segunda-feira, 18 de março de 2019

Guiné 61/74 - P19597: (De)Caras (123): Capitão de Infantaria Francisco Meireles, cmdt da CCAÇ 508, morto em Ponta Varela, Xime, em 3/6/1965 - Parte I (Jorge Araújo)



Foto 1 - Xime (1965) – O Capitão Francisco Meirelles rodeado de “Homens Grandes” da região. O 3.º da esquerda era, em 1972, o Chefe de Tabanca do Xime, cujo nome já não me recordo. (Foto retirada, com a devida vénia, do livro "Capitão Francisco Xavier Pinheiro Torres Meirelles"  (Braga: Editora Pax, s/d, p30),

Alguém de ‘boa vontade’ que saiba o  nome do Chefe da Tabanca do Xime… faça o favor de informar. Obrigado!




Foto 2 - Xime (1972) – Ao meu lado, o Chefe de Tabanca do Xime, sete anos depois da imagem anterior.

Foto (e legenda): © Jorge Araújo  (2019) . Todos os direitos reservados. (Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné).



Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, CART 3494 
(Xime-Mansambo, 1972/1974); coeditor do blogue desde março de 2018



A COMPANHIA DE CAÇADORES 508 (1963-1965) E A MORTE DO SEU CMDT CAP INF FRANCISCO MEIRELLES EM 3JUN1965 NA PONTA VARELA

- A ÚNICA BAIXA EM COMBATE DE UM CAPITÃO NO XIME - PARTE I



1. INTRODUÇÃO

A presente narrativa tem na sua génese a recuperação de algumas memórias da história colectiva da Companhia de Caçadores 508 [CCAÇ 508] durante a sua presença no CTIG, entre 20Jul1963, chegada a Bissau, e 07Ago1965, data do embarque de regresso à metrópole.

 Nela relataremos, também, o contexto que originou a morte do seu Cmdt - o capitão Francisco Xavier Pinheiro Torres Meirelles (1938-1965), imagem ao lado - ocorrida na Ponta Varela (Xime), no dia 3 de Junho de 1965, 5.ª feira, narrado no livro elaborado em sua memória pela sua família, e por mim adquirido a um alfarrabista de São João da Madeira, cruzando-o com a versão oficial publicada pela CECA [Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974)].

Acrescento, a propósito, que este texto já estava alinhavado e alinhado desde Dezembro último, data em que foi postado o trabalho relacionado com a elaboração da lista, corrigida e aumentada, dos camaradas «Capitães» que tombaram durante a guerra na Guiné – P19315 (22.12.18) – cujas causas de morte foram agrupadas em acidente, combate e doença.

A fonte a que recorremos, para o efeito supra, foi a base de dados da «Academia Militar», sítio: https://academiamilitar.pt/filhos-da-escola-do-exercito-e-da-academia-militar.html, de onde retirámos os elementos necessários para a organização daquele trabalho.

Dessa lista de doze nomes (mortes em combate) foi sinalizado, desde logo, o do Capitão Francisco Meirelles, uma vez que a sua morte aconteceu num local mítico e muito familiar para o contingente da minha CART 3494, no qual me incluo, naturalmente, ainda que entre cada caso, ou período nele vivido, exista uma diferença temporal de sete anos (1965/1972), conforme fotos nº 1 e nº 2 (acima).

Por razão relacionada com o início da publicação, no blogue da «Tabanca Grande», do trabalho de pesquisa elaborado pelo camarada cor art ref António Carlos Morais da Silva (o nosso primeiro gã-tabanqueiro do ano em curso; que saúdo), na série: «In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-1975) – P19378 (07.01.19) – fiquei a aguardar pela postagem dos dados do malogrado Capitão Francisco Meirelles que agora aconteceu – P19579.

2. SUBSÍDIOS HISTÓRICOS DA COMPANHIA DE CAÇADORES 508  (BISSORÃ,  BARRO - BIGENE, OLOSSATO, BISSAU, QUINHAMEL - PONTA DO INGLÊS, GALOMARO E XIME, 1963-1965)


2.1. A MOBILIZAÇÃO PARA O CTIG

Mobilizada pelo Regimento de Infantaria 7 [RI 7], de Leiria, a Companhia de Caçadores 508 (CCAÇ 508) embarcou em Lisboa, no Cais da Rocha, em 14 de Julho de 1963, domingo, sob o comando, interino, do Alferes Cardoso, seguindo viagem a bordo do N/M Índia,  rumo à Guiné (Bissau), onde chegou a 20 do mesmo mês, sábado.

2.2. SÍNTESE OPERACIONAL

Dez dias após a sua chegada a Bissau, ou seja, em 01 de Agosto de 1963, a CCAÇ 508 assumiu a responsabilidade do subsector de Bissorã, então criado, com grupos de combate (pelotões) destacados em Barro, até 23 de Dezembro de 1963, e Bigene, até 26 de Dezembro de 1963, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 507 e, após remodelação daqueles sectores, no BCAÇ 512. Em 26 de Dezembro de 1963, passou a ter um grupo de combate destacado em Olossato.

Dez dias após ter iniciado a sua actividade operacional, ou seja, em 11 de Agosto de 1963, a CCAÇ 508 tem a sua primeira baixa, com a morte, por acidente com arma de fogo, do camarada:

● António Rodrigues Teixeira de Jesus; 1.º Cabo; natural de Avões, Lamego; solteiro.

