973 em Guidage, onde a companhia dele teve um morto, que teve de ser sepultado lá, o Geraldes.
Fotos e legendas: © Albano Costa (2008). Direitos reservados
Guiné 63/74 - P3306: O Nosso Livro de Visitas (34): Raul Freitas, ex-Fur Mil da Companhia Terminal, de Março de 1972 a Agosto de 1973
Guiné > Bissau > Antigas instalações da Casa Gouveia > Companhia Terminal > 5 de Março de 1973 > Raul Freitas à secretária
Fotos: © Raul Freitas (2008). Direitos reservados.
1. No dia de 12 de Setembro de 2008, no poste P3196 (*), o camarada Daniel Vieira, ex-Fur Mil, que fez parte da Companhia Terminal, sediada em Bissau, procurava pistas para encontrar os seus antigos camaradas.
O nosso camarada Manuel Oliveira Pereira, ex-Fur Mil da CCAÇ 3547/BCAÇ 3884, no poste P3264 (**) deu umas achegas ao Daniel.
No passado dia 8, recebemos uma mensagem de outro nosso camarada, desta feita, do Raul Freitas, ex-Fur Mil, que também andou pela Companhia Terminal (***).
Transcrevo a sua mensagem:
Guimarães, 08/10/2008
Caro camarada Luís Graça, ao passar os olhos pelo blogue que com tanta dedicação mantens, deparei com um apelo do Daniel Vieira (Fur Mil), que gostaria de contactar com os camaradas que estiveram na Companhia Terminal.
Pois já lhe telefonei a dar conta da minha existência e do entusiasmo que partilho com todos aqueles que passaram pela Guiné.
É verdade, embarquei no Niassa em Junho de 1971, em rendição individual.
Alguns dias em Bissau a aclimatar-me aos mosquitos, de quem fui um apetecido pitéu durante toda a comissão, estive cerca de 3 meses em Bolama a colaborar numa recruta de naturais.
Regressado a Bissau, fui mandado numa LDP durante dois ou três dias até Cacine. Esperava-me o destacamento de Cameconde, onde permaneci cerca de dois meses até que a CCAÇ 2726, maioritária de naturais dos Açores, regressou à Metrópole, em meados de Fevereiro de 1972.
No regresso de Cacine a Bissau, embarcados na LDG Montante, lembro com nostalgia uma paragem numa ilha paradisíaca cujo nome já não recordo. Fomos a nado da LDG até à ilha. Fabuloso.
Em Bissau, fui colocado na COMPANHIA TERMINAL em Março ou Abril de 1972.
Lembro-me perfeitamente do Capitão Schultz, de um Alferes, outro nome que não recordo, do Sargento Cebola, do Sargento Manuel Joaquim Folgôa, que há cerca de meia dúzia de anos visitei na sua casa de Belas (Sintra); recordo com saudade do Cabo Pedrosa (?) que estou convicto ser natural de Soure (Coimbra).
E dos civis guineenses? O Samba Baldé, o Cabral, o Chico e outro rapaz muito competente que trabalhava comigo no escritório da Companhia Terminal.
Lembro-me da pessoa, de momento não me lembro do nome, do chefe dos estivadores no cais do Pidjiguiti, um cabo-verdiano de meia-idade.
Nós fazíamos a contabilidade e a folha de pagamentos da mão-de-obra dos estivadores embarcados, para carga e descarga dos abastecimentos.
Espero que alguém me ajude a contactar com o Sousa (?), Fur Mil que trabalhava no QG, na contabilidade, que suponho ser natural de Seia.
Anexo algumas fotos minhas desses tempos; uma tirada à secretária onde trabalhava na Companhia Terminal, nas antigas instalações da Casa Gouveia, outra à porta da repartição. Para quem se lembrar segue a única foto que tenho do Samba Baldé.
Para ajudar à reconstituição da memória, lembro que o Capitão Schultz, simbolicamente plantou uma papaeira em Outubro de 1972 junto à soleira da repartição. Esta planta tinha a espessura de um dedo humano. Em Abril de 1973 já tinha dado frutos.
Em Agosto de 1973, regressei finalmente a casa.
Um grande abraço de saudade e de solidariedade para todos.
