1. O nosso Camarada José Eduardo Reis de Oliveira, foi Fur Mil da CCAÇ 675 (Binta, 1964/65), é jornalista profissional conhecido no seu meio por “JERO” e enviou-nos uma mensagem , com data de 24JUL2009, e o título: Tempo Africano, cuja 1ª parte foi publicada no poste P4751:
II PARTE
2 - «Começo pelo nosso Alferes Tavares, cujo verdadeiro nome para nós, crianças da minha geração, era os olhos de gato, “o Feiticeiro”.
E sabem porquê? Porque as minas que montava nas mais variadas armadilhas resultavam sempre. Nunca falhavam. Eram sempre accionadas pelo inimigo.
Era uma verdadeira feitiçaria para todos nós, meninos a aprender ser homens. É uma figura que ficará para sempre na memória de todos nós.
3 - Também o nosso Alferes António Duarte Santos, era o mais admirado por todos os milícias de Binta, pelo modo como sabia conduzir os seus homens, quer nas mais variadas situações no teatro operacional, quer nos tempos de lazer que conseguiam ter. Será sempre recordado passem os anos que passarem.
3 - TEMPO AFRICANO
Damos seguimento às estórias do guineense João Turé num dia em que se encerra mais um triste capítulo da história recente da Guiné.
Morreu em Lisboa Luís Cabral, exilado desde há cerca de 30 anos em Portugal.
Luís Cabral tinha sido feito Presidente da Guiné em 1973, o mesmo ano em que o seu irmão Amílcar Cabral tinha sido assassinado em Conacri, em circunstâncias que ainda hoje não estão bem esclarecidas.Luís Cabral fora deposto em 1980 por Nino Vieira que há bem poucos meses foi executado em Bissau.No Editoral do “Diário de Notícias”, de 1 de Junho, refere o jornalista que a Guiné-Bissau não é hoje nada do que Amílcar Cabral sonhou(a não ser independente). Antes deste final dramático o articulista refere, a meio dos seus considerandos, que os múltiplos episódios de golpes, guerras e assassínios dos últimos anos fazem da Guiné-Bissau um “Estado falhado” !Perante o dramatismo destes factos as recordações de João Turé serão um bálsamo longínquo da vivência de meninos que, nos seus primeiros tempos de vida ,cruzaram com militares de uma Companhia de Caçadores.
As estórias que temos vindo a relatar aconteceram na região onde nasceu no norte da Guiné - mais propriamente em Binta, a 20 kms. da fronteira com o Senegal - no período compreendido entre Junho de 1964 e Abril de 1966.
A estória nº. 3 deste “TEMPO AFRICANO” foca de novo as reminiscências de alguns militares que nessa altura mais impressionaram os meninos da aldeia de Binta.
JERO
Ao volante do jipe o Alf. Médico Dr. Martins Barata.
O Fur. Enfermeiro Oliveira encara a objectiva.
3 - Não posso esquecer, também, o nosso Alferes Médico, Dr. Alfredo Martins Barata, para quem quero, em meu nome e, tenho a certeza, em nome de toda a população de Binta, apresentar os mais penhorados agradecimentos, por tudo o que fez por nós, quer de dia quer de noite, quer fizesse chuva ou fizesse sol, sabíamos que e sua ajuda chegava sempre na hora certa. Uma pessoa impar que continuará sempre connosco.
Também recordar o nosso Furriel Enfermeiro José Eduardo Reis de Oliveira, de todos conhecido como o “Furriel Pica”, pelo seu inesquecível apoio a toda a população de Binta, nas mais difíceis ou simples situações, onde eu me incluo, pois, dei-lhe muito trabalho com um profundo corte num pé, suturado com muitos pontos.
Por tudo isto, ainda hoje é recordado com muito carinho pelas gentes de Binta. Todos recordaremos sempre o muito que fez por nós.
4 - TEMPO AFRICANO
Acrescentamos mais um capítulo às estórias do guineense João Turé, numa fase da história recente da Guiné-Bissau marcada por múltiplos episódios de golpes, guerras e assassínios .
