Em busca de... Furriel Andrade, Fajonquito 1971/73
1. Tudo começou assim:
i. Mensagem de Maria Filomena Silva Correia, uma nossa amiga guineense, de Bissau, que se dirigiu a Luís Graça no dia 30 de Março de 2009:
Boa tarde
Querido amigo
Eu sou Maria Filomena Silva Correia (Tchentcha), filha de falecida Cristina Silva Correia em Fajonquito, tenho irmãs de nome Maria Luísa (Vitorina), Cesina e um irmão mais novo chamado Carlitos.
Hoje, quando vi seu site na internet achei por bem que o senhor me poderia ajudar a encontrar um meu amigo de quando eu era criança, Senhor cujo nome nunca conheci, porque ele era chamado furriel Andrade. Ele era do mesmo batalhão que o furriel Cabrita Martins se não me engano.
O senhor não pode imaginar quanta vezes procurei por esse senhor em Portugal.
ii. Hoje mesmo foi enviada uma mensagem à tertúlia no sentido de encontrar alguém que eventualmente tenha um pista para dar a esta nossa amiga.
Se entre os nossos leitores houver alguém que possa ajudar a encontrar o camarada Andrade ou o camarada Cabrita Martins, por favor façam-nos chegar essa informação ou contactem a Maria Filomena para o endereço filocorreia@yahoo.com.br
O nosso obrigado desde já.
CV
2. Desenvolvimento
i. Mensagem de Afonso Sousa para Maurício Nunes Vieira:
Caro Maurício Nunes Vieira:
Poderá informar-me (caso saiba) qual era a Companhia que estava em Fajonquito, entre 1971 e 1973 ?
Por acaso conhecia (dessa companhia) o ex-Furriel Miliciano de nome Andrade ?
Com os meus cumprimentos
A. Sousa
ii. Mensagem resposta de Maurício Nunes Vieira para Afonso Sousa
Em Fajonquito entre 1971 e 1973 estava a CCaç 3549, do Batalhão 3884, eu pertenci à CCS em Bafatá. Quanto ao ex-furriel Andrade não me lembro já, aliás conhecia bem todos os camaradas da minha Companhia, os outros por não haver tanto contacto era difícil.
Lamento não poder ser mais útil, tente no blog do Luís Graça que decerto haverá quem conheça, sei que todos os anos fazem convívio, conheço e dou-me bem com o capitão dessa Companhia, mora aqui em Sintra perto de mim, é o capitão Sampedro, grato por conhecê-lo, sempre ao dispôr,
um abraço
Nota: Junto lhe envio o emblema da companhia de Fajonquito
3. No dia 2 de Abril chega ao Blogue esta mensagem de Afonso Sousa:
Caro Carlos:
Já consegui localizar o furriel Andrade (e inclusivé já falei com ele).
É caso para dizer: fazemos (o Blog) melhor investigação que os magistrados do processo Freeport !
Ora vamos aos dados:
Fajonquito:
CART 2742 (1970/72) ----> Rendida pela CCAÇ 3549 (1972/74)
- Furriel Constantino Dias Andrade (Fornos - Santa Maria da Feira) - CCAÇ 3549 (contactos omitidos pelo editor)
Carlos,
comunica a essa amiga de Bissau.
Um abraço
Afonso Sousa
Agradecimentos (ex-militares que serviram de pistas para chegar à localização do Andrade):
Aníbal Manuel Oliveira Farraia - Estarreja - CCAÇ 3549
José Cortes - Coimbra - CCAÇ 3549
José Manuel Valente - Santarém - CART 2741 - Furriel Enf
Capitão Manuel Mendes Sampedro - Comandante da CCAÇ 3549
Agostinho Costa - CART 2742
Joaquim Conceição - CART 2742
Furriel Ribeiro - CART 2742 - Albergaria-a-Velha
Furriel (Fernando Francisco) Cabrita Martins - Vaguemestre - BART 2920 - CANEÇAS
(Contactos omitidos pelo editor)
4. Envio das informações recolhidas à peticionária
i. Informação enviada à nossa amiga Maria Filomena, ontem dia 2 de Abril de 2009:
Cara amiga Filomena Correia
Como pode ver, consultando a mensagem abaixo, o meu camarada Afonso Sousa, encontrou o seu velho amigo Andrade, tendo já falado com ele.
Uma vez que tem o contacto do Andrade, faça o favor de o contactar. Por outro lado, gostaríamos de saber, mais tarde, como foi esse reencontro.
Continuamos ao dispôr para o que precisar.
Aceite as nossas saudações
Carlos Vinhal
Co-editor do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné
e
Afonso Sousa
Tertuliano e colaborador do mesmo Blogue
ii. Mensagem de Filomena Correia, recebida hoje mesmo no Blogue:
Bom meu querido Carlos
Agradeço o vosso esforço em encontrar o meu amigo furriel Andrade, ja tentei ligar para ele mas ainda sem successo, logo que conseguir conversar com ele vou informar para vocês como foi o encontro.
Muito obrigada
Filomena (Tchentcha)
5. Comentário de CV:
Mais uma vez resolvemos um caso de busca de pessoas. Se para a maioria das pessoas, este nosso gesto pouco poderá significar, para as pessoas que se nos dirigem é uma hipótese de encontar alguém que lhes lembra até a meninice, como este caso particular.
Não posso deixar de realçar e agradecer a prestimosa colaboração de alguns camaradas sempre atentos, porque mais sensíveis, digo eu, a estes pedidos.
Desta vez o trabalho para encontrar o camarada Andrade deve-se ao nosso companheiro Afonso Sousa a quem agradecemos particularmente.
Ainda a propósito deste assunto, o nosso camarada José Martins desenvolveu um trabalho com as Unidades que passaram por Fajonquito, que publicaremos em poste autónomo.
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 30 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4111: Em busca de... (68): Furs Mils Andrade e Cabrita Martins que estiveram em Fajonquito entre 1971 e 1973 (Maria Filomena Correia)
Vd. último poste da série de 2 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4131: Em busca de... (69): Estêvão, ou Coconut, que era ainda menino, em Prábis, no ano de 1973 (J. Casimiro Carvalho)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sexta-feira, 3 de abril de 2009
Guiné 63/74 - P4134: O trauma da notícia da mobilização (8): Amado, volta já para o Quartel (Juvenal Amado)
1. Mensagem de Juvenal Amado, ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1972/74, com data de 1 de Abril de 2009:
Caros Carlos, Luis, Briote e restante Tabanca Grande.
Os traumas da nossa mobilização começaram muito antes de nós o sermos na realidade.
Os que foram mobilizados na mesma altura que eu, talvez não tenham sofrido o choque tão violento, pois tivemos anos para nos preparar para o facto. Ao contrários os mais velhos foram atingidos pelo desconhecido, pelas notícias de violência em terras tão longiquas e por vezes ampliadas pela distância.
De qualquer forma deixou marcas em todos os nós.
Um abraço para todos
Juvenal Amado
31.03.009
Amado, volta já para o Quartel
Desde o início da guerra ouvi falar de vários dramas despoletados pela mobilização para a guerra colonial.
Falou-se até em suicídios. Ou se for mobilizado mato-me.
O trauma da guerra na sociedade portuguesa, onde parece que nada acontecia, foi um choque violento.
Ainda garoto ainda intoxicado, com a visão do poderio Português no Mundo, onde éramos os mais fortes e mais valentes, pensava que a coisa ia ser despachada em três tempos.
Os valores da raça injectados na Escola Primária e na Mocidade Portuguesa, que nos faziam inchar de tanto orgulho em ser nascidos, neste jardim à beira mar plantado.
Enfim idealismos, que o tempo esfriou de forma bem rude.
A realidade era a extrema pobreza, analfabetismo, emigração a salto, e para quem por cá ficava, a repressão e a falta de direitos políticos, eram o pão nosso de cada dia.
Mas o meu irmão, acabou por ser mobilizado para Moçambique e a guerra entrou na minha casa.
Mais tarde quando eu fazia os impossíveis por chegar a Sta. Margarida, onde deveria ter chegado às oito horas vindo de um fim de semana e só cheguei ao meio dia, a guerra também me apanhou a mim.
O frio era terrível naquele Novembro de 1971. Eu conduzia o Comandante de um Batalhão que ia para Angola. A viatura deixava entrar o vento gélido. Nas pistas de combate o Batalhão chafurdava na lama entre explosões de petardos e rajadas de metralhadora obrigando os soldados a rastejarem por baixo de arame farpado. Só de pensar na lama gelada me dava arrepios. Só dei pela presença do meu camarada condutor, que comigo cumpria a diligência no CIME, embora pertencêssemos ao RI2 de Abrantes, já ele estava ao pé de mim.
Na verdade todos estávamos conscientes, que poucas hipóteses tínhamos de escapar, mas no fundo alimentávamos uma pequena esperança de pertencermos a uma minoria, que era bafejada pela sorte.
Quando o vi, vinha ele na minha direcção com um ar pesaroso, de quem já estava a olhar para um já meio morto.
Foi quase como quem pede desculpa por não ter sido ele . Amado volta já para o quartel, pois veio uma guia de marcha a dizer que foste mobilizado.
Regressei a Abrantes no mesmo dia. Estou alucinado. Parece que sou actor e espectador de um filme rasca. Os sargentos que regressam a Abrantes, fazem má cara por verem um praça partilhar o seu transporte com eles. Querem lá saber se fui ou não mobilizado, o meu lugar era na carroçaria de um qualquer transporte militar, nunca no seu autocarro.
Na secretaria recebo a notícia para onde ia. Então cheio de sorte hem. Gozava o sargento que tinha o documento na mão. Para a Guiné.
Apresento-me na Companhia e o Capitão pergunta-me com maus modos, onde raio tinha eu estado metido que à oito dias andavam à minha procura?
Não fui preso como desertor por mero acaso.
Vamos gozar férias, só penso como é que eu vou dizer em casa, que vou para a Guiné?
Quando virem os sacos, metade do trabalho estará feito. Depois só falta dizer para onde.
Juvenal Amado
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da séri de 2 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4125: O trauma da notícia da mobilização (7): Não se pode mudar o destino (Pedro Neves)
Caros Carlos, Luis, Briote e restante Tabanca Grande.
Os traumas da nossa mobilização começaram muito antes de nós o sermos na realidade.
Os que foram mobilizados na mesma altura que eu, talvez não tenham sofrido o choque tão violento, pois tivemos anos para nos preparar para o facto. Ao contrários os mais velhos foram atingidos pelo desconhecido, pelas notícias de violência em terras tão longiquas e por vezes ampliadas pela distância.
De qualquer forma deixou marcas em todos os nós.
Um abraço para todos
Juvenal Amado
31.03.009
Amado, volta já para o Quartel
Desde o início da guerra ouvi falar de vários dramas despoletados pela mobilização para a guerra colonial.
Falou-se até em suicídios. Ou se for mobilizado mato-me.
O trauma da guerra na sociedade portuguesa, onde parece que nada acontecia, foi um choque violento.
Ainda garoto ainda intoxicado, com a visão do poderio Português no Mundo, onde éramos os mais fortes e mais valentes, pensava que a coisa ia ser despachada em três tempos.
Os valores da raça injectados na Escola Primária e na Mocidade Portuguesa, que nos faziam inchar de tanto orgulho em ser nascidos, neste jardim à beira mar plantado.
Enfim idealismos, que o tempo esfriou de forma bem rude.
A realidade era a extrema pobreza, analfabetismo, emigração a salto, e para quem por cá ficava, a repressão e a falta de direitos políticos, eram o pão nosso de cada dia.
Mas o meu irmão, acabou por ser mobilizado para Moçambique e a guerra entrou na minha casa.
Mais tarde quando eu fazia os impossíveis por chegar a Sta. Margarida, onde deveria ter chegado às oito horas vindo de um fim de semana e só cheguei ao meio dia, a guerra também me apanhou a mim.
O frio era terrível naquele Novembro de 1971. Eu conduzia o Comandante de um Batalhão que ia para Angola. A viatura deixava entrar o vento gélido. Nas pistas de combate o Batalhão chafurdava na lama entre explosões de petardos e rajadas de metralhadora obrigando os soldados a rastejarem por baixo de arame farpado. Só de pensar na lama gelada me dava arrepios. Só dei pela presença do meu camarada condutor, que comigo cumpria a diligência no CIME, embora pertencêssemos ao RI2 de Abrantes, já ele estava ao pé de mim.
Na verdade todos estávamos conscientes, que poucas hipóteses tínhamos de escapar, mas no fundo alimentávamos uma pequena esperança de pertencermos a uma minoria, que era bafejada pela sorte.
Quando o vi, vinha ele na minha direcção com um ar pesaroso, de quem já estava a olhar para um já meio morto.
Foi quase como quem pede desculpa por não ter sido ele . Amado volta já para o quartel, pois veio uma guia de marcha a dizer que foste mobilizado.
Regressei a Abrantes no mesmo dia. Estou alucinado. Parece que sou actor e espectador de um filme rasca. Os sargentos que regressam a Abrantes, fazem má cara por verem um praça partilhar o seu transporte com eles. Querem lá saber se fui ou não mobilizado, o meu lugar era na carroçaria de um qualquer transporte militar, nunca no seu autocarro.
Na secretaria recebo a notícia para onde ia. Então cheio de sorte hem. Gozava o sargento que tinha o documento na mão. Para a Guiné.
Apresento-me na Companhia e o Capitão pergunta-me com maus modos, onde raio tinha eu estado metido que à oito dias andavam à minha procura?
Não fui preso como desertor por mero acaso.
Vamos gozar férias, só penso como é que eu vou dizer em casa, que vou para a Guiné?
Quando virem os sacos, metade do trabalho estará feito. Depois só falta dizer para onde.
Juvenal Amado
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da séri de 2 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4125: O trauma da notícia da mobilização (7): Não se pode mudar o destino (Pedro Neves)
Guiné 63/74 - P4133: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (9): Os livros não mudam o Mundo,... O Homem muda o mundo (José Martins)
1. Mensagem de José Marcelino Martins, ex-Fur Mil, Trms, CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70, com data de 31 de Março de 2009:
Boa tarde Camaradas e amigos
Não preciso de me apresentar, já que todos me reconhecem, pelo menos tacitamente, como um elemento do bando.
Não vi o programa em questão e, somente pelos comentários, me fui apercebendo do conteúdo da peça.
OS LIVROS NÃO MUDAM O MUNDO; OS LIVROS MUDAM O HOMEM; O HOMEM MUDA O MUNDO!
Ainda bem que dou crédito a esta frase, lida já não me recordo onde, mas vem dar razão ao que faço: leio, leio muito e sobretudo aquilo que me interessa, enquanto a televisão debita, para quem a ouve e dela faz culto, muitas coisas que, muitas vezes, é preferível não ouvir.
Se estou indignado, não tendo sido espectador directo, que seria se tivesse ouvido tais esclarecimentos?
Mas atentemos nisto.
No passado, durante uma guerra ou combate, houve uma unidade militar a quem a sorte das armas (?) não correu de feição.
De imediato as reprovações chegaram, talvez não lhes tivessem chamado bando, mas disseram vozes que todos, mas todos, deveriam ser enforcados pela vergonha e humilhação que tinham feito o comandante passar.
Como prova da sua indignação, como aquela que agora sentimos, passaram a usar, suspensa à volta do braço, uma corda com pregos, desafiando, quem quisesse, a utilizar aqueles acessórios, para executar a sentença a que tinham sido votados: enforcamento.
Sobre o tal bando de aramistas não houve quem tivesse coragem de ousar algum procedimento, até que na batalha seguinte, estando estes a constituir a retaguarda, não fossem repetir o fracasso, tiveram de avançar para salvar a honra dos que os haviam insultado com a questão da forca.
O prémio recebido foi a transformação da corda com os pregos num cordão com agulhetas de prata, que assim se transformou no distintivo de condecoração colectiva, pela demonstração de coragem, abnegação e, sobretudo, camaradagem e entreajuda.
Nós, os que constituímos o suporte do poder político, que não soube ou não teve coragem, para negociar à mesa aquilo que no terreno estava perdido; nós, os que constituímos o suporte de comando de tantos, a quem chamávamos chefes, para que continuassem a usar privilégios e a receber galardões; nós, aqueles que, depois de despirem a farda, vestiram o fato de trabalho e arregaçaram as mangas para tentar erguer este país, que outros vêm destruindo...
Nós, aqueles que não usamos cordões com agulhetas de prata, temos a consciência tranquila, temos a noção do dever cumprido, sabemos que o trabalho não está todo feito, mas cumprimos a nossa parte...
Nós, que combatemos por uma terra que se hoje não é nossa, mas que consideramos como segunda Pátria, e que merecemos o respeito e a amizade daquele povo, que ainda continua a sofrer...
Nós, que escutamos palavras que não merecíamos, e que ninguém tem o direito de as pronunciar...
Nós, a quem chamam ex ou antigos, continuamos a ser combatentes, ou será que a nossa revolta não é o regresso ao combate de antanho?
José Martins
Março 31, 2009
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 2 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4128: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (8): Uma opinião de um leitor atento do nosso Blogue (João Miguel Almeida)
Boa tarde Camaradas e amigos
Não preciso de me apresentar, já que todos me reconhecem, pelo menos tacitamente, como um elemento do bando.
Não vi o programa em questão e, somente pelos comentários, me fui apercebendo do conteúdo da peça.
OS LIVROS NÃO MUDAM O MUNDO; OS LIVROS MUDAM O HOMEM; O HOMEM MUDA O MUNDO!
Ainda bem que dou crédito a esta frase, lida já não me recordo onde, mas vem dar razão ao que faço: leio, leio muito e sobretudo aquilo que me interessa, enquanto a televisão debita, para quem a ouve e dela faz culto, muitas coisas que, muitas vezes, é preferível não ouvir.
Se estou indignado, não tendo sido espectador directo, que seria se tivesse ouvido tais esclarecimentos?
Mas atentemos nisto.
No passado, durante uma guerra ou combate, houve uma unidade militar a quem a sorte das armas (?) não correu de feição.
De imediato as reprovações chegaram, talvez não lhes tivessem chamado bando, mas disseram vozes que todos, mas todos, deveriam ser enforcados pela vergonha e humilhação que tinham feito o comandante passar.
Como prova da sua indignação, como aquela que agora sentimos, passaram a usar, suspensa à volta do braço, uma corda com pregos, desafiando, quem quisesse, a utilizar aqueles acessórios, para executar a sentença a que tinham sido votados: enforcamento.
Sobre o tal bando de aramistas não houve quem tivesse coragem de ousar algum procedimento, até que na batalha seguinte, estando estes a constituir a retaguarda, não fossem repetir o fracasso, tiveram de avançar para salvar a honra dos que os haviam insultado com a questão da forca.
O prémio recebido foi a transformação da corda com os pregos num cordão com agulhetas de prata, que assim se transformou no distintivo de condecoração colectiva, pela demonstração de coragem, abnegação e, sobretudo, camaradagem e entreajuda.
Nós, os que constituímos o suporte do poder político, que não soube ou não teve coragem, para negociar à mesa aquilo que no terreno estava perdido; nós, os que constituímos o suporte de comando de tantos, a quem chamávamos chefes, para que continuassem a usar privilégios e a receber galardões; nós, aqueles que, depois de despirem a farda, vestiram o fato de trabalho e arregaçaram as mangas para tentar erguer este país, que outros vêm destruindo...
Nós, aqueles que não usamos cordões com agulhetas de prata, temos a consciência tranquila, temos a noção do dever cumprido, sabemos que o trabalho não está todo feito, mas cumprimos a nossa parte...
Nós, que combatemos por uma terra que se hoje não é nossa, mas que consideramos como segunda Pátria, e que merecemos o respeito e a amizade daquele povo, que ainda continua a sofrer...
Nós, que escutamos palavras que não merecíamos, e que ninguém tem o direito de as pronunciar...
Nós, a quem chamam ex ou antigos, continuamos a ser combatentes, ou será que a nossa revolta não é o regresso ao combate de antanho?
José Martins
Março 31, 2009
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 2 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4128: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (8): Uma opinião de um leitor atento do nosso Blogue (João Miguel Almeida)
Guiné 63/74 - P4132: Efemérides (19): O ataque a Mansoa, no dia das mentiras, 1 de Abril de 1971 (Germano Santos)
1. Mensagem do Germano Santos, com data de 1 de Abril. O Germano foi 1º Cabo Operador Cripto, CCaç 3305/ BCaç 3832, Mansoa, 1971/73 (*).
Boa tarde a todos,
No "nosso tempo" o dia 1 de Abril era o dia das mentiras, não sei se ainda hoje assim continua, mas também, e para o caso, pouco importa.
Venho só lembrar o pessoal do Batalhão de Caçadores 3832 que faz hoje exactamente 38 anos que sofremos o nosso primeiro ataque.
Não terá sido todo o Batalhão, mas o pessoal em Mansoa sofreu neste dia o seu baptismo de fogo e que fogo, camaradas!
Eu, por exemplo, estive a vê-lo, durante largos minutos, metido num buraco (uma vala) em frente ao posto dos correios em Mansoa, na rua principal.
Dentro da vala, cheio de m..., de barriga para cima a apreciar os very-lights e a ouvir os sons das morteiradas e das costureirinhas.
Um espectáculo, gratuito e, felizmente, sem consequências para o pessoal.
Recordar ainda é viver.
Um abraço para todos.
Germano Santos
_____________
Nota de L.G.:
(*) Vd. poste de 11 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1835: Tabanca Grande (10): Germano Santos, ex-1º Cabo Op Cripto, CCAÇ 3305 / BCAÇ 3832, Mansoa, 1971/73
Boa tarde a todos,
No "nosso tempo" o dia 1 de Abril era o dia das mentiras, não sei se ainda hoje assim continua, mas também, e para o caso, pouco importa.
Venho só lembrar o pessoal do Batalhão de Caçadores 3832 que faz hoje exactamente 38 anos que sofremos o nosso primeiro ataque.
Não terá sido todo o Batalhão, mas o pessoal em Mansoa sofreu neste dia o seu baptismo de fogo e que fogo, camaradas!
Eu, por exemplo, estive a vê-lo, durante largos minutos, metido num buraco (uma vala) em frente ao posto dos correios em Mansoa, na rua principal.
Dentro da vala, cheio de m..., de barriga para cima a apreciar os very-lights e a ouvir os sons das morteiradas e das costureirinhas.
Um espectáculo, gratuito e, felizmente, sem consequências para o pessoal.
Recordar ainda é viver.
Um abraço para todos.
Germano Santos
_____________
Nota de L.G.:
(*) Vd. poste de 11 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1835: Tabanca Grande (10): Germano Santos, ex-1º Cabo Op Cripto, CCAÇ 3305 / BCAÇ 3832, Mansoa, 1971/73
quinta-feira, 2 de abril de 2009
Guiné 63/74 - P4131: Em busca de... (69): Estêvão, ou Coconut, que era ainda menino, em Prábis, no ano de 1973 (J. Casimiro Carvalho)
Prábis > José Casimiro Carvalho e o seu companheiro Estêvão, aliás Coconut
1. Mensagem de José Casimiro Carvalho, ex-Fur Mil Op Esp, CCAV 8350 (1972/74), com data de 30 de Março de 2009:
Está tão em voga localizar pessoas através do Blogue que vou tentar...
Quando saí do inferno de Gadamael, onde estávamos "em bandos à espera de sermos atacados", sendo a nossa defesa todos os Oficiais do Quadro que não arredaram pé, até se ofereciam para Gadamael para nos defenderem, fui para Prábis onde havia um miúdo de nome Estêvão a quem carinhosamente eu chamava COCONUT, ao que ele ripostava:
- Mim não é Coconut, mim é Estêvão.
Ele fazia a minha cama e privava comigo, o que eu não daria para contactá-lo.
Será possível?
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 30 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4111: Em busca de... (68): Furs Mils Andrade e Cabrita Martins que estiveram em Fajonquito entre 1971 e 1973 (Maria Filomena Correia)
1. Mensagem de José Casimiro Carvalho, ex-Fur Mil Op Esp, CCAV 8350 (1972/74), com data de 30 de Março de 2009:
Está tão em voga localizar pessoas através do Blogue que vou tentar...
Quando saí do inferno de Gadamael, onde estávamos "em bandos à espera de sermos atacados", sendo a nossa defesa todos os Oficiais do Quadro que não arredaram pé, até se ofereciam para Gadamael para nos defenderem, fui para Prábis onde havia um miúdo de nome Estêvão a quem carinhosamente eu chamava COCONUT, ao que ele ripostava:
- Mim não é Coconut, mim é Estêvão.
Ele fazia a minha cama e privava comigo, o que eu não daria para contactá-lo.
Será possível?
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 30 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4111: Em busca de... (68): Furs Mils Andrade e Cabrita Martins que estiveram em Fajonquito entre 1971 e 1973 (Maria Filomena Correia)
Guiné 63/74 - P4130: Ser solidário (34): O contentor da Ajuda Amiga (Carlos Silva)
1. Mensagem de Carlos Silva, ex-Fur Mil da CCAÇ 2584/BCAÇ 2879, Presidente da Assembleia Geral da Associação Ajuda Amiga, com data de 31 de Março de 2009:
Amigos
A propósito do Post 4116 do Zé Teixeira (*), espero que não se esqueçam dos artigos que vos enviei há dias, que reenvio de novo
Com um abraço
Carlos Silva
Guiné-Bissau
Bissau, 17-03-2009
Ser Solidário
No âmbito de mais uma visita de natureza humanitária à Guiné-Bissau para onde a nossa ONGD Ajuda-Amiga Associação de Solidariedade e de Apoio ao Desenvolvimento enviou um contentor de bens para distribuir pela população guineense e por algumas instituições, apesar de a Guiné atravessar um período menos bom, como é do conhecimento público, nós estivemos lá com alegria [esquecendo o sacrifício de estar sob um calor tórrido] para acompanhar o descarregamento do contentor e respectiva distribuição dos bens.
Além deste contentor seguiram também à boleia no contentor da Associação Memórias e Gentes de Coimbra 102 caixas e mais 2000 T-Shirts da TNT Express.
Bem haja e obrigado pela boleia ao camarada d´armas Zé Moreira, ao Gustavo e Fernando.
Bissorã, foi a localidade grande beneficiária destes donativos e em menor escala foram contempladas as seguintes entidades:
Missão Católica de Farim
Irmãs de Antula
Irmãs de Bissorã
Associação Orfanato “Casa Emanuel”
Jardim Infância de Varela
ONGD AD – Acção para o Desenvolvimento
ONGD RA – Rede Ajuda
Aqui deixo publicamente os nossos agradecimentos à nossa Embaixada e IPAD que nos apoiaram no tramitação do desalfandegamento e nos cederam as instalações para o descarregamento do contentor, bem como, um agradecimento ao Dr. Guilherme Zeverino e ao Sr Victor, em serviço na Representação Diplomática que também nos apoiaram.
Seguem algumas fotos do contentor, descarregamento e distribuição dos donativos
O tão desejado contentor rumando para as instalações do Bairro da Cooperação
Início do descarregamento do contentor
Azáfama do descarregamento do contentor com pessoal de Bissorã e Bissau
Carlos Silva e Senhor Vitor
Irmãs de Antula e da Cáritas
Carregamento dos donativos para o camião de Bissorã
Carregamento dos donativos para o camião de Bissorã
Já pouco resta
Partida do camião para Bissorã
Carlos Silva ladeado dos seus ajudantes de Bissau, esqª Quintino e dta. Serifo junto de alguns restantes donativos
Fotos: © Carlos Silva (2009). Direitos reservados
Massamá, 27-03-2009
__________
Nota de CV:
(*) Vd. poste de 31 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4116: Ser solidário (31): Vamos continuar com a campanha de sementes para a Guiné-Bissau (Zé Teixeira)
Vd. último poste da série de 1 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4123: Ser solidário (33): Ajudem na construção da Escola de Samba Culo (Carlos Silva)
Amigos
A propósito do Post 4116 do Zé Teixeira (*), espero que não se esqueçam dos artigos que vos enviei há dias, que reenvio de novo
Com um abraço
Carlos Silva
Guiné-Bissau
Bissau, 17-03-2009
Ser Solidário
No âmbito de mais uma visita de natureza humanitária à Guiné-Bissau para onde a nossa ONGD Ajuda-Amiga Associação de Solidariedade e de Apoio ao Desenvolvimento enviou um contentor de bens para distribuir pela população guineense e por algumas instituições, apesar de a Guiné atravessar um período menos bom, como é do conhecimento público, nós estivemos lá com alegria [esquecendo o sacrifício de estar sob um calor tórrido] para acompanhar o descarregamento do contentor e respectiva distribuição dos bens.
Além deste contentor seguiram também à boleia no contentor da Associação Memórias e Gentes de Coimbra 102 caixas e mais 2000 T-Shirts da TNT Express.
Bem haja e obrigado pela boleia ao camarada d´armas Zé Moreira, ao Gustavo e Fernando.
Bissorã, foi a localidade grande beneficiária destes donativos e em menor escala foram contempladas as seguintes entidades:
Missão Católica de Farim
Irmãs de Antula
Irmãs de Bissorã
Associação Orfanato “Casa Emanuel”
Jardim Infância de Varela
ONGD AD – Acção para o Desenvolvimento
ONGD RA – Rede Ajuda
Aqui deixo publicamente os nossos agradecimentos à nossa Embaixada e IPAD que nos apoiaram no tramitação do desalfandegamento e nos cederam as instalações para o descarregamento do contentor, bem como, um agradecimento ao Dr. Guilherme Zeverino e ao Sr Victor, em serviço na Representação Diplomática que também nos apoiaram.
Seguem algumas fotos do contentor, descarregamento e distribuição dos donativos
O tão desejado contentor rumando para as instalações do Bairro da Cooperação
Início do descarregamento do contentor
Azáfama do descarregamento do contentor com pessoal de Bissorã e Bissau
Carlos Silva e Senhor Vitor
Irmãs de Antula e da Cáritas
Carregamento dos donativos para o camião de Bissorã
Carregamento dos donativos para o camião de Bissorã
Já pouco resta
Partida do camião para Bissorã
Carlos Silva ladeado dos seus ajudantes de Bissau, esqª Quintino e dta. Serifo junto de alguns restantes donativos
Fotos: © Carlos Silva (2009). Direitos reservados
Massamá, 27-03-2009
__________
Nota de CV:
(*) Vd. poste de 31 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4116: Ser solidário (31): Vamos continuar com a campanha de sementes para a Guiné-Bissau (Zé Teixeira)
Vd. último poste da série de 1 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4123: Ser solidário (33): Ajudem na construção da Escola de Samba Culo (Carlos Silva)
Guiné 63/74 - P4129: Estórias cabralianas (47): A minha mobilização: o galo dos Cabrais... (Jorge Cabral)
1. Mais uma estória cabraliana (desculpem os puristas da língua, mas o autor faz questão...). Só faltam três para as 50... O Jorge prometeu não se passar dos carretos sem chegar à meia centena (*)...
Não cometo uma inconfidência - imprescindível para se compreender o título e a moral da história - ao dizer que o Cabral é um homem de linhagem ilustre... e que o progenitor , ao que sei, era militar... de carreira. E a verdade é que, quem sai aos seus, não degenera...
Posso garantir que nunca o vi, nas terras de Badora e do Cuor, cantar de galo... Mas que sempre prezou a sua linhagem, isso é indesmentível e eu sou testemunha: costumava garantir, a quem o queria ouvir, que "na Guiné, Cabral só havia um, o de Missirá e mais nenhum"...
Fanfarronice ou não, a coisa deve ter chegado aos ouvidos do Corca Só, o chefe da 'barraca' de Madina / Belel, que nunca mais voltou a meter-se com Missirá...(LG)
Estórias cabralianas > A Minha Mobilização. Trauma?
por Jorge Cabral
Calma, simpática, acolhedora, a Vila de Vendas Novas. Bom vinho, petiscos, raparigas bonitas. Que mais podia aspirar o Aspirante? No Quartel fazia tudo, isto é, nada. Acumulara cargos, Justiça, Acção Psicológica, Revista, Cinema e ainda os discursos da Peluda.
