segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5324: FAP (37): TEVS a Aldeia Formosa e Buba (Jorge Félix)

1. O nosso Camarada Jorge Félix, ex-Alf Mil Pil, BA12 - Bissalanca -, 1968/70, enviou-nos a seguinte mensagem, em 21 de Novembro de 2009:

Assunto: P5304 - Aldeia Formosa e Buba

Caro Luís,

Na impossibilidade de mandar imagens nos comentários, agradeço faças chegar estas informações ao autor do P5304, Arménio Estorninho.
Nas datas a que o A. Estorninho se refere, 4 de Janeiro de 1969, estive em Aldeia Formosa e Buba a fazer um TEVS.

A outra data, que ele refere 22 de Janeiro de 1969, eu tenho no dia 21 de Janeiro de 1969, quatro TEVS a BUBA.

Será que são outros acontecimentos?

Um abraço
Jorge Félix
Alf Mil Pil na BA 12
__________
Nota de MR:

Vd. poste anterior desta série em:

domingo, 22 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5323: Estórias avulsas (17): Reencontro de irmãos (Armandino Alves)



1. Em 21 de Novembro de 2009, recebemos uma mensagem do nosso Camarada Armandino Alves, que foi 1.º Cabo Auxilitar de Enfermagem na CCAÇ 1589 (Beli, Fá Mandinga e Madina do Boé, 1966/68):


Camaradas,

Hoje lembrei-me de uma história, passada em Bissau, de que, de vez em quando, me lembro com alguma nostalgia e tristeza, pois apesar de na altura ter constituído para mim uma grande surpresa, não me foi muito agradável e, depois de ter conseguido ultrapassar alguma hesitação pessoal, decidi contar-vos.

Serve esta assim, como a modos de uma pequena homenagem ao meu, entretanto, falecido irmão.

Reencontro de 2 irmãos

Como já vos contei fui em rendição individual, para a CCaç 1589, que, naquela altura, se encontrava aquartelada no 600 em Stª Luzia.

Um dia estava eu na secretaria da Companhia (porque apesar de ser enfermeiro, gostava de ajudar o 1º Cabo Escriturário, o qual aproveitava esta minha “fraqueza” para se desenfiar), quando entrou um 1º Sargento, já de uma certa idade, que me perguntou pelo Comandante de Companhia.

Eu disse-lhe que o mesmo não estava, mas que se me dissesse o que desejava, eu poderia indicar-lhe a quem se dirigir.

Então o 1º Sargento contou-me a história que o levou ali: “Um soldado tinha escrito à mãe, a solicitar-lhe que lhe enviasse uma certa quantia em dinheiro, pois tinha partido a coronha de uma G3, e se não a pagasse ia preso.”

A mãe havia entrado em contacto com ele pedindo-lhe, para a informar se a história era verídica, pois não possuía a quantia solicitada e tinha que pedi-la emprestada.

Eu disse-lhe que não conhecia nenhum soldado nessa situação, mas se ele me dissesse o nome do homem, eu veria a que pelotão pertencia e chamaria o alferes.

O sargento acedeu à minha ideia e, tal como tinha combinado, chamei então o Alferes, que lhe disse que nada tinha acontecido com a arma desse soldado e que, o mesmo, se encontrava detido devido a problemas de deserção.

Depois do 1º Sargento se ir embora, fui ver a sua folha de serviço do soldado em questão e reparei que ele já tinha sido punido, salvo erro na Bateria de Artilharia Anti-Aérea Fixa, situada em Leça da Palmeira, por abandono do seu posto de serviço.

Daquelas instalações foi transferido para Viseu, onde, novamente, abandonou o posto de vigia e o quartel, tendo deixado a arma à sua responsabilidade encostada à parede da guarita.

Daí foi “despachado” para a Guiné, só não sei se com uma Companhia, se em rendição individual.

Quando li com mais atenção o nome dele e depois o da mãe, fiquei petrificado.

Porquê?

Eu sabia que tinha um irmão extra-matrimónio (resultado de “brincadeiras” do meu pai), que era mais novo do que eu, e que apenas havia visto uma vez, quando ele tinha 4 anos, numa altura em que a mãe dele o levou a casa da minha avó paterna, que foi quem me criou. Desde aí, nunca mais o vi nem soube nada dele, pois antigamente os assuntos desta natureza não eram motivo das conversas intestinas, em família.


Como no registo do nome do pai figurava “pai incógnito”, fui ter com ele à cela (na casa da guarda) e perguntei-lhe se ele conhecia o pai, ao que me respondeu que sim.

Perguntei-lhe se ele sabia o nome do pai e ele disse-mo.

