Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quinta-feira, 10 de setembro de 2020
Guiné 61/74 - P21342: Parabéns a você (1866): Rui Baptista, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3489 (Guiné, 1971/74) e Tony Grilo, ex-Soldado Apont Obus 8.8 do BAC 1 (Guiné, 1966/68)
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Nota do editor
Último poste da série de 9 de Setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21338: Parabéns a você (1865): Filomena Sampaio, Amiga Grã-Tabanqueira de Guimarães e Raul Manuel Azevedo, ex-Cap Mil, CMDT da 2.ª C/BART 6522 (Guiné, 1972/74)
quarta-feira, 9 de setembro de 2020
Guiné 61/74 – P21341: Memórias de Gabú (José Saúde) (96): A fé na guerra (José Saúde)
1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem.
Camaradas,
Nota de M.R.:
Vd. também o poste anterior desta série em:
Guiné 61/74 - P21340: Historiografia da presença portuguesa em África (230): "Madeira, Cabo Verde e Guiné", de João Augusto Martins; edição da Livraria de António Maria Pereira, 1891 (2) (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 10 de Janeiro de 2020:
Queridos amigos,
Há que reconhecer que João Augusto Martins não andou só na Guiné para delimitar fronteiras, observou infraestruturas, modos de vida, higiene e saneamento, imaginou-se antropólogo, denunciou preconceitos sociais de modo veemente, caso dos médicos formados na Índia e discriminados pela administração colonial portuguesa e pela classe médica oriunda de Lisboa e de Coimbra, diz sem hesitação que estes médicos "sofrem desconsiderações pessoais que vexam e desconsiderações oficiais que depravam. Se aparece uma população assolada, um lazareto infeccionado, um destacamento trabalhoso e mal pago, então são utilizados, são médicos, servem!".
E, veremos mais adiante, as conclusões que nos deixa põem em causa, da base ao topo, o modelo colonial português.
Um abraço do
Mário
Impressões de viagem quando a Guiné já era província, com fronteiras definidas (2)
Mário Beja Santos
O livro de viagens intitula-se "Madeira, Cabo Verde e Guiné", o seu autor é João Augusto Martins, veremos mais adiante que foi alguém influente na definição das fronteiras da colónia, a edição foi da Livraria de António Maria Pereira, 1891. Chegou a Bissau, andou por Bolama, encantou-se com a beleza de uma jovem Fula, e vai agora dissertar, mesmo como antropólogo amador, sobre a condição feminina em África:
“Na África, a mulher não conhece o coquetismo, mas tem por natureza a sensualidade.
Como selvagem, obedece aos seus instintos e ao seu temperamento, e quando fita um homem, quando o afaga, quando o impregna das suas volúpias, não é com o fim de o tornar escravo, mas sim o instinto de se sentir feliz. Não pensa nunca em ser desejada, preocupa-se somente em satisfazer os seus desejos; e enquanto a mulher civilizada calcula artifícios para garantir o seu prestígio, a selvagem entrega-se sem condições nem vantagens, realizando no gozo a mais alta e a única aspiração do amor.
Dessa índole essencialmente naturalista, resultam para a sua vida social como para a sua vida religiosa, os estranhos e originalíssimos cambiantes que tão cómicos e ridículos se apresentam à primeira vista, mas que tão logicamente se relacionam com as condições étnicas e com os princípios da sua filosofia natural”.
Seguidamente, discreteia sobre cerimónias de casamentos e de funerais, e temos a seguir uma descrição de Bissau, que nos parece da maior utilidade reproduzir:
“A vila de Bissau, sede de concelho, compreende o presídio de Geba, Fá, S. Belchior e Geba; Bissau é uma pequena cidadela de população limitadíssima cercada a N. E. e W. por um fosso já semi-atulhado que acompanha paralelamente da banda de fora uma muralha de quatro metros de altura, a qual se liga ao centro à antiga Fortaleza de S. José e termina nos flancos por pequenos torreões de estilo gótico que fazem sentinela permanente ao rio.