Raul Freitas
(ex Fur Mil)
Salgueiral
4835-091 Guimarães
Tlf: 253522030 / Tlm 917520977
___________________
Notas de CV:
(*) - Vd. poste de 12 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3196: Em busca de...(39): Companhia Terminal (Bissau, 1973/74) (Daniel Vieira)
(**) - Vd. poste de 2 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3264: A Companhia Terminal , Bissau, 1973/74 (Manuel Oliveira Pereira)
(***) - Vd. poste de 23 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3229: História resumida da Companhia de Terminal e do Batalhão de Intendência (José Martins)
Guiné 63/74 - P3305: O meu baptismo de fogo (8): Mansoa, 1 de Abril de 1971 (Germano Santos)
Foto: © César Dias (2007) (Por cortesia do Carlos Fortunato, webmaster do Portal Guiné-Bissau e da página da CCAÇ 13, Guerra na Guiné - Os Leões Negros)
"Mansoa é uma linda vila, à qual o rio Mansoa empresta também os seus encantos, dando-lhe um verde imenso, e florido. A história da Guiné passa por Mansoa, não só por ser um importante centro de comércio, mas também por ser um centro militar de grande importância estratégica, pois era aqui que existia a única ponte que permitia o acesso a Bissau.
"Inserida na conflituosa região do Óio, e a poucos quilómetros da mítica mata do Morés, Mansoa foi sempre um palco importante na história da Guiné. A partir de 15/12/2003 a jangada que atravessava o rio rio Mansoa em Joladim [João Landim] , foi substituída por uma excelente ponte, passando a existir um segundo acesso a Bissau" (Carlos Fortunato, na sua excelente página sobre a Guiné-Bissau : vd. História > 1969/74, BCAÇ 2885; belas fotos do autor e do Césdar Dias; ambos são membros da nossa Tabanca Grande).
Boa tarde e votos de um bom fim de semana para todos vós, Editores do blogue.
Correspondendo ao convite do Carlos Vinhal e para que a ideia não fique moribunda, vou dar o pontapé de saída (após o Briote) sobre o tema o meu PRIMEIRO ATAQUE.
Não, não é mentira. O meu primeiro ataque aconteceu no dia 1 de Abril de 1971.
Estávamos na Guiné há apenas três meses, e em Mansoa há cerca de dois. Foi ao fim da tarde, assim mais para o anoitecer, como posteriormente vim a verificar que era o habitual naquelas paragens.
Não vos vou falar de mortos nem de feridos, porque felizmente não os houve. Dir-vos-ei, isso sim, que para quase todos nós foi uma novidade, uma estreia e uma estreia em grande.
E porquê uma estreia em grande ? Em grande, porque o ataque foi todo ele de mísseis, os famosos foguetões 122.
Ainda hoje não sei o que senti naquele fim do dia. Em rigor, creio que não senti nada, dada a inconsciência completa em que me encontrava. Ou seria pânico ?
No momento do ataque eu estava sentado no Restaurante do Simões, na Praça principal de Mansoa. Estava sentado no seu interior ou a jantar ou a preparar-me para tal. O que recordo com alguma clareza é que, derivado do sopro de um dos mísseis que caíu perto do restaurante, mais precisamente no muro da escola primária, abanei eu e a cadeira onde me sentava.
Num lote de fotos que em tempos enviei ao Luis Graça, encontra-se uma fotografia (que eu nessa altura identifiquei com o n.º 18) em que me encontro junto a esse muro, parcialmente destruído.
Não é uma história dramática, lá isso não é, mas é a história do meu primeiro ataque.
Um abraço para todos os tertulianos.
Vamos lá dar asas à saga dos nossos primeiros ataques na Guiné.
Germano Santos
Germano Santos, de camuflado e óculos de sol, passeando por uma rua de Mansoa
Foto: © Germano Santos (2007). Direitos reservados.
Mansoa > Na Esplanada da Casa Simões, almoçam os furriéis César Dias e Caetano
Foto: © César Dias (2007). Direitos reservados.
2. Comentário de CV
Obrigado Germano pelo teu contributo. Não encontrei a foto de que falas. O Luís Graça deve tê-la algures pelos seu arquivos, mas como são milhares é quase impossível encontrá-la. Deixo uma tua e outra do camarada e amigo César Dias que palmilhou como nós o mesmo chão.
_____________________
Notas de CV
(*) Vd. postes de
4 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1814: Tabanca Grande (8): Apresenta-se o Operador Cripto da CCAÇ 3305 / BCAÇ 3832 (Mansoa, 1970/73) , Germano Santos
11 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1835: Tabanca Grande (10): Germano Santos, ex-1º Cabo Op Cripto, CCAÇ 3305 / BCAÇ 3832, Mansoa, 1971/73
12 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1840: A trágica história dos sapadores Alho e Fernandes da CCS do BCAÇ 3832, Mansoa, 1971/73 (César Dias / Gerrmano Santos)
8 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1934: Mansoa era uma vila lindíssima, um jardim (Germano Santos)
18 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3071: Os nossos regressos (11): Guiné, 1970/73. Porra, é muito tempo. (Germano Santos).
