Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
segunda-feira, 23 de novembro de 2020
Guiné 61/74 - P21572: Notas de leitura (1325): “Vozes Plurais, a comunicação das organizações da sociedade civil”, coordenação e organização de Carla Sequeira e Sónia Lamy; Documenta, Sistema Solar, 2017 (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 22 de Março de 2018:
Queridos amigos,
O nosso blogue é uma entidade sem fins lucrativos, dedica-se a um interesse público, não está subordinado às leis do mercado, é uma associação de voluntários, pode dispor, à luz do seu estatuto, de várias dedicações, contribuir para a dignidade de antigos combatentes, abraçar fórmulas de solidariedade, de convivência.
Vejo pois com utilidade passar em revista o que sobre a comunicação escrevem autores com competência para dissecar como se comunica com os vários públicos no vastíssimo Terceiro Setor. Temos ponderosas razões para refletir sobre a nossa comunicação estratégica e como o nosso blogue se contextualiza nas mudanças sociais e no interesse público.
Somos um blogue de defesa de causas, de disseminação da cooperação e da solidariedade e do diálogo entre povos, com especial incidência no diálogo entre Portugal e a Guiné-Bissau. Refletir sobre este fenómeno da comunicação é refletir sobre o nosso futuro e a nossa visibilidade, no que temos a dar uns aos outros e para muitos mais.
Um abraço do
Mário
Não basta fazer o bem, é preciso dizê-lo bem
Beja Santos
A obra intitula-se “Vozes Plurais, a comunicação das organizações da sociedade civil”, coordenação e organização de Carla Sequeira e Sónia Lamy, Documenta, Sistema Solar, 2017. Abarca um conjunto de reflexões sobre as organizações da sociedade civil sempre carentes por estabelecer inovadoras e eficientes estratégias de comunicação, para associados e auditório externo. Elas fazem parte do que se chama o Terceiro Setor, abrangem uma miríade de entidades sem fins lucrativos, todas apostadas no serviço dos interesses coletivos e do bem comum. É uma vasta constelação onde cabem organizações não-governamentais, movimentos sociais, grupos de voluntariado, setores assistenciais de irmandades religiosas, fundações e algo mais. A fome de comunicação é permanente, precisam de sites atualizados que estampem atividades e eventos, legislação, publicações, links, artigos de opinião, o que fazem e com quem fazem, de quem precisam para que a causa abraçada tenha muitíssimo mais força e consistência. As diferentes intervenções interagem, complementam-se: a importância da comunicação organizacional e das relações públicas e como a comunicação estratégica muda comportamentos e impulsiona mudanças sociais; o retrato da sociedade civil organizada em Portugal: mais de 55 mil organizações que empregam cerca de 260 mil pessoas, com contributo para o PIB de 2,8% e representando 5,5% do emprego remunerado em Portugal (se se contabilizar o trabalho voluntário, o contributo da economia social para o PIB será da ordem dos 3,8%), num universo da atuação onde cabem cultura e lazer, educação e investigação, saúde, serviços sociais, ambiente, associações de direitos, de desenvolvimento e habitação, intermediários filantrópicos e promoção do voluntariado, organizações não-governamentais de cooperação para o desenvolvimento, entre outras; a profissionalização no Terceiro Setor; o valor que a comunicação acrescenta a estas organizações, visto a quatro níveis: simbólico, operativo, simplificador e sedutor; o estudo de caso da AMI – Assistência Médica Internacional; a proposta de um modelo que ilustre a sistematização dos fluxos de comunicação contributivos para a constituição e a criação destas organizações num processo contínuo através do tempo e do espaço.
As TIC têm tido um papel determinante na vida de grupos sociais, uns de denúncia a atropelos decorrentes de manipulação política, outros ligados à denúncia da crise económica, a revoltas populares como a Primavera Árabe, outros mais que têm levado ao fracionamento dos movimentos políticos, pense-se em Espanha com o Podemos e o Ciudadanos, que alteraram profundamente o espetro político espanhol. Como escreve um dos autores, “Este fenómeno tem sido acompanhado por um descentramento do discurso reivindicativo das organizações instituídas na sociedade, como partidos e sindicatos. Hoje em dia, há cada vez mais movimentos sociais a desenvolver a sua própria agenda de protesto, tornando por isso relevante analisar os modos de funcionamento deste tipo de organizações nos jogos de poder da esfera pública”. Portugal experienciou uma forte movimentação social nos anos 2011 e 2012, que se esvaziou depois, não terá tido continuidade por falta de bandeira e arregimentação de valores. Citando o importante pensador Manuel Castells, se a Internet é um espaço descentralizador e cidadão, urge entender quais os modelos de comunicação utilizados pelos interlocutores enquanto cidadãos participantes. É significativo o avanço do poder dos banqueiros, dos grandes investidores e dos controladores do capital em detrimento do poder político, que se exprime no aumento da influência dos mercadores financeiros nos mais variados aspetos da vida quotidiana, daí as redes sociais se agitarem na denúncia da corrupção de políticos e instituições capitalistas, questionando o aumento da concentração da riqueza e a gradual laceração das classes médias, estas são há séculos o esteio das democracias ocidentais. Daí a necessidade de procurar entender a utilização das TIC pelos movimentos sociais, como conseguem manifestações em cima da hora na Wall Street, na Turquia antes da atual ditadura, os protestos no Brasil, o que se está a passar na Catalunha, estas transformações avassaladoras que transfiguram e criam valores e emprestam novos significados simbólicos no intercâmbio cultural ganham visibilidade no computador, no tablet, no telemóvel, concretiza-se em blogs, newsletters, podcasts, wikis e e-mails, e assim interagem textos, sons e imagens, criam-se hipertextos, assim se dinamizam ou subvertem os processos de interação mediáticos – passámos todos a estar marcados pela intensificação das relações sociais baseadas na comunicação digital.
Daí a atenção que se deve dar ao bom uso das ferramentas digitais nos movimentos sociais. Recordem-se as questões éticas, os riscos de transgressão, a facilidade e a impunidade com que se propagam boatos, a criação e recriação da realidade, a digitalização de informação falsa e a virtualização da realidade, não se devendo esquecer um outro problema que é a tentativa de imposição cultural e informacional por parte de organizações e instituições privilegiadas.
Um dos autores analisa a comunicação da APSI – Associação para a Promoção da Segurança Infantil para fomentar a criação de ambientes e produtos seguros que garantam às crianças e jovens um crescimento saudável, mostra-se como uma organização sem fins lucrativos, tem imensos desafios na área comunicacional em que a falta de financiamentos reduz severamente educar para prevenir. A captação de financiamento é crucial para que as campanhas da APSI tenham visibilidade mediática, precisa ter uma boa página na Internet, tudo foi posto em causa com a crise económica que desmobilizou projetos de mecenato e de responsabilidade social.
Enfim, a obra elenca dilemas e desafios de comunicação, tais como a profissionalização da comunicação das ONG, a criação de canais de comunicação próprios, a importância das parcerias com profissionais e instituições mediáticas corporativas e as parcerias com outras organizações e atores sociais.
Obra de muito interesse para refletir sobre a forma como se interage com os vários públicos no contexto do Terceiro Setor.
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Nota do editor
Último poste da série de 21 de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21563: Notas de leitura (1324): "A Armadilha da Guerra, Um exercício de ficção, em retrospetiva”, por António de Jesus Bispo; DG edições, 2017 (2) (Mário Beja Santos)
Guiné 61/74 - P21571: In Memoriam (373): Eduardo Jorge Ferreira (Vimeiro, Lourinhã, 1 out 1952 - Torres Vedras, 23 nov 2019): um ano de saudade - Testemunhos: Parte I (Rui Chamusco e João Crisóstomo)
Eduardo Jorge Pinto Ferreira (Lourinhã, Vimeiro, 1 out 1952- Torres Vedras, 23 nov 2019). Ingressou na nossa Tabanca Grande em 31 de agosto de 2011 (*).
Tem cerca de 60 referências no nosso blogue. Hoje, às 11h30, é-lhe prestado uma pequena homenagem no cemitério do Vimeiro onde respousam os seus restos mortais.
Um número muito restrito de amigos,colegas e camaradas juntam-se à São (esposa) e ao João (filho, que vive em Lisboa,o outro,o Rui, está em Inglaterra), para juntos fazermos-lhe a pequena homenagem que esteve prevista para o 12 dia de Outubro, 2ª feira, no grande convívio anual, tradicionalmente organizado por ele (até 2019), por ocasião da Festa de Ribamar, e que este ano não se realizou por causa da pandemia de Covid-19. (**)
Lourinhã > Praia do Areal Sul > 19 de novembro de 2020 >Pôr do sol.
Foto de L.G. (2020)
Rui Chamusco, natural da Malcata, Sabugal, professor de música, reformado,
Escola C + S de Ribamar, e amimador do projeto de solidariedade
"Uma Escola por Timor"
(i) Rui Chamusco (Sabugal e Lourinhã) > Eduardo, o professor, o colega, o amigo, o irmão que toda a gente quer (queria) ter.