Cumpria gostosamente um peculiar horário. Após o toque de alvorada, às vezes de ressaca, de cara por lavar e barba por fazer, corria para a Formatura Geral, onde... passava revista ao Pelotão. Meia hora depois, abancava no Bar e tomava um lauto pequeno almoço, antes de regressar à cama.
Por volta do meio dia, vestia-se com a farda de passeio e comparecia ao obrigatório almoço. Finalizado este, já elas o esperavam no Café. Conversa, Poesia, Estórias e um pouco de loucura animavam as tardes, até ao toque de ordem. Regressado ao Quartel, desfardava-se e com os amigos, partia com destino às jantaradas, Montemor-o-Novo, Évora, Setúbal...
De volta ainda havia lugar para a lerpa, onde alinhavam também alguns jovens tenentes. Perdia sempre (era o galo dos Cabrais, segundo se dizia...).
Pois foi numa dessas noites. Eram três da manhã. A sala fumarenta, as garrafas vazias. Eis que chega o Capitão, Oficial de Dia, com um papel na mão. Vem divertido, e dirige-se ao Cabral:
– Calcule que em Leiria no RAL 4 (** já pensavam que tinha desertado (O Aspirante pertencia aquela unidade onde nunca fora, pois se encontrava em diligência na EPA) (**).
- ...
-Olhe, foi mobilizado em rendição individual para a Guiné.
Continuaram a jogatana. Beberam mais um copo e o Aspirante ainda brincou:
- Porra que não é só no jogo, o galo dos Cabrais!.
No outro dia já elas sabiam. Foi apaparicado e mimado. Tanto que acabou na cama com uma e na noite seguinte com outra e ainda havia uma terceira mas teve de entrar de licença.
Trauma da Mobilização?
Tem pensado nisso. Já tentou várias vezes “ser de novo mobilizado” para informar umas damas. E nada...
Jorge Cabral
___________
Nota de L.G.:
(*) Vd. último poste da série:
31 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4114: Estórias cabralianas (46): Inspecção Militar: E todos os tinham no sítio... (Jorge Cabral)
(...) Pois, também eu naquela manhã de Junho me dirigi à Avenida de Berna, ao Quartel do Trem Auto, onde hoje funciona a [Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da] Universidade Nova [de Lisboa].
Éramos mais de cem, altos e baixos, loiros e morenos, alguns mancos, pitosgas muitos, um quase corcunda, três gagos e dois tontos. Mandaram-nos despir e pôr em fila, numa literal e verdadeira bicha de pirilau. (...)
(**) Abreviaturas
RAL = Regimento de Artilharia Ligeira
EPA = Escola Prática de Artilharia
Não cometo uma inconfidência - imprescindível para se compreender o título e a moral da história - ao dizer que o Cabral é um homem de linhagem ilustre... e que o progenitor , ao que sei, era militar... de carreira. E a verdade é que, quem sai aos seus, não degenera...
Posso garantir que nunca o vi, nas terras de Badora e do Cuor, cantar de galo... Mas que sempre prezou a sua linhagem, isso é indesmentível e eu sou testemunha: costumava garantir, a quem o queria ouvir, que "na Guiné, Cabral só havia um, o de Missirá e mais nenhum"...
Fanfarronice ou não, a coisa deve ter chegado aos ouvidos do Corca Só, o chefe da 'barraca' de Madina / Belel, que nunca mais voltou a meter-se com Missirá...(LG)
Estórias cabralianas > A Minha Mobilização. Trauma?
por Jorge Cabral
Calma, simpática, acolhedora, a Vila de Vendas Novas. Bom vinho, petiscos, raparigas bonitas. Que mais podia aspirar o Aspirante? No Quartel fazia tudo, isto é, nada. Acumulara cargos, Justiça, Acção Psicológica, Revista, Cinema e ainda os discursos da Peluda.
Cumpria gostosamente um peculiar horário. Após o toque de alvorada, às vezes de ressaca, de cara por lavar e barba por fazer, corria para a Formatura Geral, onde... passava revista ao Pelotão. Meia hora depois, abancava no Bar e tomava um lauto pequeno almoço, antes de regressar à cama.
Por volta do meio dia, vestia-se com a farda de passeio e comparecia ao obrigatório almoço. Finalizado este, já elas o esperavam no Café. Conversa, Poesia, Estórias e um pouco de loucura animavam as tardes, até ao toque de ordem. Regressado ao Quartel, desfardava-se e com os amigos, partia com destino às jantaradas, Montemor-o-Novo, Évora, Setúbal...
De volta ainda havia lugar para a lerpa, onde alinhavam também alguns jovens tenentes. Perdia sempre (era o galo dos Cabrais, segundo se dizia...).
Pois foi numa dessas noites. Eram três da manhã. A sala fumarenta, as garrafas vazias. Eis que chega o Capitão, Oficial de Dia, com um papel na mão. Vem divertido, e dirige-se ao Cabral:
– Calcule que em Leiria no RAL 4 (** já pensavam que tinha desertado (O Aspirante pertencia aquela unidade onde nunca fora, pois se encontrava em diligência na EPA) (**).
- ...
-Olhe, foi mobilizado em rendição individual para a Guiné.
Continuaram a jogatana. Beberam mais um copo e o Aspirante ainda brincou:
- Porra que não é só no jogo, o galo dos Cabrais!.
No outro dia já elas sabiam. Foi apaparicado e mimado. Tanto que acabou na cama com uma e na noite seguinte com outra e ainda havia uma terceira mas teve de entrar de licença.
Trauma da Mobilização?
Tem pensado nisso. Já tentou várias vezes “ser de novo mobilizado” para informar umas damas. E nada...
Jorge Cabral
___________
Nota de L.G.:
(*) Vd. último poste da série:
31 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4114: Estórias cabralianas (46): Inspecção Militar: E todos os tinham no sítio... (Jorge Cabral)
(...) Pois, também eu naquela manhã de Junho me dirigi à Avenida de Berna, ao Quartel do Trem Auto, onde hoje funciona a [Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da] Universidade Nova [de Lisboa].
Éramos mais de cem, altos e baixos, loiros e morenos, alguns mancos, pitosgas muitos, um quase corcunda, três gagos e dois tontos. Mandaram-nos despir e pôr em fila, numa literal e verdadeira bicha de pirilau. (...)
(**) Abreviaturas
RAL = Regimento de Artilharia Ligeira
EPA = Escola Prática de Artilharia
Guiné 63/74 - P4128: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (8): Uma opinião de um leitor atento do nosso Blogue (João Miguel Almeida)
1. Mensagem de João Miguel Almeida, um nosso atento leitor, com data de 2 de Abril de 2009:
Exmo. Sr. Luís Graça,
No que respeita ao assunto Sr. General Almeida Bruno penso que os bloguistas se estão, talvez, a precipitar um pouco. Já dei voltas e voltas na internet, tentando encontrar o vídeo, mas o mesmo ainda não se encontra disponível on-line. E penso que tão cedo não estará.
Efectivamente as palavras da polémica foram ditas, mas se forem analizadas no contexto em que foram proferidas, o Sr. General está do lado dos operacionais, de alferes para baixo, e critica alguma da chefia, de Capitão para cima.
Tenho quase a certeza de que foi isto, mais ou menos, que vi e ouvi:
... devido a alguma chefia inútil, que conseguiu transformar as tropas em bandos aquartelados dentro do arame farpado ...
... e com a chegada do Sr. General Spinola toda essa chefia inútil foi recambiada para a metropole ...
... alguma dessa chefia inútil, logo na chegada do Sr. General Spinola, no dia seguinte já estavam na metropole ...
Tenho quase a certeza que foi isto que foi dito. Atenção que posso estar enganado, mas penso que não. Deus queira que esteja certo para o bem de todos. Apesar de ser muito novo, 41 anos, também tinha e ainda tenho, por enquanto, o Sr. General em muito boa conta.
Para finalizar, note Sr. Luis Graça, que o Sr. Virgínio Briote, aquando do início desta polémica, publicou muito oportunamente um poste (P4102), acerca de uma operação efectuada pelo Sr. General, na altura Major, com o Sr. Amadu Djaló. Eu penso que o Sr. Virgínio quis demonstrar que o Sr. Almeida Bruno não era de se ficar pelo ar condicionado. E ao publicar o poste, na altura em que o publicou, também deveria ter as mesmas dúvidas que eu. Tentou amenizar a coisa.
Nota:
Uma mentira dita repetidamente torna-se em verdade e depois já é tarde... não tem reparo. Vamos esperar que o vídeo fique on-line.
A RTP, tem disponível on-line alguns vídeos anteriores, este ainda não tem. Poderiam talvez fazer um apelo aos bloguistas, e alguém com conhecimentos na RTP conseguisse o vídeo.
Atentamente,
João Miguel Almeida
2. Comentário de CV:
Caros camaradas, aqui está uma opinião sensata e desapaixonada de quem viu o programa e se foi apercebendo da nossa reacção.
Temos publicado tudo o que nos chega dos camaradas tertulianos que se sentiram ofendidos com as palavras do Gen Almeida Bruno, porque é essa a nossa obrigação. Não fazemos qualquer tipo de censura, poderíamos antes pedir algum cometimento se entrássemos na ofensa grosseira. Mas atrevo-me a perguntar, quantos dos camaradas que emitiram as suas opiniões e desabafos ouviram directamente o Gen Almeida Bruno? Confesso que não ouvi, porque estava a gravar o programa, aproveitando a ocasião para trabalhar para o Blogue. E se alguém se propusesse a ouvir de novo e com calma as polémicas frases, tirando as respectivas ilações, apresentando-as depois?
Confesso que tenho as gravações guardadas de forma desordenada em vários DVDs e só depois de editar todo os episódios e localizar as imagens, é que teria hipótese de ouvir melhor as palavras do Gen Almeida Bruno. Este mês não antevejo tempo para isso, porque como sabem vou ficar mais desamcopanhado na edição do nosso Blogue.
À vossa consideração
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 2 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P4126: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (7): Os Bravos da Tropa Macaca (Eduardo Magalhães Ribeiro)
Exmo. Sr. Luís Graça,
No que respeita ao assunto Sr. General Almeida Bruno penso que os bloguistas se estão, talvez, a precipitar um pouco. Já dei voltas e voltas na internet, tentando encontrar o vídeo, mas o mesmo ainda não se encontra disponível on-line. E penso que tão cedo não estará.
Efectivamente as palavras da polémica foram ditas, mas se forem analizadas no contexto em que foram proferidas, o Sr. General está do lado dos operacionais, de alferes para baixo, e critica alguma da chefia, de Capitão para cima.
Tenho quase a certeza de que foi isto, mais ou menos, que vi e ouvi:
... devido a alguma chefia inútil, que conseguiu transformar as tropas em bandos aquartelados dentro do arame farpado ...
... e com a chegada do Sr. General Spinola toda essa chefia inútil foi recambiada para a metropole ...
... alguma dessa chefia inútil, logo na chegada do Sr. General Spinola, no dia seguinte já estavam na metropole ...
Tenho quase a certeza que foi isto que foi dito. Atenção que posso estar enganado, mas penso que não. Deus queira que esteja certo para o bem de todos. Apesar de ser muito novo, 41 anos, também tinha e ainda tenho, por enquanto, o Sr. General em muito boa conta.
Para finalizar, note Sr. Luis Graça, que o Sr. Virgínio Briote, aquando do início desta polémica, publicou muito oportunamente um poste (P4102), acerca de uma operação efectuada pelo Sr. General, na altura Major, com o Sr. Amadu Djaló. Eu penso que o Sr. Virgínio quis demonstrar que o Sr. Almeida Bruno não era de se ficar pelo ar condicionado. E ao publicar o poste, na altura em que o publicou, também deveria ter as mesmas dúvidas que eu. Tentou amenizar a coisa.
Nota:
Uma mentira dita repetidamente torna-se em verdade e depois já é tarde... não tem reparo. Vamos esperar que o vídeo fique on-line.
A RTP, tem disponível on-line alguns vídeos anteriores, este ainda não tem. Poderiam talvez fazer um apelo aos bloguistas, e alguém com conhecimentos na RTP conseguisse o vídeo.
Atentamente,
João Miguel Almeida
2. Comentário de CV:
Caros camaradas, aqui está uma opinião sensata e desapaixonada de quem viu o programa e se foi apercebendo da nossa reacção.
Temos publicado tudo o que nos chega dos camaradas tertulianos que se sentiram ofendidos com as palavras do Gen Almeida Bruno, porque é essa a nossa obrigação. Não fazemos qualquer tipo de censura, poderíamos antes pedir algum cometimento se entrássemos na ofensa grosseira. Mas atrevo-me a perguntar, quantos dos camaradas que emitiram as suas opiniões e desabafos ouviram directamente o Gen Almeida Bruno? Confesso que não ouvi, porque estava a gravar o programa, aproveitando a ocasião para trabalhar para o Blogue. E se alguém se propusesse a ouvir de novo e com calma as polémicas frases, tirando as respectivas ilações, apresentando-as depois?
Confesso que tenho as gravações guardadas de forma desordenada em vários DVDs e só depois de editar todo os episódios e localizar as imagens, é que teria hipótese de ouvir melhor as palavras do Gen Almeida Bruno. Este mês não antevejo tempo para isso, porque como sabem vou ficar mais desamcopanhado na edição do nosso Blogue.
À vossa consideração
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 2 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P4126: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (7): Os Bravos da Tropa Macaca (Eduardo Magalhães Ribeiro)
Guiné 63/74 - P4127: O mundo é pequeno e a nossa Tabanca... é grande (1): 4 anos, um milhão de páginas visitadas... (Luís Graça / Carlos Vinhal)
Lisboa > 22 de Março de 2009 > Cais de Alcântara, visto da Ponte 25 de Abril... > Foi durante a guerra colonial, o nosso cais de partida ...
Foto: © Luís Graça (2009). Direitos reservados
1. Texto do editor L.G.:
Como já transmiti pelo correio interno da Tabanca Grande, vou triar umas férias sabáticas do nosso blogue, como editor principal, justamente no mês em que (i) fazemos 4 anos; e (ii) vamos atingir o milhão de páginas visitadas...
O Carlos Vinhal, co-editor, desde há 2 anos, aceitou, com estoicismo, galhardia, valentia, patriotismo, sangue frio, determinação, companheirismo e sentido do dever a tarefa de me substituir como editor-mor... Ou não fosse ele um homem das Minas & Armadilhas... e do Norte!!! Estarei por perto, mas menos envolvido.
O Virgínio Briote, por sua vez, está com outra tarefa em mãos, a edição das memórias do nosso camarada guineense que foi dos Velhos Comandos (Brá, 1965/66)e depois dos Comandos Africanos (1970/72) e da CCAÇ 21 (1973/74), o Amadu Djaló, um homem que atravessou, quase incólume, toda a guerra, de 1963 a 1974, e conheceu também o antes (1958/62) e o depois (1975/80)... Português da Guiné, é português de 2ª em Portugal... Temos a obrigação de lhe prestar homenagem e chamar a atenção par o seu caso, doloroso, que é também o de muitos outros antigos combatentes guineenses que estiveram ao nosso lado, escolheram estar ao nosso lado, sofreram ao nosso lado, transportaram às costas os nossos mortos e feridos, guardaram as nossas costas, deram o melhor da sua juventude... e a quem fomos ingratos.
Tudo para explicar que o nosso VB está menos disponível para as tarefas bloguísticas. Razão também por que ando, desde há tempos, à procura de um quarto editor. O blogue cresceu muito, a Tabanca é já um batalhão...
Como já dizemos, entre nós, na brincadeira, e sem qualquer ponta de vaidade, o mundo é pequeno e o nosso blogue é grande... Há solicitações de todo o lado, para as quais já não temos capacidade de resposta: escolas, turistas, cooperantes, investigadores, iniciativas da sociedade civil, pedidos de informação e apoio(e cada vez mais da Guiné-Bissau!)...
Ainda há dias fui contactado - em português ! - por um por tenente coronel piloto aviador da Força Aérea Norte-Americana (USAF) que queria o contacto do nosso Coronel 'strelado' Miguel Pessoa, por que está fazer um trabalho de investigação, académico - imaginem! - sobre a história da guerra dos céus na 'nossa' Guiné (1963/74) (*)...