(**) Vd. último poste da série, de 11 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3293: O meu baptismo de fogo (7): Mansabá, 21 de Abril de 1970 (Carlos Vinhal)
Guiné 63/74 - P3304: Álbum Fotográfico do J. Mexia Alves (1): CCAÇ 15, Mansoa, 1973
Guiné > Região do Óio > Mansoa > CCAÇ 15 > 1973 > Quartel de Mansoa; ao fundo penso que seria a secretaria da CCaç 15.
Guiné > Região do Óio > Mansoa > 1973 > Jipe da CCAÇ 15.
Guiné > Região do Óio > Mansoa > 1973 > O Rio Mansoa.
Guiné > Região do Óio > Mansoa > CCAÇ 15 > 1973 > Ponte sobre o Rio Mansoa.
Guiné > Região do Óio > Mnsoa > CCAÇ 15 > 1973 > Ponte sobre o Rio Mansoa.
Guiné > Região do Óio > Mnsoa > CCAÇ 15 > 1973 > Formatura da CCaç 15 para o desfile.
Guiné > Região do Óio > Mansoa > CCAÇ 15 > 1973 > Cabeça do desfile.
Guiné > Região do Óio > Mnsoa > CCAÇ 15 > 1973 > Pelotão do Alf Mendes (salvo o erro).
Guiné > Região do Óio > Mnsoa > CCAÇ 15 > 1973 >1091 - Pelotão do Alf Nelson (salvo o erro).
Guiné > Região do Óio > Mnsoa > CCAÇ 15 > 1973 >1093 - Pelotão do Alf Rompante Ferreira (salvo o erro).
Guiné > Região do Óio > Mnsoa > CCAÇ 15 > 1973 > Pelotão deste vosso amigo, sem dúvidas!
Guiné > Região do Óio > Mansoa > CCAÇ 15 > 1973 > A caminho de Bissorã.
Guiné > Região do Óio > Mansoa > CCAÇ 15 > 1973 > A caminho de Bissorã.
Fotos (e legendas): © Joaquim Mexia Alves (2008). Direitos reservados
1. Mensagem do Joaquim Mexias Alves (*), com data de 29 de Setembro de 2008:
Meus caros Luís, Virigínio e Carlos:
Enviei hoje ao Henrique Cabral fotografias de Mansoa. Como a Tabanca Grande é a Casa Mãe envio-as também para vós para delas fazerem o que vos aprouver.
Chamo a atenção para as fotografias do desfile que foi feito para a recepção ao Gen Bettencourt Rodrigues (**), na sua primeira visita a Mansoa. Documento a manter!
Se for preciso darei mais explicações sobre as fotografias, se para tal tiver "engenho e arte" e sobretudo memória.
Abraço camarigo do
Joaquim Mexia Alves
2. Comentário de L.G.:
Meu caro Joaquim: O material pode ser de fraca qualidade, mesmo depois de editado... Mas, para mim, o mais importante das fotos do teu álbum é falarem de ti e revelarem também a ternura e a camaradagem com que ainda hoje falas dos teus antigos camaradas... Podemos não reconhecer, de todo, o Nelson, o Mendes, o Rompante Ferreira... mas a verdade é que eles passaram, como tu, pela CCAÇ 15 e os seus (e os teus) passos ecoaram pelo Mansoa e pelas suas bolanhas. Eu próprio, que só agora, em Março de 2008, conheci Mansoa, não deixei de me emocionar ao rever a velha ponte sobre o Rio, que ainda lá está, de pedra e cal...
Se quiseres acrescentar algo mais sobre a tua CCAÇ 15, dispõe deste espaço que é todo teu. Há mais fotos, tuas e dos teus, espalhadas pelo blogue, e que se calhar faz sentido juntarmos aqui no teu álbum fotográfico (Bolama, Xitole, Mato Cão...). Faz uma selecção...
___________
Notas de L.G.:
(*) O Joaquim Mexia Alves foi alferes miliciano de operações especiais, tendo passado, de Dezembro de 1971 a Dezembro de 1973, por três unidades no TO da Guiné: (i) pertenceu originalmente à CART 3492 (Xitole / Ponte dos Fulas); (ii) ingressou depois no Pel Caç Nat 52 (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) ; e (iii) terminou a sua comissão na CCAÇ 15 (Mansoa).
