sábado, 19 de janeiro de 2013

Guiné 63/74 - P10963: Do Ninho D'Águia até África (45): Os meus galões (Tony Borié)

1. Quadragésimo quinto episódio da série "Do Ninho de D'Águia até África", de autoria do nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66), iniciada no Poste P10177, chegado até nós em mensagem do dia 15 de Janeiro de 2013:


DO NINHO D'ÁGUIA ATÉ ÁFRICA (45)



Quando criança, o Cifra, que nessa altura se chamava To d’Agar, descalço e com uns calções que tinham sido do irmão mais velho, assistia com algum frio no corpo, às classes do professor Silvério, que entre outras coisas lhe dizia:
- O grande navegador e explorador Nuno Tristão, navegando numa “casca de noz”, por volta do ano de 1450, sempre debaixo dos auspícios do reino de Portugal, descobriu a Guiné, onde existem leões, elefantes, tigres e macacos.

E mostrava um mapa mundo pendurado na parede, apontando com uma cana fina e seca, com que lhe batia nas orelhas, algumas vezes, para um pequenino espaço, onde dizia que aí era a Guiné.
Estas palavras do professor Silvério não mais lhe saíram do pensamento, primeiro por mencionar leões, elefantes, tigres e macacos, e segundo por lembrar a cana, fina e seca, com que lhe batia nas orelhas.
Nunca gostou que lhe batessem, o pai e a mãe repreendiam mas não batiam, só os irmãos mais velhos é que às vezes lhe batiam, mas coisa sem importância, e estavam logo amigos, mas não gostava.
Se algum adulto lhe batia por qualquer coisa que tivesse feito, que não estivesse de acordo com as regras, que esses mesmos adultos ditavam, ficava revoltado e chorava, às vezes por horas.

Os amigos, antigos combatentes, já estão a pensar que ao Cifra, hoje deu-lhe “pró moral”, mas não, tudo isto vem a propósito de no tempo em que o Cifra esteve estacionado no aquartelamento de Mansoa, na então província da Guiné, e dado ao desenvolvimento do conflito armado, que com o passar do tempo se intensificava cada vez mais, o aquartelamento funcionava como se fosse um posto avançado de fronteira, com chegada e saída de militares e equipamento bélico, que às vezes, talvez debaixo de algum stress, pois a partir de Mansoa entravam no verdadeiro cenário de guerra, os militares criavam pequenos conflitos, dentro do grande conflito em que estávamos todos envolvidos, e não era necessário ser bom observador para ver que havia militares, mas cada caso era um caso, como por exemplo o soldado atirador, Curvas, alto e refilão que tinha uma linguagem reles e agressiva, que não acatava ordens e tinha algum desprezo pela sua própria vida, outros, eram mesmo graduados, poucos, felizmente muito poucos, quase que se contavam pelos dedos da mão, que deviam de ter assimilado o treino total a que foram submetidos, e agora em pleno cenário de guerra, não aguentavam a pressão psicológica, da responsabilidade que tinham entre mãos.

O tempo que nos resta, a nós antigos combatentes, já não é muito, e deve ser gasto com coisas que nos alegrem e façam viver esta idade de ouro, o mais feliz possível, e não deve ser gasto em críticas a nenhum de nós, tudo o que fizemos de bom ou de mal já lá vai, e isto é só única e simplesmente um lembrar de situações, que alguns de nós, até vão sorrir, ao lembrarem-se de algo que se passou consigo, ou em seu redor. O rascunho do boneco que o Cifra fez, a personagem tem seis ou sete divisas, só para não se confundir com nenhum graduado. Mas continuando, esse treino era agressivo, muitas vezes doloroso, eram treinados sobre uma grande pressão psicológica, dizendo-lhes que tinham que servir de exemplo, pois esses militares iam ser lideres, e tinham que manter o poder nas mãos, não interessava se tinham de usar o sistema de agressão física, se tinham que usar o sistema de intimidação, o que interessava era que no final desse treino, estivessem habilitados, para poder ter nas mãos todos os seus subordinados de modo a os poderem dirigir, controlar, e colocarem nas mais remotas e violentas zonas, sem que esses subordinados, pudessem dizer uma só palavra de que não se sentiam confortáveis. Se no final do treino estivessem habilitados para isso, o referido treino tinha sido perfeito.


Houve alguns, como o Cifra disse anteriormente, felizmente muito poucos, que assimilaram totalmente e seguiram todos os regulamentos de treino, e foram durante a sua estadia em cenário de guerra uma cópia do sistema, onde possivelmente lhe diziam: vai em frente, és o melhor, a razão é sempre tua, todos sobre os teus galões, têm que acatar as tuas ordens, em caso de dúvida, elimina o elo mais fraco, se for preciso usa a tua força física, pois estamos a treinar-te e a explicar-te as artes de luta, que não são explicadas aos soldados, para isso vais ser um líder, tens o compromisso com a tua Pátria de a representar, tu, em algumas situações és a Pátria!.


Daí nasceram alguns “Rambos” e “Justiceiros”, como nos filmes de cowboys, em que o xerife, com duas grandes pistolas, é quem decidia quem era o bom e o mau, e assim tínhamos, em cenário de guerra, militares, alguns com galões, que usavam todo o seu poder nos seus subordinados, usando a força física no corpo de outros militares e “partiam tudo à chapada”, eram os tais “donos da verdade”, ou “donos da guerra”, que sem saberem o que faziam, estavam a quebrar as mais exemplares regras da humanidade, que era terem contactos físicos e agressivos, fazendo mazelas e danificando o corpo e a dignidade de outro ser humano. Depois, como eram justiceiros e pessoas com muito bons sentimentos, vestiam a pele de “Madre Teresa” e eram capazes de dizer:
- Fiz mazelas no teu corpo, feri-te na parte mais íntima da tua dignidade, quebrei as mais exemplares regras da humanidade, mas era para teu bem, pois se escrevesse a dizer mal de ti, ficava no teu registo pessoal, portanto, uns simples pontapés e umas bofetadas até te tornam mais militar e mais agressivo, não fiques com vergonha dos teus colegas, porque eles, não tarda muito, também vão levar e se não te portares com juízo, depois sim, é que te estrago a vida com relatórios de não obediência, e agora, se te está a doer, vou levar-te ao Pastilhas, para que te ponha aí uma qualquer ‘pomada”!.

Não sabendo, esse graduado, que na sua inocência, tinha feito o maior mal do mundo a esse colega militar, que foi o ter tocado e danificado o seu corpo e a sua dignidade de homem novo, que nesse momento, precisava de confidência e toda a moral do mundo para resistir ao ambiente de conflito, em que então se encontrava.

Bem, o Cifra, acredita que já está a ir longe demais, vai pôr um bocadinho de “água na fervura” e vai dizer: ah, grande Curvas, alto e refilão, que no caso de ser insultado ou tentarem agredi-lo, não olhava para as divisas e não lhes virava a cara e não lhes tinha qualquer receio. Mas nunca usou a força física, era só uma linguagem reles, dita por uma cara com feições de guerreiro, que às vezes metia algum respeito, também nunca foi castigado, pelo contrário.

O Cifra sempre pensou que esses militares nunca foram os verdadeiros culpados de todas essas anomalias, mas sim o sistema e o governo que os treinou, talvez nunca os tivessem treinado para seguirem as regras do respeito e fazerem crer aos seus subordinados que podiam seguir as suas ordens porque única e simplesmente confiavam neles e viam neles um líder, porque a disciplina tem que ser consentida e não imposta, e esta surge naturalmente se houver capacidade de liderança, como dizia há dias um antigo combatente que também viveu, como nós as agruras de um cenário de guerra, pois esses militares, que repito eram poucos, alguns até eram pessoas com bons sentimentos, tendo muitos ficado traumatizados pela responsabilidade que lhe tinham dado, pois sem eles mesmo querer, tinham recebido e assimilado totalmente esse treino, que era deveras violento, e dado em muito pouco tempo, e creio que esse treino, neste princípio de guerra, não era acompanhado psicologicamente, para se saber se o carácter e os sentimentos das pessoas que o recebiam tinham capacidade para isso.

