quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12258: Álbum fotográfico do Luís Nascimento, ex-1º cabo cripto, CCAÇ 2533, Canjambari e Farim, 1969/71 (Parte VI): Farim, em finais de 1970 e princípios de 1971:


Guiné > Região do Oio > Farim > CCAÇ 2533 (1969/71)>  C. finais de 1970/princípios de 1971 > O Luís Nascimento, 1º cabo op cripto,  junto ao monumento ao BART 733 (Bissau e Farim, de 8/10/1964 e 7/8/1966).


Guiné > Região do Oio > Setor 02 > Farim > CCAÇ 2533 (1969/71)>  C. finais de 1970/princípios de 1971 > O Luís Nascimento, 1º cabo op cripto,  á esquerda, junto ao monumento ao BART 733 (1964/66),  tendo a seu lado um outro camarada não identificado.



Guiné > Região do Oio > Setor 02 >  Farim > CCAÇ 2533 (1969/71)>  C. finais de 1970/princípios de 1971 >  O Luís Nascimento com mais "3 viseenses"...


Guiné > Região do Oio > Setor 02 > Farim > CCAÇ 2533 (1969/71)>  C. finais de 1970/princípios de 1971 >  Em primeiro plano, o.O Luís Nascimento na piscina de Farim, com o rio Cacheu ao fundo.




Guiné > Região do Oio > Setor 02  > Farim > CCAÇ 2533 (1969/71)>  C. finais de 1970/princípios de 1971 > Uma coluna [de Camjambari]  a Farim


Guiné > Região do Oio > Setor 02  > Farim > CCAÇ 2533 (1969/71) >  C. finais de 1970/princípios de 1971 >  Quem disse que os criptos não saíam... para o mato ?


Guiné > Região do Oio > Farim > CCAÇ 2533 (1969/71)>  C. finais de 1970/princípios de 1971 > O Luís Nascimento na sua cama... sem rede mosquiteira.




Guiné > Região do Oio > Setor 02  > Farim >  CCAÇ 2533 (1969/71)>  C. finais de 1970/princípios de 1971 >  Cartão (personalizado) de boas festas, Natal de 1970.




Guiné > Região do Oio > Setor 02  > Farim > CCAÇ 2533 (1969/71) >  C. finais de 1970/princípios de 1971 >  O  Luís Nascimento em tronco nu... Repare-se na tatuagem no braço direito, "Guiné 69-71". Na época, ou pelo menos entre nós, a arte da tatuagem ainda era incipiente... Nada que se pudesse comparar con a sofisticação, a técnica e a estética de hoje... Já tentámos abrir uma série sobre tatuagens... Mas creio que só saiu um poste...



Guiné > Região do Oio > Setor 02  > Farim >  CCAÇ 2533 (1969/71) >  C. finais de 1970/princípios de 1971 > "Homenagem ao Homem Grande de Farim"... Régulo ? Dignitário religioso ? Não sabemos...

(Esclarecimento posterior do nosso querido amigo e camarada Carlos Silva, esse sim o verdadeiro 'régulo de Farim', como a gente lhe chama na brincadeira, devido aos contactos e ao conhecimento profundo que tem da Guiné, e em especial da região de Farim: "Meu caro Luís Nascimento: O 'Homem Garandi' da foto não era régulo, mas um simples cidadão muito simpático a quem chamavam carinhosamente '120 chuvas', porque,  e quando toda a malta em tom de brincadeira lhe perguntava quantos anos tinha, punha-se em sentido e respondia com simpatia ter '120 chuvas', pois era assim a forma de ele contar os anos.Era uma figura típica de Farim. Várias vezes me cruzei e falei com ele. O seu nome que de momento não tenho presente, consta da HU do BArt 733 que faz alusão à sua detenção em consequência de um acontecimento triste, já aqui narrado, em que morreram mais de uma dezena de civis devido ao lançamento de uma granada para o meio de uma batucada, pois presumiram que ele era um informador duplo. Abraços, Carlos Silva.").


Fotos (e legendas) : © Luís Nascimento (2013). Todos os direitos reservados. [Edição / Legendagem complementar: L.G.]


1. Continuação da publicação de uma seleção  de fotos
 do álbum do nosso camarada, Luis Nascimento, o ex-1º cabo operador cripto Nascimento (também conhecido, na tropa por Assassã, do francês "assassin", assassino, alcunha que ganhou no tempo em que era... júnior do Académico de Viseu) [, foto atual à esquerda].

O nosso grã-tabanqueiro Luís Nascimento pertenceu à CCaç 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71). As fotos foram-nos enviadas pela sua neta, Jessica Nascimento em 1/10/2013.



2. Sobre a história desta subunidade, ver o dossiê completíssimo publicado pelonosso querido camarada e amigo  Carlos Silva, na sua página Guerra na Guiné 63/74.


(i) A CCAÇ 2533  fdoi mobilizada pelo  BCAÇ 10, Chaves;

(ii) Partiu para o TO da Guiné em 24/5/1969 e regressou a 17/3/1971

(iii) Comandante: Cap. Inf Sidónio Martins Ribeiro;

(iv) Em 10/6/69, seguiu para Canjambari, a fim de realizar o treino operacional, sob a orientação do COP 3;

(v) Em 19/6/69, assumiu a responsabilidade do respetivo subsetor de Canjambari, em substituição do pessoal restante da CArt 2340 e outros efetivos ali colocados temporariamente em reforço,  ficando integrada no dispositivo e manobra do COP3 e depois BCaç 2879;

(v) Para atuação nos corredores de Sitató e Lamel, destacou, por períodos variáveis, dois pelotões para Cuntima, de 25/11/1969  a 3/12/196969 e de 27/12/1969 a 15/2/1970; e para  Jumbembem, de 19 a 27712/1969, 23/3/1970 a 10/4/1970 e de 23/4/197070 a 4/9/1970, ambas no mesmo setor;

(vi) De 16 a 21/11(1970, efetuou a rotação do seu efetivo com a CCaç 2681, deslocando-se para Farim, no mesmo setor, com a missão principal de contra penetração na linha de Lamel;

(vii) Em 20/2/191, foi substituída pela CCaç. 14 e recolheu seguidamente a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.

  As fotos que hoje publicamos foram tiradas em Farim,  presumivelmente entre finais de novembro de 1970 e meados de fevereiro de 1971.

Guiné 63/74 - P12257: Filhos do vento (22): Criada a Associação de Solidariedade dos Filhos e Amigos dos Ex-Combatentes Portugueses na Guiné


Título de notícia  do "Público", 1/11/2013, assinada pela jornalista Catarina Gomes. A Catarina foi responsável, juntamente com Manuel Roberto e Ricardo Rezende, por uma notável  peça de jornalismo de investigação sobre o tema, politicamente incorreto, dos "filhos do vento", disponível no portal Público Mais.

Recorde de imprensa reproduzido aqui com a devida vénia.

1. Sinopse da notícia

(i) São filhos de ex-combatentes portugueses da guerra colonial e de mulheres guineenses, andando hoje na casa dos 40/50 anos;

(ii) O seu desejo é ainda poderem conhecer o pai "tuga";

(iii) Criaram, um grupo deles (cerca de 50, vivendo em Bissau), a Associação de Solidariedade dos Filhos e Amigos dos Ex-Combatentes Portugueses na Guiné, sendo o seu presidente Fernando Edgar da Silva;

(iv) O objetivo principal  da associação é  "obter a cidadania portuguesa" e "conhecer o pai";

(v) Estão já a fazer diligências  para serem  recebidos pelo embaixador de Portugal na Guiné-Bissau;

(vi) Na sexta-feira (, dia em que em Portugal se vai aos cemitérios visitar as campas dos entes queridos que já partiram) , e num gesto simbólico, este grupo de "filhos do vento" guineenses foi depositar uma coroa de flores “ao pai desconhecido” (sic),  no cemitério de Bissau; 

(vii) A Associação foi criada na sequência do trabalho de investigação, corajoso e sério,  da Catarina Gomes (vd  reportagem do Público, Em busca do pai tuga);

(viii ) O presidente da associação fala da existência de  "centenas de pessoas espalhadas pelo país", a maioria das quais nunca conheceu o pai.