Foi a minha vez de lhe dizer que eu era irmão dele.

Entretanto ele foi transferido para a prisão do quartel dos Adidos, à espera de julgamento e a minha Companhia foi movimentada para o mato.

Quando regressamos a Bissau, fui aos Adidos e ele tinha sido punido com 3 anos de cadeia.

O motivo do seu castigo penal deveu-se a ele ter mais uma vez desaparecido, dessa vez por 5 dias e meio, tendo justificado em tribunal a sua ausência devido a ir viver com uma negra, junto do quartel da Amura.

Foi assim que conheci este meu incumpridor e aventureiro irmão...

Depois de regressar à Metrópole e ter passado à peluda, já depois de estar empregado, a PM foi à sua procura e levou-o para Viseu, afim de ser julgado pelo abandono quando ali esteve.

Valeu-lhe a mãe ter alguns conhecimentos que o livraram desse julgamento.

Este meu irmão faleceu entretanto vítima de cancro. Deus dê paz à sua alma.

Um abraço,
Armandino Alves
1.º Cabo Aux Enf da CCAÇ 1589
__________
Nota de MR:

Vd. poste anterior desta série em:

Guiné 63/74 – P5322: Estórias do Mário Pinto (Mário Gualter Rodrigues Pinto) (28): O COP4 (Mário Pinto/José Teixeira/Vasco da Gama/Carlos Farinha)


1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71), enviou-nos uma mensagem com o seu 28º texto, que dada a complexidade da matéria abordada, a seu pedido pessoal, contou com as preciosas colaborações dos nossos Camaradas José Teixeira (1.º Cabo Enf da CCAÇ 2381 - Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70), Vasco da Gama (Cap Mil da CCAV 8351 – Cumbijã -, 1972/74) e Carlos Farinha (Alf Mil da CART 6250 - Mampatá e Aldeia Formosa -, 1972/74):

Camaradas,

Iniciei um ciclo histórico do sector de Aldeia Formosa, Mampatá e Buba, nos anos 1969 a 1971.

Depois do abandono de Gandembel e Ponte Balana uma das frentes da guerra, ao Sul, que passou para este sector. Procurei ser o mais correcto possível, pois baseei-me em depoimentos de camaradas e Histórias das Unidades para o ultimar.

Esta primeira parte refere-se ao 1.º Semestre de 1969.

Também convidei os nossos Camaradas Vasco da Gama e o Carlos Farinha, que pertenceram a Unidades que precederam a minha, a dar continuidade a este historial até 1974 (fim do conflito).

Os mesmos já me enviaram respostas e estamos a aprontar a parte final deste trabalho.

2. Breves considerações

Do meu memorial descritivo ao longo das últimas décadas, compus uma síntese historial daquilo que foi o período do ano 1969, no Sector do COP4 (Buba e Aldeia Formosa).

Este estudo baseia-se em fatos reais vividos e descritos, por Camaradas nossos com suporte nas Histórias das Unidades por eles aqui incorporados.

3. Frente de guerra do COP4 - Buba e Aldeia Formosa – (entre Janeiro e Julho de 1969).

Com a retirada de Gandembel e Ponte Balana, por ordem do COMCHEF, em Fevereiro de 1969, as frentes de guerra ficaram confinadas em sectores mais recuados das fronteiras com a Guiné-Conakry, tendo o IN de se expor mais, no interior do território, para combater as NT.

Para esse efeito, teriam que percorrer mais terreno dentro de território por nós controlado e ficarem exposto às nossas acções ofensivas, caso que até ali não acontecia, pois os aquartelamentos perto das fronteiras eram constantemente flagelados e atacados e o IN, quando acossado pelas nossas tropas, refugiava-se para lá da fronteira, impedindo assim a nossa acção de resposta.

As Companhias que nesse período aquartelavam esses destacamentos fronteiriços foram reforçar os contingentes de Buba e Aldeia Formosa, tendo algumas, posteriormente, sido movimentadas para outros Sectores.

O COP4, foi formado sobre o comando do mítico Major Carlos Fabião, oficial de inteira confiança do Governador-geral - COMCHEF General António Spínola -, que imediatamente mandou reforçar as linhas da frente com as Companhias existentes e mais algumas "periquitos", que entretanto chegaram da Metrópole.

As ordens passaram a ser, fixar o IN às áreas junto da fronteira e não permitir a sua infiltração para o interior, através de corredores criados a partir de Salancur (base do PAIGC no Sul da Guiné), que por sua vez era abastecida pelo corredor de Guileje, que se tinha tornado crucial depois do abandono dos aquartelamentos de Gandembel, Ponte Balana, Medina do Boé e Mejo.