(**) José Manuel Bettencourt Conceição Rodrigues - Bettencourt com dois tês - , tomou posse a 21 de Setembro como Novo Governador e Comandante-Chefe do CTIG, nomeado em substituição do carismático General Spínola (que cessara funções a 6 de Agosto). Anteriormente tinha sido ministro do Exército (1968-1970). Foi preso, no 26 de Abril de 1974, na Amura, pelos seus subordinados que faziam parte do MFA.
"(...) no dia 26 de Abril, onze oficiais dirigiram-se ao Gabinete do General Comandante e exigiram a sua demissão e o regresso a Lisboa. Foi um acto pacífico, civilizado, mas dramático. Com o General vieram também alguns oficiais que se lhe solidarizaram, nomeadamente o Brigadeiro Leitão Marques que o MFA julgava poder contar para o substituir".
Eis a lista dos oficiais revoltosos: Ten Cor Mateus da Silva, Eng Trms; Ten Cor Maia e Costa, Eng; Maj Folques, Cmd; Maj Mensurado, Pára; Cap Simões da Silva, Art; Cap Sales Golias, Eng Trms; Cap Matos Gomes, Cmd; Cap Batista da Silva, Cmd; Cap Saiegh, Cmd (Africano), Cap Ten Pessoa Brandão, Armada; Cap mil José Manuel Barroso.
Nasceu no Funchal em 1918. Passou pelo TO de Angola e da Guiné. Por despacho da Junta de Salvação Nacional, passou à situação de Reserva em 14 de Maio de 1974. É co-autor, juntamente com os generais J. da Luz Cunha, Kaúlza de Arriaga e Silvino Silvério Marques, do livro de depoimentos África, Vitória Traída (Intervenção, 1977).
domingo, 12 de outubro de 2008
Guiné 63/74 - P3303: O Nosso Livro de Visitas (33): Iaia Djamanca, cidadão guineense, estudante universitário no Rio de Janeiro
Assunto: Comentário
Ao iniciar gostaria de poder agradecer do fundo do meu coração por este magnífico trabalho de Vossa Excelência Senhor Luís Graça, Sociólogo do Trabalho e da Saúde, doutorado em Saúde Pública, professor na Escola Nacional de Saúde Pública, Universidade Nova de Lisboa, em Lisboa.
Fiquei impressionado com este brilhante trabalho que me facilitou numa simples pesquisa que estava fazendo na minha faculdade, aqui no Rio de Janeiro (Brasil), com os colegas brasileiros que queriam tanto conhecer algo da minha terra e o nosso crioulo.
Finalmente consegui encontrar de entre muitas que eram do crioulo de Cabo-Verde, o seu trabalho.
Gostei muito e peço a Deus que apareçam milhares de trabalhos como o seu para a Guiné-Bissau.
Obrigado pelo trabalho....
2. Resposta enviada em 12 de Outubro
Caro Iaia Djamanca:
Muito obrigado pelo seu contacto e pelas suas palavras.
É nossa missão escrever uma parte da História de Portugal que está directamente relacionada com as lutas contra os movimentos de libertação das antigas colónias.
Nós, os ex-combatentes, não nos envergonhamos do nosso passado, pois em tempo de ditadura não havia alternativa para o não cumprimento do então chamado dever de defender a Pátria. O poder político julgava poder manter intacto o império colonial, lutando contra o que era já então um movimento irreversível a todos os níveis. Havia, sim, a hipótese de fuga do país, mas isso acarretava um futuro incerto, pois ainda não se sonhava com o derrube do regime totalitário vigente.
Alguma supremacia por parte dos movimentos libertadores e a saturação dos Oficiais e Sargentos do Quadro Permanente do Exército Português, precipitaram o derrube dos governantes de então e a abertura de conversações com quem justamente ansiava a independência total a absoluta.
Hoje, todas as antigas colónias portuguesas são países independentes de pleno direito. Existe uma amizade sincera entre os nossos povos e consideramo-nos mutuamente como irmãos. Os nossos inimigos de ontem recebem-nos hoje de braços abertos, quando os visitamos.
Pena que, pelas limitações próprias da Guiné-Bissau, onde a internete está muito longe de chegar sequer a uma minoria dos cidadãos, os ex-combatentes do PAIGC não possam colaborar no nosso Blogue, porque a troca de informações entre ambos os lados só enriquecia este espólio que ajudará no futuro a reescrever este bocado da História dos dois países. Daí ser muito importante, para nós, o diálogo com os guineenses da diáspora, os que vivem, estudam e trabalham no estrangeiro, como o Iaia Djamanca.
Sempre que precise de alguma informação, não se acanhe a contactar-nos, que nós, se tivermos a resposta, ajudá-lo-emos.