Em Fevereiro de 1964, com seis meses de comissão, a CCAÇ 508 regista mais duas baixas, estas em combate, em Maqué (Região do Óio), na sequência da sua intensa actividade operacional.



Foto 3 - Olossato (1964) – Unimog destruído por mina anti-carro. Esta viatura foi conduzida pelo condutor da CCAÇ 508, Cândido Paredes, natural de Favaios, Vila Real. (Foto do próprio publicada em http://lugardoreal.com/imaxe/unimog-destruido, com a devida vénia).


Destaca-se, neste contexto, as seguintes:

(i) em 03Fev64, 1 Gr Comb, pernoitando em Missirá, reagiu a um ataque IN, pondo em fuga;

(ii) vinco dias depois (08Fev64) rebentou uma mina [anti-carro] na estrada Mansabá-Farim, provocando quatro feridos em 2 Gr Comb, que reagiram, provocando baixas ao IN;

(iii) Em 12Fev64, 4.ª feira, 1 Gr Comb levantou 42 abatises, em Maqué, sofrendo uma emboscada de que resultaram dois mortos e quatro feridos nas forças da CCAÇ 508, sendo os mortos os seguintes camaradas:

● António Fernando Teixeira Vilela; soldado; natural de Rio Tinto, Gondomar; solteiro. Foi sepultado no Cemitério de Bissau (Campa 692).

● José Paulo Fonseca; soldado; natural de Aljubarrota, Alcobaça, solteiro. Foi sepultado no Cemitério de Bissau (Campa 692).

Entretanto, decorrido um ano de comissão do contingente da CCAÇ 508, chega a esta Unidade Independente o Capitão Francisco Xavier Pinheiro Torres de Meirelles [1938-02-21/1965-06-03] para a comandar. A sua viagem iniciou-se em Lisboa a 17 de Julho de 1964, a bordo do barco de carga «António Carlos», rumando a Bissorã, região do Oio, onde o seu contingente se encontrava instalado.

Em 04Set64, 6.ª feira, já então na dependência do BART 645, e depois da chegada da CART 566, a CCAÇ 508 foi substituída no subsector de Bissorã pela CART 643, do antecedente ali colocada em reforço, tendo seguido para o sector de Bissau, a fim de se integrar no dispositivo de segurança e protecção das instalações e das populações da área, com um grupo de combate destacado em Quinhamel, ficando na dependência do BCAÇ 600.

Em 15Nov64, domingo, a CCAÇ 508 regista a quarta baixa, com a morte, por afogamento no Rio Geba, em Bafatá, do camarada:

● António Coutinho Nobre; Soldado; natural das Caldas da Rainha; solteiro.

Em 08Fev65, 2.ª feira, um ano após terem accionado uma mina na estrada Mansabá-Farim [imagem acima] a CCAÇ 508, contabiliza mais uma baixa, a quinta, desta vez provocada pelo levantamento de uma mina em Jabadá, verificando-se a morte do camarada:

● João Francisco Serrão; Soldado; natural de Coruche; solteiro.

É de referir que a transferência para Bissau ficou a dever-se ao facto da Companhia estar muito debilitada pela longa permanência no mato e por ter sofrido algumas baixas.

Porém, em princípio de Março de 1965, a CCAÇ 508 foi novamente mandada para uma zona operacional. Em 7 e 23 de Março de 1965, por troca com a CCAÇ 526, a CCAÇ 508 deslocou-se, por fracções para Bambadinca, assumindo a responsabilidade do respectivo subsector, com grupos de combate [pelotões] destacados em Xime e Galomaro e ficando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 697, sob o comando do Tenente-Coronel Mário Serra Dias da Costa Campos, sediado em Bambadinca.

Em 16Abril65, 6.ª feira, a CCAÇ 508 foi substituída pela CCAV 678, sendo deslocada para o Xime, onde  assumiu a responsabilidade do respectivo subsector, então criado, com grupos de combate destacados em Ponta do Inglês e Galomaro.

Em 27Mai65, 5.ª feira, a CCAÇ 508 regista mais uma baixa no seu efectivo, a sexta, com a morte em combate, no Xime, do camarada:

● José Ferreira Clemente; Soldado Auto Rodas; natural de Milagres, Leiria; solteiro. Foi sepultado no Cemitério de Bissau (Campa 1812).

Em 03Jun65, 5.ª feira, a CCAÇ 508 perde mais quatro unidades em combate, na Ponta Varela (Xime), sendo um o seu comandante, o Capitão Francisco Meirelles, em consequência do rebentamento de uma mina. Eis os seus nomes:

● Francisco Xavier Pinheiro Torres de Meirelles; Capitão de Infantaria QP; natural de Castelões de Cepeda, Paredes; casado.

● José Maria dos Santos Corbacho; 1.º Cabo; natural de São Sebastião da Pedreira, Lisboa, solteiro.

● Domingos João de Oliveira Cardoso; Soldado Auto Rodas; natural de São Cosme, Gondomar; solteiro.

● Braima Turé; Caçador Nativo (guia), natural do Xime, Bambadinca.

[Nota: Nas diferentes fontes consultadas, não existe concordância quanto aos locais onde foram sepultados os últimos três corpos referidos acima. Na Parte II, daremos conta do que consta em cada uma delas (fontes)].