Nos primeiros dias do passado mês de Junho tomámos conhecimento pelos serviços noticiosos de mais mortes eventualmente ligadas a mais uma tentativa de golpe de Estado.Entre outras notícias de jornais nacionais salientamos a divulgação de um comunicado atribuído ao Governo da Guiné, que referia:"O Conselho de Ministros tomou conhecimento, através das chefias militares e responsáveis da Segurança de Estado, que estava em curso no país uma tentativa de golpe de Estado e que as mortes de Baciro Dabó, deputado da nação e ministro da Administração Territorial, Hélder Proença, entre outras, ficaram a dever-se ao facto de, presumivelmente, terem tentado resistir à ordem de prisão, enquanto outros mentores se terão entregues sem qualquer resistência", refere o governo em comunicado.
"(...) O Conselho de Ministros teve a oportunidade de escutar gravações, envolvendo os principais protagonistas, através das quais se poderá inferir os seus propósitos, tendo com efeito condenado qualquer acto tendente a alterar a ordem constitucional, por vias não legais", refere o comunicado o governo guineense.No documento, o governo lamenta o "trágico acontecimento, que vitimou duas personalidades políticas e de quem ainda se esperava uma contribuição valiosa para o processo de desenvolvimento da Guiné-Bissau".
Perante o dramatismo destes factos as recordações de João Turé, que temos vindo a publicar, são notoriamente ingénuas e respeitantes a um longínquo tempo conturbado.
Vivia-se em guerra ,mas os meninos da infância de João Turé estavam longe de supor que o seu País, décadas mais tarde, viria a viver quase dia sim, dia sim acontecimentos trágicos que impedem o desenvolvimento normal da Guiné-Bissau.As estórias que temos vindo a relatar aconteceram na região onde nasceu no norte da Guiné - mais propriamente em Binta, a 20 kms. da fronteira com o Senegal - no período compreendido entre Junho de 1964 e Abril de 1966.
5 - A estória nº. 5 deste “TEMPO AFRICANO” foca de novo as reminiscências de alguns militares que nessa altura mais impressionaram os meninos da aldeia de Binta.
Recorda João Turé:o nosso Furriel Luís Moreira foi um militar importante na estrutura de apoio aos mais necessitados.
Dele aparecia sempre, como arte de ilusionismo, um pouco de comida para uns, outro pouco para outros, remediando todos aqueles que necessitavam.
Eu, menino e moço, chamava-lhe “padrinho”. Estará sempre na nossa memória o muito que nos ajudou.
E agora o nosso Furriel Miguel mais conhecido pelo “Furriel tocador”, das figuras mais conhecidas e importantes, pois era o tocador que, com o seu acordeão, abrilhantava todas as festas e bailaricos, com especial relevo as festas de S. João.
Era uma pessoa imprescindível e reconhecida por todos.
Também não será esquecido por todos nós.
Por fim, e seguindo o velho ditado que diz:« que os últimos são sempre os primeiros»… o nosso General Tomé Pinto.
Não é fácil falar dum militar como o Senhor General.
Que poderei dizer, eu, o menino João Turé a quem o senhor General tratava como um filho.
Talvez duas coisas muito simples. A primeira, que só um militar do gabarito do Senhor General, seria capaz de formar uma companhia com a qualidade e categoria da Companhia de Caçadores 675.
A segunda, com a amizade o carinho que me dedica, tendo sempre uma palavra de apoio e ajuda quando preciso, os muitos ensinamentos que me deu, sabe que o considero, do fundo do coração, o meu segundo pai.
Senhor General, meus amigos e amigas, bem hajam pelo muito que fizeram por mim e pelo meu povo.
Bem hajam.
João Turé
Legenda:
(1)- Pequena povoação ,aldeia .
(2) - Sucesso, motivo de festa, de espanto.
Fotos: José Eduardo Oliveira (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:
Vd. último poste da série em: