quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Guiné 63/74 - P5180: Agenda Cultural (39): “Elites Militares e a Guerra de África”, de Manuel Rebocho: 17 de Novembro, às 18h00, sede da ADFA - Lisboa


1. Mensagem de Manuel Rebocho (*), ex-Sargento Pára-quedista da CCP 123/BCP 12, Guiné 1972/74, com data de 24 de Outubro de 2009:

CONVITE

Camaradas e Amigos,

Junto vos envio um convite para o lançamento da minha obra: “ELITES MILITARES E A GUERRA DE ÁFRICA”.

No próximo dia 17 de Novembro, às 18h00, na sede da A.D.F.A. - Av. Padre Cruz -, em Lisboa.

Esta obra é a minha tese de doutoramento.

Para além do convite pessoal que vos envio, gostaria que publicassem o convite no nosso blogue, pois, como é natural, gostaria de convidar muitos amigos e camaradas, dos quais não tenho qualquer contacto e, como sabemos, o nosso blogue também desempenha essa função: colocar-nos todos em contacto uns com os outros.

Com um abraço,
Manuel Rebocho
Sarg Pára-quedista

Emblema de colecção: Carlos Coutinho (2009). Direitos reservados.

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Nota de MR:

Vd. último poste desta série em:

Guiné 63/74 – P5179: Estórias do Fernando Chapouto (Fernando Silvério Chapouto) (11): As minhas memórias da Guiné 1965/67 – Operação Jóia I


1. O nosso Camarada Fernando Chapouto, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 1426, que entre 1965 e 1967, esteve em Geba, Camamudo, Banjara e Cantacunda e autorizou-nos a publicar a 11ª fracção das suas memórias. A série foi iniciada no poste P4877.

AS MINHAS MEMÓRIAS DA GUINÉ - 1965/67

Operação Jóia I (realizada em 17 de Janeiro de 1967)

No dia 16JAN67, a seguir ao almoço, o Alferes ordenou que o pessoal se equipasse, porque íamos sair. Pelas 16h00, deixamos Geba a caminho de Banjara e paramos no cruzamento de Sinchá Sutu, à espera da coluna que vinha de Bafatá, com carros de combate e soldados, que ficariam a prestar segurança, enquanto um pelotão que ali se encontrava estacionado, também seguiria connosco para a concretização da Operação Jóia I.

Chegada a coluna, começamos a marcha até Banjara e paramos em Sare Banda, onde subiram para as viaturas alguns Milícias. Continuamos o avanço, sendo a picagem da praxe até Mansaina feita pela Milícia de Sare Banda. Entre Banjara e Mansaina, a picagem passou a ser executada pelo pelotão aí estacionado.

Chegados a Banjara, comemos uma ração de combate e descansamos ao relento. Às 06h00, depois de tomarmos o café, saímos em direcção a Medina Banjara, passando por Tumania, Bantajá e Belel. Até aqui tudo decorreu normalmente. Paramos junto à bolanha e começamos a atravessá-la, a água era abundante e chagava-nos à cintura.

Passamos a bolanha e desviamo-nos para a esquerda, até Madina Banjara. A vegetação era cada vez mais densa e mais alta. Dois ou três quilómetros à frente, eis que surgem umas palhotas desviadas da picada, construídas no meio da floresta densa.

Como eu ia à frente fiz sinal para o pessoal se dividir e cercar as palhotas. Rápidos, eu e a Milícia, entramos de rompante no acampamento. Um soldado da Milícia grita-me: “Meu furriel aliiiiiiii!”

Já eles nos estavam a alvejar, com tiros na minha direcção. Lancei-me imediatamente para o chão e rebolei para trás da árvore mais próxima. Felizmente, safei-me ileso.

Chegou o nosso capitão e contei-lhe o que passou. Mandou-nos revistar as palhotas, mas apenas encontramos um homem, deficiente dos membros inferiores, que não andava, só rastejava, e era transportado em padiola de tabanca, em tabanca. Já o tínhamos encontrado em Dezembro de 1965, em Sambulacunda e tínhamo-lo deixado em paz, mas desta vez não o deixamos escapar, pois segundo as palvaras de alguns prisioneiros ele era o chefe deste sector do PAIGC.

Resultado do tiroteio: dois elementos do IN abatidos. Reunimos o pessoal e regressamos pelo mesmo itinerário. Quando chegamos à bolanha paramos. O capitão disse ao Alferes Soeiro (comandante do meu pelotão), que íamos sempre atrás, quando na verdade nós andávamos era sempre à frente.

Não me deram justificação alguma, mas pensei: “Em todas as emboscadas que temos tido, o meu pelotão tem andado sempre à frente, sendo a minha secção a “testa de ponte”. Até à data temos tido muita sorte, pois nada nos aconteceu de gravidade, apenas sofremos alguns arranhões de estilhaços de granadas”.

O meu pessoal olhou para mim e perguntou-me: “Porquê?”.

Eu respondi: “Não sei de nada são ordens!”

Passou então para a frente o outro pelotão, que era o do Furriel Vaqueiro, comandado pelo Alferes Almeida e começamos a atravessar a bolanha. Passado pouco tempo ouviram-se três tiros que pareciam de uma espingarda Mauser.Pensei eu então: “Os cabrões dos Milícias estão a brincar, pois só eles é que tinham Mauser’s”.

Pouco tempo depois começamos nós a passar, o outro pelotão já tinha passado todo e montou a segurança, para a nossa passagem. Eu ía à frente e quando saí da água surgiu o Cabo Enfermeiro, muito aflito dizendo: “Temos um soldado nativo morto e um soldado branco ferido - conhecido como Alfama.

Exclamei: “Não pode ser!”.

Mas era verdade. Cheguei-me mais adiante, tomando todas as cautelas e certifiquei-me que era verdade. Informei o capitão do sucedido e ele mandou-me arranjar pessoal, para transportar o morto. Como não era do meu pelotão, não devia ser eu a fazê-lo, mas as ordens eram para cumprir e não discutir, nem o momento era o mais adequado discutir ordens.

Os homens diziam que não eram capazes de levar o corpo, devido ao seu mau estado, já que, o mesmo, estava todo ensanguentado. Uma das balas tinha-lhe acertado na testa. Tive de ser eu então a “acarretar” com as despesas de levar o morto, com dois soldados nativos a ajudaram-me (eu a pegar nas pernas e eles em cada um dos braços).