Já agora, e vem mesmo a “talhe de foice”, como era costume dizer-se na altura, quer o Cifra reproduzir, com o devido respeito, e pedindo perdão por esta liberdade, um enxerto de um texto que o nosso prestigiado camarada Beja Santos transcreveu de um livro, que creio é “Da Guiné a Angola, Fim do Império”, do senhor coronel Piçarra Mourão, que serviu na Guiné, na região do Oio, a mesma onde o Cifra serviu uns anos antes, onde a certa altura diz:

“A NAÇÃO, E OS SEUS MENTORES LIMITAVAM-SE A MANDAR COMBATER A QUALQUER PREÇO. O ACOMPANHAMENTO PSICOLÓGICO DOS HOMENS, EM QUALQUER FASE DO SEU EMPENHAMENTO, NUNCA FOI VISTO, TRATADO OU FALADO”.

Pelo menos no tempo em que o Cifra esteve na então província da Guiné, e pelo que lhe foi dado observar, era verdade, NUNCA FOI VISTO, TRATADO OU FALADO.

O Cifra só agora verificou que já vai longe demais no texto, os amigos antigos combatentes vão por certo dizer que “já chega de moral”, o Cifra tem que falar é das emboscadas e da guerra na Guiné, mas como sabem o Cifra era um razoável militar, mas um fraco, mesmo muito fraco guerreiro e também nunca gostou que o professor Silvério lhe batesse com a cana fina e seca, nas orelhas.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 15 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10946: Do Ninho D'Águia até África (44): O Canjura andava farto de guerra (Tony Borié)

Guiné 63/74 - 10962: Blogpoesia (318): Dizem-nos que estamos a envelhecer ( Luís Graça)



Texto e foto: © Luís Graça (2013). Todos os direitos reservados


Dedicatória

Poema para ser lido por velhos,
daqueles que já usam óculos com muitas dioptrias,
ou então essas horríveis lentes de aumentar
que se compram nas Lojas do Avô,

nos novos templos das novas religiões do consumo,
e que só servem para ler os títulos de caixa alta do jornal.

Títulos Pornográficos. Bombásticos. Terroristas.


A todos os velhos combatentes de todas as guerras 
em que a minha geração andou metida.

Ao Jorge Cabral, mestre do lirismo do absurdo 
e da 'short story'.

Ao meu pai, meu velho, meu camarada

que conseguiu chegar aos 91. 
Ao (e)terno sorriso e à sua alegria de viver,
a sua forma muito pessoal de promover 
um envelhecimento ativo.




Dizem-nos que estamos a envelhecer.


Luís Graça


Dizem-nos
que estamos a envelhecer.
Dizem os demógrafos,
que correm, eles próprios, o risco
de ver limitado o objecto de estudo da demografia
aos velhos.

Dizem as máscaras do Entrudo
do nosso descontentamento
muito pouco chocalheiro.
Diz o safado do cangalheiro:
Eu cá não quero que ninguém morra,
só quero que o meu negócio corra.
Dizem os divertidos caretos de Ousilhão.

Dizem os últimos rapazes da Festa dos Rapazes.
Dizem os médicos,sizudos,
que também estão a encanecer.
Diz o senhor Ministro da Indústria da Doença
que mandou encerrar as maternidades.
Por falta de fedelhos.

E por falta de crença.
Tenham paciência, 
minhas senhoras.
Voltemos ao tempo das aparadeiras!
Dizem as abortadeiras.
Dizem os hospiteis,
a abarrotar de gente na fila para morrer.

Em Portugal.
Hospiteis, que os hospitais agora só de campanha!
Dizem os sociólogos,
em crise tamanha

de paradigma existencial.
Dizem os jornais,

de papel,
que já não vendem mais.
Diz o meu geneticista,
que anda à procura do gene da eterna juventude.

Hoje com saúde, amanhã no ataúde.
Dizem os futurólogos
que leem nas entrelinhas das camadas de ozono.
Diz a esteticista, pessimista,

quando o verniz estala.
Vão-se os anéis, ficam os dedos!
Diz a vida, malsã.
Diz a palma da mão 

e a linha (torta) da vida.
Muita saúde, pouca vida, 
que Deus não dá tudo.
Diz a grega pitonisa de Delfos,
a escarnecer
da cultura judaico-cristã.
Diz o comissário político de Bruxelas,
que não foi eleito,

todos eles e todas elas, os eurocratas,
muito menos eleitos pelos eurovelhos.

Diz a medicina,
que a velhice não tem cura.
Diz o Eurostat,
que representa a sacrossanta ciência
do positivismo do século.

Diz o Golden Sachs Sachs Sachs.
E até a Santa Madre Igreja,
agora sem crianças para baptizar
nem selvagens para evangelizar.
Não sei o que diz Ela,
a Santa,
a Madre,
a Igreja.
Não sei o que é que diz Roma
nem Pavia,
que não se fizeram num dia.
Mas dizem as estatísticas,
que, dizem-nos, não mentem,
que estamos a embranquecer,
a encanecer,

a ensurdecer,
a envelhecer,
a ensandecer.

Diz o Censo de 2011.
A morrer, meus irmãos, a morrer.
De solidão.
Estamos a morrer.
De solidão.
Estamos a morrer.
De solidão.
Estamos a morrer.
De solidão
.
Diz o espelho meu,
que o tempo faz o seu trabalho de sapa.
Que o tempo, no final, te mata.
Como nos filmes de terror.
Diz o sino da tua aldeia,
quando dobra a finados.

Que te importa, agora, 
os teus feitos heróicos de Quinhentos,
ó povo meu ?
Dizem as tuas rugas.
Dizem as tuas brancas,
as primeiras, não sei onde.
Dizem os teus dias cinzentos.
Só o Governo esconde
a bomba biológica
que paira sobre a cabeça
dos que hão-de vir.
Dizem-me que o Governo tropeça, trapaça,
mas não cai
só por mentir,
com as medidas da tendências central.

Os cães ladram e a caravana passa.
A média, a moda e a mediana,
mais o desvio padrão
e o erro amostral.
Eu sei que o Governo está sujeito à erosão
dos ventos e das marés,
mas também à irrisão,

mortal,
das sondagens.

E das pilhagens.
O Governo pode ser sacana.

mas não deve mentir
e muito menos roubar.
O Governo deve dizer a verdade,
deve dizer a verdade, nua e crua,
com um grau de confiança de noventa e cinco por cento.
Mas nem sempre diz toda a verdade,
ou só a verdade,
por causa da coesão social,
por causa do clima económico,
por causa da confiança psicológica
do investidor estrangeiro,

por causa do índice de NASDAQ,
por causa da liberdade,
primordial,
do consumidor.


Dizem que estamos a envelhecer, camarada.
Dizem-te que há muito ultrapassaste 
a barreira dos quarenta.
Até aos 40 bem eu passo, 
dos 40 em diante, ai a minha perna, 
ai o meu braço. 
Que aos 45 já eras velho,
para além do limiar da esperança ao nascer
quando nasceste.
Dizem-te que somos todos velhos.

O censo. E a falta de senso.
Um em cada cinco.
Leia-se: velhos, os mais de 65.

Velhos até aos tutanos.
E que agora já começou a caça
aos talentos, aos rebentos,
na perspectiva da rarefacção dos recursos humanos.