Entretanto, em 06 de Agosto de 1965, após a chegada da CCAÇ 1439 para treino operacional, a CCAÇ 508 foi rendida no subsector do Xime por forças da CCAV 678, recolhendo imediatamente a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso ao Continente, após dois anos de comissão. A viagem de regresso iniciou-se a 07 de Agosto de 1965, sábado, a bordo do vapor «Alfredo da Silva» com a chegada ao cais de Alcântara, Lisboa, a ter lugar no dia 14 do mesmo mês, sábado.



3. A MORTE DO CAPITÃO FRANCISCO MEIRELLES EM 03JUN1965 – DESCRIÇÃO





Tendo por principal fonte de investigação o livro publicado em sua memória pela sua família que, segundo creio, aconteceu a propósito do primeiro aniversário da sua morte, pela dedicatória que nele consta, tomei a liberdade de o citar, como elemento historiográfico, particularmente no que concerne aos antecedentes e a alguns detalhes relacionados com o desenrolar das acções que ditaram a sua morte e de mais três elementos da sua CCAÇ 508.



Mapa da Região do Xime, indicando os pontos mais problemáticos da actividade operacional das NT.



[…] O Xime, enquanto zona especialmente perigosa, era visitado pelos repórteres militares. […]

"Em 3 de Junho de 1965, foi [o capitão Francisco Meirelles] incumbido de mostrar aos operadores da R.T.P. como se fazia a detecção de minas, muito frequentes naquela zona, pois em menos de três meses tinham sido levantadas mais de 40. Logo a 2 kms do Xime foi detectada uma mina anti-carro. Como os trabalhos de levantamento da mina demorassem, o capitão Meirelles propôs ao major Abeilard Martins, 2.º Comandante do Batalhão 697, irem a pé até à tabanca de Ponta Varela, pois queria mostrar a conveniência da sua reocupação pelos nativos, em regime de auto-defesa, reocupando-se dessa forma uma região muito fértil. Ficariam assim os comandos a dispor de mais um ponto de observação e de vigilância, e também dificultada a colocação de minas naquela zona.

Aceite a sugestão, partiram aqueles oficiais, juntamente com o major Afonso, do Estado Maior do Comando Chefe, que acompanhava os operadores da TV, com o régulo da tabanca de Ponta Varela, com alguns pisteiros indígenas e com duas ou três secções que seguiam nos flancos. Percorridos os 4 ou 5 kms que distam de Ponta Varela, foi esta povoação observada minuciosamente bem como os pontos de defesa e apreciado o panorama do Canal do Geba e dos planos que o ladeiam. […]

Como fosse perto do meio-dia, comeram-se algumas frutas e iniciado o caminho do regresso, a umas centenas de metros da tabanca rebentou repentinamente uma mina antipessoal que tudo leva a crer fosse armadilhada depois da primeira passagem pelo local ou então comandada á distância.

A mina ao rebentar esfacelou o 1.º cabo João Maria [dos Santos] Corbacho, o soldado Domingos João de Oliveira Cardoso e o soldado indígena Braine [Braima Turé], que morreram instantaneamente e feriu gravemente na garganta e tórax o capitão Meirelles, que veio a falecer uns vinte minutos após a explosão. Ficaram feridos os majores Abeilard Martins (este com bastante gravidade) e Afonso e mais 4 soldados.

Com um sangue-frio impressionante, os operadores da TV Afonso Silva e Luís Miranda, que ficaram ilesos, começaram a filmar a cena, poucos momentos após a explosão, havendo assim, além das testemunhas sobreviventes, um documentário fotográfico da operação e das consequências do rebentamento". […] Op.cit. pp10-11.

Continua…




Fontes consultadas:

Ø Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro I; 1.ª edição, Lisboa (2014); p195.

Ø Capitão Francisco Xavier Pinheiro Torres Meirelles (s/d). Editora Pax, Braga.

Ø http://ultramar.terreweb.biz/index_MortosGuerraUltramar.htm (com a devida vénia)

Ø Outras: as referidas em cada caso.

Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

14MAR2019.

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Nota do editor:

domingo, 17 de março de 2019

Guiné 61/74 - P19596: Blogpoesia (612): "Rebelião da juventude", "Lisboa eterna" e "Separações...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Rebelião da juventude

Quem decifra o porquê da rebelião? 
A juventude hodierna veste fora da moda tradicional.
Vestes largas. Sem aprumo.
Cabeleiras fartas.
Com carrapito atrás ou no alto da cabeça.
Barbas abandonadas à sua sorte de crescer.
Martirizam a sua pele com tatuagens pardas.
Com matizes negros.

Não se misturam às mesas dos habituais.
Mas se apoiam no balcão, mastigando bolos e gulodices.

Fazem guetos. Onde só há lugar para eles.

Que quer dizer toda esta irreverência contra os pais,
Se, no real, não passam de uns dependentes?
Quem falhou? Nós ou eles?...

Bar Castelão, 12 de Março de 2019
9h41m
Jlmg

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Lisboa eterna

Com raízes milenares,
Desabrochou à beira-rio e beira-mar.
Fez-se jovem. Mulher de vida.
Atirou-se à luta com certeza de vencer.
Germinou. Deu muitos frutos.
Hoje é rica. Tem um reino.
Será rainha até morrer.