Desejamos-lhe as maiores venturas em terras do Brasil , se fôr sua vontade, volte um dia à Guiné-Bissau para ajudar os seus compatriotas que muito precisam de quadros.
Receba um abraço dos editores, assim como de todos os ex-combatentes e amigos da Guiné-Bissau, membros deste blogue.
Carlos Vinhal
Co-editor
Guiné 63/74 - P3302: Tabanca Grande (91): António Varela, ex-Fur Mil Sapador da CCS/BART 2865, Catió, 1969/70
António Marques Maltês Varela, ex-Fur Mil Sap Minas e Armadilhas, CCS/BART 2865, Catió, 1969/70
1. Mensagem do nosso novo camarada António Varela, com data de 8 de Outubro de 2008:
Caro Luis Graça
Em 29 de Dezembro de 1970, cumpri a minha última missão no Exército, na entrega do espólio do meu Pelotão de Sapadores no RAP2 em Vila Nova de Gaia.
Conseguido isso sem encargos para os soldados (o que era difícil na época) e depois das despedidas, faltava-me fazer o meu próprio espólio, bem mais fácil, era todo meu, far-lhe-ía o que muito bem entendesse. Entendi que o devia abandonar ali mesmo, num quarto qualquer de um camarada qualquer, quem o encontrasse que fizesse dele o que quisesse. Era preciso encerrar e esquecer os anos de guerra na Guiné.
Puro engano, os anos foram passando, mas as lembranças não desapareciam. Algumas coisas caíram no esquecimento, vejo as caras mas não lembro dos nomes, lembro-me de algumas coisas que passei, mas tenho dificuldade em localizá-las no tempo, apenas o amor à Guiné ficou para sempre.
Há algum tempo, com a ajuda do meu filho, encontrei o Blogue do Luisgraçaecamaradasdaguiné, e visito-o com alguma assiduidade. Quero desde já agradecer a disponibilidade do Luis Graça e restantes camaradas co-editores, pois fazer um trabalho desta envergadura, exige muito empenho e disponibilidade de tempo.
É bom voltar a encontrar no blogue camaradas de andanças na Guiné, o Victor Condeço que pertencia à CCS do BART 1913 que nós BART 2865 fomos render, o João Tunes lembro-me da cara dele e o Jorge Teixeira do Pelotão de canhões, de que me lembro bem, mas como diferentes estamos agora, é a velhice que anda por aí.
Eu sou o António Marques Maltês Varela, ex-Fur Mil Sap de Minas e Armadilhas, estive na Guiné em Catió de Fevereiro de 1969 a Dezembro de 1970. Na vida civil sou pré-reformado da PT.
Não vos roubo mais tempo, até breve.
Um abraço
António Varela
2. No mesmo dia foi enviada a seguinte resposta ao nosso camarada Varela:
Caro António Varela
Esperamos vir a ter a tua colaboração no nosso Blogue, já que te dirigiste a nós na condição de ex-combatente da Guiné.
Podes colaborar connosco, contando aquilo de que te lembras. Envia-nos as tuas histórias e fotos que tenhas e passarás a ser um elemento activo do nosso Blogue.
Não podemos esquecer o passado como combatentes e a melhor forma de exorcizarmos alguns fantasmas que ainda vagueiam pelas nossas cabeças, é contar, escrevendo, as nossas experiências de guerra.
Manda uma foto do teu tempo de tropa e outra actual, tipo passe de preferência, para seres apresentado formalmente à nossa Tabanca Grande, como também é conhecido o Blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné.
Um abraço de toda a malta par ti.
Carlos Vinhal
Co-editor
3. No dia 9 de Outubro, o camarada António Varela, correspondendo ao solicitado enviou-nos as fotos da praxe, que se publicam em conformidade, na série Tabanca Grande.
Caro Vinhal
Agradeço-te o bom acolhimento no blogue, e espero colaborar sempre que possível com algumas estórias.
Para já envio-te as duas fotografias que me pediste, para apresentação à Tabanca Grande. Futuramente tentarei fazer uma selecção de fotografias de Catió e caso haja interesse enviá-las-ei.
Um abraço
Ex-Fur Mil Sap Varela
4. No dia 10 de Outubro, o nosso tertuliano Victor Condeço enviava esta mensagem ao Varela, com conhecimento ao nosso Blogue:
Meu caro Varela,
É com muito gosto que respondo à sua apresentação aqui na Tabanca, seja bem-vindo e votos de que sinta bem entre nós! Por certo identificou-me no blogue apenas por eu pertencer à CCS/BART 1913, que o seu BART2865 rendeu a 17 de Fevereiro de 1969 em Catió.