 Eis a história resumida de 3 dos dirigentes da associação:

(i) O presidente Fernando Edgar da Silva, camionista de profissão, nasceu em 1968; a mãe vivia em Teixeira Pinto (ou Canchungo), junto ao quartel:  o pai seria furriel, com comissão feita em 1966/67;

(ii)  O secretário José Maria Indéqui, técnico agrário, nasceu em 1971; o nome que lhe terá sido atribuído pelo pai era José Carlos dos Santos;  o progenitor terá regressado a Portugal por volta de 1973/74; esteva colocado no quartel de Pelundo, região de Cacheu;  vivia maritalmente com a mãe e tiveram mais duas raparigas;

(iii) A tesoureira Fátima Cruz, comerciante de roupa em Bissau, nasceu já em 1975;  o pai esteve no quartel de Empada e de Cutia (1973/74); a mãe era lavadeira do pai.

2. Ser solidário

Mandei à Catarina (e partilho agora com os nossos leitores) a seguinte mensagem da sequência desta notícia:

(...) Disponha sempre, mande notícias dos nossos 'filhos do vento'. Gostava de saber como poder ajudar a associação... Podemos fazer um poste... Quer escrever um pequeno texto ?...Aqueles homens e mulheres merecem muito mais!.. 

Sabemos, por outro lado, que  na sequência da sua reportagem também há, aqui em Portugal, irmãos e irmãs dos "filhos do vento",  que estão interessados em conhecer os irmãos e as irmãs que vivem na Guiné-Bissau. Naturalmente que tudo isto é feito com discrição, fora dos holofotes da comunicação social. Mas seria bom que a embaixada portuguesa assumisse um papel mais proactivo e dialogante na tentativa de resolução deste problema que está longe de ser um problema simples. A maior parte dos guineenses, filhos de portugueses do tempo da guerra colonial, não tem uma simples foto do pai, nem sabe o nome do pai...

(...) Eu sei que vocês, jornalistas, não gostam de misturar as coisas, a investigação e ação... Mas o blogue pode ajudar, temos associações também de solidariedade... Para já é preciso pôr o problema na nossa 'agenda'... Você, por seu turno, deu um excelente contributo com a sua magnífica reportagem... O Público é, continua a ser, para mim,  um jornal de referência. (...)

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Nota do editor:

Último poste da série > 1 de novembro 2013 > Guiné 63/74 - P12235: Filhos do vento (21): Apelo da jornalista do Público, Catarina Gomes, para a ajudar a descobrir uma "história de reencontro" (de um pai ex-combatente que tenha encontrado ou ido à procura de um destes filhos da guerra, ou de um destes filhos que tenha encontrado o seu pai)

Guiné 63/74 - P12256: Parabéns a você (648); Jorge Cabral (ex-alf mil, cmdt do Pel Caç Nat 63, Fá Mandinga e Missirá, 1969/71)


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Nota do editor:

Último poste da série > 3 de novembro de 2013 > 3 de novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12243: Parabéns a você (647): Ten-General António Martins de Matos, ex-Tenente Pilav da BA 12 (Guiné, 1972/74)

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12255: Memória dos lugares (249): Gampará e Ganjauará, na região de Fulacunda, e outros topónimos estranhos como Farema Beafada, Lagoa Bionrá, Gambachicha, Gansambo e Gambana que fazem parte das memórias dos bravos da 38ª CCms (setembro de 1972)



Guiné > região de Quínara > Mapa de Fulacunda  (1955) / Escala 1/50 mil > Posição relativa de Fulacunda, Lagoa Bionrá, Farema Beafada, Farema Balanta, Gambachicha, Gansambo, Gambana,  Ganjauará e Gampará...  Sítios (tirando Fulacunda) por onde andou a 38ª CCmds, em setembro de 1972.  E com ela os nossos amigos e camaradas Amílcar Mendes e Luís Fernando Mendes.

Esta margem esquerda do Rio Corubal,  com pelo menos duas lagoas de água doce (Bionrá e, maia a sul, Bedasse), e rica em bolanhas,  para além dos seus extensos palmerais e das suas manchas de  floresta-galeria,  era uma zona ideal para a guerrilha... Numerosa balantas e beafadas ali viviam e trabalhavam com uma relativa tranquilidade... Em condições normais, as NT só lá chegavam helitransportadas. De Gampará até à Lagoa de Bionrá deveriam ser mais de 20 km em linha recta...

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2013)






38ª CCmds - História da Unidade > Cap II, página 9 > Registo da atividade operacional, em 12, 13, 16 e 18 do mês de Setembro de 1972, com destaque para o dia 13,  Acção "Águia Errante"

Foto: © Amilcar Mende (2007). Todos os direitos reservados.

1. Mais alguns elementos informativos para a pequena história das NT na península de Gampará:

12/9/72 - Patrulhamento das matas circundantes do aquartelamento de Gampará, com emboscada nocturna. Efetivos: 1 Gr Comb da 38ª CCmds. Sem contacto.

13/9/1972 - Acção "Águia Errante". Missão: patrulhamento, emboscada e golpes de mão imediatos na região de Bionrá.  Destruir instalações e meios de vida. Criar clima de instabilidade. Capturar ou aniquilar os elementos IN que se revelarem. Recuperar a população.

Efetivos: 3 Gr Comb da 38ª CCMds, atuando isoladamente. Plano de ação: os 3 Gr Com foram helitransportados até a norte da região de Faremá Beafada. Apoio de DO27 armada, assim como helicanhão, estacionados em Bissau. Heli para evacução, em alerta no solo, em Gampará. Apoio de artilharia (29º Pel Art, em Gampará). Duração: 12 horas.

Resultados: Pelo menos 2 mortos e vários feridos, a avaliar pelos rastos de sangue no solo. Captura, entre outro material, de 1 Met Lig Degtyarev, e de 1 Esp Semi-automática Simonov.

16 e 18/9/72 - Parulhanmentos ofensivos com emboscada  noturna nas regiões de Gambachicha, Gansambo e Gambana, a sul e sudoeste de Gampará.

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Nota do editor:

Último poste da série > 4 de novembro de 2013 >  Guiné 63/74 - P12247: Memória dos lugares (248): Em Gampará, sítio desolador, o dia mais feliz era quando chegava a LDG com as 'meninas' de Bissau... (Amílcar Mendes, ex-1º cabo comando, 38ª CCmds, 1972/74)

Guiné 63/74 - P12254: Os nossos seres, saberes e lazeres (60): O livro Baladas de Berlim, de J.L. Mendes Gomes, Lisboa, Chiado Editora: O "pequeno grande segredo" do poeta...



Lisboa > Livraria Bar Les Enfants Terribles > Cinema King > 2 de novembro de 2013 > 19h00 > Sessão de lançamento do livro de poesia do nosso camarada J. L. Mendes Gomes, "Baladas de Berlim" (Lisboa: Chiado Editora, 2013, 229 pp> coleção Prazeres Poéticos; preço de capa: 15€). O poeta falando de si e da sua obra... Muito compenetrado do seu papel e algo emocionado... Enfim, a revelação de um "pequeno grande" segredo...



Lisboa > Livraria Bar Les Enfants Terribles > Cinema King > 2 de novembro de 2013 > 19h00 > Sessão de lançamento do livro de poesia do nosso camarada J. L. Mendes Gomes, "Baladas de Berlim" > O poeta e o seu filho mais velho, Paulo Teia, padre jesuíta. É um jovem que atingiu o estado da sabedoria. Disse, entre muitas outras revelações interessantes para se compreender o "making of" deste livro de poemas, bem a personalidade e o talento do autor, que um jesuíta é um "contemplativo em acção".  O lado contemplativo, conventual, herdou do pai, jurista.  O lado proativo e prático veio-lhe da mãe, bióloga, verdadeira âncora da família... Os filhos são quatro.A intervenção do Paulo Teia tocou-nos a todos e deixou o pai... babado!