Essa fortaleza, ampla, arejada e altiva de toda a imponência dos poilões gigantes que lhe marcam os ângulos, protegendo-a com as sombras benéficas da sua ramagem tufada, é guarnecida por peças velhíssimas de ferro, montadas sobre reparos do mesmo metal, que apenas servem hoje de armamento histórico e de espantalho aos gentios, não só porque a sua danificação é completa mas porque à pequena força militar aí destacada seria impossível manejar, sequer, monstruosidades daquele calibre.
A vila, pequena, acanhada, de construções raquíticas e vulgares, somada a todas as inalações do lodo, da catinga e do azeite de palma, adubada pelo paludismo, dizimada pelas febres, constitui ainda assim o último reduto da vitalidade da província, o centro mais importante do comércio da Senegâmbia Portuguesa.
Uma parte dos munícipes, baseados nas informações médicas, quer que se faça o arrasamento da muralha, que, segundo eles, obsta à ventilação da vila, e contribui para a densidade exagerada da população, constituindo o factor principal da insalubridade; outra parte, apaixonada pelas tradições, e pelo que é velho, receosa de tudo e mais do que tudo dos ataques do gentio, pondera os múltiplos factores perniciosos da higiene local, de que ninguém cuida, e guerreia esse projecto cuja importância merece um estudo consciencioso”.
Pronuncia-se seguidamente sobre a população colonial, os erros e equívocos em que está a viver a Guiné, é nu e cru, saem-lhe as verdades como punhais:
“Esta província tida e mantida na nossa elaboração nacional como um depósito para onde despreocupadamente se esvazia desde muito o lodo e as imundícies colhidas nas dragagens da nossa rotina legislativa, sob a forma militar de incorrigíveis e de devassos deportados civis, não sabemos se com o fim de lhe adubar a selvajaria, se com o fim de lhe administrar fermentos enérgicos à dissolução; a Guiné, constituindo-se em província independente, plagiou desde logo a toilette pretensiosa da sua vizinha (Cabo Verde), enfeitando-se de todas as complicações burocráticas possíveis e fazendo construir na sua capital por um risco único, destituído de toda a elegância e qualquer vislumbre artístico, desde a igreja onde exibe o seu Deus ao som dos clarins e das músicas marciais, até ao hospital onde agasalha os seus doentes à luz de uma parca economia, tíbia de conforto e de consolações. E sem pensar sequer nos preceitos mais rudimentares das construções dos climas quentes; sem se preocupar um instante das exigências mais banais para estabelecimentos daquela ordem, edificou a ferro e tijolo um edifício pesado, desprotegido de sombras, sem quartos de banhos, sem casa de autópsias, sem casa mortuária, sem meios de esgoto, nem canalização de águas, e continuou a sustentar ao mesmo título esse pardieiro a derrocar-se, onde se agasalham em Bissau os desgraçados doentes que preferem morrer à sombra, mesmo em risco de desabamentos prováveis.
É nesses depósitos que ela acumula promiscuamente os seus doentes! E é ali, nesse pavilhão e nesse estábulo da patologia, que se acotovelam indistintamente à temperatura média de 30º os exemplares mais curiosos do paludismo, da tísica, do alcoolismo, as chagas mais asquerosas, a doença do sono, a elefantíase, as ulcerações do pulex, as dermatoses mais exóticas e tantas outras variedades privativas dos climas quentes, que têm merecido aos demais países coloniais as preocupações legislativas mais sérias e os estudos científicos mais preciosos e que em toda a parte são sequestrados rigorosamente pelas prevenções do contágio e pelos preceitos da epidemiologia.
