Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cabedú > 4 de maio de 2013 > Centro de Saúde de Cabedú, onde recentemente tinha nascido a primeira criança...
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cautchinqué > 4 de maio de 2013 > Saboreando a água do fontanário em Cautchinqué (ou Cautchinké), construído e equipado com a solidariedade da Tabanca Pequena de Matosinhos bem como da ONGD Ajuda Amiga, entre outros doadores e beneméritos (onde se inclui a família do nosso saudoso camarada José Neto)
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cautchinqué > 4 de maio de 2013 > As hortinhas com viveiros de plantas para transplantar
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Catesse > 4 de maio de 2013 > Duas máquinas de costura colocadas em Cabedú, pela Tabanca Pequena. Um incentivo à formação de uma escola de costura para as bajudas locais.
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Catesse > 4 de maio de 2013 > Associação de jovens bajudas de Catesse na escolinha de costura. Nota-se a felicidade de quem quis ficar na fotografia
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Catesse > 4 de maio de 2013 > A população de Catesse em festa com a abertura da escolinha de costura.
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Catesse > 4 de maio de 2013 > A população de Catesse em festa com a abertura da escolinha de costura.
O grupo de bajudas dançando [vd. aqui vídeo no You Tube],
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Catesse > 4 de maio de 2013 > A população de Catesse em festa com a abertura da escolinha de costura. Teatro pela associação de jovens de Catesse, asociado à Rádio local ali instalada.
Fotos (e legendas): © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: LG]
1. Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau (30 de Abril - 12 de maio de 2013) - Parte V
por
José Teixeira
[, membro sénior da Tabanca Grande e ativista solidário da
Tabanca Pequena, ONGD, de Matosinhos; partiu de Casablanca, de avião, e chegou a Bissau, já na madrugada do dia 30 de abril de 2013; companheiros de viagem: a esposa Armanda; o Francisco Silva, e esposa, Elisabete; no dia seguinte, 1 de maio, o grupo seguiu bem cedo para o sul, com pernoita no Saltinho e tendo Iemberém como destino final, aonde chegaram no dia 2, 5ª feira; na 1ª parte da viagem passaram por Jugudul, Xitole, Saltinho, Contabane Buba e Quebo; no dia 3 de maio, 6ª feira, visitam Iemberém, a mata di Cantanhez e Farim do Cantanhez; no dia 4, sábado, estão em Cabedú, Cauntchinqué e Catesse] (*)
Chegamos ao dia 4 de Maio. Estar em Iemberém “sabe demais”. As excelentes instalações hoteleiras, no meio da floresta do Cantanhez, transportam-nos a outro tempo, para nos lembrar que muita coisa mudou desde então. Hoje somos acolhidos como irmãos, com sorrisos e abraços. As pessoas desta linda tabanca acolhem com ternura e carinho o Tuga, sem pedir nada em troca. As crianças correm para nós à procura de um carinho. Agarram-nos a mão e acompanham-nos tabanca fora. E, ficam tristes quando nos despedimos, até choram…
Nesta manhã até os macacos desceram pacificamente ao terreiro para mudar de mangueiro, onde não lhe falta comida e da mais saborosa. Por falar em mangueiro, o seu fruto é o saboroso mango. Esta região é um dos grandes centros de produção de mango e da melhor qualidade – o
mango faca. São tantos os mangueiros e tanto fruto que durante a noite somos acordados pelo barulho que fazem ao caírem ao chão. De manhã, para o pequeno-almoço, é só apanhar, lavar e saborear. Não me recordo de tanta fruta na Guiné.
O pequeno-almoço confecionado com todo o carinho pela Satu, recheado de frutas em conservas da mais variada qualidade, dá-nos a força necessária para a caminhada que nos espera neste dia
Ainda pelo fresco da manhã partimos para nova aventura. Passamos por várias tabancas e “poisamos” em Cauntchinke para saborear a água fresca vinda do poço que a Tabanca Pequena financiou e apreciar as hortas e viveiros que a comissão de mulheres dinamizou, aproveitando o fato de ter água ali a 15 metros (de profundidade) em quantidade.
Foi uma festa que teve para o autor desta crónica um sabor especial por ver tão bem compensado o esforço dos associados da Tabanca Pequena. Na alegria e no prazer com que nos mostravam as hortinhas bem tratadas e bem regadas, onde os frutos não demorarão a chegar. Sabemos que as tabancas ao redor também vem ali buscar água, para beber o que por si reflete a preocupação das populações em reduzir o perigo de doenças transmissíveis pela água estagnada da mata.
Partimos de novo a caminho de Cabedú. Choca-nos o desbaste da mata do Cantanhez. São muitos os hectares de floresta destruídos. Árvores criminosamente cortadas. As de grande porte estão a ser vendidas à China para enriquecimento de alguns dos poderosos da Guiné e prejuízo da humanidade que vê um dos seus pulmões ser destruído. Todos sabemos que a floresta da Guiné-Bissau é considerada pela ONU uma reserva natural do Mundo e, como tal, deve ser defendia e conservada, no entanto nada se faz para deter o desbaste criminoso. A troca da floresta pela árvore do caju é uma constante em toda a Guiné, retirando-lhe a sua beleza exótica e tão natural. É chocante ver este mar verde destruído e não lhe poder valer por que não há Lei e sobretudo não há vontade para impor a Lei.