Lisboa > Livraria Bar Les Enfants Terribles > Cinema King > 2 de novembro de 2013 > 19h00 > Sessão de lançamento do livro de poesia do nosso camarada J. L. Mendes Gomes, "Baladas de Berlim" > Aspeto geral da mesa: da direita para a esquerda, a representante da editora (que publica 40 obras por mês, a maior parte de autores portugueses), o Paulo Teia (. filho do poeta), o autor (J. L. Mendes Gomes) e o apresentador da obra, Luís Graça. (A intervenção que fez será aproveitada para a série "Notas de leitura").



Lisboa > Livraria Bar Les Enfants Terribles > Cinema King > 2 de novembro de 2013 > 19h00 > Sessão de lançamento do livro de poesia do nosso camarada J. L. Mendes Gomes, "Baladas de Berlim" > Um aspeto da assistência: em primeiro plano, à esquerda, a Irene e o Virgínio Briote, nosso coeditor... jubilado. Foi uma agradável surpresa.  Eles moram ali na zona.


Fotos (c/ a ajuda da Irene) © Luís Graça (2013). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem do nosso camarada J.L.Mendes Gomes, com data de 3 do corrente


Assunto: Lançamento das Baladas de Berlim

 Notas sobre o lançamento do meu livro de poemas Baladas de Berlim, Lisboa, dia 2 de Novembro de 2013, pelas 19 horas

Meus caros Amigos

Sinto o dever e o prazer de vos contar como tudo correu, ontem. Naturalmente que ficaria muito mais contente se vos tivesse visto lá. Mas, a vida é exactamente assim.

Quando agendei o dia, preocupei-me com a maior disponibilidade do dia de Sábado, mas esqueci essa circunstância incontornável de este Sábado estar inserido nas nossas ricas vivências de recordação dos nossos... Apesar de poucos, posso garantir-vos, sem pecar por excesso, que tudo correu maravilhosamente.

Desloquei-me para o local de forma a chegar um pouco antes. A sala da Editora fica inserida no edifício e interior do cinema King, em Lisboa. É suficientemente espaçosa, muito acolhedora. Um ambiente muito digno e apropriado. As paredes, recheadas de estantes com exemplares das obras recém-editadas por ela. De todos os géneros literários.

Um razoável painel de cadeiras para a assistência. Com a mesa dos interventores. Um bar, ao fundo, também muito acolhedor.

A sala estava repleta. Porque decorria o lançamento duma obra. A sensação foi-me muito agradável. Pus-me a ouvir um pouco.

Entretanto, chegou o meu Amigo Professor Luís Graça. O dono do magnífico blogue sobre a guerra da Guiné, Luís Graça & Camaradas da Guiné.

Apesar de o conhecer há meia dúzia e anos, era a primeira vez que nos encontrávamos tête-à-tête...ao vivo. Foi uma grande alegria. Saímos para um patamar e ficamos a trocar aquelas coisas todas que se guarda há muito com  vontade louca de partilhar...

Entretanto, foram chegando alguns amigos. E ficamos à espera pelo fim dos habituais autógrafos da autora da obra apresentada.

Até que, avancámos nós. Tenho de avançar já que ontem, vivi um dos dias mais felizes a munha vida. Tomamos os nossos lugares. A representante da Editora falou da Editora e, a seguir, fui eu.

Não me arrisquei a falar de improviso...o peso era muito...Por isso escrevi umas palavras que, sem vos querer maçar aqui vos deixo. Depois de registar, como for capaz, a minha vivência do que se passou.


Ambos os oradores [Luís Graça e Paulo Teia] foram magistrais no que disseram , na forma e substância. Ambos são homens cultos...

O Luís Graça, professor de sociologia da saúde,  com um admirável currículo, e ainda em exercício, com toda a simplicidade que lhe é peculiar, fez uma deliciosa exposição em traços breves mas expressivos, com rigor exacto, sobre o meu livro e a minha pessoa... que muito me surpreenderam, agradavelmente.

Trouxe ao de cima, aspectos muito interessantes, como só um sociólogo pode fazer. Em traços mágicos, desnudou-me a mim e ao livro, com exactidão e fundamento, demonstrando saber mais que eu do que ia dizendo... Fquei maravilhado...

O meu filho [o padre jesuita Paulo Teia] ...apesar de filho...com o rigor e a objectividade...que os jesuítas, normalmente têm...arrasou-me!...Completando a exposição antecedente, com os olhos muito perspicazes, de quem, sem lhe escapar nada, me conhece, desde o seu berço...Disse coisas lindas...ficam gravadas no meu coração. Tenho pena de as não poder partilhar...

E então, aqui fica o que eu li.

Meus caros amigos

O meu profundo e sentido obrigado por terem vindo. Alguns de vós eu conheço de perto. Por laços de sangue. Por laços de trabalho. E até da guerra. E os demais, através dessa admirável maravilha que é a Internet. Outros mais, tenho a certeza, aqui quereriam estar. Mas a distância e a força da vida os impediu.

Passe a imodéstia. Tenho dois blogues pessoais onde registo o que vou escrevendo. Espalhados por todo o mundo. Desde os EU à Rússia, à Alemanha, ao Reino Unido e ao oriente. Tenho centenas de visitas registadas, no dia a dia. Também isso me confirma e me regozija. A todos presentes eu agradeço. Permitam-me porém, que realce dois deles: Um é o Sr. Prof. Doutor Luís Graça. Outro é este rapaz precioso, que é meu filho...e fez questão de aqui estar.

O Professor Luís Graça é um sociólogo, docente em actividade, na Escola Nacional de Saúde Pública em Lisboa, com um currículo notável de trabalhos, no terreno. Foi sargento miliciano na guerra da Guiné. E foi por essa circunstância que, felizmente, entrou no mundo dos meus amigos.

Desde há cerca de 10 anos vem conduzindo e alimentando um blogue sobre a guerra da Guiné, com uma riqueza incalculável. A história o dirá. Agremia nele a colaboração de todos os ex-combatentes, ainda vivos, que ali vêm depositando o relato vivo das suas experiências naquela experiência única e irrepetível. Por onde passaram aas amarguras da maior parte das famílias portuguesas, de norte a sul. Testemunhos palpitantes de emoção e colorido. Que pintam aquelas páginas vividas, e que se não fosse esta feliz iniciativa, ficariam sepultadas no esquecimento absoluto. Tem sido alfobre de informação de muito estudo, em teses de doutoramento.

Isto é parte da sua obra. Mas, tão admirável é, senão mais, a craveira exemplar , insuperável, de sabedoria, delicadeza, equilíbrio e atenção, com que Ele o orienta. E assiste, diariamente. Para além dos seus notáveis contributos pessoais, em posts brilhantes que, ali, ficarão para a história, Éle é um árbitro atento e rigoroso, nos diferendos que, naturalmente, se vão levantando. Cada par de olhos tem sua própria perspectiva, sobre os mesmos factos...e daí surgem inflamadas posições que ele, sabiamente, arrefece.

Foi aí que o conheci. E é daí que vem uma grande amizade e admiração que lhe dedico. E a prova , dum lado e doutro, aqui está registada com esta presença que muito me honra e alegra.

Do outro, apenas, sublinho que é o meu filho primogénito. Além de ser um jovem e promissor sacerdote jesuíta, É o primeiro selo, dos quatro que guardo, a confirmar o amor que nasceu dessa minha passagem pela Guiné, onde fui acompanhado de perto, por sua Mãe, minha madrinha de guerra...Infelizmente, não pôde estar aqui presente...

Do Doutor Luís Graça... Do meu filho... Confesso sinceramente que nunca esperei chegar aqui...
O destino tem dessas surpresas. Umas, de dor... outras gostosas. Como esta. Quem as não tem?

Todos temos nossos talentos. O que é preciso é confiar e se entregar a eles , de alma e coração. E, na devida hora, o fruto vem. Não resisto a revelar-lhes um pouco do que se passou comigo.