Para todo esse avultado número de atacados, que nada deixam à clínica por serem indigentes, militares ou empregados públicos, para todo esse serviço, agravado pelo expediente da secretaria e pelos destacamentos frequentes a Buba, a Cacheu, a Farim e a qualquer dos mais distanciados pontos da província onde a suspeita de uma epidemia ou o pretexto de uma batalha determina a nomeação de um ou mais facultativos, existem na Guiné, tão mal pagos que ninguém lhes inveja os lucros nem lhes disputa as vantagens, um chefe de serviço de saúde, distinto filho da escola de Lisboa, e mais três médicos da Índia, que na Guiné, como em toda a parte, arrastam desprestígio da sua maternidade, sofrendo as injustiças e as mil ingratidões com que os governos do Ultramar ultrajam a cada passo esses filhos espúrios da nossa instrução pública, coartando-lhes despoticamente os privilégios que lhes são conferidos pelo seu diploma e pela lei, e fazendo desses homens, que têm servido sempre de instrumento aos poderes públicos para sofismar as distinções revoltantes estabelecidas entre a dignidade dos povos da metrópole e das populações ultramarinas, fazendo deles um motivo de irrisão, que repercutindo-se sobre uma classe inteira, desperta em todo o médico digno o sentimento da protecção e a necessidade imperiosa do protesto”.
(continua)
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Nota do editor
Último poste da série de 2 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21315: Historiografia da presença portuguesa em África (229): "Madeira, Cabo Verde e Guiné", de João Augusto Martins; edição da Livraria de António Maria Pereira, 1891 (1) (Mário Beja Santos)
Guiné 61/74 - P21339: Notas de leitura (1304): "O Cântico das Costureiras", de Gonçalo Inocentes (Matheos) - Parte I (Luís Graça): voltar a ouvir a máquina "Singer" da mamã nas matas e bolanas de Quínara,,,
1. Já aqui apresentámos, ainda recentemente, o autor, o Gonçalo Inocentes (Matheos), membro nº 810 da nossa Tabanca Grande (*): foi fur mil, CCAÇ 423 e CCAV 488 / BCAV 490, de rendição individual (1964/65), tendo passado por Bissau, Bolama, S.João, Jabadá e Jumbembem...
Guiné 61/74 - P21338: Parabéns a você (1865): Filomena Sampaio, Amiga Grã-Tabanqueira de Guimarães e Raul Manuel Azevedo, ex-Cap Mil, CMDT da 2.ª C/BART 6522 (Guiné, 1972/74)
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Nota do editor
Último poste da série de 8 de Setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21335: Parabéns a você (1864): Alberto Grácio, ex-Alf Mil Op Especiais do BCAÇ 4615/73 (Guiné, 1973/74) e Carlos Alberto Fraga, ex-Alf Mil Inf do BCAÇ 4612/72 (Guiné, 1972/74)
terça-feira, 8 de setembro de 2020
Guiné 61/74 - P21337: Manuscrito(s) (Luís Graça) (190): Há festa na Tabanca de Candoz: Parabéns, mano Zé Carneiro!... "Querido Zé, mesmo à distância social, / Que outra Senhora, a má Covid, nos impõe, / Aceita o nosso abraço fraternal./ Nas vindimas juntos haveremos de estar, / E, na nossa Candoz onde tudo se compõe, / Logo os parabéns te prometemos cantar."
Foto: © José Ferreira Carneiro (2012). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. O José Ferreira Carneiro faz hoje anos 72 anos. Nasceu no dia da festa de Nossa Senhora da Natividade do Castelinho, a 8 de setembro de 1948. O mais novo de 7 irmãos, 3 rapazes e 4 raparigas (das quais uma morreu, ainda criança), da Casa de Candoz, Paredes de Viadores, Marco de Canaveses-
Como todos os rapazes da sua geração, foi chamado a servir o país, durante a guerra do ultramar. Ele e o irmão mais velho, o António. Esteve em Angola. Foi 1º Cabo Transmissões de Infantaria, de rendição individual, numa companhia que guardava os cafezais lá região, no norte de Angola, perto de Negage e de Quitexe. Hoje, Camabatela, sede do município de Ambaca, pertence à província de Quanza Norte.
O Zé, o nosso "mano mais novo". nunca teve grandes saudades do seu tempo de tropa e de guerra. Recebia e escrevia muitas cartas e aerogramas, isso sim. Das que recebeu (dos manos, pais, cunhados, amigos, amigas ...) guardou-as todas, e arquivou-as, uma a uma, por autor e data... Só da irmã, Alice Carneiro, a "Chita", tem mais de 100, no seu arquivo.