Foi em finais de Julho de 1995 que tive a ocasião de encontrar pela primeira vez o Eduardo. Ele como presidente do conselho diretivo da Escola C+S de Ribamar, e eu como professor de Educação Musical colocado em concurso nacional nesta escola. As primeiras impressões não foram das melhores, uma vez que o informei logo do meu pedido de destacamento ao serviço do município do Sabugal de onde provinha.
A reação do Eduardo, que posteriormente veio a revelar a mim e a muitos outros amigos, foi de pensar para consigo: “ oxalá que lhe dêm o destacamento. Caso contrário será mais um grande ausente, com muitas faltas, uma vez que vem de tão longe (mais de trezentos quilómetros)”.
E porque Deus escreve direito por linhas tortas, o destacamento não me foi concedido, pelo que tive de arrumar a minha trouxa e vir lecionar para a C+S de Ribamar. Entretanto, tive a promessa de que poderia contar com o destacamento para o próximo ano letivo 1996/1997.
Só que durante este ano já começado criou-se tal empatia com os alunos, colegas, pessoal administrativo e auxiliar, e sobretudo com o professor Edurdo Jorge, que no final do ano letivo decidi continuar nesta escola até que um dia decidisse outra coisa. De ano em ano, assim se passaram quinze anos, até ao momento da minha aposentação.
Recordo com muita saudade o nosso envolvimento em tantos projetos educativos: Recordo com saudade as pontes e os laços que criamos e promovemos entra as gentes da serra (Malcata) e do mar(Ribamar). Recordo as caminhadas por ele organizadas no oeste e nas beiras. Recordo as muitas amizades, comuns, que nos mantinham em constante contato e atividade. Mas, recordo e agradeço sobretudo toda a atenção e solicitude que ele me dedicava, particularmente durante a última década, uma vez que a minha ausência da minha residência oficial na Lourinhã era muito comum, nomeadamente durante as minhas três estadias em Timor Leste. Não esqueço de que foi ele que me deu a conhecer os grandes amigos e irmãos João e Vilma Crisóstomo.
Agora mesmo estou banhado em lágrimas, porque o Eduardo foi, particularmente durante o últimno mês da sua vida, o meu amparo e protção, cuidando de mim como se fosse o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs, durante todo tempo que estive internado no hospital de Torres Vedras. Afinal, eu que estava doente e foi ele que morreu. Ainda hoje pergunto a Deus, autor da vida, porquê foi assim. Os desígnios de Deus são insondáveis...
Continuo a contar com a presença espiritual do Eduardo, falando com ele sem o ver nem ouvir, mas sei que ele me vê ouve, e por isso nunca o esquecerei, até ao dia em que nos encontremos de novo, num estado diferente mas real e verdadeiro.
Amigos assim SEMPRE!...
Ter um amigo é bom
Vê-lo partir faz sofrer
Continuo a contar com a presença espiritual do Eduardo, falando com ele sem o ver nem ouvir, mas sei que ele me vê ouve, e por isso nunca o esquecerei, até ao dia em que nos encontremos de novo, num estado diferente mas real e verdadeiro.
Amigos assim SEMPRE!...
Ter um amigo é bom
Vê-lo partir faz sofrer
Encontrei no meu caminho
Um rosto que me sorriu
E passei a ter saudades
Quando esse bem me fugiu...
Fiquei olhando as estrelas
Cada noite à luz do luar
Confiei-lhe a minha dor
E aprendi a esperar...
O meu amigo voltou
Abri-lhe as minhas janelas
Quando procurei sorrir
Só encontrei as estrelas...
Voltou a mim a saudade
Foi-se embora o meu amigo
Mas eu fiquei a ter asas
Só por o ter conhecido...
Nota: Esta canção era para ter sido tocada e cantada por mim no dia do seu funeral. Mas a emoção não mo permitiu, pelo que aqui vos deixo o poema.
Nota do editor LG: Em 3 de outubro passado o Rui Chamusco mandou-nos o texto reproduzido acima, com a seguinte mensagem, por email:
(...) Caro amigo Luís Graça:
Espero que tudo esteja bem convosco.
Como bem compreenderás, não podia ficar indiferente ao teu repto de dar testemunho sobre o nosso amigo Eduardo. Pus-me a escrever e ao corrente do pensamento saiu este pequeno artigo que te envio. As memórias e recordações concernantes à nossa cumplicidade e amizade são imensas, incapaz de as descrever em livro ou artigo. Por isso a insignificância do que acabo de escrever.
Penso que, embora a homenagem do dia 12 do corrente mês não possa ter lugar, devemos pensar em algo para o dia 23 de Novembro, passado um ano da sua partida. Espero indicações tuas. (...)
(ii) João Crisóstomo e Vilma Kracun (Nova Iorque) > Lembrando o Eduardo a 23 de Novembro
Não posso estar pessoalmente no Vimeiro. amanhã, mas como todos aqueles em semelhantes condições, alguns dos quais até já expressaram neste blogue a dor pela perca e a sua saudade do nosso Eduardo. Estarei lá bem presente também em espírito e saudade.
Numa tentativa de mitigar esta minha frustração de não me poder aí deslocar, peguei no telefone: Não consegui falar com os filhos (,não sei se tenho o número certo do João em Lisboa, mas não consegui ligação; e quanto ao Rui na Inglaterra, na falta de resposta, tive de deixar mensagem na máquina; saberá pelo menos que eu, e outros com certeza, voaremos amanhã a Inglaterra para lhe dar o nosso abraço de amizade); mas consegui falar com a São, na sua casa no Sobreiro Curvo, Torres Vedras onde estive várias vezes (, além de grandes amigos somos vizinhos, da mesma freguesia de A-dos-Cunhados, a uns escassos minutos um do outro.)
A ele e ao seu irmão gémeo, João, assim como à São o meu/nosso muito especial abraço.
João e Vilma
João Crisóstomo, ativista social, e a esposa Vilma Kracum
(Queens, Nova Iorque)
(ii) João Crisóstomo e Vilma Kracun (Nova Iorque) > Lembrando o Eduardo a 23 de Novembro
Caro Luís Graca e demais camaradas “Eduardianos”,
Não posso estar pessoalmente no Vimeiro. amanhã, mas como todos aqueles em semelhantes condições, alguns dos quais até já expressaram neste blogue a dor pela perca e a sua saudade do nosso Eduardo. Estarei lá bem presente também em espírito e saudade.
Numa tentativa de mitigar esta minha frustração de não me poder aí deslocar, peguei no telefone: Não consegui falar com os filhos (,não sei se tenho o número certo do João em Lisboa, mas não consegui ligação; e quanto ao Rui na Inglaterra, na falta de resposta, tive de deixar mensagem na máquina; saberá pelo menos que eu, e outros com certeza, voaremos amanhã a Inglaterra para lhe dar o nosso abraço de amizade); mas consegui falar com a São, na sua casa no Sobreiro Curvo, Torres Vedras onde estive várias vezes (, além de grandes amigos somos vizinhos, da mesma freguesia de A-dos-Cunhados, a uns escassos minutos um do outro.)
Não preciso entrar em detalhes, salvo que me senti assim muito mais perto dela por ter podido ouvir do outro lado da linha a sua própria voz. E falei também com o Rui Chamusco, grande e especial amigo de Eduardo, com quem falo quase todos os dias.
Foi o Eduardo que um dia na praia de Santa Rita , no restaurante ‘Grão de Areia” nos apresentou,"para que pudéssemos partilhar idéias", uma vez que ambos estávamos envolvidos em Timor Leste. Hoje a conversa foi ainda mais vivida do que normalmente, pois ao fim de uns minutos falávamos do Eduardo.
E quando o Rui me disse "Olha, João, dentro de minutos vai fazer exactamente um ano que nos reunimos para almoçar ; mal sabiamos nós que era o nosso almoço de despedida e que não nos tornaríamos a ver" , eu não pude deixar de ver a sua emoção que, contagiante, eu experimentei também.
Creio que não preciso dizer mais.
Amanhã vou estar com todos vocês.
João (e Vilma) Crisóstomo, Nova Iorque, 22 de novembro de 2020
PS - Já com este E mail acabado, quando me preparava para o enviar, o telefone tocou: Era o Rui, respondendo da Inglaterra à chamada/mensagem que lhe deixei há uma hora atrás. E com esta chamada veio de novo a emoção: eu estava a falar com o filho do Eduardo, que "parecia nem saber o que dizer”, comovido e grato pelo homenagem de todos nós ao seu pai, não só pelo que vai ter lugar amanhã no Vimeiro mas pela enchurrada de mensagens e sentimentos de todos nós e de que tem estado a tomar conhecimento.
PS - Já com este E mail acabado, quando me preparava para o enviar, o telefone tocou: Era o Rui, respondendo da Inglaterra à chamada/mensagem que lhe deixei há uma hora atrás. E com esta chamada veio de novo a emoção: eu estava a falar com o filho do Eduardo, que "parecia nem saber o que dizer”, comovido e grato pelo homenagem de todos nós ao seu pai, não só pelo que vai ter lugar amanhã no Vimeiro mas pela enchurrada de mensagens e sentimentos de todos nós e de que tem estado a tomar conhecimento.