Encanta e prende quem a visita.
Como fada ou feiticeira.
Tem na alma um canto, dolente e terno.
Só a guitarra entende.

Ai de quem nela nasce,
Longe ou perto,
Fica preso até morrer.

Bar Caracol, arredores de Mafra, 13 de Março de 2019
8h30m
Dia frio de sol
Jlmg

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Separações...

Cortar laços, ligações.
Desunir o que estava preso.
Soltar maus enlaces.
Por erro ou infortúnio.

Repor no lugar o que ficou fora.
Trazer para si aquele espaço que um dia se perdeu de nós.
É um acto positivo.

Há que dá-lo. Sem ficar em dívida com ninguém.
É preciso élan.
Obtido em nós ou por ajuda.

Só assim se volta a ter a paz que, um dia, ficou perdida.

Berlim, 16 de Março de 2019
19h55m
Dia chuvoso
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 10 de Março de 2019 > Guiné 61/74 - P19569: Blogpoesia (611): "As maldições...", "Os cantos do mundo" e "E agora?...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P19595: Parabéns a você (1589): José Armando F. Almeida, ex-Fur Mil TRMS do BART 2917 (Guiné, 1970/72)

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Nota do editor

Último poste da série de 16 de Fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19590: Parabéns a você (1588): Joviano Teixeira, ex-Soldado At Inf da CCAÇ 4142 (Guiné, 1972/74)

sábado, 16 de março de 2019

Guiné 61/74 - P19594: Memórias de Gabú (José Saúde) (79): Resquícios de uma guerra que nos fora cruel. Abandonados. (José Saúde)


1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos mais uma mensagem.


Resquícios de uma guerra que nos fora cruel 

Abandonados 



O tema, na minha opinião, roça o catastrófico! Trata-se de uma narrativa arrojada mas julgada apropriada e que poderá apresentar-se como motivo para uma ampla discussão entre os antigos combatentes. Tanto mais que todos ou quase todos testemunhámos esta fatídica realidade.

Hoje, num recalcar de memórias sinto pavor em discrepâncias observadas que me atiram para um universo completamente disforme quando dissecamos matéria sobre os resquícios de uma guerra onde a morte de camaradas foi uma constante.

Pronuncio-me, explicitamente, sobre os restos mortais de corpos abandonados que por lá ficaram nas três frentes de guerra – Angola, Moçambique e Guiné – e que tendem manter-se em cemitérios distantes do seu recanto sagrado. O luto, no verdadeiro conceito da palavra, foi efémero porque o corpo do ente querido não cumpriu o ritual da despedida e nem tão pouco uma sepultura para se carpirem mágoas.

Mas concentremos também atenções em restos de corpos sepultados algures em campos de batalha e que lá continuam sem que alguém identifique o exato local onde foram depositados. Alguns desses cadáveres, não obstante a sua localização por camaradas que outrora conheceram esse horror, são agora uma miragem porque, entretanto, ter-se-ão perdido os registos geográficos da exatidão do lugar onde obstinadamente descansam para a eternidade.

Reconheço que porventura não será fácil as suas transladações, pressupõem-se, no entanto, que a janela de oportunidades foi paulatinamente perdendo alento e sobretudo afrouxando atenções com o evoluir dos tempos sobre esta realidade.

Poucos terão sido os homens do poder a lançar uma acha para a fogueira visando a discussão de uma matéria que, a meu ver, não seria por certo de todo descabida. Tanto mais que se trata em glorificar combatentes cujos corpos ficaram abandonados num solo substancialmente longínquo.

A guerra do Ultramar não está assim tão distante. É recente. Aliás, os camaradas ainda transportarão à tona da memória os cheiros a pólvora, os zumbidos das balas, o rebentamento das minas, os ataques noturnos aos quartéis, o pânico das emboscadas e os agonizantes odores de corpos a caminho da putrefação.

Há camaradas que ainda hoje sofrem a dor de um companheiro que morreu ao seu lado, sendo por vezes o destino do enterro um cemitério de uma cidade, vila ou aldeia.

Conheci essa infeliz realidade no cemitério de Gabu. Foi uma efémera viagem que me proporcionou visualizar campas completamente destruídas pelo rigor do tempo ou por uma oportuna falta de assistência. Sabe-se que os princípios da guerra não foram fáceis e facultou esses tristes fins.

Em Gabu, tal como em qualquer lugar onde a guerra ditou infelizes fins, os saudosos camaradas estavam identificados com uma elementar cruz que somente assinalava que ali tinha sido sepultado mais um jovem que fora arrancado da vida em plena flor de idade.



Um jovem atirado para as frentes de combate e defendendo uma causa que não era dele. Ele, camarada, morreu em combate a troco de interesses alheios. E esta é a veracidade por todos nós conhecida. Não abdiquemos pois em tratar o assunto de olhos nos olhos porque de facto o tema é sério e merecedor de uma análise mais profunda. Porém, tudo vai caindo no limbo do esquecimento e as vozes da rebelião diluindo-se num horizonte despido de esperança.