4. - Estrada Buba-Aldeia/Formosa

Sabendo o COMCHEF que os abastecimentos às Companhias, que se concentravam agora em Aldeia Formosa, Mampatá, Nhala e Chamarra, eram vitais, mandou abrir uma nova estrada Buba-Aldeia/Formosa, com um traçado de infiltração pelas linhas do IN, tentando com ela também cortar os abastecimentos do PAIGC, para o interior do país, nomeadamente para o sector de Xitole.

A nova estrada desviava em Sare Usso para Sare Dibane, seguindo em direcção a Samba Sabali, fugindo às linhas de água, que, nas épocas da chuva, nos isolava de Buba.

Mampatá passou a ser um ponto de relevância estratégica pois foi a partir desta tabanca, que as máquinas da TECNIL passaram a rasgar as matas, escoltados pelos militares estacionados em Aldeia Formosa e Mampatá, indo ao encontro dos nossos camaradas, que, vindos de Buba e Nhala, faziam o mesmo, abrindo a mata e dividindo o IN, em duas frentes.

O PAIGC para fazer frente a esta estratégia, colocou no sector 3 Bi-grupos de combate, sobe o comando de Nino Vieira, com o fim de impedir a construção da nova estrada e manter aberto o corredor de abastecimento para Xitole.

A nova estrada foi cortar o "corredor de Uane" fundamental para a passagem de material para o interior, criando condições para as nossas forças se deslocarem mais rapidamente, logo, se movimentarem de forma mais activa, o que, naturalmente, não interessava ao PAIGC. Por outro lado iria facultar uma melhor movimentação das nossas forças nas deslocações a Buba, para reabastecimentos da zona (agora recuada) da linha de fronteira).

A partir da construção da estrada a guerra neste sector subiu de intensidade, com ataques constantes, flagelações, emboscadas e minas, bem referenciadas nas diárias no teatro de operações, levando o COMCHEF a deslocar tropas especiais, (COMANDOS, PÁRAS e FUZOS), para a ZA.Em Maio e Junho de 1969, a guerra neste sector atingiu o seu ponto máximo, somando ambos os lados perdas humanas de grande significado.

Quando o centro nevrálgico da construção da estrada passou, primeiro para Samba Sábali e depois para Mampatá, a zona de Buba ficou um pouco mais liberta no que respeita a emboscadas e minagem no terreno, para se centrar em ataques violentos ao aquartelamento, que era a base de apoio logístico a toda a máquina de guerra na zona, pela posição estratégica e pelo seu "porto", onde eram desembarcados os mantimentos, materiais necessários aos trabalhos na estrada e materiais de guerra.

Os efectivos envolvidos eram significativos estimando-se cerca de 2 000 homens das NT, com todo o material bélico conhecido na altura ao nosso dispor, incluindo o Grupo de Panhard que se deslocou de propósito de Teixeira Pinto para Aldeia Formosa.

A pista de aviação de Aldeia Formosa, passou a ter T6 e Hélicópteros estacionados permanentemente, prontos para entrar em acção a qualquer momento. As baterias de obuses de 14 cm de Aldeia Formosa e a aviação, todos os dias flagelavam a zona de construção da estrada antes da chegada das máquinas para iniciarem os trabalhos, mas apesar disso, o IN, lá estava sempre á nossa espera a partir de Sare Usso em diante.

Em qualquer altura desencadeavam emboscadas. Manga de minas tanto na estrada, como nas bermas e nos flancos, o que veio causar imensas baixas a todas as companhias envolvidas.

Foi neste período que a minha Companhia teve as primeiras baixas (1 morto e 2 feridos) em Sare Dibane, quando fazia segurança aos trabalhos efectuados pelas máquinas.

No dia 31 de Maio de 1969, foi feita a primeira e única coluna pela nova estrada, no sentido Aldeia Formosa - Buba. Uma coluna enorme com cerca de 2 kms, com todas as forças no terreno empenhadas na sua segurança e, mesmo assim, tivemos 4 emboscadas de que resultaram 3 mortos e vários feridos.

Em 11 Junho de 1969, iniciou-se a descapinação da estrada com a vinda de 700 balantas da zona de Farim para o efeito, todos os dias as forças presentes faziam a segurança, aos mesmos, em locais estratégicos afim de assegurar o bom andamento dos trabalhos.

O PAIGC, com as forças no terreno agora reforçadas com mais 2 Bi-grupos, não davam tréguas às NT. Apesar das continuadas operações levadas a efeito pelos PÁRAS e pelos COMANDOS, ao longo da ZA, o IN continuou a flagelar, minar e a emboscar as NT.

As baixas foram-se sucedendo em todas as companhias envolvidas e, moralmente, chagamos a “quebrar”.