Nasci há umas boas dezenas de anos, duma família modesta, muito honrada, numa aldeia do Norte. Tão modesta como ela. Foi em Varziela, no concelho de Felgueiras. Uma terra verde, nas várzeas férteis de Entre-Douro e Minho. Túrgidas de vinho verde e milho loiro. Grassava a guerra no centro da Europa.

Por via dela, as condições de vida eram muito escassas. Meu pai era alfaiate. Minha Mãe, distribuidora do pão que, de canasta à cabeça, ia buscar, inverno e verão, à padaria da Vila. Passava toda a manhã a palmilhar a freguesia, com o pão à porta.

Depois, além das tarefas próprias duma Mãe doméstica, acompanhava o meu Pai na oficina, em labor constante, de sol a sol...muitas vezes, pela noite dentro.

Fiz a primária como qualquer miúdo. Fui pé descalço, de sacola ao ombro. Para a escola e para a catequese cristã. No meu mundo, de criança, só havia a escola e a igreja e o rol de festas, à sua volta. E um deambular feliz, muito responsável, nas brincadeiras, livremente, por aquelas matas, procurando ninhos, caçando pássaros. Com os colegas do meu lugar. Com eles aprendi muito da vida. Que nunca mais se esquece....

Fui um aluno aplicado e estudioso. Queria ser alguém..desde miúdo.
- Estuda muito e sempre, - me diziam  meus Pais que, muito cedo, Deus os quis levar.

Seduzido pela figura ímpar do velho abade, a quem ajudava à missa, quis ser padre. O seminário, porém, custava caro e meus Pais não tinham dinheiro para mo pagar. Não foi por acaso. Surgiu um benfeitor que se propôs custeá-lo. Graças a ele,

Entrei no seminário do Porto, em 1952. Subi, nele, a escada...para ver mais longe. Aí, recebi a sólida e rica formação escolar de que sempre vivi. Quando se avizinhava a hora de subir ao altar, no mundo da teologia, dei comigo numa encruzilhada muito difícil de eu escolher.

Escolhi deixá-lo. Aos vinte anos, vi-me sozinho, com a vida à frente. Sem ambos os Pais. E uma vontade tenaz de vir a ser alguém.

Naqueles tempos, todos os estudos que tinha, só me valeram a parte de letras do quinto ano de liceu. Fui prefeito num colégio para poder recuperar o que me faltava para entrar na faculdade.

Eis que a tropa se intrometeu pela frente. Irresistível. Com a guerra do ultramar à espera. Fiquei miliciano em Mafra e, em Agosto 1964, embarquei para a Guiné. Foi uma experiência dura, mas muito rica. Me serviu para a vida.

Uma vez regressado, por sorte, com o corpo inteiro, fiz-me ao caminho e, já casado, a trabalhar e com três filhos, consegui o curso de direito. Dele vivi, completamente absorvido, até à reforma, em 1999.

Aí, senti-me de novo, como um recluso , julgo eu, que cumpriu pena e sai em liberdade. E toda a agilidade que desenvolvi, ao longo de anos, por dever de ofício, na arte de escrever peças jurídicas, onde imperava o rigor conciso e a densidade do pensamento, se orientou, naturalmente, para a arte incipiente de escrever e publicar.

No Diário de Notícias, dei os primeiros passos, com notas breves sobre o que ia vendo. Colaborei em vários semanários regionais. Como participante certo e reconhecido. Foi então que ensaiei, com muito gosto, a minha auto-biografia parcial, para deixar aos netos. Com os o título de " Filhos de Pedra Maria".

Escrevi contos. Escrevi quadros vivos com retalhos do passado da minha aldeia. A desenvoltura natural com que escrevia, surpreendeu-me e fez-me pensar, naturalmente, noutras paragens. Com que nunca sonhara.

Foi então que eclodiu a bomba atómica do prémio Nobel do Saramago. Para mim, apenas um desconhecido ilustre, escritor e jornalista. E aqui, tenho de vos pedir toda a vossa compreensão ..não vai chegar...para a minha imodéstia, mesmo atrevida. E perdoem-me a revelação deste segredo que só agora, me atrevo a revelar...

Foi só então que eu tomei conhecimento do seu percurso. Com muito espanto, vi que aquele homem, de origem ainda mais humilde que a minha, como todos sabem, apenas recebeu as luzes ténues dum curso oficinal nocturno, pasme-se...de serralharia mecânica!... Onde a literatura e arte de escrever, não seriam, por certo, de realçar. E que foi sozinho e por seu pulso que ele aprendeu tudo o que sabia, se tornou um sábio, nas salas de leitura duma biblioteca pública, ao Campo Pequeno.

Aí, fui acometido por este pensamento, tão atrevido que me deixa envergonhado:
-Se aquele indivíduo chegou, apenas por si, onde chegou...eu que me fartei de receber ensinamentos de toda a ordem, e os assimilei, com este avanço, não ficarei para sempre, um tíbio estudante e um ingrato cobarde do que me ensinaram...

Não mais esqueço. Foi como que um relâmpago, que estonteou e fez sonhar, como nunca sonhara.
E a partir daí, senti-me na obrigação de escrever. Tinha todo o tempo do mundo ao meu dispor. Sentia-me livre. Tudo me servia para escrever...como em vertigem. Veio um romance..e depois outro..e mais outro. Estão na gaveta...

Da poesia pura, só me restava a profunda admiração que aprendi nas aulas mestras de bons professores que Deus me deu. A quem agradeço. Muito reconhecido.

Uma tarde, entre tantas, estava eu, à espera, ao volante do meu "Corsa" frente ao Instituto onde trabalhava minha mulher, que nunca tinha horas certas para sair...e lembrei-me de tentar escrever um poema....

Sobre quê? Puxei dum caderninho que me acompanhava sempre, olhei para o lado, e vi um comboio amarelo, parado na estação de Algés. E foi sobre ele que, ali, saíram, dum só fôlego todos os versos do meu primeiro poema. A que chamei "O Comboio amarelo de Cascais"...

Confesso que fiquei estupefacto e comovido... Posso lê-lo?---

O COMBOIO DE CASCAIS

O comboio amarelo de Cascais não é como os demais, não é:
Vai do Cais do Sodré,
de braço dado,
com o Tejo ao lado,
até Cascais.

Reza a lenda
que o Tejo, perdido,
à procura do mar,
mal chegou, cansado, ao Cais do Sodré,
se quedou, pasmado,
a admirar Lisboa, ali ao pé.

Não avançou. Alargou…
até Cacilhas, ao Seixal, Barreiro e ao Montijo.
Foi beijar a Moita, distante…
Alagou, fez-se mar…
E, ufano, pôs-se a olhar Lisboa…
Olhou, olhou…
e esqueceu o mar!….

Viu o Castelo, verde, à proa;
viu luzir Alfama
e fumegar a Madragoa.
Viu a Sé e a Estrela a rezar.
Viu Lisboa… tão bonita !…

Vieram gaivotas, caravelas e canoas.
Vestiu-se d'ondas verdes e brancas
E começou a cantar…
Fado e loas,
de fazer chorar…
Lisboa.

Às terras secas de Espanha
jurou não querer voltar. Jamais.
O seu fado foi Lisboa:
o Castelo, Alfama, Estrela e Madragoa
e que mais…

E com ela quis casar,
depois de ir ver o mar,
no comboio amarelo de Cascais…

Almada, 25 de Novembro de 1999

Joaquim Luís M. Mendes Gomes


O meu primeiro poema foi este mesmo. Escrito, por impulso espontâneo, quando esperava, frente ao IPIMAR, em Algés, pela minha mulher. Peguei num caderno. Olhei para um comboio parado na estação de Algés... e pus-me a escrever.

Saíu exactamente assim. No fim, desatei a chorar... Dias depois, havia um programa cultural, na antena dois. De Fernando Nobre, onde se lia sempre um poema ao encerrar. Mandei-o para lá num fax...uma tentativa e prova de fogo. Um dia, recebi um telefonema. Era Daniela Gomes a dizer-me que meu poema seria lido nessa manhã. E assim foi. Gravei e, de vez em quando se me apetece chorar, me ponho a ouvi-lo na voz daquele senhor que além do mais, sabia dizer muito bem poesia...