Um so(r)neto de parabéns para o mano Zé
Já fez ontem
o mano Zé setenta e um
Aninhos, ele
qu’ era de todos o mais novo,
Dessa
família respeitada, que, p´ró povo,
Carneiro só
há um, o de Candoz mais nenhum.
Hoje faz
mais um, e merece um miminho,
Mesmo que
estejamos em plena pandemia,
Qu’ ele nasceu
noutro tempo de festa e romaria,
A da Senhora
da Natividade do Castelinho.
Querido Zé,
mesmo à distância social,
Que outra Senhora,
a má Covid, nos impõe,
Aceita o
nosso abraço fraternal.
Nas vindimas
juntos haveremos de estar,
E, na nossa
Candoz onde tudo se compõe,
Logo os
parabéns te prometemos cantar.
Alice e Alice, Tabanca da Lourinhã, 8/9/2020
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Nota do editor:
Último poste da série > 18 de agosto de 2020 > Guiné 61/74 - P21265: Manuscrito(s) (Luís Graça) (189): A Alice Carneiro, Rainha do Dia e Por um Dia...
Guiné 61/74 - P21336: Agenda cultural (756): "Forças Expedicionárias a Cabo Verde na II Guerra Mundial", de Adriano Miranda Lima: o livro pode ser adquirido a 12 € por exemplar, incluindo portes de correio.
2. Justamente do nosso camarada Adriano Lima [, membro da nossa Tabanca Grande, cor inf ref do Exército Português, natural do Mindelo, Cabo Verde. onde nasceu em 1943, a viver em Tomar, e do qual temos mais de dezena e meia de referências no nosso blogue], recebemos a seguinte mensagem:
Data: segunda, 24/08/2020, 23:19
Caro Luís Graça;
Comovido, li esta bela evocação da memória do teu pai, Sr. Luís Henrique, por ocasião da passagem do seu 100.º aniversário natalício (**). Como sabes, ele é uma das figuras que humanamente se destacam no livro que escrevi e se intitula "Forças Expedicionárias a Cabo Verde na II Guerra Mundial", e por isso sinto-me associado a essa sentida homenagem.
Além disso, o teu blogue foi um importante contributo para o livro, merecendo por si uma menção muito especial nos Agradecimentos.
Para editar o livro, consegui uma ajuda do Chefe de Estado-Maior das Forças Armadas de Cabo Verde, que, não cobrindo nem de longe as despesas da impressão, estimulou-me a avançar com o projecto. O chefe militar de Cabo Verde reconheceu o interesse do livro para a própria historiografia militar do seu país e por isso não hesitou em colaborar.
Se as despesas da impressão do livro não estivessem em larga medida por minha conta, confesso que teria todo o gosto em oferecer o livro aos familiares de todos os antigos expedicionários que o desejassem. Como tal não é possível, apenas o faço em relação a ti e ao José Martins.
O José Martins já me tinha enviado o seu endereço postal, mas sucede que uma avaria irremediável no meu computador exigiu a aquisição de um novo equipamento e perdi alguns dados, incluindo o registo daquele endereço. Por isso, peço aos dois que me enviem os vossos endereços postais por esta via.
Quanto a outros eventuais interessados, poderei enviar o livro por correio ao preço de 12 euros, preço que inclui os respectivos portes. Assim, estarei pronto a receber os endereços dos interessados, pedindo-vos que façam a respectiva divulgação. O pagamento será feito por transferência bancária para esta minha conta da CGD:
IBAN PT50 0035 0813 00010554900 36
Um abraço amigo a todos.
Adriano Lima
3. Comentário do editor LG:
Já li o livro, numa 1ª leitura... Mas gostava que fosse o José Martins, nosso colaborador permanente e estudioso também deste periódo da nossa história militar, a dar o pontapé de saída, em termos de "notas de leitura"... Ele tem mais distanciamento (afetivo) do que eu, que sou editor do blogue e filho de Luís Henriques (1920-2012)... e do que qualquer outro dos filhos de expedicionários, pertencentes ao nosso blogue: o Hélder Sousa, o Luís Dias, o Augusto Silva Santos, o Nelson Herbert...