O receio começou a apoderar-se dos nossos soldados, dado que na falta de objectivos, e expostos perante o IN, não tinham a iniciativa, limitando-se a ripostar, simplesmente, quando atacados.O esforço físico exigido aos nossos homens era muito elevado.

Dois dias de saída pelas 6 horas da manhã, com regresso pelas 3/4 da tarde seguido de um dia de serviço á unidade, para se voltar à estrada no dia seguinte. Isto, aliado ao stresse de guerra vivido todos os dias, com passagem diária por lugares que nos recordavam emboscadas ou minas. Este esforço físico e psíquico teve as suas consequências, nas baixas contínuas. A CCaç 2381 chegou ao extremo de ter apenas 37 homens operacionais, o que perfazia apenas um grupo de combate.

Em 29 de Junho de 1969, chegou a ordem de interromper a descapinação e ordenar o regresso dos balantas a Farim. Foi assim decretado, pelo Alto Comando, o fim da “nova” estrada Buba - Aldeia Formosa.

O projecto de estrada ficou reduzido a um grande rasgo aberto na mata, que nunca chegou a ser concluída e que tanto sofrimento custou às NT, com vários feridos e mortos. Tudo em vão.

Em Julho de 1969, o COP4 foi transferido para Aldeia Formosa, dando inicio ao Plano de Operações "Orfeu Oriental", onde a minha companhia foi integrada ficando colocada em Mampatá.

Legendas das fotos:

1 - Parada em Mampatá
2 - General António Spínola em Mampatá
3 - Tabanca de Mampatá
4 - Patrulhamento das obras
5 - Picagem da estrada
6 - Descapinadores balanatas
7 - Evacuação helitransportada

Unidades envolvidas nesse período, de que me recordo:

CCAÇ 2317, 2381, 2382.

CART 2414, 2519, 2521.

Pel Nat 55, 60 e 68.

Pel Milª 137.

Pel Mort 2138.

Pel Fox de Aldeia Formosa.

Pel Art 14 de Aldeia Formosa.

15ª Cia de COMANDOS.

121ª Cia PARAQUEDISTAS.

8.º DESTACAMENTO DE FUZILEIROS.

ESQUADRILHA DE T6 da BA12.

ESQUADRILHA DE HELICÓPTEROS da BA12.

ESQUADRÃO DE PANHARD de Teixeira Pinto.

CCAÇ 1792 (Lenços Azuis).

Pel Mort 1242.

Pel Rec Fox 2022.

Estas são as unidades de que me lembro, que actuaram no sector durante o referido período. Se mais houveram, aqui ficam as minhas desculpas pela omissão.

Um abraço,
Mário Pinto
Fur Mil At Art

Fotos: © Mário Pinto (2009). Direitos reservados.
____________
Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

Guiné 63/74 - P5321: Memória dos lugares (57): Tabanca de Sucujaque na fronteira norte da Guiné-Bissau com o Senegal (Patrício Ribeiro)

1. Mensagem de Patrício Ribeiro, membro da nossa Tabanca Grande, empresário na Guiné-Bissau onde reside há mais de 25 anos, antigo fuzileiro em Angola, onde nasceu, com data de 21 de Outubro de 2009:

Boa noite

Obrigado pela morada do "Bissau Digital”.

Para actualizar a noticias deste blogue, junto algumas fotos de 2009 da tabanca de Sucujaque e da linha de fronteira no rio Sucujaque, a dois quilómetros da tabanca onde se apanha a canoa para o Senegal.
Esta fronteira tem bastante movimento de pessoas a pé, bicicleta e moto que é possível atravessar na canoa, junto ao marco de Cabo Roxo, (estrutura em ferro com alguns metros de altura) instalado pelos portugueses e franceses, há pouco mais de 100 anos.

Do lado do Senegal, existe a povoação de Cap Skirring, que tem dezenas hotéis e recebe milhares de turistas europeus por ano.

A linha de fronteira no GOOGLE, não está correcta.

Um abraço
Patricio Ribeiro
impar_bissau@hotmail.com

Localização da Tabanca de Sucujaque da Guiné-Bissau junto à fronteira com o Senegal




Vistas da Tabanca de Sucujaque

Fotos: © Patrício Ribeiro (2009). Direitos reservados.

__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 22 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5316: Memória dos lugares (56): Reportagem fotográfica de Gadamael (Jorge Canhão)

Guiné 63/74 - P5320: Controvérsias (56): Direito de resposta (Joaquim Mexia Alves)

1. Mensagem, com data de 20 de Novembro de 2009, do nosso camarada Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil Op Esp, CART 3492, (Xitole/Ponte dos Fulas), Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa) (1971/73):

Caros camarigos (Camaradas+Amigos) editores e caro António Matos,

Em todo este assunto do Lobo Antunes, (que eu já tinha deixado morrer, mas que renasce agora com o texto do António Matos, inserido no poste P5301), tentei ser o mais cordato possível e os editores bem o sabem.