Sentados em cima de uma carrinha de caixa aberta, eu e o Francisco Silva olhávamos para este cenário com o coração cheio de mágoas. Não foi esta a Guiné que conhecemos outrora. Era uma Guiné em que a mata estava plena de mistério. Impunha respeito pelo porte das suas árvores e lianas, onde só à catanada se podia abrir caminho, pelos chilrear dos pássaros que tiveram de emigrar, porque lhe roubaram o habitat natural. Pelo silêncio que por vezes era ensurdecedor. Agora que os chimpanzés ousaram voltar e os elefantes e os búfalos, talvez estejam a pensar em emigrar de novo. Outrora foi o ruído das bombas assassinas, lançadas pelo homem que os afastou. Agora o mesmo homem que chorava a sua ausência, está de novo a expulsá-los, retirando-lhes as condições ideais para a sua sobrevivência.
Foi com o coração destroçado que cheguei a Cabedú. Rapidamente recuperei, recuperamos com o ambiente que se gerou com a nossa chegada. A comissão de mulheres gestora da enfermaria estava à nossa espera e com ela muitos dos seus habitantes para nos mostrar a excelente obra que a AD dinamizou com o apoio da TABANCA ONGD alemã que restaurou as instalações da Enfermaria e Centro Materno-Infantil e com o apoio da EDUCÁFRICA, a ONG da Maia que colocou a energia solar para alimentar o poço e iluminar todo o prédio, tendo enviado dois técnicos à Guiné para proceder à instalação. A Tabanca Pequena também colaborou oferecendo o equipamento necessário para a montagem do Centro Materno infantil. O equipamento hospitalar, camas, mesas, cadeiras, armários e marquesas forma oferecidos pela viúva do Capitão Neto, de saudosa memória que fez uma comissão em Guiledge.
Ainda em Cabedú pudemos conversar com as jovens bajudas que estão a organizar-se em associação para formar uma escola de costura. As máquinas de costura oferecidas pela Tabanca Pequena já lá estão, mas não funcionam. Um pequeno erro técnico do carpinteiro que fez as mesas atrasou o desenvolvimento do projeto. É convicção dos responsáveis que dentro de alguns dias a escola começará a funcionar.
O Tempo, nestas coisas de viagem por áreas que dão prazer em estar, tem o terrível defeito de correr demasiado depressa. Foi uma manhã em cheio, mas há que partir de novo. Alguém nos lembra que a população da Tabanca de Catesse está à nossa espera e “ameaça” vir ao nosso encontro a Cabedú para nos levar.
Partimos de novo infiltrando-nos pela floresta em picada de terra batida, como tem sido toda a nossa viagem deste dia. Foi um tempo para recordar o “boguinhas” para uns o “Pincha pincha” ou o “burro do mato” para outros, o velho Unimog [, 411,] que saltava e saltava… se saltava… Foi uma oportunidade para o nosso traseiro recordar esses tempos e testar a agilidade que parece que ainda não perdeu, segundo constatou o Francisco Silva.
A surpresa para nós, os dois casais em que as esposas se sentiam “periquitas” nestas coisas de Guiné, espantadas com tão caloroso acolhimento em todo o lado por onde passávamos, atingiu o máximo quando o motor da viatura anunciou a chegada e os tambores começaram a rufar, através da instalação sonora da Rádio Local. Dançava-se e cantava-se com toda a maestria. A juventude de um lado, os homens ao fundo e as mulheres garridamente vestidas sorriam e remexiam-se ao som da batucada e das palmas bem ritmadas.
Após tão agradável recepção que teimava em não acabar, para nosso deleite, mas porque a fome apertava, lá fomos para a sala de jantar debaixo de um coberto à vista de toda a gente. Até parecia que éramos gente importante e o petisco –
Peixe de Chabéu – regado com sumo de cabaça, soube, se soube!
À nossa volta as mulheres preocupadas em receber bem estavam atentas ao mais pequeno pormenor ou gesto para logo acorrerem. Gratificantes momentos, que só demonstram como esta gente gosta de receber e quer receber o
POOORTO, ou seja o Português, Ninguém arredou pé, pelo voltamos à arena logo de seguida para ser iniciada a verdadeira festa com danças guerreiras que jovens bajudas nos quiseram obsequiar.
E assim passamos a tarde à sombra de frondosos mangueiros carregadinhos até dobrar a espinha, ouvindo música e apreciando belas danças e peças de teatro com sentido moral, pois como dizia o locutor a cultura desenvolve-se pela acção do homem e em Catesse o homem quer desenvolver a cultura. Ainda deu tempo para uma visita ao rio Cumbijá na expetativa de um mergulho, mas a maré estava a baixar…
Fomos por fim visitar a Associação de jovens Bajudas, onde funciona a escola de costura com o apoio da tabanca Pequena que ofereceu duas máquinas de costura. Mestre e alunas no meio dos panos. A vontade de aprender é tanta que até se atropelam para chegar às máquinas. Trabalho não falta e mão-de-obra parece que também não. São precisas mais máquinas diz-me a presidente, uma jovem mãe sorridente com a sua bebé ao colo.
Com promessas de que vamos tentar um maior apoio no que respeita a máquinas de costura, partimos de novo a caminho de Iemberém, levando connosco sorrisos e despedidas. Mãos a acenar com um brilho estranho nos olhos. É que chegou a hora da despedida.
Esperava-nos um pitéu de estalo.
Pita com molho de mancarra.
(continua)
Zé Teixeira
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Nota do editor:
Último poste da série > 6 de junho de 2013 >
Guiné 63/74 - P11678: Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau: de 30 de abril a 12 de maio de 2013: reencontros com o passado (José Teixeira) (4): Visita ao Cantanhez e ás tabancas de Iemberém e Farim do Cantanhez... O poilão de Amílcar Cabral... Recordações do tempo de guerra: Contabane e Mampatá (eu e Abdu Indjai, avô da Alicinha); e Jumbembem (o Francisco Silva e o Galissá)