Diz o nosso mediático guru.
Diz o feio do jagudi, 
diz o mau do urubu.
Diz o provérbio que na era de 31, 
poucos moços, velhos nenhum.
Dizes tu, camarada, ex-combatente da guerra colonial,
Antes a morte que tal sorte!
Mas não é envelhecimento,
é senescência,
diz o meu neurologista.
Degenerescência,
dizem os puristas da língua.
Diz a neurociência:
o mais importante
não é perderes 100 mil neurónios
por dia,
nem a paciência, 
nem a compostura, 
nem o controlo dos esfíncteres.
Nem a decência.

Nem a cabeça do fémur.
Que a saúde dos velhos é mui remendada.
Deus te livre do Alzheimer e do Parkinson
e das demais doenças crónicas degenerativas.

Que Deus te livre da peste, da fome e da guerra,
E do Estado Mínimo a que hás-de chegar.
O que é grave é perderes
as redes neuronais
e não sei que mais.

Blá, blá, blá.
Mas já diziam os antigos,
Não há cousa tão junta a outra como a morte à vida.
E mais avisado é o conselho do velho para o novo,
à laia de impropério;
Teme a velhice porque ela nunca vem só,

Cabelos brancos, flores de cemitério!


PS - Dizem que estamos a envelhecer, Papi!

Porra, meu pai, meu velho, meu camarada,
eu sei o que a vida fez de ti,

mas tive orgulho na maneira como viveste 
e como morreste!


LG - jan 2008 / jan 2013
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Nota do editor:


Último poste da série > 14 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P10942: Blogpoesia (317): Toadas de Inverno (J.L. Mendes Gomes)

Guiné 63/74 - P10961: Álbum fotográfico do ex- fur mil José Carlos Lopes, amanuense do conselho administrativo da CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) (7): A metralhadora pesada Browning, de calibre 12.7




Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > O fur mil José Carlos Lopes, o homem dos reabastecimentos,  posando ao lado da temível Browning, 12.7, um metralhadora pesada que podia varrer toda a pista de aviação. Era uma arma devastadora, com uma cadência de 500 disparos por minuto, e com um alcance à superfície de 1500 metros. Pesava cerca de 45 kg. Principal função: defesa de ponto. Era também usada pela Marinha.

Fotos: © José Carlos Lopes (2013). Todos os direitos reservados. (Editadas e legendadas por L.G.) (*)





Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > 1970 > Vista aérea do aquartelamento, tirada no sentido leste-oeste, ou seja, do lado da grande bolanha de Bambadinca (vd. mapa da região). O ponto 25,  marcada por um círculo a azul, era o espaldão da metralhadora Browning, 12.7. Do lado esquerdo, ficava a pista de aviação. Em maior dettalhe, vê-se o quadrante noroeste do aquartelamento, com o arame farpado(e os holofotes)   assinalado a amarelo. Do lado direito ficava o Rio Geba (e a tabanca a longo da encosta (que dava para o rio).  A Browning aqui tinha um ângulo, de pelo menos,  de 180 graus. (**)

Do lado esquerdo da imagem, para oeste, era a pista de aviação e o cruzamento das estradas para Nhabijões (a oeste), o Xime (a sudoeste) e Mansambo e Xitole (a sudeste). Vê-se ainda uma nesga do heliporto e o campo de futebol. .

Ver aqui a foto com todas as legendas.

Foto: © Humberto Reis (2005). Todos os direitos reservados. (Editada e legendada por L.G.)

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Notas  do editor:

(*) Último poste da série > 17 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P10951: Álbum fotográfico do ex- fur mil José Carlos Lopes, amanuense do conselho administrativo da CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) (6): A Cilinha em Bambadinca, talvez em finais de 68 ou meados de 69

(***) Vd. excerto do portal Guerra Colonial (, reproduzido com a devida vénia):


(...) Metralhadora pesada 127 mm m/955 Browning M2 

A metralhadora pesada Browning é uma arma automática de tiro tenso destinada à  execução de tiro anti-aéreo ou tiro terrestre. Tem um curto recuo do cano no momento do disparo. Apenas realiza tiro automático. O travamento realiza-se por intermédio de uma lingueta que mantém a ligação da culatra ao cano até o projéctil se encontrar no interior deste. O percutor encontra-se na cabeça da culatra. A alimentação é efectuada por uma fita de carregamento. Tem um extractor de dupla calha e a ejecção não se realiza. O invólucro depois de consumido é abandonado pelo fundo da caixa da culatra. O arrefecimento do cano efectua-se pelo ar que circula através dos orifícios de ventilação da manga que envolve a câmara e pelo ar apoiado pela considerável massa do cano. O arrefecimento deve ainda incluir a substituição manual do cano ao fim de 300 tiros. 

(...) A Browning M2 é uma das mais notáveis armas de sempre, produzida em mais de 3 milhões de exemplares desde 1930. Foi uma arma usada em todos os conflitos importantes nos últimos 70 anos e era ainda a principal metralhadora pesada usada numa infinidade de blindados, pela Aviação (era a arma do B-17 ou do P-47, que serviram na Força Aérea portuguesa, por exemplo) ou pela Marinha (amplamente usada para equipar as lanchas portuguesas em África nas guerras de 1961-1974). (...)

Guiné 63/74 - P10960: Parabéns a você (524): José Crisóstomo Lucas, ex-Alf Mil Op Esp da CCAÇ 2617 (Guiné, 1969/71) e Manuel Mata, ex-1.º Cabo Apont AP do Esq Rec Fox 2640 (Guiné, 1969/71)

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 18 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P10954: Parabéns a você (523): Luís Rainha, ex-Alf Mil Comando, CMDT do Grupo Centuriões (Guiné, 1964/66)

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Guiné 63/74 - P10959: Tabanca Grande (382): Cândido Luís Carvalho Morais, ex-Fur Mil da CCAÇ 2679 (Guiné, 1970/71)

1. Em mensagem do dia 9 de Janeiro de 2013, o nosso camarada José Manuel Matos Dinis [foto à direita] (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), falava-nos assim do nosso camarada e novo tertuliano Cândido Luís Carvalho de Morais (ex-Fur Mil, também da CCAÇ 2679), aquando do envio de um texto*, deste último, para publicação no nosso Blogue:

Viva Carlos,
Hoje reservo-te uma surpresa.
Envio-te um texto da lavra do Cândido Morais, um camarada e amigo desde que nos conhecemos na Madeira.
O Morais [foto à civil à esquerda], que é voyeur do blogue, foi convencido a descrever pelo menos esta e outra situação, mas é um repositório de estórias com muito para contar.
É um tipo brilhante, de muito fácil contacto, linha direita, generoso e afectivo. Mas, se for preciso, também é teso. Prima pela inteligência e simplicidade, pelo que declaro com grande orgulho a nossa amizade.
Foi director de uma empresa de construção naval, mantém o culto do desporto, agora com particular atenção para o Kayak Clube de Perre, a sua terra, e já me ajudou em dois passeios para o meu grupo de montanhismo.

Assim, se não te importas, vou enviar-te sucessivamente, umas trocas de impressões prévias, e depois o texto e fotografias. Ele não pede ainda a aceitação na Tabanca Grande, mas cumpre a obrigação antecipadamente, isto é, conta-nos uma estória, e depois é que pede licença. E, já agora, se for preciso um fiador, conta comigo, que este é dos poucos por quem ponho as mãos.

Um grande abraço
JMMD


2. E ainda numa outra mensagem do dia 14, o José Dinis dizia-nos:

Viva Carlos, boa noite,
De facto enviei-te dois textos: um, o principal, da autoria do Cândido Luís Carvalho de Morais [foto à direita], residente em Perre, Viana do Castelo, que foi Fur Mil da mesma CCaç 2679, mas do 1.º Pelotão.
Pelas linhas dos textos anteriores deixei algumas impressões sobre ele, e adianto, se tivéssemos que eleger o melhor dos furriéis da Companhia, ele, muito provavelmente, seria o eleito. Foi ele que algumas vezes, e durante as minhas ausências, era incumbido do 2.º Pelotão.
Em geral, os pelotões aceitavam com grande à-vontade essas rotações, pois entre os milicianos havia o sentido da camaradagem, mas o Cândido tinha uma peculiar forma de relacionamento, que não prescindia da autoridade, mas era sempre transmitida com grande delicadeza.