A ele e ao seu irmão gémeo, João, assim como à São o meu/nosso muito especial abraço.
João e Vilma
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Notas do editor:
(*) Vd. 31 de agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8714: Tabanca Grande (300): Apresenta-se o Eduardo Jorge Ferreira, lourinhanense, ex-Alf Mil da Polícia Aérea (BA12, 1973/74)
(...) Estive [, na Guiné, em Bissalanca,] na BA12 de 20 de janeiro de 1973 (, triste data, a do assassínio de Amilcar Cabral, ) a 2 de setembro de 1974, colocado na EDT (Esquadra de Defesa Terrestre) como Alferes miliciano da Polícia Aérea, onde era conhecido por Ferreira.
Quero aqui enviar um abraço especial ao (então Tenente PilAv) [Miguel]Pessoa, um dos primeiros senão o primeiro piloto a ser atingido por um míssil Strela e que felizmente conseguiu ejectar-se e ser resgatado pelos paraquedistas. Constato com satisfação que está de boa saúde e tem responsabilidades no blogue e fiquei agora a saber também que casou com a Enf Pára-quedista Giselda a quem saúdo igualmente. Pela foto actual e tanto quanto me lembro das suas feições, passados estes 38 anos, não mudou muito, está com óptimo aspecto, o que é de saudar.
Depois de vir da Guiné, e como era voluntário na Força Aérea por 6 anos, passei pela Comissão de Extinção da PIDE/DGS (Gabinete de Imprensa) e pelo Estado Maior General das Forças Armadas (1ª Divisão) donde passei à disponibilidade em junho de 1977.
Entretanto tirei o curso de Instrutores de Educação Física e, mais tarde, a licenciatura em Administração Escolar, realizando o percurso normal de professor até uma determinada altura, a que se seguiram 15 anos de ligação à gestão escolar, dos quais 12 como presidente. Voltei a ser unicamente professor nestes últimos 9 anos lectivos acabando a minha carreira profissional em Abril último. (...)
(**) Vd, postes de
25 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20380: In Memoriam (355): Um alfabravo (ABraço), Eduardo, até qualquer dia!
25 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20382: In Memoriam (356): Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019): elegia fúnebre para um amigo e camarada: quando morre um de nós, também morremos todos um pouco (Luís Graça)
Guiné 61/74 – P21570: (Ex)citações (379): Vidas (José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp)
Camaradas,
O tempo, cada vez mais curto, leva-nos a hilariantes momentos em que as nossas vidas cruzaram inconcebíveis circunstâncias onde, outrora, o foco da guerra se instalava num horizonte carregado de incertezas.
Hoje, com 70 anos feitos neste singularizado 23 novembro, revejo pequenas histórias de vida de um conflito armado na Guiné, sendo que essas curtas resenhas permanecerão nos nossos já calejados corações.
Pessoalmente, tenho dedicado largos momentos a transcrever pequenos textos que são, tão-somente, o cruzar de gerações de camaradas onde as vivências de cada um de nós coincidem, não obstante a idade que o Cartão de Cidadão agora nos indique.
Esses textos inserem-se na minha última obra – “Um Ranger na Guerra da Guerra Colonial Guiné-Bissau 1973/74 Memórias de Gabu” – onde descrevo inesquecíveis instantes que por lá passámos.
O mundo é pequeno e as nossas recordações gigantescas
Vidas
por José Saúde
Não obstante a velocidade estonteante que contempla um desgastar imutável de vidas que paulatinamente vão marcando gerações, eis-nos perante uma realidade que consome nacos de uma existência que marcará eternamente a nossa presença neste cosmos terrestre.
Assumindo a minha condição de exímio sexagenário, sou, de quando em vez, embalado, imaginariamente, ao colo da minha saudosa mãe por um sentimento nostálgico onde as luzes da ribalta transcende o hino das emoções e nos conduzem, quiçá inadvertidamente, a vidas sentidas dos tempos de tropa e da guerra.
Tempos em que nós, miúdos e de caras joviais, dávamos um pontapé nas estrelas, sendo que nesse exorcismo irreal deixávamos um sinal claro que o nosso futuro passava irremediavelmente pelo dia da chamada do futuro mancebo para engrossar as fileiras do exército português.
Porém, uma certeza não invadia as nossas almas: a guerra no Ultramar. Ou seja, um cenário gigantesco que ditava como encenação provável uma comissão militar em território de além-mar. Mas, existiam também nuances que acarretavam preocupações acrescidas a rapazes que viviam anos de uma efervescente juvenilidade. O futuro, sempre imensurável, sugeria um sonho que nos fazia sorrir. A guerra era coisa distante. Parecia.
Todavia, escondido no nosso ego lá permanecia uma faixa negra onde se lia: Segue em via rápida uma encomenda que transporta a tão conhecida frase “carne para canhão”!... Ainda assim, a utopia transmitia um similar de odores onde esperança falava mais alto. “Vou à guerra, mas regressarei um dia são e salvo ao meu rincão sagrado. Não quero medalhas, mas exijo apenas um simples reconhecimento pelos momentos de padecimento sofrido. Ponto final”.
E muitos regressaram isentos de malazengas contraídas nos campos de batalha. Outros, infelizmente, chegaram tendo à sua espera uma secção de militares do quartel mais próximo da sua residência que honrava o defunto com uma rajada de G3. Depois seguia-se o discurso que ornamentava o fúnebre momento, frisando o oficial o heroísmo do camarada agora já cadáver. Bolas, que púdica mensagem de voz!
A tropa apresentou-se, creio certamente, para todos nós como uma universidade da vida na qual recolhemos informações que nos levaria a efetivos doutores de uma licenciatura concluída num mar de aventuras e que coabitava com o desenrolar das nossas vidas. A tropa foi, e afirmo obstinadamente, uma inquestionável experiência que muito nos ensinou.
Lembro o dia 10 de outubro de 1972 quando dei entrada como mancebo no CISME, em Tavira. Depois veio Lamego, Operações Especiais/Ranger. O dia 4 de janeiro de 1973 traçou-me um novo destino. Abençoado pela Serra das Meadas, a bíblia dos futuros rangeres, tornei-me um exemplar militar e adquiri louros para uma especialidade que me fez crescer na sua plenitude. Seguiu-se a Guiné e Gabu recebeu-me com “pompa e circunstância”.
Recordo o dia que ousei desafiar calendas escondidas e obrigatoriamente parti para uma comissão militar na Guiné. Num outro lado África esperava-me e o solo guineense hospedou a minha chegada. Constatei de imediato que o bafo causado pela aquela terra vermelha me aconselhava cuidados atempados.
Cuidados que, posteriormente, disparariam em todas as direções. O dia-a-dia em Gabu evidenciava novas aventuras. Aventuras que coincidiam com patrulhamentos, proteções às colunas, quartel e pista de aviação, com visitas permanentes a tabancas, operações, saídas constantes para o adensado mato, enfim, um rol de procedimentos comuns imputados a um operacional em tempo de guerra.
Evoco outros momentos em que o clima de África contemplava as nossas vidas. O paludismo, que me visitou por três vezes, derrubou-me, mas logo me levantava e sempre pronto para levar a bom porto novas missões. Foi uma espécie de ataque de morteiro sem recuo onde a versão primária levou o debilitado combatente a exercitar a sua já usada condição de ranger.
E é neste permanente propagandear de vidas preenchidas em território guineense, que me ocorrem situações em que o facilitar permitia o desenvolvimento de momentos caóticos. Alguns fatídicos.
Jovens militares que acreditaram na sorte. Vidas que, inconscientemente, se perderam, tão-só pelo simples facto de não premeditavam o futuro imediato. Facilitavam. Depois vinha a desgraça.
Um abraço, camaradas,
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523
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Nota de M.R.:
Vd. também o poste anterior deste autor:
Guiné 61/74 - P21569: Parabéns a você (1897): José Saúde, ex-Fur Mil Op Especiais do BART 6523 (Guiné, 1973/74)
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Nota do editor
Último poste da série de 19 de Novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21558: Parabéns a você (1896): Mário Migueis da Silva, ex-Fur Mil Rec Inf (Guiné, 1970/72)
Nota do editor
Último poste da série de 19 de Novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21558: Parabéns a você (1896): Mário Migueis da Silva, ex-Fur Mil Rec Inf (Guiné, 1970/72)
domingo, 22 de novembro de 2020
Guiné 61/74 - P21568: In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-75) (cor art ref António Carlos Morais da Silva) - Parte XLVII: Fernando José Santos Castelo, cap pilav (Guarda, 1941 - Moçambique, 1974)
1. Continuação da publicação da série respeitante à biografia (breve) de cada um dos 47 Oficiais, oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar que morreram em combate no período 1961-1975, na guerra do ultramar ou guerra colonial (em África e na Ásia).
Trabalho de pesquisa do cor art ref António Carlos Morais da Silva [, foto atual acima], membro da nossa Tabanca Grande , tendo sido, no CTIG, instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá Mandinga, adjunto do COP 6, em Mansabá, e comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre 1970 e 1972.
