quinta-feira, 28 de julho de 2011

Guiné 63/74 - P8614: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (20): Rezando pela chuva, lá, no tempo dela; imprecando contra o vento, estival, cá... (Luís Graça)





Guiné-Bissau > Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Foto da semana > Título da foto: Aí está a época das chuvas de 2011 > Data de Publicação: 10 de Julho de 2011 > Data da foto: 26 de Junho de 2011 > Palavras-chave: Segurança alimentar > Legenda:

"Já começou a época das chuvas na Guiné-Bissau com grandes tornados e ventos muito fortes, mas ainda com …pouca chuva, para os agricultores ficarem satisfeitos e iniciarem as suas lavouras e sementeiras.

"Este começo,  atrasado e muito irregular, tem levado a uma diminuição notória do ritmo da lavoura dos planaltos e encostas onde se produzem as culturas de sequeiro (milho, sorgo, milheto, arroz, mancarra, batata doce, mandioca e feijão), o que faz temer uma má colheita este ano. 

"Quanto às bolanhas salgadas, a situação é ainda mais grave, uma vez que é necessário chover muito e de forma concentrada, para diminuir a salinidade e acidez dos solos, pondo a salvo qualquer interrupção brusca do fim do ciclo das chuva".

Foto:  Cortesia de  © AD - Acção para o Desenvolvimento  (2011). Todos os direitos reservados.





1. Cada vez mais a expressão "segurança alimentar" faz sentido e nos põe em sentido... Como alimentar 9 mil  milhões de seres humanos, em 2050, com o planeta azul a "rebentar pelas costuras" ? 


Há muito a ONG AD - Acção para o Desenvolvimento tem um discurso e uma prática neste domínio, dando o exemplo ao Estado, à sociedade civil, ao povo e às elites da Guiné-Bissau... Através da série "foto da semana", no seu sítio institucional, e agora também no Facebook, a sua mensagem chega mais longe. 


Os agricultores guineenses, esses,  esperam a chuva, no tempo dela, como um milagre do céu. Nós, que queremos sol e praia, rogamos pragas ao vento... Para os antigos combatentes que conheceram a Guiné do tempo das chuvas abundantes e milagrosas - ainda não se falava em " mudanças climáticas" nem de avanço do Sara - esta foto tem uma forte carga simbólica, poética e emocional... 


Se é verdade que nem no tempo das chuvas as armas se calavam, também é certo que abrandava a actividade operacional, de um lado e do outro, por imperativo da natureza... As picadas transformavam-se em rios. As colunas logísticas, um inferno. As minas e armadilhas eram arrancadas do chão pela força das águas... As viaturas atascavam-se... Entretanto a savana arbustiva tornava-se uma imensa "seara de capim", verde que rapidamente cobria tudo, homens, animais, arbustos...


Quem não se lembra do tempo das chuvas ? E das medonhas trovoadas tropicais ? E das moranças queimadas por raios, com pessoas e gado calcinados ?... Quem não se lembra dos milhões de insectos, de todos os tamanhos e feitios, que nos "bombardeavam" o prato da sopa, ao jantar, logo que acabava a chuvada da tarde ? Quem é que não veio para a rua, feito criança, com as primeiras chuvadas, apanhar a molha monumental, da cabeça aos pés, um  ritual obrigatório naquelas paragens, para todos os viventes ? Quem, enfim, não estremece de emoção ao rever este  céu carregado, a prenunciar borrasca, algures na Guiné-Bissau de hoje, a "nossa terra verde e vermelha" de ontem  ? 


Entretanto, a guerra recomeçava, com outro vigor, e violência, no tempo seco... Em Dezembro, no leste, tiritava-se de frio, à noite, nos postos de sentinela ou nas emboscadas no mato,  quando as temperaturas baixavam até aos 15 graus...


2. Por outro lado, recebi há dias notícias do nosso amigo Pepito, anunciando a sua chegada à terra da sua mãe (Lisboa), dos seus filhos e da sua esposa Isabel, nestes termos sempre bem humorados e telegráficos, levemente irónicos: 


"Chegada à Metrópole de Graciosa: 16 de Julho de 2011. Amigos Alice e Luís: Estou em Lisboa. Vim tratar da vistoria do veículo de transporte... Vamo-nos encontrar. Abraço. Pepito".


Recorde-se que os funcionários públicos do Ultramar (se não todos, pelo menos algumas categorias, como professores, médicos, militares, etc.), ao fim de 4 anos de serviço, tinham direito a uma licença dita graciosa, cuja duração podia ir até aos seis meses, com viagens pagas no todo ou em parte pelo erário público... Continuavam a receber o seu vencimento, não sei se na totalidade ou em parte... 


Os pais do Pepito, ele jurista, ela professora no Liceu Honório Barreto, beneficiavam naturalmente deste "privilégio" do funcionalismo público ultramarino... Fixaram-se na Guiné em 1949, mas mantendo casa em Lisboa. O Pepito e os seus irmãos, enquanto crianças e adolescentes, devem ter acompanhado os pais, numa ou mais viagens à Metrópole, em gozo de licença graciosa... Enfim, deve ser esse o sentido (figurado) do título da mensagem...


Aproveito o ensejo para desejar ao Pepito, à Isabel e ao resto da família, incluindo a nossa Clara Schwarz, a decana da nossa Tabanca Grande, a caminho dos seus corajosos e maravilhosos 97 anos de vida, os mais ardentes votos de boa, prazenteira, descontraída, feliz e saudável estadia na Tabanca de São Martinho do Porto, com muito sol e a brisa q.b., que refresca a casa e faz cantar os pinheiros que a protegem, tornando ainda mais fantástica e poética a vista que se desfruta desse lugar mágico (uma das mais belas vistas do Portugal litoral, ao fim da tarde: de um lado, o Atlântico, as Berlengas; do outro, a baía de São Martinho do Porto)... 


Espero poder em breve ir lá dar-vos um abraço, a vocês e ao vizinho JERO, outro  apaixonado de São Martinho do Porto (e residente de verão)... Claro, eu, a Alice, se possível a Joana (entretanto, em viagem por Itália), e obviamente o João, se os Melech Mechaya deixarem, passe a publicidade  (...Nesta noite, ele está a tocar, com os Melech Mechaya, em Alcains, Castelo Branco; no dia 13, vai estar em grande, em Sagres, no Superbock Surf Fest, na praia do Tonel, a tocar para um público esperado de mais de 10 mil; e depois a 21 e 28, em Espanha...). Em suma, vamos ter que gerir muito bem, como acontece todos os anos em Agosto, as nossas "agendas sociais"... Brincadeira aparte,  aquele xicoração lusoguineense! Luís Graça

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Nota do editor:

Último poste da série > 28 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8480: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (19): Em louvor da Ajuda Amiga e do Carlos Fortunato, divulgador de tecnologias simples e amigas do ambiente



Guiné 63/74 - P8613: Agenda Cultural (147): Ciclo de Conferências-debate Os Açores e a Guerra do Ultramar - 1961-1974: história e memória(s) (Carlos Cordeiro) (5): Apontamento e fotos do dia 22 de Julho de 2011

Ponta Delgada / S. Miguel > Terceira sessão do ciclo de conferências “Os Açores e a Guerra do Ultramar (1961-1974): história e memória(s)”. 
Os dois conferencistas: o ex-1.º Tenente Fuzileiro Especial António Vasconcelos Raposo, de pé, no uso da palavra;  o ex-Alf. Mil. CMD Valdemiro Oliveira, sentado.


Mensagem de hoje, 28 de Julho de 2011, do nosso camarada Carlos Cordeiro (ex-Fur Mil At Inf CIC - Angola - 1969-1971), actualmente Professor na Universidade dos Açores, dando-nos notícia do rescaldo de mais uma conferência integrada no ciclo conferências-debates Os Açores e a Guerra do Ultramar – 1961-1974: história e memória(s)*, que ocorreu no passado dia 22 de Julho, sendo conferencistas, António Vasconcelos Raposo, antigo combatente em Angola como oficial Fuzileiro Especial e Valdemiro Correia, antigo combatente também em Angola como alferes miliciano Comando:

Caro Carlos,
Como estamos na “estação calmosa” própria para “vilegiatura” mas, como se vê, o blogue não foi veranear, envio umas fotos e um pequeno texto sobre a conferência da última 6.ª feira aqui na Universidade (pólo de Ponta Delgada, S. Miguel, Açores) para veres se “cabe” no blogue*.

Já agora aproveito para te contar que, no dia da conferência, de manhã, encontrei um amigo e antigo camarada da recruta no CISMI. Disse-me logo: Carlos, logo não posso ir à sessão, pois não estarei em Ponta Delgada. Um camarada de Lisboa, que esteve comigo na Guiné, telefonou-me a alertar para a conferência e disse-lhe então que não podia ir. Como é evidente, o camarada do meu amigo só pode ter lido a notícia publicada no Luís Graça & Camaradas da Guiné, ou então no Ultramar-terraweb.