Senti-me confortado. E passei a escrever...escrever...tudo servia para um poema. Voltei a mandá-los para o mesmo programa e, alguns, foram lidos. Nunca mais parei. E deu no que deu. Além dos poemas deste livro que agora sai a lume, tenho centenas deles, se calhar bem, para virem a ter a mesma sorte...

Desculpem-me. Já vai longe demais. Apenas mais duas palavras para dizer que As baladas de Berlim foram escritas numa das minhas estadias em Berlim, por grato dever de ofício, ao pé dos meus filhos que lá habitam e fazem a sua vida.

Muito obrigado.
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Nota do editor:

Último poste da série > 2 de novembro de 2013 > 2 de novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12239: Os nossos seres, saberes e lazeres (59): Passagens da sua vida - 7000 milhas através dos Estados Unidos da América (6) (Tony Borié)

Guiné 63/74 - P12253: Memória dos lugares (248): Roteiro de Bissau... nem pouco mais ou menos (Carlos Pinheiro)

1. Mensagem do nosso camarada Carlos Pinheiro (ex-1.º Cabo TRMS Op MSG, Centro de Mensagens do STM/QG/CTIG, 1968/70), com data de 22 de Outubro de 2013:


Roteiro de Bissau*… nem pouco mais ou menos!

Ao Luís Graça que no P12188: Páginas Negras com Salpicos Cor-de-Rosa (Rui Silva) (26) de hoje, 22 de Outubro de 2013, agradeço a referência a este humilde escrevinhador, mas tenho que dizer que foi de algum modo exagerada.

É certo que passei ali 25 meses e 10 dias, a memória ainda se aguenta bem, mas de vez em quando já há falhanços. Faz amanhã, 23 de Outubro, 45 anos exactamente que embarquei no UÍGE para a Guiné onde cheguei a 28 de Outubro, em rendição individual mas bem acompanhado do BCAÇ 2856, de um Pelotão da PM e de muitos outros camaradas também em rendição individual.

Foram de facto 25 meses passados num cerco alargado que nunca foi para além de Brá, da Bissalanca, de Safim ou João Landim. De Bissau, de facto conheci tudo e mais alguma coisa como por exemplo todas as Unidades Militares de Bissau, incluindo o HM 241, toda a cidade, o Cais que visitava sempre que chegava barco, mas também o Cais do Pidjiguiti, a Bolola e o Cemitério, a Antula, o Bairro da Ajuda com o seu “Estádio” dos Cajueiros e até o Pilão, como a malta dizia, de dia e de noite.



Bissau – Avenida principal em 1970 (Foto arquivo do autor - Direitos reservados)


Tenho ouvido falar, e no tal Post é o caso também, de muito do comércio de Bissau e eu próprio também já tive oportunidade de o fazer. Mas penso que nunca falei da casa onde trabalhava nas horas vagas, a COSTA PINHEIRO, de um parente meu também ribatejano que tinha o estabelecimento perto da Amura e do Grande Hotel, ao lado duma casa de fotografia,  a AGFA.

A COSTA PINHEIRO era a maior casa em nome individual da Guiné. Maior do que ela só a CASA GOUVEIA mas essa era da CUF e está tudo dito.

A COSTA PINHEIRO importava tudo,  desde o camião ao alfinete. Era assim. É verdade. Era o representante da Toyota,  directamente do Japão.

Aqueles grandes camiões que vinham em quites eram montados no quintal da sede, escritório e casa do tal meu parente, na Av. Arnaldo Shulz, em frente ao Largo do Colégio Militar ali perto da PIDE. Mas eram também as carrinhas Stout, as Hilux, os Corolas e os Crowns que eram o topo de gama antes de ter aparecido o Celica, tudo Toyota.

Mas importava também a Suzuky, grandes motorizadas e até motas. Importava também a Sony, desde o pequeno rádio de bolso até aos grandes gravadores TC 500 e TC 750, todos de fita mas com um poder de gravação extraordinário e um som fantástico. Mas também importava do Japão as aparelhagens JVC Nivico e as máquinas fotográficas Fujica e os relógios Seiko.

Da França importava os gira discos Garrard, de Inglaterra toda a linha de produtos de Beleza Max Factie, da Checoslováquia as louças e porcelanas da Prago Export, dos Estados Unidos os discos da Ansónia, da Itália os Tapetes de parede da Issing Trading, de Portugal as esferográficas BIC, os sabonetes Palmolive e as Pastas Colgate.

Era um mundo aquela casa que não só vendia ao público mas também fazia revenda especialmente para alguns locais no mato.

Tantas letras das vendas a prestações das motorizadas e dos carros que eu preenchi. Tanta carta que ali escrevi para registar as motorizadas junto da Câmara Municipal de Bissau e as viaturas junto da Fazenda.


Bissau 10 de Junho de 1969 – Estádio da UDIB

Nas vésperas de avião, os serões passavam-se a escrever cartas para a Metrópole e essas cabiam-me a mim, mas também em Francês e essas era à conta da mulher do meu parente que era francesa e as que tinham que ser escritas em Inglês era ela quem as escrevia. Não havia computadores mas havia várias máquinas de escrever e de calcular ali naquela casa. E se a memória não me falha, as de escrever, eram as portuguesas Messa.

Ajudei a ornamentar e a instalar o som para festas de final do ano na Associação Comercial,  junto à praça do Império.

Ajudei a montar o Stand também na Associal quando ali foi realizada a 1ª Feira Comercial de Bissau que ali se manteve durante uma semana.

Estreei centenas de automóveis, depois de desalfandegados, a caminho do armazém.

Enfim, foram tempos passados que deixaram saudades e não voltam mais.

E as saudades ainda são maiores quando contactamos com pessoas de lá ou que lá estiveram e que nos contam a realidade de agora. Ainda ontem estive com um amigo meu, médico aqui no Centro Hospitalar do Médio Tejo, natural de Bissau,  de onde tinha regressado na véspera depois de ter passado alguns dias de férias na sua terra. Fiquei desanimado com o que ele me disse. Avenidas cheias de buracos. Falta de luz e até de água por vezes, edifícios antigos a cair, etc, etc.

Mas falámos da Manutenção Militar onde ele teve o seu primeiro emprego, do Serviço de Material ali ao lado e também do Cemitério da Bolola também ali encostado. E teve que lhe vir uma lágrima ao olho quando disse que tinha estado ao pé da campa do irmão no dia anterior.

De qualquer forma,  e apesar de tanto tempo passado,  ainda não perdi a esperança de uma dia ir à Guiné.

Isto não foi um roteiro, mas foram as recordações a virem de novo ao cimo do capacete.

Um abraço para todos os “camarigos” e já agora perdoem-me se houver aqui alguma inexactidão própria de tantos anos passados.

Carlos Pinheiro,
Torres Novas, 22 de Outubro de 2013
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Notas do editor

(*) Vd. poste de 20 DE ABRIL DE 2011 > Guiné 63/74 - P8138: Memória dos lugares (152): A cidade de Bissau em 1968/70: um roteiro (Carlos Pinheiro)

Último poste da série de 27 DE OUTUBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12209: Memória dos lugares (247): Galomaro e Cutia, ontem e hoje (António Tavares / José Teixeira)

Guiné 63/74 - P12252: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (75): O reencontro de 3 amigos e camaradas estremenhos: Eduardo Jorge Ferreira (Polícia Militar, BA 12, 1973/74), Jorge Pinto (3.ª CART/BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74) e Luís Fernando Mendes (38ª CCmds, 1972/74)


Lourinhã > Ribamar > Festa anual de Ribamar > Almoço-convívio de um grupo de amigos da região do Oeste > 14 de outubro de 2013 > Da esquerda para a direita, Luís Fernando Mendes, Eduardo Jorge Ferreira, Jorge Pinto





Lourinhã > Ribamar > Festa anual de Ribamar > Almoço-convívio de um grupo de amigos da região do Oeste > 14 de outubro de 2013 > Jorge Pinto, ex-alf mil, hoje professor de história reformado. Natural de Alcobaça, vive em Sintra.