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Nota do editor:
Último poste da série > 13 de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21540: In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-75) (cor art ref António Carlos Morais da Silva) - Parte XLVI: Nuno Álvares Pereira (Leiria, 1928 - Nampula, Moçambique, 1974)
Último poste da série > 13 de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21540: In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-75) (cor art ref António Carlos Morais da Silva) - Parte XLVI: Nuno Álvares Pereira (Leiria, 1928 - Nampula, Moçambique, 1974)
Guiné 61/74 - P21567: Blogpoesia (706): "Pedra a pedra", "Onde mora a alegria?" e "Rude e rústica", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728
1. A habitual colaboração semanal do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) com estes belíssimos poemas, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante esta semana:
Pedra a pedra
Pedra a pedra, justaposta,
Bloco a bloco,
Se sobe a encosta.
Se ergue o muro
Que cerca a horta.
Se ergue a casa
Que é albergue.
Passo a passo,
Se faz caminho.
Sempre adiante.
E, num instante, se passa vida.
Quem não o disfruta é quem a perde.
Uma só vez, não vai e volta.
Quem não viu não mais a vê.
Berlim, 16 de Novembro de 2020
12h36m
Jlmg
********************
Onde mora a alegria?
Ela espreita em todo o lado.
Atrás da porta.
Pelas frestas.
O que importa é estar atento
E vê-la.
Senti-la dentro.
Só a sente quem é persistente e teima.
Nem lhe fecha a porta.
Morre cedo quem a mata cedo.
Irriga a vida.
Se seca, morre.
Sem ela, tudo é negro.
Tudo é triste.
Como o sol,
Ilumina tudo.
Sua perda, significa a morte.
Sem algazarra, não há recreio.
A escola é morta.
Não ensina.
Logo encerra.
Porque se torna inútil.
Berlim, 16 de Novembro de 2020
13h9m
Jlmg
********************
Rude e rústica
Rude e rústica como a terra húmus,
Túrgida de vermes e terra arada.
Deixem vir a Primavera e me dirão.
Como tudo dela fica verde e florido.
As aparências dizem muito pouco da realidade.
Aquela capacidade de gerar vida.
Só a tem a Natureza.
Que bojudo rio passa nela.
Como deixa as margens cheias de vida!
Campinas e searas verdes.
Quando o sol as rega,
Reluzem de cor e luz.
Respeitar a terra negra.
Alfobre rico de verde e vida.
Berlim, 17 de Novembro de 2020
12h26m
Jlmg
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Nota do editor
Último poste da série de 15 de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21545: Blogpoesia (705): "As vielas das casas", "Quando se avizinha a noite" e "Rostos frios, malévolos", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728
Pedra a pedra
Pedra a pedra, justaposta,
Bloco a bloco,
Se sobe a encosta.
Se ergue o muro
Que cerca a horta.
Se ergue a casa
Que é albergue.
Passo a passo,
Se faz caminho.
Sempre adiante.
E, num instante, se passa vida.
Quem não o disfruta é quem a perde.
Uma só vez, não vai e volta.
Quem não viu não mais a vê.
Berlim, 16 de Novembro de 2020
12h36m
Jlmg
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Onde mora a alegria?
Ela espreita em todo o lado.
Atrás da porta.
Pelas frestas.
O que importa é estar atento
E vê-la.
Senti-la dentro.
Só a sente quem é persistente e teima.
Nem lhe fecha a porta.
Morre cedo quem a mata cedo.
Irriga a vida.
Se seca, morre.
Sem ela, tudo é negro.
Tudo é triste.
Como o sol,
Ilumina tudo.
Sua perda, significa a morte.
Sem algazarra, não há recreio.
A escola é morta.
Não ensina.
Logo encerra.
Porque se torna inútil.
Berlim, 16 de Novembro de 2020
13h9m
Jlmg
********************
Rude e rústica
Rude e rústica como a terra húmus,
Túrgida de vermes e terra arada.
Deixem vir a Primavera e me dirão.
Como tudo dela fica verde e florido.
As aparências dizem muito pouco da realidade.
Aquela capacidade de gerar vida.
Só a tem a Natureza.
Que bojudo rio passa nela.
Como deixa as margens cheias de vida!
Campinas e searas verdes.
Quando o sol as rega,
Reluzem de cor e luz.
Respeitar a terra negra.
Alfobre rico de verde e vida.
Berlim, 17 de Novembro de 2020
12h26m
Jlmg
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Nota do editor
Último poste da série de 15 de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21545: Blogpoesia (705): "As vielas das casas", "Quando se avizinha a noite" e "Rostos frios, malévolos", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728
Guiné 61/74 - P21566: Ser solidário (235): João Crisóstomo e Vilma Kracun [Woodside, Queens, Nova Iorque]: em tempo de Covid-19 vêm para a rua limpar o seu bairro e animar lares de idosos
Foto nº 2
Foto nº 3
Foto nº 4
João Crisóstomo, luso-americano, natural de Torres Vedras, conhecido ativista de causas
que muito dizem aos portugueses: Foz Côa, Timor Leste, Aristides Sousa Mendes...
Régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona; ex-alf mil, CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole
e Missirá, 1965/67): vive desde 1975 em Nova Iorque; tem mais de 120 referências
no nosso blogue.
1. Mensagem de João Crisóstomo. com data de 10 de outubro último:
Como sabes, eu de vez em quando eu dou uma ajuda aqui e ali à minha volta, conforme as necessidades o exigem, especialmente nos últimos tempos devido aos problemas de orçamentos e falta de verbas, falta de pessoal, etc. Como aliás como sucede sempre em toda a parte.
Há semana atrás, na minha mania de querer “compensar” estas faltas, exagerei um pouco e tenho passado as últimas três semanas com muletas por causa dum ataque de ciática, embora já me sinta melhor. A primeira semana foi dura, praticamente imobilizado na cama, com o médico a dizer-me que que o melhor remédio para isto é "continuar quieto e ter paciência". Portanto, goste eu ou não, tenho mesmo de obedecer.
Sucede que há tempos este meu voluntariado a fazer limpezas nos parques e ruas da vizinhança (aliás, o "nosso voluntariado", pois a Vilma, contra a minha vontade, teima em nunca me deixar sozinho…), despertou a curiosidade dum repórter e ontem mesmo saiu um artigo aqui num jornal local [, o "Queens Ledger", semanário local, fundado em 1873]…
Como gostas de saber como é que os camaradas, pelo mundo fora, reagem a este coronavírus e passam o seu tempo, aqui está, no que me diz respeito, o artigo que saiu. Creio que não vale a pena o trabalho de o traduzir, pois em maior ou menor escala quase toda a gente fala ou lê hoje um pouco de inglês. Caso aches que isso vale a pena, então diz-me, que eu farei a tradução; mas alguns assuntos que exigem a minha atenção imediata não me permitem fazê-lo de pronto e eu não sei usar a "tradução automática’, que estas novas tecnologias facilitam [João, vê o Google Translate, traduz tudo, até o nosso calão, só não traduz os nossos crioulos; o inglês-português não é nada mau, e até o português-inglês, embore precise sempre de revisão / correção final... De qualquer mood, o "guglês" já é a língua mais usada no mundo...LG].
A foto nº 1 é o meu “ID' (que me foi dado em 2007, pelo Departamento de Parques de Nova Iorque
quando me alistei como “voluntário")
A foto nº 2, eu e a Vilma juntando a folhagem e os ramos de árvores do parque, logo após a passagem de uma violenta tempestade.
Aqui, como noutras, funciona "a lei do menor esforço”, o que leva a que, mesmo os que vêm todos os dias "fazer ginástica” no parque, não tenham o cuidado de limpar o lugar primeiro, alegando que isso é obrigação e trabalho do autarquia…
De vez em quando também organizamos ou ajudamos a organizar eventos para tornar a vida num lar para idosos, aqui na minha rua, mais agradável [Foto nº 3].
Foto nº 4: num dia em vésperas de Natal, depois de ter conseguido um voluntário para acompanhar as canções ao piano, convidamos os residentes deste lar para uma tarde de “ Christmas Carols” [Canções de Natal].
Um abraço grande,
João
2. Reproduzimos, com a devida vénia, o artigo sobre o João Crisóstomo, publicado no jornal da sua comunidade, o "Queens Ledger" [tradução, adaptação livre, revisão e fixação de texto: Google Translate / LG]
Voluntário mantém limpo o parque local
por Samantha Galvez-Montiel
Queens Ledger, 7 de outubro de 2020
João Crisóstomo, que vive em Nova Iorque há 45 anos, tem uma vida preenchida, plana, desde ter sido mordomo de Jacqueline Kennedy Onassis a ativista de causas sociais, ligadas ao seu país natal, Portugal.
Mudou-se para a cidade de Nova Iorque há 45 anos. Desde 1997, Crisóstomo e a sua esposa Vilma Kracun, com quem se casou em 2013, moram em Woodside [, Queens, Nova Iorque], onde passam o tempo limpando o bairro e o parque Big Bush.