Os tiros haviam cessado, mas quando recomeçamos a marcha, reiniciaram na minha direcção. Deitei-me no chão e disse aos meus 2 auxiliares, para me deitarem o cadáver em cima das costas, com as pernas viradas para os meus ombros. Assim fizeram. Levantei-me então de repente e toca a andar rapidamente.

Via as balas do IN levantarem poeira no chão, à minha frente. Tombo aqui, tombo ali, mas sem temor, tive que cumprir esta missão sem qualquer colaboração dos meus soldados brancos. Não me ajudaram nada!

Milagrosamente consegui sair ileso daquela perigosa zona e continuei mais umas centenas de metros. Depois de fazer uma pequena subida, mais adiante, o capitão mandou tirar-me o morto das costas. Como era de prever eu estava exausto, pois o calor apertava (eram perto da 13h00).

Bebi uma “Perrier” que costumava levar sempre comigo, mas não foi o suficiente pois sentia-me mal. Ao passar pelo Vaqueiro disse-lhe que estava com sede e ainda faltavam uns quilómetros para chegarmos a Banjara. Então este grande Amigo pegou na sua “Perrier” e ofereceu-ma.

Chegados a Bantajá, arranjou-se uma padiola para melhor transportar o morto e continuamos o caminho de regresso, com passagem por Tumania. Pareceu ouvir-se alguma coisa estranha, mas depois de investigarmos a área nada de anormal de detectamos, pelo menos, aparentemente, estava tudo como dantes.

O Capitão pediu dois ou três voluntários para irem à frente e mandarem uma viatura vir à berma da bolanha carregar o corpo. O único voluntário fui eu, pelo que segui sozinho, durante uns quilómetros, até Banjara.

Tinha andado um quilómetro, ou pouco mais, quando senti passos atrás de mim, mas ao longe. Pensei para comigo: “Vai haver “festa”, não pares.”

Quem vinha atrás de mim acelerava, quando eu acelerava também. Pensei que já era gozo de mais. Voltei-me rapidamente e verifiquei que era o Lamin - guarda-costas do nosso capitão -, isto perto da bolanha, onde já tínhamos sofrido várias emboscadas.

Acenei-lhe com a cabeça, dizendo-lhe que me devia ter avisado, pois como ele era negro, quase disparei sobre ele.
Cheguei à estrada perto do pontão, fiz sinal com a G3 para o quartel ainda distante, e logo uma viatura apareceu. Disse-lhes para irem à bolanha buscar um morto.

Chegamos a Banjara por volta das 16h00 e logo preparamos o regresso. Bebemos umas cervejas para refrescar e comemos uma “bucha”, após o que chegamos a Geba, por volta das 18h00.

Foi assim um dos dias mais triste da minha permanência na Guiné. Foi o único morto que tivemos em combate, depois de termos emboscadas com maior intensidade de fogo, incluindo granadas, e foi a minha última operação para os lados de Banjara.
Como na minha viatura ia uma Secção de Milícia de Sara Ganá, tive de ir lá levá-los. Quando lá chegamos o pessoal da Milícia deu a notícia da morte do nativo e relatou que tinha sido eu transportá-lo às costas. Gerou-se uma euforia doida de gritos: “Furriel… Furriel…”, eu estava de pé em cima da cabine da viatura e a população queria subir para me abarcar.

Eu não percebia o que se estava a passar. Perguntei: “O que é que se está a passar?”

“Não é nada de mal furriel, estão a agradecer-lhe por não deixar lá ficar o morto!”

E assim continuamos até Geba, seguido de um merecido banho, jantar e depois descansar. O cansaço era tanto que não houve pachorra para umas cervejas, nem sequer para um whiskiesinho. Dormir!

Seguiram-se mais uns dias que o IN nos deixou descansar, jogar à bola (que era o único divertimento), ou então ir até ao Rio Geba dar umas “cacholadas” na água e apanhar camarão.

Transcrição do Comandante da Companhia - Capitão de Infantaria José Faceira Teixeira - , em relação a Operação Jóia 1:

“A destacar no segundo contacto com o IN a acção do Furriel Miliciano de Infantaria – FERNANDO SILVÉRIO CHAPOUTO porque se comportou de maneira altamente decidida e corajosa quando se encontrava debaixo de fogo, oferecendo-se voluntariamente para transportar o soldado nativo morto, tendo-o feito ainda sob a acção IN, e praticamente sozinho durante distância considerável.
Este seu procedimento obrigou-o a expor-se abertamente ao perigo, mostrando possuir muita serenidade, coragem e presença de espírito, sobrepondo o acto cometido à sua própria vida. É francamente louvável o seu esforço e atitude, símbolos de verdadeira abnegação.”

Secção do Furriel Miliciano Vaqueiro (nossa Camarada tertuliano) - quarto homem de pé, a contar da direita. Em baixo, o primeiro a contar da direita, com um cachimbo na boca está o nativo morto nesta operação - Machado Cumbá.

Louvor averbado na minha Caderneta Militar

(Continua)

Um forte abraço do,
Fernando Chapouto
Fur Mil Op Esp/Ranger da CCAÇ 1426

Fotos: Fernando Chapouto (2009). Direitos reservados.

Guiné 63/74 - P5178: Humor de caserna (16): Ui!Ui!... A minha despedida da Tabanca Grande... com saída pela porta do cavalo! (José Belo, Suécia)

1. Mensagem, com data de 22 do corrente, enviada pelo nosso camarada José Belo, ex Alf Mil Inf da CCAÇ 2381, Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70, actualmente Cap Inf Ref, a viver na Suécia há mais de três dezenas de anos... 

  Assunto - A minha despedida da Tabanca Grande... com saída pela porta do cavalo! 

 É com profundo desgosto, e saudade antecipada, que termino a minha humilde participação no nosso querido blogue. "A sós comigo, sem me ter por amigo!", como tão genialmente escreveu Fernando Pessoa. Depois de curtas (?) linhas pseudo-humorísticas sobre os saudosos Ui!Ui! das margens do Rio Grande de Buba, que sempre julguei...ficarem entre Amigos, fui inesperadamente contactado, alta madrugada, pelos Serviços Secretos Finlandeses,com perguntas incessantes relacionadas com os meus escritos inocentes sobre os Ui!Ui! da Guiné (*). 