No mesmo dia, o Tomás disse-me que tinha recebido um e-mail de um amigo do Canadá a pedir-lhe informações sobre a conferência, etc. Interessante isto. Ou será que “o Mundo é pequeno…”?

Um abraço amigo do
Carlos


Apontamento e fotos do dia 22 de Julho de 2011

Na última sexta-feira, lindíssimo dia de Verão, convidando a uma ida à praia ao fim da tarde, mais de quatro dezenas de pessoas quiseram marcar presença na terceira sessão do ciclo de conferências “Os Açores e a Guerra do Ultramar (1961-1974): história e memória(s)”, como que a incentivar os organizadores a prosseguir com o projecto de partilha de memórias e debate de estudos e investigações sobre tão marcante período da nossa História (e das nossas vidas).

A sessão, coordenada pela Prof.ª Doutora Susana Serpa Silva, membro da Comissão Científica, constou da apresentação da conferência “A Guerra Colonial: do emocional à exigência histórica do racional, a visão de dois oficiais da tropa de elite”, a cargo dos antigos combatentes em Angola (1973/75) António Vasconcelos Raposo, ex-1.º Tenente fuzileiro especial e Valdemiro Oliveira, ex-alferes miliciano “Comando”.

Como não tenho ainda na minha posse as comunicações escritas (estamos a pensar reunir todas as conferências em livro, se for possível), prefiro não tentar resumir os discursos de cada um dos oradores, pois podia desvirtuar os seus pontos de vista. Posso, no entanto, dizer que apontaram sobretudo para o segundo termo do subtítulo do ciclo: “memória(s)”. Por isto mesmo, foram comunicações emotivas e contagiantes, que despertaram um debate acalorado, sobretudo a propósito da complexidade das situações vividas no TO de Angola no pós-25 de Abril, tendo sido destacado o facto de, após o 25 de Abril, ainda terem morrido mais de cinco centenas de camaradas nos três TO.

Um dos camaradas da assistência relembrou, emocionado, a raiva que sentiu ao desembarcar no aeroporto de Figo Maduro em data posterior ao 25 de Abril, no termo da comissão. A sua companhia foi insultada com epítetos como fascistas, colonialistas, traidores, etc., tendo sido difícil conter a reacção dos soldados que se sentiam ultrajados depois de terem sofrido, na carne e no espírito, tamanhos sacrifícios no cumprimento do que consideraram ser o seu dever patriótico.
A sessão decorreu entre as 17H30 e as 20H00.

Panorâmica da assistência

Outra panorâmica da assistência. Note-se a significativa presença de senhoras.
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 20 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8576: Agenda Cultural (144): Ciclo de Conferências-debate Os Açores e a Guerra do Ultramar - 1961-1974: história e memória(s) (4) (Carlos Cordeiro)

Vd. último poste da série de 25 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8602: Agenda cultural (146): Reportagem, na TVI, em data a anunciar, sobre a expedição Latitude Zeroº - Rota Ingoré 2011 (24 de Fevereiro / 4 de Março de 2011)

Guiné 63/74 - P8612: Histórias e memórias de Belmiro Tavares (12): Louvores e condecorações

1. Mensagem do nosso camarada Belmiro Tavares, (ex-Alf Mil, CCAÇ 675, Quinhamel, Binta e Farim, 1964/66), com data de 20 de Julho de 2011:


HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DE BELMIRO TAVARES (12)

Louvores e Condecorações

Em texto anterior – o soldado Milhais ou soldado Milhão – abordei parcialmente este tema,... a talho de foice.
Para facilitar dou aqui como reproduzida a minha abordagem naquele texto ao tema em epígrafe.

Não será demais lembrar que este interessante assunto vai aqui ser tratado por um ex-oficial miliciano – já era! Se o autor fosse um oficial do Q.P. ele veria os factos por um outro prisma e a conclusão seria, óbviamente, mais ou menos diametralmente oposta à minha.
O certo é que eu fui miliciano e via as coisas com os meus próprios olhos – apenas isso – não tendo em conta o interesse dos profissionais.
Não quero que entendam que eu era indisciplinado, o mau da fita, ou que fazia tábua rasa dos regulamentos, actuando por minha conta e risco. Nada disso!
Uma coisa é a disciplina; outra é o que eu entendo sobre louvores e medalhas e o por quê da sua atribuição ou não.

Aqui e agora eu sou o autor e transmito a minha própria experiência – apenas isso.

Em Janeiro de 1967 fui galardoado com o Prémio Governador da Guiné e no dia 10 de Junho do mesmo ano fui condecorado com uma Cruz de Guerra fruto dum louvor muito especial, digo eu.

Qual terá sido, para mim, o galardão com maior significado?

Embora se trate de prémios diferentes, um “encherá mais e melhor as medidas” que o outro, independentemente do seu valor real ou subjectivo que cada um possa atribuir-lhe.

Muito raramente eu deixo de ter em conta a face pragmática das coisas.

Assim sendo, considero que o Prémio Governador da Guiné foi o mais importante porque me proporcionou uma vinda ao “Puto” e consequentemente uma “saída do inferno”, durante 35 dias com viagens pagas; até porque em Janeiro de 1966 eu já não podia ausentar-me da Guiné porque o tão desejado fim da comissão já se aproximava, embora com uma indolência difícil de tolerar.

A Cruz de Guerra, por outro lado, possibilitou que eu continuasse os estudos sem pagar proprinas; esta benesse era extensiva também à minha estimada prole caso algum viesse a frequentar o ensino público. Não era mau de todo! Mas...

Reverso da medalha: quando “recebi” a Cruz de Guerra eu já estava colocado no Colégio Militar. Havia ali muitas e variadas festas e nesses dias tínhamos de colocar as condecorações ao peito o que não era de todo agradável; ao deslocarmo-nos, por vezes em corrida, lá ia a medalha a badalar agressivamente e desconfortávelmente no tórax.

Um dia, estando de serviço, fui com um capitão fazer a costumeira apresentação ao General Director do Colégio; era o Gen. Luis Deslandes; quando ele entrava no Colégio os telefones grilavam logo em todos os locais anunciar: “chegou o Homem”; nunca vi uma coisa assim! Os alunos apelidaram-no de “Ajax, o mais poderoso”!

Por ser oriundo de Cavalaria, gostava de ser assiduamente inconveniente, usando e abusando de vocábulos mais ou menos grosseiros – mais ou menos é favor!

O Capitão e eu entrámos na antecâmara do seu gabinete; abeirámo-nos da porta e o capitão, depois de pedir licença, declarou respeitosamente:
- Apresenta-se o capitão F. que vai entrar de serviço!

O Director olhou (eu estava atrás) e respondeu secamente:
- Não aceito a apresentação!

O Capitão pediu licença para se retirar e colocou-se frente a uma espelho grande que eli havia; olhou com atenção e perguntou-me se havia algum motivo perceptível para que a apresentação não fosse aceite.
Eu respondi:
- Nada vejo de anormal; se o senhor não está em condições... eu também não estou!

O capitão fez nova tentativa; a resposta foi mais completa... mais contundente:
- Não aceito a apresentção porque... está mal fardado!

Dizer isto a um capitão, era uma autêntica afronta; muito mais grave era asseverá-lo na presença dum misero subalterno... mas o General tinha “pelo na venta” e ninguem ousava recalcitrar, qualquer que fosse a situação.

O capitão mirou-se de novo; o General aproximou-se e, dirigindo-se a mim, disparou:
- O senhor também está mal fardado!

Agora já doía mais!... porque se referia à minha pessoa.

De seguida o General perguntou aos dois:
- Os senhores não foram condecorados com a Cruz de Guerra? Onde estão os “indicativos”?

Referia-se a uma pequena placa metálica revestida com um nobre tecido com listas verticais verdes e vermelhas e uma minúscula cruz metálica sobreposta.
Senti um profundo desconforto, autêntica frustação até porque eu não sabia que era obrigatório usar “aquilo” mesmo na farda de serviço.

Fiquei convencido que, na verdade, aquela condecoração me provocava demasiados dissabores atrozes; Deixava de ser um louvor (fruto dum) para ser quase... um castigo severo.
Afinal qual dos dois galardões devia eu preferir? Sem dúvida o que escolhi acima.

Conheci casos em que os louvores eram dados... a metro; como quem lança milho às galinhas para não usar ternos mais agressivos e isultuosos.

Ainda no C.M. um Major, ao saber que ia sair para outra Unidade, decidiu louvar meio mundo. Ele era Comandante do Corpo de Alunos; quatro capitães do Q.P. e outros tantos alferes milicianos dependiam dele.

O senhor Major louvou os 4 oficias do Q.P. De seguida distribuiu louvores aos sete professores de Educação Física de quem não era chefe. Engrossou a lista: o capitão instrutor militar, o mestre de esgrima, o mestre de equitação e o capitão chefe de secretaria. Distribuiu também louvores a uns tantos professores civis e militares. Só não louvou patentes superiores à sua porque... a Lei não o permitia.