Por outro lado, acaba de ser aprovado o relatório de actividades de 2008, da AD- Acção para o Desenvolvimento, a ONG guineense que elegemos como parceiro privilegiado para acções de solidariedade, cooperação e salvaguarda da memória da guerra, e que faz na Guiné, em vários pontos do território, o trabalho, dedicado, competente, entusiástico, em prol do desenvolvimento sustentado e integrado das populações que infelizmente a administração pública guineense ainda não faz ou ainda não pode fazer (Lá chegaremos, que a gente acredita no futuro da Guiné-Bissau!)...
Pois, pela terceira vez consecutiva, os nossos amigoss da AD fazem-nos um voto de louvor, ao nosso blogue, que eu agradeço em nome de todos nós. (Haveremos de falar com mais detalhe desse relatório, que já disponível em linha, em pdf, no sítio da AD).
Para o 4º co-editor, estou a fazer sondagens mas também aceito sugestões... Por outro lado, vou pedir ao Carlos Vinhal que pense no nosso IV Encontro Nacional da Nosssa Tabanca Grande... A malta, sondada, inclinou-se para Junho ou Outubro... E é importantre receber sugestões sobre o local: Região Centro, equidistante do Norte e do Sul ? Novamente em Monte Real, como no ano passado ? Vamos ter que discutir isto e arranjar uma pequena equipa organizadora... Voluntários, precisam-se.
Temos novos camaradas para conhecer: somos já 315 ou coisa parecida... Temos algumas decisões importantes para tomar, em relação ao futuro, e que passam por um maior grau de formalização e estruturação da nossa Tabanca Grande... Termos que nos proteger (por exemplo,em termos de propriedade intelectual...). Temos que arranjar dinheiro. Temos que mudar de instalações. Temos livros e outras iniciativas para lançar... Queremos ser mais solidários, etc., etc. E sobretudo queremos estar juntos, de vez em quando, beber um copo, conhecermo-nos melhor, pessoalmente, etc.
Contamos com a vossa amizade, compreensão e camaradagem.
Assinado: Luís Graça (mas seguramente com o apoio tácito, dos meus camaradas de equipa, Carlos Vinhal e Virgínio Briote)
2. Do nosso camarada Vasco da Gama, um Tigre de Cumbijã, que participou na Conferência Internacional sobre a Poesia da Guerra Colonial, em Coimbra, no passado dia 30 de Março, juntamente com o nosso poeta Josema, o Zé Manel Lopes, da Régua (e de Mampatá):
(...) Vocês não imaginam...O Blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné é do conhecimento de quase todos os professores presentes no colóquio a que assisti com o meu querido Josema na Universidade de Coimbra.
Estava também uma doutoranda do Porto que está a fazer uma tese sobre a situação dos militares oriundos da Guiné que combateram ao nosso lado e que diz ser visita diária da nossa Tabanca. Quando me sentir melhor escreverei sobre a reunião. (...)
Cuida da tua saúde, Vasco!... Por mor dela, estás dispensado da viagem e do almoço em Matosinhos, no Milho Rei, 4ª feira, dia 8! Eu, estarei, em princípio, para dar um abraço à malta da Tabanca de Matosinhos. L.G.
3. Do nosso camarado Beja Santos, recebemos a seguinte missiva:
Luis, Querido Amigo, Sei o que é isso de mergulhar num tsunami de silêncio sepulcral. Eu cá estou na minha gostosa prisão literária, ando a escrever sobre o consumo sustentável e a «Mindjer Garandi», mesmo sujeita aos tropeções da vida profissional, prossegue, e vou enviar-te o que já está escrito. Como se fala da Guiné dos anos 50 e 60, se lá encontrares prosa sugestiva que queiras publicar em 1ª mão no blogue, escolhe umas páginas.
Partilho das tuas preocupações quanto ao futuro e sustentabilidade do blogue, mas para isso tens de criar condições para um debate interno sem inibições. Um grande abraço e votos de bom trabalho, Mário
4. Por sua vez, o editor principal em funções este mês acaba de mandar um pedido à Tabanca Grande, juntamente com a lista, actualizada, de nomes, endereços e contactos:
Caros Camaradas Tertulianos
Estamos a proceder à actualização dos dados pessoais dos atabancados. Quem ainda não nos disse qual era o seu antigo posto militar, Especialidade, a sua Unidade, locais por onde andou, e muito mais grave, quem ainda não nos enviou as fotos da praxe, fica intimado desde já a fazê-lo o mais breve possível.
Facultativamente poderão dizer-nos a localidade onde moram e o número de telefone de contacto, que poderá ou não de acordo com o indicado, fazer parte da lista fornecida à tertúlia.
Já agora digam-nos a vossa data de nascimento, isto é verdade também para os que já cá têm os seus dados militares e repectivas fotos.
Quando alterarem o vosso endereço de email ou se preferirem que utilizemos outro para vosso contacto, avisem-nos, indicando os alternativos.
Há camaradas cujos endereços rejeitam as mensagens. Desconhecemos os motivos, mas não será por se terem zangado connosco.
Ajudem-nos a servi-los melhor.
Fico a aguardar as vossas respostas.
Como entraram alguns camaradas recentemente para a tabanca, envio-vos nova listagem com a indicação das alterações. Podem completá-la/corrigi-la e devolvê-la à procedência.
Obrigado pela vossa colaboração.
Vosso camarada ao dispor
Carlos Vinhal
__________
Nota dos editores:
(*) Reprodução do mail (que foi reencaminhado para o Miguel Pessoa, Cor Pilav Ref:
Exmo. Senhor Luís Graça, Chamo-me Matthew Hurley e sou Ten Cor na USAF. Estou neste momento a fazer uma dissertação em história sobre a guerra aérea na Guiné no período de 1963-1974.
Sobre um post a respeito de uma comunicação de Miguel Pessoa será que me podia facultar o e-mail dele de forma a eu pedir autorização ao visado para reproduzir as suas declarações na minha tese? Ou então será que podia dirigir o meu pedido ao próprio?
Obrigado por tudo fico a aguardar uma resposta.
Lt Col Matt 'Liz' Hurley, USAF
"Those whom the gods would destroy, they first make proud"
O nosso Miguel respondeu-lhe logo de seguida:
Caro Matt:
Recebi através do blogmaster Luís Graça o seu pedido para reproduzir os textos que publiquei em www.blogforanadaevaotres.blogspot.com .
Não vejo qualquer inconveniente em que o faça, apenas lhe peço que mencione o local de onde retirou o texto. Suponho que terá solicitado o apoio de alguém para traduzir o seu pedido para a língua portuguesa. Se pretender contactar-me no futuro, "feel free to do it in american english", ou continue em português, se for do seu agrado.
Best regards
Miguel Pessoa
Guiné 63/74 - P4126: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (7): Os Bravos da Tropa Macaca (Eduardo Magalhães Ribeiro)
1. Mensagem de Eduardo Magalhães Ribeiro, ex-Fur Mil de Operações Especiais, CCS do BCAÇ 4612/74, Cumuré, Mansoa e Brá (1974), com data de 30 de Março de 2009:
Boa noite Amigos,
Quero a presentar-vos as minhas desculpas por 2 erros:
- enviei-vos inadvertidamente o mail anterior "Para:", e,
- o texto foi muito incompleto faltando-lhe os útlimos parágrafos, o que completo agora.
Obrigado a todos com um abraço amigo do M.R.
Os Bravos da Tropa Macaca
Além do que o Jorge Canhão muito bem descreveu no post: Guiné 63/74 - P4089: Bandos... A frase, no mínino infeliz, de um general (1): O nosso direito à indignação (Luís Graça / Mário Pinto / Jorge Canhão), há coisas que eu jamais esqueci e que acho conveniente contar agora, enquanto não me esqueço, fundamentalmente para elucidar as pessoas que se interessam, ou possam a qualquer momento vir a interessar, sobre aquilo que foi designado como S.M.O. (Serviço Militar Obrigatório), especialmente no período 1973/1974 de que eu sou testemunha viva, sem derrapagens nem distorções de qualquer tipo, confinado à lealdade e verdade dos factos.
Falo por experiência própria e prática do dia a dia, com a memória bem fresca, como se tivesse sido ontem, pois tendo pertencido a uma tropa de elite; Operações Especiais/RANGER, apenas convivi 100% com especiais durante 3 meses, tendo prestado o restante tempo com a tropa normal, designava pelo pessoal, na gíria dos quartéis, como tropa macaca ou fandanga.
Todos nós sabíamos que salvo raríssimas excepções (não interessa aqui os motivos destas excepções), mais mês menos mês, íamos parar ao Ultramar, com maior ou menor dose de sorte e, em consequência, com maior ou menor intervenção operacional nas 3 frentes de guerra.
Uma coisa eu sabia quando me apresentei no R.I.5 para a recruta, é que quem queria sentir-se minimamente preparado para a guerra, tinha que passar pelas tropas especiais, entre elas os RANGERS, pelo que achei melhor voluntariar-me para o C.I.O.E. e, após as provas da praxe, segui para Lamego.
Meus amigos, digo-vos que apesar da extrema dureza, psíquica e física, que a especialidade RANGER continha, a alimentação (salvo durante as chamadas provas de resistência à fome) era do mais alto nível, fazendo inveja aos melhores restaurantes do país. Mais vos digo que no C.I.O.E. quer o Comandante de Instrução, quer os instrutores, quer os instruendos e cadetes comiam no mesmo refeitório da mesma comida.
As munições de todos os calibres eram ao desbarato, e só para terem uma ideia (se bem me recordo), dizia-se em Penude (quartel de instrução), que cada RANGER só em munições custava, em 1973, ao Estado português cerca de 130 contos (moeda antiga).
Assim, pessimamente habituado após concluir a especialidade, fui destacado como 1º Cabo Miliciano para o R.I.16 onde fui mobilizado para a Guiné, tendo recebido guia de marcha para Tomar - RI15 -, e foi nesta unidade que começou a minha constatação/visão/assimilação/choque pessoal da realidade, que era a vida na generalidade dos quartéis.
Fui chamado para prestar instrução na 1ª C.ia de Instrução - 3º pelotão -, cujo alferes Alcides sofreu, logo nos primeiros dias, um esgotamento cerebral, ficando a instrução à responsabilidade dos dois 1º Cabos Milicianos; eu e o Marinho - Atirador de infantaria.
As ordens que o capitão nos deu eram claras, treinar o pessoal o melhor possível e transmitir-lhes o espírito RANGER, essencialmente nas componentes vitais – preparação física e disciplina de técnica de combate.
Ora como eu estava bem preparado fisicamente comecei a exigir aos soldados grandes esforços, quer nas marchas forçadas, quer nos crosses, nas acções de simulação de técnica de combate, nas técnicas de defesa pessoal, etc.
A minha desconfiança de que algo não estava bem naquele pelotão, foi surgindo ao ouvir alguns lamentos dos soldados, que iam desabafando aqui a ali, que o rancho era mau e intragável e, pior ainda, quando comecei a constatar que mesmo os mais fortes mostravam evidentes sinais de fraqueza espelhados num anormal estado de cansaço, que aos poucos vinha aumentando os já de si degradados sentimentos de desalento e desmotivação.
Reparem bem que estou a falar do ano de 1973, ano este em que as notícias chegadas aos quartéis eram, mais ou menos palavra, assim: anteontem morreram 3 em combate na Guiné, ontem faleceram 2 em Moçambique, hoje 1 em Angola e só este mês já morreram ao todo 60 camaradas nossos no Ultramar.
A confirmação de que os rumores da incomestível qualidade do rancho, eram pura verdade tive-a uns dias depois, quando fui escalado para mais um serviço de sargento de dia à companhia.
Decorria o almoço dos praças, quando dei uma volta pelo refeitório e fui convidado pelo pessoal a juntar-me a eles, o que eu fiz como é lógico, tendo ficado revoltado, angustiado e agoniado.
Se até aqui já os cenários eram pouco tranquilizantes, mais grave a coisa se tornou quando passada uma semana fomos dar tiro. Uma boa parte dos soldados começou logo por dizer que na recruta apenas haviam dado 10 (dez estão a ler bem) tiros e outros um carregador (20 tiros).
As instruções que tínhamos era que cada soldado podia disparar 1 carregador e os que demonstrassem menor aptidão mais um carregador adicional, para melhorarem a pontaria.
Um dado adquirido, como mais tarde vim a confirmar alarmado, era que a quase totalidade daqueles homens estava destinada ao Batalhão 4612/74, que estava mobilizado para a Guiné.
Agora quero registar aqui, pelo que acabei de descrever e pelo que já foi dito pelo Jorge Canhão, um ex- Combatente que eu muito estimo e admiro por várias razões, valha o que valer este meu depoimento, os maiores elogios à sacrificada desgraçada tropa normal, macaca ou fandanga, que após receberem tais recrutas e especialidades seguiam para as frentes de guerra e cumpriam, como podiam e sabiam sabe Deus em que circunstâncias, cabalmente as suas missões.
A pergunta que se impõe é: - O que é que seria dos operacionais, sem os homens que na retaguarda lhes asseguravam o indispensável e permanente fornecimento de equipamentos de toda a ordem, alimentação, munições, combustíveis, etc.?
Propositadamente, não me vou referir a outra componente que muito influía no comportamento dos batalhões, companhias, pelotões, etc. que dia respeito aos modos irresponsáveis e incompetentes como muitos eram comandados, em alguns casos ridícula e incrivelmente, porque muita gente haverá que o faça melhor do que eu.
Por tudo isto, a minha opinião é que um tropa macaca ou fandanga na verdadeira acepção das palavras, é todo aquele que não se respeita a si próprio seja porque motivo for, e, ou, não respeita os outros proferindo adjectivação insultuosa, desclassificativa e, ou, pejorativa.
Assim, poderíamos perdoar a qualquer outra pessoa que tivesse proferido aquelas, no mínimo infelizes, palavras Sr. General Almeida Bruno, chamando-lhe simplesmente mal-intencionado, burro, néscio ou ignorante.
Mas não! Tais palavras que o Jorge Canhão nos descreveu textualmente, foram mesmo ditas tranquila e compassadamente pelo Sr. General.
Sr. General, eu e muitos de nós ex-Combatentes tínhamo-lo na nossa conta de brilhante militar, competente e amigo do soldado.
Não quero acreditar sinceramente que nos enganou a todos, os que o admirávamos durante estes últimos 35 anos que passaram sobre a conclusão da guerra, e como não acredito só lhe peço que nos diga, clara e francamente, o que se passa com o senhor!
É que as palavras que proferiu no programa televisivo denota, no mínimo, ou um já grande esquecimento e, ou, distorção/deturpação da realidade de então.
O Sr. não acha que já bastam os anti-patriotas, os traidores, os desertores e outras corjas afins, para hostilizarem e rebaixarem os ex-Combatentes?
Se o Sr. Marechal António Spínola fosse vivo, imagine como que é que ele reagiria ao ouvir o Sr. a chamar bandos aos seus homens - dos diversos batalhões e companhias, milícias, etc. -, que ele superiormente comandou?
Já reparou que com esta brincadeira que ficou gravada em filme, o que é mais grave, pois poderá passar sempre que as TV.s o entenderem, o Sr. ofendeu não só milhares de ex-Combatentes vivos, como a memória de inúmeros mortos em combate e inúmeros deficientes da guerra?
Sou Vice-Presidente da Delegação do Porto da Associação Portuguesa de Veteranos de Guerra (40.000 associados), Vice-Presidente da Assembleia Geral da Liga dos Amigos do Museu Militar do Porto e Membro dos Corpos Directivos da Associação de Operações Especiais (1500 associados), lidando por isso com centenas/milhares de ex-Combatentes de todas as especialidades, que contactam e conversam entre si com o maior respeito e admiração, convivem e trocam experiências e ideias nos diversos seminários e colóquios a que tenho assistido em diversos pontos do país, ao longo destes últimos 35 anos, e nunca ouvi nada sequer parecido com a blasfémia que o Sr. proferiu.
