1. Mensagem de Manuel Joaquim (ex-Fur Mil de Armas Pesadas da CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67), com data de 28 de Junho de 2012:
Meus queridos editores:
Aqui vai mais um trecho das minhas memórias, "Miserere", sobre um momento operacional da CCaç 1419.
É a minha maneira de homenagear e recordar as vítimas da guerra. É, talvez, de cariz muito pessoal mas não poderia ser de outra maneira já que é a "minha" maneira, com toda a subjetividade que possa comportar pois cada um de nós terá o seu olhar (único) sobre a guerra e o modo como nela participámos.
Um grande abraço.
Manuel Joaquim
MISERERE
Do capim saem aromas a fazer recordar noites de verão nos campos da minha aldeia natal. Estamos deitados há largo tempo, até já sinto frio e viro de vez em quando o corpo de modo a procurar o calor que ainda brota do solo. Aguardamos o momento de voltar ao caminho a tempo de se poder atacar, ao alvorecer, uma “casa de mato” do IN na zona de Matar (“rico” nome para um combatente supersticioso).
Chegado esse momento, a coluna retoma a marcha e avança iluminada por um ténue luar de minguante, saído de uma lua em forma de C que nos permite “ver” algumas árvores dispersas. Parecem vigiar-nos, quais entes misteriosos, imóveis e ameaçadores. Sente-se o silêncio, só quebrado pelo ruído suave e descompassado dos passos a caminho da mata, uma massa negra de recorte pouco definido e que domina todo o curto horizonte.
Ao entrarmos na mata desaparece a luz fraca da lua. Vamos agora em marcha muito lenta numa escuridão total. Apoio-me no ombro do camarada da frente, outro atrás de mim faz o mesmo comigo, olhos abertos não servem para nada, ali vamos numa marcha de cegos encostados uns aos outros, imersos na tal massa negra, como que viajando no ventre de um monstro que nos tivesse engolido.
Inesperadamente, três tiros e “Boum!” … um clarão / explosão fere violentamente a noite e o seu silêncio! Já quase deitado em reação imediata aos tiros, sou atingido por uma saraivada de pequenos projéteis, seguida de pequenas coisas que começam a cair-me em cima como se fosse uma chuva sólida! A um silêncio aterrador de alguns segundos sucedem-se alguns ais abafados e vozes ciciadas, sinais de vida na escuridão, sons que se misturam ao forte zunir dos meus ouvidos.
Levanto-me às apalpadelas, o solo que piso já não é o mesmo de antes, está irregular. Dou um ou dois passos e resvalo para um buraco, caindo em cima de alguém que solta pequenos ais. Diz-me que pensa estar bem, só se queixa de dores numa perna mas que a está a mexer sem dificuldade. Procuro-lhe a perna e ao apalpar noto que há um rasgão nas calças e uma humidade que deve ser sangue mas a ferida parece superficial.
Tateando no escuro, ajudamo-nos mutuamente a sair daquela cova. Percebo que há feridos e reconheço a voz do capitão:
- Acho que só temos um morto, o Tu” - referia-se ao guia auxiliar Tu Pongue que, naquele dia, carregava granadas de morteiro 60.
Sinto a respiração difícil, talvez devido ao pó levantado do chão, tento limpar o rosto e como que sinto um afago da Sorte na minha nuca! “Escapaste, Manel!”
Começam a ouvir-se ais de dor, contidos mas indiciadores de virem de alguém aflito, talvez com ferimentos graves. Dizem-me que são do Zé Maria…
Continuamos a funcionar às apalpadelas, tentando situar-nos naquela confusão. Entretanto surge ordem de retirada. Predomina o silêncio, poucas vozes se ouvem para além das necessárias para o “passa palavra” do Comando. Sabe-se já que, para além do Zé Maria, há mais dois feridos com gravidade, cada um deles alvejado no tronco com um tiro. Ainda na escuridão carrega-se o corpo do Tu e apoiam-se os três feridos graves; dois deslocam-se pelo próprio pé mas o Zé Maria é transportado pelos camaradas. A explosão abriu-lhe um buraco no baixo-ventre. É ele que o diz, angustiado e consciente da gravidade dos seus ferimentos.