Não posso deixar no entanto de salientar como me parece diferente o tratamento dado neste espaço a afirmações indignas, repito indignas, por parte de alguém que esteve na guerra do Ultramar, apenas porque é um escritor de nomeada, um intelectual de méritos firmados, uma figura de topo da nossa cultura.

É que nada disso ameniza as palavras que disse, e, António Matos, envolvem os ex-Combatentes, quer tu queiras quer não, e não dão boa imagem das Forças Armadas Portuguesas, pois não se refere a um homem ou dois, mas um Batalhão inteiro, que se pode extrapolar para o teatro de operações de Angola, porque a decisão de mudar um Batalhão para sítios “mais calmos” não depende do Batalhão mas do Estado Maior da Região Militar, pelo que logicamente, a prática seria universal, pelo menos em Angola, o que se sabe não corresponde à verdade.

E se as afirmações são uma figura de estilo, então são pobres e desonestas, e lembro que recentemente porque alguém escreveu que “saltava” de dentro do rio, qual rambo, para matar o IN, aqui neste espaço se fez o gozo necessário no qual eu colaborei também um pouco.
Ou quando um jornalista escreveu umas coisas quaisquer todos lhe caíram em cima e muito bem.

Não devo nada a Lobo Antunes, considero-o uma pessoa de bem e uma figura importante das nossas letras, mas isso não lhe dá o direito de dizer o que disse, ou o que lhe vem à cabeça no momento.

Quanto a ti, caro António Matos, escreves então esta frase:
«Caro Mexia Alves, receio que este texto te possa criar algum descontentamento mas crê que não é essa a intenção. Era só o que faltava!»

Não me causa descontentamento, mas causa-me estupefacção pelas palavras que usas e não é a primeira vez que o fazes, não comigo, mas com outros.

Escreves tu:

«Querer comparar os dois tipos de afirmações será por demais intolerante, descabido e ignorante!»

Não só me chamas intolerante, como me achas descabido, e pelos vistos ignorante!

Olha meu caro, até serei ignorante mas sou com certeza uma pessoa educada e nunca utilizaria tais adjectivos numa polémica qualquer para classificar a intervenção daquele com quem troco opiniões.

Quanto ao resto, tu tens a tua opinião e eu tenho a minha.
Respeito a tua e tu deves respeitar a minha, discutindo-as se quisermos, mas nunca te colocando num pedestal de superioridade que não te reconheço.

Ah, e não estou zangado nem um pouco, e quem me conhece sabe que não estou: Era o que mais faltava!

Aviso desde já que para mim esta polémica, que nunca o foi, acaba aqui e agora.

Um abraço camarigo para ti, António Matos, e para todos,
Joaquim M. Alves,
Alf Mil Op Esp/RANGER da CART 3492
___________
Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

Guiné 63/74 - P5319: Em busca de... (103): Procuro informações sobre… (José Martins)


1. Apelo enviado pelo nosso Camarada José Martins (1) (ex-Fur Mil, Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos,Canjadude, 1968/70), com data de 20 de Novembro de 2009:


APELO

Camaradas,

Lanço-vos um apelo para encontrar camaradas de:

  • António Aldeia Soares, conhecido por "Aldeia", foi soldado da Companhia de Caçadores 2596 do Batalhão de Caçadores 2886, que esteve em Angola, no período 1969 a 1971, é natural da freguesia de Vila Nova de São Bento, concelho de Serpa. Está recenseado na freguesia de Loures, concelho de Loures. Segundo António Aldeia Soares, o Capitão Valente foi o comandante da Companhia de Caçadores 2596 e o comandante do seu Pelotão foi o Alferes Vale.

  • José Aldeia Soares, foi soldado na Guiné (não referenciou mais nenhuma informação). Sobre este camarada da Guiné, sabemos que foi mobilizado pelo Regimento de Cavalaria 7 em Lisboa, e que esteve em Bissau e Bafatá. Penso tratar-se de uma companhia operacional. Estes dados foram por mim recolhidos quando falei com o José Aldeia Soares, antes do envio da carta aberta. Vou continuar a investigação nos meus arquivos e no AHM.

A análise da história destas sub-unidades poderá ajudar o fio condutor para nos levar à fala com estes camaradas.