Não estou a exagerar, estou a dar a minha avaliação, e não menosprezo os restantes furriéis, que também, e tão bem, contribuíram para que a Companhia não se desestruturasse e mantivesse um bom nível operacional e de relacionamento com a população.

Se pretenderes mais alguma coisa, faz o favor de mandar vir.
Um grande abraço
JD


Nesta foto, o autor da pintura Zé Tito Martins e o retratado Cândido Morais

Nesta foto a cópia e o original

Por ordem de grandeza: Dinis, Tito, Morais e Marino. A oportunidade está na bola, ou luz, ou mancha avermelhada, que deve representar um sinal transcendental, de que os meninos eram jovens, espertos, e divertidos, pelo que teriam ainda longas vidas para puxar pelo tutano.
Foto e legenda de JMMD


3. Comentário de CV:

Caro camarada Cândido Morais, o teu "padrinho" fala de ti de uma maneira que te deve provocar algum rubor. Tens aqui um amigo a valer que acreditamos não está a exagerar.

Julgo que irás partilhar com o Zé Dinis a série da História da CCAÇ 2679, o que será inédito no Blogue. Tens campo aberto para trabalhar, até porque as tuas histórias serão na maioria passadas contigo no teu 1.º Pelotão.

Temos cá um texto que sairá talvez segunda-feira pelo que podes começar a pensar já no próximo.

Resta-me enviar-te o abraço de boas-vindas em nome da tertúlia e dos editores.

O teu camarada e amigo
Carlos Vinhal
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 15 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10947: História da CCAÇ 2679 (59): Grande farra no Funchal (José Manuel Matos Dinis / Cândido Morais)

Vd. último poste da série de 13 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10935: Tabanca Grande (381): Abílio Magro, ex-Fur Mil Amanuense do CSJD/QG/CTIG (1973/74), 600.º tabanqueiro desta tertúlia

Guiné 63/74 - P10958: O cruzeiro das nossas vidas (20): Viagens de avião de ida para a Guiné, e volta, patrocinadas pelo Estado Português (Henrique Cerqueira)

1. Mensagem do nosso camarada Henrique Cerqueira (ex-Fur Mil da 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4610/72, Biambe e Bissorã, 1972/74), com data de 11 de Janeiro de 2013:

Tal como solicitado e por vontade própria vou tentar contar as minhas viagens de avião para a Guiné "patrocinadas" pelo Estado Português em 1972 e logo no dia 19 de Junho desse mesmo ano em que fazia o meu vigésimo segundo aniversário. Vou ainda tentar usar um pouco de ironia para aligeirar a "aventura".

Inicialmente a minha companhia estava destinada a embarcar para a Guiné no dia 24 de Junho de 1972, que era dia de S . João no Porto, mas por "tralhas ou malhas" o embarque foi antecipado para o dia 19. Eu ainda hoje penso que foi por minha causa, pois que os nossos chefes da altura devem ter reparado na data do meu aniversário e resolveram me presentear com uma "Viagem" de Avião. Como na altura estava em moda o "Destino" Guiné-Bissau, eles, pimba... é mesmo para aí que vais Henrique. Vais num avião da Boeing, o 707 dos TAMs (Transportes Aéreos Militares).

Claro que quando soube do presente até comentei com a família :
- Ainda bem que vou de avião, porque de barco não podia ser, visto que enjoo no mar. Se tivesse que viajar de barco, ainda por cima em dia de aniversário, de certeza que me recusava e acabava por não ir á Guiné. Mas os nossos Governantes sabiam mesmo como nos convencer (ainda hoje sabem). Daí juntaram o útil ao "agradável" e lá me enfiaram no avião e para não me aborrecer, mandaram o resto da companhia comigo.

Então, no dia 19 de Junho pela fresquinha e depois do pequeno almoço, a Companhia formou em parada no RI 16 de Évora. Estavam lá todos os senhores importantes civis e militares, deram umas palavrinhas de circunstância (mau grado que se esqueceram de me dar os parabéns e ainda hoje tenho um trauma quando me cantam os "parabéns a você" que até já pensei pedir uma pensão vitalícia por "Trauma prá Guerra".

Tenham paciência, foi uma desconsideração, depois de tanto trabalho que tiveram a mudar datas por minha causa... mas enfim nem tudo pode ser prefeito. Mas como ia a dizer, depois da parada, a malta foi em viaturas do Estado (Mercedes, Berliet e outras), eu lá me desenfiei e fui com um amigo Alferes, mais a sua mulher, e também a minha Ni, no seu carrinho civil já que ele era de Lisboa. Grande Camarada o Alferes Coelho de qume nunca mais soube nada.

Resta dizer que a Ni foi comigo ao aeroporto porque eu tinha recebido o primeiro pré de Furriel dias antes, e vai daí telefonei para ela vir passar o fim de semana comigo, porque ela ainda não sabia que eu embarcaria no dia 19 e não a 24, como estava previsto. Foi só durante o almoço no dia 18, um domingo, e junto de mais alguns camaradas que ela ficou a saber que seria no dia seguinte a minha partida para a Guiné. Por isso acabou por ir até Lisboa e só até ao portão do aeroporto onde se despediu de mim.

Diga-se de passagem que a viagem de avião para a Guiné, em termos de despedidas, até foi bastante benéfico, pois assim se evitaram aqueles momentos de sofrimento com lenços a acenar, gritos de dor dos familiares e aquele lento zarpar que, quanto a mim, quem os viveu deve ter sido de muita dor e angústia. 

Então lá entramos no avião e aquilo era novidade para todos. Havia um misto de prazer e "cagaço" medo... misturado com a ânsia do desconhecido. O avião levantou voo e logo que foi possível desapertar os cintos vieram uns "rapazes" bem fardados com uns cestinhos de rebuçados de fruta e, de lugar em lugar, foram distribuindo um (sim só UM) rebuçado de fruta que era para a malta não enjoar. Eu claro que não enjoava pois que até poderiam me mandar para trás (fundo do avião) e isso eu não queria, é preciso não esquecer que fazia anos, não é?

Entretanto pelo caminho o avião fez uma paragem na ilha do Sal em Cabo Verde, mas a malta nem saiu do avião. Diziam eles (os chefes) que era para não nos perdermos e que a paragem foi só para os pilotos fazerem um chichi. Lá retomamos a viajem (ainda pensei: lá vamos comer mais um rebuçadinho, mas não, já não havia o perigo de enjoar).

Chegamos ao nosso destino ao fim dumas três horitas de viagem. Sobrevoamos a Guiné com a malta a espreitar pelas janelitas para admirar aquele emaranhado de rios e riachos que em boa verdade era mesmo lindo visto de cima.

Guiné-Bissau > Maio de 2007 > Vista aérea de braços de rio
Foto e legenda: © Fernando Inácio (2007). Direitos reservados.

O avião aterrou e aí é que foram elas... É que os nossos chefes não sabiam nada sobre o ambiente da Guiné e do seu clima na altura. Como eram bons chefes, exigiram que desembarcássemos com a farda n.º 2, com blusão e tudo. Claro, como éramos muito obedientes (que remédio), começamos a descer as escadas do avião e passados uns breves momentos a malta começou a cair no chão como "tordos" afogueados de calor.

O que valeu é que estavam lá uns "chefes" tipo comitiva de receção que mandou a malta despir imediatamente os blusões e arregaçar as mangas da camisa . Ainda ouvi um dizer entre dentes :
- Estes chefes piriquitos são mesmo burrinhos, querem matar a malta antes mesmo de irem à bolanha.