A saída da mata coincide com o início da luz do dia. De olhos tristes e encovados olhamo-nos em silêncio, camaradas e solidários, alguns com rasgões na roupa e salpicos de sangue na face suja de pó. A visibilidade aumenta rapidamente. O Zé Maria recebe cuidados de enfermagem, tenta-se a sua estabilização e é carregado às costas de alguém mais possante. O dólman do camarada que o transporta está totalmente empapado de sangue nas costas, o seu tecido brilha com a luz matinal a incidir no sangue coalhado. Seguimos um trilho numa clareira com alguma extensão, talvez a mesma onde estivemos antes “acampados”. Afastamo-nos da orla da mata até uma distância que oferece alguma segurança. Aparece o DO-27, já temos comunicações.
Pede-se a evacuação das vítimas.
Organizada a segurança, aguarda-se a chegada do helicóptero. Procura-se acarinhar e confortar os feridos, principalmente sustentar a vida do Zé Maria já que os feridos a tiro parecem estar a aguentar bem. É assim esta guerra: três tiros na escuridão fazem três vítimas, um morto (o Tu) e dois feridos!
Entretanto, ouve-se perguntar pelo “Chaves” do 1.º Grupo de Combate. Ninguém sabe dele mas surge uma pista: o “Chaves”, só pode ter ficado no local da explosão! Era ele que levava o morteiro 60. E o morto que temos é precisamente o carregador das granadas do morteiro que, logicamente, estaria perto dele no momento da explosão. Aumenta a nossa consternação perante a verosímil suposição do que pode ter acontecido.
Perante isto, há necessidade de o procurar de imediato! Esta missão calha ao 2.º pelotão, o meu. Vinte e tal homens, agora à luz franca do dia e facilmente localizáveis pelo inimigo, voltam à mata à procura do desaparecido! Em linha, a uma distância de uns dois metros entre si, avançam pelo único caminho possível, o mesmo trilho que tinha sido usado há pouco, na retirada. Pensa-se no pior: o IN, que estranhamente não tinha dado ainda sinal de si, estaria à espera que fôssemos recuperar o nosso camarada! Seria o mais provável!
Tenho medo, estou cheio dele. Sigo com um aperto na garganta e uma pressão no peito que me provocam uma espécie de agonia prenunciando vómitos. Sinto-me prisioneiro em marcha para o suplício, a caminho da “boca do lobo”, a caminho do sacrifício. Ninguém fala. O silêncio, abafante e ameaçador, aumenta a sensação de sufoco num abraço de chumbo. Mas não há alternativa, temos de seguir até ao fim.
- Meu furriel olhe ali uma cabeça! É a cabeça do Chaves! É mesmo!
À beira do caminho, aí a um metro, percebe-se uma cabeça meio encoberta pela vegetação rasteira.
- Pois é! Tem calma, vai lá ver!
Chamo o alferes que está perto. Uns momentos depois fixamos o olhar numa cabeça inteira dependurada pelos cabelos nas mãos daquele soldado, enxuta de sangue, face lívida, olhos baços e muito abertos, só com um golpe nos lábios. O choque desta visão deixa-me abstraído de tudo por que estava a passar. Aquela cabeça ocupa-me violentamente os sentidos, ali está ela, a Morte, no seu gelado e terrível esplendor! Sou assaltado pela imagem bíblica de Salomé com a cabeça de S. João Batista e vejo momentaneamente em mim o rapazito assustado com tão atemorizante imagem dos seus tempos de catequese.
Caravaggio (1573–1610): “Salomé recebendo a cabeça de S. João Batista”
Mas a situação não dá para devaneios. Volto rapidamente à realidade bruta e crua. Reunimo-nos, o alferes e furriéis, para uma análise rápida da missão, afinal já tínhamos a certeza da morte do “Chaves” e a prova dessa certeza! Interrogamo-nos sobre o que fazer:
- E o resto do corpo? Estará por aqui aos pedaços? Não se vê qualquer indício! Que fazer, sair do trilho e procurar? Mas somos tão poucos! Valerá a pena corrermos mais riscos só por tal motivo? O mais certo é o resto do seu corpo ter sido pulverizado, não seria melhor regressarmos o mais depressa possível?