Tenho a agradecer ao Adriano o exemplar, autografaado ("Ao Luís Graça, com apreço e amizade, agosto de 2020, Adriano Lima"), que me acaba de enviar pelo correio: foi muito gentil e generoso comigo, com a memória do meu pai e dos demais expedicionários, bem com o nosso blogue que lhe merece referências altamente elogiosas.
Na verdade, esta geração, já desaparecida, dos "nossos pais, nossos velhos, nossos camaradas", estes homens que defenderam as ilhas atlânticas, Madeira, Açores e Cabo Verde, durante a II Guerra Mundial, deveriam ser honrados e lembrados pela Pátria.
Na realidade, fora o nosso blogue e o Adriano Lima, o nosso país parece tê-los esquecido... Cabe-nos a nós, filhos e netos, a obrigação de os resgatar da "vala comum do esquecimento". (***)
Guiné 61/74 - P21335: Parabéns a você (1864): Alberto Grácio, ex-Alf Mil Op Especiais do BCAÇ 4615/73 (Guiné, 1973/74) e Carlos Alberto Fraga, ex-Alf Mil Inf do BCAÇ 4612/72 (Guiné, 1972/74)
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Nota do editor
Último poste da série de 5 de Setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21326: Parabéns a você (1863): José Marcelino Martins, ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 5 (Guiné, 1968/70)
segunda-feira, 7 de setembro de 2020
Guiné 671/74 - P21334: Notas de leitura (1303): “Escravos em Portugal, Das origens ao século XIX”, por Arlindo Manuel Caldeira; A Esfera dos Livros, 2017 (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 23 de Junho de 2017:
Queridos amigos,
“Escravos em Portugal, Das origens ao século XIX”, do historiador Arlindo Manuel Caldeira, é um livro importantíssimo, uma leitura irrecusável para quem queira conhecer as histórias dos escravos em Portugal. Estima-se que dos séculos XV a XVIII tenha havido, no continente e ilhas, um milhão de pessoas sujeitas a cativeiro. O autor explica a essência do seu trabalho: "Não é uma história da escravatura em Portugal, mas uma história de escravos".
Os protagonistas involuntários de um regime social injusto, excluídos entre os excluídos são, enquanto pessoas, os protagonistas deste livro. Como era feita a compra e venda de escravos, qual era a relação entre o senhor e o escravo, como era utilizada a mão-de-obra cativa? E depois da abolição legal, como se transformou a vida destas pessoas? Obviamente que aqui se centram as observações na Guiné e guineenses.
Um abraço do
Mário
Histórias de escravos guineenses em Portugal
Beja Santos
“Escravos em Portugal, Das origens ao século XIX”, por Arlindo Manuel Caldeira, A Esfera dos Livros, 2017, é um documento notável, uma investigação de altíssima qualidade que em sequência cronológica e graças a uma comunicação arrebatadora que prende o leitor do princípio ao fim nos dá um retrato rigoroso e fiel do que foi a escravatura antes do século XV, a proveniência dos escravos a partir da Expansão, onde e de que modo se processava a compra e venda de escravos, a geografia da sua presença no continente e ilhas, o que faziam, qual a relação entre o senhor e o escravo, mentalidades, família, sexualidade e final de vida em escravidão e, por fim, as etapas que levaram à liberdade e todo o processo sinuoso e contraditório do depois da abolição legal da escravatura.
Confinam-se as notas seguintes ao que o autor refere sobre escravos provenientes dessa costa africana que dava pelo nome de Senegâmbia. Partindo da exploração da costa africana, menciona o contrato celebrado por Fernão Gomes com o rei D. Afonso V que se traduziu no arrendamento do monopólio do comércio da Guiné, com exceção de Arguim e do litoral fronteiro ao arquipélago de Cabo Verde, que estava reservado ao resgate dos moradores.