Lourinhã >  Ribamar > Festa anual de Ribamar > Almoço-convívio de um grupo de amigos da região do Oeste > 14 de outubro de 2013 > O Luís Fernando Mendes,  servindo-se da magnífica caldeirada de peixe, encomendada pelo Eduardo, e porventura  lembrando-se da fome que rapou em Gampará, ao tempo da 38ª CCmds  (de agosto a dezembro de 1972). Natural da Atalaia, Lourinhã, vive nas Gaeiras, Caldas da Raínha,,, mas nem tem email, não vai à Net e não conhece o nosso blogue...


Lourinhã >  Ribamar > Festa anual de Ribamar > Almoço-convívio de um grupo de amigos da região do Oeste > 14 de outubro de 2013 > O Luís Fernando Mendes,  ex-fur mil, 38ª CCmds (1972/74), camarada e amigo do Amílcar Mendes.

Fotos (e legendas) © Luís Graça (2013). Todos os direitos reservados.


1. Ainda recentemente, no espaço de 3 dias, em dois convívios consecutivos (Festa anual de Ribamar, Lourinhã, 14/10/2013; Tabanca da Linha, Alcadideche, Cascais, 17/10/2013), almocei com o Jorge Pinto, membro da nossa Tabanca Grande, natural de Alcobaça. Foi alf mil, 3.ª CART/BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74).

Também tive o prazer de conviver em Ribamar com o Eduardo Jorge Ferreira,  nosso grã-tabanqueiro, natural de A-dos-Cunhados, Torres Vedras.   Recorde-se que este último foi alf mil da Polícia Aérea (BA 12, Bissalanca, 1973/74).

Um terceiro camarada, ex-combatente da Guiné, que encontrei em Ribamar, na festa anual da vila e sede de freguesia de Ribamar, é o Luís Fernando Mendes, natural da Atalaia, Lourinhã, meu conterrâneo. Vive nas Gaeiras, Caldas da Raínha, onde gere um negócio. Foi furriel mil comando na 38ª CCmds (1972/74). Em conversa com ele descobri que foi também nem mais nem menos do  que o comandante da secção a que pertenceu o nosso Amílcar Mendes, ex-1º cabo comando, e hoje taxista na praça de Lisboa, membro da nossa Tabanca Grande, desde 2/11/2005.  São, de resto, amigos e encontram-se, de tempos a tempos. Infelizmente, ele, Luís Fernando Mendes,  não conhece o nosso blogue nem tem endereço de email.

Com um pouco mais de sorte teria encontrado o meu conterrâneo, amigo e parente Horácio Fernandes. Natural de Ribamar, Lourinhã, foi padre franciscano e alferes miliciano capelão do BART 1913 (Catió, 1967/69). É  autor do livro Francisco Caboz: a construção e a desconstrução de um Padre (Porto, Papiro Editora, 2009, 187 pp.). E,  como se sabe, é também membro da nossa Tabanca Grande, desde 12/7/2013. Não o encontrei, na festa da sua terra (e terra da minha bisavó paterna e do seu bisavô paterno. que eram irmãos),  por escassas horas. Tinha, na véspera, regressado a casa, no Porto. 

Gostaria  de o poder mostrar na fotografia de grupo que publico acima. De qualquer é uma feliz coincidência encontrar 3 camaradas da Guiné,  meus amigos, conterrâneos ou vizinhos... O Jorge Pinto e o Luís Fernando Mendes estiveram, inclusive, ao mesmo tempo, na mesma região, a de Quínara, embora o Jorge mais tempo (a comissão inteira) do que o Luís (5 meses)... Também encontrei o Joaquim Jorge e outros veteranos de que falarei a seu tempo...

2. Falando há tempos com o Jorge Pinto, ele queixou-se que se escrevia  pouco sobre  Fulacunda e o chão beafada....É verdade, temos que fazer um esforço por cobrir,  de maneira mais equitativa, todo o teatro de operações da Guiné...

Está então na altura de lhe pedir que ele nos fale (como ele próprio nos prometeu, no poste da sua apresentação à Tabanca Grande),  desta parte da região de Quínara, tão mal conhecida e ainda tão pouco falada no nosso blogue (por comparação, por exemplo,  com o outro lado do Rio Corubal: Ponta do Inglês, Poindom, Ponta Varela, Xime...). 

O Jorge, que vive em Sintra e é  professor de história reformado, é a pessoa indicada por nos falar sobre esta parte do território da Guiné e das mudanças que se operaram na península de Gampará, a partir de 1972, com a contra-penetração das NT e a reconquista parcial dos beafadas no âmbito da política spinolista da "Guiné Melhor". Estava, por outro lado, em Fulacunda quando se deu o 25 de abril. Fica, pois,  aqui  o  desafio ao Jorge. Um abraço fraterno aos três.
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segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12251: Historial das Escolas Práticas do Exército (José Marcelino Martins) (6): Escola Prática de Engenharia de Tancos




1. Com o Historial da Escola Prática de Engenharia, localizada em Tancos, o nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), dá por findo o seu trabalho sobre o Historial das Escolas Práticas do Exército a integrar num único grupo chamado Escola das Armas.


















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Nota do editor

Vd. postes anteriores da série de:

20 DE OUTUBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12178: Historial das Escolas Práticas do Exército (José Marcelino Martins) (1): Preâmbulo

23 DE OUTUBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12193: Historial das Escolas Práticas do Exército (José Marcelino Martins) (2): Escola Prática de Infantaria de Mafra

26 DE OUTUBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12204: Historial das Escolas Práticas do Exército (José Marcelino Martins) (3): Escola Prática de Cavalaria de Abrantes

29 DE OUTUBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12218: Historial das Escolas Práticas do Exército (José Marcelino Martins) (4): Escola Prática de Artilharia de Vendas Novas

1 DE NOVEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12233: Historial das Escolas Práticas do Exército (José Marcelino Martins) (5): Escola Prática de Transmissões do Porto

Guiné 63/74 - P12250: A guerra vista do outro lado... Explorando o Arquivo Amílcar Cabral / Casa Comum (6): Carta de Marga ('Nino' Vieira) a Aristides Pereira, presumivelmente de meados de 1964, em que refere um desembarque das NT em Gampará, que terá provocado a morte de "22 pessoas do povo e umas vintenas de vacas" (sic)

1. Transcrição de mais um documento do Arquivo Amílcar Cabral (*), disponível no portal Casa Comum (projeto ligado à constituição de uma "comunidade de arquivos de língua portuguesa", liderado e desenvolvido pela Fundação Mário Soares).

Trata-se  de um manuscrito, de 5 páginas, não numeradas, sob a forma de carta, entregue por mão própria, assinada por Marga (pseudónimo de 'Nino' Vieira, comandante da Frente Sul,  mais  conhecido, no seio da sua tropa,  por Caby, ou Kabi, seu verdadeiro nome de guerra) (**) em que comunica a Aristides Pereira  (no exterior, em Conacri, com o cargo de secretário-geral adjunto do PAGC) que:

(i) chegou ao chão dos Nalús [, ou seja, o Cantanhez,  região de Tombali],  depois de concluída uma  missão nas outras zonas; (ii) dá conta do desaparecimento do comandante Honório Vaz na Zona 7;  (ii) relata sumariamente  as consequências do ataque  das tropas portuguesas  desembarcadas em Gampará, dias antes de ele chegar à região de Quínara; (iv) fala de queixas do povo contra Malam Sanhá (, comissário político que tinha feito, antes da guerra, trabalho de mobilização de pessoal na região de Fulacunda, sob as ordens diretas de Amílcar Cabral); (v) manda lista de camaradas que têm cometido crimes (sic) contra a população na região  de Quinara (, já antes o problema da violência perpretada contra elementos da população por combatentes do PAIGC, se tinha levantado, no Congresso de Cassacá, realizado de 13 a 17/2/1964, no setor de Quitafine) ; e ainda (vi) refere  ataque das tropas portuguesas à base central [, presume-se. no Cantanhez

Repare-se ainda no trecho da carta em que, depopis da denúncia do Malam Sanhá e de outros camaradas sobre os quais recaem graves acusações, o 'Nino'  manifesta ao Aristides  o seu interesse em falar direta e pessoalmente, sem qualquer intermediário,  "com o Secretário Geral [Amílcar Cabral], a fim de  [expor-lhe] uns certos problemas respeitantes à n[ossa] luta". Não podia ser mais explícito: "Tenho certos assuntos que pretendo pôr ao Secretário face a face". O mesmo é dizer que secretário só há um...