Saiu rápida a decisão de seguir até ao “olho do furacão” que forçosamente estaria próximo e de enfrentar o perigo de termos o IN à nossa espera. Temos de ir, temos de voltar ao local onde tudo aconteceu, temos de tentar encontrar mais partes do corpo do “Chaves”
Medo. Medo não, terror! Cérebro fechado para os ruídos ambientais que me parecem chegar compactados num zunido persistente, os sentidos apuram-se dirigidos para qualquer ruído estranho, um ramo a partir-se, um clique metálico…
Lentamente atingimos o objectivo que não estava longe do local onde se recolheu a cabeça. Após uma curva do caminho, a uns 10 a 15 metros, notamos um monte de terra fresca e uma árvore quase sem folhas. A explosão, ao desfolhar a árvore, abriu uma estreita clareira na vertical que deixa agora entrar a luz do dia, luz que parece afagar aquele pequeno monte de terra mexida, debaixo daquela árvore desfolhada.
Um pequeno grupo avança agachado para o monte de terra e percebe que a árvore está cheia de penduricalhos nos seus ramos. Horror, só podem ser pedaços de roupa e de tecido humano, despojos do nosso “Chaves”! Há um silêncio estranho, algo sagrado, tudo parece ter adormecido à volta do local. E o IN não dá sinal! Aproximamo-nos.
- Eh!... Está aqui mais alguém!
- Parece o Abel do 1.º pelotão!
- É ele mesmo, o Abel! – sussurra, espantada, uma outra voz.
Por esta é que ninguém esperava! Surpresa total, era mesmo o corpo do Soldado Abel! Quase todo coberto por terra, o corpo parece intacto mas não está, falta-lhe um pedaço no lado direito do peito. Junto dele está a sua G3 semienterrada e veem-se diversas granadas de morteiro 60 a alguma distância do buraco provocado pela explosão do fornilho. Percebemos agora que o Tu deve ter caído para fora da fila, fulminado (e “empurrado”) com o tiro na cabeça, tendo as granadas de morteiro que levava ficado a uns dois metros do centro da explosão, o que impediu que pudessem rebentar por “simpatia”. Todos sentimos, naquele momento, quanto mais grave poderia ter sido o resultado daquela explosão!
Recupera-se o corpo do Abel e procuram-se no local mais restos mortais do “Chaves” mas não se encontra nada que se possa recolher. Levanta-se todo o material encontrado (não me lembro de termos recuperado o tubo do morteiro, talvez tenha acontecido mas admito que a força da explosão o tenha atirado para longe dali e ter-se decidido, naquelas circunstâncias, não corrermos riscos com a sua busca).
E o IN continua sem dar sinal! Vemos agora que nem sequer veio ao local da explosão! Não deve ter gente disponível, a que tem deve estar em posição de defesa da sua “casa de mato”. Ainda deve estar com mais medo que nós e o mais provável é não sermos atacados.
Sinto que o clímax da acção já foi atingido. Talvez por isso estou inesperadamente sereno, quase funciono como um autómato no olho do furacão. Tudo pode estar a rodar à volta mas ali, naquele momento, não dou por isso. Estou, sim, é aliviado por a nossa pequena força ter cumprido a missão e ter tido a sorte de não ter sido atacada.
Regressamos ao sítio onde nos espera o grosso da Companhia, carregando os restos mortais do Abel e do “Chaves”. A marcha agora é mais acelerada. À medida que nos vamos aproximando fixo-me no carreiro à minha frente, alheio à paisagem envolvente como que dissolvida num grande borrão cinzento. Somos aguardados com dolorosa espectativa. Também já tinham dado pela falta do Abel. Sou envolvido por um misto de emoções: satisfação pelos resultados obtidos, alívio do medo e da angústia anteriormente sentidos, dor pela morte dos camaradas e uma grande, grande tristeza.
Chove-me na alma!