Falando do transporte dos escravos, o historiador refere que desconhecemos as condições em que, por exemplo, navios ingleses traziam escravos para Lisboa; mas sabe-se que as embarcações portuguesas saídas de Cacheu ou de Cabo Verde, pelo menos uma parte dos cativos acompanhavam os seus proprietários, funcionários de regresso à metrópole ou moradores de Cabo Verde ou da Guiné em trânsito para Portugal.
Para entender a compra e venda de escravos é preciso falar da Casa da Guiné. O autor pormenoriza a localização da Casa da Guiné ou Casa da Mina e Tratos da Guiné que se irá começar a diluir na Casa da Índia, a partir dos fins do século XVI.
Referência importante quanto a práticas mágicas, envolvendo guineenses é dada quando se fala de bolsas de Mandinga, amuleto protetor. Escreve a tal título o autor:
“Bolsas de Mandinga, também chamadas no Brasil patuás, pequenas bolsas de pano ou couro, contendo orações a santos e uma série de outros componentes, destinadas a ser penduradas ao pescoço, ou cozidas na roupa, era suposto impedirem os ferimentos provocados por arma branca e tornaram o portador insensível às pauladas. A origem das bolsas de Mandinga parece ser o território Mandinga da Alta Guiné, islamizada no século XVIII. A islamização, com a consequente valorização da palavra escrita, está na origem da introdução de pequenos textos de carácter sagrado escritos em árabe, num tipo de bolsa já antes utilizado como talismã pelas populações locais”.
O autor conta histórias sugestivas acerca de alguns mandingueiros.
Para quem pretenda conhecer uma narrativa erudita redigida numa comunicação muito acessível, este livro do historiador Armindo Manuel Caldeira está na primeira linha, pela quantidade de investigação e pela qualidade da análise, o leitor depois de poder apreciar o que foi a vida dos escravos acompanhará as peripécias do que foram as promessas da liberdade e as dificuldades em fazer cumprir a abolição legal.
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Nota do editor
Último poste da série de 2 de setembro de 2020 > Guiné 671/74 - P21314: Notas de leitura (1302): entrevista de José Matos ao "Diário de Aveiro", de 1 do corrente, sobre o seu último livro “O Estado Novo e a África do Sul na Defesa da Guiné - Nos meandros da guerra"
Guiné 61/74 - P21333: Agenda cultural (755): "Os Velhotes: contos eróticos", de António José Pereira da Costa... na Feira do Livro de Lisboa, 6/9/2020 (Carlos Silva)
1. Mensagem do nosso camarada Carlos Silva (ex-Fur Mil Inf CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Jumbembem, 1969/71) com data de 6 de Setembro de 2020:
Amigos
Estive presente na Feira do Livro em Lisboa na apresentação e lançamento do livro "Os Velhotes" do nosso camarada Cor Ref António José Pereira da Costa, como tal a nossa Tabanca esteve representada por mim, porque apesar de estar presente alguma assistência em tarde de calor abrasador, os únicos Tabanqueiros creio que presentes fui eu e o autor.
Aqui vão as fotos que testemunham o acto e a sessão de autógrafos.
Abraço
Carlos Silva
O livro: "Os Velhotes: contos eróticos" (Lisboa, Editora Alfarroba, 2020, 184 pp) . [ ISBN: 978‑989‑8888‑78‑9 | Formato: 14 x 21 cm | Encadernação: Capa mole |1.ª Edição: 07‑2020) | Preço de capa: 11,25 €]
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Notas do editor
Vd. poste de 1 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21311: Agenda cultural (752): "Os Velhotes: contos eróticos", de António José Pereira da Costa... Feira do Livro: Lisboa, 6/9/2020, 14h30; Porto, 12/9/2020, 15h00
Último poste da série de 4 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21322: Agenda cultural (754): convite da Catarina Gomes para a sessão de lançamento do seu livro, «Coisas de Loucos: O que eles deixaram no manicómio": Feira do LIvro de Lisboa, Tinta da China, domingo, dia 6, às 17h00
Guiné 61/74 - P21332: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (4): A cabrinha Inha...