Eu, só saí de Catió no dia 20, pois fiquei a concluir as entregas de algum material, até poderei ter-lhe entregue o material do Pelotão de Sapadores, não faço a mínima ideia. Lembro-me que alguns de vós chegaram uns dias antes, com o fim de fazerem o recebimento, não sei se foi o seu caso, de qualquer modo mesmo que tivessem sido mais de 3 os dias que ali estivemos juntos não dá para recordar quem quer que seja, pelo menos pela minha parte.
Desses dias lembro apenas de festejar no Bar Catió com alguns de vós, a vossa chegada e a nossa partida. Em particular apenas lembro um nome, o do Fur Mil José Nascimento, por ser meu conterrâneo e meu amigo dos tempos de estudante na nossa juventude. Vamos por certo ter oportunidade de trocar outras informações, recordar pessoas e lugares que nos foram comuns embora em tempos diferentes.
Receba um abraço e disponha,
Victor Condeço
5. Comentário de CV
Caro António Varela,
Estás apresentado formalmente à Tertúlia. A partir de hoje tens mais duzentos e sessenta e tal camaradas e amigos a quem poderás contar a tua experiência na Guiné.
Não te disse na mensagem que te enviei, mas nunca mais digas, tu ou qualquer outro camarada, que nos estás a roubar tempo. Embora com algum sacrifício da vida privada, estamos disponíveis para receber os vossos trabalhos, sugestões, reclamações e tudo o que seja de interesse para o nosso Blogue e tertulianos.
Recebe um abraço da tertúlia.
Guiné 63/74 - P3301: História da CCAÇ 2402: Em Mansabá não se passava nada...(João Bonifácio)
1. Mensagem do João Bonifácio, membro da nossa Tabanca Grande, que vive no Canadá:
Olá Luís.
Desculpa o incómodo. Achei que devia enviar uma nota acerca da narrativa do Raul Albino (*), e enviei um e-mail para o nosso camarada Carlos Vinhal, mas veio devolvido. Foi por isso que decidi enviar o mesmo à tua atenção para revisão e publicação se achares que a minha nota tem algum interesse.
O Raul mencionou que o Cap Vargas Cardoso não gostava do modo "abandalhado" como a guerra era vivida em Mansabá. Também eu tive a prova disso, lamentavelmente.
Um grande abraço e "Have a good weekend".
João G. Bonifácio
Ex-Fur Mil do SAM
CCaç 2402/BCaç 2851
Guiné 1968/70
_______
Histórias da CCaç 2402
por João Bonifácio
Caro Amigo.
Os meus melhores cumprimentos. De vez em quando visito esta Tabanca para ver o que há de novo e para aprender sobre tudo o que passou há tantos anos e quando éramos ainda uns jovens.
A narrativa do meu amigo e ex-alf mil Raul Albino, pelo que me lembro, corresponde à verdade do que se passou nessa noite (*).
Apenas um pormenor escapa, mas não é de admirar, pois viver em Mansabá era tarefa simples para um militar, que como eu, ficou sem fazer nada. Contudo, desejo dizer-lhes que na noite do ataque a Mansabá, relatado pelo Raul Albino, para minha infelicidade, eu estava de sargento de dia à CCAÇ 2402.
Como sempre fui um militar que se preocupava com os detalhes de tudo, decidi numa das rondas aos postos de Mansabá, fiscalizar e verificar o estado das armas e munições que ali se encontravam. Esta ronda era feita com uma viatura de transporte pequena pois a área a cobrir era imensa, para ser feita pelo lado de fora dos postos.
Nesse dia verifiquei que nenhuma das armas estava limpa, bem pelo contrário, podiam ver-se mostras de alguma corrosão, e as munições para além de não estarem devidamente colocadas nas caixas (havia munições pelo chão que até nos deixou sem fala), mas as que estavam nas armas estavam já cheias de verdete.
Voltando à ronda que fiz em Mansabá e esta já por volta da 10 da noite, tudo correu normalmente até que eu e o condutor percorríamos o trajecto do lado da pista. Foi nessa altura que senti um arrepio de frio, pois pareceu-me ouvir barulho não muito longe. Ordenei ao condutor para desligar os faróis e regressar ao interior do quartel. Lembro-me de ter falado com alguns militares, mas fiquei apenas frustrado porque nada se fazia.
Uns diziam que nada se passava em Mansabá. Ouvi que eu estava a ver coisas a mais, etc. Mas o que mais me feriu foi o facto de me dizerem "Oh João, afinal o que é que percebes destas coisas, se o teu papel é dentro do arame farpado?"