O seu lema, penso eu, seria: “eu dou um louvor a ti para que outro dê um louvor a mim; quanto mais louvores eu distribuir... mais imponente será o meu”.

Nesta altura do campeonato, alguém lhe sugeriu que não seria de bom tom louvar apenas oficiais do Q.P. esquecendo os milicianos de quem era chefe.
O major, incrivelmente, aceitou a recomendação e eu... fui a vítima. Fiquei profundamente aborrecido, furioso mesmo, porque fui louvado... “por ser cumpridor”. Se não fosse cumpridor haveria lugar a uma admoestação – e já gozas!

Só pode ser verdadeira e justamente louvado aquele que faz algo mais (bastante mais) do que aquilo a que está minimamente obrigado... ser louvado por ser cumpridor... nem ao careca lembra!

Na manhã do dia seguinte dirigi-me, apressado, à secretaria do C.M. e, perguntei, angustiado, ao capitão o que poderia eu fazer para que aquele elogio hipócrita não fosse transcrito para o minha “Folha de Serviço” de certo modo brilhante... pelo menos para mim era e é!

- Nada pode fazer!, informou o capitão; louvores não se discutem; além disso não foi o Sr. Major que o louvou; foi o nosso General por proposta, que o senhor considera injusta e injuriosa do Sr. Major.

Meti a viola no saco, inglóriamente... mas aguardei pela hora da “terrível vingança” que haveria de chegar mais cedo do que eu podia imaginar.

O Major saiu do Colégio; um sábado à tarde passou por lá; entrou na sala de oficias; eu estava de o oficial de dia; encontrava-me ali sozinho a dar umas “cacetadas” nas bolas de bilhar; ele estendeu-me a mão – a tal que redigiu aquele louvor fantasma e estúpido – eu, sem boina na cabeça, pus-me em sentido... esquecendo aquela vil mãozinha marota; ele virou as costas com o “rabo entre as pernas e... nunca mais o vi. Senti-me plenamente vingado,... mas aquele autêntico escarro lá foi parar à minha Folha de Serviço.
Que vergonha!

Por vezes as condecorações estão na base da “bronca”. Há muitos casos inéditos e insólitos (uns mais que outros). “Consta” que um antigo ministro raro de Salazar se deslocou a Angola no longínquo ano de 1961 por altura da “tomada” da Pedra Verde (conquista).

Visitava um qualquer quartel algures no Norte de Angola; eis que um grupo de soldados “cagados” de lama e de sangue entra na unidade; logo ali o ministro “apenduricalhou” aqueles “bravos” (!?) rapazes que – pasme-se! – vinham duma... monumental caçada!

Um dia em Farim, um alferes miliciano comandava, interinamente, a 1ª C.C.

Todos os dias, ao fim da tarde, o alferes ia de jeep até ao centro da vila para se encontar com os oficiais do Batalhão ali aquartelado.

O Alferes aproximava-se da “porta d’armas” quando o 1.º Sargento da Companhia, correndo, gritou, que esperasse para assinar a O.S.; o incauto alferes assinou... “de cruz”; naquela O.S. estava inscrito um louvor estrondoso e não merecido àquele 1.º Sargento – diga-se que se tratava dum bom “vendedor” daquilo que não lhe pertencia; lá ia auferindo umas boas “massas” traficando géneros que se destinavam aos soldados africanos e não só.

A dita O.S. chegou ao comando do BCav 490 cujo comandante a mandou anular, e substituir por outra, excluindo apenas o tal “auto-louvor”. Ele conhecia bem aquela “peça”!

Deve haver muita cautela, profunda ponderação para que louvores e condecorações... não sejam banalizados, abandalhados ou venham a causar situações embaraçosas ou mesmo... ridículas!

Acima de tudo... respeito, muito respeito pelas condecorações e pelos que abnegadamente as mereceram... até mesmo por aqueles que, merecendo-as, por juízos incógnitos de um qualquer “Deus” injusto, não foram condecorados.

Julho de 2011
Belmiro Tavares
Ten. Mil.
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Nota de CV:

Vd. poste de 26 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8605: Histórias e memórias de Belmiro Tavares (11): O Soldado Milhais ou O Soldado Milhão

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Guiné 63/74 - P8611: Parabéns a você (293): Agradecimento de António Dâmaso

1. Mensagem do nosso camarada António Dâmaso (Sargento-Mor Pára-quedista da FAP na situação de Reforma Extraordinária) com data de 27 de Julho de 2011:

Camaradas
Fiquei muito sensibilizado com as manifestações de amizade, porque as considerei de amizade e não como um mero formalismo. Agradeço a todos que se dignaram enviar-me uma palavra amiga no dia do meu aniversário, quer através do Blogue, quer directamente para o meu endereço. Assim até dá gosto fazer anos, fico à espera do próximo*.

Permitam-me que faça referência a alguns, para já ao camarada Miguel Pessoa que continua a surpreender-me pelo grafismo e não só, trouxe-me à memória tempos áureos da minha infância, dos aniversários nunca festejados nem prendados por falta de verba. Eu pertencia a uma geração desenrascada, comecei a ganhar para a bucha aos 6 anos de idade.

Depois da minha infância feliz, hoje em dia estou muito preocupado com alguns dos "infelizes" da geração de enrascados. São obrigados a viver na casa dos pais, sustentados e vestidos por estes, com direito a carro, mesada e outras mordomias, são obrigados a fazer licenciaturas e mestrados à conta dos papás e do erário público. Muitos deles dizem que estão preocupados porque não têm emprego, será que alguma vez se preocuparam em procurar trabalho?
Estamos numa sociedade de doutores, em detrimento de cursos técnico-práticos, de onde saíssem bons mecânicos, electricistas, carpinteiros, trolhas e outras profissões hoje julgadas menores.

Claro que existe muita gente que gostaria de ter trabalho, que foi o que eu tive aos seis anos de idade e não fui menos feliz por isso. Imaginem um puto de 6 anos atrás de uma charrua puxada por uma junta de bois, com um cestinho na volta do braço, com a sua pequena mão cheia de bagos de milho, preocupado em deixar cair um bago à frente do pé a cada passo, porque se fossem dois, tinha de se dobrar para apanhar um. Mas não era só isso, como pertencia à patuleia, tinha de ir atento às pedras pontiagudas, aos liconços e aos lacraus que iam surgindo no fundo do rego.

Considerei-me muito maior e talvez mais realizado do que aqueles da mesma idade que hoje em dia com os jogos de vídeo se entretêm a matar tudo e todos que se atravessam na frente.

A Sociedade de hoje exige mais atenção por parte dos pais e dos governantes.

Manuel Maia, sou leitor assíduo das tuas intervenções que considero de excelência.

Fernando Gouveia, na tenho nada Kontra, devorei os episódios do teu livro quando publicados no Blogue. Acerca das datas por ti mencionadas, fui para Bafatá a 8 ou 9 de Julho de 1960, o infeliz acidente da queda do Heli-canhão foi mesmo no dia 12 de Julho de 1969.  Acrescento que no mesmo dia eles tinham caçado um javali, não sei se alguém o chegou a comer. Por exemplo,  lembro-me que os melhores bifes de cebolada que comi, foi precisamente lá no Esquadrão Fox [, em Bafatá,] onde estava aquartelado, também não esqueci o belíssimo frango de churrasco que me deram em Galomaro, quando cheguei cansado e faminto de uma operação.

Luís Dias, tens tido um trabalho meritório, vê-se que és um homem de armas, vou pedir para usar algumas fotos tuas, fazendo referência à autoria das mesmas, também te digo que o primeiro ataque nocturno que sofri, foi precisamente em Dulombi, que se não estou em erro foi entre 24 e 30 de Julho de 19609. Estava também lá nessa noite um pelotão ou bigrupo de uma Companhia de Madeirenses, sofreram um morto no ataque, não sei se era a CCAÇ 2405 ou CCAÇ 2406.

Vasco Ferreira, estivemos em Cadique no início, eu era do 3.º Pelotão da CCP 121, adjunto do Alferes Ferreira que para miliciano era “teso”,  o que lhe valeu trazer de lá uma Cruz de Guerra pela actuação em Gadamael Porto. Se não estou em erro o teu pelotão saiu com o meu, havia na tua CCAÇ 4540 um cabo enfermeiro que era da minha terra Odemira, o nome é Augusto Correia Gonçalves.

Na Guiné apanhei do Bom, do Mau e do Pior, mais de uma vez tive de cavar o meu próprio abrigo, só não passei por Gandembel. Para mim não há Tropa Especial, mas sim militares com mais ou menos preparação e voluntariado, isso faz a diferença. Fiz quadrícula por isso sei dar o valor ao que todos por lá penaram e têm a minha solidariedade e admiração.

Tenho um familiar que fez anos a 14, a família reuniu neste fim-de-semana e festejamos 2 em 1. Parece que a história se repete, no meu tempo não havia prendas para ninguém e agora é só para as crianças. Nessa altura ergui a minha taça à vossa saúde e em memória daqueles que precocemente foram obrigados a nos deixar e aos que seguindo a lei da vida nos têm deixado.