 Perante a minha perplexidade, esclareceram ser atentos leitores do blogue, e estarem principalmente interessados nas notícias relacionadas com as peles de Ui!U! desde os tempos em que as importavam, em grandes quantidades, através da Casa Gouveia de Bissau. Segundo eles, estas peles, pelas suas qualidades isoladoras, são ainda hoje o elemento fundamental dos capotes de Inverno das tropas Finlandesas (perante a inveja dos militares suecos e noruegueses que se lá vão contentando com as miseráveis peles de rena).

 Sabendo-me especialista em Ui!Ui! e conhecedor operacional do estratégico triângulo Buba/Mampatá/Empada, habitat preferido destes animais, queriam saber a data exacta do regresso dos bandos armados (agora sob o comando de um tal General Bruno) à zona referenciada (?!). Perante mais uma das minhas ingénuas perguntas sobre as razões que os levavam a assumir tal regresso, responderam enfadados, se eu julgava que eles não tinham lido cuidadosamente na Tabanca Grande algumas sólidas afirmações de que a guerra colonial não estava militarmente perdida (sic). Mais uma vez, tive que, respeitosamente, concordar com eles. (Para mais, os gajos eram uns matulões!). 

 Em troca desta minha possível informação de insider (como sói dizer-se!) entregaram-me videos, bandas sonoras e disquetes de computador com todas as conversas telefónicas e e-mails da Presidência da República em Belem, obtidas, segundo eles, através de um renegado. Como os camaradas devem começar a compreender... a coisaé séria. 

 Mas a maior surpresa ainda me estava reservada! Ao chegar a casa, e frente ao computador, não é que a primeira imagem do vídeo mostrava o Dr. Durão Barroso, aquando estudante universitário, num plenário comunista chino, com algo na cabeça, que, segundo as legendas finlandesas, era um gorro maoísta feite de pele de Ui!Ui! (tenho que confessar, num áparte patriótico, que não gostei do termo gorro usado pelos finlandeses, quando existe o termo genuíno português... barrete!). 

Eu só conseguia repetir a histórica frase do Sr. Almirante Pinheiro de Azevedo: -O Povo é sereno! O Povo é sereno! Mas o mais extraordinário ainda estava para vir. Os vídeos e escutas ilegais á Presidência da República mostravam, sem sombra de dúvida, a secreta utilização dos comprimidos LM-Laboratório Militar! As milhares de toneladas que sobraram quando em Abril de 74 se estabeleceu um INTERVALO (que espero curto!) no ciclo do Império colonial, estão actualmente armazenadas em grutas profundas nas ilhas Berlengas. (Devidamente documentado por fotografias de satélite espião russo, e por estes gentilmente cedidas aos finlandeses). Estes comprimidos LM, depois de convenientemente pintados a azul, são enviados para o mercado mundial sob o nome comercial de... VIAGRA! 

 Depois de tantas, e tão perigosas revelações, e na solitude da minha casa no extremo norte de Suécia, já bem dentro do círculo polar ártico, gostaria de poder utilizar o método dos guerrilheiros do PAIGC e pendurar-me numa árvore a meditar. Só que os 25 graus negativos lá fora, tornam a coisa inconfortável. Até lá, e enquanto procuro encontrar saída para a perigosa situação em que me encontro, estarei afastado de Vós! 

 Adeus até ao meu regresso! José Belo,  Estocolmo, 22/10/09

 PS 1 -A bem da verdade... Não só eu, mas todos os Camaradas, que, dentro do seu pequenino bando armado tiraram férias na Guiné, têm como obrigação patriótica de corrigir um erro histórico gravíssimo, cometido por um de entre nós, ao assumir a autoria quanto à técnica de respirar por palhinha na bolhanha. A citada técnica, e para tal tenho em meu poder a PALHINHA ORIGINAL, gentilmente oferecida por um dos Srs. Coronéis dos Serviços Secretos Finlandeses (que me está a servir para beber vodka directamente da garrafa enquanto Vos escrevo!) foi ensinada pelo paizinho do Sr. Presidente Barak Obama, aquando uma das viagens por este feita á costa ocidental africana, quando por mero acaso encontrou o então Capitão Bruno na mata do... Pilão! A primeira experiência com resultados documentados foi efectuada por este distinto camarada na piscina do clube de oficiais em Bissau.

 PS 2 - Um abraço do tamanho da distância da Suécia a Portugal! http://www.youtube.com/watch?v=wzmaG7yE2yY 

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 Nota de L.G.:

 (*) Vd. postes de: 


quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Guiné 63/74 - P5177: Em busca de... (101): Procuro qualquer informação sobre o pessoal da CART 3567 (Marcelino – Pira de Moscavide)

1. Mensagem do ex-Fur Mil At Inf Jorge Canhão, da 3ª Companhia do BCAÇ 4612/72, Mansoa 1972/74, datada de 21de Julho de 2009:

Camaradas,

Recebi um telefonema de um Camarada da CART 3567 - o Marcelino -, que esteve em Mansabá entre 1972 e 1974, dizendo-me que deseja contactar os seus Camaradas desta sua companhia.

Estive a consultar o blogue, e verifiquei que anda mais um Camarada a tentar, também ele, entrar em contacto com os restantes - o Manuel Henrique Faria (através da filha Paula Sofia, no poste P5018) -, mas não deixaram qualquer indicação para se entrar em contacto com eles!

No mesmo poste P5018, em comentários, o Xico Allen deixou em 27 de Setembro de 2009, a seguinte mensagem:

Olá boa noite gente boa.
É verdade q pouco ou quase nada transmito para a nossa Tabanca, mas quando precisa de apoio e eu estou informado, logo levanto o braço. Bom, sabemos q o Zé Martins está bem documentado, para a ajudar a localizar o pessoal da 3567 (a minha era a 3566), que saiu de Penafiel e chegou ao Cumeré em 27 de Março de 72. Tenho alguns contactos, o Bateira, penso q era o furriel mec. e o Véras q era delegado da Comp. em Bissau. Vive em Valpaços mas é de Chaves.
Abraços.
Xico Allen

Além desta informação, gostava de deixar aqui no blogue o seguinte:

APELO
Ao pessoal da CART 3567
"Os Insaciáveis"
1972/74

O vosso Camarada Marcelino (o pira Moscavide), pretende encontrar os seus camaradas da CART 3567. Neste momento está a viver em Gouveia. O nº do seu telemóvel é: 966 446 678.