Mansabá . Alguns dos feridos esperando evacuação para Bissau. Foto de Raul Albino (?).
Este quartel até não era mau, mas estava "abandalhado" , pois ninguém passava cartão a nada.
Se fosse a CCaç 2402 a operar e conhecendo o Cap. Vargas Cardoso, tenho a certeza de que as armas e munições estariam em perfeita condição, assim como a situação que mencionei durante uma ronda à noite, tinha sido investigada. Assim não foi, e agora apenas podemos contar a história.
Obrigado por me terem permitido este anexo para a história de Mansabá e da CC2402, e também ao Raul Albino pela sua magnifica narrativa.
Um abraço amigo.
João G. Bonifácio
2. Nota de vb:
- Gratos pelo teu apontamento à História da CCaç 2402. Recebe um abraço dos teus Camaradas.
Guiné 63/74 - P3300: Blogoterapia (63): Dicas temáticas: do heroísmo à religiosidade do soldado português (Paulo Raposo)
Guiné > Região do Oio > Mansoa > CCAÇ 2405 > 1968 > O Paulo Raposo (ex-Alf Mil Inf, com a especialidade de Minas e Armadilhas, da CCAÇ 2405, pertencente ao BCAÇ 2852, esteve cinco meses em Mansoa, antes de partir para a zona leste, o sub-sector de Gamolaro. Aí irá perder 17 homens no desastre do Cheche, no Rio Corubal, na sequência da retirada de Madina do Boé, em 6 de Fevereiro de 1969 (Op Mabecos Bravios).
Na foto, a placa toponímica indica que, por estrada, Mansoa distava 96 km de Bafatá, 52 km de Farim e 30 km de Mansabá...
Foto: © Paulo Raposo (2006). Direitos reservados .
1. O Paulo Raposo teve a gentileza de me mandar o seguinte comentário, na sequência da (re) publicação do poste com o relato do seu baptismo de fogo, em Mansoa (*) :
Caro Luís
Vi um apontamento de um relato meu no teu e nosso blogue. Te agradeço a lembrança e o afecto, bem hajas.
Tanto por cá como por África isto está tudo podre e vejo ainda muita gente a querer vender este regime como bom. A honra de um Homem foi substituída por leis. A palavra já não faz fé, apenas a prova.
Gostava de ver outros temas discutidos no blogue:
(i) O heroísmo do soldado português;
(ii) A confiança que os soldados depositavam em nós, os quadros;
(iii) A nosso passagem por África, que benefício social, económico trouxe para Portugal;
(iv) A nossa religiosidade, de então e actual, e porquê a diferença;
(v) As nossas famílias, que amarguras passaram por cá aquando da nossa ausência.
Isto dá pano para mangas...
Um abraço para ti deste teu amigo
Paulo
2. Comentário de L.G.:
Paulo: É tão bom saber que estás vivo da costa, embora desencantado... E como é importante, para a nossa saúde física, mental e espiritual, o encantamento... com a vida, com os outros, com o mundo que nos rodeia, com o país que é o nosso mas que não escolhemos... Ah! esta nossa relação de amor-ódio com este nosso Portugal!
Quanto às tuas sugestões temáticas, para o nosso blogue, serão bem acolhidas por todos nós... Oxalá haja mãos, entre nós, Tabanca Grande, para tocar o piano, quero eu dizer, o teclado do computador... Não vejo que sejam questões fracturantes... Já atingimos um patamar de sabedoria, de tolerância e de garantia de pluralismo que nos permite questionar tudo ou quase tudo, de falar de tudo ou quase tudo...
Admito que são questões difíceis, dificílimas de responder. In limine, impossíveis de responder. Não há investigação científica, historiográfica, sociológica, antropológica, etc., sobre estes temas... Podes dar a tua opinião, defender o teu ponto de vista, usar os teus argumentos, e sobretudo dar o teu testemunho, mostrar o teu exemplo e o exemplo dos teus homens, dos homens do teu grupo de combate, da tua companhia... Como aliás já o fizeste em tempos, de maneira tão sincera, tão humana: aí está justamente o teu testemunho, publicado na I e II Séries do nosso Blogue, e que muitos camaradas, recém chegados ao blogue, provavelmente nunca leram (**).
Um Alfa Bravo. Até um dia destes, até Montemor!
Luís
PS - Paulo Raposo: Transcrevo aqui as últimas palavras da primeira parte do teu testemunho, justamente a propósito do fim da comissão e do fim (?) do pesadelo, com o teu regresso a casa (onde já não morava o teu pai, falecido entretanto)...