Bom (mal), mais uma vez nos meteram nos Mercedes e Berliets e ala, que se faz tarde, até ao Cumeré.

Ainda pensei que pelo nome era onde se "comia bem " e, como ainda estava em aniversário, vinha bem a calhar. Mas não, nada disso.

Em Julho de 1974, data do regresso.
O percurso e transporte até ao aeroporto de Bissalanca foi idêntico ao da chegada, só que... um... qual idêntico qual quê?

Para abreviar: não éramos mais piriquitos, não éramos mais os mesmos jovens da chegada... não...
Éramos muito mais maduros, sei lá... mais sofridos... hã... já passou.
Entramos no avião, não havia medo nem novidade, não havia rebuçados e os pilotos não parraam para mijar em Cabo Verde, e ao fim de duas horas mais ao menos, estávamos a entrar no Ralis em Lisboa para a desmobilização final e virar as costas "ÁQUILO".

Ainda me admirei um pouco com a "bandalheira" da tropa na altura, mas depressa o calor humano e o carinho dos meus familiares me envolveram de tal modo que tudo foi passando para trás.
Bem, tudo não. Ainda hoje não perdoo de, na parada em Évora, não me terem cantado os parabéns a você. Mas também como paga eu jamais passei cartão à tropa.

Um abraço a todos os Tertulianos Camaradas da Guiné
Henrique Cerqueira
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 16 de Janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P10949: O cruzeiro das nossas vidas (19): A minha viagem de avião da Guiné para o Porto, com escala em Lisboa (Maria Dulcinea)

Guiné 63/74 - P10957: Agenda cultural (249): No passado dia 15 de Janeiro, foi apresentado o livro Golpe de Mão's, de autoria do nosso camarada José Eduardo Oliveira, na Livraria Municipal Verney, em Oeiras (Miguel Pessoa)

1. A propósito da apresentação, no passado dia 15 de Janeiro, na Livraria Municipal Verney, em Oeiras, do livro "Golpes de Mão's", de autoria do nosso camarada José Eduardo Reis Oliveira, o outro nosso camarada Miguel Pessoa enviou-nos o seu trabalho de reportagem, efectuada aquando do acontecimento.

Os nossos parabéns ao José Eduardo (o nosso JERO) e o agradecimento ao sempre oportuno Miguel Pessoa.

OBS: - Esta reportagem pode (e deve) também ser lida no site da Tabanca do Centro que brevemente vai comemorar o seu 3.º aniversário.


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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 15 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10944: Agenda cultural (248): Abertura ao público do Arquivo Amílcar Cabral e realização do seminário "Amílcar Cabral: um projeto interrompido", Lisboa, Fundação Mário Soares, 2ª feira, dia 21

Guiné 63/74 - P10956: Notas de leitura (450): Guiné-Bissau: A Destruição de um País, por Julião Soares da Silva (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 26 de Outubro de 2012:  

Queridos amigos,
O historiador guineense Julião Soares Sousa, Prémio Fundação Calouste Gulbenkian concedido ao seu trabalho sobre a vida e a obra de Amílcar Cabral, vem agora a terreiro com um diagnóstico das instituições da Guiné-Bissau, desde 1974 ao presente.

Rememora os diferentes ciclos políticos, as suas tensões e rupturas, até chegar a um manifesto, elencado iniciativas, susceptível de tirar a Guiné-Bissau da situação anticonstitucional em que se encontra, mercê de uma solução nacional que será a única solução para se obter a confiança e a harmonia entre todos os guineenses, que aspiram à paz e ao desenvolvimento.

Um abraço do
Mário


Guiné-Bissau: A destruição de um país

Beja Santos

“Guiné-Bissau: A destruição de um país” é o livro mais recente do historiador Julião Soares Sousa (edição de autor, Coimbra, 2012, email do autor juliaosousa@hotmail.com).

Trata-se de um contributo, como um apelo em matérias de interesse nacional, contra o subdesenvolvimento, a corrupção e toda a espécie de imoralidades que pautam a vida política, económica e social da Guiné-Bissau, adianta o autor. Tudo o que ele pretende é intervir construtivamente, diagnosticando as causas da crise e propondo linhas de rumo que permitam à Guiné-Bissau ir resolvendo os seus problemas mediante uma solução nacional que possivelmente a presente crise irá abrir as portas.

Na sua visão, a história da Guiné-Bissau entre 1974 e o presente, tem várias repúblicas e períodos de transição. Começando na I República, o historiador refere que a independência formal não foi pacífica com a instalação e o controlo do país por parte do PAIGC, numa lógica de partido/Estado e de um modelo de desenvolvimento estatizado. Houve logo uma caça aos inimigos internos e aos inimigos da revolução, concretamente os ex-comandos africanos, os régulos, membros de antigos movimentos nacionalistas e opositores declarados. O PAIGC foi confrontado com a fracassada tentativa de politização das massas urbanas, o partido isolou-se e entregou a administração do país à burocracia do país, totalmente impreparada, era abissal a distância entre a organização dos territórios libertados e o novo país. As perseguições davam ilusão de que o partido/Estado possuía as rédeas do poder. Fuzilaram-se ex-comandos; entre 1974 e 1980 mais de meio milhar de guineenses pereceu nas mãos da polícia política. O autor esclarece: “Foi na diáspora que alguns filhos da Guiné se (re)organizaram no sentido de combaterem o regime de partido único. Assim, em 1976, foi fundada (no exílio de Lisboa) a Organização Anticolonialista da Guiné-Bissau (OANG), por Viriato Pã, entre muitos outros quadros guineenses. Rapidamente, a OANG criou células clandestinas em Bissau, na região de Oio e em Farim, tarefa para a qual contou com o trabalho incansável de António Mendes Fernandes, Zinha Vaz, entre outros. Podemos mesmo afirmar que, em pouco tempo, a OANG penetrou na estrutura da sociedade guineense que quase minou o edifício em que assentava o poder despótico do monopartidarismo no pós-independência, se não fosse a sanha implacável da segurança do Estado e a prisão de grande parte dos elementos que constituíam a sua célula clandestina na Guiné, em meados de 1977”.

A I República (1975-1980) falhou no domínio económico, sobretudo não conseguiu adequar os incentivos à agricultura, não houve qualquer conversão desta bem como falhou a tentativa de instalação de unidades industriais ligadas ao sector primário. Ocorreu uma subida de custos devido à monopolização das importações e das exportações, os camponeses abandonaram os campos e avançaram para os grandes centros urbanos. Caiu de forma alarmante a produção agrícola sobretudo em 1979 e 1980. Falharam as prometidas reformas, caso do complexo Agro-Industrial do Cumeré, da fábrica de compotas de Bolama, entre outras. Mesmo com este caudal de desaires, observa o autor, é inegável que havia uma visão estratégica de desenvolvimento, apenas comparável aos governos de Carlos Gomes Júnior. O falhanço de muito projetos durante a administração de Luís Cabral deve-se, adianta o autor, à incúria, falta de profissionalismo e de patriotismo de alguns funcionários estatais e dirigentes políticos nacionais: “Ainda hoje passamos um atestado de incompetência a nós mesmos por sermos incapazes de criar e de manter uma fábrica de transformação do bauxite em alumínio destinado à exportação, como pretendia Luís Cabral, preferindo alienar a exploração a outros países e a empresas estrangeiras, sem um estudo sério do impacte ambiental”. Repertoria o conjunto de pequenas e médias unidades industriais que se pretenderam implantar durante a I República. Tratou-se de uma euforia estatizante mas onde também havia a lógica de transformar no país muitos dos recursos locais. O regime apostara no processo de industrialização em sintonia com a eletrificação dos principais centros urbanos, a criação de hospitais e não se pode negar que houve um grande esforço feito no domínio da educação. A par da ajuda externa, o Estado foi-se endividando devido às inúmeras despesas com as importações de bens de consumo. Até ao golpe de Estado de 1980, assistiu-se a um aumento da inflação para níveis incontroláveis, deu-se a centralização e a concentração do poder nas mãos de uma elite tendencialmente mais isolada e afastada da base sociológica de apoio.