Também podem enviar-me um e-mail, para o meu endereço pessoal, que eu transmito-lhe a mensagem: jorge_canhao@netcabo.pt

Abraços,
Jorge Canhão

Emblemas de colecção: © Carlos Coutinho (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

(*) Vd. poste “Em busca de…” referente à mesma companhia em:

(**) Vd. último poste da série em:

24 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5152: Em busca de... (100): Informações sobre António Vieira, 1º Cabo RT COMANDO - 15ª Companhia de Comandos (Valdemar Pinto)

Guiné 63/74 - P5176: FAP (35): O trágico acidente aéreo de 25 de Julho de 1970, no Rio Mansoa (Carlos Coelho / Jorge Félix / Jorge Narciso)




Fotos do Jorge Coelho (ex-Alf Mil Pil) e do Carlos Coelho, Fritz (Fur Mil Pil), de 2008 (a primeira,de cima para baixo) e de 1969 (a segunda).

Fotos: © Jorge Félix (2009). Direitos reservados


1. Comentário do Carlos Coelho, com data de 26 do corrente (*)

Por hoje só quero esclarecer um pequeno detalhe, o terceiro helicóptero era pilotado pelo Furriel Mil Pil Av Coelho - Carlos Coelho - mais conhecido por Fritz. Dentro em breve voltarei à vossa presença para tentar dar algumas respostas às perguntas que pairam sobre o que se passou naquela tarde. Carlos Coelho - Fritz.

2. Mensagem de L.G. enviada ao Jorge Félix, ex-Alf Mil Pil Av Heli Al III:

Jorge: Como vai essa bizarria ? Essa saúde ? Este estado de alma ? O Fritz é do teu tempo... Infelizmente náo mandou o endereço de e-mail...Dou conhecimento também ao Jorge Caiano, que está no Canadá, e que também foi protagonista dos acontecimentos [ o acidente de heli, no Rio Mansoa, de 25/10/70]... Abraço. Luís


3. Mensagens do Jorge Félix:

(i) Caro Luís: Junto um email que contem as fotos do encontro, o último, e de uma vivência que tive com o Coelho. Segue também o endereço do Fritz. Jorge Félix.


(ii) Caríssimo: Não vale a pena chorar sobre a minha saúde.... é o que se pode arrumar.

O Fritz , grande amigo, foi largado por mim na Guiné. Muita água da Bolanha, congelada, foi bebida a empurrar o whisky, aturando cada qual, a lenga lenga do outro. Ele, Furriel Coelho, Comandante da TAP, era, naquele acidente, que é o que neste momento interressa, o terceiro daquela formação. Terceiro mas talvez o mais avisado daqueles aviadores. Sei o que aconteceu, contado pela pessoa do Coelho, mas, visto que ele prometeu voltar, esperemos pela sua narrativa.

O Manso, foi o Camarada que me rendeu. O Jorge Caiano julgo ser o que foi substituir o Pinto. Não convivi com eles tempo que me dê qualquer lembrança.

Tenho fotos do Coelho e do Cubas... Depois das notas do Coelho, se for caso que valha a pena, junto as fotos.

Desculpa a trapalhada das palavras, a química cerebral tem destas coisas. Um abraço para toda a família guineense.

Jorge Félix

4. Mensagem do Jorge Narciso, enviada ao Carlos Coelho, através de comentário ao Poste P3292 (*):

Olá, Coelho (Fritz)

Eu sou o Jorge Narciso, era mecânico nos helis e coabitámos neles na Guiné. Não sei se te lembras de mim, mas folgo reencontrar-te.Também eu emiti um comentário (ao poste da Sofia Bull) acerca do acidente que ficará a léguas do que poderás dizer enquanto interveniente directo no que aconteceu. Fico à espera. Recebe um abraço. Jorge Narciso.

5. Comentário do Jorge Narciso ao
Poste P5162 :

Olá, Luís e Sofia:

Apresentando-me: Jorge Narciso, ex-Cabo Especialista MMA (Mecânico de Avião), colocado na linha da frente dos helis (Alouette III), na BA12 - Guiné, entre Abr 69 e Dez 70.

Tinha um comentário sobre este assunto completamente pronto para editar, quando a linha caiu e com ela o alinhamento de ideias que acabava de digitar.

Fiquei desapontado quando tentava ajudar a perceber à Sofia (filha do meu companheiro Bull, que há uns anos não vejo e muito gostaria reencontrar) as causas que impediram que viesse a conhecer o seu avô paterno [ James Pinto Bull].

Assim e para obviar uma nova e eventual quebra, vou tentar sintetizar as ideias com o risco naturalmente de passar por cima de alguns pormenores.

Assim:

(i) Confirmo que o acidente se registou num domingo, dia em que o movimento de voos era muito reduzido e no caso se resumiu a esta missão. E confirmo-o por 2 factos,

a) Porque estava escalado para esse voo, tendo inclusive estado e pronto a partir, no helicóptero acidentado (já com os rotores a funcionar e portas fechadas) só não seguindo porque chegou entretanto à placa o malogrado Capitão do Exército para integrar a visita e que face à lotação completa que se registava nos helis, tomou o meu lugar por determinação do comandante de Esquadra, seguindo a missão com o suporte técnico do Mecânico Electricista (Caiano) (**) já antes sediado no Heli 1.

b) Tendo ficado de alerta à linha, coube-me aguardar o resto do dia pelo regresso dos helis para os receber e arrumar.

(ii) Confirmo também que os helis eram pilotados por:

- Heli 1 (Comandante) Cap Cubas
- Heli 2 (acidentado) Alf Manso
- Heli 3 - Fur Coelho

(iii) Para mais de meia tarde e quando já estranhava o atraso no retorno da missão, foi-me solicitado o aprontamento de um hali, no qual, pilotado pelo Ten Pereira (penso que já falecido) e pelo Fur Galinho (que no caminho me informou sucintamente do que se passava), participei na 1ª ida ao local do acidente.

(iv) As condições atmosféricas que atravessamos eram, apesar de normais nessa época do ano, particularmente más (das piores que registei no mais de ano e meio de voos sobre toda a Guiné), com vento e chuva muito fortes e tendo que no caminho ir fazendo desvios para contornar aglomerados de nuvens de forte borrasca.

(v) Na, apesar de tudo, rápida chegada ao local e apesar da fraca visibilidade distinguiram-se apenas dois (dos três) helis aterrados (julgo que um em cada margem do rio) junto aos quais aterrámos sucessivamente procurando perceber a ajuda necessária , sendo evidente nos dois casos a estupefacção e o choque de todos os ocupantes.