Bem hajam, um abraço amigo
Dâmaso
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 12 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8543: Parabéns a você (289): António Dâmaso, Sargento-Mor Pára-quedista Reformado (Tertúlia / Editores)

Vd. último poste da série de 17 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8563: Parabéns a você (292): Álvaro Basto, ex-Fur Mil Enf da CART 3492/BART 3873 e José Manuel Pechorro, ex-1º. Cabo Op Cripto da CCAÇ 19 (Tertúlia / Editores)

Guiné 63/74 - P8610: Efemérides (73): 27 de Julho de 1970: Amélia teve um menino (José Marcelino Martins)

1. Mensagem do nosso camarada José Marcelino Martins* (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70) [, foto à direita, no seu escritório,] com data de 27 de Julho de 2011:

Bom dia a todos

Não sei como, algo me recordou que o penúltimo Presidente do Conselho de Ministros de Portugal, Prof António de Oliveira Salazar, faz 41 anos que morreu.

Houve muitas anedotas, incluindo aquela que perguntava em que posição, no cortejo fúnebre, ocupava o sucessor,  Marcelo Caetano... Obviamente que ocupava o lugar "atrás das coroas".

Bem, segue um texto do [meu] livro não publicado, REFREGA, sobre os antecedentes, desta efémeride.

Um abraço
José Martins


AMÉLIA TEVE UM MENINO
por José Martins

Se na metrópole algumas notícias levavam tempo a chegar ao conhecimento das pessoas, lá longe, em plena África, só chegavam as notícias triviais que os familiares e amigos enviavam aos militares, cientes de que não haveria problemas, quer para uns quer para outros, se fossem interceptadas.

Por isso, era sempre ansiado o regresso dos companheiros que tinham vindo gozar os seus dias de férias à metrópole. Nessas alturas, além dos petiscos que era normal levarmos, havia noticias frescas, isto é, noticias mais recentes, ou com menos antiguidade, daquelas que os jornais que nos chegavam através do correio levavam, e, sobretudo, aquelas que corriam à boca pequena, e que eram transmitidas quase em surdina.

A uma distância de mais de trinta anos, já não me recordo bem como a notícia da queda do Presidente do Conselho, Doutor Oliveira Salazar, enquanto passava férias na Forte de S. João do Estoril, chegou ao nosso conhecimento nas matas da Guiné. Recordo-me, isso sim, de que pouco ou nada sabíamos.

O acidente tinha acontecido no dia 6 de Agosto de 1968. Muito provavelmente a notícia chegou através de alguém que, depois dessa data, regressou ao nosso convívio.

Naturalmente, especulámos o que se poderia seguir, já que nos encontrávamos numa zona bastante activa, e, entre nós e a fronteira da Guiné-Conacri,  só havia terreno sem controle das nossas tropas.

Como outros, este assunto era tabu e apenas comentado em “círculo” muito restrito. Com as praças europeias, e nessa altura estava connosco a Companhia de Artilharia n.º 2338, não havia comentários e, se alguma tentativa houvesse, decerto que seria desviada; para as praças africanas Salazar era apenas o “Homem Grande de Lisboa”.

Passou, então, a haver um acordo para que, assim que o falecimento do ex-presidente ocorresse, já que tinha sido exonerado em 27 de Setembro de 1968, quem estivesse na metrópole enviaria, para o capitão da CART [2338] , que era o autor da ideia, um telegrama com o texto “Amélia teve um menino”.

É evidente que, quando vim de férias em Novembro de 1968, não deixei de comentar o facto com pessoas de confiança, no caso o meu pai, e dei-lhe a “senha” para o caso de ser tempo de a usar.

E o tempo foi correndo. A CART [2338] saiu de Canjadude em Março de 1969 para Nova Lamego e daí para Buruntuma em Maio, passando por Pirada até ao seu regresso em Novembro de 1969, pelo que nunca mais tive contacto com qualquer elemento da unidade. Eu próprio viria a terminar a comissão em Maio de 1970 e regressado à vida civil, tudo “voltou ao normal”.

Estava a findar a mês de Julho de 1970, era dia 27, e pouco mais de um mês tinha passado desde o meu regresso. Como habitualmente fazia, depois de ir buscar a Manela, minha noiva, ao emprego e deixá-la em casa da mãe, fui para casa para jantar.

O meu opai, com ar de caso, chamando-me à parte, disse:
- “Amélia teve um menino”.
- Amélia ? Que Amélia ?...

A resposta veio rápida, pausada e em voz baixa, como convinha à época:
- Quando cá vieste de férias em Novembro de 68, não me pediste que, caso acontecesse algima coisa na política, em resultado da queda da cadeira do então Presidente do Conselho, para te mandar um telegrama com esta frase para a Guiné...?

Realmente a frase não me era estranha, mas nesse dia ainda não tinha ouvido noticias que, decerto, já corriam de boca em boca.

E concluiu:
- Este telegrama é falado! Salazar morreu!

5 de Setembro de 2002
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 10 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8538: In Memoriam (84): No dia 5 de Maio de 2011 morreu o último combatente da I Grande Guerra (José Martins)

Vd. último poste da série de 18 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8441: Efemérides (51): A nossa malta no 10 de Junho, em Belém (2) (Arménio Estorninho)

Guiné 63/74 - P8609: (Ex)citações (144): O Google Maps é agora quem mais ordena ? A confusão de topónimos: A Bissorã do nosso tempo chama-se agora Califórnia ?!... Piada de mau gosto, erro técnico, distracção, estupidez etnocêntrica... ? (Manuel Joaquim, CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã, Mansabá, 1965/1967)


Guiné- Bissau > Região do Oio > Bissorã > Mapa 1/500 000 (detalhe) > Bissorã, capital da Região do Oio... Em 2004, o sector de Bissorão teria mais de 50 mil habitantes. A cidade tinha uma população estimada em cerca de 12 mil (em 2008) e está geminada (ou tem um protocolo de acordo) com a cidade de Braga

A Região  do Oio com mais de 200 mil habitantes é composta pelos sectores de Bissorã,  Farim, Mansabá, Mansoa e Nhacra.   

Fonte: Guiné-Bissau, Mapa, 1/500 00, 1ª edição. Paris: Instituto Geográfico Nacional de França. 1981. (Reproduzido com a devida vénia...) 

1. No Google Maps, certamente por lamentável e involuntário engano,  o topónimo Bissorã aparece substituído por California.  [Sobre Bissorã temos mais de 100 referências no nosso blogue].

Este erro, que está a gerar alguma confusão entre os camaradas que estiveram em (ou passaram por) Bissorã,   poderá ter ter sido provocado ou, melhor, agravada por um vídeo, de 2009, da autoria do jornalista espanhol Luis de Vega ,com a duração de 4' 44'', e que tem justamente como título California, un pueblo africano e como legenda o seguinte: "Visita del periodista Luis de Vega a la región (sic) de California en Guinea Bissau. Inauguración del nuevo colegio que se financio gracias a la subasta de sus fotos"... 

No vídeo, o  jornalista é conduzido de jipe  ao "pueblo" de California, onde foi construída uma escola (Escola de California, em português, e não em espanhol...), graças à cooperação espanhola (não sei de que origem, religiosa, laica...).  Braima Sanhá é o condutor e o guia. Fala fluentemente espanhol, e fica-se a saber, pelas fotos do seu álbum,  que esteve em tempos alistado na Legião Estrangeira, possivelmente nalguma cidade espanhola do norte de África.

No final do vídeo, depois de agradecer a ajuda espanhola, fica claro, das  palavras de Braima Sanhá, que ele está a falar a partir de California (aldeia), Bissorã (sector), República da Guiné-Bissau (país). Não pode portanto haver confusão entre os dois topónimos...  

Bissorã é, de resto,  um topónimo gentílico, que já vinha do tempo dos portugueses, e que portanto não foi (nem faria sentido ser) mudado pelas novas autoridades do país, contrariamente aos casos de Canchungo (antiga Teixeira Pinto), Quebo (antiga Aldeia Formosa) e  Gabu (antiga Nova Lamego), três nomes que me ocorrem assim de repente (mas tambem não haverá muitos mais)...

Sobre este assunto, o nosso querido amigo Carlos Fortunato, presidente da Ajuda Amiga, e ex-Fur Mil da CCAÇ 13, os Leões Negros (1969/71) e que tem Bissorã no coração, talvez nos possa adiantar mais alguns esclarecimentos. Ele volta sempre a Bissorã, quando vai à Guiné-Bissau, no descurso das expedições da Ajuda Amiga. 

Aliás, o Manuel Joaquim, também membro da direcção da  ONGD Ajuda Amiga, está melhor posicionado do que eu para falar directamente com o Carlos sobre esta aparente confusão... Infelizmente, não conheço o Oio (o mais longe que fui, a norte de Bissau, foi a Mansoa, em 2008...) e muito menos Bissorã que, tudo indica, terá crescido bastante depois da independência.