Até aqui falei sempre no presente do indicativo, o que o podia levar a pensar que: - É mais um gajo que me quer chatear, mas tenho que acrescentar, que mais umas boas dezenas de outros RANGERS e outros ex-Combatentes amigos, com quem eu conversei e, ou, me telefonaram, que se sentem ofendidos e indignados com as suas declarações.
Magalhães Ribeiro
Ex-Fur. Milº Op.Esp./RANGER
C.C.S. do B.Caç. 4612/74
Cumeré/Mansoa/Brá
(Título da responsabilidade do editor)
__________
Notas de CV:
Vd. último poste de Magalhães Ribeiro de 29 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4095: O trauma da notícia da mobilização (5): Quatro depoimentos (Magalhães Ribeiro)
Vd. último poste da série de 30 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4110: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (6): 'No melhor pano cai a nódoa' (Amílcar Mendes / Pereira da Costa)
Boa noite Amigos,
Quero a presentar-vos as minhas desculpas por 2 erros:
- enviei-vos inadvertidamente o mail anterior "Para:", e,
- o texto foi muito incompleto faltando-lhe os útlimos parágrafos, o que completo agora.
Obrigado a todos com um abraço amigo do M.R.
Os Bravos da Tropa Macaca
Além do que o Jorge Canhão muito bem descreveu no post: Guiné 63/74 - P4089: Bandos... A frase, no mínino infeliz, de um general (1): O nosso direito à indignação (Luís Graça / Mário Pinto / Jorge Canhão), há coisas que eu jamais esqueci e que acho conveniente contar agora, enquanto não me esqueço, fundamentalmente para elucidar as pessoas que se interessam, ou possam a qualquer momento vir a interessar, sobre aquilo que foi designado como S.M.O. (Serviço Militar Obrigatório), especialmente no período 1973/1974 de que eu sou testemunha viva, sem derrapagens nem distorções de qualquer tipo, confinado à lealdade e verdade dos factos.
Falo por experiência própria e prática do dia a dia, com a memória bem fresca, como se tivesse sido ontem, pois tendo pertencido a uma tropa de elite; Operações Especiais/RANGER, apenas convivi 100% com especiais durante 3 meses, tendo prestado o restante tempo com a tropa normal, designava pelo pessoal, na gíria dos quartéis, como tropa macaca ou fandanga.
Todos nós sabíamos que salvo raríssimas excepções (não interessa aqui os motivos destas excepções), mais mês menos mês, íamos parar ao Ultramar, com maior ou menor dose de sorte e, em consequência, com maior ou menor intervenção operacional nas 3 frentes de guerra.
Uma coisa eu sabia quando me apresentei no R.I.5 para a recruta, é que quem queria sentir-se minimamente preparado para a guerra, tinha que passar pelas tropas especiais, entre elas os RANGERS, pelo que achei melhor voluntariar-me para o C.I.O.E. e, após as provas da praxe, segui para Lamego.
Meus amigos, digo-vos que apesar da extrema dureza, psíquica e física, que a especialidade RANGER continha, a alimentação (salvo durante as chamadas provas de resistência à fome) era do mais alto nível, fazendo inveja aos melhores restaurantes do país. Mais vos digo que no C.I.O.E. quer o Comandante de Instrução, quer os instrutores, quer os instruendos e cadetes comiam no mesmo refeitório da mesma comida.
As munições de todos os calibres eram ao desbarato, e só para terem uma ideia (se bem me recordo), dizia-se em Penude (quartel de instrução), que cada RANGER só em munições custava, em 1973, ao Estado português cerca de 130 contos (moeda antiga).
Assim, pessimamente habituado após concluir a especialidade, fui destacado como 1º Cabo Miliciano para o R.I.16 onde fui mobilizado para a Guiné, tendo recebido guia de marcha para Tomar - RI15 -, e foi nesta unidade que começou a minha constatação/visão/assimilação/choque pessoal da realidade, que era a vida na generalidade dos quartéis.
Fui chamado para prestar instrução na 1ª C.ia de Instrução - 3º pelotão -, cujo alferes Alcides sofreu, logo nos primeiros dias, um esgotamento cerebral, ficando a instrução à responsabilidade dos dois 1º Cabos Milicianos; eu e o Marinho - Atirador de infantaria.
As ordens que o capitão nos deu eram claras, treinar o pessoal o melhor possível e transmitir-lhes o espírito RANGER, essencialmente nas componentes vitais – preparação física e disciplina de técnica de combate.
Ora como eu estava bem preparado fisicamente comecei a exigir aos soldados grandes esforços, quer nas marchas forçadas, quer nos crosses, nas acções de simulação de técnica de combate, nas técnicas de defesa pessoal, etc.
A minha desconfiança de que algo não estava bem naquele pelotão, foi surgindo ao ouvir alguns lamentos dos soldados, que iam desabafando aqui a ali, que o rancho era mau e intragável e, pior ainda, quando comecei a constatar que mesmo os mais fortes mostravam evidentes sinais de fraqueza espelhados num anormal estado de cansaço, que aos poucos vinha aumentando os já de si degradados sentimentos de desalento e desmotivação.
Reparem bem que estou a falar do ano de 1973, ano este em que as notícias chegadas aos quartéis eram, mais ou menos palavra, assim: anteontem morreram 3 em combate na Guiné, ontem faleceram 2 em Moçambique, hoje 1 em Angola e só este mês já morreram ao todo 60 camaradas nossos no Ultramar.
A confirmação de que os rumores da incomestível qualidade do rancho, eram pura verdade tive-a uns dias depois, quando fui escalado para mais um serviço de sargento de dia à companhia.
Decorria o almoço dos praças, quando dei uma volta pelo refeitório e fui convidado pelo pessoal a juntar-me a eles, o que eu fiz como é lógico, tendo ficado revoltado, angustiado e agoniado.
Se até aqui já os cenários eram pouco tranquilizantes, mais grave a coisa se tornou quando passada uma semana fomos dar tiro. Uma boa parte dos soldados começou logo por dizer que na recruta apenas haviam dado 10 (dez estão a ler bem) tiros e outros um carregador (20 tiros).
As instruções que tínhamos era que cada soldado podia disparar 1 carregador e os que demonstrassem menor aptidão mais um carregador adicional, para melhorarem a pontaria.
Um dado adquirido, como mais tarde vim a confirmar alarmado, era que a quase totalidade daqueles homens estava destinada ao Batalhão 4612/74, que estava mobilizado para a Guiné.
Agora quero registar aqui, pelo que acabei de descrever e pelo que já foi dito pelo Jorge Canhão, um ex- Combatente que eu muito estimo e admiro por várias razões, valha o que valer este meu depoimento, os maiores elogios à sacrificada desgraçada tropa normal, macaca ou fandanga, que após receberem tais recrutas e especialidades seguiam para as frentes de guerra e cumpriam, como podiam e sabiam sabe Deus em que circunstâncias, cabalmente as suas missões.
A pergunta que se impõe é: - O que é que seria dos operacionais, sem os homens que na retaguarda lhes asseguravam o indispensável e permanente fornecimento de equipamentos de toda a ordem, alimentação, munições, combustíveis, etc.?
Propositadamente, não me vou referir a outra componente que muito influía no comportamento dos batalhões, companhias, pelotões, etc. que dia respeito aos modos irresponsáveis e incompetentes como muitos eram comandados, em alguns casos ridícula e incrivelmente, porque muita gente haverá que o faça melhor do que eu.
Por tudo isto, a minha opinião é que um tropa macaca ou fandanga na verdadeira acepção das palavras, é todo aquele que não se respeita a si próprio seja porque motivo for, e, ou, não respeita os outros proferindo adjectivação insultuosa, desclassificativa e, ou, pejorativa.
Assim, poderíamos perdoar a qualquer outra pessoa que tivesse proferido aquelas, no mínimo infelizes, palavras Sr. General Almeida Bruno, chamando-lhe simplesmente mal-intencionado, burro, néscio ou ignorante.
Mas não! Tais palavras que o Jorge Canhão nos descreveu textualmente, foram mesmo ditas tranquila e compassadamente pelo Sr. General.
Sr. General, eu e muitos de nós ex-Combatentes tínhamo-lo na nossa conta de brilhante militar, competente e amigo do soldado.
Não quero acreditar sinceramente que nos enganou a todos, os que o admirávamos durante estes últimos 35 anos que passaram sobre a conclusão da guerra, e como não acredito só lhe peço que nos diga, clara e francamente, o que se passa com o senhor!
É que as palavras que proferiu no programa televisivo denota, no mínimo, ou um já grande esquecimento e, ou, distorção/deturpação da realidade de então.
O Sr. não acha que já bastam os anti-patriotas, os traidores, os desertores e outras corjas afins, para hostilizarem e rebaixarem os ex-Combatentes?
Se o Sr. Marechal António Spínola fosse vivo, imagine como que é que ele reagiria ao ouvir o Sr. a chamar bandos aos seus homens - dos diversos batalhões e companhias, milícias, etc. -, que ele superiormente comandou?
Já reparou que com esta brincadeira que ficou gravada em filme, o que é mais grave, pois poderá passar sempre que as TV.s o entenderem, o Sr. ofendeu não só milhares de ex-Combatentes vivos, como a memória de inúmeros mortos em combate e inúmeros deficientes da guerra?
Sou Vice-Presidente da Delegação do Porto da Associação Portuguesa de Veteranos de Guerra (40.000 associados), Vice-Presidente da Assembleia Geral da Liga dos Amigos do Museu Militar do Porto e Membro dos Corpos Directivos da Associação de Operações Especiais (1500 associados), lidando por isso com centenas/milhares de ex-Combatentes de todas as especialidades, que contactam e conversam entre si com o maior respeito e admiração, convivem e trocam experiências e ideias nos diversos seminários e colóquios a que tenho assistido em diversos pontos do país, ao longo destes últimos 35 anos, e nunca ouvi nada sequer parecido com a blasfémia que o Sr. proferiu.
Até aqui falei sempre no presente do indicativo, o que o podia levar a pensar que: - É mais um gajo que me quer chatear, mas tenho que acrescentar, que mais umas boas dezenas de outros RANGERS e outros ex-Combatentes amigos, com quem eu conversei e, ou, me telefonaram, que se sentem ofendidos e indignados com as suas declarações.
Magalhães Ribeiro
Ex-Fur. Milº Op.Esp./RANGER
C.C.S. do B.Caç. 4612/74
Cumeré/Mansoa/Brá
(Título da responsabilidade do editor)
__________
Notas de CV:
Vd. último poste de Magalhães Ribeiro de 29 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4095: O trauma da notícia da mobilização (5): Quatro depoimentos (Magalhães Ribeiro)
Vd. último poste da série de 30 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4110: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (6): 'No melhor pano cai a nódoa' (Amílcar Mendes / Pereira da Costa)
Guiné 63/74 - P4125: O trauma da notícia da mobilização (7): Não se pode mudar o destino (Pedro Neves)
1. Mensagem de Pedro Neves, ex-Fur Mil Op Esp da CCaç 4745/73 - Águias de Binta, Binta, 1973/74, com data de 30 de Março de 2009:
Camarada Luís Graça
Já refeito sobre as palavras do Sr. Gen. graças ao que despejei ontem no mail que enviei para a Nossa Tabanca Grande, aqui estou para contar como foi o meu percurso desde a inspecção, até à minha mobilização para a Guiné.
Não se pode mudar o destino
Fui aconselhado pelo meu padrinho (de baptismo), que era Oficial da nossa Marinha de Guerra, para quando fosse dar o nome para a tropa, não dizer quais eram as minhas habilitações literárias, porque depois ele tratava de manobrar as coisas, para ir para Paço de Arcos. Eu estava ligado ao ramo do Ar Condicionado e Refrigeração e era mais fácil, se fosse soldado ou cabo, a minha colocação e assim livrar-me do terror dos nossos tempos de jovens, que era a ida para a guerra. Mal sabia eu o que me esperava!!!
Apresentei-me no dia 9 de Outubro de 1972 no R.I.7, em Leiria, no Contingente Geral e aí iniciei a minha vida militar, com as primeiras fascinas, nunca me oferecendo para nada, seguindo os conselhos dos mais velhos e levando a minha vidinha descansada.
Passados cerca de 15 dias, durante a formatura, fomos informados que os nomes de fulano e Sicrano (e o meu também), se deveriam apresentar após o destroçar na secretaria do Comando. Lá fomos, eu e mais três camaradas, intrigados e com algum receio, sobre a convocatória e o que estaria por detrás da mesma.
Fomos recebidos por um Major, que de rajada nos disse, que era crime, punível com prisão militar, a omissão das habilitações literárias e que teríamos de declarar imediatamente as mesmas, sob pena de que se não correspondessem às verdadeiras, esperava-nos a prisão. Estão a ver este vosso camarada, a declarar tudo e mais alguma coisa, faltando apenas os nomes dos meus professores, desde a instrução primária. Era sexta-feira e nesse mesmo dia recebemos as Guias de Marcha para nos apresentarmos na segunda-feira no R.I.5, nas Caldas da Rainha.
Fomos recebidos pelo terror de todos os recrutas que nesse tempo passaram pelo R.I.5, o famoso Ten. Varela que nos dias em que estava de Oficial de Dia, durante a inspecção para a dispensa do recolher, entre dezenas que tinham nota nos testes, só saíam meia dúzia ou menos. Nos dias em que ele estava de Oficial de Dia, eu não pedia dispensa de recolher!
Adaptado à minha nova vida de Instruendo, os dias iam correndo, até que um dia fomos informados que os nomes afixados na secretaria da Companhia iriam prestar provas para o C.O.M. e Comandos. O meu estava lá!!!
Depois de algumas provas físicas, que um Capitão dos Comandos de óculos Ray-Ban e blusão de cabedal verde, do qual não me lembro o nome (Almeida Bruno?), nos ministrou, mandou-nos subir ao pórtico. Eu que não estava minimamente interessado em ir para os Comandos, nem para qualquer tipo de tropa especial, disse que não era capaz, porque tinha vertigens, mas obrigou- me a subir e eu fiquei sentado lá em cima, a dizer que não era capaz!
Mentira, porque era um dos meus exercícios favoritos. Mandou-me descer e chamou-me tudo o que lhe veio à cabeça, que me ia lixar, porque tinha cara de homem destemido e não queria ir para os Comandos.
Quando saíram as especialidades, o meu destino era o C.I.O.E., em Lamego e logo pensei no que o gajo disse e lixou-me mesmo.
Puro engano meu, porque apesar da dureza do Curso de Operações Especiais, hoje tenho o prazer e a honra de ter pertencido aos Rangers e uma vez Ranger, Ranger para sempre!
Depois de concluir o meu curso Ranger, fiquei em Penude, como instrutor do 1.º Grupo de Cadetes e hoje tenho o prazer de ter alguns no meu lote de amigos.
Soube que estava mobilizado para a Guiné quando tinha um caso de namorisco com uma natural de Lamego. Corria o boato que quem andasse com ela, e fosse mobilizado para a Guiné não sobreviveria, porque o 1.º namorado dela tinha morrido na Guiné e todos os outros teriam o mesmo destino. Aí, fiquei acagaçado, mas foram só os primeiros dias ou quando as coisas lá na Guiné não corriam pelo melhor, (não era dentro do arame) é que me lembrava do tal boato, mas nunca passou disso, porque regressei vivo para contar o que foi o tormento da nossa juventude em terras da Guiné, pela qual tenho uma paixão enorme.
Cumprimentos para toda a tabanca grande do
José Pedro Neves
Ex-Fur Mil Op Esp
CCaç 4745 Águias de Binta
(Título da responsabilidade do editor)
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 29 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4101: O trauma da notícia da mobilização (6): Trata de arranjar o caixão, disse-me o pobre do Zé... (Manuel Maia)
Camarada Luís Graça
Já refeito sobre as palavras do Sr. Gen. graças ao que despejei ontem no mail que enviei para a Nossa Tabanca Grande, aqui estou para contar como foi o meu percurso desde a inspecção, até à minha mobilização para a Guiné.
Não se pode mudar o destino
Fui aconselhado pelo meu padrinho (de baptismo), que era Oficial da nossa Marinha de Guerra, para quando fosse dar o nome para a tropa, não dizer quais eram as minhas habilitações literárias, porque depois ele tratava de manobrar as coisas, para ir para Paço de Arcos. Eu estava ligado ao ramo do Ar Condicionado e Refrigeração e era mais fácil, se fosse soldado ou cabo, a minha colocação e assim livrar-me do terror dos nossos tempos de jovens, que era a ida para a guerra. Mal sabia eu o que me esperava!!!