Em antigos tempos restava a um familiar apresentar-se no 10 de junho, dia de Camões, no Terreiro do Paço, em Lisboa, e receber uma condecoração a título póstumo perante as sumptuosas efemérides nacionais. No deslumbrante palco, qual antro de profecias, lá estavam os elementos supremos do Estado apelando à heroica entrega do soldado desconhecido no palanque de uma guerra onde o singelo mancebo era tão-só um mero figurante. Ficava, apenas, o registo do momento e nada mais. A dor da perda persistia. 



Todavia, nós, antigos combatentes, não queremos uma viagem ao passado recordando esse tipo de sumárias condecorações, pretendíamos sim que um dia alguém despertasse de um sono ostensivamente pesado e propusesse o eventual regresso dos restos mortais dos companheiros abandonados numa terra que não era a deles.

O tema que hoje vos trago afigura-se como um hino de revolta de um velho camarada que amiudadamente vos vai debitando narrativa inserida em contextos reais e que puxam pelos nossos sentimentos de uma Guiné onde as verdades de guerra nos foram cruéis.

Nós vimos, assistimos e convivemos com os momentos de dor.

Nota: imagens extraídas da Guerra Colonial, com a devida vénia.

Um abraço camaradas,
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523

Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

6 DE FEVEREIRO DE 2019 > Guiné 61/74 - P19533: Memórias de Gabú (José Saúde) (78): O paludismo. (José Saúde)

Guiné 61/74 - P19593: Os nossos seres, saberes e lazeres (312): Viagem à Holanda acima das águas (16) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Novembro de 2018:

Queridos amigos,
Se o mito do eterno retorno tem algum fundamento, o viandante pode testemunhar que havia lembranças indeléveis, aqui se chegara num dia de chuva diluviana, em 1978, havia uma informação um tanto nebulosa de que o museu encerrava alguns tesouros bem singulares, um acervo sem precedentes da obra de Piet Mondrian, era uma casa febricitante de arte moderna, mas também com exposições enquadradoras dos tempos e das sociedades onde se operavam tais e tantas movimentações das artes plásticas, e que essas lembranças iam fluindo na nova visita, como houvesse fundamento para o dito eterno retorno.
Um dia de intensa alegria, voltar de novo e reconhecer que fora uma decisão acertada, como qualquer dia será acertado querer aqui regressar, para ver tudo com outros olhos e de novo lavar a alma.

Um abraço do
Mário


Viagem à Holanda acima das águas (16)

Beja Santos

Sim, seria para o viandante um desmerecimento atirar para o balde do lixo esta coletânea de imagens provindas do Museu Municipal de Haia, a tal casa de cultura que se conheceu numa deslocação de ordem profissional em 1978, chovia que Deus dava, na véspera, num posto de informações junto da gare ferroviária, uma diligente e amável funcionária recomendou vários museus na cidade, que o viandante apanhasse um transporte público até uma praia chique, Scheveningen, e se mais tempo houvesse um outro transporte público levava-o a Delft, sim a terra dos belos azulejos e de alguma louça que corre o mundo. Foi por aqui que se começou, e mesmo com o tempo a desanuviar, o viandante não arredou pé, dera-se o enfeitiçamento com o edifício Arte Deco, o assombro pelo génio de Piet Mondrian, e o não menos assombro pela qualidade das artes plásticas, viu uma vez, de alto a baixo, comeu sopa e sandes naquele belíssimo espaço reservado a comes e leituras, e depois de descansar os pés atirou-se a novo folguedo, saiu daqui quando escurecia, segundo as leis meteorológicas desta região próxima do Mar do Norte. Por isso, voltou com contentamento, e o que saboreou aqui se põe à mesa, para despertar apetite a quem o lê.




Esta fotografia antiga traz água no bico, pois o viandante, no penúltimo dia desta estada holandesa teve oportunidade de ir a uma praia, viu estes refúgios, às vezes o vento é implacável, os banhistas anichados à espera de uma hora de sol, de céu límpido, quanto ao mais desenganados, a água é fria todo o ano…




É sempre um deleite ver o génio rebatível de Pablo Picasso, desenho, cerâmica, cenografia, até à pintura a óleo tudo fez por experimentar, em tudo deixou lembrança. E nada como desfrutar deste extraordinário quadro de Wassily Kandinsky, um outro génio que percorreu tantos movimentos até chegar a estas sínteses voluptuosas onde não teve concorrente à altura.


Quem conhece a arte de Egon Schiele não é logo à primeira que atribui este retrato a essa figura meteórica e inesquecível do expressionismo. É o retrato de Edith Schiele que, tal como o marido, foi vítima mortal da gripe espanhola, a mesma epidemia que nos levou Amadeu Souza Cardoso.




As dançarinas de Degas são pinturas e esculturas presentes em muitos museus, o artista observou por todos os ângulos o trabalho nos ateliês da dança e o que aqui parece exprimir é a alegria de uma adolescente que encontrou a plena graciosidade no seu corpo vibrátil, num momento de repouso que precede o turbilhão dos passos.




Seria pecado mortal um museu destes não dispor de algumas lembranças de Van Gogh, com destaque para este autorretrato, o pintor holandês nunca descurou o confronto consigo mesmo, ele que viveu permanentemente à procura da paz de espírito, que nunca esqueceu o mundo rural de onde proveio e que pareceu ter encontrado na Provença a quintessência da felicidade, há sempre flores, campos arborizados, um casario ao fundo e tantíssimos retratos de gente humilde, que o fascinava.