De qualquer modo, quando se procura Bissorã no mapa da Guiné-Bissau, o Sr. Google (Maps) espeta-nos logo com ... a Califórnia... que deverá ser apenas um aglomerado populacional na periferia da cidade de Bissorã...

Segundo o Google Earth,  há uma Ponta California perto de Bissauzinho,  Quinhamel, Biombo, Guiné-Bissau... Mas também nos mostra, de maneira inequívoca, a cidade de Bissora (sic) no Oio, em 3D... 

Na verdade, gosto deste sítio, o maplandia.com [ google maps world gazetteer]:

(...) "Maplandia.com provides the searchable world gazetteer based on Google Maps, the most comprehensive online satellite imagery ever available. More than 2 000 000 places all over the world are divided into many geographical categories according to continents, countries and administrative regions. Coloured region contours, direct Google Earth links and other no elsewhere to find features make exploring the world easy as never before. Maplandia.com is here for you. Don't wait, explore the world today!" (...).

Parece, em todo o caso, haver um conflito, a respeito da denominação de Bissorã, no Google Maps, por oposição ao Google Earth... (LG).



 2. Comentário do Manuel Joaquim [, foto à esquerda,] ao poste P8593, com data de 25 do corrente: Olá, Zé Rodrigues, meu grande camarada da CCaç 1419! Que prazer em "ver-te" por aqui! Um grande abraço!

Anda lá, decide-te e entra cá na Tabanca! Ando por aqui sozinho a representar a CCaç 1419!

Olha,  Zé, acerta os tempos da 1419 na Guiné:

(i) em Bissau - dois meses e 20 dias;
(ii) em Bissorã - 12 meses;
(iii) em Mansabá - seis meses.

Chegámos a Bissau no início de Agosto de 1965, saímos para Bissorã a 24/10/65 e daqui saímos para Mansabá no fim de Outubro de 1966 onde estivemos até quase ao fim de Abril de 1967. Essa memória!

E agora... a CALIFÓRNIA! O Rogério Cardoso até acha que pode ser brincadeira, mas não é! Ó Rogério, é assim que o GOOGLE MAPS identifica Bissorã!

Não sei a razão, deve ser erro ( que existe já há muitos meses) porque não me consta que Bissorã tenha mudado de nome. É verdade que já vi um video no Youtube referente a uma ação missionária para a construção de uma escola em que está uma pequena construção com uma placa "Escuela de California" e onde um dos intervenientes fala de California, Bissorã.

Alguém por aqui pode ajudar a entender isto?

[ Revisão / Fixação de texto / legendas / título: L.G.]

Guiné 63/74 - P8608: In Memoriam (85): No dia 23 de Julho de 2011 faleceu Joaquim Vicente Silva, 1º Cabo At, 3ª CCCAÇ / BCAV 8323, Pirada, 1973/74, natural de Mafra (António Graça Abreu / Eduardo Magalhães Ribeiro)


1. O nosso Camarada António Graça de Abreu (ex-Alf Mil, no CAOP 1, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74), ao Poste 7381, enviou-nos um texto com mais uma lamentável e triste notícia para todos nós:

Na morte de Joaquim Vicente Silva, 1º Cabo Atirador da 3ª CCAÇ do BCAV 8323, Pirada, 1973/74


Através de mail do António Rodrigues, um dos bravos de Copá da 1ª Companhia do BCAV 8323, acabo de receber a triste notícia do falecimento do 1º cabo  Joaquim Vicente Silva, nosso camarada, o dono do talho de Alcaínça, Mafra. Durante os anos em que tive casa na aldeia mafrense (, até 2009), mantive com o Joaquim Vicente infindáveis horas de inteligente e entusiasmante conversa sobre a nossa Guiné, sobretudo o que aconteceu no Leste nos últimos meses de guerra, pouco antes do 25 de Abril de 74.

O Joaquim Vicente Silva [, foto à direita, ] era um homem por demais honesto e bom, amigo do seu amigo, sempre dedicado aos seus companheiros da Guiné. Organizou vários almoços do seu batalhão (o mesmo do António Rodrigues e do Amílcar Ventura) em Mafra e na Ericeira, e tinha, orgulhosamente, na montra do talho umas tantas placas comemorativas da passagem pela Guiné e desses mesmos convívios.

Não o via há uns bons meses. Há duas semanas atrás passei por Alcainça e reparei que o talho do Joaquim Vicente, à saída da aldeia, estava fechado e com um letreiro VENDE-SE. Imaginei o Joaquim no ripanço, a preparar a reforma, incapaz de resistir como pequeno empresário das carnes à avalanche de hipermercados que inundam Mafra. E prometi a mim próprio, numa próxima ida a Alcainça, procurá-lo e dar-lhe um fortíssimo abraço. Não o sabia doente, um cancro no pâncreas detectado em finais de 2010.

No nosso blogue, poste P3995 – recomendo que leiam - escrevi sobre o Joaquim Vicente Silva, assim:

“Mês e meio depois, a 31 de Março de 1974, partia de Bajocunda para Copá, a pé, -- quase trinta quilómetros de jornada --, uma grande coluna de tropas portuguesas. Era uma operação de quatro dias da responsabilidade do BCav 8323. Seguiram dois pelotões da companhia de Pirada, dois pelotões de Bajocunda e um pelotão de milícias, cerca de cento e trinta homens.Um dos soldados que participou nessa operação chamava-se, chama-se, Joaquim Vicente Silva. É o meu camarada e amigo dono do talho de S. Miguel de Alcainça, Mafra, aqui a quatrocentos metros da minha humilde casa na aldeia.

"O Joaquim Vicente contou-me toda a história. Avançaram com dificuldade e algum receio, havia minas na picada, dormiram no mato, mas chegaram em paz a Copá. Para sua surpresa verificaram que os guerrilheiros não haviam entrado no destacamento. Continuava tudo armadilhado, os homens do PAIGC não haviam tocado em nada. Patrulharam a região em volta de Copá e não só não encontraram ninguém como não tiveram qualquer contacto com o IN.

"Três dias depois, já no regresso, perto de Bajocunda foram flagelados com tiros soltos de Kalashnikov, disparados a partir de uma bolanha, sem quaisquer consequências”.


Honra à sua alma, que descanse em paz. O Joaquim Vicente Silva já não está entre nós.
Partiu para Deus, para o grande vazio. Tinha 60 anos.

António Graça de Abreu

Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Pirada > 3ª CCAV / BCAV 8323 (1973/74) > O 1º Cabo Joaquim Vicente Silva, em 26 de Abril de 1974, com os restos das lembranças do ataque do dia anterior (Neste caso parte de um foguetão 122 mm).

2. Comentário do editor:


É nossa vontade expressa que o o 1º Cabo Joaquim Vicente Silva (1951-2011), que não tinha email nem computador,  passe a integrar formalmente a nossa Tabanca Grande, com o nº 509,  e a figurar na lista dos "amigos/as e camaradas que da lei da morte se foram libertando"... Infelizmente, com ele, já são treze.


A sua apresentação, por ele próprio,  aos amigos e camaradas da Guiné já tinha sido feita em 30 de Março de 2009, através do poste P4106 (O dia 25 de Abril de 1974, em Pirada, a ferro e fogo)


(...) Apresenta-se o 1º cabo atirador 045385/73, Joaquim Vicente da Silva (na foto, à esquerda), da 3ª companhia do BCav 8323, comandado pelo coronel Jorge Matias, estacionada em Pirada, Guiné, 1973/1974.

Vivo em S. Miguel de Alcainça, a terra onde nasci, perto de Mafra e da Malveira, e sou o dono do talho de Alcainça. No blogue, o António Graça de Abreu, que tem casa aqui na terra, já falou em mim e entusiasmou-me a escrever para o blogue do Luís Graça e dos camaradas da Guiné.

Junto três fotografias minhas, a primeira em Pirada a 26 de Abril de 1974, com os restos das lembranças do ataque do dia anterior, outra de como sou hoje e a última de uma bateria anti-aérea que foi montada por nós, em Pirada, já depois do 25 de Abril. (...)

Foi no dia 25 de Abril de 1974, à noite, através da BBC, e depois de um violentíssimo (e mortífero) ataque de morteiros e foguetões 122 mm a Pirada, que o Joaquim Vicente Silva soube dos acontecimentos em Lisboa:Por lapso ou distracção nossa, o nome do Joaquim Vicente Silva nunca chegou a integrar a lista (alfabética) dos amigos e camaradas da Guiné, reunidos à sombra do poilão da Tabanca Grande, e que consta da página principal do nosso blogue (coluna à esquerda). Uma pequena injustiça que a morte veio agora reparar.


(...) Nesse dia nós, cabos e soldados não sabíamos nada do que estava a acontecer cá na Metrópole. Só à noite, através da BBC é que tivemos conhecimento do golpe de Estado. Foi uma grande alegria para todos nós porque pensámos logo que a guerra acabava naquele dia. Festejámos com muitas cervejas. No dia seguinte na telefonia, começámos a ouvir a Grândola, Vila Morena e outras músicas do Zeca Afonso. A guerra ia acabar, que alegria! (...).