A carta não tem data, mas pertence ao lote da correspondência dos responsáveis da zona sul, relativa aos anos de 1963/64 (algumas  são ainda de 1962, quando já havia ações de sabotagem e escaramuças com as autoridades portuguesas, por exemplo, o ataque, gorado,  á esquadra de polícia de Catió, em que o próprio 'Nino' participa!).

Entretanto, cotejando-a  com outra, de 29/8/1964, [, também dirigida ao Aristides Pereira, escrita com a mesma  letra (perfeitamenet legível, e num português relativamente desenvolto, acima da média da literacia de outros comandantes) e em que Marga (i) se queixa da falta de professores, tendo só um professor, o Areolino,  para tantas alunos, (ii) agradece o relógio que lhe enviaram, e (iii)  requisita  sabão "asepso" (sic), ] não temos dúvidas de que se trata de correspondência datada dessa altura (agosto/setembro de 1964)...


Revisão e fixação de texto: L.G. (*)
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2. De Marga [Nino Vieira,  comandante da frente sul, então com 25 anos, foto à esquerda, disponibilizada por Virgínio Briote (**)] para Aristides Pereira [, secretário geral adjunto do PAIGC, desde 1964,  a viver em Conacri, e então com 40 anos]

Camarada Aristides:

A vossa saúde em companhia dos n[ossos] camaradas, são os meus maiores desejos. Nós bastante bons graças ao Devino [Divino] e ao povo.

Comunico-vos que vim [acabei] de chegar no dia 7 ao [chão dos] Nalus, depois de ter conduzido a missão, que fui confiado a cumprir nas outras zonas. Claro que fiz uma boa viagem, donde contactei face a face com os camaradas e o povo, explicando-lhes a razão que levou o Secretariado a tomar estas decisões, a fim de melhorar a nossa condição de luta no interior.

Passei por diversas bases e tabancas do povo. Demorei um mês para concluir toda essa volta. Não tenho encontrado nenhum obstáculo durante a minha viagem, nem tão pouco tenho visto reservazinhas [sic] da parte dos camaradas. Depois de ter contactado com o povo, manifestaram bastante os seus apoios quanto à luta e à decisão que foi tomada ultimamente para unificação das zonas.

Temos colocado responsáveis dos sectores e de bases em todos os pontos indicados.

O camarada Honório Vaz não se encontra na Z[ona] 7 e ninguém sabe do paradeiro deste. Alguns dizem que está na zona e os outros dizem que foi para o Senegal.

Dias antes de [eu] chegar a Gampará, as tropas portuguesas desembarcaram aí, onde destruíram todos os bens do povo. Mataram 22 pessoas do povo  e umas vintenas de vacas.

Junto [h]ouve pessoas do povo que têm participado queixas contra o Malam Sanhá e outros. Junto segue a lista dos camaradas que têm cometido crimes contra a população na área de Quínara. Junto queria contactar com o Secretário Geral [Amílcar Cabral], a fim de expô-lo [expor-lhe] uns certos problemas respeotantes à n[ossa] luta. Tenho certos assuntos que pretendo pôr ao Secretário face a face.

Da minha ida a Cubisseco, aproveitei de [para] trazer para a base central a camarada Carlota da Silva, afim de auxiliar o Areolino Cruz nas instruções [aulas de alfabetização], porque ele sozinho não pode. Trouxe-a comigo depois de ter trocado com ela algumas impressões, na apresentação do João Tomaz e Guerra. Ela já se encontra na base e deve começar a dar instruções [aulas], dentro destes dias.

O Sadjá Bambé disse para dizer ao Luís [Cabral] de mandar-lhe o seu relógio se já estiver pronto. Agradeço mandar-nos oferecer fardas, porque as que os camaradas tinham, foram destruídas pelos portugueses.

No dia 20 deu-se um grande ataque nos arredores da base. As tropas inimigas avançaram até à base central e destruiram aí [sic]. Tinham com eles um guia que conhece muito bem o caminho.

Agradeço ainda de mandar-me oferecer sabão assép[tico], se possível. As mercadorias ainda não atravessaram a fronteira mas vou fazer tudo com que isso atravesse [sic].

Podem confiar [a]o portador desta [carta] de trazer aqueles materiais para defesa dos rios.

Portanto termino. Desejando-vos a todos um bom sucesso nos vos[sos] afazeres. Marga [Nino Vieira]


Fonte
(s.d.), Sem Título, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_39133 (2013-11-3)

Para ampliar o documento clicar aqui:

Casa Comum

Instituição: Fundação Mário Soares

Pasta: 04613.065.047Assunto: Comunica que chegou a Nalús depois de concluída a missão nas outras zonas. Desaparecimento de Honório Vaz. Ataque das tropas portuguesas em Gampará. Queixas do povo contra Malam Sanhá; lista de camaradas que têm cometido crimes contra a população na área de Quinara. Ataque das tropas portuguesas à base.

Remetente: Marga (Nino Vieira)

Destinatário: Aristides Pereira

Data: s.d.

Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Correspondência 1963-1964 (dos Responsáveis da Zona Sul

Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral

Tipo Documental: Correspondencia

Direitos: A publicação, total ou parcial, deste documento exige prévia autorização da entidade detentora.

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 31 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12229: A guerra vista do outro lado... Explorando o Arquivo Amílcar Cabral / Casa Comum (5): Relatório de 22/12/1966, assinado por Brandão Mané, sobre a situação militar na região Xitole-Bafatá, reportando importantes perdas em homens e material

(**) Sobre o 'Nino' Vieira,  vd. aqui poste de 9 de março de 2009 >  Guiné 63/74 - P4001: Nuvens negras sobre Bissau (19): 'Nino' Vieira (1939-2009): tão bom combatente como mau político (Virgínio Briote)

Guiné 63/74 - P12249: Agenda cultural (294): Lançamento do livro "Memórias de Quarenta", de autoria do nosso camarada José Eduardo Oliveira (JERO), a levar a efeito no próximo dia 16 de Novembro de 2013, pelas 15 horas, no Hotel de Santa Maria, em frente ao Mosteiro de Alcobaça

C O N V I T E

O NOSSO CAMARADA JOSÉ EDUARDO REIS OLIVEIRA (JERO) CONVIDA A TERTÚLIA DESTE BLOGUE, E OS LEITORES EM GERAL, A ESTAREM PRESENTES NA APRESENTAÇÃO DO SEU PRÓXIMO LIVRO, "MEMÓRIAS DE QUARENTA", A LEVAR A EFEITO NO PRÓXIMO DIA 16 DE NOVEMBRO DE 2013, PELAS 15 HORAS, NO HOTEL DE SANTA MARIA, EM FRENTE AO MOSTEIRO DE ALCOBAÇA.
UM DOS ORADORES/APRESENTADORES DA OBRA SERÁ O OUTRO NOSSO CAMARADA VASCO DA GAMA


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Nota do editor

Último poste da série de 31 DE OUTUBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12225: Agenda cultural (293): Estreia do filme da jovem realizadora portuguesa Catarina Laranjeiro, "Pavia de Ahos", sobre memórias guineenses da guerra de libertação / guerra colonial. Doclisboa'13, hoje, 5ª feira, 31/10/2013, 17h00, Cinema São Jorge, Sala 3

Guiné 63/74 - P12248: Notas de leitura (531): "Cambança Final", contos de Alberto Branquinho (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Junho de 2013:

Queridos amigos,
É do melhor que eu tenho lido, e maior é a satisfação por ele ser um de nós, na confraria.
Alberto Branquinho diz que a cambança é uma passagem para um outro lado de um rio. Por vezes uma fuga ou uma mudança. Pode ser uma partida ou um regresso. Cambança é uma memória, uma viagem que ele capta primorosamente nos seus contos. Ainda bem que aqueles lugares aparecem descontextualizados, como o rio Galola, o novo quartel de Cufia, ou a outra margem do rio Chalarol. Assim, tudo ganha em universalidade naquele mundo pequeno, concentracionário, dentro do arame farpado.
Estamos todos lá. Leio e releio, esta cambança é de um grande mestre.
Vou esperar por mais, pelo menos deste altíssimo nível.
Obrigado pelo teu talento, Alberto Branquinho.