Rodin é outro inevitável, temos um seu corpo adolescente no museu do Chiado, no dealbar do século XX era nele que se centravam as atenções para um novo cânone que reduzia a cinzas o academismo. E a visita chega ao seu termo, impossível deixar de registar esta fosforescência que tem as suas reminiscências a Vasarely, pois há aqui qualquer coisa de arte ótica, com uns pozinhos de arte pop, enfim um belo cenário para uma outra exposição, nesta altura o viandante atingira o ponto alto da saturação, precisava de ar fresco para digerir tão doce peregrinação, tão amáveis encontros e, sobretudo, curvara-se respeitosamente diante do génio de Piet Mondrian, um seu santo de culto. E a viagem prossegue, desta feita um pouco pela Holanda profunda, dos moinhos e praias e canais. Como podemos ver, logo a seguir.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 9 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19565: Os nossos seres, saberes e lazeres (311): Viagem à Holanda acima das águas (15) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19592: (D)o outro lado do combate (48): A Missão Especial da ONU na Guiné - Abril 1972 (António Graça de Abreu / Luís Graça) - III (e última) Parte: capa + pp. 9-11.


1. Terceira e última parte do relatório, de 11 (onze) páginas, policopiado, que tem por título em português "A Missão Especial da ONU na Guiné - Abril de 1972" (*). 

Trata-se de uma versão, mais resumida do original, "Report of the Mission of the United Nations Special Committee on Decolonization after visiting the liberated Areas of Guinea-Bissau (A/AC. 109/L. 804; 3 July 1972)".

A cópia, em papel, de que dispomos foi-nos fornecida, com vista a uma eventual publicação no blogue, pelo nosso camarada António Graça de Abreu, por volta de 2010, na sequência dos comentários ao poste P5680 (*).

O documento de que publicamos agora  as três últimas páginas (9, 10 e 11)  parece corresponder à seguinte referência que encontramos na base de dados bibliográfica do CIDAC - Centro De Intervenção Para O Desenvolvimento Amílcar Cabral:


BAC-051/2
CIDAC

BORJA, Horácio Sevilla ; LOFGREN, Folke ; BELKHIRIA, Kamel
A Missão especial da ONU na Guiné Bissau, Abril 72 / Horácio Sevilla Borja, Folke Lofgren, Kamel Belkhiria . - [S.l.] : PAIGC, 1972. - 11 p


A edição é atribuída ao PAIGC. Mas as partes traduzidas em (mau) português correspondem ao original em inglês. Não sabemos de quem é a tradução. Há diversos erros quer de datilografia quer de português. A autoria é atribuída aos três membros da Missão Especial, os diplomatas Horácio Sevilla Borja (Equador), Folke Lögfren (Suécia) e Kamel Belkhiria (Tunísia), os dois primeiros ainda vivos.

O António Graça de Abreu poderá explicar-nos a origem do documento. É possível que tenha circulado antes do 25 de Abril, clandestinamente. De qualquer modo, é ainda pouco conhecido, ao fim destes anos todos.   Os nossos leitores, e nomeadamente os que combatiam, nesta altura (abril de 1972), no TO da Guiné, têm direito a conhecer o documento. 

É o elementar direito à informação que nos era negada no tempo da ditadura: com o país em guerra, era impensável a censura deixar passar, na imprensa, referências detalhadas a esta Missão Especial da ONU e, muito menos, deixar divulgar o o seu relatório, considerado como "propaganda inimiga".

Por outro lado, no início de abril de 1972 ninguém sabia (nem podia saber por "razões de segurança") desta "missão", a não ser um reduzido número de pessoas do "staff" da ONU, do PAIGC e do governo da Guiné-Conacri, para onde viajaram, desde Nova Iorque, em 28 de março de 1972, os cinco membros da Missão Especial. 

Pormenor curioso: o líder histórico do PAIGC não se jutou  com a Missão Especial na visita  às "áreas libertadas", fazendo as honras à casa, como em  princípio devia... Deixou essa incumbência à estrutura político-militar do PAIGC... Foi Aristides Pereira que deu as boas vindas à Missão Especial, no dia 1 de abril de 1972, no "quartel general do PAIGC"... em Conacri, tendo depois partido para o mato no dia seguinte (entrada no sul da Guiné-Bissau, por Boké-Kandiafara).

De resto,  no início de abril de 1972, os títulos de caixa alta do "Diário de Lisboa" era a escalada da guerra do Vietname", a ofensiva do vietcong e do Vietname do Norte contra o Vietname do Sul e a  os seus aliados dos Estados Unidos: vejam-se os títulos de caixa alta dos jornais da época... "Guiné ?... Isso é longe do Vietname", ironizavamos nós, em 1969, no bar de sargentos de Bambadinca... 



Diário de Lisboa, 14 de abril de 1972 >  Pela primeira vez há uma referência à Missão Especial da Comissão de Descolonização da ONU e à sua visita ao território da Guiné-Bissau, de 2 a 8 de abril (pp. 1 e 24). A Missão Especial, de 5 elementos, afirmou que o PAIGC controlava efetivamente o território,  escreve o jornal.  Por sua vez, o delegado protuguês negou veementemente que: (i) o PAIGC controlava uma ou mais partes do território da Guiné;  (ii) que a Missão Especial  tenha entrado alguma vez no interior da Guiné.