À família enlutada, aos amigos mais próximos, desolados, ao António Graça de Abreu que com  ele privou em São Miguel de Alcainça, ao António Rodrigues, ao Amílcar Ventura e aos demais camaradas do BCAV 8323 com que ele lutaram, sofreram, conviveram e/ou privaram,  expressamos a nossa tristeza pelo desaparecimento (físico) de mais um camarada e um bravo da Guiné, comprometendo-nos a honrar a sua memória, como é obrigação nossa (EMR).
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terça-feira, 26 de julho de 2011

Guiné 63/74 - P8607: Convívios (364): 2º Almoço-Confraternização do BCAÇ 4610/73, 3 de Setembro de 2011 em Pombal (José Romão)

1. O nosso Camarada Jaime Calado Mendes, ex-1º Cabo Escriturário da 2ª CCAÇ, do BAÇ 4610/73, Camajabá, 1973/74, enviou-nos o programa da próxima festa do seu batalhão, com pedido de publicação.

Camaradas,

Antes de mais quero enaltecer o vosso excelente trabalho em prol deste blogue.

Sou um pira de Camajabá, viajei com o Magalhães Ribeiro e muitos outros camaradas no Uíge, no regresso de Bissau a casa.

Agora quero pedir que publiquem a seguinte nota.

2º Almoço-Confraternização do BCAÇ 4610/73
3 de Setembro de 2011

Camaradas do Batalhão de Caçadores 4610/73, vai realizar-se no dia 3 de Setembro deste ano, o 2º Almoço-Confraternização no restaurante Manjar do Marquês, EN nº 1, em Pombal.

Os contactos para a inscrição no evento são:

Jaime Calado Mendes (1º Cabo Escriturário) da 2ª CCAÇ. Telef. 212 536 691 ou Telemóvel: 966 459 752.

Custódio Rodrigues (1º Cabo Escriturário) da 1ª CCAÇ. Telef. 263 853 567 ou Telemóvel: 965 766 536.

P.S. - Ainda me encontro a trabalhar e tenho pouco tempo para me inscrever na Tabanca Grande.

Jaime Mendes
1º Cabo Escriturário da 2ª CCAÇ do BCAÇ 4610/73
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Nota de MR:


Guiné 63/71 - P8606: Em busca de... (173): Maurício Wilson, formando da FAU/UFRJ, Brasil, procura fotografias antigas, mapas e dados de estudos de solo da ilha de Bolama


Guiné-Bissau > Região de Bolama / Bijagós > Bolama > Agosto de 2010 > Antigo Palácio de Bolama, vai cair brevemente. [Sede da antiga Câmara Municipal, onde Carlos Domingos Gomes, Cadogo Pai,  foi vereador em 1957. Em Bolama, em 1949, nasceu o 1º Ministro, Carlos Gomes Jr.; aqui também viveu na infância o nosso amigo Prof Leopoldo Amado, cujo pai era chefe dos correios...].

Foto : © Patrício Ribeiro (2010). Todos os direitos reservados.

1. No dia 21 de Julho de 2011, recebemos de Maurício Wilson, aluno da Faculdade de Arquitectura e Urbanismo da Universdade Federal do  Rio de Janeiro, a seguinte mensagem:

Boa tarde, senhores Carlos Vinhal, Eduardo Magalhães Ribeiro e todos Camaradas.

Sou Maurício Wilson aqui da FAU/UFRJ [Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federeal do Rio de Janeiro].

Estou a coordenar um projeto que visa a Ordenação da Paisagem na Ilha de Bolama, através do controle de ocupação e uso do solo. A proposta visa a recuperação de edifícios históricos da memória portuguesa.

Desejaria mais informações através das fotografias antigas, mapas, dados de estudos de solo para construção de porto da cidade. Caso os senhores conhecem um lugar que eu poderia encontrar esses documentos, peço que me informem por favor.

Estive em Lisboa no Arquivo Histórico Ultramarino, mas só encontrei documentos das edificações após a criação de Gabinete do Urbanismo Colonial de 1944 a 1975. Eu desejaria também os documentos de 1879 a 1941 pelo menos, o período que a Bolama foi capital.

Obrigado e um grande abraço a todos.
mauriciowcsilva@yahoo.com.br


2. No dia 25 de Julho de 2011 recebemos uma mensagem de Moacir Ximenes, Professor de História no Brasil com o seguinte teor:

Olá companheiros de Bolama, Angola. Sou professor de História no Brasil e vi nesse blog que o Palácio cairá brevemente. Fiquei com pena, é um lindo palácio. Não tem como a comunidade fazer movimentos para restaurá-lo?

Moacir Ximenes
moacirximenes@hotmail.com
Brasil, 24 de Julho de 2011


3. Comentários de CV:

(i) Caro amigo Maurício Wilson, tem no nosso Blogue algumas fotos e publicações referentes à cidade de Bolama, cujo link para aceder é http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/search/label/Bolama

Se algum dos nossos leitores dispuser de elementos que possa fornecer para ajudar o nosso amigo na tarefa de Ordenação da Paisagem na Ilha de Bolama, podem contactá-lo directamente para o efeito.
Os ex-combatentes da Guiné, especialmente aqueles que passaram por Bolama,  congratulam-se pela iniciativa a levar a cabo pela FAU/UFRJ.


(ii) Quanto ao Prof. Moacir Ximenes, informamos que a cidade de Bolama não é em Angola, como certamente por  lapso escreveu, mas sim na República da Guiné-Bissau. Consulte o mapa de Bolama aqui.

Para complemento de informação aqui fica esta cronologia coligida pelo nosso Editor Luís Graça:

1. A Guiné Colonial: cronologia resumida
(Elementos coligidos por L.G. Em construção)

(i) No século XIII, chegam a esta região da costa ocidental de África os povos naulu e landurna, na sequência do declínio do império do Ghana.

(ii) É já no século XIV que esta zona passa a integrar o vasto império do Mali, vindo os primeiros navegadores portugueses a estabelecerem contacto com ela em 1446-47. Inicia-se então um longo processo de implantação do monopólio comercial na região, incluindo ouro e escravos, o qual vai ser, durante muito tempo, frequentemente e sobretudo contestado por corsários e traficantes franceses, holandeses e ingleses.

(iii) Em 1588 os portugueses fundam, junto à costa, em Cacheu, a primeira povoação criada de raiz, a qual será sede dos capitães-mores, nomeados pelo rei de Portugal, embora sob jurisdição de Cabo Verde; passa a vila em 1605.

(iv) Seguir-se-á a criação da localidade de Geba, bem no interior do continente.

(v) Em 1642, os portugueses fundam Farim e Ziguinchor (esta última cidade integrando hoje o território do Senegal), a partir da deslocação de habitantes de Geba, e dando início a uma ocupação das margens dos rios Casamansa, Cacheu, Geba e Buba, a qual se torna efectiva em 1700; passa então a zona a ser designada por Rios da Guiné.

(vi) Entre 1753 e 1775 inicia-se a construção da fortaleza da Amura, em Bissau (que era uma ilha), a partir do trabalho de cabo-verdianos, vindos especialmente das Ilhas de Cabo Verde para o efeito. É o nascimento da futura vila, cidade e capital de Bissau (a partir de 1942).

(vii) Em 1800 a Inglaterra começa a fazer sentir a sua influência na Guiné, iniciando a sua reivindicação pela tutela da ilha de Bolama, arquipélago dos Bijagós, Buba e todo o litoral em frente.

(viii) Com a abolição da escravatura no século XIX (Em Portugal, em 10 de Dezembero de 1836), sobrevém uma crise económica que tem como consequência o início da produção de novas culturas, como a mancarra (amendoim) e a borracha.

(ix) Honório Pereira Barreto, natural do Cacheu, filho de pai caboverdeano e mãe guineense, é nomeado provedor de Cacheu, por decreto de 30 de Março de 1843; em 3 de Fevereiro de 1844, domina a revolta dos Manjacos no Cacheu, com o auxílio do seu tio Francisco Carvalho Alvarenga, comandante de Ziguinchor; no mesmo ano, em 11 de Setembro, eclode a "guerra de Bissau";

(x) Honório Barreto domina a revolta dos grumetes do Cacheu, com reforços vindos de Ziguinchor; concede-lhes depois perdão, uma vez feita a paz (8 de Dezembro);

(xi) Em 1859, morre Honório Barreto na Fortaleza de São José de Bissau (Amura) (26 de Abril);

(xii) Em 1870, por arbitragem do presidente dos EUA, Ulysses Grant, a Inglaterra desiste das suas pretensões sobre Bolama e zonas adjacentes (21 de Abril); ainda neste ano, é feito um acordo com s régulos nalus, estendendo a influência portugesa no sul da Guiné até à foz do Rio Tombali (24 de Novembro);

(xiii) Com a vitória militar dos felupes de Djufunco, em 1879, no que ficou a ser conhecido na história como o “desastre de Bolol”, onde os militares portugueses sofreram uma dura derrota no confronto com as populações locais, a coroa portuguesa decide a separação administrativa de Cabo Verde e a criação da “Província da Guiné Portuguesa”, com capital em Bolama;

(xiv) Desaire militar dos fulas no ataque a Buba (1 de Fevereiro de 1881); o filho do régulo fula Alfa Iaiá reconhece o protectorado português sobre parte do Futa Djalon, por tratado de 3 de Julho desse ano;

(xv) Numa tentativa de afirmação da soberania portuguesa, verifica-se então o início de acções militares punitivas contra os papeis em Bissau e no Biombo (1882-84), os balantas em Nhacra (1882-84), os manjacos em Caió (1883) e os beafadas em Djabadá (1882).