“Há treze anos, comecei a ser voluntário para ajudar Jack Maurin, então supervisor do parque, a manter o Big Bush Park e outros parques limpos”, disse Crisóstomo.
Mas Crisóstomo viu seu parque local negligenciado, mesmo depois de um milhão de dólares ter sido destinado, há cerca de dois anos, para renovar o parque. Desde então, Crisóstomo tem dedicado o seu a manter o parque limpo, assim como outras áreas do bairro com problemas de lixo.
“O belo parque cercado foi naturalmente concebido para evitar que crianças e outras pessoas entrassem em áreas reservadas, mas não há um simples portão de acesso para as limpezas, a irrigação, o corte de ervas daninhas e a remoção de galhos caídos”, disse ele. “Já tive que escalar a cerca várias vezes para fazer isso, caso contrário, o lugar seria sempre uma bagunça terrível e uma atração para os ratos.”
Crisóstomo disse estar satisfeito por o lixo, em Big Bush Park, ter sido recolhido recentemente pelos funcionários do Departamento de Parques, mas ficou danado por isso ter levado mais de três semanas e só depois de ele ter contactado várias autoridades locais, incluindo o deputado Brian Barnwell.
“Como a Prefeitura fez cortes drásticos no orçamento do Departamento de Saneamento, vemos o lixo e o entulho a acumular-se nas nossas ruas”, disse o deputado. “Os meus pedidos. para mais contentores do lixo e mais recolha, foram repetidamente negados. É inaceitável o que está a acontecer".
Um porta-voz do Departamento de Parques confirmou que os recentes cortes no orçamento tiveram como consequência, entre outras, a falta de pessoal.
Desde o último anúncio de orçamento, o orçamento de Parks FY21 é de 503 milhões de dólares, o que significa uma redução de 84 milhões em relação ao ano passado”, escreveu o porta-voz por email. “Não podemos recorrer a trabalhadores sazonais, este ano, para apoiar a Manutenção e Operações em toda a cidade devido aos cortes orçamentais. Mas o Big Bush Park é limpo diariamente e o a paisagem é cuidada ao máximo. ”
Crisóstomo disse que a falta de cooperação dos trabalhadores temporários do parque também pode ser resultante do facto de haver horários rotativos e nem sempre eles reconhecerem isso.
“Os trabalhadores mais de uma vez me explicaram a sua recusa em entrar nas áreas cercadas. pelo perigo que isso poderia representar”, disse ele.
Crisóstomo levou uma vida plena antes de se mudar para Wooside [Queens, Nova Iorque]. Ele nasceu em Portugal em 1944 e frequentou o seminário, antes de completar o serviço militar em África,
Aprendeu inglês e serviu à mesa em Londres no início dos anos 1970. Mudou-se para Nova York em 1975, tendo começado por trabalhar como mordomo ao serviço da senhora Kennedy Onassis. Tornou cidadão americano em 12 de setembro de 1993.
Em 1994, começou a trabalhar na campanha em prol da conservação das gravuras, da Idade da Pedra, de Foz Côa, em Portugal, hoje Património Mundial da UNESCO. Israel, por seu tunro, homenageou-o, com a emissão de um selo dos correios, em 2017 por seu trabalho de reabilitação da memória de heróis do Holocausto, Aristides de Sousa Mendes, Luis Martins de Sousa Dantas, Padre Benoit e outros.
A arrecadação da casa do João Crisóstomo e Vilma Kracun, onde se guardam os apetrechos de limpeza.
Fonte: Queens Ledger - Volunteer keeps his local playground free of trash
Fonte: Queens Ledger - Volunteer keeps his local playground free of trash
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Nota do editor:
Último poste da série >16 de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21549: Ser solidário (234): Associação Anghilau ("criança", na língua felupe), admissão de sócios, ficha de adesão... Somos já 28!... Poucos mas bons, mas ainda podemos ser mais (Manuel Rei Vilar)
sábado, 21 de novembro de 2020
Guiné 61/74 - P21565: Os nossos seres, saberes e lazeres (424): Na RDA, em fevereiro de 1987 (4) (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 22 de Julho de 2020:
Queridos amigos,
Passados estes mais de 30 anos desta visita à República Democrática Alemã, ainda hoje é mistério indecifrável a natureza do convite, a cornucópia das visitas, isto tudo a despeito do embaixador Julian Hollender me ter perguntado quais as cidades que me interessavam visitar, se havia algum museu em especial, que informações pertinentes eu desejaria obter daquele país tão pacífico, tão cooperante, tão amigo da paz.
Sabia das belezas de Dresden e de como o centro histórico da cidade se ia reerguendo das cinzas depois dos grandes bombardeamentos de fevereiro de 1945; Berlim era um fascínio, lera a obra de Trevor-Roper e vira o filme com Alec Guiness, Os Últimos Dez Dias de Hitler, e obras posteriores, Berlim calcinada, dividida, uma verdadeira fronteira da Guerra Fria. Recebi informações que poderia ter recebido de outras procedências, umas em comunicação vívida, outras em tom sorumbático, e o trabalho de reconstrução de Berlim, a despeito de uma arquitetura moderna de um gosto um tanto duvidoso, era de tirar o chapéu. Empolguei-me com a descoberta deste caderno que me veio reavivar um universo político que desapareceu, conversas que hoje são puros anacronismos, mas algo ficou e que se chama gratidão por quem me deu a possibilidade de percorrer aquela linha da Guerra Fria sempre com a perceção de que algo estava prestes a acontecer, mas ainda um sentimento indefinível.
Dois anos depois, repimpado em frente do televisor, aquele muro começou a ser demolido e a civilização europeia andou mais depressa.
Um abraço do
Mário
Na RDA, em fevereiro de 1987 (4)
Mário Beja Santos
Os meus anfitriões não querem que eu saia da República Democrática Alemã sem saber como atua o país em prol da paz, questiono-me a toda a hora o que pretendem estes mestres da comunicação quanto ao que eu devo trazer para Lisboa, já levei uma boa ensaboadela sobre a Acta Final de Helsínquia, as relações com a República Federal Alemã, como é imprescindível haver a todo e qualquer momento equilíbrio militar, as vantagens em reduzir armas, tropas e despesas afins que deviam estar voltadas para o desenvolvimento. Os EUA têm sido os obreiros deste inferno, serventuários do complexo militar industrial. A RDA procura em todos os órgãos internacionais mostrar como está o serviço dos direitos humanos, o Ocidente repudia qualquer hipótese de fazer uma conferência em Moscovo sobre direitos humanos, a RDA propôs Estocolmo, no âmbito da segunda fase da conferência sobre desarmamento e cooperação na Europa. Tudo isto que eu estou a ouvir está a acontecer numa sala bastante austera do Ministério dos Negócios Estrangeiros, perto de tudo o que eu tenho vindo a apreciar, desde a Catedral de Berlim, toda a Unden den Linden, a Ópera, onde parece que irei esta noite ou amanhã. Não sei por que carga de água, mas entrou há minutos na sala alguém bem engravatado que veio com a missão de me esclarecer de que a RDA e o seu Partido-Estado tudo faz para ter boas relações com a Internacional Socialista, começo a ter medo e ainda vou sair daqui diplomado em relações internacionais. Alguém na mesa me informa também que está a ter lugar uma conferência sobre os 750 anos da cidade de Berlim e pede-me algumas sugestões sobre a participação portuguesa. Apanhado de chofre, ocorreu-me propor que se tivesse em conta o que aconteceu em Berlim em 1884 e 1885, uma conferência de repartição colonial, Portugal mandou conveniente representação, saiu com garantias que as parcelas do seu império não eram cobiçadas por outrém (pura mentira) e passou-se a ter a certeza que era uma fatura carota, havia que ocupar os territórios coloniais. Não sei se falei de mais ou de menos, com entusiasmo sim, coisa que não vi nos rostos impenetráveis dos circunstantes. Um dos diplomatas olhou para o relógio e avisou-me que a minha agenda continuava, eu ia visitar o Bairro Nicolau que ficara totalmente destruído durante a Batalha de Berlim, em abril de 1945.