"Estavam lá todos, a família e os amigos, mas o meu pai não estava. Desembarcámos. Mais um desfile e vá de ir para casa. Tudo era diferente. Não só eu me tinha transformado, como cá também tudo tinha evoluído.
"Se me custara passar de civil a militar, o inverso depois de 37 meses de tropa foi também muito complicado. A ansiedade que adquiri no fim da comissão nunca mais me largou. Diminui ou aumenta conforme o cansaço. Está sempre dentro de mim.
"Quanto a terrores nocturnos, tive-os durante muitos anos. Por causa de ter adormecido profundamente no mato e não ter ouvido os tiros do inimigo, tive pesadelos pela eventualidade de a companhia avançar e me deixar para trás, só e isolado no mato. Outra situação que me apavorava era a possibilidade de ser novamente chamado para nova comissão como capitão.
"Odeio as guerras".
______________
Nota de L.G.:
(*) 8 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3282: O meu baptismo de fogo (5): Mansoa, 1968, ouvindo a irritante costureirinha (Paulo Raposo)
(**)Vd. os postes publicados no âmbito da série O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70):
12 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCXCVI: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (1): Mafra
18 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXII: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (2): Aspirante em Elvas, Tancos e Abrantes
19 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXV: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (3): De Santa Margarida ao Uíge
5 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXVIII: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (4): Em Bissau com Spínola
7 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXXI: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (5): Periquito em Mansoa
8 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXXIII: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (6); Mansoa, baptismo de fogo
11 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXLIV: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (7): A ida ao Morés: atenção, heli, aqui tropa à rasca
19 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXIV: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (8): A ida para o leste
22 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXVIII: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (9): Fome em Campatá e Natal em Bafatá
7 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P853: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (10): A retirada de Madina do Boé
21 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P889: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (11): Férias em Portugal
26 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P912: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (12): A morte de um pai
6 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P941: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (13): Operação ao Fiofioli
10 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P949: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (14): regresso às tabancas em autodefesa
31 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P1007: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (15): as colunas logísticas de Galomaro a Bafatá e a Bambadinca
3 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1022: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (16): De novo em Bissau, a caminho de... Dulombi
7 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1029: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (17): Dulombi
16 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1034: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (18): O fim da comissão
10 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1060: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (19): regresso a Lisboa e à vida civil (fim)
Guiné 63/74 - P3299: Revista Combatente, Liga dos Combatentes.(José Martins)
Notícias da Liga dos Combatentes
José Marcelino Martins
Camaradas
Através do site da LIGA DOS COMBATENTES tomei contacto com a nova roupagem da revista, sob a direcção do nosso camarada de armas, combatente em Angola, Helder Freire com carreira profissional na imprensa e televisão.
Deixo aqui um abraço de parabéns e votos de um bom trabalho!
Gostei. Aguardo o momento de a poder folhear com calma.
Aconselho a sua leitura.(lisboa@ligacombatrentes.org.pt)
E, já agora, porque esperam para se associar à Liga dos Combatentes?
Um abraço,
José Martins
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Nota:
A revista "Combatente" é uma edição trimestral da Liga dos Combatentes e dirige-se a todos os que vivem e sentem Portugal.
No número de Setembro de 2008 destacam-se os artigos:
- "Conservação das Memórias" (recuperação dos cemitérios onde repousam os restos de combatentes portugueses);
- Notícias actuais dos Núcleos da Liga (de Manteigas ao Quebec...);
- "Opinião" do Gen Brochado de Miranda: "Considerações sobre a Guerra do Ultramar";
- "Inquérito" : Vamos ajudar no Stress Pós-Traumático;
- "Convívios" de unidades: relatos e avisos de reuniões;
- "Estórias (estou a citar, que me perdoem os Amigos da Nossa Língua) da história";
- "Livros" a não perder: "Bissau em chamas" de Alexandre R. Rodrigues e Américo Silva Santos (sobre o golpe de estado de Jun de 1998); "Homem Ferro", Memórias de Um Combatente, de Manuel Pires da Silva (a história de um jovem nos Fuzileiros", "Tempo Africano", de Barão da Cunha, com capítulos sobre Angola e Guiné, incluindo testemunhos de antigos Combatentes (lançamento na Galeria Municipal Verney, Oeiras, em 15 Nov próximo); "As aves levantam contra o vento", de Jorge Carvalheira e "Quinze batalhas decisivas da Humanidade", de Maratona a Waterloo, de Edward S. Creazy. Destaque para o lançamento de "A Mulher Portuguesa na Guerra e nas Forças Armadas" (edição da Liga Combatentes, € 13 + portes, pedidos-reserva à Liga)