Os meios aéreos para as necessárias evacuações estão prestes a chegar, ouço dizer. Entretanto, o IN “acordou”! Já não era sem tempo! Da mata, do lado contrário ao local de onde há pouco tínhamos regressado, vem fogo disperso de RPG (?). Má pontaria. Tem a devida resposta da nossa parte mas tudo dura pouco e nenhuma granada do IN atinge a nossa área de estacionamento.
Chegam os helicópteros. Os feridos têm “aguentado”, menos o Zé Maria que tememos não chegar vivo a Bissau. Feitas as evacuações, regressamos a Bissorã. São uns “bons” quilómetros de caminho que nos esperam.
O calor abrasa mas a alma vai gelada! Olho para os camaradas e vejo, para lá de sofrimento, muito desalento nas suas almas que agora carregam o “peso” dos nossos primeiros mortos e feridos, cinco meses depois da nossa chegada a este “campo de jogos de morte”. Não há deuses que nos valham, ao contrário do que alguns já diziam. Quebrou-se hoje o “bom feitiço” e com resultados cruéis. Penso nos mortos e na dor que irá atingir os seus entes queridos. Penso nos riscos de morte e no sofrimento a que estamos sujeitos. Tantos sacrifícios, tantas ilusões! Que triste e inglório é ficar por aqui e por esta causa!
Como de costume, em momentos como este, “aparece-me” Beethoven com os acordes da sua
5.ª Sinfonia, a chamada “Sinfonia do Destino”: tantantantan!… tantantantan!... Sei a sinfonia de cor, de tantas vezes a ter ouvido antes de adormecer. Já sei que me vem ajudar a caminhar, a esquecer a sede e a relativizar esta merda toda. Já sei que me vem preencher os vazios do cérebro de modo a poder voltar a mim e à lembrança dos meus amigos e entes queridos. A minha mãe, tão frágil, acreditará nas “balelas” que lhe conto quanto ao que se passa aqui? O meu pai acreditará quando lhe digo que o perigo é diminuto, que tudo isto é muito lindo e ainda por cima me pagam um bocado mais do que o meu ordenado de professor primário?
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Pois é, paizinhos, o que eu quero dizer-vos mas não posso é que isto aqui é difícil e perigoso, que quero voltar hoje mesmo mas não me deixam, que não sei o que ando aqui a fazer, que odeio esta guerra.
Eu sei, eu sei que me não entenderiam, pois o que me apetecia dizer-vos seria incompreensível para vós perante o que ouvem aos nossos governantes.
Sei que não entendem como pode este vosso filho discordar do Salazar, “um senhor ungido por Deus para salvar Portugal “, assim o ouvem dizer aos importantes da nossa terra, não é? E eu sei que é-vos mais fácil acreditar neles do que em mim, eu sei.
Eu sei que vocês sofrem, que se têm sacrificado muito pelos vossos três rapazes, o mano Hilário também “anda a batê-las” em Moçambique, ele está no pior sítio, em Mueda, mas vocês não sabem, ainda bem, pensam que ainda está em Boane, um sítio que o pai conhece bem, o que vos vale é que conseguiram pôr o mano Arnaldo em França! Oh pai, desculpa, então a Pátria? Pois, eu percebo, já era demais tanta carne para canhão, ao menos que se safe o mais novo! Mas por que raio continuam vocês a acreditar no “Botas”?
Empurraram-me para dentro do campo, tenho de jogar neste campo, nem há perguntas a fazer pois já sei as respostas. Estou num jogo, há sorte e azar, mas tenho de tentar a sorte, a sobrevivência, mesmo tendo a certeza que a minha equipa sairá derrotada no fim. Como vencer o adversário se ele tem os ventos da história a seu favor, se pode usar tantas artimanhas para compensar a sua eventual fraqueza, se pode estar em qualquer lado desta terra sem se dar por isso, se pode ser até alguém que nos aperta a mão, nos dá de comer e nos mata a sede?!
- Pois é, Manel, os teus lamentos não valem nem te valem de nada! Aqui não há caridade nem compaixão, estás preso, não te deixam sair. Só o tempo, meu menino, só o tempo e a sorte te soltarão. A sorte! Está tanto calor e arrepias-te com frio?! Estás no limite quanto a sonhos de futuro, todo o futuro perde significado nesta situação, aqui nada mais interessa do que chegar ao fim. Tens os sonhos adiados para quando daqui saíres, se saíres!