O golpe de 14 de Novembro assentou neste profundo descontentamento, na tensão interna dentro do PAIGC devido a um projeto de revisão constitucional que na lógica dos golpistas acarretaria à absoluta personalização do poder e a marginalização dos guineenses no aparelho de Estado. Entrou-se na II República (1980-1994). Nino Vieira e o seu regime, desde muito cedo lançaram mão a falsos golpes de Estado, perseguições e sequestro de militantes e dirigentes de movimentos rivais. Houve assassinatos, como o que vitimou o líder da FGUIRIN, Aladje Baldé, nos anos 80 e os de Paulo Correia e Viriato Pã, e de muitos outros cidadãos nacionais. Os planos em vários sectores iniciados na I República foram postos em causa, ridicularizados e mesmo abandonados pelas novas autoridades. Caíram por terra projetos como a produção de mel e cera no Gabu, a fábrica de cerâmica de Bafatá, a fábrica de fundição e oficinas metalo-mecânicas, entre tantos projetos. Quanto aos projetos que o novo regime elaborou nunca foi capaz de os executar, muito do financiamento evaporou-se no mar de corrupção. A seguir houve que abraçar o Programa de Ajustamento Estrutural, era visto como a única saída possível para a resolução da crise económica e social.

Em simultâneo com a descrença total nas capacidades do Estado em fazer face à crise, emergiram novas revoltas que vieram acentuar a fragilidade do Estado. Constituiu-se a Frente Unida para a Libertação da Guiné (FULGUIBI), organização fundada em Lisboa e liderada por Bailo Djau. No Senegal, para além da FLING, a oposição contava com a FGUIRIN, liderado por Aladje Baldé, assassinado em 1982. Evocando tentativas de golpe, Nino chegou a convocar um congresso extraordinário, em 1981, com o objetivo de concentrar o poder. E na Constituição de 1984, Nino passou a acumular a chefia do PAIGC como secretário-geral, a do governo (depois de extinguir o cargo e de afastar Vítor Saúde Maria, acusado de estar planear um golpe de Estado). Segue-se o “caso 17 de Outubro”, de 1985 que irá culminar na prisão de 63 oficiais e civis, teremos mais fuzilamentos. O Estado ia sendo progressivamente confiscado, crescia o clientelismo, e Nino que se dizia avesso ao neoliberalismo veio a converter-se formalmente à democracia e ao multipartidarismo. Emigrados em Portugal fundaram a Resistência da Guiné-Bissau/Movimento Bafatá, uma peça importante para a abertura política que se iria consumar nos primeiros anos da década de 90. Não parou de crescer a degradação do nível de vida, foram aparecendo os partidos políticos enquanto descia a produção do arroz e se promovia a monocultura do amendoim que mais tarde dará lugar à monocultura do caju. E o autor observa: “O golpe de Estado de 1980 foi também um golpe contra o processo de industrialização em curso. Para isso concorreram o desprezo voltado ao plano industrial, a falta de divisas para a compra de equipamentos, a falta de quadros especializados e a ausência de uma rede energética para consumo das unidades industriais. E assim se caminha a passos largos para um tumultuoso conflito, aquele que eclodiu em Junho de 1998, a rebelião capitaneada por Ansumane Mané".

(Continua)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 14 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10938: Notas de leitura (449): Palavras de um Defunto... Antes de o Ser, por Mário Tito, o nosso camarada Mário Serra de Oliveira (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P10955: Facebook...ando (20): Joaquim Ruivo , ex-1.º cabo mec obus 8.8, BAC 1 (Santa Luzia, Bissau, out 61/ fev 64): imagens de Bissau... antes da guerra


No RAL3 com o meu amigo Domingos Samúdio, no dia do embarque dele para a Índia. (Foi dos que foi feito prisioneiro, quando da invasão pelas tropas da União Indiana). [Possivelmente foi no 1º contingente militar a bordo do Nisssa, do dia 8 de março de 1961]

Pessoal europeu da BAC [, da esquerda para a direita] sargento Dores,  de Elvas, sargento mecânico Pereira,  de Portalegre, que segundo tive conhecimento teve uma morte muito trágica, em Cabinda, 1º cabo Carneiro,  de Elvas e eu Joaquim Ruivo,  de Brotas.



Porto de Bissau em 1962


Os cowboys americanos dos 'rodeos'  têm muito que aprender com esta  vaqueira manjaca!  [, Postal ilustrado da época, vendido como "recuerdo" turístico...]


Ainda cá não se usava minissaia, já estas faziam "topless" [, Postal ilustrado da época, vendido como "recuerdo" turístico...]



Peça de artesanato feita por um artesão da Guiné


Avenida principal de Bissau. ao fundo vê-se o Monumento ao Esforço da Raça


Bissau: monumento existente dentro da fortaleza da Amura


Bissau: desfile militar [, ao fundo a Praça do Império e o Palácio do Governador]


Bissau: praça do Império e palácio do Governador.


Bissau: Palácio do Governador e fanfarra

Fotos (e legendas): © Joaquim Ruivo (2013). Todos os direitos reservados


1. O nosso camarada Joaquim Ruivo, natural de Brotas, Évora, nascido em 1939, e vivendo em Vendas Novas, tem uma  página no Facebook. É um dos  mais recentes membros da nossa Tabanca Grande (*). É também um dos nossos camaradas mais veteranos. Foi 1º cabo mecânico de obus 8.8.

Através de uma seleção das suas fotos do seu álbum, fizemos  uma reconstituição do seu percurso na Guiné, desde a sua viagem em outubro de 1961 (passando pelo Mindelo, São Vicente), até à sua colocação na BAC 1 (Bateria de Artilharia de Campanha 1), em Santa Luzia, com passagem por Mansoa e Catió (nas vésperas da Op Tridente), e finalmente o regresso a casa, em fevereiro de 64 (*).

Hoje apresentamos mais algumas fotos que ele inseriu na página do Facebook da Tabanca Grande, com as respetivas legendas.(**) São fotos de 1961/62, ainda antes da guerra, que vai começar, segundo a nossa historiografia e a do PAIGC, em 23 de janeiro de 1963, com o ataque a Tite.

São imagens, ainda idílicas, de uma Bissau pachorrenta e exóticas, aos olhos dos primeiros militares, de farda amarela, que vão chegando da metrópole, para preparar a guerra que aí vem (ou já insidiosamente a decorrer...). . Seria interessante que o Joaquim Ruivo nos dissesse quando teve a noção de que já se estava em guerra...  É uma controvérsia que já tem anos, aqui nosso blogue (vd,, por exemplo, poste P3503).
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Notas do editor:

Guiné 63/74 - P10954: Parabéns a você (523): Luís Rainha, ex-Alf Mil Comando, CMDT do Grupo Centuriões (Guiné, 1964/66)

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 13 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10932: Parabéns a você (522): Maria Ivone Reis, ex-Cap Enf.ª Paraquedista

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Guiné 63/74 - P10953: Convívios (489): Moledo, Lourinhã, 20 do corrente, festa de São Sebastião (Grupo de Veteranos de Guerra da Freguesia do Moledo)




1. Mensagem, de 12 do corrente, do ten cor J. J, Costa Pereira, presidente da direção do Núcleo de Combatentes de Torres Vedras,

Caros amigos Combatentes,

A solicitação da comissão de Veteranos do Moledo da Lourinhã,  venho divulgar a acção que vão realizar no próximo dia 20 de Janeiro.