Apresentei-me no dia 9 de Outubro de 1972 no R.I.7, em Leiria, no Contingente Geral e aí iniciei a minha vida militar, com as primeiras fascinas, nunca me oferecendo para nada, seguindo os conselhos dos mais velhos e levando a minha vidinha descansada.
Passados cerca de 15 dias, durante a formatura, fomos informados que os nomes de fulano e Sicrano (e o meu também), se deveriam apresentar após o destroçar na secretaria do Comando. Lá fomos, eu e mais três camaradas, intrigados e com algum receio, sobre a convocatória e o que estaria por detrás da mesma.
Fomos recebidos por um Major, que de rajada nos disse, que era crime, punível com prisão militar, a omissão das habilitações literárias e que teríamos de declarar imediatamente as mesmas, sob pena de que se não correspondessem às verdadeiras, esperava-nos a prisão. Estão a ver este vosso camarada, a declarar tudo e mais alguma coisa, faltando apenas os nomes dos meus professores, desde a instrução primária. Era sexta-feira e nesse mesmo dia recebemos as Guias de Marcha para nos apresentarmos na segunda-feira no R.I.5, nas Caldas da Rainha.
Fomos recebidos pelo terror de todos os recrutas que nesse tempo passaram pelo R.I.5, o famoso Ten. Varela que nos dias em que estava de Oficial de Dia, durante a inspecção para a dispensa do recolher, entre dezenas que tinham nota nos testes, só saíam meia dúzia ou menos. Nos dias em que ele estava de Oficial de Dia, eu não pedia dispensa de recolher!
Adaptado à minha nova vida de Instruendo, os dias iam correndo, até que um dia fomos informados que os nomes afixados na secretaria da Companhia iriam prestar provas para o C.O.M. e Comandos. O meu estava lá!!!
Depois de algumas provas físicas, que um Capitão dos Comandos de óculos Ray-Ban e blusão de cabedal verde, do qual não me lembro o nome (Almeida Bruno?), nos ministrou, mandou-nos subir ao pórtico. Eu que não estava minimamente interessado em ir para os Comandos, nem para qualquer tipo de tropa especial, disse que não era capaz, porque tinha vertigens, mas obrigou- me a subir e eu fiquei sentado lá em cima, a dizer que não era capaz!
Mentira, porque era um dos meus exercícios favoritos. Mandou-me descer e chamou-me tudo o que lhe veio à cabeça, que me ia lixar, porque tinha cara de homem destemido e não queria ir para os Comandos.
Quando saíram as especialidades, o meu destino era o C.I.O.E., em Lamego e logo pensei no que o gajo disse e lixou-me mesmo.
Puro engano meu, porque apesar da dureza do Curso de Operações Especiais, hoje tenho o prazer e a honra de ter pertencido aos Rangers e uma vez Ranger, Ranger para sempre!
Depois de concluir o meu curso Ranger, fiquei em Penude, como instrutor do 1.º Grupo de Cadetes e hoje tenho o prazer de ter alguns no meu lote de amigos.
Soube que estava mobilizado para a Guiné quando tinha um caso de namorisco com uma natural de Lamego. Corria o boato que quem andasse com ela, e fosse mobilizado para a Guiné não sobreviveria, porque o 1.º namorado dela tinha morrido na Guiné e todos os outros teriam o mesmo destino. Aí, fiquei acagaçado, mas foram só os primeiros dias ou quando as coisas lá na Guiné não corriam pelo melhor, (não era dentro do arame) é que me lembrava do tal boato, mas nunca passou disso, porque regressei vivo para contar o que foi o tormento da nossa juventude em terras da Guiné, pela qual tenho uma paixão enorme.
Cumprimentos para toda a tabanca grande do
José Pedro Neves
Ex-Fur Mil Op Esp
CCaç 4745 Águias de Binta
(Título da responsabilidade do editor)
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 29 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4101: O trauma da notícia da mobilização (6): Trata de arranjar o caixão, disse-me o pobre do Zé... (Manuel Maia)
quarta-feira, 1 de abril de 2009
Guiné 63/74 - P4124: Carta aberta ao sr. gen Almeida Bruno (5): Ainda o Bando do Arame (Luís Faria)
1. Mensagem de Luís Faria, ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72, com data de 29 de Março de 2009:
Caro Vinhal
Pensei, repensei... tinha que mandar para publicar se achares(em) que daí não vem eventual prejuízo para a Tabanca/blogue
Um abraço
Luis Faria
O Bando do arame
Oh sr. general… claro que sei que as Verdades são subjectivas.
Confesso, na Instituição Castrense na Guiné e posteriormente, entre outros, era para mim uma referência.
Confesso que fiquei de certo modo um pouco preocupado com a (des) apreciação que o sr. general (não é lixo) fez à Valorosa e Esquecida Tropa Macaca da Guiné, que sofreu na pele talvez mais do que nenhuma outra, as agruras de uma Guerra que aguentaram e em que combateram, dentro e fora dos arames, com os escassos meios postos à disposição e piores condições.
Fiquei um pouco preocupado, disse, porque exaltou os Paras e Fuzos (e muito bem) e esqueceu-se dos Comandos, ou será que também eram Bandos do arame? E os seus Comandos Africanos? E os outros? Também eram?
Dei por mim a pensar que o sr. general, já que tendo trabalhado e acompanhado com o Sr. Gen. Spínola, também esqueceu todos os Louvores e Prémios Governador ganhos (não por sorteio) por muitíssimos componentes desses Bandos do arame, que para os obter não actuaram sozinhos e só dentro do arame farpado!
Dei por mim a pensar que tinha esquecido as Cruzes de Guerra que tantos e tantos elementos desses Bandos receberam, muitas delas a Título Póstumo recebidas pelas Famílias, infelizmente.
Dei por mim a pensar se as minas que tantos e tantos mortos e estropiados fizeram estariam plantadas dentro dos arames farpados onde também estavam plantados os ditos Bandos.
Dei por mim a pensar que esqueceu os milhares de membros dos Bandos do arame que foram evacuados pela valorosa FA e não só, com destino a Bissau e à Metrópole por andarem a apanhar flores nas matas Guineenses, quantas vezes para vossa segurança!
Dei por mim a pensar que também foi um camarada (de referência) da Guiné, mesmo que não pertencesse aos Bandos.
Dei por mim a pensar que tendo tão alta patente não deveria transmitir essas INVERDADES.
Dei por mim a pensar que um medalhado de tão alta patente tem obrigação de ser fiel à Verdade por inteiro e não a deturpar, tomando a eventual excepção pela regra
Dei por mim a pensar na Injustiça que faz a Muitos Milhares de Jovens à altura, hoje próximos da sua idade - entre os quais me incluo - , que têm Dignidade e Consciência do Dever Cumprido, com boa memória, que não se deixam abater nem se calam quando se sentem Ofendidos e não gostam que nos desrespeitem publicamente e aos Camaradas Mortos ou feridos, dentro ou fora do arame, membros ou não dos ditos Bandos.
Dei comigo a pensar e como disse fiquei um pouco preocupado, pois pelo que me parece, com o avançar da idade a memória deverá estar a pregar-lhe partidas (acontece) e talvez precise de apoio, quem sabe até da nossa Tabanca (se os Editores o permitirem) para a reavivar ?!
Para contribuir na recuperação, não leve a mal , copio e expresso algumas Verdades do Bando da 2791 (FORÇA) de que tanto me orgulho de ter feito parte. Mas certamente vai considerar que pertencíamos à excepção !
Vá lá, seja o Sr. General, troque as grandes maiorias, considere a regra e não a eventual excepção e peça desculpa pelo engano, como deve. Só lhe ficará bem.
Luís Faria
Nota: Acima-Louvor dado pelo Cor R Durão (Pára)
Louvores Individuais
COM CHEFE (Gen Spínola): 5 (cinco)
CTIG: 1 ( um )
de CAOP 1 dados Pelo Cor Durão(Pára): 7 ( sete)
Cruz Guerra: 1 ( uma)
Nota: Não entram aqui os Louvores dados pelo Batalhão e pela Companhia pois podiam ser considerados sorteados pelo Bando!!
__________
Notas de CV:
Vd. último poste de Luís Faria > 16 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4040: Quando o apreço se transforma em apresso, por causa das pressas (Luís Faria)
Vd. último poste da série de 31 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4113: Carta aberta ao sr. gen Almeida Bruno (4): Humilhados e ofendidos (A. Marques Lopes)
Caro Vinhal
Pensei, repensei... tinha que mandar para publicar se achares(em) que daí não vem eventual prejuízo para a Tabanca/blogue
Um abraço
Luis Faria
O Bando do arame
Oh sr. general… claro que sei que as Verdades são subjectivas.
Confesso, na Instituição Castrense na Guiné e posteriormente, entre outros, era para mim uma referência.
Confesso que fiquei de certo modo um pouco preocupado com a (des) apreciação que o sr. general (não é lixo) fez à Valorosa e Esquecida Tropa Macaca da Guiné, que sofreu na pele talvez mais do que nenhuma outra, as agruras de uma Guerra que aguentaram e em que combateram, dentro e fora dos arames, com os escassos meios postos à disposição e piores condições.
Fiquei um pouco preocupado, disse, porque exaltou os Paras e Fuzos (e muito bem) e esqueceu-se dos Comandos, ou será que também eram Bandos do arame? E os seus Comandos Africanos? E os outros? Também eram?
Dei por mim a pensar que o sr. general, já que tendo trabalhado e acompanhado com o Sr. Gen. Spínola, também esqueceu todos os Louvores e Prémios Governador ganhos (não por sorteio) por muitíssimos componentes desses Bandos do arame, que para os obter não actuaram sozinhos e só dentro do arame farpado!
Dei por mim a pensar que tinha esquecido as Cruzes de Guerra que tantos e tantos elementos desses Bandos receberam, muitas delas a Título Póstumo recebidas pelas Famílias, infelizmente.
Dei por mim a pensar se as minas que tantos e tantos mortos e estropiados fizeram estariam plantadas dentro dos arames farpados onde também estavam plantados os ditos Bandos.
Dei por mim a pensar que esqueceu os milhares de membros dos Bandos do arame que foram evacuados pela valorosa FA e não só, com destino a Bissau e à Metrópole por andarem a apanhar flores nas matas Guineenses, quantas vezes para vossa segurança!
Dei por mim a pensar que também foi um camarada (de referência) da Guiné, mesmo que não pertencesse aos Bandos.
Dei por mim a pensar que tendo tão alta patente não deveria transmitir essas INVERDADES.
Dei por mim a pensar que um medalhado de tão alta patente tem obrigação de ser fiel à Verdade por inteiro e não a deturpar, tomando a eventual excepção pela regra
Dei por mim a pensar na Injustiça que faz a Muitos Milhares de Jovens à altura, hoje próximos da sua idade - entre os quais me incluo - , que têm Dignidade e Consciência do Dever Cumprido, com boa memória, que não se deixam abater nem se calam quando se sentem Ofendidos e não gostam que nos desrespeitem publicamente e aos Camaradas Mortos ou feridos, dentro ou fora do arame, membros ou não dos ditos Bandos.
Dei comigo a pensar e como disse fiquei um pouco preocupado, pois pelo que me parece, com o avançar da idade a memória deverá estar a pregar-lhe partidas (acontece) e talvez precise de apoio, quem sabe até da nossa Tabanca (se os Editores o permitirem) para a reavivar ?!
Para contribuir na recuperação, não leve a mal , copio e expresso algumas Verdades do Bando da 2791 (FORÇA) de que tanto me orgulho de ter feito parte. Mas certamente vai considerar que pertencíamos à excepção !
Vá lá, seja o Sr. General, troque as grandes maiorias, considere a regra e não a eventual excepção e peça desculpa pelo engano, como deve. Só lhe ficará bem.
Luís Faria
Nota: Acima-Louvor dado pelo Cor R Durão (Pára)
Louvores Individuais
COM CHEFE (Gen Spínola): 5 (cinco)
CTIG: 1 ( um )
de CAOP 1 dados Pelo Cor Durão(Pára): 7 ( sete)
Cruz Guerra: 1 ( uma)
Nota: Não entram aqui os Louvores dados pelo Batalhão e pela Companhia pois podiam ser considerados sorteados pelo Bando!!
__________
Notas de CV:
Vd. último poste de Luís Faria > 16 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4040: Quando o apreço se transforma em apresso, por causa das pressas (Luís Faria)
Vd. último poste da série de 31 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4113: Carta aberta ao sr. gen Almeida Bruno (4): Humilhados e ofendidos (A. Marques Lopes)
Guiné 63/74 - P4123: Ser solidário (33): Ajudem na construção da Escola de Samba Culo (Carlos Silva)
1. Mensagem de Carlos Silva, ex-Fur Mil da CCAÇ 2584/BCAÇ 2879, Presidente da Assembleia Geral da Associação Ajuda Amiga, com data de 28 de Março de 2009, enviada ao Blogue e ao nosso camarada A. Marques Lopes, ex-Alf Mil da CART 1690, hoje Cor DFA Reformado:
Amigos
Luís, Virgínio e Carlos Vinhal
Aqui vai outro artigo sobre Samba Culo, há mais para seguir em lista de espera.
Marques Lopes,
Reli o teu episódio de Samba Culo sobre a morte da professora, mas não falas nos alunos (*).
Havia de facto alunos, tal como diz o Prof Calabus Arreta?
Com um abraço para todos vós
Carlos Silva
2. Resposta de A. Marques Lopes a Carlos Silva, em mensagem do mesmo dia
Amigo Carlos Silva
Foram, de facto, mortos vários guerrilheiros que resistiram de arma na mão,
como a professora. Se eram alunos não sei, não constatei. Mas admito que
fossem, dado que nessas escolas tanto estavam adultos como crianças. No
entanto, garanto-te que não foi morta nenhuma criança! Se as havia, tiveram
tempo de as afastar para reajir contra o nosso ataque. Há uma grande
diferença. Fizeste bem em denunciar a falsidade, pois se corre que eram
crianças é mentira.
Abraço
A. Marques Lopes
3. Guiné-Bissau
Samba Culo, 18-03-2009
Ser Solidário – Ajudem na construção da Escola de SAMBA CULO
No âmbito de mais uma visita de natureza humanitária à Guiné-Bissau para onde a nossa ONGD Ajuda-Amiga Associação de Solidariedade e de Apoio ao Desenvolvimento enviou um contentor de bens para distribuir pela população guineense e por algumas instituições.
Feita a divisão dos donativos nas instalações do Banco da Cooperação, no dia seguinte, seguimos para o Sector de Farim com algumas caixas que nos foram distribuídas.
Dado que, não havia jangada para atravessar o rio Cacheu do K3 para Farim, tivemos de atravessar a mata do OIO, para chegar aos antigos aquartelamentos de Canjambari, Jumbembem, Cuntima e Farim tendo de percorrer uma picada quase virgem de 50 kms.
Este ano não partimos de Mansabá>Simbor, pois este percurso fizemos no regresso no dia seguinte.
Partimos, então, pela picada que segue de Saliquinhedim-K3 para Biribão; Ionfarim; Câ Samina; Tambico; Samba Culo até Canjambari.
Em Samba Culo, tabanca já conhecida dos Bloguistas, face aos comoventes artigos do nosso camarada A Marques Lopes publicados no Blogue, devido à situação com que se defrontou numa operação ali realizada, quando se fica num dilema “ ou se mata, ou morre-se”, fizemos a alegria dos alunos e do professor Calabus Arreta, apenas com 2 gramáticas, uns cadernos e uma pasta, na medida em que, não possuímos muito material para distribuir, embora ficasse a promessa de talvez se conseguir alguma ajuda no futuro.
Além da troca de impressões sobre as necessidades da escola e dos alunos, pois falta tudo, aliás, como em todas as escolas do interior profundo, o professor informou-nos que iriam construir uma escola com adobes de terra, cimento e telhado de zinco com a ajuda do Padre Carlo Andolfi da Missão Católica de Farim, o qual, em conversa posterior, porque pernoitámos na Missão, me confirmou que efectivamente vai ajudar na construção da escola.