(xii) A estratégia colonial passa igualmente por uma segunda vertente: o apoio sistemático com tropas e armamento a uma das partes dos conflitos indígenas. É o que se passa em 1881-82, com o apoio aos fulas-pretos do Forreá na sua luta com os fulas-forros.

(xiii) Os focos de contestação e a rebelião permanente e consequente dos diversos grupos étnicos fez com que o poder colonial se limitasse ao controlo de algumas praças e presídios (Bissau, Bolama, Cacheu Farim e Geba).

(xiv) Paralelamente, começa a instalação de propriedade de colonos ou de luso-africanos, em várias explorações agrícolas de grande dimensão (pontas) inicialmente dedicadas ao cultivo da mancarra.

(xv) Assinatura em Paris da convenção franco-portuguesa de delimitação das fronteiras da Guiné (15 de Janeiro de 1886); em 12 de Maio de 1886, são delimitadas as fronteiras entre a Guiné Portuguesa e a África Ocidental Francesa, passando a região de Casamansa para o controlo da França, por troca com a região de Quitafine (Cacine), no sul do país; em Sancorlá, no Geba, o tenente Geraldes vence os fulas-pretos comandados pelo célebre régulo Mussá Moló (23 a 30 de Setembro de 1886);

(xvi) A população desencadeia a partir do final do século XIX uma decidida vaga insurreccional no Oio (1897 e 1902), no chão dos felupes (1905), em Badora e no Cuor (1907-08); a Guerra de Bissau (1908) junta papéis e balantas do Cumeré; em 28 de Fevereiro de 1891, o Cumeré ataca fortaleza de São José de Bissau (Amura);

(xvii) O ministro Ferreira do Amaral transforma a Guiné, por decreto de 21 de Maio de 1892, num distrito militar autónomo;

(xviii) Em 10 de Maio de 1894, papéis e grumetes agridem (e fazem extorsões a) os comerciantes em Bissau; o governador Sousa Lage, com o apoio de duas canhoneiras chegadas de Lisboa, e de tropas vindas de Angola, Cabo Verde e Lisboa, conquista Intim e Bandim, chão papel;

(xix) Em 19 de Maio de 1899, o governador Álvaro Herfculano da Cunha obtém vassalagens voluntárias dos balantas e do régulo papel de Intim, reunindo-se com eles no Cumeré em Safim sem disparar um tiro, e pondo termo às campanhas contra as etnias animistas;

(xx) O capitão José Carlos Botelho Moniz parte do Cacheu contra os felupes de Varela que se recusavam a pagar imposto, atacando e destruindo a povoação, quebrando o mito de os brancos  (tugas) não entrarem em território felupe e desarmando os de Djufunco e Egim (10 a 16 de Março de 1908);

(xxi) O governador Oliveira Muzanty, com reforços da Metrópole, organiza a maior expedição militar na Guiné (até 1963!), vencendo a resistência dos beafadas liderados pro Unfali Soncó no Cuor e Ganturé; restabelece as comunicações entre Bissau e Bafatá (5 a 24 de Abril de 1908); a 15 de Maio, a expedição militar regressa à Metrópole;

(xxii) Segue-se um período que vai de 1910 a 1925 de resistência à forte repressão das forças coloniais as quais lhe deram o nome de “guerra de pacificação”, embora os verdadeiros objectivos das acções militares fossem o de pretender eliminar os chefes militares africanos mais combativos, impor pela força o pagamento pelas populações de impostos à administração colonial (o imposto de palhota), e aceder mais facilmente aos recursos económicos e humanos existentes no território.

(xxiii) Entre vitórias e derrotas das populações insubmissas, dois nomes emergem neste período: por um lado, João Teixeira Pinto, militar que já na época tinha uma longa carreira colonial e que, entre 1913 e 1915, ficou conhecido como o "capitão diabo", herói  campanhas do Oio (1913-14); e por outro, Abdul Indjai, que fora auxiliar de Teixeira Pinto na sua acção em Canchungo e que se revolta acabando por ser preso em Mansabá, em 1919, deportado para Cabo Verde e mais tarde para a Madeira.

(xxiv) A campanha do Oio termina vitoriosa com a criação de um posto militar em Mansabá e a captura de um elevado número de armas (17 de Junho de 1913);

(xxv) A campanha contra os manjacos termina, depois da prisão do régulo de Bassarel; são criados os postos de Caió e Bassarel e apreendidas grandes quantidades de armas (10 de Abril de 1914);

(xxvi) A campanha contra os balantas inclui a batalha de Encheia, uma das mais ferozes da história da Guiné; instalação de um posto em Nhacra (4 de Julho de 1914);

(xxvii) Decretado o estado de sítio na ilha de Bissau início da campanha contra os papéis (13 de Maio de 1915);

(xxviii) Campanha contra os papéis e os grumetes; queda de Biombo, prisão do respectivo régulo; criação de 4 postos militares: Bor, Safim, Bijemita e Biombo; concluída a a 'pacificação' e a unificação do enclave da Guiné portuguesa, com o pedido de paz do Tor (17 de Agosto);

(xxix) Apesar do poder colonial considerar como 'pacificado' e 'dominado' o território, nos anos posteriores, muitas regiões voltaram a rebelar-se e antigos focos de resistência ressurgiram, como o caso dos bijagós, entre 1917 e 1925 e dos baiotes e felupes em 1918.

(xxx) Neste período, são implantadas uma série de medidas legislativas que irão determinar durante longos anos a gestão politico-administrativa da Guiné: (a) divisão da população residente em civilizada (assimilada) e indígena; (b) legalização da prática de recrutamento de mão de obra para trabalhos obrigatórios; (c) imposição do local de residência e limitação dos movimentos da 'população não civilizada', através de cadernetas e guias de marcha; (d) tipo de relações funcionais dos titulares administrativos com os auxiliares indígenas e autoridades gentílicas (cipaios, régulos, chefes de tabanca, etc.).

(xxxi) Em 1921, com a chegada do governador Jorge Velez Caroço, ir-se-ão implementar as primeiras medidas de longo prazo nas alianças do poder colonial com os poderes locais, em particular no quadro étnico-religioso privilegiando-se as alianças com os muçulmanos, nomeadamente fulas, em detrimento das etnias animistas;

(xxxii) Entre 1925 e 1940 prosseguiram as revoltas militares dos papéis de Bissau, dos felupes de Djufunco (1933) e Susana (1934-35) e dos bijagós da ilha de Canhabaque (1935-36), os quais se recusaram a pagar o imposto de palhota até 1936;

(xxxiii) Este período é marcado igualmente pelo início da construção de infra-estruturas (estradas, pontes e alargamento da rede eléctrica), pelo desenvolvimento da principal cultura de exportação, a mancarra;

(xxxiv) Data desta época a criação ou expansão de grandes empresas de capitais portugueses, como a Estrela de Farim e a Casa Gouveia (adquirida e desenvolvida pela CUF - Companhia União Fabril), dedicadas à comercialização da mancarra e outras oleaginosas, bem como à distribuição de produtos em todo o território.

(xxxv) Verifica-se o surgimento de grandes pontas (explorações agrícolas) no Rio Grande Buba, na ilha de Bissau e em Bafatá e Gabú.

(xxxvi) A organização social colonial nessa altura tem, no topo da hierarquia, (a) um pequeno núcleo de dirigentes e de quadros técnicos portugueses; a nível intermédio, (b) funcionários públicos, maioritariamente cabo-verdianos (75%). O sector comercial é dominado por (c) patrões e empregados cabo-verdianos. A nível inferior, a imensa maioria dos guineenses são (d) trabalhadores domésticos e braçais, artesãos, agricultores e assalariados agrícolas nas pontas.

(xxxvii) Em 1942 a capital muda de Bolama para Bissau, que já então era, de facto, a “capital económica” da Guiné, e que vai conhecer um notável crescimento com o Governador Sarmento Rodrigues (1945-49);

(xxxviii) Em 1950, dos 512.255 residentes só 8320 eram considerados civilizados (2273 brancos, 4568 mestiços, 1478 negros e 11 indianos) e,  destes, 3824 eram analfabetos (541 brancos, 2311 mestiços e 772 negros).