Qualquer informação agradeço que a enviem para o meu e-mail:

josesmmartins@sapo.pt

Com um fraternal abraço,
José Martins
Fur Mil Trms da CCAÇ 5
__________
Nota de MR:

Vd. poste anterior desta série, em:


Guiné 63/74 - P5318: Blogoterapia (130): A guerra exisitu!... (Fernando Santos)

1. Mensagem de Fernando Silva Santos, ex-Soldado IO Art.ª da BAA 3434, Bissau, 1971/73, com data de 16 de Novembro de 2009, reencaminhada para a Tabanca Grande pelo nosso camarada Jaime Machado:

Camaradas:
Se tiverem algum interesse neste artigo, podem divulgá-lo, inclusivé para publicação no Blogue.
[...]

Abraços,
Fernando Santos
BAA 3434 "As Avezinhas" - Guiné 1971/73

Jaime Machado e Fernando Santos, na Tabanca de Matosinhos.
Foto retirada do site da Tabanca de Matosinhos, com a devida vénia



A Guerra Existiu!...
“Os que morreram, viajaram envoltos na Bandeira da Honra, com a legenda: Portugal!...”

Foi há 36 anos. Já lá vai muito tempo!...

De repente, apetece-me escrever que a Liberdade, hoje, ainda não é como o ar que respiramos. Não sendo anómala nem rara é uma causa muito preciosa que todos temos de manter e dela falar!... É que o silêncio, não é só a ausência das palavras. Também é o adormecimento das causas, a camuflagem dos valores e tantas vezes a renúncia imposta às memórias que não deveriam sumir na poeira dos tempos!...

A Guerra Existiu!...

E há 36 anos, no dia 26 de Maio de 1971, no cais de Alcântara em Lisboa, a bordo do navio “Angra do Heroísmo”, uma Bateria de soldados, especializados em anti-aérea, partiu rumo à Guiné. Era a Bateria Anti-Aérea 3434, baptizada com o nome dos “Avezinhas”.

Também nessa altura, era um tempo de Maio. Um Maio já prestes a despedir-se de maduro, vestido de incerteza e de mistério por tudo aquilo que haveria de acontecer no futuro das madrugadas nascentes, no seio daquela terra africana, no coração do seu Paiol e dos bafos vermelhos que acariciavam o rosto de rapazes na casa dos vinte e poucos anos de idade!...

Na altura, o serviço militar era obrigatório.

Que o digam as centenas de matosinhenses que foram mobilizados para as nossas ex-colónias ultramarinas.

Mas é acerca da Bateria Anti-Aérea 3434 – os “Avezinhas” – que eu gostaria de escrever esta semana. Até porque neste contingente militar, foram incorporados alguns camaradas de armas, patrícios meus, que ainda hoje, felizmente, vivem e habitam no nosso concelho.

E se é verdade que as pessoas reagem a estímulos exteriores, o encontro convívio e de saudade, que tive com os “Avezinhas”, no passado Sábado, motivou-me a comungar com os meus caros amigos leitores, alguns testemunhos de vida que marcaram, indelevelmente, os meus 21/23 anos!... Foram tempos já distantes, em que os horizontes para a minha pequena adultês pareciam quebrados e o medo existia escondido nos nossos olhares que se cruzavam com os olhares côncavos e famintos das crianças nativas vestidas de inocência!

No passado Sábado, no Santuário do Sameiro, em Penafiel, os “Avezinhas” tiveram o seu encontro de ex-militares que fizeram parte daquela incorporação. Evocamos – alguns de nós já com o babado estatuto de avós – o nosso tempo de juventude passado a combater na ex–colónia da Guiné. Rezamos pelos camaradas já falecidos e relembramo-nos de alguma da nossa actuação, ainda que involuntária, no palco das operações do teatro da guerra.

Nesse encontro estavam camaradas de Matosinhos e que, curiosamente, lêem o Jornal de Matosinhos!

Prometi-lhes que escreveria uma crónica a referir a guerra colonial para que, a juventude matosinhense não se esquecesse que os seus pais e os seus avós, provavelmente, passaram por essas acerbas provações! Não podemos branquear esta parte da História recente de Portugal.

A Guerra Existiu!

O papel dos soldados portugueses, como embaixadores da política do Estado Novo, terminou no dia em que a bandeira portuguesa foi arreada dos palácios dos Governadores das respectivas colónias e de todos os edifícios públicos.

Hoje, passados estes anos, a pergunta continua escondida acutilantemente, na mente de muitos ex-combatentes:

- Valeu a pena?!...

Claro que valeu a pena, digo eu!...