Um abraço do
Mário


Cambança Final, contos de Alberto Branquinho

Beja Santos

O confrade Alberto Branquinho reservou-me uma das mais agradáveis surpresas da primeira metade de 2013: “Cambança Final”, Edição Vírgula, deste ano, é mais do que um livro da maturidade da escrita, revela uma grande mestria na linha do conto e no saber dedilhar as teclas dos sentimentos humanos no contexto de uma guerra. E aquela guerra foi a nossa, estamos todos lá, do atirador ao condutor, do cripto ao enfermeiro. Fez bem em descontextualizar onde decorre aquela guerra, qual aquele rio de amplas margens, que designações reais tinham aquele batalhão e aquelas companhias. Regista, com hábil concisão, como atua o informador, o jogador de lerpa, o furriel de origem cabo-verdiana. Nada de pieguices quando há explosões onde os corpos se desfazem, até porque a natureza se encarrega de limpar a destruição, como escreve magistralmente no conto “Despojos”: “Ia recomeçar a andar e olhou para o chão. Viu, junto ao tronco de uma árvore, três ou quatro formigas grandes, pretas que, com as pinças da cabeça cravadas, tentavam arrastar um pedaço de carne, ainda com um farrapo de farda camuflada agarrado. Com raiva, elevou o pé para esmagar as formigas (e, ao mesmo tempo, o pedaço de carne), mas susteve o pé no ar, com a perna fletida e acabou por dar um passo mais largo, passando adiante. Voltou-se para observar melhor e verificou que havia mais pedaços de carne. Pairava, cérebro vazio…”.

Mata virgem e lama, água e o céu estrelado, chuvas diluvianas, frases em crioulo e a propósito, a linguagem de caserna na justa conta, o caminhar noturno, a solidão mesmo quando temos muita gente à volta. E uma enorme capacidade de trazer a pilhéria e o tom zombeteiro que obriga a uma boa gargalhada. Por exemplo: “Ao fim da tarde, quando retiraram para o quartel, ao passarem próximo do poilão situado no entroncamento, alguns soldados notaram a existência de um cartão pendurado no tronco, batido pelo sol poente. Um furriel tentou aproximar-se do poilão. – Cuidado. Pode estar armadilhado. Estacou. De longe, a coberto da vegetação, tentou apurar a visão baixando com a mão esquerda a pala do quico, tapando o sol. Então leu: PESSOAL TURRA CUNVIDA CAPTÃO DE CUTOL PA BIBE 1 UISQUE NA MATA”.

Não é para todos esta capacidade de relevar o pícaro quando se marcha a arrastar o corpo, no auge do sofrimento. É um dom saber descrever um acontecimento corrente para um soldado branco que assusta o africano, tomando-o por feitiçaria, anda por ali o abismo cultural. Porque Alberto Branquinho, como na montanha russa, traça uma atmosfera de pânico, põe ali todos os traços da brutalidade e finaliza com um toque de facécia. O plausível diverte e comove. O furriel Melo vai tomar banho, avista uma cobra, foge espavorido a tapar as pudendas, não para de gritar e alguém comenta: “Acho que a gaja deu uma dentada na picha do furriel cripto”. O conto “Arroz Especial” é a profundidade do insólito, com nojo toda aquela gente vai descobrir que andou a comer arroz de jagudi, o impensável. O vagomestre e o cozinheiro têm uma enorme densidade que atravessa estes contos, são mal vistos, são detestados e, no entanto, são convocados para o prodígio de alimentar na mais extrema das monotonias, mesmo quando a cozinha é periodicamente escavacada e brio profissional sobrepõe-se à virtude militar: “Algumas vezes, mal atirava o fósforo e a lenha começava a arder, era um repente: PUM!!! Uma bazucada e ia toda a cozinha pelos ares. Logo a seguir, rebentava o tiroteio, de fora e de dentro do aquartelamento, acompanhado do fogo dos morteiros de ambos os lados. Quando acabava, o cozinheiro saía do seu buraco e berrava para além do arame farpado: 
- Cabrões! Filhos da puta! Escangalharam outra vez tudo! Um dia vou aí e fodo-vos a todos!

Era uma raiva muito grande, mas só de dois ou três minutos, porque depois entrava no abrigo privado e desatava a chorar”.

Em todas as circunstâncias, o Alberto Branquinho hílare é plausível e pela graça da escrita desconcerta e diverte fundo, é o caso daquele cabo Abel que nunca tinha estado em Bissau, agora está à espera de embarcar para a metrópole, ainda se sente a viver nos fundos das matas, na convivência das tabancas e é nisto que vai com a sua companhia fazer um cerco a um bairro periférico de Bissau: “Era já manhã. O pessoal que fazia o cerco sentava-se no chão, com a G3 entaladas entre os joelhos ou em cima das coxas, em atitude descontraída, que, em nada, se assemelhava às situações de tensão que, em circunstâncias idênticas tinham sido vividas em emboscadas ou cercos no interior da Guiné. De entre as casas, caminhado por uma vereda que passava ao pé do grupo de militares em que estava o cabo Abel, surgia uma rapariga negra, que vestia uma bata impecavelmente branca, trazendo consigo os livros escolares, agarrados contra o peito. O cabo Abel levantou-se e com a G3 a tiracolo, segurou o cigarro com a mão esquerda e com a direita barrou-lhe o caminho: 
- Bajuda, bô cá pude passa!

A moça que teria catorze ou quinze anos, parou por um momento, encarou o cabo Abel nos olhos e perguntou-lhe: 
- Porquê você não fala comigo português direito! E, contornando-o, continuou o seu caminho para Bissau.

O cabo, apalermado, ficou com o braço levantado, a vê-la passar”.

Momentos há em que o gargalhar acaba por comover tal a dor que provoca o desencontro entre quem está na guerra e espera ternura da retaguarda, escrito num aerograma, aqui o autor excede-se, criativo: “O Fabiano recebeu um aerograma e afastou-se, com o coração aos pulos. Sentou-se contra uma parede e, ao abri-lo quase o rasgou. Começou a ler: «Tu dizes que sais para batidas, patrulhas, operações e emboscadas. Ainda sais, dás uns passeios. Eu para aqui estou sozinha e é só de casa para o trabalho do trabalho para casa. Passear não posso é só missa aos domingos e…» Triste, amarrotou o aerograma e ficou muito tempo a olhar as biqueiras das botas.
Nunca mais escreveu para casa”.

Esgrimindo equívocos, tirando o máximo partido dos imprevistos, alcandorando a nobreza dos princípios e dos valores, posicionando numa grande angular os militares dentro dos destacamentos lá no ermo, Alberto Branquinho deixa um legado assombroso de contos intemporais sobre aquela guerra da Guiné, escritos com mão de mestre, porque a guerra foi aquilo tudo que ele arquitetou, entre as picadas e os rebentamentos, entre os mal-entendidos que a mata favorece, e a memória reaviva, numa explosão de luz, tudo o que por lá passamos.

É melhor ficarmos atentos a tudo o que ele ainda vai escrever, para nosso gáudio e para o (dele) dever de memória.
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Nota do editor

Último poste da série de 1 DE NOVEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12231: Notas de leitura (530): "Atlântida", por João Augusto da Silva (Mário Beja Santos)