Referiram os pilotos que foram envolvidos por uma súbita borrasca (tornado?) com drástica perda de visibilidade e obrigando a aterragens mais que forçadas e, penso que no 3º heli, referida a visão dum clarão (embate do outro aparelho na água ?)

(vi) Face à manutenção das condições climatéricas e aproximação da noite, e feitas ainda algumas passagens sobre o a área envolvente, na busca de algum sinal do 3º heli, o que se mostrou infrutífero.

Finalmente encetou-se o regresso à base, acompanhando e guiando os 2 helis sobreviventes.

(vii) No dia seguinte e logo que a luz o permitiu iniciaram-se as buscas, com os mais diversos meios envolvidos, no meu caso integrando a equipa de um heli com guincho, pilotado inicialmente pelo Cap Cubas, com outro mecânico (Caroto) e acompanhados pelo Bull, que assim também participou nessas buscas , para ele em condições particularmente difíceis pelos motivos óbvios.

Tais buscas mantiveram-se até que a Marinha conseguiu localizar o que restava do aparelho no fundo do rio.

Sendo eventualmente redundante em relação a outros relatos (apesar da efectiva factualidade deste), espero desta forma contribuir para que de vez cessem especulações e outras teorias quanto às causas do acidente.

Apresento saudações ao blogue na pessoa do Luís e à Sofia (que vou tentar contactar através do possível do endereço de Face book sugerido, até como forma de eventualmente chegar ao Bull) (***).

_________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 10 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3292: Controvérsias (3): O acidente de helicóptero que vitimou Pinto Leite (J. Martins / J. Félix / C. Vinhal / C. Dias)

(**) Vd. poste de 10 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3866: FAP (7): Troca de lugar no ALL III salvou-me a vida, em 25 de Julho de 1970 (Jorge Caiano, mecânico do Alf Pilav Manso)

(***) Último poste da série FAP > 22 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4991: FAP (34): A heli-evacuação do malogrado Cap Cav Luís Rei Vilar em 18/2/1970 (Jorge Félix)

Guiné 63/74 - P5175: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (12): Feira de São Simão (José Eduardo Reis de Oliveira)



1. O nosso Camarada José Eduardo Reis de Oliveira (JERO), foi Fur Mil da CCAÇ 675 (Binta, 1964/65), enviou-nos o seguinte convite, com data de 26 de Outubro de 2009:


Camaradas e Amigos,

Alcobaça é pela A-8 um tiro (salvo seja...). Estão convidados. Acabei de receber os 150 aéreos do SEP e vão ser gastos com os camaradas da Guiné. Portanto é aproveitar que para o mês que vem já não há. Este convite não invalida a obrigatoriedade de virem aos "DOCES CONVENTUAIS", que se realiza de 12 a 16 de Novembro. Imperdível. Aguardo notícias.

Um abraço,
JERO
Fur Mil Enf da CCAÇ 675

CONVITE

Feira de São Simão (Alcobaça)

"Gab. Comunicação Rel. Públicas [Alcobaça]"

Assunto: Feira de São Simão de 28 de Outubro a 1 de Novembro Alcobaça Entrada Livre Inaugura esta 4.ª Feira 15h00.

Como manda a tradição prepare a cesta e o espírito para o regresso do são convívio em volta dos manjares e frutos secos da época. Gastronomia, produtos regionais, artesanato e muita animação são as propostas do Município de Alcobaça para os dias 28 de Outubro a 1 de Novembro.

A inauguração está marcada para as 15h00do dia 28 de Outubro.

Cinco dias onde pode encontrar, na Feira de São Simão, as melhores passas, castanhas, pinhões e nozes, para além dos queijos, dos enchidos, das compotas, dos vinhos regionais, e muito mais.

As tasquinhas, a animação musical e outras actividades marcam também estes dias de festa, contando a organização com a presença da "Bandinha D?Alegria", do grupo"Isaac Sound", do "Grupo Soão", da "Orquestra Juvenil da Cela", do "Leiricanta - Grupo de Música Tradicional Portuguesa do Ateneu Desportivo de Leiria", de um espectáculo de Folclore e para finalizar, no dia 1 de Novembro, com a actuação do grupo "Os Alentejanos".

Para animar a Feira, este ano a organização conta ainda com uma demonstração de "Krav Maga" - uma arte marcial de defesa pessoal.






















Local: MercoAlcobaça
Horário:
4.ª, 5.ª e 6.ª feira: 15h00 às 23h00
Sábado e Domingo: 12h00 às 23h00
Entrada livre

Os melhores cumprimentos
Gabinete de Comunicação e Relações Públicas
Ana Mafalda Cândido
mafalda.candido@cm-alcobaca.pt gcrp@cm-alcobaca.pt
+351 262 580 843/61
___________
Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:


Guiné 63/74 - P5174: Os nossos médicos (11): O malogrado Cap José Joaquim Marques de Oliveira (Francisco Feio, CCAV 2484, Jabadá, 1969/70)

Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > O nosso camarada Rui Alexandrino Ferreira, Cor Ref, também passou por aqui, na sua primeira comissão, como Alf Mil, CCAÇ 1420, 1965/67 (ei-lo aqui na foto, com a mascote da companhia, a Eusébia). Voltaria mais tarde, como Capitão Miliciano, para comandar a CCAÇ 18, mais a sul, na Aldeia Formosa (1970/72). Para outros camaradas, Fulacunda foi um local de tristes memórias...


Foto: © Rui Ferreira (2009). Direitos reservados.


1. Em complemento da informaçã prestada no poste 21 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5138: O segredo de... (9): Fur Mil J. S. Moreira, da CCAV 2483, que feriu com uma rajada de G3 o médico do BCAV 2867 (Ovídio Moreira):

Ontem à noite, o Francisco Feio telefonou-me, para clarificar alguns pontos, que ficaram obscuros, desta história. Ele tinha-me prometido falar com alguns camaradas do batalhão que estavam mais por dentro dos acontecimentos. Eis, no essencial, o que ele me transmitiu:

(i) O médico, com o posto de capitão, chamava-se José Joaquim Marques de Oliveira; foi atingido, no baixo ventre, com uma rajada de G3, disparada pelo Moreia; sobreviveu aos ferimentos, mas com sequelas graves... Ao que parece, já não é hoje vivo... (Não se sabe nada sobre a sua carreira médica, depois do regresso da Guiné) (*).