Capas do "Diário de Lisboa", do mês de abril de1972... (Cortesia da Fundação Mário Soares >Casa Comum > Diário de Lisboa / Ruella Ramos)

Eis alguns dos títulos:

"Ofensiva em três frentes no Vietname do Sul" (segunda-feira, 3 de abril de1972)

"Vietname: avanço para Hué" (terça-feira, 4 de abril de 1972)

"Saigão apela para Nixon: a situação militar é muito critica"(quarta-feira, 5 de abril de 1972)

"A aviação americana está a bombardear o Vietname do Norte" (quinta-feira, 6 de abril de 1972)

"Hanói pede negociações secretas comKissinger" (sexta-feira, 7 de abril de 1972)

"Saigão é o alvo" (sábado, 8 de abril de 1972)

"O medo do ano 2000" (domingo, 9 de abril de 1972)

"A 100 km de Saigão: comneçou a batalhade An Loc" (segunda-feira, 10 de abril de 1972)

"Vietcong ao ataque em todas as frentes" (quarte-feira, 12 de abril de 1972)

Os três membros do Comité Especial de Descolonização da ONU, mais dois membros do "staff" da ONU (incluindo o fotógrafo Yutaka Nagata, de nacionalidade japonesa) (*),  visitaram as "áreas libertadas da Guiné-Bissau" (sic), de 2 a 8 de abril de 1972, antes da época das chuvas, a convite do PAIGC, e à revelia do Governo Português. 

Claro que a missão tinha que ser secreta, por razões de segurança. Nesse curto espaço de tempo (menos de um semana), terão percorrido "200 quilómetros", de jipe (no território da Guiné-Conacri, até à fronteira) e depois a pé, tendo visitado "9 localidades diferentes", numa parte restrita da Região de Tombali: sectores de Bedanda, Catió e Quitafine.

Os diplomatos focaram a sua atenção nas estruturas militares, tabancas, escolas e armazéns, e fizeram depois apreciações, que constam no relatório, sobre "a situação no campo do ensino, da saúde, da administração da justiça, da reconstrução da economia e da formação de uma assembleia nacional". 

Os membros da missão vestiam fardas militares, com insígnias das Nações Unidas, e tiveram escolta de um bigrupo reforçado do PAIGC (cerca de 60 homens armados) sob o comando do Constantino Teixeira. No regresso, já a 6 de abril, a escolta passou a ser de 200 homens, provavelmente com o receio de alguma ação militar portuguesa com vista a capturar os diplomatas.

A principal base do PAIGC referida no relatório, dentro do território da então província da Guiné, era na zona de Balana / Gandembel, ou seja, no corredor de Guileje. Recorde-se que Balana e Gandembel tinham sido abandonados pelas NT, por ordem de Spínola, em janeiro de 1969.

(Continuação)

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Guiné 61/74 - P19591: In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-75) (cor art ref António Carlos Morais da Silva) - Parte XVIII: ten inf Manuel Belarmino Silva Carvalho Araújo (Guarda, 1940 - Nova Coimbra, Moçambique, 1965)






1. Continuação da publicação da série respeitante à biografia (breve) de cada um dos 47 Oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar que morreram em combate no período 1961-1975, na guerra do ultramar ou guerra colonial (em África e na Ásia).

Trabalho de pesquisa do cor art ref António Carlos Morais da Silva [, foto atual à direita], instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá Mandinga, adjunto do COP 6, em Mansabá, e comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre 1970 e 1972. Foi cadete-aluno nº 45/63, do corpo de alunos da Academia Militar.

Passou a integrar formalmente a nossa Tabanca Grande, com o nº 784, com data de 7 do corrente.

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Nota do editor:

Último poste da  série > 13 de março de  2019 > Guiné 61/74 - P19579: In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-75) (cor art ref António Carlos Morais da Silva) - Parte XVII: cap inf Francisco Xavier Pinheiro Torres Meireles (Paredes, 1938 - Ponta Varela, Xime, Guiné, 1965)

Guiné 61/74 - P19590: Parabéns a você (1588): Joviano Teixeira, ex-Soldado At Inf da CCAÇ 4142 (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 14 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19583: Parabéns a você (1587): Leopoldo Correia, ex-Fur Mil Art da CART 564 (Guiné, 1963/65)

sexta-feira, 15 de março de 2019

Guiné 61/74 - P19589: Voluntário em Bissau, na Escola Privada Humberto Braima Sambu - Crónicas de Luís Oliveira (5): Apelo à solidariedade dos nossos amigos e camaradas: campanha por uma cadeira de rodas para o professor Humberto, que teve paralisia infantil e que é um caso extraordinário de doação aos outros


Guiné-Bissau > Bissau > Escola Privada Humberto Braima Sambu > 8 de março de 2018: o fundador e diretor da Escola, na sua velha cadeira de rodas... 


Guiné-Bissau > Bissau > Escola Privada Humberto Braima Sambu >  17 de abriu  de 2018 >  Aspeto de uma aula.



Guiné-Bissau > Bissau > Março de 2019 > Na casa do Cherno Baldé: ao centro, o Humberto Braima Sambu, de camisa azul, na sua velhinha cadeira de rodas, segudo à direita do Luís Mourato Oliveira e do dono da casa... Desconhecemos a identidade dos restantes dois amigos, à esquerda e à direita... Um deles deve ser o Braima Camará um jovem professor que trabalhou com o Humberto Sambu,  e que é professor em Bafatá.