A História é feita de tudo isto. De dicotomias. De contradições. Neste caminhar inexorável, vivemos amores e lavramos desamores; semeamos amizades e criamos ódios inóspitos; fomos o “eu” e fomos o “outro” num caminhar intermédio e subterrâneo; embrutecemos e tornamo-nos sensíveis transportando na nossa formação constante o cheiro das tabancas e a melodia da mata verde que moldaram para sempre o nosso sentir e a nossa personalidade. Anjos ou Demónios, francamente não sei, nesta catarse ainda por inventar…

O que sei, é que nesse dia de final de Maio de 1971, quando os “Avezinhas” chegaram à Guiné, ao desembarcarem no cais do Geba, em Bissau, sentiram um sol intenso, vermelho, a confundir-se com o vermelho de uma terra jamais vista!... Depois, em coluna militar, lá fomos, com destino ao primeiro aquartelamento situado no Cumeré. Pelos estradas – algumas de terra batida – camaradas de guerra prestes a regressarem à metrópole, saudavam-nos num ritual e praxe guerreira: “Piu…Piu…Piu. Salta Pira…”, ou então, numa música mais estridente e sádica do que motivadora, cantavam gozões e intimidatórios:

Piriquito vai pró mato, olé, olé… que a velhice vai p’ra Bissau, olé, olé!...”.

Nessa altura, os nossos olhares virgens de maçaricos, admirados, penetravam naquele mundo novo, feito de mulheres negras com os seios caídos de uma nudez sensual, jovem e hirta que da berma dos caminhos nos acenavam, ou então, pelas “mulheres grandes” de pele ressequida, as quais, nos olhavam sentenciadoras, como quem já adivinhava o nosso futuro!...

Chegados ao Cumeré, a nossa primeira reacção foi perguntar:

- Aqui já aconteceram ataques?!...

A resposta surgiu motivadora e a vida lá continuava num ritmo de adaptação às novas gentes, ao novo clima e às novas mentalidades. Como recordo os dias decepcionantes do “lerpanso” do correio. Nem uma carta. Nem um aerograma. Nada! Só as carícias cantadas em crioulo pelas bajudas nativas.”Parte um peso, pessoal!...” E lá recebiam o “patacão!...”

No dia 9 de Junho de 1971 (faz amanhã 36 anos), o “inimigo” – de propósito entre aspas – brindou-nos com o seu “baptismo de fogo!...”

Era uma quarta–feira!... A noite espreitava do poente. A G3 era a nossa companheira, num artifício de fogo tricotado, belo e trágico!... Não víamos nada!... Só fogo reluzente e o ribombar das granadas e dos obuses!... Disparávamos ao encontro do vácuo!...

Era a Guerra!... Os “Avezinhas” tinham chegado somente há nove dias à Guiné!...

Nesse ataque, no dia 9 de Junho de 1971, morreu um camarada. Outros ficaram marcados no corpo e no espírito para toda a sua vida…

Eu sou testemunha que a Guerra Existiu!...

f.silvasantos@netcabo.pt



Fotos da Guiné-Bissau de autoria Fernando Inácio © Direitos Reservados, com a devida vénia


2. Comentário de CV:

Caro Fernando. Não costumo fazer comentários aos textos dos camaradas. Quem sou eu para isso?

No entanto é um prazer publicar prosa ou verso com qualidade. Foi o caso deste teu trabalho.

Sei que tens participado nos almoços dos ex-combatentes da Guiné do Concelho de Matosinhos, porque tenho registo da tua presença. Não por isto, mas também, estou a convidar-te a colaborares neste Blogue, que como sabes tem a missão de fazer um registo de histórias dos ex-combatentes da Guiné. Nesta Caserna virtual têm lugar militares do Quadro Permanente ou Milicianos; oficiais, sargentos e praças; licenciados ou não. Tudo em pé de igualdade, porque o que nos une é aquele pequeno país de terra vermelha e ar sufocante, e tudo o que por lá passámos.

Envia-nos os teus elementos militares como: posto, locais por onde andou a tua Unidade, data de ida e regresso, e uma foto actual e uma antiga, tipo passe em JPEG. Manda-nos também mais um dos teus textos e eu faço a tua apresentação formal à tertúlia. Teremos muito prazer em receber-te nossa Tabanca Grande.

O endereço electrónico do nosso Blogue é: luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com

Obrigado por esta tua colaboração que espero seja a primeira de muitas.
Recebe um abraço do camarada
Carlos Vinhal
__________

Vd. último poste da série de 18 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5294: Blogoterapia (129): A guerra que Portugal não ganhou (José Teixeira)

Guiné 63/74 - P5317: Historiografia da presença portuguesa em África (32): O que José Henriques de Mello viu no Cuor e em Bissau (Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos, (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 19 de Novembro de 2009:

Carlos e Luís,
Findo assim a apresentação do maravilhoso álbum fotográfico do José Henriques de Mello.
Basta ver as fotografias que junto para se perceber que este livro é um tesouro ainda ao alcance de todos.