(ii) O Fur Mil Moreira também era conhecido como Guimarães, cidade de onde era natural; a PM veio de propósito, a Fulacunda (onde aconteceu a tragédia), prendê-lo e levá-lo para Bissau; também já não pertence ao número dos vivos; ainda foi uma vez ao convívio da sua companhia, mas teve dificuldade em encarar os seus camaradas; acabrunhado, nunca mais voltou a estes convívios anuais. Tudo indica que o Moreira não chegou a cumnprir a pena de prisão maior (?) a que foi condenado; terá sido amnistiado com o 25 de Abril.

(iii) Estes trágicos acontecimentos ter-seão passado em Fulacunda e não em Nova Sintra: O Moreira pertencia à CCAV 2483, Cavaleiros de Nova Sintra, do BCAV 2867, sediado em Tite (onde estava habitualmente o Cap Médico); em Fulacunda decorria então uma operação a nível de batalhão.

(iv) Voltei a confirmar que o mundo é pequeno e o nosso blogue...é grande! Imaginem que o Francisco Feio é vizinho e amigo do nosso camarada Mário Dias, Mário Roseira Dias, sargento comando reformado... Ambos têm em comum, para além da Guiné, a paixão pela música coral.


O Francisco é dos quatro ou cinco sobreviventes do grupo de fundadores do Grupo Coral Alius Vetus (nome latino do topónimo Alhos Vedros). Daqui a dois anos o grupo celebra os seus 25 anos... O Sr. Mário (como é respeitosamente tratado pelo Feio) esteve mais de dez anos no Grupo Coral. Depois afastou-se e dedica-se à composição musical (Há tempos confidenciou-me que está a acabar uma cantatata). Há várias peças dele no reportório actual do grupo.

O Francisco Feio é um cidadão empenhado, activo, entusiasta, positivo, que em breve irá integrar a nossa Tabanca Grande. Além de baixo no coro, é director de uma colectividade local e presidente da mesa da assembleia geral da Junta de Freguesia de Alhos Vedros, uma orgulhosa vila, histórica, que foi sede de concelho até à reforma administrativa de 1855... Hoje está integrada no concelho da Moita, mas há (ou chegou a haver, em tempos) um movimento local a favor da restauração do concelho. (Fonte: Wikipédia > Alhos Vedros
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Notas de L.G.:

(*) Postes da série Os Nossos Médicos:

15 de Fevereiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3899: Os nossos médicos (1): Alf Mil Médico José Alberto Machado (Nova Lamego)

2 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4891: Os nossos médicos (2): Tierno Bagulho e Pio de Abreu (Canchungo, 1971/73) (Luís Graça / António Graça de Abreu)

6 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4910: Os Nossos Médicos (3): Os especialistas eram poucos, e não gostavam de ir para... o mato (Armandino Alves, CCAÇ 1589, 1966/68)

8 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4918: Os nossos médicos (4): Um grande amigo, o Dr. Fernando Enriques de Lemos (Mário Fitas, ex-Fur Mil, CCAÇ 763, Cufar, 1965/66)

8 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4920: Os nossos médicos (5): Um grande homem, militar, clínico e matosinhense que me marcou, o Dr. Azevedo Franco (José Teixeira)

8 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4923: Os nossos médicos (6): Homenagem ao Alf Mil Med Barata (Binta) e ao HM 241 (Bissau) (JERO, ex-Fur Mil Enf, CCAÇ 675, 1964/66)

23 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5143: Os nossos médicos (7): Prof Doutor José Madeira da Silva, otorrino, em busca dos ex-camaradas de Bula e Pelundo, 1973/74

Guiné 63/74 - P5173: Agenda Cultural (38): Em Nome da Pátria, de Brandão Ferreira: Hoje, às 18h00, na Academia Militar, em Lisboa




1. Mensagem que nos acaba de ser enviada, com pedido de divulgação, pelo nosso camarada Beja Santos:


Assunto - Chefe-Maior do Exército na apresentação de livro polémico sobre guerra colonial


Promoçáo editorial:

O chefe do Estado-Maior do Exército, General JOSÉ LUÍS PINTO RAMALHO, preside HOJE, às 18h00, na Academia Militar, ao lançamento do livro Em Nome da Pátria, do tenente-coronel [Pilav Ref João José ] Brandão Ferreira.

Na obra, o autor considera vergonhoso que Portugal tenha desistido da Guerra do Ultramar (o autor recusa a expressão guerra colonial) e abandonado África. Conclui que a descolonização «enfraqueceu» o país.

O livro será apresentado pelo professor Adriano Moreira.

Para mais informações contactar:

Marina Ramos

Telf.: 21 0417380
Telemóvel: 935745556

PS - O li vro é editado pela Leya.

A Leya é a empresa holding que integra as editoras Asa, Caderno, Caminho, Casa das Letras, Dom Quixote, Estrela Polar, Gailivro, Livros d'Hoje, Lua de Papel, Ndjira (Moçambique), Nova Gaia, Nzila (Angola), Oceanos, Oficina do Livro, Sebenta, Teorema e Texto.

Guiné 53/74 - P5172: Estórias cabralianas (56): Cum caneco, alfero apanhado à unha! (Jorge Cabral)

Um caneco que ainda vai fazer furor entre as bajudas da Guiné-Bissau, na próxima incarnação dos guerreiros do Império: "Kiss me, I'm an Alfero" [Beija-me, sou um Alfero]...

Foto: © Jorge Cabral (2009). Direitos reservados.


1. Mensagem de Jorge Cabral (que já não precisa de apresentações ao fim destes anos todos, é como o meu velhote, que é o sócio nº 1 do Sporting Clube Lourinhanense, por morte de todos os outros gajos que eram mais importantes do que ele):

Amigos!

Uma 'estória' que fala em apanhados à mão, mas que nada tem a ver com o Anónimo de Pirada! Talvez tenha sim, com os Pirados de Missirá...

Abraços Grandes

Jorge Cabral


PS - Quando voltar à Guiné, em vez dos 'corpinhos' (*), vou oferecer às Bajudas, estas belas canecas


2. Estórias cabralianas (**) > Alfero apanhado à mão
por Jorge Cabral


Alferes apanhado à mão? Helicópteros e Cavalaria Turra?