Somos recebidos no Bairro Nicolau pelo arquiteto Viktor Schlichte que começou por dizer que Berlim era uma cidade relativamente nova, o que achei estranho pois logo adiantou que fora fundada no século XII, e que na Idade Média era altamente planificada, o centro era a praça do mercado e à sua volta o Bairro Nicolau. Parecendo que estava a falar de igual para igual, o meu anfitrião disse-me com ar muito sério que temos que analisar os aspetos arquitetónicos como espelho das relações sociais, e não esquecer que as cidades mais velhas são as mais ricas em cultura, era assim o Bairro Nicolau, onde havia mostras dos estilos românico, gótico, renascentista, barroco e do classicismo, tudo seriamente afetado pelas destruições da guerra. A reconstrução do Bairro Nicolau, por decisão governamental, pretendeu recriar um conjunto arquitetónico novo, com referências ao passado e espaços verdes. Fora chumbada a proposta de reconstruir ali a Berlim da Idade Média. A proposta vencedora assentava numa arquitetura contemporânea em estreita ligação com a Berlim original. Tinham-se perdido, foram devorados pelo fogo, os antigos projetos, tudo quanto era desenho das praças e edifícios, reconstruiu-se a Câmara Municipal, fez-se uma ligação entre o Bairro Nicolau e a área da Câmara sem esquecer o rio Spree, fez-se uma promenade, houve muita crítica. Reconstruiu-se a Igreja do Bairro Nicolau, que era uma basílica românica, cujos fundamentos foram encontrados nas escavações e que passou a ser o vestígio arquitetónico mais antigo e que tem uma estreita ligação com a fundação de Berlim. Gerald olha para o relógio, pede desculpa ao Sr. Arquiteto, temos que seguir para a etapa seguinte, pede licença para regressarmos amanhã de manhã, o ilustre convidado da RDA será recebido amanhã de manhã aqui perto, o mesmo é dizer no Ministério dos Negócios Estrangeiros, pelo embaixador Hans Vogel, se podemos visitar a Igreja Nicolau às 9h30. O Sr. Arquiteto diz que sim, a despedida é efusiva. Entramos no carro e Petra Peterson anuncia-me que vamos visitar o Memorial de Treptow. Devo ter feito uma expressão de completa surpresa, nunca ouvi falar no Memorial, não sei do que trata.
Gerald arruma o carro e anuncia-me triunfante que estamos no Parque de Treptow. Dada a minha ignorância, pergunto a Petra a que se deve esta visita, parques há muitos. E então vem a história. Que depois de finda a II Guerra Mundial os Soviéticos construíram vários monumentos, terão perdido cerca de 80 mil homens na Batalha de Berlim, Treptow é um parque-cemitério, tem um vasto conjunto de esculturas alusivas à Grande Guerra Pátria, é melhor eu percorrer cuidadosamente todas essas esculturas até chegar ao grande monumento, eu que circule à vontade, não preciso de guia. O parque é imenso, as esculturas disseminam-se nesta vastidão, o silêncio ajuda à contemplação, guerra é dor, destruição, dispersão calamitosa. Ando por ali no meu próprio passo, volto à guerra que fiz na Guiné, sem aqueles tanques nem aquelas batalhas, mas conheço aquelas expressões de sofrimento incomensurável, os olhos lacrimejam, o coração aperta-se, a surpresa é total, ando de escultura em escultura de arte estalinista, todo este monumento foi inaugurado em 8 de maio de 1949, virá a ser vandalizado com a queda do Muro de Berlim, não voltei lá, mas não me importaria absolutamente nada de lá regressar. Enxugo as lágrimas, por mim já chega, Petra e Gerald esperam-me à entrada, anunciam-me que vamos almoçar numa residência apalaçada onde viveu o marechal Gueorgui Zhukov, e depois, diz-me Petra com o sorriso de orelha a orelha, o ilustre convidado vai receber o prémio desta visita, será hoje que irá contemplar uma das 7 Maravilhas do Mundo, ou talvez a oitava, o Altar de Pérgamo, mas também a Porta de Istar, de Babilónia e a entrada do Mercado de Mileto, uma preciosidade da Grécia Antiga.
(continua)
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Notas do editor:
Poste anterior de 14 de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21542: Os nossos seres, saberes e lazeres (420): Na RDA, em fevereiro de 1987 (3) (Mário Beja Santos)
Último poste da série de 21 de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21564: Os nossos seres, saberes e lazeres (423): Memórias de Remondes (Francisco Baptista, ex-Alf Mil Inf)
Queridos amigos,
Passados estes mais de 30 anos desta visita à República Democrática Alemã, ainda hoje é mistério indecifrável a natureza do convite, a cornucópia das visitas, isto tudo a despeito do embaixador Julian Hollender me ter perguntado quais as cidades que me interessavam visitar, se havia algum museu em especial, que informações pertinentes eu desejaria obter daquele país tão pacífico, tão cooperante, tão amigo da paz.
Sabia das belezas de Dresden e de como o centro histórico da cidade se ia reerguendo das cinzas depois dos grandes bombardeamentos de fevereiro de 1945; Berlim era um fascínio, lera a obra de Trevor-Roper e vira o filme com Alec Guiness, Os Últimos Dez Dias de Hitler, e obras posteriores, Berlim calcinada, dividida, uma verdadeira fronteira da Guerra Fria. Recebi informações que poderia ter recebido de outras procedências, umas em comunicação vívida, outras em tom sorumbático, e o trabalho de reconstrução de Berlim, a despeito de uma arquitetura moderna de um gosto um tanto duvidoso, era de tirar o chapéu. Empolguei-me com a descoberta deste caderno que me veio reavivar um universo político que desapareceu, conversas que hoje são puros anacronismos, mas algo ficou e que se chama gratidão por quem me deu a possibilidade de percorrer aquela linha da Guerra Fria sempre com a perceção de que algo estava prestes a acontecer, mas ainda um sentimento indefinível.
Dois anos depois, repimpado em frente do televisor, aquele muro começou a ser demolido e a civilização europeia andou mais depressa.
Um abraço do
Mário
Na RDA, em fevereiro de 1987 (4)
Mário Beja Santos
Os meus anfitriões não querem que eu saia da República Democrática Alemã sem saber como atua o país em prol da paz, questiono-me a toda a hora o que pretendem estes mestres da comunicação quanto ao que eu devo trazer para Lisboa, já levei uma boa ensaboadela sobre a Acta Final de Helsínquia, as relações com a República Federal Alemã, como é imprescindível haver a todo e qualquer momento equilíbrio militar, as vantagens em reduzir armas, tropas e despesas afins que deviam estar voltadas para o desenvolvimento. Os EUA têm sido os obreiros deste inferno, serventuários do complexo militar industrial. A RDA procura em todos os órgãos internacionais mostrar como está o serviço dos direitos humanos, o Ocidente repudia qualquer hipótese de fazer uma conferência em Moscovo sobre direitos humanos, a RDA propôs Estocolmo, no âmbito da segunda fase da conferência sobre desarmamento e cooperação na Europa. Tudo isto que eu estou a ouvir está a acontecer numa sala bastante austera do Ministério dos Negócios Estrangeiros, perto de tudo o que eu tenho vindo a apreciar, desde a Catedral de Berlim, toda a Unden den Linden, a Ópera, onde parece que irei esta noite ou amanhã. Não sei por que carga de água, mas entrou há minutos na sala alguém bem engravatado que veio com a missão de me esclarecer de que a RDA e o seu Partido-Estado tudo faz para ter boas relações com a Internacional Socialista, começo a ter medo e ainda vou sair daqui diplomado em relações internacionais. Alguém na mesa me informa também que está a ter lugar uma conferência sobre os 750 anos da cidade de Berlim e pede-me algumas sugestões sobre a participação portuguesa. Apanhado de chofre, ocorreu-me propor que se tivesse em conta o que aconteceu em Berlim em 1884 e 1885, uma conferência de repartição colonial, Portugal mandou conveniente representação, saiu com garantias que as parcelas do seu império não eram cobiçadas por outrém (pura mentira) e passou-se a ter a certeza que era uma fatura carota, havia que ocupar os territórios coloniais. Não sei se falei de mais ou de menos, com entusiasmo sim, coisa que não vi nos rostos impenetráveis dos circunstantes. Um dos diplomatas olhou para o relógio e avisou-me que a minha agenda continuava, eu ia visitar o Bairro Nicolau que ficara totalmente destruído durante a Batalha de Berlim, em abril de 1945.
Era assim a arquitetura na Berlim (RDA) em 1987
Bairro Nicolau na atualidade
Câmara Municipal de Berlim junto do Bairro Nicolau
Igreja do Bairro Nicolau
Somos recebidos no Bairro Nicolau pelo arquiteto Viktor Schlichte que começou por dizer que Berlim era uma cidade relativamente nova, o que achei estranho pois logo adiantou que fora fundada no século XII, e que na Idade Média era altamente planificada, o centro era a praça do mercado e à sua volta o Bairro Nicolau. Parecendo que estava a falar de igual para igual, o meu anfitrião disse-me com ar muito sério que temos que analisar os aspetos arquitetónicos como espelho das relações sociais, e não esquecer que as cidades mais velhas são as mais ricas em cultura, era assim o Bairro Nicolau, onde havia mostras dos estilos românico, gótico, renascentista, barroco e do classicismo, tudo seriamente afetado pelas destruições da guerra. A reconstrução do Bairro Nicolau, por decisão governamental, pretendeu recriar um conjunto arquitetónico novo, com referências ao passado e espaços verdes. Fora chumbada a proposta de reconstruir ali a Berlim da Idade Média. A proposta vencedora assentava numa arquitetura contemporânea em estreita ligação com a Berlim original. Tinham-se perdido, foram devorados pelo fogo, os antigos projetos, tudo quanto era desenho das praças e edifícios, reconstruiu-se a Câmara Municipal, fez-se uma ligação entre o Bairro Nicolau e a área da Câmara sem esquecer o rio Spree, fez-se uma promenade, houve muita crítica. Reconstruiu-se a Igreja do Bairro Nicolau, que era uma basílica românica, cujos fundamentos foram encontrados nas escavações e que passou a ser o vestígio arquitetónico mais antigo e que tem uma estreita ligação com a fundação de Berlim. Gerald olha para o relógio, pede desculpa ao Sr. Arquiteto, temos que seguir para a etapa seguinte, pede licença para regressarmos amanhã de manhã, o ilustre convidado da RDA será recebido amanhã de manhã aqui perto, o mesmo é dizer no Ministério dos Negócios Estrangeiros, pelo embaixador Hans Vogel, se podemos visitar a Igreja Nicolau às 9h30. O Sr. Arquiteto diz que sim, a despedida é efusiva. Entramos no carro e Petra Peterson anuncia-me que vamos visitar o Memorial de Treptow. Devo ter feito uma expressão de completa surpresa, nunca ouvi falar no Memorial, não sei do que trata.