Foto (e legenda): © Luís Mourato Oliveira (2019) . Todos os direitos reservados. (Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné).


1. Mais três mensagens (, formando a quinta crónica,) do Luís Mourato Oliveira, nosso grã-tabanqueiro nº 730, que foi alf mil inf, de rendição individual, na açoriana CCAÇ 4740 (Cufar, 1973, até agosto) e, no resto da comissão, o último comandante do Pel Caç Nat 52 (Setor L1 , Bambadinca, Mato Cão e Missirá, 1973/74): é bancário reformado, foi praticante e treinador de andebol; lisboeta, tem fortes ligações à Lourinhã, Oeste, Estremadura...

Chegou a Bissau, a 2 de março, e aqui vai estar 3 meses como voluntário na Escola Privada Humberto Braima Sambu, no âmbito de um projeto da associação sem fins lucrativos ParaOnde, que promove o voluntariado em Portugal e no resto do Mundo. (*)


Ser solidário com o professor Humberto Braima Sambu que precisa de uma nova cadeira de rodas...


por Luís Oliveira


(i) 15/3/2019, sexta-feira, 16:26



Olá, Luis


Sem muitas coisas interessantes para contar, de momento, vinha propor por sugestão do professor Humberto a admissão do Braima Camará na Tabanca Grande.

O Braima Camará é um jovem guineense, professor em Bafatá com enorme sensibilidade e capacidade para na escrita transmitir sentimentos positivos.

Infelizmente  está em greve porque os professores não recebem ordenado desde Outubro do ano passado.

Se leres alguns textos dele no Facebook,  creio que apoiarás a sugestão e é também uma forma de renovação da Tabanca Grandeonde infelizmente a idade de todos os que a habitam vai avançando.

Deixo-te o endereço e-mail dele.

 
(ii) Sexta-feira, 09/03/2019, 23:30


Boa noite,  Luís

Acabei de assistir ao prélio entre o Boavista e o Sporting em relato que farei oportunamente.



Quando me preparava para sair tive a visita do Cherno Baldé,  acompanhado pelo professor Humberto e pelo Braima, um jovem professor que trabalhou com o Sambu.

Foi muito gentil e convidou-me para o visitar sempre que quiser para continuarmos as nossas conversas. Pedi-lhe o email e, como não havia forma de registo, autorizou que tu mo facultasses.

Espero que as crónicas sejam divertidas e que consigam dar um cheirinho desta terra tão mal tratada.


(iii) quarta-feira, 13/03, 17:10



Boa tarde, Luís

Após algum tempo sem te enviar noticias, cá estou eu de novo. Os dias decorrem com grande rapidez porque após o Carnaval começaram as aulas e os voluntários estão cá para colaborar, nessa vertente temos passado parte dos dias na escola.

O meu trabalho não tem sido na área que previa porque, apesar de já terem chegado 16 volumes enviados de Lisboa, o preço que pedem para o levantamento nos correios é incomportável para a escola.

Fui hoje com o professor Humberto pela segunda vez aos correios onde entregámos uma carta a tentar sensibilizar o director daquele serviço para dispensar a entrega sem custos ou por custos reduzidos comportáveis com as nossas possibilidades.

Por essa razão tenho auxiliado nas aulas de educação formal e com a falta de professores tive de improvisar e criar sessões de Educação Civica Global, prevista pela ONU e Unesco e creio que muito úteis e interessantes neste país.

Quanto à abordagem que fiz ao professor Humberto para integrar a Tabanca Grande, aceitou de imediato e fica muito honrado com o convite que agradece.

Relativamente às suas condições de mobilidade, queria colocar um desafio à Tabanca. O professor teve paralisia infantil e está agarrado a uma cadeira de rodas em péssimo estado (, eu que o diga que tenho andado com ele para todo o lado e esse exercício faz-me suar mais que uma intensa sessão de ginásio) , não tem apoio para os braços, as rodas estão para o empenado devido aos caminhos donde há mais buracos que terra plana e creio que não irá durar muito mais.

Penso que talvez uma campanha solidária para permitir a continuação do trabalho do professor que iniciou a sua actividade dando educação a jovens, sob uma árvore com um quadro, e que merece muito mais que uma cadeira de rodas pelo seu papel na sociedade.

Se alguns dos nossos camaradas junto de alguma associação de beneficência ou bombeiros arranjasse maneira de fazer voar uma cadeira de rodas para a Guiné, seria um contributo inestimável e que muito prestigiaria a iniciativa. Poderia ser mesmo uma cadeira usada e com uma única condição principal - ser muito resistente para aguentar o futuro que lhe estaria reservado.

Conto enviar mais crónicas, mas cada vez mais apaixonado pela actividade até as minhas leituras tenho descurado.

Recebe um abraço amigo de quem se manterá na Tabanca e partilhará as suas histórias e segredos debaixo do nosso poilão.

Abraço,
Luís Oliveira
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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 12 de março de  2019 > Guiné 61/74 - P19577: Voluntário em Bissau, na Escola Privada Humberto Braima Sambu - Crónicas de Luís Oliveira (4): dia de Carnaval + Eleições = Carnaval Total