Aliás, já na altura havia a visita de Pastoral, pois A Marques Lopes diz: - Trouxemos também (imaginem!) uns paramentos completos de um padre católico!
Como não podia deixar fantasmas para trás, durante o nosso curto convívio, chamei à colação o “caso da morte da professora” naquele acampamento de casas de mato dos guerrilheiros existente algures naquele local desterrado durante a guerra colonial.
Perguntei, então, ao jovem Prof Calabus Arreta, se tinha conhecimento de tal caso, o qual me respondeu de imediato que efectivamente sabia do triste episódio, que tem sido transmitido às sucessivas gerações, pois tinha sido naquela aldeia que os “tugas” mataram uma professora e os alunos da escola, sendo esta a versão que corre desde há 40 anos.
Tive então, a oportunidade de lhe explicar que de facto mataram a professora, numa situação extrema, isto é, quando se está perante o dilema “ ou se mata, ou morre-se” e foi isso que tinha acontecido, porquanto, a malograda professora tinha agarrado na “Klas” para disparar contra o nosso camarada e que era falso no que se refere à morte dos alunos, pelo que, deveria passar a mensagem de tamanha falsidade e de tal “mito”.
Seguem algumas fotos do nosso fraterno convívio.
Tabanca de Samba Culo
Escola de Samba Culo com o nosso camarada A Seik DFA
WC da Escola ao ar livre
Da dta p/ esqª: A Seik – DFA; Carlos Silva; Prof Calabus e Zé Pereira – DFA CArtª 3360 Cuntima
Prof Calabus Ferreta, e o seu meio de transporte, bicicleta, espelhando a sua alegria apenas com uma gramática
Um livro de ensino na bagagem do Prof Calabus Ferreta
Os cumprimentos da Amizade, uma gramática, uns cadernos e uma pasta
Aspecto da escola
Neste âmbito, recordo ainda, que ano passado, quando um grupo de camaradas durante o Simpósio de Guileje foi recebido em audiência pelo falecido Presidente Nino Vieira, este pediu-nos para transmitir aos nossos governantes para que auxiliassem a Guiné na educação, enviando livros e professores.
Acresce sugerir que quem estiver interessado em ajudar pecuniariamente na construção da escola, pois é necessário comprar o cimento e as chapas de zinco no Senegal e transportá-las para a respectiva tabanca, o que não é fácil, poderá depositar o montante na conta com o NIB 0036 0133 9910 0025 1382 6, da Ajuda Amiga – Associação de Solidariedade e de Apoio ao Desenvolvimento, indicando que o depósito tem por objecto essa finalidade, que por sua vez será remetida através de uma instituição parabancária, para o Padre Carlo Andolfi da Missão Católica de Farim, o qual poderá levantar na hora o mencionado donativo.
Site da Ajuda Amiga: http://ajudaamiga.com.sapo.pt/index.html
Massamá, 27-03-2009
Carlos Silva
__________
Notas de CV
(*) Vd. poste de 29 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXX: A professora de Samba Culo (A. Marques Lopes)
Amigos
Luís, Virgínio e Carlos Vinhal
Aqui vai outro artigo sobre Samba Culo, há mais para seguir em lista de espera.
Marques Lopes,
Reli o teu episódio de Samba Culo sobre a morte da professora, mas não falas nos alunos (*).
Havia de facto alunos, tal como diz o Prof Calabus Arreta?
Com um abraço para todos vós
Carlos Silva
2. Resposta de A. Marques Lopes a Carlos Silva, em mensagem do mesmo dia
Amigo Carlos Silva
Foram, de facto, mortos vários guerrilheiros que resistiram de arma na mão,
como a professora. Se eram alunos não sei, não constatei. Mas admito que
fossem, dado que nessas escolas tanto estavam adultos como crianças. No
entanto, garanto-te que não foi morta nenhuma criança! Se as havia, tiveram
tempo de as afastar para reajir contra o nosso ataque. Há uma grande
diferença. Fizeste bem em denunciar a falsidade, pois se corre que eram
crianças é mentira.
Abraço
A. Marques Lopes
3. Guiné-Bissau
Samba Culo, 18-03-2009
Ser Solidário – Ajudem na construção da Escola de SAMBA CULO
No âmbito de mais uma visita de natureza humanitária à Guiné-Bissau para onde a nossa ONGD Ajuda-Amiga Associação de Solidariedade e de Apoio ao Desenvolvimento enviou um contentor de bens para distribuir pela população guineense e por algumas instituições.
Feita a divisão dos donativos nas instalações do Banco da Cooperação, no dia seguinte, seguimos para o Sector de Farim com algumas caixas que nos foram distribuídas.
Dado que, não havia jangada para atravessar o rio Cacheu do K3 para Farim, tivemos de atravessar a mata do OIO, para chegar aos antigos aquartelamentos de Canjambari, Jumbembem, Cuntima e Farim tendo de percorrer uma picada quase virgem de 50 kms.
Este ano não partimos de Mansabá>Simbor, pois este percurso fizemos no regresso no dia seguinte.
Partimos, então, pela picada que segue de Saliquinhedim-K3 para Biribão; Ionfarim; Câ Samina; Tambico; Samba Culo até Canjambari.
Em Samba Culo, tabanca já conhecida dos Bloguistas, face aos comoventes artigos do nosso camarada A Marques Lopes publicados no Blogue, devido à situação com que se defrontou numa operação ali realizada, quando se fica num dilema “ ou se mata, ou morre-se”, fizemos a alegria dos alunos e do professor Calabus Arreta, apenas com 2 gramáticas, uns cadernos e uma pasta, na medida em que, não possuímos muito material para distribuir, embora ficasse a promessa de talvez se conseguir alguma ajuda no futuro.
Além da troca de impressões sobre as necessidades da escola e dos alunos, pois falta tudo, aliás, como em todas as escolas do interior profundo, o professor informou-nos que iriam construir uma escola com adobes de terra, cimento e telhado de zinco com a ajuda do Padre Carlo Andolfi da Missão Católica de Farim, o qual, em conversa posterior, porque pernoitámos na Missão, me confirmou que efectivamente vai ajudar na construção da escola.
Aliás, já na altura havia a visita de Pastoral, pois A Marques Lopes diz: - Trouxemos também (imaginem!) uns paramentos completos de um padre católico!
Como não podia deixar fantasmas para trás, durante o nosso curto convívio, chamei à colação o “caso da morte da professora” naquele acampamento de casas de mato dos guerrilheiros existente algures naquele local desterrado durante a guerra colonial.
Perguntei, então, ao jovem Prof Calabus Arreta, se tinha conhecimento de tal caso, o qual me respondeu de imediato que efectivamente sabia do triste episódio, que tem sido transmitido às sucessivas gerações, pois tinha sido naquela aldeia que os “tugas” mataram uma professora e os alunos da escola, sendo esta a versão que corre desde há 40 anos.
Tive então, a oportunidade de lhe explicar que de facto mataram a professora, numa situação extrema, isto é, quando se está perante o dilema “ ou se mata, ou morre-se” e foi isso que tinha acontecido, porquanto, a malograda professora tinha agarrado na “Klas” para disparar contra o nosso camarada e que era falso no que se refere à morte dos alunos, pelo que, deveria passar a mensagem de tamanha falsidade e de tal “mito”.
Seguem algumas fotos do nosso fraterno convívio.
Tabanca de Samba Culo
Escola de Samba Culo com o nosso camarada A Seik DFA
WC da Escola ao ar livre
Da dta p/ esqª: A Seik – DFA; Carlos Silva; Prof Calabus e Zé Pereira – DFA CArtª 3360 Cuntima
Prof Calabus Ferreta, e o seu meio de transporte, bicicleta, espelhando a sua alegria apenas com uma gramática
Um livro de ensino na bagagem do Prof Calabus Ferreta
Os cumprimentos da Amizade, uma gramática, uns cadernos e uma pasta
Aspecto da escola
Neste âmbito, recordo ainda, que ano passado, quando um grupo de camaradas durante o Simpósio de Guileje foi recebido em audiência pelo falecido Presidente Nino Vieira, este pediu-nos para transmitir aos nossos governantes para que auxiliassem a Guiné na educação, enviando livros e professores.
Acresce sugerir que quem estiver interessado em ajudar pecuniariamente na construção da escola, pois é necessário comprar o cimento e as chapas de zinco no Senegal e transportá-las para a respectiva tabanca, o que não é fácil, poderá depositar o montante na conta com o NIB 0036 0133 9910 0025 1382 6, da Ajuda Amiga – Associação de Solidariedade e de Apoio ao Desenvolvimento, indicando que o depósito tem por objecto essa finalidade, que por sua vez será remetida através de uma instituição parabancária, para o Padre Carlo Andolfi da Missão Católica de Farim, o qual poderá levantar na hora o mencionado donativo.
Site da Ajuda Amiga: http://ajudaamiga.com.sapo.pt/index.html
Massamá, 27-03-2009
Carlos Silva
__________
Notas de CV
(*) Vd. poste de 29 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXX: A professora de Samba Culo (A. Marques Lopes)
Guiné 63/74 - P4122: PAIGC, 1º Congresso, 13-17 Fev 64: Onde fica(va) Cassacá ? Não na Ilha do Como, mas a sul de Cacine (Luís Graça)
Excerto de um infografia, relativa à Operação Tridente. Reproduzida com a devida vénia. In: Carlos de Matos Gomes e Aniceto Afonso: Os Anos da Guerra Colonial, Volumne 5: 1964 - Três teatros de operações.Lisboa Quidnovi. 2009. 17.
1. Os autores, os nossos estimados Carlos Matos Gomes e Aniceto Afonso, colocam, erradamente, a realização do 1º Congresso do PAIGC, em Cassaca, na Ilha do Como, entre S. Nicolau (a sul) e Cachil (a norte) (Vd. bandeirinha vermelha)...
Esta localização está errada: era impossível, ao jovem PAIGC, por razões materiais - logística, segurança, comunicações, etc. - reunir os seus dirigentes e quadros no coração do Como, em pleno auge da Op Tridente... Seria um suicídio!... Já discutimos este ponto, internamente, através de troca de mails - eu, o José Colaço, o Mário Dias, o Santos Oliveira, o Abreu dos Santos...
Acontece que há várias povoações com este topónimo: além de Cassacá (ou Cassaca) na Ilha do Como (vd. carta da Ilha de Caiar), há outra Cassaca na ilha de Pecixe (vd. carta de Caió, ainda não disponível 'on line')) e uma terceira, pelo menos, a sul de Cacine, entre a margem esquerda do Rio Cacine e a fronteira com a Guiné-Conacri, na picada que vai de Cacine a Campeane, entre Cabonepo (a norte) e Campo (a sul) (vd. carta de Cacine).
Agradeço ao José Colaço ter-me chamado a atenção para este erro que vem reproduzido na infografia acima reproduzida, e que me provocou, pelo menos a mim, uma grande confusão... O Congresso do PAIGC, a realizar-se em Cassaca, na Ilha do Como, entre 13 e 17 de Fevereiro de 1964, só poderia ser pura propaganda, para consumo externo, por parte do PAIGC e do seu líder máximo, Amílcar Cabral...
1. Os autores, os nossos estimados Carlos Matos Gomes e Aniceto Afonso, colocam, erradamente, a realização do 1º Congresso do PAIGC, em Cassaca, na Ilha do Como, entre S. Nicolau (a sul) e Cachil (a norte) (Vd. bandeirinha vermelha)...
Esta localização está errada: era impossível, ao jovem PAIGC, por razões materiais - logística, segurança, comunicações, etc. - reunir os seus dirigentes e quadros no coração do Como, em pleno auge da Op Tridente... Seria um suicídio!... Já discutimos este ponto, internamente, através de troca de mails - eu, o José Colaço, o Mário Dias, o Santos Oliveira, o Abreu dos Santos...
Acontece que há várias povoações com este topónimo: além de Cassacá (ou Cassaca) na Ilha do Como (vd. carta da Ilha de Caiar), há outra Cassaca na ilha de Pecixe (vd. carta de Caió, ainda não disponível 'on line')) e uma terceira, pelo menos, a sul de Cacine, entre a margem esquerda do Rio Cacine e a fronteira com a Guiné-Conacri, na picada que vai de Cacine a Campeane, entre Cabonepo (a norte) e Campo (a sul) (vd. carta de Cacine).
Agradeço ao José Colaço ter-me chamado a atenção para este erro que vem reproduzido na infografia acima reproduzida, e que me provocou, pelo menos a mim, uma grande confusão... O Congresso do PAIGC, a realizar-se em Cassaca, na Ilha do Como, entre 13 e 17 de Fevereiro de 1964, só poderia ser pura propaganda, para consumo externo, por parte do PAIGC e do seu líder máximo, Amílcar Cabral...
Guiné 63/74 - P4121: Ser solidário (32): O nosso camarada António Rodrigues Soares da CART 1689 precisa dos seus amigos (Jorge Teixeira)
1. Mensagem de Jorge Teixeira, com data de 29 de Março de 2009:
Amigo Carlos
Gostava de publicar este pequeno texto com a foto junta.
Camaradas da Cart 1689/Bart 1913,
Sábado passado, em convívio com ex-camaradas da Guiné da Tabanca Pequena de Matosinhos em Medas, Gondomar, fui encontrar o António Rodrigues Soares, que me disse ter pertencido à CART 1689. Senti uma certa alegria, pois embora não nos lembremos um do outro, provavelmente encontrámo-nos em Catió em 1968, onde foi certo ter atabancado.
Infelizmente fiquei chocado, pois ele encontra-se debilitado fisicamente, mas com uma óptima memória.
Se algum ex-camarada quiser contactar com ele, far-lhe-emos chegar a sua mensagem através do nosso camarada António Carvalho da Tabanca de Matosinhos, seu conterrâneo.
Um abraço de amizade para toda a Tabanca Grande
Jorge Teixeira
2. Comentário de CV
Aqui fica esta referência ao nosso camarada António Rodrigues Soares da CART 1689, a quem desejamos as melhoras já que está a passar menos bem de saúde neste momento.
Como diz Jorge Teixeira, os camaradas que queiram fazer-lhe chegar alguma palavra de conforto, têm como elo de ligação o António Carvalho da Tabanca de Matosinhos.
__________
Nota de CV
Vd. último poste de 31 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4116: Ser solidário (31): Vamos continuar com a campanha de sementes para a Guiné-Bissau (Zé Teixeira)
Guiné 63/74 - P4120: Convívios (105): Pessoal de Bambadinca 1969/71: BCAÇ 2852, CCAÇ 12, Pel Caç Nat 52, 54 e 63... Castro Daire, 30/5/2009
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > 1970 > Espectacular vista aérea do aquartelamento e posto administrativo, tirada no sentido leste-oeste, ou seja, do lado da grande bolanha de Bambadinca (vd. mapa da região)
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > 1970 > Outra vista aérea do aquartelamento, tirada no sentido noroeste-sudeste. Em primeiro plano, a pista de aviação, o perímetro em L de arame farpado, o campo de futebol, a antena das transmissões...
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > 1970 > Vista aérea da tabanca de Bambadinca, tirada no sentido sul-norte. Em primeiro plano, a saída (lado leste) do aquartelamento, ligando à estrada (alcatroada) Bambadinca-Bafatá. Ao fundo, o Rio Geba Estreito. São visíveis as instalações do Pelotão de Intendência.
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > 1970 > Entrada principal, pelo lado leste (sentido Bafatá), do aquartelamento... Uma rampa difícil e poeirenta, de terra vermelha...
Fotos: © Humberto Reis (2006). Direitos reservados.
1. Mensagem que nos chegou atravcés do nosso camarada Beja Santos:
Luís e Carlos, Recebi esta informação do Adélio Gonçalves Monteiro (Telef 232381392 / TM 917507595), condutor da CCAÇ12. Ele pede divulgação no blogue.