Ministério dos Negócios Estrangeiros da RDA, felizmente já demolido
Gerald arruma o carro e anuncia-me triunfante que estamos no Parque de Treptow. Dada a minha ignorância, pergunto a Petra a que se deve esta visita, parques há muitos. E então vem a história. Que depois de finda a II Guerra Mundial os Soviéticos construíram vários monumentos, terão perdido cerca de 80 mil homens na Batalha de Berlim, Treptow é um parque-cemitério, tem um vasto conjunto de esculturas alusivas à Grande Guerra Pátria, é melhor eu percorrer cuidadosamente todas essas esculturas até chegar ao grande monumento, eu que circule à vontade, não preciso de guia. O parque é imenso, as esculturas disseminam-se nesta vastidão, o silêncio ajuda à contemplação, guerra é dor, destruição, dispersão calamitosa. Ando por ali no meu próprio passo, volto à guerra que fiz na Guiné, sem aqueles tanques nem aquelas batalhas, mas conheço aquelas expressões de sofrimento incomensurável, os olhos lacrimejam, o coração aperta-se, a surpresa é total, ando de escultura em escultura de arte estalinista, todo este monumento foi inaugurado em 8 de maio de 1949, virá a ser vandalizado com a queda do Muro de Berlim, não voltei lá, mas não me importaria absolutamente nada de lá regressar. Enxugo as lágrimas, por mim já chega, Petra e Gerald esperam-me à entrada, anunciam-me que vamos almoçar numa residência apalaçada onde viveu o marechal Gueorgui Zhukov, e depois, diz-me Petra com o sorriso de orelha a orelha, o ilustre convidado vai receber o prémio desta visita, será hoje que irá contemplar uma das 7 Maravilhas do Mundo, ou talvez a oitava, o Altar de Pérgamo, mas também a Porta de Istar, de Babilónia e a entrada do Mercado de Mileto, uma preciosidade da Grécia Antiga.
Soldado a salvar criança, detalhe do Memorial de Guerra Soviético em Treptow, Berlim
Detalhe das esculturas do Memorial de Guerra Soviético
(continua)
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Notas do editor:
Poste anterior de 14 de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21542: Os nossos seres, saberes e lazeres (420): Na RDA, em fevereiro de 1987 (3) (Mário Beja Santos)
Último poste da série de 21 de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21564: Os nossos seres, saberes e lazeres (423): Memórias de Remondes (Francisco Baptista, ex-Alf Mil Inf)
Guiné 61/74 - P21564: Os nossos seres, saberes e lazeres (423): Memórias de Remondes (Francisco Baptista, ex-Alf Mil Inf)
Paisagem para lá do Sabor
1. Mensagem do nosso camarada Francisco Baptista (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), autor do livro "Brunhoso, Era o Tempo das Segadas - Na Guiné, o Capim Ardia", com data de 4 de Novembro de 2020, desta feita com uma memória de Remondes:
REMONDES
Nesse tempo, já fartos de conhecermos todos os caminhos e limites da nossa aldeia, as terras próximas eram mundos desconhecidos a explorar. Dado que Brunhoso estava situado num baixio, início de dois vales, que nos meses de chuva alimentavam dois ribeiros caudalosos que levavam muita água ao rio Sabor, nenhuma das cinco terras em redor se conseguia avistar. Desde tenra idade ouvia falar delas frequentemente aos mais velhos, por vezes passavam mesmo lá por casa parentes que viviam nelas, sobretudo primas próximas ou afastadas da minha mãe (Paradela e Soutelo) e outros primos mais afastados do meu pai (Remondes e Castro Vicente). Havia uma amizade genuína entre eles que se manifestava em cumprimentos calorosos e na oferta das melhores primícias do ano, figos, maçãs, peras, melões de quem vinha e dos melhores acepipes da casa para os visitantes, alheira, chouriça, salpicão, etc.. Gostava dessa atmosfera de afecto que tanto podia surgir num dia de festa, como noutro dia qualquer do ano. Por este e por outros motivos, a minha infância e adolescência ficou para sempre ligado a essas terras tão próximas da minha. Dentre todas a mais próxima, era Remondes, que deve a sua notoriedade à Ponte de Remondes, conhecida em todo o Norte, pela sua beleza e utilidade, agora submersa pelo lago formado pela Barragem do Sabor.
A velha Ponte de Remondes, agora afundada pela Barragem do Sabor.
Saindo de Brunhoso, a norte, pela Malhada, seguimos pela Faceira, Francos, onde há muita água e havia muitas hortas, depois o Sobreirinho, com um quilómetro de caminho plano, ladeado de grandes sobreiros. A entrada mais próxima e directa leva-nos ao cimo da povoação perto da escola primária, no fundo das eiras. Eiras que havia em quase todas as aldeias do Planalto, eram grandes espaços comunitários onde se malhava o trigo, o centeio e outros cereais. Fora do tempo das colheitas, sobretudo na Primavera, eram um enorme prado verde, para onde os moradores, geralmente os que não tinham lameiros ou regadas, levavam os burros, mulas, e vitelos a pastar.
Sobreirinho (antes de Remondes)
Eiras de Remondes
Castro Vicente atrás do horizonte
Um pouco abaixo começava uma rua larga que percorre quase toda a aldeia com uma curva muito pronunciada quase a meio, todas as outras ruas menores e mais estreitas, convergem para essa. Como todas as aldeias do concelho tem uma igreja matriz, com uma arquitectura semelhante, construída ou restaurada no século dezoito ou dezanove.
As eiras e a igreja, além das ruas, pracetas e tavernas eram os únicos espaços públicos das aldeias do interior.
As Casas do Povo ou da Junta da Freguesia são, na sua maioria, já construídas no tempo da democracia com dinheiros da Comunidade Europeia.
A estratificação social era idêntica à de Brunhoso, muitos com pequenas courelas a trabalhar para três casas grandes de lavoura. Havia ainda dez a quinze lavradores a cultivar e a fazer as colheitas das suas próprias terras, pagando também algumas jeiras quando necessário. Gente simples, com carácter, trabalhadora, parecendo rude, era muito leal e franca, pouco cuidada no trajar e no aprumo, mais os homens. Bastante parecidos com a gente da minha terra embora a mim me tenha parecido sempre que era gente mais antiga, (do tempo dos lusitanos, dos visigodos?) como se há séculos não houvesse povos invasores, apesar da Ponte estar a cinco quilómetros. De garoto ia lá muitas vezes fazer certos trabalhos, como por exemplo com uma burra carregada de sacos de grão trigo ou centeio à moagem do senhor Esperança, voltando depois com ela carregada de farinha.
Era frequente as mulheres ou os homens perguntarem-me: Oh rapaz, de quem és filho? Do senhor Emídio, respondia eu. Filho do Emídio! Então somos parentes, respondiam-me quase sempre.
Gostava do tratamento familiar que davam ao meu pai, já que ele em Brunhoso era quase sempre tratado por senhor. No tratamento entre as gentes, Remondes pareceu-me a terra mais democrática que já conheci. Entre todos, rapazes ou adultos, não havia senhores, vocês ou vocemecês, era tu cá, tu lá, a fórmula mais simplificada de comunicar. Os meus avós paternos, mais tarde vim a saber, tinham ascendentes de lá, por esse motivo e pelo que me diziam os remondeses, a partir de certa idade comecei a considerar todos os naturais de Remondes como meus parentes, ainda assim os considero. Havia os Gaspares, os Pojos, os Alves, os Mendes, os Varizos e outros. Sobre os Baptistas de uma terra e outra há dúvidas, que a genealogia estudada por alguns ainda não esclareceu.
Os naturais de uma terra e outra entendiam-se na bem, "falavam a mesma língua", com ligeiras divergências no sotaque, os de Remondes num tom mais cerrado. Tinham gostos semelhantes, gostavam de estar nas praças a conversar e a praticar jogos tradicionais ou nas tabernas a jogar a sueca e o chincalhão (jogo de cartas proíbido) a copos de vinho ou simplesmente a falar e a beber.