Já “cheira” a Bissorã. Coisa estranha, ao atingir zonas mais seguras, o corpo parece querer desistir de andar! Como está difícil este último lanço do percurso! É Janeiro, para lá do meio-dia, um calor abrasador, dei o resto da minha água a dois “desgraçados” exauridos, deixei umas gotas no cantil para molhar os lábios e assim enganar a sede.
Chego ao aquartelamento com as ideias em farrapos, náufrago daquela “tempestade”, já não sou o mesmo de ontem, já não somos os mesmos de ontem e já somos menos que antes, faltam-nos cinco camaradas. Saio, moro fora do quartel. As pernas arrastam-se a caminho de casa. Nem entro, estiro-me ao comprido no quintal, à sombra duma laranjeira … …
Já toda a gente sabia dos mortos e feridos. É dada a notícia de que o nosso “enfermeiro” Zé Maria chegou morto ao hospital. Há lamentos, lágrimas, imprecações, conversas cruzadas a contar o sucedido a quem tinha ficado no quartel. O 1.º Sargento da Companhia chora ao contar como se tinha revoltado com a atitude de “Bissau” que o tinha admoestado pelo facto de terem recebido um morto não identificado e pedindo-lhe que enviasse a respetivos elementos identificadores, ameaçando-o se o não fizesse de imediato. (Referia-se ao caso do “Chaves”. É óbvio que a sua placa identificadora não foi enviada porque tinha desaparecido. Mas que dizer de quem “exigia!” o que alguém traria ao pescoço quando o corpo foi “pulverizado”, só se encontrando a cabeça?!)
Procuro desanuviar, deitado debaixo da laranjeira. Tento encontrar, entre as folhas duma goiabeira próxima, um camaleão que por ali costuma andar à caça. É um jogo que costumo fazer, conseguir descobri-lo “desmascarando” a sua camuflagem. Mas desta vez desisto porque, inesperadamente, me dissolvo no
Agnus Dei (o do “
Requiem” de Verdi) que me atinge o cérebro num espasmo de angústia e de desamparo resultante do ambiente de pesar que invadiu aquela casa. Momento tão violento que nunca mais foi esquecido, até hoje. Sempre que oiço este trecho musical me lembro da madrugada e da manhã daquele dia cinco de janeiro de 1966. E é em memória desses meus camaradas e em memória de todos os outros mártires daquela guerra que, mesmo sendo agnóstico, aqui recordo o “
Agnus Dei”:
- Agnus Dei qui tollis peccata mundi, miserere nobis!
-Agnus Dei qui tollis peccata mundi, dona nobis pacem!
(Cordeiro de Deus que tiras os pecados do mundo, tem piedade de nós!
Cordeiro de Deus que tiras os pecados do mundo, dá-nos a paz!).
E nós, os sobreviventes, por aqui andaremos durante mais algum tempo. Com sorte algumas das nossas memórias sobreviverão por tempos mais ou menos longos. Seremos “eternos” enquanto alguém se lembrar de nós.
A vida continuará, os meninos continuarão a rir, a cantar e a chorar, continuará a haver amor e morte, lágrimas e sorrisos, outros “soldadinhos” continuarão a ser joguetes de forças que não entendem, a natureza continuará a renovar-se ao sabor dos tempos, os nossos rostos continuarão a ser esculpidos pelo tempo até se dissolverem, com as suas memórias, no Tempo eterno e no Espaço infinito.
Para os não crentes na Divindade, a sua “imortalidade” está nos seus descendentes, na certeza de que a morte é condição para se manter a Vida.
Para os crentes haverá sempre a esperança num “Agnus Dei”, num “Miserere” para enfrentarem o “Dies Irae”, o Juízo Final.
Entretanto… procuremos, TODOS, ser felizes!
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 5 de Junho de 2012 >
Guiné 63/74 - P10001: Memórias de Manuel Joaquim (6): Um acidente epistolar: "Furriel Mil Paulo Gabriel Péri Éluard"