Lisboa > Livraria Bar Les Enfants Terribles > Cinema King > 2 de novembro de 2013 > 19h00 > Sessão de lançamento do livro de poesia do nosso camarada J. L. Mendes Gomes, "Baladas de Berlim" (Lisboa:
, 2013, 229 pp> coleção Prazeres Poéticos; preço de capa: 15€). O poeta falando de si e da sua obra... Muito compenetrado do seu papel e algo emocionado... Enfim, a revelação de um "pequeno grande" segredo...
Lisboa > Livraria Bar Les Enfants Terribles > Cinema King > 2 de novembro de 2013 > 19h00 >
, "Baladas de Berlim" > O poeta e o seu filho mais velho, Paulo Teia, padre jesuíta. É um jovem que atingiu o estado da sabedoria. Disse, entre muitas outras revelações interessantes para se compreender o "making of" deste livro de poemas, bem a personalidade e o talento do autor, que um jesuíta é um "contemplativo em acção". O lado contemplativo, conventual, herdou do pai, jurista. O lado proativo e prático veio-lhe da mãe, bióloga, verdadeira âncora da família... Os filhos são quatro.A intervenção do Paulo Teia tocou-nos a todos e deixou o pai... babado!
Lisboa > Livraria Bar Les Enfants Terribles > Cinema King > 2 de novembro de 2013 > 19h00 > Sessão de lançamento do livro de poesia do nosso camarada J. L. Mendes Gomes, "Baladas de Berlim" > Aspeto geral da mesa: da direita para a esquerda, a representante da editora (que publica 40 obras por mês, a maior parte de autores portugueses), o Paulo Teia (. filho do poeta), o autor (J. L. Mendes Gomes) e o apresentador da obra, Luís Graça. (A intervenção que fez será aproveitada para a série "Notas de leitura").
Lisboa > Livraria Bar Les Enfants Terribles > Cinema King > 2 de novembro de 2013 > 19h00 > Sessão de lançamento do livro de poesia do nosso camarada J. L. Mendes Gomes, "Baladas de Berlim" > Um aspeto da assistência: em primeiro plano, à esquerda, a Irene e o Virgínio Briote, nosso coeditor... jubilado. Foi uma agradável surpresa. Eles moram ali na zona.
Fotos (c/ a ajuda da Irene) © Luís Graça (2013). Todos os direitos reservados.
1. Mensagem do nosso camarada J.L.Mendes Gomes, com data de 3 do corrente
Assunto: Lançamento das
Baladas de Berlim
Notas sobre o lançamento do meu livro de poemas
Baladas de Berlim, Lisboa, dia 2 de Novembro de 2013, pelas 19 horas
Meus caros Amigos
Sinto o dever e o prazer de vos contar como tudo correu, ontem. Naturalmente que ficaria muito mais contente se vos tivesse visto lá. Mas, a vida é exactamente assim.
Quando agendei o dia, preocupei-me com a maior disponibilidade do dia de Sábado, mas esqueci essa circunstância incontornável de este Sábado estar inserido nas nossas ricas vivências de recordação dos nossos... Apesar de poucos, posso garantir-vos, sem pecar por excesso, que tudo correu maravilhosamente.
Desloquei-me para o local de forma a chegar um pouco antes. A sala da Editora fica inserida no edifício e interior do cinema King, em Lisboa. É suficientemente espaçosa, muito acolhedora. Um ambiente muito digno e apropriado. As paredes, recheadas de estantes com exemplares das obras recém-editadas por ela. De todos os géneros literários.
Um razoável painel de cadeiras para a assistência. Com a mesa dos interventores. Um bar, ao fundo, também muito acolhedor.
A sala estava repleta. Porque decorria o lançamento duma obra. A sensação foi-me muito agradável. Pus-me a ouvir um pouco.
Entretanto, chegou o meu Amigo Professor Luís Graça. O dono do magnífico blogue sobre a guerra da Guiné, Luís Graça & Camaradas da Guiné.
Apesar de o conhecer há meia dúzia e anos, era a primeira vez que nos encontrávamos tête-à-tête...ao vivo. Foi uma grande alegria. Saímos para um patamar e ficamos a trocar aquelas coisas todas que se guarda há muito com vontade louca de partilhar...
Entretanto, foram chegando alguns amigos. E ficamos à espera pelo fim dos habituais autógrafos da autora da obra apresentada.
Até que, avancámos nós. Tenho de avançar já que ontem, vivi um dos dias mais felizes a munha vida. Tomamos os nossos lugares. A representante da Editora falou da Editora e, a seguir, fui eu.