Há uns dias telefonou-me o nosso Amigo Durães [, da CCS/do BART 2917, Bambadinca, 1970/72]. Estava em Setúbal, com um ex-cabo do Pelotão de Intendência de Bambadinca, o qual lhe jurava que o Alferes Cabral de Missirá havia sido, em 1971, apanhado à mão, quando regressava ao seu Destacamento.

Desaparecido durante dias, fora muito bem tratado pelo pessoal de Madina, passando a não ser incomodado pelos Turras. Garantia o homem da Intendência, a absoluta veracidade do evento, conhecido por todos os seus Camaradas. Queria o Durães saber se eu confirmava o facto.

Aqui, muito entre nós, confesso que hesitei na resposta. Que bela 'estória'! Podia aproveitar e descrever umas bem regadas churrascadas com o Comandante Corca Só (***) e talvez mesmo uns serões de striptease balanta…

Mitos, lendas, ficções. Por mim, tudo bem. Também fazem parte da História…

Não observaram os meus soldados, aviões e até helicópteros turras? Contra os quais aliás, descarregavam as G-3, num esforço tão absurdo quanto inglório.

E como em Missirá se exagerava sempre, chegaram a ouvir durante a noite ruídos próprios de Tanques, para os lados de Salá. A Cavalaria Blindada Turra em manobras, garanti eu, tendo no entanto recusado ensaiar umas morteiradas como me pediram insistentemente.

Quase no fim da Comissão, cheguei a ir a Madina com os Páras, e entrei mesmo na Base, pois os Guerrilheiros retiraram, indo montar uma emboscada, que me apanhou no meio da CCaç 12, a caminho do Enxalé.

Tendo ido sem o Pelotão, quando voltei a Missirá fui objecto da curiosidade de todo o Pessoal.
- Como era? E os Tanques?
- Claro que os vi - assegurei - Dois soviéticos, um chinês e quatro cubanos…

Veículos na Base? Encontrei pois, duas bicicletas…

Jorge Cabral

2. Comentário de L.G.:

A cabraliana, a estória cabraliana, é já um género literário, reconhecido e estudado na Universidade. Daqui uns anos alguém fará douramentos sobre este material altamente revelador da dissonância cognitiva e falta de alinhamento dos bandos que, na Guiné, por detrás do arame farpado, defendiam a honra da Pátria (Bruno dixit)...

Como se pode deduzir da leitura de mais esta cabraliana, o boato (desmoralizante) tinha um efeito dissolvente no moral das nossos tropas, como um dia opinou um PIDE/DGS à minha frente, no Café do Teófilo, em Bafatá. Como é possível imaginar o nosso Cabral, o único, o verdadeiro (porque o outro era um renegado...) (***), apanhado à unha e depois em altos conciliábulos e quiçá orgias com o Corca Só e a sua corja de Madina/Belel ?!...

Ainda bem que o Cabral tem, por fim, a oportunidade histórica e soberana de , aqui, no blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, de lavar a sua honra e reafirmar o seu impoluto patriotismo. A guerra da Guiné foi demasiado real para a gente sequer poder ficcioná-la ou fazer humor negro, com ela, com os seus heróis e com as suas vítimas.
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Notas de L.G.:

(*) Sutiãs: vd. 16 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2354: Estórias cabralianas (29): A Festa do Corpinho ou... feliz o tuga entre as bajudas, mandingas e balantas (Jorge Cabral)

(**) Vd. último poste desta série > 17 de Outubro de 2009 >Guiné 63/74 - P5117: Estórias cabralianas (55): Marqueses e murquesas ou... Peludas e Peluda... (Jorge Cabral)

4 de Julho de 2006 >Guiné 63/74 - P935: Porque não me mataram ou apanharam à mão em Missirá ? (Jorge Cabral, Pel Caç Nat 63)

(***) Corca Só: Comandante das forças do PAIGC, na 'base' de Madina / Belel, a noroeste de Missirá, a norte do Rio Geba, já no limite do Sector 1, nos finais de 1960 e princípios de 1971...

Vd. poste de 22 de Novembro de 2007 >Guiné 63/74 - P2294: De Madina para Missirá... com amor: a mina da despedida (Luís Graça / Humberto Reis / Beja Santos)

(...) Na véspera de sair do destacamento de Missirá, com os seus homens do Pel Caç Nat 52 - para ser colocado em Bambadinca, sede do BCAÇ 2852 (1968/70) - o Alf Mil Mário Beja Santos é vítima de uma mina anticarro, no percurso de regresso a casa, na estrada Finete-Missirá, perto de Canturé... Ele e mais duas secções (...)

Diz a lenda que a mina era para o Beja Santos e trazia um bilhete do Corca Só, o comandante da base do PAIGC em Madina/Belel... Nunca ninguém leu o alegado bilhete, pregado numa árvore e que se terá volatizado... Mas se o Corca Só fosse um verdadeiro cavalheiro e conhecesse os romances e/ou os filmes da série James Bond - o que era de todo improvável - teria escrito, ao melhor estilo da luta de libertação, o seguinte bilhete: 'De Madina para Missirá... com amor' . (...)


Vd. também:

16 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2270: Operação Macaréu à Vista - Parte II (Beja Santos) (9): E de súbito uma explosão, uma emboscada, um caos...

24 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P905: A morte na estrada Finete-Missirá ou um homem com a cabeça a prémio (Luís Graça)

26 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P911: Uma mina para o 'tigre de Missirá' (Luís Graça)(...)

(...) Era voz corrente que o Beja Santos, conhecido entre os seus camaradas milicianos como o Tigre de Missirá, tinha a cabeça a prémio no regulado do Cuor... Exagero ou não, o próprio Beja Santos reconhece publicamente este facto (...) (Vd. post de 24 de Junho de 2006): A 15 de Outubro devíamos ter regressado mais cedo. O Comandante local do PAIGC, Corca Só, já me tinha ameaçado de morte, tendo mesmo deixado um bilhete na estrada. Saímos tardíssimo de Finete, o sol a cair a pique, como acontece nos trópicos (...).