(xxxix) Em 1959, 3525 alunos frequentavam o ensino primário, 249 o Liceu Honório Barreto (criado em 1958-59) e 1051 a Escola Industrial e Comercial de Bissau.

Bibliografia consultada:
História da Expansão Portuguesa, 4º vol. ed. lit Francisco Bettencourt e Kirti Chauduri. Lisboa, Círculo de Leitores, 1998.
História da Guiné e Cabo Verde, ed. lit. PAIGC. Paris: Unesco, 1973/74.
Nova História Militar de Portugal, 3º vol. ed. lit Manuel Themudo Barata e Nuno Severiano Teixeira. Lisboa, Círculo de Leitores, 2003.
Vd. também Portal Guiné-Bissau, criado pela AD - Acção para o Desenvolvimento História e Dados Económicos
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 25 de Julho de 2011 > Guiné 63/71 - P8600: Em busca de... (172): Adalberto Santos, ex-Pára-quedista do BCP 12, Guiné, 1967/72, procura camaradas

Guiné 63/74 - P8605: Histórias e memórias de Belmiro Tavares (11): O Soldado Milhais ou O Soldado Milhão

1. Em mensagem de 11 de Maio de 2011, Belmiro Tavares, (ex-Alf Mil, CCAÇ 675 Quinhamel, Binta e Farim, 1964/66), recebemos esta memória:

HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DE BELMIRO TAVARES (11)

O Soldado Milhais
ou
O Soldado Milhão



No ano de Nosso Senhor Jesus Cristo de 1911 foi instituído em Portugal o Registo Civil Obrigatório; até esta data os registos de nascimento eram elaborados pelos párocos no Livro de Assento de Nascimentos existente nas Paróquias.

A inscrição do neófito no dito livro era feita mais ou menos nestes termos:
- No dia – do mês – do ano de Nosso Senhor Jesus Cristo de – baptizei uma criança do sexo – a quem dei o nome de –; era filho (a) – natural de – e de -; seguia-se os nomes dos avós paternos e maternos. Os apelidos (sobrenomes) dos pais eram mais tarde acrescidos sem regra ao nome da criança e sem qualquer registo.

Isto serve de intróito para transmitir aos leitores que no dia 9 de Julho de 1895 nasceu em Valongo e foi baptizado na freguesia de Murça (Mirandela) um rapaz a quem o padre, segundo proposta paterna, pôs o nome de Aníbal Augusto; era filho natural de António Manuel e de Umblina Rosa de Milhais, agricultores daquela freguesia.

Os anos passaram; a criança foi crescendo até deixar de sê-lo; em 1916 o mancebo Aníbal Augusto de Milhais assentou praça na RI 19 em Chaves com o n.º 469 da 3.ª Companhia do 1.º Batalhão.

Em 23 de Março de 1917, em plena GG, embarcou para França tendo participado activamente na chamada “guerra de trincheiras”; notabilizou-se na batalha de La Lys em 9 de Abril de 1918 e no combate de Huit Maisons.

O soldado Milhais, sendo o n.º 1 da guarnição da metralhadora, retardou o avanço da tropa alemã, não abandonando o seu posto, indiferente ao perigo, senão quando, portugueses e escoceses já tinham retirado (talvez debandado) em relativa segurança.

Com a sua inaudita coragem, valentia e lusa bravura impediu que muitos companheiros fossem feitos prisioneiros ou abatidos. Houve inúmeros mortos, é certo, mas muitos mais seriam se o destemido Milhais não agisse como bravo e indómito português.

Depois da batalha, já em local mais seguro, no campo de Isberg, o comandante Ferreira do Amaral mandou formar o Batalhão; no meio da “parada” chamou o bravo soldado Aníbal Augusto e, abraçando-o calorosamente, exclamou:
- Tu és Milhais mas vales milhões!

A partir dali, o bom do Aníbal Augusto passou a ser conhecido por o Milhão ou o Milhões.

Em 15 de Julho de 1918 foi louvado porque “realizou voluntariamente a defesa do seu posto, manejando a sua metralhadora com Valor, Lealdade e Mérito, indiferente ao foco das metralhadoras e da artilharia inimigas”.

Pelos seus feitos excepcionais em combate e ao serviço da Pátria, foi condecorado com a Cruz de Guerra de 1.ª classe, com a Torre-e-Espada, com a Cruz Leopoldo da Bélgica, entre outras.
A condecoração Torre-e-Espada foi colocada no peito do Milhais pelo general Gomes da Costa.
Em 1919 foi-lhe atribuído um prémio de 1.000 liras por uma sociedade italiana.

Nota: Não sabemos quanto valeriam naquela época as 1.000 liras; o câmbio, certamente, não seria o mesmo do nosso tempo.

Terminada a guerra o Milhais regressou à Pátria e à aldeia que viu nascer, coberto de glória.
Creio que ele terá sido, até hoje, o único soldado a ser condecorado com a Torre-e-Espada, a mais prestigiosa condecoração nacional.

Em 1924, a cidade do Porto promoveu uma recepção triunfal para realçar o valor dos seus actos extraordinários em companhia e ao serviço da Pátria. A sua terra natal, a aldeia de Valongo, passou a partir de então a chamar-se Valongo de Milhais em honra ao heroísmo e bravura do seu filho, mais ilustre.

Durante o governo “dá outra senhora” o Almirante Tomás, então presidente da República, deslocou-se a Murça para inaugurar uma escola (não juro que era mesmo uma escola... mas isso pouco interessa). O herói, soldado milhão, retirou do fundo duma arca carunchosa a sua velhinha farda militar com cheiro acre a bafio e a naftalina; aperaltou-se com rigor para assistir, bem de perto, à inauguração da escola (ou cemitério?).

O velho almirante presidia à inauguração de tudo quanto vinha à rede; Não foi ao casamento da princesa Margarida, porque, segundo constava, de inauguração já não se trataria!

O Milhais não esqueceu as suas estrondosas, imponentes condecorações com, que fora galardoado por inauditos e inigualáveis feitos.
No meio da multidão (uns para assistir à inauguração, outros para ver o presidente e outros por tudo ou por nada) o Milhais conseguiu chegar perto do venerando presidente. Este logo reparou na estranha e velha farda envergada por um cidadão comum, de tez queimada do sol. Apercebendo-se do elevado valor das condecorações exibidas perfilou-se, empertigou-se (peito para fora, barriga para dentro, pelo menos em pensamento) e prestou a merecida e obrigatória continência; o nosso herói correspondeu... e permaneceram os dois frente-a-frente em “correcta” continência durante mais de um minuto... e assim continuariam por muito o mais tempo se um dos presentes não sussurrasse ao bom do Milhais:
- “Desfaz a continência, pá!”
Ele obedeceu.

O presidente, já trémulo e cansado, ficou profundamente grato a quem fez a tal sugestão salvadora. Se tal não acontecesse, muito provavelmente, os dois estariam ali frente-a-frente com a mão na testa... até ao fim da semana seguinte!

O presidente sabia que não devia desfazer a continência em primeiro lugar; o Milhão desconhecia que naquele momento “era superior” (a sua condecoração) ao Almirante e ao Presidente ou aos dois juntos.

Seguidamente o Presidente abraçou calorosamente, respeitosamente, o desconhecido soldado Milhão.
O nosso herói (pé rapado) faleceu em 1970; pode dizer-se que expirou no meio duma tremenda miséria a que só a morte pós termo.
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Somos de opinião que as condecorações foram instituídas para serem atribuídas a quém voluntariamente, fez por merecê-las por feitos desmesurados em combate e ao serviço da Pátria. Mas... apesar dos actos praticados... o comandante a quem cabe a atribuição das condecorações deve conhecer profundamente quem vai ser condecorado e ilucidá-lo das “paladas” a que ele (a condecoração) passa a ter direito para evitar situações embaraçosas como a que acima foi narrada.

Por outro lado é sabido que o Milhais passou grande parte da sua vida a apascentar rebanhos d’outrem, a troco dumas magras moedas; tinha também o direito de comer, diariamente, no meio do campo, um naco de broa, que levava no bolso, com um pouco de leite que subtraía à cabra ou à ovelha; era o seu lauto almoço de cada dia.
O Milhais não necessitava de tão altas condecorações... para pastorear rebanhos alheios! É caso para dizer: - o peito coberto de glória... e a barriga anexa a dar horas!

E se as condecorações, pelo menos a(s) de mais alto valor, fossem acompanhadas duma tença para que o homenageado pudesse levar uma vida mais desafogada?!

Melhor fizeram outros ao nosso grande Luís de Camões, o Épico, nos idos anos de 1500, embora não se saiba ao certo se a tença que lhe atribuíram era suficiente para viver sem grandes preocupações.

Um pouco de pragmatismo não faz mal a ninguém.

Lisboa, Maio de 1911
Belmiro Tavares
Ten. Mil.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 24 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8596: Histórias e memórias de Belmiro Tavares (10): Oficiais não viajam em 2.ª classe