Saudações associativas,

Costa Pereira
TC

2. Festa em honra do mártir São Sebastião, a realizar na freguesia do Moledo, concelho da Lourinhã, no dia 20 de janeiro de 2013, organizada pelo Grupo de Veteranos de Guerra  da Freguesia do Moledo (GVGFM)




Lourinhã > Modelo > Vista parcial do Monumento aos Combatentes do Ultramar, inaugurado em 2005. (Foto: Luis Graça, 2012)


Programa

8h00 - Içar da bandeira no Monumento aos Combatentes do Ultramar

9h15 -  Concentração junto à Igreja do Divino Espírito Santo do Moledo

10h15 - Missa em homenagem ao Mártir São Sebastião e por alma dos combatentes falecidos no ultramar

11h15 - Procissão e romagem ao  Monumento aos Combatentes do Ultramar, deposição de coroa de flores e chamadas aos mortos em combate do concelho e dos combatentes falecidos  da freguesia do Moledo

13h30 - Almoço de confraternização dos combatentes, familiares e população da freguesia

19h00 - Arrear das bandeiras


O almoço será confecionado,  com a colaboração dos combatentes,  pela Associação Recreio, Cultura e Desporto do Moledo e servida no respetivo salão de festas. Inscrições até ao dia 17 do corrente. 

Contactos: 
email do GVGFM - Grupo de Veteranos de Guerra da Freguesia do Moledo:
grupo.v.g.f.moledo@sapo.pt
telemóvel: 910 873 598 (das 15h00 às 21h00).

As marcações podem ainda ser feitas no local, pessoalmente,  na Associação Recreio, Cultura e Desporto do Moledo. 

Preço: 8 tiros (para maiores de 15 anos); 5 tiros (para os menores de 15).

Combatente, vem e traz os teus amigos! 

GVGFM
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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P10952: Humor de caserna (28): Estou a fazer voar o meu pensamento (Tony Borié) (1): Cansada de guerra

1. Em mensagem do dia 9 de Janeiro de 2013, o nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66), enviou-nos este pensamento voador, tão profundo, que tem que fazer parte da nossa série Humor de Caserna:





Vão por certo dizer que o Cifra, hoje, perdeu todo o seu juízo, está descarado, um autêntico desavergonhado, quase parecido com a menina Teresa, mas na nossa idade também temos que ter alguns momentos de boa disposição, e os leitores, ou leitoras, que vivem no mundo onde se fala inglês, vão pôr as mãos na cabeça e dizer:
- What the hell is these?

Onde se fala francês, vão fazer o mesmo gesto e dizer:
- Qu’est-ce que sont ces?

Onde se fala germânico, também farão o mesmo gesto, mas friamente dizem:
- Was zum teufel ist diese?

Onde se fala espanhol, também vão fazer um gesto parecido, e entre dois ou três “zzz”, dizem:
- Qué demonios es esto?

Os chineses, põem os pauzinhos de parte, se estiverem a comer, e dizem:


Perceberam? Não. Deixem lá pois o Cifra também não percebeu.

Nós os portugueses, encolhemos os ombros, e simplesmente dizemos:
- Que diabo é isto? Ou mesmo, este gajo está passado, “cá tem cabeça”?

Mas não, é o seu coração generoso que o obriga a escrever assim e podem reparar que não usa quase nenhuma palavra reles, ou rude, como usava o Curvas, alto e refilão, e pede que as digníssimas senhoras, queridas leitoras e visitantes do blogue do “Luís Graça & Camaradas da Guiné”, ao Luís Graça, ao Carlos Vinhal, assim como os seus restantes editores, depois de lerem, o compreendam, e jura que não volta a fazer isto outra vez, a não ser que lhe peçam, mas tem que dizer o que lhe vai na alma, pois trata-se uma combatente “CANSADA DE GUERRA”. Os amigos, antigos combatentes, habituados a lutar e a verem corpos sofredores, nas bolanhas e savanas da Guiné, não lhes faz muita diferença, alguns até vão por certo rir-se baixinho, entre outras coisas.

O Cifra andou sempre a falar de guerra, e como era um razoável militar, mas um fraco, mesmo fraco guerreiro, e está farto de repetir estas palavras, mas tem que as dizer, pois eram verdade, e agora o seus olhos, depois de verem este desenho, ficou cheio de ternura, o seu coração quase que não aguentava, pois esta pobre combatente, de uma guerra, que o Cifra não sabe bem onde, perdeu tudo, pois o Cifra soube mais tarde que sempre viveu perdida na guerra, mas nunca perdeu a coragem, pois no meio da desgraça, ainda arranjou forças para guardar a sua G-3, algumas pistolas, uma granada ou duas, algumas balas avulso, tudo com a intenção de vender no mercado negro, e que com toda a certeza a vai ajudar a comprar alguma roupa, e começar uma vida em família com alguma paz.

A coragem e a força de viver, são as últimas coisas a morrer, e ela, sozinha, com parte da roupa já rota, amargurada com a sorte que o destino lhe reservou, com uma mão a encobrir o seu cabelo rapado de um lado, pelo raspão de uma granada de morteiro, que felizmente não a atingiu, usando uma luva de rede para se proteger dos mosquitos horríveis que havia naquelas bolanhas, que atormentava alguns militares, e até mesmo os guerrilheiros que por lá andavam a lutar uns contra os outros, e se queriam meter em tudo o que era o seu frágil e desamparado corpo.

O Cifra, quando escrevia estas singelas palavras, em sua homenagem, os seus dedos tremiam de emoção, e sempre que deparava com o desenho, ao vê-la ali sentada, talvez num qualquer cemitério abandonado, ficava assim a modos, com vontade de a abraçar, para a proteger, dar-lhe algum carinho, até dar-lhe um casaco de camuflado, já roto e coçado, com alguns buracos, do Curvas, alto e refilão, ou uma camisa, nem que fosse uma daquelas camisas da farda amarela, também já rotas e coçadas que usava lá na Guiné, o coração do Cifra era só bondade, queria cobri-la, passe o termo, do frio e livrá-la das pessoas que fazem a guerra e colocam outras pessoas, como esta pobre combatente, a viver neste mundo, às vezes injusto e selvagem, sem “eira nem beira”, desesperada, carente de tudo!

E depois, vêm dizer que a natureza é justa.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 23 de Julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10185: Humor de caserna (27): Recepção aos piras do BCAÇ 2927 em Bissorã, em fins de outubro de 1970 (Armando Pires)

Guiné 63/74 - P10951: Álbum fotográfico do ex- fur mil José Carlos Lopes, amanuense do conselho administrativo da CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) (6): A Cilinha em Bambadinca, talvez em finais de 68 ou meados de 69



Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) >  Uma foto, algo invulgar,  que me deixou agradavelmente surpreendido, recolhida  do álbum do José Carlos Lopes, ex-fur mil amanuense, com a especialidade de contabilidade e pagadoria, especialidade essa que ele nunca exerceu (na prática, foi o homem dos reabastecimentos do batalhão: tudo o que chegava a Bambadinca, por terra, ar ou rio, e que não se  destinasse à Intendência, passava pelas mãos do Lopes, ou mesmo era dizer, era do pelouro do Lopes).

1. Na foto vê-se, acima das cabeças de um grupo de militares, a célebre Cilinha, a Cecília Supico Pinto (1921-2011), histórica fundadora e líder do Movimento Nacional Feminino (MNF), em visita ao setor L1, Bambadinca.  Ainda não descobriu em que data é que isso foi, mas  só pode ter sido no final do segundo semestre de 1968 ou no primeiro semestre de 1969. Quando estive em Bambadinca, com a minha companhia, em intervenção ao setor L1, de julho de 69 a março de 71, nunca dei conta da visita de nenhuma dirigente, metropolitana ou local, do MFN. Por sua vez, o comando e a CCS do BCAÇ 2852 foram para Bambadinca em finais de setembro de 1968, depois de dois meses en Brá. O BCAÇ 2852 foi substituir o BART 1904.