Guiné > Região de Bolama > Nova Sintra > 1972 > Entrada do quartel dos Duros de Nova Sintra, a CART 2711, 1970/72... É possível que este pórtico, "Rancho dos Duros", tenha sido inspirado pelos vizinhos, mais antigos, do "Rancho da Ponderosa", destacamento de Ualada, subsetor de Empada, ao tempo da CCAÇ 1587 (1966/68).
Foto (e legenda): © Herlander Simões (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagen complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Foto: © João José Alves Martins (2012). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Os militares da 2ª Companhia de Nova Sintra, com reforços de pelotões de Jabadá (1ª C/BART 6520/72) e Fulacunda (3ª C/BART 6520/72) estiveram envolvidos na abertura da estrada Nova-Sintra –Fulacunda, em 1973.
Ao rasgar essa estrada, por entre mato denso, iriamos ter problemas com o inimigo , o que se veio a verificar já que fomos emboscados algumas vezes, tentando obstruir a nossa progressão porque esse acesso a Fulacunda não interessava militarmente ao PAIGC.
O furriel Barros estava com o seu grupo de combate na segurança da estrada, com outro grupo, e estavam homens e mulheres africanas envolvidas na descapinagem do estradão.
Verifiquei, por mero acaso, que uma indígena tinha apanhado uma cabrinha à mão que se tinha perdido da mãe e perguntei-lhe o que iria fazer com o animal. Prontamente me respondeu, dizendo que a ia matar e depois comê-la!
Abeirei-me dela e pedi que ma vendesse por 50 pesos , o que concordou perante a minha alegria, vendo que o animal não seria morto. (**)
No regresso ao destacamento, trouxe a cabrinha para o quartel, arranjei e adaptei um biberão e comprava leite na cantina e assim a Inha era alimentada por mim com todo o carinho e protecção.
Foi crescendo, dormia debaixo da minha cama na caserna e na parada do destacamento seguia-me para todo o lado.
O Capitão Cirne queria comprar a Inha mas confesso que não a vendia por dinheiro nenhum porque gostava muito do animal. A cabrinha era acarinhada pelos soldados do meu grupo, sendo a coqueluche da companhia e passeava por todo o lado, sem ninguém a molestar.
Tinha chegado a hora do jantar e, quando começávamos a comer o arroz com salsichas, vieram os soldados Cruz , Barros e Lurdes à messe e um deles disse-me:
- A Inha “adormeceu”…
Levantei-me a correr para a caserna e encontrei já morta a minha Inha, perante o meu desgosto…
O que aconteceu?
Um dos soldado deu-lhe cascas de manga e, provavelmente, teve uma congestão, já que só se alimentava de leite e não vi outra razão…
Perdi a vontade de jantar e peguei n cabrinha, enterrei-a junto à caserna e depois coloquei uma cruz com uma lápide com os dizeres: “Aqui jaz a INHA”…
Foi um dia triste para mim e para os meus companheiros do pelotão e, nesse mesmo dia, morreu à mesma hora, uma gazela selvagem que tinha sido apanhada pelos militares e que se encontrava num galinheiro, “Gazeleiro, improvisado….Triste coincidência…
Nunca mais desejei nenhum animal comigo, já que eles querem viver em liberdade, como todos nós seres humanos, que, felizmente, só a conseguimos obtê-la no dia 25 de Abril de 1974.
Nova Sintra, maio de 1973,
(*) Último postes da série > 4 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21325: Guiné 61/74 - P21319: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (3): As ratazanas (e o PAIGC) ao ataque em Gampará
5 de julho de 2020 > Guiné 61/74 - P21142: O nosso livro de visitas (206): Carlos Barros, natural de Esposende, ex-fur mil at art, 2ª CART / BART 6520/72 (Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará, 1973/74)
(**) Vd, poste de 9 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18393: Fotos à procura de... uma legenda (102): Uma mulher fula a amamentar a "sua" cabrinha!... Ainda em tempo, celebrando o Dia Internacional da Mulher (Foto de João Martins, Piche,1968)