A festa anual era em honra de Santa Sinforosa (o povo dizia Sinfrósia), santa e mártir antiga, dos primeiros tempos do cristianismo, tempos difíceis, de tantos santos e mártires com os quais a Igreja Católica encheu os altares das catedrais românicas, góticas e igrejas, com as suas imagens de madeira, de pedra, de barro. Bárbara, filha de Dióscoro, um pai pagão, santa festejada em Brunhoso é dessa fornada.
Faziam grandes arraiais muito alegres que juntavam muita gente a assistir ou a dançar ao som da música da banda filarmónica ou dos conjuntos musicais que começaram a aparecer por lá na década de setenta.
Além dos vizinhos de Brunhoso, de Soutelo e doutras terras próximas, a Ponte de Remondes que facilitava a comunicação entre as margens do rio Sabor, trazia muitos jovens e mais velhos de Castro Vicente, dos Porrais de Lagoa e de outras terras. Um ano apercebi-me que aquela mistura de rapazes e raparigas de várias terras dava outra animação e colorido ao baile do arraial, na praça entre a Igreja Matriz e a Capela de Santa Sinforosa.
O sagrado e o profano conviviam em harmonia nessa terra de mulheres piedosas, de raparigas divertidas de rapazes e homens folgazões para relaxar e compensar um pouco mais um ano de trabalho duro.
Entre os rapazes de Brunhoso e Remondes nunca conheci as picardias e rivalidades, frequentes entre povoações próximas, muitas vezes causadas pela conquista de namoradas em terra alheia. Tanto os de uma povoação como os da outra sempre toleraram os namoros e casamentos mistos.
Havia também os bailes privados em casa do Senhor Cristino que tinha três netas para casar. O Senhor Cristino era um "brasileiro", educado, distinto no falar e no vestir que em festas ou em alguns domingos à tarde organizava uns bailes, onde eu apesar de bastante novo fui algumas vezes convidado pelo meu irmão mais velho. Além das moças da casa havia ainda mais três ou quatro amigas da terra. As três irmãs sendo embora simpáticas, educadas e elegantes, não casaram com nenhum daqueles rapazes, talvez por causa dessa elegância que não se coadunaria com os gostos desses jovens lavradores que gostariam delas um pouco mais sadias e com curvas mais acentuadas. Entre as amigas havia uma vizinha simpática e bem torneada que viria a casar com esse meu irmão.
Uma noite, depois do jantar, pediu-me para ir com ele a Remondes pedir a mão da namorada aos pais. Entretanto apareceu um primo que tinha um trator e fomos lá os três. Quando entrámos na casa dela, depois dos cumprimentos habituais, o meu irmão disse ao pai qual a missão que nos tinha levado lá. O pai dela que conhecia bem o nosso, ainda eram parentes, a minha avó paterna era prima carnal da sogra dele, perguntou se o meu irmão tinha pedido ao nosso pai também, ele mentiu e disse que sim. O meu irmão já tinha vinte e três anos e não precisava da autorização paterna, mas entre os mais velhos era importante que houvesse acordo entre as famílias. A dona da casa trouxe para a mesa salpicão, linguiça, azeitonas e vinho, e nós por cortesia e porque a qualidade dos produtos nos agradava também, não nos fizemos rogados.
Os meus pais aceitaram bem a ideia pois a noiva era filha de lavradores honrados, ainda parentes e com bastantes terrenos agrícolas.
Para se realizar o casamento, tiveram que pagar uma bula à Igreja por ainda serem primos embora afastados. Casaram na Igreja de Remondes, teria que ser na terra da noiva, a cinquenta metros da casa dela, onde foi o almoço, bem servido e animado.
No domingo seguinte houve a torna-boda em Brunhoso, em casa dos meus pais, igualmente com um bom almoço.
Os noivos tiveram que pagar o vinho aos rapazes de uma terra e da outra, para não serem chocalhados, de uma forma barulhenta durante a noite.
Igreja de Remondes
As hormonas masculinas e femininas há longos anos, falando só da minha família, eram trocadas entre uma terra e outra, pelo menos desde os nossos trisavós.
Da ascendência antiga da minha bisavó Variz teremos herdado os sobreiros da Relva, perto da Ponte de Remondes e os dois sobreirais do Azinhal, mais a sul, a um quilómetro do Sabor, encravados na grande mata de sobreiros e oliveiras do Aprígio um agiota que um dia arribou a Mogadouro, lá fez fortuna e comprou em Remondes uma grande área de sobreiros e oliveiras. A mulher, que lhe sobreviveu muitos anos, herdou-lhe os bens e o apelido "Aprigia" pelo mesmo carácter ambicioso.
Estes sobreirais, implantados no coração do domínio desta senhora, eram como setas a feri-la. O meu tio-avô e padrinho José Baptista que os herdou dos pais dele, foi sujeito a todo o tipo de pressões e manobras para lhos vender. A tudo resistiu, não permitindo que esses sobreiros passassem a ter outra marca que não a da família dele. A velha Aprígia morreu e foi para o céu ou para os infernos, com esses dois espinhos cravados no coração. O meu padrinho, solteiro toda a vida, escolhendo os caminhos da liberdade que mais gostava, para mim era um santo, com os pecados que todos os santos admitem ter, se não forem hipócritas, morreu aos sessenta e nove anos, bem comido e bem bebido, na noite do arraial da festa da Senhora do Caminho, em Mogadouro. Se Deus existe, peço-lhe que o trate bem lá em cima, onde se diz que moram os Justos.
Fonte do Azinhal
Saindo do Azinhal, a cerca de um quilômetro a leste, era a Fonte do Junco, onde tínhamos mais sobreiros. Perto numa casa pequena, morava um casal de Remondes, simpático, sem filhos, cuidavam duma pequena horta e de algumas oliveiras. Ela, a tia Laurinda, teria outras actividades caseiras, e ele, o Zé Bento, caçava muito, clandestinamente. Ela gostava de falar, não admira, a solidão era muita, dizia-me que ainda era prima da minha mãe, eu ficava contente já que seria a única familiar da minha mãe nessa terra, onde o meu pai tinha tantos parentes. Gostava deles também porque eles realizavam um ideal de isolamento, com o céu imenso e a terra a perder de vista, como companhia.
Na Fonte do Junco havia mais dois sobreirais nossos, presumivelmente da mesma herança remondesa. Quando eu era um adolescente imberbe, o transporte dessa cortiça era feito com carros de vacas ou bois e seguia o caminho de Remondes, por ser mais suave e menos difícil para os animais. Esse caminho só já perto de Remondes é que derivava para Brunhoso. Eu sentia muito orgulho em "tocar" um desses carros de vacas, com cortiça, sobretudo quando ela era do sobreiral da fonte do Azinhal, com cortiça da melhor qualidade, tábuas largas, fechadas, sem poros visíveis.
Nas povoações mais próximas do vale do rio Sabor, a pedra predominante, quase a única, era a de xisto. Haverá uma explicação em termos geológicos que o meu pouco saber nesta matéria não me permite dar. Era com essa pedra que as povoações faziam as casas, os muros e todo o tipo de construções. Apesar de existirem grandes aglomerados dessa rocha, grande penedos e fragas de xisto, a sua constituição por camadas com linhas de fragmentação irregulares, não permitia cortar grandes blocos com simetria como noutras rochas, como o mármore, o granito ou o basalto com outra consistência.
Para construir as várias entradas, portas, portões e janelas e dar consistência à obra, viam-se obrigados a comprar granito que encontravam em terras do vale do rio Douro, na direcção de Miranda.
Nesse tempo havia bons pedreiros em Brunhoso, Remondes e todas as outras aldeias, era uma arte que se cultivava. Do passado dos três séculos anteriores essa arte na sua melhor perfeição nota-se ainda nas grandes curraladas, já que não levavam nenhum revestimento de cal. As casas, apesar de a maioria serem construídas com paredes de um metro ou mais de largura, no geral levavam cal, talvez para as isolar mais do frio e do calor, muito excessivos nesse tempo. A arte milenar de pedreiro foi-se perdendo nos tempos modernos, com a construção dos prédios em tijolo e cimento armado. Porém em Remondes houve um grupo de pedreiros habilidosos que continuaram a construir com pedras de xisto na terra deles e noutras para onde eram chamados, inclusivé para lá da fronteira.
Parede de xisto em Remondes
A agricultura de Remondes tal como a de Brunhoso, com as mesmas características de terrenos, era de cereais na zona do planalto, de oliveiras na encosta do Sabor, hortas perto da povoação e sobreiros bastantes, um pouco por toda a área. Nunca abandonaram as oliveiras, mesmo as da encosta do rio, com a ajuda ou não de máquinas modernas e continuam a tratar os campos próximos ou longe da aldeia com culturas antigas ou novas plantações. A emigração clandestina que foi um choque em muitas terras do interior, por ter arrastado consigo quase todos os trabalhadores, em Remondes começou mais tarde, foi gradual e começaram para ir para Espanha, que sendo mais perto dava possibilidades de virem mais vezes à aldeia ver as famílias e tratar das culturas. No geral os terrenos para venda em Remondes têm continuado a ser muito valorizados.
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Notas do editor:
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