Telefonei ao camarada Lopes (, estivemos juntos em Bambadinca, de julho de 1969 a maio de 1970, ), e ele já não pode precisar em que data é que foi tirada a fotografia. Pessoalmente inclino-me mais para a hipótese de ter sido na época seca, ou seja, nos primeiros meses de 1969. Não estou a ver a senhora a andar na Guné na época das chuvas...

No lado esquerdo, vê-se um militar com os galões de major. O Lopes acha que era o major de operações Viriato Amílcar Pires da Silva que será substituído, em setembro de 1969, pelo célebre "major elétrico", o António Augusto Cunha Ribeiro.

Peço aos camaradas de então que me completem ou corrijam a legenda. 

Foto: © José Carlos Lopes (2013). Todos os direitos reservados. (Editada e legendada por L.G.)

2. Comentário de L.G.:

Pela consulta do livro de Sílvia Espirito Santo (Cecília Supico Pinto: o rosto do Movimento Nacinonal Feminino. Lisboa: A Esfera dos Livros, 2008, p. 117), pode concluir-se que  a Cilinha esteve na Guiné em 1969, e nomeadamente em Maio:

"O tempo, o treino e o reconhecimento transformaram-na num soldado - o soldado Pinto. Teve direito a um camuflado, a uma arma e, dada 'a relevância dos actos de bravura em combate', em Bula, ma unidade do brigadeiro Henrique Calado, foi promovida de soldado Pinto a primeiro-cabo Pinto.

"Apesar de ter anunciado que não queria mais promoções, e desejava 'passar à disponibilidade' como primeiro cabo, em Maio de 1969, em Olossossato, a Companhia de Caçadores [...]  2402 nomeou-a 'Capitoa honorária'. Essa foi a patente máxima da sua 'carreira' militar' " (....).

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Guiné 63/74 - P10950: Um Amanuense em terras de Kako Baldé (Abílio Magro) (1): A chegada

1. Mensagem do nosso camarada Abílio Magro (ex-Fur Mil Amanuense (CSJD/QG/CTIG, 1973/74), com data de 11 de Janeiro de 2013, que assim começa a sua colaboração no nosso Blogue:

Julgo não estar muito longe da verdade se disser que meus pais foram, talvez, dos que mais contribuíram com “carne para canhão” para a guerra colonial. Efectivamente, tendo a minha mãe dado à luz 11 criaturas (8 rapazes, dos quais 2 morreram em criança e 3 raparigas), os 6 mancebos sobrevivos vieram a cumprir serviço militar nos 3 TO’s (Angola, Moçambique e Guiné).

Em 1971 a situação da Companhia Magro era a seguinte:

- Fernando de Pinho Valente (Magro), nascido a 10/05/1936 - Em serviço na Guiné como Cap. Milº de Artilharia, tendo cumprido já, entre 1956 e 1958, o serviço militar obrigatório como oficial miliciano;

- Rogério Alberto Valente Magro, nascido a 09/03/1944 - Na disponibilidade após ter cumprido serviço em Angola como Fur Milº Atirador de Infantaria, entre 1967 e 1969;

- Dálio Valente Magro, nascido a 10/12/46 - Em serviço em Moçambique como Alf. Milº de Engenharia – CENG 2686;

- Carlos Alberto Valente Lamares Magro, nascido a 17/07/48 - Em serviço em Angola como Cabo Especialista da FAP;

- Álvaro Valente Lamares Magro, nascido a 17/05/50, em serviço no HMR nº1 – Porto, como 1º Cabo Enfermeiro e já com guia de marcha para a Guiné, para onde “marchou” em Dezembro desse ano;

- Abílio Valente Lamares Magro, nascido a 06/11/51, a apresentar-se a Inspecção Militar.

Eu, o único que fazia jus ao apelido que ostentava, pois media 1,73m e pesava 53kg, e consciente dos contributos que os meus irmãos deram, estavam a dar e mais um já se perfilava para dar ao esforço de guerra, apresentei-me à Junta Militar de Inspecção com a confiança de quem podia afirmar: “Para esse peditório os meus irmãos já deram!”

Quando, com algum estrondo, me plantaram na papelada o carimbo que rezava: “Apurado para todo o serviço”, confesso que me perpassaram pela mente alguns impropérios que me dispenso de aqui relatar, limitando-me aos mais suaves e cujos destinatários eram os meus 5 irmãos, tais como: “aqueles gandas camelos andam lá no meio do mato armados em heróis do capim e estes bacanos julgam que é tudo da mesma cepa e tungas, bora lá fazer companhia aos maninhos!”

Muitas vezes ouvi falar em “carne para canhão”, mas em “ossos para canhão” é que nunca tal houvera visto!
Enfim, lá me apresentei em Abril de 1972 no RI 5 – Caldas da Rainha para frequentar o 1º ciclo do CSM, tendo depois frequentado o 2º ciclo no RAL 4 – Leiria, seguindo depois, já como 1º Cabo Milº para o QG/RML onde, passados 4 meses lá me passaram o “vaucher” para viajar até à Guiné.


Um Amanuense em terras de Kako Baldé*

1 - A chegada

Após uma viagem atribulada de 10 horas a bordo de um DC 6 da FAP - ferrugento, rangendo por todos os lados e largando abundante quantidade de óleo por um dos motores, que nos obrigou a uma escala na ilha do Sal para "afinações" - eis que dou comigo a desfrutar alegremente do agradável clima daquela que era, na altura, a Província Ultramarina da Guiné Portuguesa.

Corria o dia 28 de Março de 1973 e, para me receber, encontrava-se no requintado Aeroporto de Bissalanca o meu irmão Álvaro que por aquelas bandas já se encontrava desde finais de 1971 e que eu, ao vê-lo fardado de calções, sapatos e meias até ao joelho, logo fiquei com a impressão de ter acabado de chegar a um qualquer Clube de Golf onde iria passar uns agradáveis momentos, apesar de já me começar a irritar a presença de tanto insecto voador de bico afiado.

Logo nos disponibilizaram transfer gratuito – o meu irmão mal teve tempo de me transmitir todos os conselhos, avisos e informações que pretendia transmitir – que nos levou até ao aldeamento turístico que nos estava destinado e que era conhecido localmente pelo nome de DAG.

Durante esta curta viagem pude constatar que, naquele “paraíso terrestre”, o top-less era livre e abundantemente praticado, levando-me a concluir que: “a coisa estava a compor-se!” e que o tal DAG seria, talvez, um Departamento de Actividades Giras.

Não, não era! Era o Depósito de Adidos da Guiné. Aí nos depositaram e foi também aí que comecei a ficar adido, para não dizer outra coisa!

E mais adido fiquei quando, uns dias depois, fui mudado para as instalações militares de Santa Luzia onde me aconselharam, amavelmente, um alojamento ao qual a tropa dava o sugestivo nome de Biafra e onde pernoitavam cerca de 20 “piriquitos” por caserna e onde as baratas, imensas e de avantajado porte, tinham ali o seu habitat natural.

Cada vez mais adido, mal dormi nessa noite com tanta “bazucada”! Tinha começado a minha guerra!

As “bazucadas” eram constantes e provinham da Messe de Sargentos, ali próxima, e traduziam-se no arremesso de garrafas de cerveja vazias para cima dos telhados de zinco das camaratas em condomínio fechado.

(*) Para quem não sabe, Kako Baldé era o nome por que era conhecido, entre a tropa, o General Spínola. Kako – (caco) lente que o General metia no olho. Baldé – Nome muito comum na Guiné

AM

(Próximo capítulo - Colocado na CSJD/QG/CTIG)
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Nota de CV:

Vd. poste de 13 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10935: Tabanca Grande (381): Abílio Magro, ex-Fur Mil Amanuense do CSJD/QG/CTIG (1973/74), 600.º tabanqueiro desta tertúlia