(***) Vd. postes de:

10 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4403 - P4494: A Tabanca Grande no 10 de Unho de 2009 (2): Cabral só há um, o de Missirá e mais nenhum (Luís Graça)

4 de Julho de 2006 >Guiné 63/74 - P935: Porque não me mataram ou apanharam à mão em Missirá ? (Jorge Cabral, Pel Caç Nat 63)

Guiné 63/74 – P5171: Histórias de José Marques Ferreira (7): Jornal da Caserna (1)



1. O nosso Camarada José Marques Ferreira, que foi Sold. Apontador de Armas Pesadas da CCAÇ 462, Ingoré 1963/65, enviou-nos com data de 26 de Outubro de 2009, o primeiro de alguns extractos, que nos irá enviar futuramente, do "Jornal da Caserna" da sua Companhia:


Camaradas,

Há já algum tempo que ando ausente da tertúlia da Guiné e Camaradas. Pensei (e quando isto acontece, é sinal de que, às vezes, penso mal) que se haviam esgotado as “estórias” da minha estadia na Guiné, ou melhor, do meu turismo naquelas terras de vermelho.

Se alguns acontecimentos neste interregno aconteceram, até falhei um encontro com um dos nossos editores – Magalhães Ribeiro –, porque no dia em que tive uma oportunidade para ir ao Porto, e depois aí realizarmos o nosso contacto e encontro, esqueci-me do telemóvel em casa. Desculpa, mais uma vez, MR.

Não sei se já dei conhecimento à tertúlia, que fundei, em Ingoré, um pequeno «Órgão de Comunicação Social», com a designação já pouco usada actualmente, de: "JORNAL DA CASERNA".

Então lembrei-me que nos diversos exemplares de «Jornal da Caserna», que guardo e preservo desde então, há artigos quer da minha autoria, quer de outros camaradas, que, merecem ser publicados e, certamente, que eles vão gostar de os tornar a ler, aqui no blogue.

Conheço-os a todos, mas desde a desmobilização que nunca mais nos voltamos a cruzar. A identificação de cada um dos autores vai surgir no desenrolar da postagem de vários artigos que vos vou enviar, sendo esta, também, uma boa forma de os darmos a conhecer ao restantes Camaradas e Amigos, e, ao mesmo tempo, nós os recordarmos.

Creio bem que os autores quando descobrirem aqui, os seus textos ficarão agradavelmente surpreendidos.

Para nós da CCAÇ 462… poderá até ser o início do reencontro pessoal!

Hoje, transcrevo uma história cujo autor assinava com o pseudónimo “Flash” (o Alf Mil Geraldes), que era o ilustrador do «Jornal da Caserna» e possuía jeito e vocação para o desenho, e caricatura, fora do comum. O título da sua história, baseada em factos reais, como todas as que relato da Guiné, era a seguinte:

Duas horas de espera em S. Vicente

Estava eu aborrecido na margem do Cacheu esperando cambança. A jangada com um desarranjo aborrecido, continuava parada e as horas passavam… algumas moscas aborrecidas passeavam nas nossas mãos e na cara, provocando uma revolta que se traduzia em palmadas desesperadas nos locais em que elas pousavam.

Alguns patos bravos, pegas e outras aves cruzavam o ar sobre as nossas cabeças com toda a sorte de pios extravagantes.A meu lado, sentados, silenciosos e imóveis, alguns nativos esperavam também que a jangada se resolvesse a passar-nos. Com resignação comecei a olhá-los, aos seus enfeites de argolas, latas, o corpo suado devido ao sol que nos martelava lá do alto e os seus movimentos cadenciados para afastar os insectos… foi então que reparei mais em pormenor num deles.

Era um moço forte, alto e desenvolvido, rosto impassível igual a tantos outros, o seu braço direito estava cortado pela articulação do cotovelo… depois de alguns segundos de exame distraído à sua mutilação, ia a desviar o olhar quando ele voltando os olhos para mim por curto espaço de tempo, fitou o toco mutilado do seu braço.

Pressenti que ele ia dizer alguma coisa e olhei-o mais atentamente, ele bateu com o braço esquerdo no que restava do braço amputado, e, com um sorriso em que deixou entrever uns dentes grandes e separados e num tom de voz forte, quase divertido, afirmou: “Lagarto”. Compreendi que ele me explicava aquela mutilação e abanei a cabeça, mostrando atenção ao que ele me disse e encorajando-o a continuar.

Tinha sido duas chuvas atrás, de manhã muito cedo quando ele, Samba, acompanhado do seu filho, um macho ainda novo, de poucas chuvas, se meteram na canoa para atravessar o Cacheu e chegar à outra margem onde o arroz semeado esperava os seus braços para produzir o suficiente para aguentar no tempo seco.

Samba, deitado na parte traseira da canoa, preguiçosamente auxiliava as remadas do filho, com o braço metido na água, movimentando-o qual o remo tosco que o filho utilizava. Subitamente um vulto esverdeado sulcou a água, e, Samba sentiu a dor aguda de muitos dentes fortíssimos dum lagarto.

Devia ter-se sentido muito aflito, pois nos seus olhos prespassou uma sombra quando contou esta passagem, depois a canoa começou a balançar perigosamente ameaçando voltar-se pelos puxões violentos do crocodilo. Samba olhou o filho ainda novo e sentiu um medo que o pelou, mas um pensamento súbito iluminou-o e, com um repelão a sua mão esquerda segurou o cabo da faca afiada que trazia à cintura… depois com golpes rápidos, os dentes e lábios apertados cortou com a faca os ligamentos do braço no cotovelo, e, foi o bastante para que com um estalido seco o crocodilo mergulhasse nas águas amareladas do Cacheu levando na boca, bem preso nos seus afiados dentes o braço valente daquele homem, que, após o seu acto de heróico desespero ficaria caído sem sentidos no fundo da canoa com um coto sangrento e uma faca na mão esquerda.

Quando a sua narrativa terminou, fiquei a olhá-lo, em olhar mudo de admiração e não tive palavras para perguntar nem dizer mais nada… e ele sorria.A jangada começou a funcionar com um lento ranger de ferros desconjuntados, as aves com os seus pios estranhos e as moscas continuavam a sobrevoar-nos.

Fiz um aceno ao homem e dirigi-me ao sítio de atraque.

Finalmente íamos passar!!!”



Nota: A ilustração é exactamente um possível retrato da frente do aquartelamento em Ingoré, impresso no cabeçalho do «Jornal da Caserna» na sua segunda edição. A primeira era dactilografada, e só o original é que era ilustrado pelo camarada Geraldes.

Para todos um abraço,
J.M. Ferreira
Sold Ap Armas Pes


Gravura: José M. Ferreira (2009). Direitos reservados.