Não me arrisquei a falar de improviso...o peso era muito...Por isso escrevi umas palavras que, sem vos querer maçar aqui vos deixo. Depois de registar, como for capaz, a minha vivência do que se passou.
Ambos os oradores [Luís Graça e Paulo Teia] foram magistrais no que disseram , na forma e substância. Ambos são homens cultos...
O Luís Graça, professor de sociologia da saúde, com um admirável currículo, e ainda em exercício, com toda a simplicidade que lhe é peculiar, fez uma deliciosa exposição em traços breves mas expressivos, com rigor exacto, sobre o meu livro e a minha pessoa... que muito me surpreenderam, agradavelmente.
Trouxe ao de cima, aspectos muito interessantes, como só um sociólogo pode fazer. Em traços mágicos, desnudou-me a mim e ao livro, com exactidão e fundamento, demonstrando saber mais que eu do que ia dizendo... Fquei maravilhado...
O meu filho [o padre jesuita Paulo Teia] ...apesar de filho...com o rigor e a objectividade...que os jesuítas, normalmente têm...arrasou-me!...Completando a exposição antecedente, com os olhos muito perspicazes, de quem, sem lhe escapar nada, me conhece, desde o seu berço...Disse coisas lindas...ficam gravadas no meu coração. Tenho pena de as não poder partilhar...
E então, aqui fica o que eu li.
Meus caros amigos
O meu profundo e sentido obrigado por terem vindo. Alguns de vós eu conheço de perto. Por laços de sangue. Por laços de trabalho. E até da guerra. E os demais, através dessa admirável maravilha que é a Internet. Outros mais, tenho a certeza, aqui quereriam estar. Mas a distância e a força da vida os impediu.
Passe a imodéstia. Tenho dois blogues pessoais onde registo o que vou escrevendo. Espalhados por todo o mundo. Desde os EU à Rússia, à Alemanha, ao Reino Unido e ao oriente. Tenho centenas de visitas registadas, no dia a dia. Também isso me confirma e me regozija. A todos presentes eu agradeço. Permitam-me porém, que realce dois deles: Um é o Sr. Prof. Doutor Luís Graça. Outro é este rapaz precioso, que é meu filho...e fez questão de aqui estar.
O Professor Luís Graça é um sociólogo, docente em actividade, na Escola Nacional de Saúde Pública em Lisboa, com um currículo notável de trabalhos, no terreno. Foi sargento miliciano na guerra da Guiné. E foi por essa circunstância que, felizmente, entrou no mundo dos meus amigos.
Desde há cerca de 10 anos vem conduzindo e alimentando um blogue sobre a guerra da Guiné, com uma riqueza incalculável. A história o dirá. Agremia nele a colaboração de todos os ex-combatentes, ainda vivos, que ali vêm depositando o relato vivo das suas experiências naquela experiência única e irrepetível. Por onde passaram aas amarguras da maior parte das famílias portuguesas, de norte a sul. Testemunhos palpitantes de emoção e colorido. Que pintam aquelas páginas vividas, e que se não fosse esta feliz iniciativa, ficariam sepultadas no esquecimento absoluto. Tem sido alfobre de informação de muito estudo, em teses de doutoramento.
Isto é parte da sua obra. Mas, tão admirável é, senão mais, a craveira exemplar , insuperável, de sabedoria, delicadeza, equilíbrio e atenção, com que Ele o orienta. E assiste, diariamente. Para além dos seus notáveis contributos pessoais, em posts brilhantes que, ali, ficarão para a história, Éle é um árbitro atento e rigoroso, nos diferendos que, naturalmente, se vão levantando. Cada par de olhos tem sua própria perspectiva, sobre os mesmos factos...e daí surgem inflamadas posições que ele, sabiamente, arrefece.
Foi aí que o conheci. E é daí que vem uma grande amizade e admiração que lhe dedico. E a prova , dum lado e doutro, aqui está registada com esta presença que muito me honra e alegra.
Do outro, apenas, sublinho que é o meu filho primogénito. Além de ser um jovem e promissor sacerdote jesuíta, É o primeiro selo, dos quatro que guardo, a confirmar o amor que nasceu dessa minha passagem pela Guiné, onde fui acompanhado de perto, por sua Mãe, minha madrinha de guerra...Infelizmente, não pôde estar aqui presente...
Do Doutor Luís Graça... Do meu filho... Confesso sinceramente que nunca esperei chegar aqui...
O destino tem dessas surpresas. Umas, de dor... outras gostosas. Como esta. Quem as não tem?
Todos temos nossos talentos. O que é preciso é confiar e se entregar a eles , de alma e coração. E, na devida hora, o fruto vem. Não resisto a revelar-lhes um pouco do que se passou comigo.