Um abraço, Mário
2. Reproduz-se acima a convocatória do 15º Convívio da malta (*) que passou por Bambadinca entre 1968 e 1971, ao tempo do BCAÇ 2852 e da CCAÇ 12 (1969/71) (**) e onde se incluem, entre outras as seguintes subunidades (***):
CCS / BCAÇ 2852 (1968/70)
CCAÇ 12 (1969/71)
Pel Caç Nat 52 (1968/70)
Pel Caç Nat 54 (1969/70)
Pel Caç Nat 63 (1969/71)
Pel Mort 2106 (1969/70)
Pel Mort 2268 (1970/72)
Pel Rec 2046 (1968/70)
Pel Rec 2206 (1970/71)
CCS / BART 2917 (1970/72)
____________
Notas de L.G.:
(*) Vd. postes relativos a anteriores convívios:
20 de Abril de 2005 > Guiné 69/71 - V: Convívio de antigos camaradas de armas de Bambadinca (Luís Graça)
9 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1742: Convívios (2): Lisboa, Casa do Alentejo, 26 de Maio de 2007: Bambadinca 68/71, BCAÇ 2852, CCAÇ 12, etc. (Fernando Calado)
13 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1843: Convívios (16): O 1º encontro da CCS do BART 2917, em Setúbal, 9 de Junho de 2007 (Jorge Cabral)
(**) Vd. postes de:
30 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3545: Memória dos lugares (14): Bambadinca, CCAÇ 2590 / CCAÇ 12, 1969/71 (Gabriel Gonçalves)
29 de Abril de 2005 > Guiné 69/71 - IX: A malta do triângulo Xime-Bambadinca-Xitole (1) (Luís Graça)
(***) Vd. postes de
21 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXV: Composição da CCAÇ 12, por Grupo de Combate, incluindo os soldados africanos (posto, número, nome, função e etnia)
24 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1545: Lista do pessoal de Bambadinca (1968/71) (Letras A/B) (Humberto Reis)
21 de Maio de 2007 >Guiné 63/74 - P1773: Lista do pessoal de Bambadinca (1968/71) (Letras C / Z) (Humberto Reis)
15 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1527: Lista de ex-militares da CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) e unidades adidas (Benjamim Durães)
27 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3151: Unidades sediadas em Bambadinca entre 1962 e 1974 (Benjamim Durães)
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > 1970 > Outra vista aérea do aquartelamento, tirada no sentido noroeste-sudeste. Em primeiro plano, a pista de aviação, o perímetro em L de arame farpado, o campo de futebol, a antena das transmissões...
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > 1970 > Vista aérea da tabanca de Bambadinca, tirada no sentido sul-norte. Em primeiro plano, a saída (lado leste) do aquartelamento, ligando à estrada (alcatroada) Bambadinca-Bafatá. Ao fundo, o Rio Geba Estreito. São visíveis as instalações do Pelotão de Intendência.
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > 1970 > Entrada principal, pelo lado leste (sentido Bafatá), do aquartelamento... Uma rampa difícil e poeirenta, de terra vermelha...
Fotos: © Humberto Reis (2006). Direitos reservados.
1. Mensagem que nos chegou atravcés do nosso camarada Beja Santos:
Luís e Carlos, Recebi esta informação do Adélio Gonçalves Monteiro (Telef 232381392 / TM 917507595), condutor da CCAÇ12. Ele pede divulgação no blogue.
Um abraço, Mário
2. Reproduz-se acima a convocatória do 15º Convívio da malta (*) que passou por Bambadinca entre 1968 e 1971, ao tempo do BCAÇ 2852 e da CCAÇ 12 (1969/71) (**) e onde se incluem, entre outras as seguintes subunidades (***):
CCS / BCAÇ 2852 (1968/70)
CCAÇ 12 (1969/71)
Pel Caç Nat 52 (1968/70)
Pel Caç Nat 54 (1969/70)
Pel Caç Nat 63 (1969/71)
Pel Mort 2106 (1969/70)
Pel Mort 2268 (1970/72)
Pel Rec 2046 (1968/70)
Pel Rec 2206 (1970/71)
CCS / BART 2917 (1970/72)
____________
Notas de L.G.:
(*) Vd. postes relativos a anteriores convívios:
20 de Abril de 2005 > Guiné 69/71 - V: Convívio de antigos camaradas de armas de Bambadinca (Luís Graça)
9 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1742: Convívios (2): Lisboa, Casa do Alentejo, 26 de Maio de 2007: Bambadinca 68/71, BCAÇ 2852, CCAÇ 12, etc. (Fernando Calado)
13 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1843: Convívios (16): O 1º encontro da CCS do BART 2917, em Setúbal, 9 de Junho de 2007 (Jorge Cabral)
(**) Vd. postes de:
30 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3545: Memória dos lugares (14): Bambadinca, CCAÇ 2590 / CCAÇ 12, 1969/71 (Gabriel Gonçalves)
29 de Abril de 2005 > Guiné 69/71 - IX: A malta do triângulo Xime-Bambadinca-Xitole (1) (Luís Graça)
(***) Vd. postes de
21 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXV: Composição da CCAÇ 12, por Grupo de Combate, incluindo os soldados africanos (posto, número, nome, função e etnia)
24 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1545: Lista do pessoal de Bambadinca (1968/71) (Letras A/B) (Humberto Reis)
21 de Maio de 2007 >Guiné 63/74 - P1773: Lista do pessoal de Bambadinca (1968/71) (Letras C / Z) (Humberto Reis)
15 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1527: Lista de ex-militares da CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) e unidades adidas (Benjamim Durães)
27 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3151: Unidades sediadas em Bambadinca entre 1962 e 1974 (Benjamim Durães)
Guiné 63/74 - P4119: FAP (21): Os meus sentimentos contraditórios no 'verão quente' de 1973 ... (Miguel Pessoa)
1. Texto que nos foi enviado, pelo Miguel Pessoa (ex-Ten Pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74), com data de 22 de Março do corrente (última versão, corrigida):
QUATRO MESES DE... NADA
por Miguel Pessoa
[Titulo do poste, bold e cor, da responsabilidade do editor L.G.]
Pensei seriamente em não escrever sobre este assunto. Não parece ser "politicamente correcto" e pode merecer da parte de alguns uma certa incompreensão; mas a verdade é que, embora nunca tendo gostado de dar nas vistas, nunca me eximi a mostrar as diferenças na minha maneira de ser relativamente ao que é considerado o comportamento padrão, dito "normal".
Considero-me um narrador razoável quando se trata de descrever factos palpáveis; mas é para mim uma experiência nova quando toca a descrever sentimentos, afectos e outros quejandos. Para isso existem nesta panóplia de "escrevinhadores" exímios narradores do que nos vai na alma. Na vida militar estamos habituados a relatar factos ocorridos, enumerar as razões por que eles aconteceram, propor medidas com base em racionais que justifiquem a tomada de decisão; no que se refere aos sentimentos que sentimos em relação a um determinado problema, esses não são por norma apresentados. Por isso o meu desconforto ao abordar este tema.
Tem isto a ver com a troca de correspondência que tenho tido com o editor e co-editores do blog e que, na prática, tem resultado na apresentação a todos os seus leitores do meu ponto de vista sobre este e aquele assunto, relatando factos e tentando esclarecer (de acordo com o meu ponto de vista) o porquê da posição que em cada caso acabou por ser tomada pela Força Aérea.
Analisando detalhadamente o que se tem passado nestes últimos meses, vejo que os resultados desta exposição perante tantos interlocutores (sim, que todos podem comentar o que cada um diz - a comunicação é bidireccional) terão produzido em mim resultados mais significativos que umas tantas sessões de terapia com um psicólogo ou um psiquiatra (que, verdade seja, nunca utilizei, por não achar necessário - Seria?).
Vejo hoje que, expurgados alguns fantasmas que me habitavam, subsistiam alguns traumas que eu nem sabia estarem presentes no meu subconsciente. E um deles prende-se com quatro meses da minha vida que, sendo dos mais pacíficos, relaxantes e descontraídos que vivi, deixaram em mim uma sensação de vazio que tenho ainda hoje dificuldade em preencher.
Já tive a oportunidade de referir neste blog os factos que levaram a um interregno na minha comissão na Guiné por um período de quatro meses, o tempo que passei em Lisboa a recuperar das mazelas sofridas no decorrer de uma missão naquele Teatro de Operações.
Lembro-me que, no dia em que embarquei em Bissau com destino a Lisboa, para iniciar a minha recuperação, ainda na ressaca dos acontecimentos da véspera, em que a Força Aérea tinha perdido três pilotos e três aviões(+), tive um desabafo sincero mas que os meus camaradas não mereceriam:
- Desculpem lá mas, de certo modo, neste momento sinto-me satisfeito por não estar em condições de voar.
Tive oportunidade de me arrepender várias vezes destas palavras, pois nem eles as mereciam, pela solidariedade que lhes devia, nem as merecia eu, que sempre assumi as minhas responsabilidades e não tenho por hábito virar a cara a nenhum desafio, por mais que isso me custe... E tive também a oportunidade para tentar redimir-me desse momento ao longo do ano que ainda passei na Guiné, depois de recuperado fisicamente. Mas nunca consegui recuperar os quatro meses que estive afastado do Teatro de Operações.
Não podemos prever o futuro, por isso não sei o que me poderia ter sucedido naquele período, se lá tivesse estado (como diria o outro, prognósticos, só no fim do jogo...). O que sei é que foi uma "traição" que o PAIGC me fez ao limpar-me estes quatro meses de Guiné - e ao mesmo tempo, uma involuntária "traição" minha por não ter podido apoiar os meus camaradas de luta, num momento tão difícil para todos nós, que levou inclusive a alterações significativas da Força Aérea no modo de fazer a guerra.
É que é nos momentos difíceis que pomos à prova as nossas maiores qualidades e que sobressaem os nossos maiores defeitos ou limitações. Embora tenha tido oportunidade de testar posteriormente as minhas capacidades e de sair de lá com a minha dignidade intacta, não pude partilhar, naquele verão conturbado de 1973, todas as agruras, apreensões e dificuldades sofridas pelo pessoal da FA naquele período difícil, bem como a satisfação do dever cumprido que todos terão sentido no dia-a-dia e a solidariedade e camaradagem que tiveram oportunidade de partilhar, que lhes permitiu afinal ultrapassar essas dificuldades e prosseguir a sua acção no TO da Guiné.
Por isso, lamentando não ter podido estar presente, daqui lhes tiro o meu chapéu, por terem conseguido, pese embora todos os constrangimentos existentes, cumprir a sua missão nesse verão quente de 1973.
Miguel Pessoa
(+) Eu embarquei para Lisboa em 7 de Abril de 1973, os acontecimentos a que me refiro ocorreram em 6 de Abril. (**)
___________
Notas de L.G.:
(*) Vd.último poste da série FAP > 28 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4088: FAP (20): Efemérides: 36 anos após a morte do Ten Cor Pilav Almeida Brito, abatido por um Strela em Madina do Boé (Miguel Pessoa)
(**) Vd. poste de 9 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3859: FAP (6): A introdução do míssil russo SAM-7 Strela no CTIG ( J. Pinto Ferreira / Miguel Pessoa)
QUATRO MESES DE... NADA
por Miguel Pessoa
[Titulo do poste, bold e cor, da responsabilidade do editor L.G.]
Pensei seriamente em não escrever sobre este assunto. Não parece ser "politicamente correcto" e pode merecer da parte de alguns uma certa incompreensão; mas a verdade é que, embora nunca tendo gostado de dar nas vistas, nunca me eximi a mostrar as diferenças na minha maneira de ser relativamente ao que é considerado o comportamento padrão, dito "normal".
Considero-me um narrador razoável quando se trata de descrever factos palpáveis; mas é para mim uma experiência nova quando toca a descrever sentimentos, afectos e outros quejandos. Para isso existem nesta panóplia de "escrevinhadores" exímios narradores do que nos vai na alma. Na vida militar estamos habituados a relatar factos ocorridos, enumerar as razões por que eles aconteceram, propor medidas com base em racionais que justifiquem a tomada de decisão; no que se refere aos sentimentos que sentimos em relação a um determinado problema, esses não são por norma apresentados. Por isso o meu desconforto ao abordar este tema.
Tem isto a ver com a troca de correspondência que tenho tido com o editor e co-editores do blog e que, na prática, tem resultado na apresentação a todos os seus leitores do meu ponto de vista sobre este e aquele assunto, relatando factos e tentando esclarecer (de acordo com o meu ponto de vista) o porquê da posição que em cada caso acabou por ser tomada pela Força Aérea.
Analisando detalhadamente o que se tem passado nestes últimos meses, vejo que os resultados desta exposição perante tantos interlocutores (sim, que todos podem comentar o que cada um diz - a comunicação é bidireccional) terão produzido em mim resultados mais significativos que umas tantas sessões de terapia com um psicólogo ou um psiquiatra (que, verdade seja, nunca utilizei, por não achar necessário - Seria?).
Vejo hoje que, expurgados alguns fantasmas que me habitavam, subsistiam alguns traumas que eu nem sabia estarem presentes no meu subconsciente. E um deles prende-se com quatro meses da minha vida que, sendo dos mais pacíficos, relaxantes e descontraídos que vivi, deixaram em mim uma sensação de vazio que tenho ainda hoje dificuldade em preencher.
Já tive a oportunidade de referir neste blog os factos que levaram a um interregno na minha comissão na Guiné por um período de quatro meses, o tempo que passei em Lisboa a recuperar das mazelas sofridas no decorrer de uma missão naquele Teatro de Operações.
Lembro-me que, no dia em que embarquei em Bissau com destino a Lisboa, para iniciar a minha recuperação, ainda na ressaca dos acontecimentos da véspera, em que a Força Aérea tinha perdido três pilotos e três aviões(+), tive um desabafo sincero mas que os meus camaradas não mereceriam:
- Desculpem lá mas, de certo modo, neste momento sinto-me satisfeito por não estar em condições de voar.
Tive oportunidade de me arrepender várias vezes destas palavras, pois nem eles as mereciam, pela solidariedade que lhes devia, nem as merecia eu, que sempre assumi as minhas responsabilidades e não tenho por hábito virar a cara a nenhum desafio, por mais que isso me custe... E tive também a oportunidade para tentar redimir-me desse momento ao longo do ano que ainda passei na Guiné, depois de recuperado fisicamente. Mas nunca consegui recuperar os quatro meses que estive afastado do Teatro de Operações.
Não podemos prever o futuro, por isso não sei o que me poderia ter sucedido naquele período, se lá tivesse estado (como diria o outro, prognósticos, só no fim do jogo...). O que sei é que foi uma "traição" que o PAIGC me fez ao limpar-me estes quatro meses de Guiné - e ao mesmo tempo, uma involuntária "traição" minha por não ter podido apoiar os meus camaradas de luta, num momento tão difícil para todos nós, que levou inclusive a alterações significativas da Força Aérea no modo de fazer a guerra.
É que é nos momentos difíceis que pomos à prova as nossas maiores qualidades e que sobressaem os nossos maiores defeitos ou limitações. Embora tenha tido oportunidade de testar posteriormente as minhas capacidades e de sair de lá com a minha dignidade intacta, não pude partilhar, naquele verão conturbado de 1973, todas as agruras, apreensões e dificuldades sofridas pelo pessoal da FA naquele período difícil, bem como a satisfação do dever cumprido que todos terão sentido no dia-a-dia e a solidariedade e camaradagem que tiveram oportunidade de partilhar, que lhes permitiu afinal ultrapassar essas dificuldades e prosseguir a sua acção no TO da Guiné.
Por isso, lamentando não ter podido estar presente, daqui lhes tiro o meu chapéu, por terem conseguido, pese embora todos os constrangimentos existentes, cumprir a sua missão nesse verão quente de 1973.
Miguel Pessoa
(+) Eu embarquei para Lisboa em 7 de Abril de 1973, os acontecimentos a que me refiro ocorreram em 6 de Abril. (**)
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Notas de L.G.:
(*) Vd.último poste da série FAP > 28 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4088: FAP (20): Efemérides: 36 anos após a morte do Ten Cor Pilav Almeida Brito, abatido por um Strela em Madina do Boé (Miguel Pessoa)
(**) Vd. poste de 9 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3859: FAP (6): A introdução do míssil russo SAM-7 Strela no CTIG ( J. Pinto Ferreira / Miguel Pessoa)
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