Um abraço do
Mário


O primeiro fotógrafo de guerra português:
O que José Henriques de Mello viu no Cuor e em Bissau

Por Beja Santos

Chegou a altura de acompanhar José Henriques de Mello, o primeiro fotógrafo de guerra português, nas campanhas do Cuor, Antim e Antula, região de Bissau. Os factos históricos estão devidamente registados, como segue.

O imposto de palhota nunca foi bem aceite pela população guineense. Até 1904, a cobrança era irregular e tinha muitas isenções. O seu produto revertia sobretudo para as despesas militares. É no Cuor que irá dar a primeira insubordinação, bem violenta. O residente de Geba, 2.º tenente Proença Fortes, dirigiu-se à tabanca do régulo Infali Soncó, em 1907, aqui vou desrespeitado, espancado e preso. O Governador da Guiné, Oliveira Muzanty, declarou em estado de guerra a região do Cuor. Ficou proibido o comércio naquela região do Geba. A insubordinação alastrou e incluiu Bissau, Cuor, Oio, Churo, Costa de Baixo e Pecixe. As operações visavam: bater a região de Bissau, subjugando os Papéis, sobretudo em Antula; fazer uma demonstração de força no território balanta; desembarcara em território de Infali Soncó e obrigá-lo a manifestar fidelidade; marchar sobre Mansoa, criando um posto militar na povoação; bater a região do Oio; percorrer o rio Cacheu até Pelundo e bater a região dos Manjacos até à Costa de Baixo.

Algumas das operações começaram em Novembro de 1907, Muzanty foi até ao Xime e conseguiu obter apoio de vários régulos. Subindo o rio Geba na lancha-canhoneira Cacheu, foi atacado pela gente de Infali Soncó, houve baixas de parte a parte. Infali Soncó fugiu aos combates, Muzanty também não tinha contingente para o perseguir. Muzanty foi seguidamente combater um levantamento de Felupes na região de Varela, os régulos submeteram-se, a situação melhorou, temporariamente.

Lisboa decide criar uma dotação para uma grande expedição na Guiné. No final de Fevereiro de 1908, o general Costa Monteiro comunicava à Secretaria de Estado da Guerra que a Companhia Expedicionária de Infantaria 13, armada com a espingarda Kropatschek estava pronta. O navio “Angola” embarcou 200 mil cartuchos, granadas, lanternetas, peças de artilharia, comida para os humanos e comida para os muares de artilharia montada. É interessante verificar o tipo de víveres destinados às tropas expedicionárias: champanhe e vinho do porto, conhaque e rum, bacalhau, vinho branco e vinho tinto, manteiga e marmelada, queijo da serra e flamengo, leite condensado e águas minerais. Mário Matos e Lemos descreve com copioso pormenor as peripécias do embarque em Lisboa e desembarque em Bissau, refere o diário de campanha de Nunes da Ponte (que eu aproveitei em alguns episódios da Mulher Grande) quanto à campanha do Cuor e às operações na ilha de Bissau. O repositório fotográfico é espantoso na qualidade dos registos: Infali Soncó e a sua comitiva recebendo os visitantes antes das hostilidades; sessões na carreira de tiro; muares desembarcando no Geba, na região do Xime, vemos a preparação do rancho e uma formatura de carregadores Fulas; temos depois o embarque no Geba e o seu desembarque, provavelmente na região de Mato de Cão; as tropas em bivaque em Caranquecunda e o ataque a Canturé; depois as tropas na fortaleza da Amura e a seguir as operações de Antim, vemos gentios mortos e um conjunto impressionante de fotografias das tropas a pousar para a posterioridade. Para quem colecciona fotografia de alta qualidade, para quem quer viajar à Guiné de um século atrás, para quem, sobretudo, se quer deixar maravilhar por fotografias que ninguém suspeitava existir, este livro é um surpreendente achado. Aliás, basta ver as fotografias que juntamos.

Antes da guerra, o Régulo Infali-Soncó e sua gente, recebenco visitantes

Regresso das Forças que acompanharam o enterro d'uma Praça

No porto de Sambal Santrá, a canhoeira Cacheu e o Capitania

Destruição: queimada da tabanca Gan-Turé, em 5-4-1908, guerra do Cuhor

A retaguarda d'uma trincheira abrigo construída pelo inimigo
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 21 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5312: Historiografia da presença portuguesa (31): José Henriques de Mello, o primeiro fotógrafo de guerra português (Beja Santos)