Nasci há umas boas dezenas de anos, duma família modesta, muito honrada, numa aldeia do Norte. Tão modesta como ela. Foi em Varziela, no concelho de Felgueiras. Uma terra verde, nas várzeas férteis de Entre-Douro e Minho. Túrgidas de vinho verde e milho loiro. Grassava a guerra no centro da Europa.
Por via dela, as condições de vida eram muito escassas. Meu pai era alfaiate. Minha Mãe, distribuidora do pão que, de canasta à cabeça, ia buscar, inverno e verão, à padaria da Vila. Passava toda a manhã a palmilhar a freguesia, com o pão à porta.
Depois, além das tarefas próprias duma Mãe doméstica, acompanhava o meu Pai na oficina, em labor constante, de sol a sol...muitas vezes, pela noite dentro.
Fiz a primária como qualquer miúdo. Fui pé descalço, de sacola ao ombro. Para a escola e para a catequese cristã. No meu mundo, de criança, só havia a escola e a igreja e o rol de festas, à sua volta. E um deambular feliz, muito responsável, nas brincadeiras, livremente, por aquelas matas, procurando ninhos, caçando pássaros. Com os colegas do meu lugar. Com eles aprendi muito da vida. Que nunca mais se esquece....
Fui um aluno aplicado e estudioso. Queria ser alguém..desde miúdo.
- Estuda muito e sempre, - me diziam meus Pais que, muito cedo, Deus os quis levar.
Seduzido pela figura ímpar do velho abade, a quem ajudava à missa, quis ser padre. O seminário, porém, custava caro e meus Pais não tinham dinheiro para mo pagar. Não foi por acaso. Surgiu um benfeitor que se propôs custeá-lo. Graças a ele,
Entrei no seminário do Porto, em 1952. Subi, nele, a escada...para ver mais longe. Aí, recebi a sólida e rica formação escolar de que sempre vivi. Quando se avizinhava a hora de subir ao altar, no mundo da teologia, dei comigo numa encruzilhada muito difícil de eu escolher.
Escolhi deixá-lo. Aos vinte anos, vi-me sozinho, com a vida à frente. Sem ambos os Pais. E uma vontade tenaz de vir a ser alguém.
Naqueles tempos, todos os estudos que tinha, só me valeram a parte de letras do quinto ano de liceu. Fui prefeito num colégio para poder recuperar o que me faltava para entrar na faculdade.
Eis que a tropa se intrometeu pela frente. Irresistível. Com a guerra do ultramar à espera. Fiquei miliciano em Mafra e, em Agosto 1964, embarquei para a Guiné. Foi uma experiência dura, mas muito rica. Me serviu para a vida.
Uma vez regressado, por sorte, com o corpo inteiro, fiz-me ao caminho e, já casado, a trabalhar e com três filhos, consegui o curso de direito. Dele vivi, completamente absorvido, até à reforma, em 1999.
Aí, senti-me de novo, como um recluso , julgo eu, que cumpriu pena e sai em liberdade. E toda a agilidade que desenvolvi, ao longo de anos, por dever de ofício, na arte de escrever peças jurídicas, onde imperava o rigor conciso e a densidade do pensamento, se orientou, naturalmente, para a arte incipiente de escrever e publicar.
No
Diário de Notícias, dei os primeiros passos, com notas breves sobre o que ia vendo. Colaborei em vários semanários regionais. Como participante certo e reconhecido. Foi então que ensaiei, com muito gosto, a minha auto-biografia parcial, para deixar aos netos. Com os o título de " Filhos de Pedra Maria".
Escrevi contos. Escrevi quadros vivos com retalhos do passado da minha aldeia. A desenvoltura natural com que escrevia, surpreendeu-me e fez-me pensar, naturalmente, noutras paragens. Com que nunca sonhara.
Foi então que eclodiu a bomba atómica do prémio Nobel do Saramago. Para mim, apenas um desconhecido ilustre, escritor e jornalista. E aqui, tenho de vos pedir toda a vossa compreensão ..não vai chegar...para a minha imodéstia, mesmo atrevida. E perdoem-me a revelação deste segredo que só agora, me atrevo a revelar...
Foi só então que eu tomei conhecimento do seu percurso. Com muito espanto, vi que aquele homem, de origem ainda mais humilde que a minha, como todos sabem, apenas recebeu as luzes ténues dum curso oficinal nocturno, pasme-se...de serralharia mecânica!... Onde a literatura e arte de escrever, não seriam, por certo, de realçar. E que foi sozinho e por seu pulso que ele aprendeu tudo o que sabia, se tornou um sábio, nas salas de leitura duma biblioteca pública, ao Campo Pequeno.
Aí, fui acometido por este pensamento, tão atrevido que me deixa envergonhado:
-Se aquele indivíduo chegou, apenas por si, onde chegou...eu que me fartei de receber ensinamentos de toda a ordem, e os assimilei, com este avanço, não ficarei para sempre, um tíbio estudante e um ingrato cobarde do que me ensinaram...
Não mais esqueço. Foi como que um relâmpago, que estonteou e fez sonhar, como nunca sonhara.
E a partir daí, senti-me na obrigação de escrever. Tinha todo o tempo do mundo ao meu dispor. Sentia-me livre. Tudo me servia para escrever...como em vertigem. Veio um romance..e depois outro..e mais outro. Estão na gaveta...
Da poesia pura, só me restava a profunda admiração que aprendi nas aulas mestras de bons professores que Deus me deu. A quem agradeço. Muito reconhecido.
Uma tarde, entre tantas, estava eu, à espera, ao volante do meu "Corsa" frente ao Instituto onde trabalhava minha mulher, que nunca tinha horas certas para sair...e lembrei-me de tentar escrever um poema....
Sobre quê? Puxei dum caderninho que me acompanhava sempre, olhei para o lado, e vi um comboio amarelo, parado na estação de Algés. E foi sobre ele que, ali, saíram, dum só fôlego todos os versos do meu primeiro poema. A que chamei "O Comboio amarelo de Cascais"...
Confesso que fiquei estupefacto e comovido... Posso lê-lo?---
O COMBOIO DE CASCAIS
O comboio amarelo de Cascais não é como os demais, não é:
Vai do Cais do Sodré,
de braço dado,
com o Tejo ao lado,
até Cascais.
Reza a lenda
que o Tejo, perdido,
à procura do mar,
mal chegou, cansado, ao Cais do Sodré,
se quedou, pasmado,
a admirar Lisboa, ali ao pé.
Não avançou. Alargou…
até Cacilhas, ao Seixal, Barreiro e ao Montijo.
Foi beijar a Moita, distante…
Alagou, fez-se mar…
E, ufano, pôs-se a olhar Lisboa…
Olhou, olhou…
e esqueceu o mar!….
Viu o Castelo, verde, à proa;
viu luzir Alfama
e fumegar a Madragoa.
Viu a Sé e a Estrela a rezar.
Viu Lisboa… tão bonita !…
Vieram gaivotas, caravelas e canoas.
Vestiu-se d'ondas verdes e brancas
E começou a cantar…
Fado e loas,
de fazer chorar…
Lisboa.
Às terras secas de Espanha
jurou não querer voltar. Jamais.
O seu fado foi Lisboa:
o Castelo, Alfama, Estrela e Madragoa
e que mais…
E com ela quis casar,
depois de ir ver o mar,
no comboio amarelo de Cascais…
Almada, 25 de Novembro de 1999
Joaquim Luís M. Mendes Gomes
O meu primeiro poema foi este mesmo. Escrito, por impulso espontâneo, quando esperava, frente ao IPIMAR, em Algés, pela minha mulher. Peguei num caderno. Olhei para um comboio parado na estação de Algés... e pus-me a escrever.
Saíu exactamente assim. No fim, desatei a chorar... Dias depois, havia um programa cultural, na antena dois. De Fernando Nobre, onde se lia sempre um poema ao encerrar. Mandei-o para lá num fax...uma tentativa e prova de fogo. Um dia, recebi um telefonema. Era Daniela Gomes a dizer-me que meu poema seria lido nessa manhã. E assim foi. Gravei e, de vez em quando se me apetece chorar, me ponho a ouvi-lo na voz daquele senhor que além do mais, sabia dizer muito bem poesia...
Senti-me confortado. E passei a escrever...escrever...tudo servia para um poema. Voltei a mandá-los para o mesmo programa e, alguns, foram lidos. Nunca mais parei. E deu no que deu. Além dos poemas deste livro que agora sai a lume, tenho centenas deles, se calhar bem, para virem a ter a mesma sorte...
Desculpem-me. Já vai longe demais. Apenas mais duas palavras para dizer que
As baladas de Berlim foram escritas numa das minhas estadias em Berlim, por grato dever de ofício, ao pé dos meus filhos que lá habitam e fazem a sua vida.
Muito obrigado.
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Nota do editor:
Último poste da série > 2 de novembro de 2013 > 2 de novembro de 2013 >
Guiné 63/74 - P12239: Os nossos seres, saberes e lazeres (59): Passagens da sua vida - 7000 milhas através dos Estados Unidos da América (6) (Tony Borié)